EU ACHO …

TEOLOGIA DA PANDEMIA

Durante muitos anos em minha vida tenho atuado no campo teológico. Tenho lecionado teologia bíblica, sistemática, exegese, línguas originais, teologia prática entre outras disciplinas por mais de 30 anos. Dei aulas em quase todos os continentes do mundo, fui diretor de seminário e escrevi artigos e livros na área. Algumas dessas reflexões teológicas foram inclusive traduzidas para outras línguas e tiveram desdobramentos em ambientes distantes e remotos. Todavia, preciso confessar: é muito difícil ensinar teologia! Alguns dos alunos parecem não interagir bem com o conteúdo a ser tratado. Outros procuram apenas um diploma que lhes dê reconhecimento. Uma boa parte dos estudantes parece estar cumprindo uma obrigação, uma espécie de passo necessário para uma almejada posição. Chega a ser frustrante.

De fato, a caminhada da igreja é lenta em seu labor teológico. Observa-se a fragilidade de tanta gente quando se confirmam “enfermidades teológicas” no contexto eclesiástico. Temos de tudo: tradicionalismo irrefletido, sectarismo ingênuo, misticismo desenfreado, obscurantismo acadêmico, apego a modismos intelectualistas, atitude serviçal a várias ideologias, aprisionamento a posturas sistemáticas limitadas e até fanatismo perigoso. É um desafio! Apesar de tudo, a tarefa vale a pena e tem seus frutos, alguns extraordinários!

Todavia, para a minha surpresa, repentinamente comecei a perceber um progresso teológico impressionante nas últimas semanas. Finalmente, parece que a teologia vai decolar. A razão da minha esperança: senhoras e senhores, quero apresentar a todos: a Teologia da Epidemia. E, agora, com vocês, o Dr. Coronavírus. Diante do meu fracasso como professor de teologia, passo a palavra ao nosso incomparável professor. O grande mestre atual da teologia tem larga experiência internacional, com uma jornada transcultural invejável, conhecendo quase todas as culturas do mundo, possui perfil flexível, adaptando-se a todo e qualquer contexto, possui enfoque democrático, estando presente em toda e qualquer comunidade, sem fazer distinção entre as pessoas. Onde ele passa, o celebrado doutor deixa sua marca de transformação, trazendo profunda reflexão dos ambientes em todos os aspectos. Os desdobramentos na área de espiritualidade foram os maiores dos tempos recentes. Incrível!

Deixando o currículo e a trajetória do ilustre mestre já apresentado, vamos ao conteúdo que se tornou o seu legado para esta geração. O que é que temos aprendido nessa Teologia da Epidemia?

Desde o alvorecer do humanismo e, mais recentemente, no iluminismo, o secularismo nos trouxe uma antropologia romântica e frágil, sugerindo com muita ingenuidade a bondade da natureza humana. O Dr. Corona nos leva diretamente de volta à Reforma e ao seu entendimento da teologia paulina, revelando aquilo que ficou conhecido como Depravação Total do ser humano. É impressionante ver como em plena pandemia, tanta gente tem se aproveitado para enganar os outros, aproveitando-se inclusive politicamente do momento dolorido; a ausência de compaixão e os interesses escusos parecem nos confirmar que nos mais difíceis momentos, o ser humano, pecador e perverso, expressa ainda mais suas inclinações terríveis. Em muitos ambientes, tem havido até mesmo a tentativa de controlar e dominar de modo injusto e perigoso o povo comum. Há um certo flerte com o totalitarismo, o fascínio da escravização do próximo. Quanta ingenuidade do sonho iluminista! Que lição descobrimos em meio à crise: esse outro vírus é ainda mais perigoso e letal. Com razão, o apóstolo Paulo detectou essa condição lamentável da natureza humana:

Sei que nada de bom habita em mim, isto é, em minha carne. Porque tenho o desejo de fazer o que é bom, mas não consigo realizá-lo. (Romanos 7.18)

