EU ACHO …

POR QUE FALHA O ENSINO A DISTÂNCIA?

Reproduzimos nas aulas em vídeo os erros das aulas presenciais

Por que parece tão fraquinho o ensino a distância, para onde foi obrigada a migrar a escola básica? Resposta: porque é filhote de um ensino presencial péssimo. Sem entender isso, não se dá um passo à frente. A migração trouxe, pelo menos, três problemas. O primeiro resulta da implantação atabalhoada, inevitável pelas circunstâncias, mas curável com a experiência adquirida. O segundo são as dificuldades intrínsecas de operar aulas por meio de videoconferências no ciclo básico. O terceiro é por reproduzir os equívocos e as fragilidades do nosso ensino dentro dos estabelecimentos escolares.

O que mais distanciou o Homo sapiens dos outros primatas talvez tenha sido sua capacidade de pensamento abstrato. Outro salto veio com a escrita. Sendo assim, lidar com palavras, abstrair e pensar são da essência de uma boa educação. E essas faculdades não se desenvolvem na estratosfera, mas no vai e vem entre palavras e realidade. Por isso, espera-se uma educação para aprender a pensar, e não para decorar pensamentos, fatos, datas ou definições. Infelizmente, gasta-se tempo demais memorizando. Com isso, falta tempo para exercitar o pensamento. E, como dizia Alfred Whitebead (1861-1947), a boa educação ensina a descobrir a beleza e o poder das ideias.

Sem aplicar o que aprendem, os alunos não chegam realmente a aprender. O ensino ativo, hoje redescoberto, não é muito diferente disso. Mas, com os currículos cronicamente abarrotados, não há como frear a corrida desabalada para cobrir as ementas. E, por faltar tempo para atividades práticas, não aprendemos.

Na mesma linha, o aluno aprende quando as ideias novas – sobretudo as abstratas – são rebatidas para um mundo conhecido por ele. É a chamada contextualização. Fácil concordar, mas requer encontrar os bons exemplos, aplicações, metáforas e analogias. As grandes teorias da pedagogia só funcionam quando se materializam em procedimentos concretos, para cada capítulo de cada disciplina. Isso tudo exige um enorme investimento de tempo para cuidar antecipadamente de cada detalhe. Improvisação é receita para o desastre que temos. Ensino bom é ensino minuciosamente planejado. Felizmente, esse pode ser um esforço conjunto dos autores com equipes pedagógicas.

Com amplo tempo e dinheiro, podemos passar a limpo o ensino convencional e transcrevê-lo para aulas remotas. Por exemplo, é o que fez o Telecurso 2000. O que não dá é empurrar para o ensino a distância, do dia para a noite, todos os entulhos e equívocos que sobrevivem nas nossas escolas. Digitalizando o errado, não há como sair certo. Não se condenem as novas tecnologias, mas sim o presencial de onde foi importado. Se o presencial não fosse pródigo em pecados, estaríamos melhor. Em contraste, para quem tem um presencial de qualidade e professores adequados, mais eficaz será a migração. A conclusão é clara. Podemos repensar a nossa escola presencial – e há bons exemplos no Brasil. Ou começamos do zero na sua versão em vídeo, lembrando que estar longe do aluno traz um sério desafio tecnológico. Mas, no fundo, avanços em um modelo podem migrar para o outro. Ademais, ambos os sistemas estão aí para ficar. Nada disso é fácil, mas as alternativas não parecem promissoras.

