ORGASMO: DEZ SEGUNDOS DE ÊXTASE
A combinação entre o jorro de serotonina que acompanha o clímax e o relaxamento que o segue é a droga mais popular do planeta

Em média, ele dura dez segundos – tanto para homens quanto para mulheres. Uma pessoa sexualmente ativa desfrutará das sensações do orgasmo por aproximadamente um minuto por mês. Com a frequência média de uma ou duas relações sexuais por semana, a maioria experimenta algo em torno de 12 minutos de êxtase em um ano. Ao longo de 50 anos de vida sexual, podemos esperar, com otimismo, umas dez horas – ou talvez o dobro disso para o masturbador mais ávido.
Considerando-se o tempo que passamos pensando em sexo, nos preocupando com o assunto ou analisando nossas performances, o emprego de todo esse tempo e energia pode parecer exagerado. No entanto, a combinação do jorro de serotonina que acompanha o orgasmo e o relaxamento muscular momentâneo que se segue possivelmente representa a droga mais potente e difundida à qual o ser humano tem acesso. E mesmo se não formos “dependentes” desse processo químico (e tudo que o antecede) é quase impossível ignorar os apelos sociais e culturais à valorização do prazer. Nos anos 60, o teólogo britânico Malcolm Muggeridge observou que “o orgasmo substituiu a cruz como foco de anseio e miragem de realização plena”. Uma década depois, quase todas as revistas femininas (e ultimamente, masculinas) do mundo tornariam obrigatório incluir em suas páginas, a cada mês, um artigo relacionado ao tema.
Apesar da importância conferida ao orgasmo em praticamente todas as culturas, em diferentes épocas (seja para almejá-lo ou tentar evitá-lo por princípios morais ou religiosos), dos avanços da ciência e das transformações culturais, sua história ainda é repleta de lacunas – que podem ser preenchidas por saberes da psicologia, neurociências, psicanálise, biologia, antropologia, tecnologia e sociologia e literatura.
O primeiro ato sexual, o exemplo mais antigo de duas criaturas semelhantes entrando em contato íntimo com o objetivo de combinar seu material genético para criar um novo ser, provavelmente ocorreu há 1,5 bilhão de anos a.C., no fundo dos oceanos. Posteriormente, o intercurso sexual tornou-se o método normal de reprodução para praticamente todos os animais. Mas, alguns autores acreditam que o primeiro ato sexual entre dois indivíduos semelhantes, em situação de igualdade, buscando contato íntimo para se darem prazer físico e emocional, num contexto de harmonia, sem intenção de reprodução pode muito bem ter ocorrido apenas em algum momento do século XX, provavelmente em algum local da Europa Ocidental ou da América do Norte.
Embora o sexo não seja de modo algum algo novo ou pertinente apenas aos seres humanos, o orgasmo – no sentido de uma recompensa neurológica sutil, uma sensação prazerosa que pode ser usufruída tanto por homens quanto por mulheres fora do contexto reprodutivo, é algo bastante novo na escala evolutiva. Afinal, o Homo sapiens pode ser considerado um recém-chegado ao mundo – e o orgasmo é um fenômeno complexo e sofisticado quase exclusivo dessas criaturas bípedes.
Os orgasmos femininos costumam ser mais raros, repletos de prazerosas contrações musculares múltiplas, capazes de provocar experiências em geral mais intensas que a dos homens ao ejacular- uma sensação fugidia que, quando não há afeto no ato, confere apenas alívio. Há, porém, discrepâncias mais fundamentais entre as experiências orgásticas vividas pelos dois gêneros.
Já o orgasmo masculino é praticamente essencial para haver reprodução. Embora exista polêmica, em relação às mulheres, não há comprovação de que o orgasmo tenha outro papel, que não garantir o prazer, já que a fecundação se dá após o intercurso, independentemente da resposta feminina a ele. Segundo o pesquisador britânico Robin Baker, porém, mulheres podem reter um pouco mais de esperma depois de relações sexuais em que tiveram o orgasmo do que naquelas em que não atingiram o ápice. O sexólogo garante que elas podem “puxar” o esperma através do colo para o útero enquanto o orgasmo está ocorrendo. Esse, entretanto, é um efeito colateral. O gozo, em si, é funcionalmente desnecessário à concepção.