Como muitas vezes se reconhece, para tanta gente, o silêncio inspira espiritualidade profunda. Nos últimos dias, o barulho do planeta diminuiu. Está mais fácil meditar e orar. Até a poluição do planeta cansado encontrou pausa. O tom da arrogância e prepotência de muita gente se foi. Há uma consciência de finitude em nossos dias que é única. Não é que isso seja novidade, mas a verdade é que simplesmente deixamos cair no esquecimento. Mas, as últimas aulas do Dr. Corona nos fizeram recordar textos como:

Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, a lua e as estrelas que ali firmaste, pergunto: Que é o homem, para que com ele te importes? E o filho do homem, para que com ele te preocupes? (Salmos 8.3,4)

Ele sabe do que somos formados; lembra-se de que somos pó.

A vida do homem é semelhante à relva; ele floresce como a flor do campo, que se vai quando sopra o vento e nem se sabe mais o lugar que ocupava. (Salmos 103.14-16)

Ultimamente, como tenho visto gente mais reflexiva, pensativa, mais “centrada”! O desprezo dos outros diminuiu. O dinheiro, a fama, a formação, a capacidade e a posição foram todos relativizados pela nova realidade. A didática do nosso novo mestre é mais do que eficiente. Parece que todo mundo descobriu como não somos nada! Somos frágeis, simples “pó”, que não tem razão para vangloriar-se. Sem falar que o tratamento para a nossa obsessão e ansiedade pelo controle de tudo, fazendo de cada um de nós o seu próprio deus, recebeu um xeque-mate. Não há o que fazer. Podem desmarcar a agenda, esqueçam as planilhas, realinhem expectativas financeiras. Agora está mais fácil escutar Jesus:

“Por que vocês se preocupam com roupas? Vejam como crescem os lírios do campo. Eles não trabalham nem tecem. Portanto, não se preocupem com o amanhã, pois o amanhã se preocupará consigo mesmo. Basta a cada dia o seu próprio mal”. (Mateus 6.28,34).

Quanto aprendizado!

Sinceramente, os ensinos desse desconhecido mestre se mostraram incríveis. O poder e a soberania do Senhor se tornaram mais palatáveis. Os limites impostos pelo Criador às ações humanas deixaram inertes muito mal e crueldade. As guerras foram interrompidas. O terrorismo cedeu. O tráfico de drogas e de armas perdeu sua força. Prostituição infantil, escravidão humana e tráfico de órgãos foram retidos pelas últimas ações de teologia prática do Dr. Corona. Quanto alívio para milhares de pessoas! Para completar, vejamos mais um toque exegético perfeito do inusitado professor:

Venham! Vejam as obras do SENHOR, seus feitos estarrecedores na terra. Ele dá fim às guerras até os confins da terra; quebra o arco e despedaça a lança, destrói os escudos com fogo. “Parem de lutar! Saibam que eu sou Deus! Serei exaltado entre as nações, serei exaltado na terra.” (Salmos 46.8-10)

E as lições não param! É muito conteúdo. É uma teologia completa, detalhada e abrangente. Assim como a igreja primitiva foi despertada de sua letargia pela perseguição (Atos 6-7), parece que estamos sob a mesma pedagogia. Como é difícil mudar um paradigma! Somos arraigados a padrões, fórmulas, práticas, e assim transformamos a diretriz divina em posturas mortas, petrificadas e perversas. Foi esse o conflito de Jesus com os religiosos de seu tempo. Queremos ter o domínio e o controle. Passamos a dominar e deixamos de aprender, de rir e de chorar. É a morte! Uma epidemia terrível. Como Deus trata dessa petrificação letárgica? Perguntemos ao professor. Ele nos mostrou em sua última palestra que o Deus que se revela é um Deus misterioso, que também se esconde: Verdadeiramente tu és um Deus que se esconde, ó Deus e Salvador de Israel. (Isaias 45.15). Esse Deus é aquele que fez aliança com Abraão em meio a “densas trevas e apavorantes” (Genesis 15.12), que entregou Jó à dor, sem que o pobre Jó tenha tido conhecimento do que aconteceu de fato, e que entregou seu filho Jesus à morte de cruz em nosso favor (Filipenses 2.8). Como entender? Os caminhos inescrutáveis de Deus (Romanos 11.33) calam nossas opiniões fúteis, nossas certezas apressadas, humilham nossa sabedoria e nos ajudam a depender de Deus em mansidão e humildade.