***CLAUDIO DE MOURA CASTRO

OUTROS OLHARES

AS BOLSAS ESTÃO EM BAIXA

O acessório sofre com mudança de estilo da nova geração, que aposta em looks mais despojados e prefere gastar dinheiro com produtos tecnológicos

Consagradas no cinema e transformadas em peças de culto por marcas como Chanel, Louis Vuitton e Prada, as bolsas de mão viraram, ao longo das décadas, quase uma segunda pele feminina. Célebres, pareciam destinadas a acompanhar para sempre os looks das mulheres. Pois essa lógica pode estar com os dias contados. Segundo estudo realizado pela consultoria McKinsey, as vendas de itens de luxo, liderados principalmente pelas bolsas, deverão cair até 39% em 2020. Uma análise superficial poderia associar a queda à pandemia do coronavírus. De fato, a Covid-19 afetou negócios de diversos setores, mas as bolsas de mão já estavam ameaçadas há um bom tempo. Nos Estados Unidos, o comércio desses itens caiu 20% entre 2016 e 2019, e dados preliminares de 2020 apontam para uma curva descendente. No mesmo período, a venda de mochilas para mulheres cresceu 12%, o que faz supor que elas estão trocando acessórios formais por artigos despojados.

Uma das explicações para o fenômeno é a mudança geracional. Mulheres jovens incorporaram à rotina atividades improváveis até pouco tempo atrás, como ir ao trabalho de bicicleta, além de adotarem para o dia a dia peças básicas como jeans e camiseta, o que as desobriga a usar bolsas elegantes. “Essas roupas dialogam mais com seu estilo de vida, que prioriza a mobilidade”, diz Ana Vaz, consultora de estilo e professora de imagem pessoal do Senac de São Paulo. “No Brasil, também percebemos a substituição da bolsa de mão. Nas lojas de departamentos, as áreas voltadas para jovens apresentam uma predominância de mochilas e pochetes.” A verdade é que a prioridade das consumidoras mudou. Hoje em dia, o status está mais concentrado em gadgets e smartphones do que em bolsas ou sapatos, e a velocidade da inovação tecnológica desperta nas pessoas o desejo permanente de trocar seus a parelhos. Para as jovens, que preferem investir em um celular de última geração do que em sapatos ou bolsas de luxo, essa tendência é ainda mais marcante.

Outro fator negativo é o encolhimento do mercado de luxo. Estima-se que, no mundo, o faturamento do setor possa ser entre 20% e 35% menor em 2020, segundo projeção feita pela consultoria Bain & Company. Para um grupo imenso de mulheres, no entanto, as bolsas continuarão indispensáveis como sempre foram. Segundo a consultora de moda Gloria Kalil, abandonar o acessório pode significar esquecer alguns itens na hora de sair de casa.” Uma bolsa completa, cheia de tudo de que se precisa, pode ser muito útil”, diz a especialista. “É um lugar seguro, onde se sabe que estarão a chave, o cartão de crédito, o vidrinho de álcool em gel e muito mais.” Ou seja: a moda muda, mas a eficiência da bolsa continua a mesma.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE CONSOLO PARA A ALMA

DIA 03 DE AGOSTO

APENAS UM TOQUE, E BASTA!

E logo se lhe estancou a hemorragia, e sentiu no corpo estar curada do seu flagelo (Marcos 5.29).

A pior doença é aquela que nos isola das pessoas que amamos. Foi isso o que aconteceu a uma mulher em Israel que se aproximou de Jesus para ser curada. Essa anônima estava sofrendo havia doze anos. Uma hemorragia crônica a deixava anêmica e impura. Gastara todos os bens com os médicos, mas seu estado de saúde se agravava cada vez mais. A doença lhe trazia desconforto e segregação. Tudo em que ela tocava ficava impuro. Se solteira, não poderia casar-se. Se casada, não poderia relacionar-se com o marido. Nem mesmo a sinagoga a mulher podia frequentar. Então, ela ouviu falar de Jesus. Nutriu em seu coração a esperança de ser curada. Uma fé inabalável acendeu- se em sua alma: Se eu apenas lhe tocar as vestes, ficarei curada (v. 28). Então ela se esgueirou no meio da multidão, tocou a orla das vestes de Jesus e imediatamente a hemorragia foi estancada. Jesus disse: Alguém me tocou, pois senti que de mim saiu poder (Lucas 8.46). A mulher prostrou-se aos pés do Mestre e confessou-lhe toda verdade: Jesus lhe disse: Filha, a tua fé te salvou; vai-te em paz e fica livre do teu mal (Marcos 5.35). Aquela mulher foi curada e perdoada. Foi liberta e salva. Jesus ainda hoje cura os enfermos, consola os aflitos e salva todos os que se achegam a ele pela fé.

