O TRABALHO DEPOIS DA PANDEMIA
A crise da covid-19 está influenciando a maneira como profissionais de todo o mundo lidam com a carreira. Descubra quais serão as grandes mudanças que devem ocorrer quando a quarentena terminar.
Na segunda quinzena de março, quem passava pela região da Avenida Faria Lima não reconhecia o centro financeiro e empresarial mais movimentado da cidade de São Paulo. Não estavam mais ali os onipresentes carros, patinetes e profissionais que trabalham em empresas famosas daquela área (como Klabin, PiTelli, Google, XP e Microsoft, para citar só algumas) e transformam o local num vaivém frenético durante o horário comercial. Só sobraram os motoboys de delivery. Tanto que, no dia 17 de março, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) registrou somente 31 quilômetros de congestionamento às 19 horas. A média do horário é de 89 quilômetros.
As ruas desertas em São Paulo – e em tantas outras cidades – são um reflexo da pandemia do coronavírus, que colocou o mundo inteiro em quarentena. E, quando dizemos o mundo, é o mundo mesmo. Um levantamento feito pela agência de notícias AFP mostrou que, no começo de abril, quase 4 bilhões de pessoas estavam em casa devido às restrições de mobilidade. Isso significa que metade da população do planeta ficou sem botar o pé na rua.
O isolamento social é fundamental para que a curva de contágio da covid-19 seja mais lenta, o que minimiza o impacto nos sistemas de saúde, que poderiam colapsar caso todos ficassem doentes ao mesmo tempo. Mas essa medida, importante para salvar vidas, naturalmente desacelera a economia. Ao opor duas necessidades básicas humanas, a sobrevivência física e a sobrevivência financeira, esta crise se torna uma das mais complexas da história. E as consequências econômicas já são sentidas. O Brasil, que não estava no melhor dos cenários antes do coronavírus aterrissar em território nacional, já começa a sentir o baque. De acordo com o IBGE, o produto interno bruto (PIB) do primeiro trimestre caiu 1,5% e a expectativa do governo é que, até o fim do ano, a queda seja de 4,7%. A estimativa dos analistas do banco Goldman Sachs é ainda mais pessimista e projeta uma retração de 7,7%. Para os trabalhadores, a conta chegou.
A Medida Provisória nº 936, que deu às empresas a oportunidade de suspender contratos e reduzir salários e carga horária temporariamente sem precisar de acordos coletivos em vários casos, fez com que 7 milhões de profissionais com carteira assinada vissem seus holerites diminuir de uma hora para outra. Além disso, o país perdeu 1,1 milhão de vagas CLT entre março e abril, de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Só em abril, quando mais de 860 .000 postos foram fechados, as demissões cresceram 17% e as admissões caíram 56,5% em comparação ao mesmo mês em 2019. Esses foram os piores resultados de abril na série histórica, que começou a ser medida em 1992.
Com esses índices, não é de estranhar que ansiedade, preocupação e insegurança sejam sensações que acometem todos os profissionais – mesmo os que ainda estão empregados ou conseguindo manter seus negócios de alguma maneira. Uma pesquisa feita pelo Datafolha em maio exemplifica o desalento: 69% das pessoas acreditam que a pandemia do coronavirus irá impactar a atividade produtiva por muito tempo. O que mais se ouve no mercado é que, mesmo quando a pandemia passar, o mundo nunca mais será como antes. E o que isso significa para o trabalho? A resposta não é simples. Mas já existem alguns indícios de como o trabalho será no pós-coronavírus. E alguns aspectos são bem complicados para a ponta mais fraca da cadeia – o trabalhador. Nas próximas páginas, respondemos a cinco grandes questionamentos.
AS RELAÇÕES PROFISSIONAIS SERÃO PRECARIZADAS?
Um dos grandes temores dos profissionais é que, com a crise, a precarização das relações de trabalho se aprofunde. Existem alguns indícios que mostram que essa preocupação pode ser válida. Um deles é o fato de que as negociações individuais entre patrão e empregado devem se tornar padrão. Isso já estava previsto na reforma trabalhista de 2017, mas veio à tona com força por causa da MP nº 936, que permitia que quem ganhasse mais de 12.202,12 reais ou menos de 3.135 reais negociasse redução salarial e suspensão de contrato diretamente com a empresa. A MP passou por votação na Câmara, que diminuiu a faixa para 2.090 reais, e agora segue para o Senado.