E se somos libertados pelo Deus misterioso, que às vezes se oculta, em sua pedagogia peculiar, fica bem mais fácil quebrar as amarras dos ensinos falsos que acumulamos na vida. Que coisa bonita! Que libertação! O abraço sombrio e doloroso do Deus amoroso e misterioso que nos machuca é o que nos liberta e nos traz a cura!

Agora, conseguimos aprender. O Dr. Corona é muito capaz. Sua eficiência é única. Ele resolveu nos dar um curso intensivo de Eclesiologia. O primeiro impacto foi atingir o envolvimento de muita gente com a necessidade de reunir-se como igreja (Hebreus 10.25). Tantos que anteriormente desprezavam cultos e celebrações, e facilmente os trocavam pela fórmula 1, pelo futebol ou por um churrasco, agora “sentem muita falta” das reuniões da igreja. As prioridades estão sendo redescobertas! Que impressionante.

Em termos da compreensão do que é igreja, na verdade, com o tempo, parece que nós nos esquecemos de tudo. Começamos a achar que a essência da igreja se define pela instituição, sacramentos, denominação, prédio, templo sagrado, espaço físico, clube de amigos, entre outros elementos secundários. De repente, tudo isso se mostrou fragilizado. Que aula de contextualização e flexibilidade nos deu o Dr. Corona. Assim como Paulo teve que deixar a sinagoga em Éfeso e partir para o ensino da Palavra de Deus na escola de Tirano (Atos 19.8-10), fomos obrigados a realinhar nossa eclesiologia.

Paulo entrou na sinagoga e ali falou com liberdade durante três meses, argumentando convincentemente acerca do Reino de Deus. Mas alguns deles se endureceram e se recusaram a crer, e começaram a falar mal do Caminho diante da multidão. Paulo, então, afastou-se deles. Tomando consigo os discípulos, passou a ensinar diariamente na escola de Tirano. Isso continuou por dois anos, de forma que todos os judeus e os gregos que viviam na província da Ásia ouviram a palavra do Senhor.

Parece que Paulo, criado numa tradição cultural e religiosa muito estrita, conseguiu aprender muito com o Senhor para nos deixar um legado para o nosso entendimento a respeito da Igreja. É interessante observar que o trabalho teológico do apóstolo, seu discipulado, sua expressão de comunhão e de afeto, tudo se delineou principalmente à distância no início da expansão da fé cristã. Incrível! Sempre dedicado a suas viagens missionárias, às vezes preso, passando por perseguição, Paulo foi o principal “eclesiólogo” da fé cristã primitiva e fez o que fez sem templos, instituições denominacionais, juntas missionárias e seminários. Ele mandava “seus arquivos” de ensino, de longe: filipenses.doc, romanos.txt, efésios.docx, e até hoje “estão funcionando”. Sua “rede de transmissão” era fraca, e os pergaminhos demoravam muito para “serem baixados”. Até receberem as cartas e disseminarem seus ensinamentos demorava muito mais do que hoje! Seus discípulos se reuniam em grupos pequenos, em casas simples, mas tinham o Reino na vida e no coração, e mudaram o mundo com a mensagem do Evangelho. Muitas vezes a igreja deixa de lado a essência da fé em Cristo e diaboliza o que não deveria, como o rádio, a televisão, o celular, a tecnologia, a internet, as mídias digitais, sem usar esses recursos para o bem do Reino. Que coisa! Se a igreja que criamos está fundamentada em elementos que não subsistem, ela não permanecerá, mas, se tem fundamento na firmeza do Evangelho, e na flexibilidade de formas realinháveis, tranquilamente poderemos migrar para o contexto digital sem perder a essência da fé. Fascinante! Extraordinário!