GESTÃO E CARREIRA

BEM-VINDO À ERA DO CLIENTE

Experiência do consumidor se torna estratégica para os negócios e aumenta em 183% a demanda por profissionais que atuam na área

Oferecer bons produtos já não é mais suficiente para deixar o consumidor feliz. Num mercado altamente competitivo e dinâmico, as empresas precisam melhorar cada vez mais o relacionamento com clientes. É dessa necessidade que surge o conceito de customer experience (CX) ou, no bom português, experiência do consumidor.

“CX é o conjunto de sensações e percepções que alguém tem ao fazer qualquer tipo de interação com uma marca”, afirma Claudia Vale, consultora e palestrante de customer experience. “É isso que determina se um cliente se manterá ou não fiel a ela.” Amadurecidas em países como Estados Unidos, Japão e Inglaterra, as estratégias de customer experience ganharam grande relevância no Brasil nos últimos cinco anos, com a consolidação de serviços como os da Netflix, o surgimento de instituições financeiras como o Nubank e a chegada de aplicativos como os da Uber, fenômenos que mudaram a mentalidade dos clientes.

Hoje, se não estão satisfeitos, eles cancelam assinaturas ou migram para outro fornecedor, visto que o mercado diversificou. “As empresas perceberam que precisavam ter um vínculo maior com os clientes e passaram a tratar o tema como estratégico para os negócios”, diz Claudia.

Em outras palavras, puseram o cliente no centro de seus planejamentos, envolvendo na causa marketing, atendimento, vendas e logística. “Customer experience só traz resultado quando a companhia adota, de fato, uma cultura centrada no consumidor. Não é um projeto com prazo para terminar, e sim uma visão comercial trabalhada de forma contínua e permanente”, afirma Claudia. Nesse quesito, empresas 100% digitais, que já nascem orientadas para seus usuários, saem na frente. Fundado em 2018 por executivos do BTG Pactual, o C6 Bank possui 25 empregados no time chamado de HX (human experience). A equipe, que fica sob o guarda-chuva da área de inovação, é dividida em três frentes. De acordo com Gustavo Torres, líder da área, a primeira frente é composta pelos service designers, profissionais de psicologia, marketing e ciências sociais que realizam pesquisas para investigar o comportamento, as expectativas e as exigências do consumidor; a segunda é a dos product designers, que constroem as jornadas do usuário; e a terceira equipe é a de UX writers, que redigem os diálogos dos chats e elaboram os textos que apresentam produtos do banco. Esses últimos cargos são ocupados por pessoas de comunicação, principalmente jornalistas. “Nosso time de HX tem uma importância estratégica, pois é ele que facilita processos para os clientes e garante uma comunicação clara e fluida com eles”, diz Gustavo. Taxa de acesso, índices de satisfação e tempo de permanência do usuário no aplicativo são algumas das métricas utilizadas pelas companhias para avaliar o resultado de ações de CX e embasar melhorias. No C6 Bank, por exemplo, o aplicativo é atualizado a cada 15 dias. Reconhecido pela facilidade na abertura de conta, o app do banco possui um chat automatizado que conduz etapas burocráticas. O processo, sem interação humana, leva cerca de cinco minutos. Em um ano de operação, a instituição conquistou 1 milhão de clientes.