O problema desse tipo de negociação é que ela não é equilibrada: um dos lados (o do funcionário) é mais fraco e se sente pressionado a ceder, mesmo contra sua vontade. “A pandemia acentuou alguns processos. De março para cá está ficando muito claro o que pode acontecer quando o empregado fica refém da negociação individual. Ele aceita qualquer coisa, pois precisa sobreviver, precisa do salário”, diz Flávio Roberto Batista, professor de direito do trabalho e seguridade social da faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Os acordos individuais fazem com que as relações de trabalho deixem de ser um conjunto de regras gerais, o que cria uma imprevisibilidade. Afinal, não há mais um parâmetro global regendo todas as questões. “Isso gera o que alguns autores chamam de “uberização do trabalho”, o que pode até aumentar a jornada”, diz o antropólogo Michel Alcoforado, sócio do Grupo Consumoteca, que atua com transformações culturais e comportamento.
Outro ponto importante vem do home office forçado: as empresas compreenderam que a produtividade não precisa ser focada nas cargas horárias, mas nas entregas – e isso pode abrir uma avenida para a substituição dos empregados integrais por trabalhadores freelancers ou terceirizados. “Em um contexto de imprevisibilidade em relação ao futuro, os chamados contratos sob demanda ganham força e o CLT começa a fazer menos sentido, o que gera mais insegurança no trabalhador”, afirma Michel. O advogado Cristóvão Macedo Soares, sócio do escritório Bosisio Advogados, complementa: “As tecnologias que existem hoje permitem a contratação de pessoas para demandas ou projetos específicos, com foco apenas na entrega do resultado esperado. Por isso, serão necessárias garantias básicas e representação sindical, o que só será possível com mudanças legislativas e apoio do Estado”.
NOVA ROTINA
Pesquisa feita pelo grupo Consumoteca com 2.000 pessoas de todo o Brasil e divulgada com exclusividade, mostra quais são as percepções sobre o trabalho na pandemia
COMO VOCÊ GOSTARIA DE TRABALHAR?
43% – Preferem mesclar o escritório com o home office
31% – Querem teletrabalho como rotina oficial
Os jovens da geração z não se adaptaram a trabalhar de casa. Apenas 27% querem fazer isso de maneira integral
VOCÊ TERÁ NOVOS HÁBITOS DE TRABALHO APÓS A PANDEMIA?
GERAÇÃO Z ……………………… 62%
GERAÇÃO Y ……………………… 55%
GERAÇÃO X ……………………… 45%
QUE NOVIDADES EXPERIMENTOU NO TRABALHO DURANTE A QUARENTENA?
53% – GERAÇÃO Z – Usou ferramentas pessoais para trabalho pela primeira vez
28% – GERAÇÃO Y – Usou uma nova ferramenta de comunicação de equipe pela primeira vez
48% – GERAÇÃO X – Fez uma videochamada pela primeira vez
A ROTINA MUDARÁ DEPOIS DA PANDEMIA?
57% SIM – CLASSE A
52% SIM – CLASSE B
52% SIM – CLASSE C
O HOME OFFICE SE TORNARÁ IMPOSIÇÃO?
Em meados de maio, Mark Zuckerberg conduziu uma videoconferência com os funcionários do Facebook. Em pauta estava o comunicado de que o home office continuará até dezembro de 2020 para quem preferir trabalhar de casa. E ele fez uma previsão: daqui a dez anos, 50% dos funcionários do Facebook deverão exercer suas atividades remotamente. Mas, para o fundador da rede social, isso não significa que tudo ficará como antes para os funcionários. Pelo contrário. Zuckerberg afirmou que a partir de janeiro de 2021 haverá ajustes salariais para os empregados que trabalharem de locais com o custo de vida mais baixo do que a cara. Mento Park, na Califórnia (nos Estados Unidos), onde fica a sede do Facebook. De acordo com ele, os funcionários precisarão informar e comprovar onde sua casa fica e, dependendo da região, terão os ganhos reajustados para baixo. Quem mentir sobre a localização terá sérias penalidades, disse o empreendedor. A decisão de Zuckerberg é extrema, mas demonstra uma das consequências do home office: economia de custos para as empresas. Sem a circulação total dos funcionários, os escritórios tendem a ficar menores, o que diminui gastos com aluguel, manutenção predial, água, luz e energia elétrica, por exemplo. No entanto, algumas empresas estão oferecendo benefícios de home office, como auxílio para pagamento de internet, luz, telefone e mobiliário ergonomicamente adequado. Mas isso vem da vontade da companhia, pois não existe uma lei que determine o que deve ser oferecido aos empregados remotos. A reforma trabalhista de 2017 estabeleceu que funcionários e empresas devem firmar um contrato individual com os termos do teletrabalho. “Teremos ainda anos de discussões judiciais em torno disso. De maneira prática, se houver a necessidade de reforçar o pacote de internet para ter mais velocidade, quem vai bancar a diferença de preço? O empregador é quem deve arcar com os riscos da atividade econômica dele”, diz Flávio, da USP.