A nova face da teologia chamou também a nossa atenção para as lições que nunca aprendemos direito. As lições de Provérbios que nos ensinam a ter uma vida pautada pela sabedoria, bom senso e atitude prevenida, estavam esquecidas. Honestidade, trabalho, previdência, generosidade e justiça marcam os conselhos dessa atitude. Em nossos dias existe tanto desperdício, tanto gasto inútil, uma imensa indústria de futilidades, enquanto tanta gente agoniza de fome e dor. E muita gente, que desfrutou de recurso mais do que suficiente, tantas vezes encontra-se em dificuldade do “dia para a noite” porque nunca alinhou a vida com a sabedoria equilibrada das Escrituras. Agora, muitos estão refletindo sobre a grande verdade de que poupar, economizar e viver na medida adequada é consciência sábia de que não temos nada sob o nosso controle, e que a vida simples nos basta. O importante é viver para amar a Deus e ao próximo.

Por fim, devo dizer que o nosso mestre teólogo tem sido indelicado, em algumas ocasiões. Talvez precise de um curso de boas maneiras. Suas lições recentes foram um “balde de água fria” no triunfalismo religioso de nossos dias. Gente que prometia “cura e prosperidade absoluta” para todos encontra-se em dificuldade. Não se ouve mais muita coisa desse perfil triunfalista. A proposta mostrou-se frágil e incapaz. A compreensão equivocada do “posso tudo naquele que me fortalece” (Filipenses 4.13) será realinhada pelo estudo do texto, com a ajuda do ilustre Dr. Coronavírus.

Já não há muito a dizer no desfecho desta reflexão. Mas, preciso dizer que guardo comigo uma certa decepção. Parece que o Dr. Corona não teve tão bom desempenho nos seus ensinos teológicos. Nem tudo foi eficiência. Depois de tantas lições aprendidas nesses dias, até mesmo no contexto evangélico, ainda percebo gente se ofendendo, pessoas tentando tirar “vantagem” do próximo em meio à epidemia; vejo enfrentamentos políticos desnecessários, muita coisa triste. Eu já estava tão aborrecido, quase desistindo de tudo, até que encontrei este texto das Escrituras:

No dia seguinte (Moisés) saiu e viu dois hebreus brigando. Então perguntou ao agressor: “Por que você está espancando o seu companheiro?” O homem respondeu: “Quem o nomeou líder e juiz sobre nós? Quer matar-me como matou o egípcio?” Moisés teve medo e pensou: “Com certeza tudo já foi descoberto!” Quando o faraó soube disso, procurou matar Moisés, mas este fugiu e foi morar na terra de Midiã. Ali assentou-se à beira de um poço. (Êxodo 2.13-15)

Se em meio à escravidão, o povo de Deus não parava de se ferir e conseguia ampliar seus problemas e sofrimentos, parece que a coisa não mudou muito. Entendi então que o mal do vírus é mais grave do que eu pensava. Agora descobri por que Moisés largou tudo e abandonou seu chamado. Sem saber o que fazer, eu me sentei e comecei a chorar. Ainda mais agora que o Dr. Corona também falhou.