EFEITO TESTOSTERONA
Muitas vezes o êxtase masculino é compreendido como sinônimo puro e simples da ejaculação – o que é um equívoco. Enquanto a ejaculação refere-se à expulsão fisiológica do fluido seminal, o orgasmo é o clímax, o auge do prazer sexual. Os dois geralmente coincidem, mas são reconhecidos pela ciência como processos distintos, que podem ocorrer independentemente. Uma porção de sêmen pode ser emitida mesmo antes de o homem ficar muito excitado sexualmente. E a maioria deles conhece o “gozo seco”, que pode resultar de várias disfunções sexuais, assim como pode ser conscientemente cultivado – sobretudo pelos praticantes do sexo tântrico, numa tentativa de preservar a energia sexual e a ereção por longos períodos. A própria pulsação muscular do orgasmo, contudo, serve para facilitar a concepção, “empurrando” o esperma pela extensão de 8 a 13 centímetros do canal vaginal.
Para bilhões de mulheres, porém, nem a afirmação de Baker de que o orgasmo ajuda a concepção nem o modelo de orgasmo feminino como um prazer melhor do que aquele que os homens possam sentir algum dia significam muita coisa. Isso porque o prazer orgástico permanece elusivo em boa parte da vida das mulheres, ou por toda a vida. Mesmo no mundo atual, supostamente mais informado, ainda é algo muito raro. O professor de antropologia Lionel Tiger, da Universidade Rutgers, estudioso da obra de Charles Darwin, afirma em seu livro The pursuit of pleasure (A busca do prazer), de 1992, que “a quantidade bruta de prazer racional é bem menor do que deveria ser”. Para ele, o orgasmo humano pode ser considerado “uma obra em progresso”.
Mas essa evolução implica uma história. Pelo estudo de sociedades primitivas sobreviventes e isoladas – muitas com linguagens e costumes específicos a respeito dos orgasmos masculino e feminino – podemos acreditar que o fenômeno existe há aproximadamente 100 mil anos, desde que os humanos estão “civilizados”. E examinando o quadro daqueles dias até agora, podemos dizer que, longe de ser apenas um fenômeno neurológico como o piscar de olhos, o orgasmo tem tido enorme importância em relação ao modo como as pessoas evoluíram como organismos e constituíram sociedades. Ele tem sido fundamental principalmente para definir como heterossexuais e homossexuais formam e mantêm pares, é crucial para compreender os modos como a família humana se desenvolveu, como vivemos juntos em comunidades mais amplas sob restrições religiosas e legais, e mesmo para modelar a maneira como distribuímos terra e outros bens por meio de instituições como casamento e herança.
O fato é que buscar a saciedade dos desejos, ainda que de forma provisória, tem sido um dos nossos impulsos mais poderosos. Sua importância como ícone de realização humana nunca foi tão clara como nos dias de hoje. Grande parte das obras da literatura e da arte mundial está voltada ao anseio interminável, inestancável e ávido pelo orgasmo; ao longo dos séculos, a busca pelo prazer tem construído e destruído uniões e, ocasionalmente, dinastias.
VÍNCULO E AFETO
Um bom argumento sustenta que a testosterona, o catalisador químico do desejo em ambos os sexos, é o composto mais influente na história humana. Certamente não foi apenas por sensacionalismo que o zoólogo Desmond Morris chamou o Homo sapiens de “o primata mais sexy vivo”, em 1968, três décadas antes de a Food and Drug Administration dos Estados Unidos ter aprovado o citrato de sildenafil (comercializado como Viagra), a primeira pílula para tratar a impotência masculina.
Desde a pré-história aspectos neurológicos já determinavam as sensações prazerosas vividas pelos humanos durante o sexo. O neurotransmissor chamado oxitocina, ou “hormônio do amor”, sintetizado pelo hipotálamo, na base do cérebro, e estocado na hipófise posterior, é utilizado por homens e mulheres durante a atividade sexual e pelo organismo feminino no momento do parto. No final de uma gravidez, a oxitocina estimula as contrações uterinas e a produção do leite. Imediatamente depois que uma mulher dá a luz, surge também o desejo de aninhar o bebê e protegê-lo. A oxitocina, que funciona como catalisador químico do corpo, induz sensações de amor, altruísmo e ternura, favorecendo a vinculação afetiva e a satisfação.
