HOMOSSEXUALIDADE FEMININA
Há evidência mostrando que as mulheres transitam mais entre relações sexuais com pessoas do mesmo sexo e do sexo oposto do que os homens

A conclusão sobre o amor entre as mulheres partiu de um estudo feito pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). A pesquisa, feita em 24 estados brasileiros e no Distrito Federal, avaliou a prática sexual e o nível de conhecimento de homens e mulheres em relação à Aids.
Os resultados do estudo mostram que 3% das mulheres sexualmente ativas nos últimos cinco anos relataram ter tido na vida relações sexuais com pessoas do mesmo sexo ou de ambos os sexos. O índice é de 1,7% para as que mantiveram relações homossexuais no último ano. Os dados foram coletados entre 1997 e 1998 pelas pesquisadoras Regina Maria Barbosa, da Unicamp, e Mitti Ayako Hara Koyama, da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), de São Paulo.
“A ideia da existência de uma homossexualidade feminina estanque e estável ao longo da vida desaparece, dando lugar a um cenário mais dinâmico no qual as mulheres transitam pelas diferentes experiências e a categoria ‘mulheres exclusivamente homossexuais’ só é expressiva nos recortes de tempo mais recentes”, dizem as pesquisadoras. Elas sugerem uma nova forma de encarar o lesbianismo, não mais como um papel assumido ao longo da vida, mas como uma condição temporária.
As pesquisadoras afirmam que os homens que tiveram parceiros exclusivamente do mesmo sexo nos últimos cinco anos tendem a permanecer assim ao longo da vida. As mulheres, por sua vez, desempenham um papel mais dinâmico em relação à escolha dos parceiros sexuais. Elas podem ter relações com outras mulheres por cerca de um ano e depois ter parceiros sexuais do sexo oposto num período seguinte. A maioria dos casais de lésbicas não sente necessidade de reproduzir padrões de comportamento heterossexuais, em que um indivíduo mantém poder sobre o outro. Dessa forma, essas mulheres conseguem exercer papéis diferentes dos moldes patriarcais. O homossexualismo feminino tem suas origens na Antiguidade. Safo, célebre poetisa da Grécia Antiga, é considerada como a fundadora do amor lésbico. O termo é originário de Lesbos, ilhas de forma triangular situadas no mar Egeu, de onde a poetisa era natural. Safo era conhecida pelo amor que nutria por mulheres, à qual é atribuída a prática conhecida por safismo (cunilíngua).
O lesbianismo era muito disseminado em Roma. Os locais de encontro das homossexuais eram os estabelecimentos de banhos. Nesses ambientes, as lésbicas entregavam-se às práticas sexuais com suas escravas, chamadas de fellators. Na era vitoriana, a rainha Vitória – através de uma lei – condenou somente as práticas sodomitas entre homens, negando punição para o sexo entre as mulheres por não acreditar na viabilidade desse amor invisível.
Em 1927, o psicanalista galês Ernest Jones – baseado na análise de cinco mulheres homossexuais – define as diferenças entre mulheres heterossexuais das lésbicas a partir do medo da castração. Segundo ele, a não gratificação dos desejos edipianos impulsiona o processo homossexual.
O medo da castração se dá de maneiras distintas entre meninos e meninas. O homem deseja obter uma satisfação num ato, mas “ele não ousa, por medo de que esse ato seja seguido do castigo da afânise, da castração, o que significaria para ele a abolição permanente do prazer sexual”.
Enquanto no homem o medo primitivo é o da castração, na mulher o temor é o da separação. Na imaginação da menina, essa separação emana seja da mãe, como rival, seja do pai, que se recusa a dar-lhe a satisfação desejada. Para a mulher, o medo mais primitivo de ser abandonada se origina daí.
Para o estudioso, desenvolvem-se duas formas de regressão no processo de identificação das mulheres: na primeira, elas mantêm o desejo por homens, mas gostariam de ser um entre eles; na segunda, as mulheres desejam outras mulheres, as quais representam sua própria feminilidade.
Já a psicanalista austríaca Melanie Klein postula que homossexualidade feminina deriva de etapa anterior à definida por Freud, enfatizando o temor fundamental da menina em relação ao interior do seu corpo e curiosidade em relação ao corpo da mãe. [Enquanto Freud vê o início do complexo de Édipo por volta dos quatro anos de idade, Klein situa-o já no primeiro ano de vida]. Os psicanalistas concordam que é necessária uma identificação com o pai, que confirma a menina com o desejável. Se a expressão da experiência erótica chega a ser tão problemática, a representação da sexualidade lesbiana se intensifica, excluindo a figura do homem e colocando a mulher numa posição de sujeito atuante, em vez do homem. Em todos os países, as lésbicas são objeto de numerosas discriminações diante das leis e regulamentações e políticas públicas. A maioria dos países não reconhece os casais de mulheres, nem social nem juridicamente. Muitas lésbicas perdem seus empregos e a guarda dos seus filhos, e a outras nega-se até mesmo o acesso a moradia. O homossexualismo feminino carece de estudos e permanece como fenômeno invisível. Um dos fatores para isso acontecer é o fato de que nunca se deu importância à sexualidade feminina. A sociedade convenceu-se de que o prazer da mulher consiste em criar os filhos. Por outro lado, há maior liberdade de expressão no afeto entre mulheres, que podem se tocar e se beijar sem levantar suspeitas, tornando suas relações mais facilmente dissimuladas.

ROBERTA DE MEDEIROS – é jornalista científica.
E-mail: medeiros.revista@gmail.com
Uma consideração sobre “A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS”
Os comentários estão encerrados.