Então, li um pouco mais adiante o texto até que eu pudesse me acalmar. Entre as lágrimas que prejudicavam a minha leitura, de repente descobri que Deus as estava recebendo, e não só as minhas:

Pois agora o clamor dos israelitas chegou a mim, e tenho visto como os egípcios os oprimem. Vá, pois, agora; eu o envio ao faraó para tirar do Egito o meu povo, os israelitas”. (Êxodo 3.9-10)

Se Deus ouviu a dor do povo que tinha falhado completamente e os libertou por meio do fracassado Moisés, que tinha fugido, e assim o Senhor construiu sua linda história de redenção depois da peste, da mortandade, da quarentena da Páscoa, da escravidão, de tanto horror no antigo Egito, ainda há esperança. É possível ir muito além da teologia do Dr. Corona. Então, respirei fundo, enxuguei as lágrimas, me levantei e saí do meu deserto, pedindo ao Deus misterioso, soberano e amoroso: Eis-me aqui, envia a mim.

* PUBLICADO ORIGINALMENTE NO SITE http://www.teologiabrasileira.com.br

** LUIZ SAYÃO – É bacharel em linguística e hebraico e mestre em hebraico pela Universidade de São Paulo. É pastor da Igreja Batista Nações Unidas em São Paulo e editor e autor de livros e artigos teológicos. Está envolvido em projetos de tradução bíblica, como o Novo Testamento Trilíngue, o Novo Testamento Esperança e o Antigo Testamento Poliglota. É também coordenador da versão bíblica Almeida Século 21 (Vida Nova). Realiza viagens para Israel, onde ministra aulas sobre história e geografia bíblica.

OUTROS OLHARES

AMEAÇA AOS NATIVOS

Indígenas que moram em cidades, aldeias ou isolados estão vulneráveis ao coronavírus – e há o risco de sumiço de algumas culturas dos povos originários

Desde que o primeiro europeu pôs os pés no Brasil, a história de vidados índios esteve sempre intimamente atrelada a surtos epidêmicos. Foi assim com a varíola, com a malária e com as diferentes cepas de gripe – atalho para a triste e acelerada redução de populações, além, é claro, dos sucessivos processos de ocupação, sinônimo de agressividade e de violência. A pandemia do novo coronavírus faz, portanto, renascer um medo ancestral e justificado.

A fragilidade do sistema de atendimento médico destinado aos índios, vinculado à Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), faria pressupor drama – e é o que recente levantamento estatístico comprova. A taxa de mortalidade pela Covid-19 entre indígenas (número de óbitos por 100.000 habitantes) é 150% mais alta do que a média brasileira e 20% mais elevada do que a registrada somente na Região Norte, a mais crítica entre as cinco regiões do país. Levantamento do Instituto Socioambiental (ISA) aponta 8.428 casos confirmados e 365 mortes em decorrência do Sars­CoV-2, com 112 povos atingidos. A taxa de letalidade, de acordo com o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) e a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), também é preocupante: entre os indígenas, o índice é de 6,8%, enquanto a média brasileira oficial é de 5% (pode ser menor porque nem todo mundo foi testado). Na Região Norte é de 4,5%.

Existem no Brasil hoje 900.000 índios, o equivalente a 0,47% da população, divididos entre 305 povos. O socorro negligenciado é apenas a ponta final de uma engrenagem fadada a fazer circular o vírus, dada a proximidade com os centros urbanos e o contato com garimpeiros, como ocorre na Terra Indígena Ianomâmi, a maior do país, em Roraima, onde vivem 27.398 representantes do mais conhecido grupo de caçadores agricultores.

Há uma outra agravante: o choque cultural. Em Manaus, a indígena e técnica de enfermagem Vanda Ortega Witoto acompanha o quadro de saúde dos moradores do Parque das Tribos, bairro silvícola na capital do Amazonas. Em centros urbanos, o atendimento é feito pelo SUS, onde não há estrutura específica e nem sempre eles são registrados como indígenas, o que leva à subnotificação de casos. “Os hospitais não têm redes, a alimentação é diferente e muitos não falam português”, disse Vanda. “É situação que impacta na recuperação do paciente.” O bairro reúne 700 famílias de 35 povos. Mais de 200 pessoas foram testadas e 68 tiveram o resultado positivo para Covid-19.