Não seria exagero, portanto, afirmar que quando a oxitocina flui através de nossa corrente sanguínea seus efeitos podem ser benéficos não apenas para o indivíduo que os experimenta, mas para a preservação da espécie. Como ocorre com a maioria das outras substâncias produzidas pelo organismo, a oxitocina tem mais de uma tarefa. Faz-nos sentir calorosos, satisfeitos e unidos ao parceiro. Coordena também o reflexo de emissão do esperma no orgasmo masculino e, acredita-se (ainda sem comprovação), também a recepção do líquido seminal no orgasmo feminino. Como parte da indução de um estado alterado da consciência, a oxitocina liberada pelo orgasmo das mulheres as ajuda a permanecer imóveis por um tempo após o gozo. Isso aumenta crucialmente a probabilidade de concepção – assim como a chance de as mulheres buscarem novos coitos, na tentativa de usufruir tanto quanto da última vez.
A oxitocina é, portanto, muito mais do que um efeito colateral do orgasmo ou um componente necessário na fórmula que contribui para a procriação. É o que faz do orgasmo a “camada de açúcar” da natureza para disfarçar a pílula amarga da reprodução, a base química para nossa capacidade e anseio de vinculação romântica. É a molécula que, por 100 mil anos ou mais, nos faz querer fazer sexo cara a cara, nos faz apaixonar e viver em casais. A mesma substância é encontrada em apenas uma espécie de macaco, o bonobo, um chimpanzé existente em pequeno número no Congo que, segundo alguns naturalistas, está entre os primatas mais próximos dos humanos.
CONVULSÃO SÍSMICA
O que realmente acontece com homens e mulheres quando o processo iniciado nos centros nervosos e psicogênicos chega aos sistemas vascular e muscular e a pessoa atinge o orgasmo? O espasmo dura de alguns poucos segundos a um minuto, em situações excepcionais, mas é acompanhado por uma intensa atividade fisiológica. Os órgãos genitais são inflados com sangue, o pulso dispara, os músculos se contraem involuntariamente. Às vezes a boca se abre, o rosto se contorce. Os dedos dos pés de muitas mulheres se contraem. Nos homens, os artelhos frequentemente se enrijecem e se torcem. Os parceiros transpiram, arqueiam o dorso e tremem. Seus batimentos cardíacos aceleram freneticamente e a respiração se torna rápida e superficial. Com o clímax, os amantes são tomados por contrações com intervalos de 0,8 segundo. O auge sexual humano é um paroxismo de prazer. A sensação de calor envolve a cintura e o peito e os músculos relaxam.
As emoções também entram numa espécie de convulsão sísmica. Por tentar, ou fingir que tentam, aumentar a espécie, os dois parceiros receberam sua recompensa. Uma névoa de bem estar e preguiçoso relaxamento obscurece temporariamente a realidade. Tanto homens como mulheres podem rir ou chorar, ou ficar incomumente sensíveis, embora tais reações sejam bem menos comuns nos homens, que tendem a demonstrar menos suas emoções. Algumas pessoas experimentam um jorro de pensamentos criativos, o que é bastante compreensível, uma vez que o orgasmo provoca uma pequena tempestade criativa do lado direito do cérebro. Cumprido o “dever biológico”, segue-se um período de exaustão e a necessidade de sono.
Em muitos casos, parece que a essência da experiência orgástica supera a desconexão sensorial entre os órgãos genitais e o cérebro. Isso acontece porque este último não é o único órgão responsável pela excitação: a medula espinhal também tem papel fundamental nesse processo. A atividade independente da medula explica por que deficientes físicos podem ter ereções e gerar filhos, embora em geral não tenham as mesmas sensações sexuais que pessoas sem problemas de locomoção.
BEM PARECIDOS
Descrições de homens e mulheres com danos na medula, que tinham vida sexual ativa, transcendem os relatos a respeito de mera ejaculação e contrações musculares. Eles relatam sensações como “formigamento prazeroso”, “tepidez”, “sentimento de unidade com o parceiro” e “liberação de energia”. Ao contrário da tendência moderna que considera o orgasmo do homem e da mulher relativamente similares quanto ao modo de sentir, as descrições feitas pelas mulheres que responderam aos questionários da historiadora Shere Hite, usados na elaboração de O relatório Hite (The Hite Report), de 1976, sustentam vigorosamente que a experiência feminina é mais poderosa e interessante que a masculina. Na época, o livro foi saudado como revolucionário. Deixando de lado eventuais equívocos, Hite teve o importante papel de abrir um caminho pioneiro, popularizando informações sobre sexualidade feminina, apresentadas de modo mais seco nos anos 50 pelo professor americano Alfred C. Kinsey. O zoólogo da Universidade de Indiana era uma autoridade mundial em vespas ferozes antes que seus estudos sociológicos sobre o comportamento sexual humano adquirissem status de declaração de independência sexual do Ocidente, submetido a séculos de danos e mitologia.