MERCADO AQUECIDO

Corno trazem resultados rápidos, as equipes voltadas para a experiência de usuários e consumidores só crescem. Uma pesquisa feita pela Gartner, consultoria americana, revelou que 74% dos gestores da área de CX esperam ter um orçamento maior em 2020. Em 2017, esse índice era de 47%. Ou seja, mais dinheiro, mais contratações. Prova disso é que a procura por UX designers no Brasil subiu 323% de janeiro de 2017 a janeiro de 2020, segundo dados do Indeed, site de empregos que opera em mais de 70 países. Já a busca de candidatos por vagas de CX como um todo cresceu 183% no período. Não à toa, um levantamento do LinkedIn apontou a carreira em experiência do cliente como a sexta mais promissora do ano passado. Entre as funções desses profissionais estão desvendar o perfil do consumidor, interpretar dados sobre o público-alvo e propor itens alinhados às expectativas de quem os consome. Segundo Clarissa Gaiatto, diretora de transformação digital da consultoria de negócios Deloitte, as equipes de trabalho na área costumam ser multidisciplinares, com diferentes formações e habilidades. Por ser uma novidade dentro das empresas, os recrutadores dão grande importância às soft skills na hora de contratar. Criatividade, capacidade de analisar cenários, empatia para se colocar no lugar do cliente, pensamento estratégico, boa comunicação e habilidade para influenciar os demais setores da organização são características levadas em conta.

Mesmo assim, é essencial conhecer (e estudar) as principais metodologias usadas na área, como CSAT (sigla para customer satisfaction score) e o NPS (sigla para net promoter score). A primeira mensura o nível de satisfação dos consumidores; e a segunda, o grau de lealdade deles. Altas pontuações significam que a marca tem clientes fiéis, que indicam seus produtos e serviços a terceiros e até fazem elogios em redes sociais, algo que vale ouro hoje em dia.

Na visão de Patrícia Carvalho, diretora de marketing da Revelo, startup de recrutamento, as empresas digitais são as que mais concentram oportunidades. “Boa parte delas busca pessoas que saibam mensurar e interpretar dados em parceria com o time de Analytics”, diz. Os salários começam em 3.000 reais para quem está iniciando na carreira e passam de 10.000 para cargos de liderança.

Ana Cristina Oliveira, de 51 anos, gerente de caring models & processes da Tim, lidera um time de 90 pessoas e é responsável pelas análises de processos e por toda a interface com o cliente em canais digitais, como chat e atendimento eletrônico. Formada em administração de empresas e em processamento de dados, ela está há 22 anos na empresa de telefonia e acredita que reforçar a área de atendimento ao cliente foi fundamental. “É preciso enxergar com os olhos do cliente. Metodologias são fáceis de aprender, por isso valorizo as habilidades emocionais. Quem quer trabalhar com CX tem de gostar de gente.” Desde 2015, a experiência do cliente se tornou um dos pilares estratégicos da Tim. Segundo Renato Ciuchini, líder da área de estratégia e transformação e responsável pela gestão de CX, toda a empresa está envolvida na missão de entregar a melhor experiência aos consumidores. “As metas dos nossos funcionários têm indicadores relacionados a esse pilar”, diz o executivo. Para isso, nos últimos três anos, a companhia disponibilizou mais de 11.000 horas de capacitação para disseminar o conhecimento em experiência do cliente.

Entre outras ações, inseriu o tema na grade de formação de consultores de venda; criou dois treinamentos online sobre CX voltados para 100% dos empregados; realizou palestras, uma delas intitulada “O Jeito Disney de Encantar o Cliente”; e criou uma semana dedicada ao conceito. Em 2019, o aplicativo Meu Tim teve aumento de 18% de usuários únicos, o que impulsionou a queda nas interações de call center em 17%. As vendas online cresceram 36% no pós-pago e 28% no plano Controle. E o conceito de PDV (ponto de venda) foi transformado em PDX (ponto de experiência). “Nossa ideia é oferecer vivências relacionadas às inovações que a empresa vem fazendo. No ano passado, disponibilizamos em lojas de São Paulo a tecnologia 5G para as pessoas testarem”, diz Renato.