Fato é que o home office veio para ficar no Brasil. Segundo uma pesquisa feita pela Fundação Dom Cabral, 86% das empresas devem manter o trabalho remoto após a pandemia. E existe, também, vontade de parte dos funcionários de continuar nesse esquema – mesmo que o desejo tenha diminuído durante a quarentena. Isso fica claro numa pesquisa da Gallup que mostra que, em abril, 53% dos americanos gostariam de permanecer em home office a maior parte do tempo possível; no início do isolamento o índice era de 62%.
Entre os brasileiros, o desejo é o meio-termo. Segundo um levantamento do Grupo Consumoteca, feito com 2.000 pessoas de todo o Brasil e de diversas gerações e classes sociais, 41% preferem intercalar home office com idas ao escritório, e só 31% querem ficar em casa o tempo todo quando a quarentena passar. “Um dos maiores legados da pandemia é a capacidade de tornar os profissionais híbridos. Quanto mais as companhias se conscientizarem de que o home office não é motivo de medo, nem de falta de controle ou de baixa produtividade, mais a flexibilidade ganhará força”, diz Ligia Zotini, pesquisadora de futuros e fundadora da consultoria Voicers.
Mas, para que esse futuro híbrido dê certo, será preciso atentar para alguns aspectos. O antropólogo Michel, do Grupo Consumoteca, elenca três deles: a desmaterialização, movimento de levar tudo o que é físico para as plataformas de gestão digital; a assepsia, zelo por limpeza, segurança e readaptação de ambientes; e a descontextualização, em que se perde a noção dos dias e se trabalha mais. “É possível notar isso observando as pessoas em home office. A maioria está trabalhando mais do que no escritório”, afirma Michel. E está mesmo. Segundo uma pesquisa do Centro de Inovação da FGV Eaesp, 46% dos profissionais relataram aumento na carga de atividades no teletrabalho.
Por isso, caberá às companhias criar mecanismos de controle de horas a distância e estimular que ninguém trabalhe além da conta – com o exemplo partindo das Lideranças. Também é necessário possibilitar que empregados que prefiram ir para o escritório tenham essa opção pelo menos durante alguns dias da semana. Afinal, cada um tem suas particularidades, e o home office pode ser complicado para alguns empregados – existem pessoas sem espaço físico em casa para preparar um local voltado para o trabalho ou profissionais que têm dificuldades em conciliar o próprio trabalho com as atividades de parentes ou cônjuges, por exemplo. E isso pode gerar ansiedade, como demonstra uma pesquisa feita pelo LinkedIn com 2.000 profissionais que mostra que 62% estão mais ansiosos no home office. A batalha para se desconectar das atividades profissionais será árdua e exigirá que os empregados tenham disciplina – e criem rituais próprios – para desconectar, mesmo com os equipamentos da empresa 24 horas à disposição.
HABILIDADES IMPORTANTES
Duas atitudes que serão cruciais para sobreviver no mundo pós-covid-19, de acordo com Rafael Souto, CEO da Produtive
AMBILIDADE
Trata-se da junção entre ambição e humildade, competência essencial para o século 21 segundo o consultor Bill Taylor. Isso quer dizer que aquela máxima de que ser líder é ter todas as respostas não existe mais. é preciso não ter medo de mostrar vulnerabilidade em situações desconhecidas, ter capacidade de construir um ambiente colaborativo e estar aberto a aprender sempre. o momento é de incerteza e imprevisibilidade, e ninguém sabe, de fato, o que vai acontecer. “É essencial ter a humildade de dizer “não sei, vamos construir juntos”. não há espaço para profissionais ambiciosos e prepotentes”, diz Rafael.
