COMO LIDAR COM FINAIS NEM TÃO FELIZES?

Pessoas e vínculos não são para sempre. Essa é uma verdade tão óbvia quanto difícil de aceitar. Eu, você e tudo o que construímos possui um prazo de validade. Mas, ainda que saibamos que nada é eterno, costumamos sofrer quando encaramos os finais, seja de um relacionamento, de um trabalho, de uma viagem, seja de uma vida. A dor costuma ser grande quando perdemos algo ou alguém que não estávamos dispostos a deixar para trás.
Quando ciclos terminam, normalmente sentimos um vazio interno. O tamanho desse vazio depende da situação e do impacto que ele tem sobre nós. Fins inesperados, como a morte prematura de alguém querido ou uma demissão repentina, costumam ser choques maiores. Fins esperados, como o término de um curso no exterior ou a chegada da aposentadoria podem ser planejados, e o vazio, amenizado. Porém, mesmo diante de fins “conhecidos”, nem todos se preparam. Se a situação presente estiver confortável, é comum adiar o pensamento sobre o depois. A tendência humana é agir como se o momento presente fosse eterno.
Os vazios que sentimos têm relação direta com os papéis que representamos na sociedade e que, a cada fim de ciclo, deixamos de interpretar. Imagine que, ontem, você era o CEO de uma grande empresa, marido de alguém que amava, dono de uma casa na praia e de um carro importado. E, de repente, por algum motivo fora de seu controle, deixa de ter algum – ou alguns – desses títulos. Ao perdermos papéis que nos qualificam, muitas vezes, perdemos também o rumo.
O que considero um problema é viver sempre em busca de qualificações externas, ou seja, dependendo daquilo que independe de você. Estar atrás de um emprego, um parceiro, um carro ou uma casa melhores. Essa é uma corrida infindável, porque, mesmo que consiga suprir os desejos que vão surgindo, provavelmente um dia tudo isso perderá o sentido. E aí nos deparamos com o vazio do lado de dentro.
É muito comum as pessoas não se darem conta disso até o momento em que vivem uma situação-limite, como uma doença grave. Quando o sofrimento acaba, passam a refletir: “Por que eu quero um carro do ano? Para que eu trabalho 12 horas por dia e não vejo meus filhos?”. A relação custo-benefício pode ganhar novas perspectivas.
O que poderia, então, completar esse buraco que cresce dentro de nós se as conquistas externas não têm o poder de nos satisfazer por completo? O que costumo sugerir aos meus pacientes é uma reflexão profunda sobre o que os move. Por que você levanta da cama de manhã? Não é um exercício simples – e, por isso mesmo, muitas pessoas procuram auxílio para atravessar momentos de mudança.
A psicologia incentiva as pessoas a viverem seu sofrimento e o divide em algumas fases. pelas quais a maioria das pessoas passa, nesta ordem: culpar alguém pelo fim, seja ele mesmo ou o outro; resistir ao término; negar a realidade, criando fantasias; ter dificuldade para ver sentido na vida; e, finalmente, uma fase de levantar a cabeça e dizer: “Bom, aconteceu, sofri, mas e agora? Vou começar tudo de novo”.
Depois dessa experiência de altos e baixos, vale fazer um balanço do que sobrou da experiência em você: boas lembranças, mágoas, ensinamentos? Mas a ideia não é remoer o passado com amargura e culpa. O exercício é avaliar o que aconteceu, o que poderia ter sido feito melhor, sem culpa. É a partir dessa auto avaliação que se pode extrair aprendizados e perceber o que sobrou, o que formará essa nova pessoa, agora pronta para outros ciclos.
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