Embora os canais digitais assumam uma importância cada vez maior, é importante investir na qualidade da interação com o cliente em todos os pontos de contato, incluindo as lojas físicas. Assim, vendedores, gerentes e todos que atuam cara a cara com o público são cada vez mais impactados pela ideia de melhorar a experiência dos compradores. Afinal, se a pessoa for maltratada, dificilmente dará uma segunda chance à marca – o que é um tiro no pé, uma vez que conquistar um novo cliente custa, em média, cinco vezes mais do que manter um atual.

“Antes, os clientes tinham uma atitude passiva. Agora eles ditam as regras de como devemos trabalhar”, afirma Marcos Bogo, gerente de relacionamento com o consumidor da Nespresso, multinacional de cápsulas de café que pertence à suíça Nestlé. Nessa nova lógica, a área liderada por Marcos assumiu o papel fundamental de captar impressões e feedbacks do público e alimentar outros departamentos da companhia, como o de marketing, para que as sugestões de melhoria sejam postas em prática.

Um dos projetos reformulados com base nos anseios dos clientes foi o Nespresso & You. Renovado, o programa de fidelidade da marca passou a dividir os consumidores em três categorias: connoisseur (apreciador), expert (especialista) e ambassador (embaixador). Os benefícios para esse pessoal exigente vão de frete gratuito a aulas especiais sobre tipos de grãos ou drinks com café.

Para isso, a empresa mudou o nome de vendedores para especialistas em café e passou a treiná-los para que conheçam a fundo os produtos. É o caso de Neander Dornelles, de 29 anos, coordenador da boutique Nespresso de Curitiba (PR). Há sete anos na companhia, ele foi promovido três vezes, recebeu quatro aumentos de salário e venceu um campeonato interno de degustação às cegas, na Suíça. “Minha missão é atender cada cliente individualmente e dar informações personalizadas. É a qualidade desse relacionamento que irá fidelizá-lo”, diz ele, que também oferece até masterclasses (a mais recente foi sobre cafés gelados) a seus consumidores.

EM ALTA

Veja quem são e o que fazem os profissionais mais demandados pelas áreas que cuidam da experiência do cliente

UX RESEARCHER

Em um projeto de User Experience, é ele quem faz pesquisas relacionadas ao comportamento do consumidor. Com base nas informações coletadas, ele direciona o trabalho do Ux Designer.

UX DESIGNER

Responsável por executar o planejamento realizado pelo Ux Researcher. Ele cria protótipos, detecta falhas e faz testes para verificar se o produto ou serviço atende às necessidades do consumidor. Num negócio digital, cuida das interações em telas e do desenho da interface.

UX WRITER

É quem escreve o texto de sites, aplicativos e chats, entre outros produtos, garantindo uma comunicação clara e objetiva com os consumidores.

ANALISTA DE CX

Pode atuar na análise dos dados dos clientes, no planejamento das ações da empresa e no acompanhamento das métricas que avaliam se a experiência desenhada está sendo bem-sucedida com o público.

CX MANAGER

Coordena o trabalho dos profissionais envolvidos em CX e atua junto à liderança para implementar as melhorias necessárias.

O CLIENTE TEM SEMPRE RAZÃO

Os números da experiência do consumidor

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

EU QUERO MUDAR

A pandemia pôs as pessoas dentro de casa, em quarentena – na retomada, é natural que se busquem uma nova toada, novos sonhos para a família e no trabalho. E um dos movimentos mais interessantes de toda uma geração

