FELICIDADE SOB HOLOFOTES
Como os estudos sobre felicidade têm ganhado relevância e oferecido novas perspectivas em tempos de crise e aumento da infelicidade global

Instabilidade e crises econômicas de efeitos nefastos têm sido uma constante em todo o mundo nos últimos anos. Paralelamente, contrariando o senso comum, tem ganhado destaque certa percepção de que nem tudo se resume a dinheiro e poder aquisitivo, e assim a felicidade tomou o centro do palco na comunidade global. Ao reconhecer a necessidade de mais ênfase nesse aspecto, a Organização das Nações Unidas (ONU) declarou 20 de março o Dia Internacional da Felicidade. visando promover a ideia de que a felicidade é um direito humano universal a ser comemorado por milhões de pessoas em todo o mundo.
Toda essa preocupação também diz respeito, por outro lado, ao aumento da infelicidade em todo o mundo, impulsionado pela desconfiança em líderes políticos e pelo uso intenso das redes sociais. De acordo com o Relatório Mundial da Felicidade 2019, elaborado pelo Instituto Gallup em parceria com a ONU, o Brasil, cuja fama internacional é de uma das nações mais felizes do mundo. caiu 16 posições no ranking global entre 2015 e 2019, ocupando a 32ª posição entre 156 nações.
De fato, celebrar e pesquisar a felicidade em tempos de infelicidade em alta parece ser uma tarefa urgente. A felicidade tem um papel muito importante e um enorme impacto na maneira como vivemos. Embora os pesquisadores ainda não tenham chegado a uma definição ou a uma estrutura acordada, muito tem sido estudado nesse campo.
Desde a Antiguidade a felicidade vem sendo objeto de estudos. Para Aristóteles, encontramos a felicidade quando usamos nossos talentos na potencialidade máxima e satisfazemos nossos valores. É por isso que a felicidade é tão diferente para cada pessoa. Todos nós temos talentos diferentes, valorizamos coisas diferentes e adotamos prioridades diversas.
No século XXI, a felicidade passou a ser assunto de pesquisadores que descobriram sua importância para um desenvolvimento humano positivo. O termo sempre teve muitos significados. Segundo Martin Seligman, um dos líderes da psicologia positiva, em um de seus livros mais célebres, Felicidade Autêntica, a felicidade está relacionada à compreensão dos sentimentos positivos e à busca pelo seu desenvolvimento.
Frequentemente a felicidade é referida por outro nome na pesquisa em psicologia positiva: bem-estar subjetivo, ou subjective well being (SWB). Alguns acreditam que a felicidade é um dos componentes principais do SWB, enquanto outros creem que a felicidade é o SWB. Independentemente disso, o SWB também tem sido usado como abreviação para a felicidade na literatura. Tudo isso faz parte de um campo que tem sido denominado como “ciência da felicidade”,
Nesse sentido, a psicologia positiva pode ser considerada um subconjunto dentro do campo mais amplo dessa ciência, que se estende tanto às ciências naturais quanto às sociais. Por exemplo, a psicologia positiva é amplamente focada no estudo de emoções positivas e das chamadas “forças de assinatura”, mas a ciência da felicidade se estende, por exemplo, a áreas como o impacto do exercício físico no bem-estar psicológico ou o efeito das mídias sociais na felicidade.
De forma geral, existem muitas teorias diferentes sobre a felicidade, mas elas geralmente se enquadram em uma de duas categorias, com base em como elas conceituam a felicidade (ou o bem-estar):
FELICIDADE / BEM-ESTAR HEDÔNICO é felicidade conceituada como a experiência de mais prazer e menos dor: composta por um componente afetivo (alto afeto positivo e baixo afeto negativo) e um componente cognitivo (satisfação com a vida). Já FELICIDADE / BEM-ESTAR EUDAIMÔNICO conceitua a felicidade como resultado da busca e realização do propósito de vida, significado, desafio e crescimento pessoal; aqui a felicidade se baseia em atingir o potencial total e operar em pleno funcionamento.
POR QUE A FELICIDADE É IMPORTANTE?
Nas últimas três décadas, psicólogos e pesquisadores desenvolveram centenas de estudos e muitos deles chegaram à mesma conclusão: nossos antepassados estavam certos. Vale a pena se preocupar com a felicidade.
De acordo com pesquisas, pessoas felizes e satisfeitas são menos suscetíveis a males como hipertensão, doença cardíaca, diabetes, resfriados e infecções respiratórias. Já as pessoas insatisfeitas podem ter depressão e aumentar o impacto de uma ampla gama de doenças.
No contexto do trabalho, trabalhadores felizes são mais produtivos. Thomas Wright, professor de comportamento organizacional na Universidade de Nevada, estima que o nível de felicidade dos funcionários leva à variação entre 10% e 15% do desempenho entre os trabalhadores. Em uma semana de 40 horas, isso pode significar até 75% de perda de produtividade.
Por fim, pessoas felizes são mais persistentes para resolver problemas e são mais solidárias. Elas trabalham em tarefas complicadas por mais tempo do que as pessoas que são infelizes e têm mais empatia com os necessitados, são mais generosas e menos focadas em si mesmas.
Qual é o segredo, afinal? De acordo com Seligman, são as variáveis voluntárias ou intencionais que fazem alguém afirmar que é feliz. Isto é, depende de você querer ser feliz, dar significado à sua vida e entrar em ação para que isso aconteça. Aproveite, então, o 20 de março e reflita: o que é felicidade para você?

FLORA VICTÓRIA – é presidente da SBCoachng Training, mestre em Psicologia Positiva Aplicada pela Universidade da Pensilvânia, especialista em Psicologia Positiva aplicada ao coaching. Autora de obras acadêmicas de referência, ganhou o título de embaixadora oficial da Felicidade no Brasil por Martin Seligman. É fundadora da SBCoaching Social.
Você precisa fazer login para comentar.