Assim como no restante da população, os mais vulneráveis são os idosos. Nas aldeias, os anciões têm papel fundamental. “Os detentores da sabedoria milenar são os velhos, os pajés e os caciques”, diz o superintendente-geral da Fundação Amazonas Sustentável (FAS), Virgílio Viana. Evidentemente, em qualquer grupo social toda morte é relevante, e não há como estabelecer nenhum tipo de relativização. No caso dos índios, contudo, há risco de extinção de conhecimento e de idiomas. Ao menos vinte líderes idosos morreram por causa da Covid-19. Outra questão é a estrutura social. Segundo o antropólogo indigenista da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) Lino João, a morte de oitenta pessoas em uma comunidade formada por 200 indivíduos, por exemplo, pode desestruturar o grupo. “As perdas nas cidades, no limite, embora lamentáveis, não interferem no funcionamento da sociedade, diz Lino. “No caso de uma aldeia, ela pode desaparecer.”

Em Manacapuru, a 64 quilômetros de Manaus, Francisco Uruma Kambeba é o tuxaua, o líder da aldeia Tururucari­ Uka, com 55pessoas. O lugar vive do turismo, e o acesso foi fechado em fevereiro. Ainda assim, alguns moradores vão à cidade para fazer compras ou para buscar alguma forma de renda para sobreviver. “A estimativa é que 30% dos moradores estejam infectados. Temos medo do vírus e a aldeia nem sequer tem cemitério, até hoje nunca tivemos de lidar coma perda de um parente,” afirma.

Indaga-se, com curiosidade, o que seria dos índios isolados, naturalmente apartados do contato com cidadãos de outras áreas. A resposta: há preocupação. No Vale do Javari, no Amazonas, há a maior concentração de indígenas isolados no Brasil, com cerca de sete povos. Sem contato, parecem protegidos. Na mesma região, outros cerca de 7.000 são considerados de “contato recente”, que decidiram se aproximar nos últimos quarenta anos. Entre eles, há ao menos três contaminados, supostamente por causa da relação com funcionários do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI), no Vale do Javari. Não há dúvida: nas aldeias, na floresta profunda e sobretudo nas cidades, os desafios para os indígenas remetem aos primórdios.

ALIMENTO DIÁRIO

GOTAS DE CONSOLO PARA A ALMA

DIA 02 DE JULHO

VOCÊ QUER SER CURADO?

Jesus, vendo-o deitado e sabendo que estava assim há muito tempo, perguntou-lhe: Queres ser curado? (João 5.6).

Jerusalém estava em festa. As ruas estavam apinhadas de peregrinos que chegavam de todos os lados. Jesus também foi para a festa. Contudo, em vez de permanecer entre a multidão que celebrava aquele momento histórico no calendário judaico, Jesus foi ao tanque de Betesda, a casa de misericórdia, onde havia uma multidão de enfermos. Eram cinco pavilhões entupidos de gente cega, paralítica, curtindo sua dor e nutrindo a esperança de uma cura milagrosa. Jesus anda por esses pavilhões e vê um homem paralítico deitado em sua cama, prisioneiro de sua doença, havia 38 anos. Era um caso perdido, um problema sem solução. Jesus olhou para o homem e perguntou-lhe: Queres ser curado? Essa questão é perturbadora, pois aparentemente é a coisa mais óbvia que um enfermo deseja; por outro lado, é possível que algumas pessoas rendidas à enfermidade se tenham conformado com o sofrimento. O mesmo Jesus que pergunta também dá uma ordem: Levanta-te, toma o teu leito e anda (v. 8). Se a pergunta parecia óbvia demais, a ordem agora parece absurda demais. Levantar e andar é tudo o que um paralítico sempre quis, mas nunca conseguiu. O mesmo Jesus que ordena também dá o poder para que a ordem se cumpra. O resultado da pergunta e da ordenação de Jesus é que o homem se pôs em pé e começou a andar. O milagre foi imediato e completo. Jesus ainda hoje nos visita em nossos vales de dor. Ele tem todo o poder de nos colocar de pé e nos firmar na estrada da esperança!