TRABALHABILIDADE
O modelo baseado em apenas um empregador pode se tornar frágil. por isso, os profissionais precisarão transformar seus conhecimentos em diferentes fontes de geração de renda. Segundo Rafael, a segurança dos profissionais não está mais em ter um emprego, e sim em ter suas habilidades bem claras e encontrar maneiras de gerar valor. “A instabilidade dos negócios vai ser cada vez maior e é arriscado apostar todas as fichas da carreira apenas no trabalho formal. todos devem ter um plano b”, diz Rafael.
O JEITO DE FAZER CARREIRA VAI MUDAR?
Existem vários tipos de carreira possíveis hoje, mas a trajetória mais tradicional – de entrar numa companhia e ir crescendo aos poucos, ano a ano – parece estar em xeque. Com a crise da covid-19, ficou claro para muitos que não se pode jogar todas as fichas na estabilidade da empresa em que se trabalha. “Está ficando menos confortável e seguro depositar toda a confiança em apenas um empregador. E a pandemia deixou isso ainda mais claro com o volume de demissões”, diz Leandro Herrera, fundador da Tera, escola que desenvolve habilidades digitais. Rafael Souto, CEO da consultoria Produtive, complementa: “Há alguns anos defendo o conceito de trabalhabilidade, a capacidade de o indivíduo produzir e gerar renda. Muito além do emprego tradicional, os profissionais terão de encontrar outras alternativas”.
Por isso, surge um movimento de pessoas buscando, por necessidade, a mescla entre o modelo CLT e o de freelancer, o que é legal, desde que o profissional preste atenção em algumas questões. “A lei só proíbe ter mais de um trabalho se a atividade concorrer com a da empresa CLT ou se atrapalhar o andamento das tarefas”, diz Flávio, da Faculdade de Direito da USP. Em contra partida, esse movimento pode gerar uma carga excessiva de trabalho, aumentando o risco de problemas de saúde física e mental.
Quando falamos de ascensão na carreira, um tema que começa a ser debatido é o da mobilidade. Antes da pandemia, era comum que uma das exigências para a sucessão fosse a disponibilidade de mudança de cidade. “Hoje, as companhias se questionam se é preciso transferir o funcionário ou se a empresa pode ir até ele”, diz Rafael. O mesmo vale para as expatriações. Apesar de ainda ser cedo para afirmar, é possível que as transferências entre países diminuam ou passem a ser virtuais – já que as nações deverão ter protocolos mais rígidos para a entrada de estrangeiros. Na prática, a nova carreira internacional seria formada por reuniões e contatos mediados pela tecnologia. “Isso vai gerar menos benefícios para o profissional, que não terá a mesma imersão em uma cultura diferente, mas poderá aumentar a chance de haver mais pessoas de diversos países na empresa”, afirma Bjõrn Hagemann, sócio da consultoria McKinsey.
MAIS ANSIEDADE
Levantamento feito pelo LinkedIn com 2.000 profissionais mostra que o estresse está alto durante o isolamento social
68% – Extrapolam o expediente em pelo menos 1 hora por dia
62% – Estão mais estressados ou ansiosos com 0 trabalho em comparação ao período antes do home office
39% – Sentem-se mais solitários
30% – Estão estressados pela falta de momentos de descontração no trabalho
24% – Sentem-se pressionados a responder e-mails e mensagens mais rapidamente
21% – Trabalham 4 horas a mais por dia
20% – Lidam com a insegurança por não saber o que acontece com seus colegas ou com a empresa
O EMPREENDEDORISMO SERÁ A GRANDE SOLUÇÃO?
Seja pelo desemprego, seja pelo temor de seu setor de atuação nunca mais ser o mesmo (vide as expectativas incertas para o turismo e para os bares e restaurantes, por exemplo), mais brasileiros estão empreendendo. Em maio, o número de microempreendedores individuais chegou à marca de 1O milhões no país – algo que pode ser visto como reflexo da crise. Nesses períodos, é normal que as pessoas fiquem mais estimuladas a tocar os próprios negócios, normalmente por duas motivações.
A primeira é o entendimento de que as empresas existentes, por causa do momento instável, não conseguem criar oportunidades interessantes do ponto de vista profissional. A segunda é a sensação de que, na crise, há menos a perder. “A necessidade de sobrevivência estimula a geração de ideias”, diz José Augusto Figueiredo, presidente no Brasil e vice-presidente executivo para a América Latina da consultoria LHH. Mas empreender num mundo incerto pós-covid-19 será duro. As previsões econômicas são catastróficas, como bem resume o Fundo Monetário Internacional, que afirma que o planeta enfrentará a pior recessão da história desde a Grande Depressão de 1929. “Os mercados emergentes e as nações de baixa renda, por toda a África, América Latina e boa parte da Ásia, correm alto risco”, disse no início de abril Kristalina Georgieva, diretora do FMI.