Os dois pesquisadores demonstraram que a manipulação do clitóris era o melhor – ou, em muitos casos, único – modo de as mulheres terem orgasmos. Hite afirmou: “A maioria delas simplesmente não obtém prazer exclusivamente por meio da penetração”, e Kinsey sustentou que, do ponto de vista anatômico, “as técnicas de masturbação e as carícias são mais adequadas para provocar o orgasmo que o coito”.
Estudos acadêmicos mais recentes sugerem que o orgasmo de homens e mulheres pode ser mais parecido do que imaginamos. Em 1976, os pesquisadores da sexualidade humana E. B. Vance e N. N. Wagner recolheram descrições da sensação de orgasmo de 24 alunas e 24 alunos de cursos de psicologia de universidades americanas. Eles removeram cuidadosamente dos textos qualquer referência específica a partes do corpo e apresentaram os resultados a um grupo de 70 ginecologistas, urologistas, psiquiatras e psicólogos. A conclusão de Vance e Wagner, publicada nos Archives of Sexual Behavior, foi que só o palpite poderia discriminar se os relatos tinham sido feitos por homens ou mulheres.
Se a descoberta foi uma impostura ou não é difícil saber, de qualquer forma, há uma significativa diferença na gama de estímulos capaz de colocar cada gênero no caminho do orgasmo. Enquanto determinados gestos “românticos” podem apressar o orgasmo nas mulheres, para muitos homens, a fantasia da dominação (mesmo que consentida) costuma disparar a fagulha orgástica. Na verdade, agressão e orgasmo masculino estão estreitamente ligados: o tecido nervoso do cérebro associado ao impulso agressivo mostra-se tão entrelaçado com a transmissão das mensagens sexuais que é difícil separar os dois.
A correlação aparentemente inextricável entre sexo e violência pode ser observada com mais precisão no comportamento de soldados em situações de conflitos. O avanço do exército soviético em direção a Berlim, em 1945, longe de ser o primeiro exemplo, foi sem dúvida o mais documentado. Pelos cálculos do historiador Antony Beevor, os 2,5 milhões de homens foram responsáveis pelo estupro de 2 milhões de mulheres alemãs na Prússia Oriental. Várias delas foram violentadas por vários soldados.
A satisfação sexual obtida por meio de um orgasmo conseguido facilmente terá sido a motivação primordial dos soldados estupradores? Ou os estupros seriam uma forma de obter gratificação temporária por meio da agressão instigada pela raiva? A motivação certamente seria a agressão, exatamente como nos casos comuns de estupro. O desejo de domínio e controle de outro ser humano, alimentado por um padrão da infância de exposição à violência, além de crenças (baseadas em fatos concretos ou fantasias) a respeito da própria inadequação são nitidamente os elementos mais importantes para o estuprador – mais do que qualquer súbito e urgente desejo de satisfação sensual. Beevor acredita que, no caso do Exército Vermelho em 1945, o oportunismo sexual, realçado pelo sentimento entre os russos de que as alemãs já estavam “efetivamente mortas”, sem nada a perder, desempenhou papel importante na tragédia de tantas pessoas.
Do ponto de vista científico e fisiológico o orgasmo feminino é semelhante ao masculino. Há um processo análogo à ereção (inchaço e rigidez, com a excitação, da área em torno da uretra) e à ejaculação no momento do êxtase (com a secreção de uma pequena quantidade de fluido esbranquiçado, similar ao plasma das glândulas de Skene e a glândula parauretral).
NA IMENSIDÃO
Como a existência da ejaculação feminina não é amplamente conhecida, embora as mulheres sejam tão capazes quanto os homens de ter polução noturna, muitos acreditam, equivocadamente, que tal líquido é urina; por tal motivo, nos tensos minutos antes do orgasmo, as mulheres tendem instintivamente a apertar e contrair as paredes vaginais e a bexiga. Após chegar ao platô, contudo, ela involuntariamente libera a tensão e experimenta um rápido relaxamento muscular; a pequena quantidade de ejaculação que estava retendo e o sêmen masculino (se é que existe algum), saem de seu corpo.