GESTÃO E CARREIRA

DRIBLE NO VÍRUS

Com a maioria das atividades profissionais paralisadas com a pandemia, muita gente fez da crise da Covid-19 um canal de criatividade para o surgimento de novas oportunidades

A inauguração em Miami de uma pop-up store em um shopping causou alvoroço no mundo real e virtual. Não é para menos: a casa oferece produtos voltados para proteção contra o coronavírus. A loja temporária mostrou que a máxima de que uma crise pode originar problemas, mas também oportunidades se materializou. Nas vitrines da Covid-19 Essentials exibem-se itens vitais como máscaras, esterilizadores e higienizadores de todos os tipos. Na porta, o controle de quem entra é feito por um equipamento que escaneia a pessoa e detecta qualquer alteração da temperatura. Um dos responsáveis pelo comércio, Nadav Benimetzky, afirmou a um canal de tevê que “a demanda estava evidente” e que ele somente aproveitou.

DAS ARTES MARCIAIS PARA A COZINHA

Comuns em datas comemorativas já tradicionais, a exemplo do Natal ou do halloween, os negócios temporários vieram agora como salvação para muitos profissionais e comerciantes que viram as suas atividades paralisadas devido à pandemia. Então, para sobreviver, usam a cabeça, mudam de ramo e se adequam às novas situações. Foi o que aconteceu com o cabeleireiro Fernando Arlati, que aos 50 anos de idade e 20 de profissão, acabou sem trabalho do dia para a noite. Desesperado, ele acabou lançando mão do livro de receitas de sua avó e criou um negócio de caldos e pães, divulgado amplamente entre suas clientes pelas redes sociais. “Pensei até em atender a domicilio, mas as pessoas estavam com medo e aí não tinha outra alternativa”, diz Arlati.

Não é diferente a história de Carlos Ferrari. Dono em São Paulo de uma academia de lutas marciais e com dois filhos para sustentar, ele ficou repentinamente nas traiçoeiras mãos do novo coronavírus. Mais assustador ainda, a ele e a todos em idêntica situação, foi o fato de não haver previsão para a reabertura do comércio no início da quarentena. Assim, já no segundo mês, Ferrari entrou de corpo e alma na cozinha e começou a fazer pasteis de forno, cuscuz e outros diversos tipos de comida. Superadas as dificuldades iniciais, o novo negócio começa a se mostrar bastante promissor, tornando-se uma grande oportunidade para ele — que já pensa até em continuar com as receitas após a pandemia: “o que começou no improviso virou uma das bases do orçamento da casa”.

A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO

Quarentena relaxada, lá foram os consumidores fazer fila no afã de reviver o prazer do consumo e romper o marasmo da rotina levando algo novo para casa

Pouca gente no mundo imaginava que passar três meses sem pisar em uma loja de roupas – pisar mesmo, com os dois pés – seria tão sofrido. Mas bastou a quarentena ser relaxada e as lojas reabrirem para que os clientes fizessem fila na calçada – movimento conhecido como revenge shopping, a compra de revanche, que nos últimos dias sacudiu tanto o comércio de rua, como comprovaram as britânicas Harrods, Nike e Primark, quanto os shopping centers americanos e, inclusive, os brasileiros. Não é sempre para encher as sacolas que as pessoas pacientemente aguardam sua vez. O grande prazer de voltar a circular entre prateleiras de produtos aciona engrenagens psicológicas que suavizam o sentimento generalizado de privação e dão um sabor de liberdade – justamente o que elas querem. “Muita gente busca no consumo um alívio imediato para a tristeza e a frustração pelo longo confinamento”, diz a psicóloga com especialização em economia Vera de Mello Ferreira.