Só quem veio de Marte, e de lá chegou agora mesmo, e que não viu a profusão de memes, camisetas e cartões com a expressão imperativa Keep Caim e…, depois da conjunção, um conselho qualquer metido a engraçadinho: “chute o balde”, “foca nos estudos”, “estou de férias” etc. Keep Caim and Carry On, mantenha a calma e siga em frente, foi uma frase motivacional criada (e não utilizada na ocasião) pelas autoridades britânicas durante a II Guerra Mundial para manter elevado o moral da população civil debaixo de bombardeio alemão. Não seria exagero dizer que o slogan, em sua versão original, poderia ser aplicado ao nosso tempo, o da pandemia, do isolamento social, de vidas partidas ao meio, de avós afastados de netos, em decorrência do novo coronavírus. É ter paciência e caminhar ou, como lembrou o ex­ ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, um pouco antes de deixar o governo, numa citação que será para sempre recuperada, extraída do lirismo de Paulinho da Viola, “faça como o velho marinheiro, que durante o nevoeiro leva o barco devagar”. A prudência não exclui uma das mais evidentes vontades do aqui e agora em todo o mundo: o desejo de mudar de vida, se não radicalmente, ao menos de modo a encaixá-la no que vem por aí. É percepção que anda na cabeça, anda nas bocas, entrou nas sessões de terapia on-line e, recentemente, também nas presenciais, que aos poucos vão sendo retomadas. “O longo tempo em casa foi um impulso para que caísse a ficha sobre o que precisava ser mudado, com urgência, de modo a encontrar mais satisfação e bem-estar”, diz Alfredo Maluf, psiquiatra do Hospital Albert Einstein.

Não há, ainda, levantamento estatístico que ampare a mudança de comportamento, mas existem indícios palpáveis de que algo trincou e precisa ser colado. Houve, por exemplo, inédito aumento de buscas no Google pelo termo “meditação” – 43% em abril em comparação com dezembro de 2019, o maior índice em dezesseis anos de levantamento. Uma das maiores imobiliárias de São Paulo, a Lello, que atende as classes média e alta, identificou salto de 40% de interesse por casas amplas com cômodos para home office.

Apartamentos em bairros badalados, próximos a lugares repletos de serviços, bares e supermercados, tornaram-se desinteressantes. Endereços mais amplos e perto de áreas verdes são os preferidos agora. “As residências se transformaram em santuários protegidos”, afirma Stefano Arpassy, da consultoria de tendências WGSN Management. Há, portanto, uma guinada como não se via fazia décadas, desde que a falta de segurança e a criminalidade empurraram a sociedade para condomínios de apartamentos e shopping centers. Diz a psicóloga Patrícia Bader, da Rede D’Or: ”Muitas vezes estamos em um modo automático tão profundo que esquecemos o que é de fato relevante para nossa existência”. Olha-se ao redor, veem-se as estatísticas, com esperança de melhora depois dos momentos mais dramáticos do surto, apesar do vai- vem, e um caminho parece inevitável: o da adaptação, em todos os movimentos diários.

Poucos aspectos do cotidiano sofreram uma ruptura tão decisiva quanto o mundo do trabalho, de mãos dadas com o das escolas, de crianças em casa. Pais e mães trabalhando, filhos tentando estudar, tudo junto e misturado, o inevitável frenesi caseiro – e, como eventual subproduto dessa nova dinâmica, um aumento de 18,7% no número de divórcios no Brasil em junho, na comparação com o mês anterior. Fazer o quê? O home office ganhou tração, é compulsório, em seus diversos modelos, e dele sairemos diferentes. O que se ensaia nas empresas é uma movimentação quase tão estrondosa quanto a da Revolução Industrial, mas às avessas, com milhões de trabalhadores voltando para seus lares. Uma pesquisa realizada pela Fundação Instituto de Administração (FIA), de São Paulo, com quase 140 empresas brasileiras em abril deste ano mostrou que 46% delas adotaram o sistema de atividades domésticas durante a pandemia. E, claro, brotaram dificuldades que, se não são intransponíveis, podem ser bem chatas. Um estudo feito pela rede social LinkedIn com 2.000 profissionais relata aumento do stress e da ansiedade (62% dos entrevistados) e sensação de solidão, que atinge 39% do grupo. “Em relação ao trabalho, tornou-se comum entre meus pacientes a reclamação da ausência do bate-papo com os colegas, do café no meio da tarde e de toda interação social que envolve e enriquece a vida no escritório”, diz o psicólogo clínico Artur Scarpato. A saudade do que se perdeu, porém, não é sinônimo de retomar tudo como dantes. A nova vida profissional, enfim, virá de outro modo. Segundo levanta mento feito pela recrutadora Talenses, de São Paulo, 60% dos homens e 52% das mulheres afirmam que o mais desejável para o home office é poder praticá-lo de duas a três vezes na semana. Um estudo interno e global da Microsoft entrega resultados mais evidentes: 82% dos gerentes relataram a vontade dever implementadas políticas de trabalho remoto mais maleáveis.