Algumas mulheres relatam que a passagem ejaculatória do liquido através da uretra durante o orgasmo contribui para que tenham uma sensação intensa, talvez da mesma ordem do clímax físico concentrado, que os homens sentem com o jorro do líquido através do pênis. No entanto, não podemos ter certeza disso, já que uma das características mais intrigantes da questão repousa justamente no fato de que ninguém, em toda a história da humanidade, sentiu as duas formas de orgasmo. As descrições femininas, porém, sugerem a homens invejosos que as mulheres conseguem um rendimento melhor de sua anatomia mais complexa – ou então elas simplesmente são menos reticentes nos relatos de suas emoções: “Um estado alterado de consciência”, “euforia”, “uma experiência espiritual” e “um sentimento oceânico, grande demais”. A evocação da metáfora com a imensidão e o mistério do mar levou Freud a considerar que tal sensação estivesse na raiz de todas as religiões.

EM VEZ DE PRAZER, DOENÇA
Um único orgasmo raramente basta para as mulheres: elas são naturalmente multiorgásticas. No livro A resposta sexual humana (Human sexual response), de 1966, os autores William Masters e Virgínia Johnson, criadores da sexologia como especialidade médica, já afirmavam: “Se for estimulada imediatamente em seguida ao gozo, ela provavelmente sentirá uma rápida sucessão de sensações similares. E essa não é uma ocorrência excepcional e sim algo de que a maioria é capaz”.
Uma variação interessante do tema surgiu em 2003, quando a professora Sandra Leiblum e a psicóloga Sharon Nathan, do Centre for Sexual and Relationship Health, da MMDN – Robert Wood Johnson Medical School de Nova Jersey, relataram um tormento até então desconhecido a que chamaram de síndrome persistente de excitação sexual. O distúrbio consiste no desejo constante de orgasmo com que a mulher tem de lidar, de um modo ou de outro, para funcionar normalmente. Segundo Leiblum, a síndrome foi identificada em apenas 50 pacientes em todo o mundo.

CÉREBRO “DESLIGADO”
A curiosidade dos pesquisadores do cérebro não tem fronteiras. Afinal, todo drama humano acontece na cabeça – e muitas vezes também atrás das portas de alguns laboratórios. No laboratório de Gert Holstege, na Universidade de Groningen, Holanda, é possível ouvir gemidos. Pois o médico estuda, por meio da tomografia por emissão de pósitrons (PET), a atividade cerebral do homem e da mulher no momento do clímax sexual.
O método adotado na pesquisa mede o fluxo sanguíneo no cérebro. Holstege chegou ao seguinte resultado: durante o orgasmo, boa parte do cérebro feminino se desliga. Uma parte do tronco encefálico, conhecida como área tegmentar ventral (também ativa em pessoas sob o efeito de drogas) e o cerebelo continuam a trabalhar timidamente, mas o grande centro relacionado à emoção, o sistema límbico, permanece inativo durante o clímax.
O pesquisador ainda não tem uma explicação plausível para o “blecaute”. A comparação do mesmo fenômeno no sexo oposto permanece falha: a medição por PET precisa ser mais refinada para o estudo do orgasmo masculino.

EM VÁRIOS PONTOS
Nos últimos anos, muito se escreveu e se falou a respeito do orgasmo da mulher. Em diversas ocasiões, teóricos postularam haver mais de um tipo de orgasmo feminino. O “vaginal” foi sugerido por Freud no início do século passado. Segundo sua hipótese, o “clitoriano” podia ser compreendido como um sinal de “imaturidade sexual”. Ou seja: a mulher deveria atingir o clímax com a penetração. Na época, Freud não dispunha de muitas das informações a respeito da anatomia genital feminina às quais temos acesso hoje – o que certamente influenciou sua suposição. Com o avanço da medicina e o reconhecimento do clitóris como local do prazer sexual da mulher, na segunda metade no século XX, foram lançadas novas luzes sobre o tema. Embora hoje se saiba que o fenômeno orgástico pode ter início em vários pontos do corpo, não há dúvidas de que por causa do farto enervamento da área a maioria das sensações prazerosas vividas durante o orgasmo concentra-se nessa delicada parte da anatomia. Não é de se estranhar, portanto, que atualmente a maioria dos psicanalistas veja com ressalvas a hipótese de Freud sobre a relação entre maturidade psíquica e tipos de orgasmos
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