O ato de ir às compras agora é revestido de ritos em prol da segurança, mas isso não espanta o ímpeto de entrar em lojas. Elas fecharam provadores, instalaram barreiras de acrílico nos caixas, impuseram um limite máximo de pessoas e o uso de máscara. Na seção de produtos de beleza, ninguém mais pode sentar para uma maquiagem-teste. As grandes lojas de departamentos têm marcação no chão e sentido de mão única nos corredores, para orientar o percurso das pessoas e manter a distância. Na hora de pagar, nada de dinheiro vivo – só cartão, esterilizado com álcool em gel. Compensam tantas restrições os descontos de até 60% para atrair a clientela, ressabiada com a economia no abismo e com o desemprego elevado.

Nos primeiros dias de comércio aberto, deu-se uma corrida com reflexo nos números. Nos Estados Unidos, depois de semanas de portas fechadas, as vendas em maio cresceram 18% em relação a abril, mas houve saltos de 188% no vestuário (nada como um vestido novo para elevar o moral), de 88% nos artigos esportivos, de 40% nas revendedoras de carros e de 90% em mobília – uma subida encabeçada por famílias que não aguentam mais olhar para o mesmo sofá e por rearranjos domésticos para a instalação definitiva do home office. No Reino Unido, as vendas do varejo tiveram aumento de 12% em maio, na comparação com abril, depois de despencar espantosos 98% nos três meses de isolamento. “As pessoas precisam comprar e comprar com confiança”, disse o primeiro-ministro Boris Johnson, sobre o início da retomada.

O termo “compra de revanche” surgiu na China, na década de 80, para descrever a corrida aos produtos estrangeiros observada quando o país se abriu à economia de mercado, dando as mãos ao capitalismo – uma espécie de vingança após décadas de demanda reprimida. Nas filas em frente às lojas de agora, alia-se ao consumo em si a sensação de bem-estar de levar para casa uma novidade em meio à rotina repetitiva. “Bens materiais novos, como um jeans ou um celular, ganham o peso de uma conquista. É como se o comprador dissesse: eu venci a pandemia”, explica Cristina Pinto de Mello, professora de economia do consumo da ESPM. A brasileira Leila Redua, gestora de recursos humanos que mora em Weybridge, perto de Londres, com o marido e um filhinho de 1 ano, foi das primeiras a entrar na GAP na esquina de sua casa, ansiosa pelas promoções. Gastou 23 libras (cerca de 170 reais) em sete peças para o filho e, de quebra, parou na H&M para se abastecer de camisetas e bijuterias.” Foi uma alegria sair da loja com minhas compras. Estamos usando as mesmas roupas há tanto tempo em casa que não via a hora de ter algo diferente”, diz Leila, que, claro, compartilhou as novas aquisições em seu perfil no Instagram.

O comportamento do consumidor neste primeiro momento ajuda a contornar o prejuízo acumulado, mas ainda não resolve o derretimento da economia mundial por causa da pandemia. Nos Estados Unidos, por exemplo, as vendas no varejo estão 6% negativas em comparação com maio do ano passado. No Brasil, que parece viver o início de um período de estabilização nas mortes provocadas pela pandemia, os primeiros dias de quarentena relaxada em São Paulo e no Rio de Janeiro também registraram generosas filas nas portas dos shoppings e das lojas de rua. Mas até aqui a espera se deveu mais às restrições ao número de pessoas dentro dos estabelecimentos do que a uma clientela volumosa. Muita gente também tem dado um pulinho no comércio pela pura e instintiva satisfação de prolongar a estada fora de casa depois de tanto tempo de reclusão, mesmo que não necessariamente abra a carteira e se renda, sem medo de ser feliz, à gastança. “Nosso movimento atual é 60% do normal”, calcula Nabil Sahyoun, presidente da Alshop, a associação dos shopping centers. A revanche para valer pode ainda não ter chegado por aqui, mas uma comprinha só de birra já entra na conta dos prazeres pós-fase aguda da pandemia.

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