Maleabilidade, eis a nova e inescapável regra do jogo. Em tempos difíceis, é natural que se busque algum conforto em boas lembranças do passado, berço da sensação de segurança. Os grandes traumas, do ponto de vista neurológico, afetam as chamadas áreas cinzentas do cérebro, responsáveis pela visão, audição, fala, emoções e memória. Como resultado do corte abrupto, como acontece agora com a pandemia, há uma divisão natural entre o que veio antes e o que virá depois – é percepção que pode ser compreendida pela psicologia, no divã, em sessões por videoconferência, sem dúvida, mas também por imagens bioquímicas, nos casos mais drásticos. Na procura pela compensação, por algo tranquilizador, os adultos fazem como as crianças e caçam nos vãos mais recônditos algum objeto transacional, ponte para o bem-estar: pode ser um filme, um livro, uma roupa, um prato de comida. A nostalgia ajuda, serve como uma espécie de chupeta emocional, levando-nos ao convívio com uma realidade estressante. É como se fosse necessário dar uma olhadinha lá para trás para seguir em frente. Não por acaso, a recente proliferação de drive-ins em todo o mundo, inclusive no Brasil, foi recebida com dupla satisfação: por segurança, dado o distanciamento entre os carros, e pelo agradável aceno à vida como ela era no tempo de nossos pais e avós. “E como se enxergássemos a vida em câmera lenta para poder analisar bem antes de engatar os próximos passos”, afirma Ilana Pinsky, psicóloga clínica e pesquisadora visitante na Universidade da Cidade de Nova York.

No entanto, como há sempre um porém, a boia da nostalgia não resolve tudo, e pode ser incômoda. Para a grande maioria das pessoas, na maior parte dos lugares, a pandemia não reflete o drama e a morte na linha de frente, nos hospitais, mas o tédio e as dificuldades comezinhas do cotidiano doméstico. Havia o sonho de retomada da simplicidade dentro de casa, sem o exagero do consumo, sem a loucura do trânsito das metrópoles, uma vida menos agressiva ao ambiente. Sim, e é ambição que parece saltar das conversas entre pacientes e terapeutas. Contudo, as pequenas tarefas do dia a dia, para prosseguir na metáfora bélica, são como uma guerra de guerrilha – aborrecida, decepcionante -, e não é fácil lidar com esse inimigo silencioso, devorador de humores. A simples vontade de pôr os pés na rua, natural, vai colidir com o tal do novo normal, a expressão já comuníssima que ajuda a resumir o mundo como ficou e ficará. Nos restaurantes, haverá pouca gente nos salões, mesas afastadas, horários rigorosos e, surpresa!, em alguns endereços da Europa há bonecos que, confortável e elegantemente sentados diante dos pratos, colaboram para desanuviar o ambiente. Nas academias de ginástica brotam casulos de plástico para isolar as pessoas, em imagem que soa futurista mas tem os pés no presente de modo indelével, ao menos até que surja a tão sonhada vacina contra o vírus. Malhar é preciso e manter a saúde também. “Períodos de grandes rupturas têm caráter de reorientação, levam-nos a pensar no que realmente é prioridade”, diz Rodrigo Alencar, professor na pós-graduação de sociopsicologia da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Vale o conselho que não para de ecoar e que os personagens ouvidos, evidenciam: mantenha a calma e siga em frente na trilha de uma outra vida, melhor, agradavelmente melhor.

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