Segundo Rafael, da Produtive, para embarcar no empreendedorismo é preciso atentar para alguns pontos. Tudo começa com um planejamento bem estruturado, com pesquisa de mercado e análise financeira cautelosa, levando em conta a instabilidade do momento econômico atual. “É preciso muito cuidado para não se descapitalizar.” Em seguida, deve-se deixar de lado a ilusão de empreender para ter mais qualidade de vida e liberdade. “Nos primeiros anos é necessário muito empenho e trabalho, e o retorno é incerto, podendo demorar anos para acontecer”, diz. Quanto aos setores mais promissores, destacam-se saúde, higiene e os baseados em tecnologia. “Produtos e serviços que melhorem a experiência, tornem a vida mais prática e reduzam custos são boas apostas”, diz Rafael.
REDUÇÃO DE CARGA HORÁRIA
A média mundial de horas deve ser 10,5% menor no segundo trimestre de 2020 em comparação ao ano passado
PERIGO À VISTA
436 milhões de negócios nos setores mais ameaçados correm sério risco de quebrar
RENDA BAIXA
81% Deve ser a queda nos rendimentos dos trabalhadores informais de países da África e da América Latina por causa da crise do coronavírus
A ARQUITETURA DO ESCRITÓRIO SE TRANSFORMARÁ?
O open space, o famoso estilo arquitetônico que tomou conta dos escritórios nas últimas décadas e que coloca todos os funcionários lado a lado, sem divisórias, pode estar com os dias contados. Pelo menos da maneira como nós o conhecemos hoje. A pandemia do coronavírus irá demandar que os espaços de trabalho sejam mais privados e distanciados, o que talvez signifique um ressurgimento dos cubículos.
Nos Estados Unidos, uma tendência é a colocação de placas de acrílico separando as pessoas, o que evita que gotículas de saliva se espalhem pelo ambiente. A engenhoca foi batizada de sneeze gards – literalmente, “protetor de espirros”. Por lá já existe, inclusive, uma cartilha para que os escritórios se adaptem à nova realidade de higiene máxima. As sugestões partem do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla, em inglês). Entre as recomendações estão distribuir álcool em gel, disseminar uma etiqueta respiratória (com reforço para que as pessoas cubram tosses e espirros), desencorajar os funcionários a compartilhar equipamentos com os colegas, aumentar a limpeza das áreas comuns, cuidar do sistema de ventilação e substituir itens compartilhados das copas e cafezinhos por descartáveis individuais. Mesmo que essas sugestões não sejam tomadas pelas companhias brasileiras, existe uma tendência para que o distanciamento social e a limpeza mais ostensiva das áreas comuns continuem por um tempo. Além disso, elevadores não poderão ficar lotados e é provável que as companhias façam checagem de temperatura nos funcionários. Com mais pessoas em home office, o tamanho dos escritórios deve diminuir. “Locais grandes e com vários andares tendem a desaparecer com o rodízio de pessoas no escritório”, diz a headhunter Priscila Salgado, fundadora da consultoria Vertical RH.
O que mudará, também, são as interações pessoais. Esqueça salas lotadas para reuniões. Os encontros deverão ser mais curtos e ter a participação apenas das pessoas imprescindíveis presencialmente. Será cada vez mais comum ter parte do time acompanhando as discussões on-line. Isso também deve se refletir nos encontros de negócios: o almoço executivo pode ser substituído por videoconferências, que terão o mesmo objetivo de relacionamento e fechamento de novos negócios.
Os beijinhos, apertos de mãos e abraços – tão queridos pelos brasileiros – talvez fiquem no passado, já que a epidemia deixou as pessoas mais receosas de se tocarem. E também é possível que as confraternizações e happy hours caiam em desuso por certo tempo – pelo menos até todos se sentirem seguros para frequentar bares e restaurantes novamente.
AMEAÇAS DESIGUAIS
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) criou um monitor para acompanhar os impactos que o coronavírus causou no mercado. no quadro a seguir, a OIT mostra qual é o risco em 14 segmentos da economia. Os números de empregados em cada setor são estimativas globais para 2020 *em milhões
Você precisa fazer login para comentar.