O PRIMEIRO DA CLASSE
Todos os pais desejam que seus filhos se sobressaiam nos estudos, pois a cultura e o preparo acadêmico são uma espécie de garantia de um futuro mais tranquilo

Embora muito bem-intencionados, percebo que alguns pais agem de modo a criar obstáculos para que os filhos se tornem alunos brilhantes, autônomos, motivados e bem-sucedidos. Empecilhos são criados mesmo por excesso de zelo, de proteção e outros por simples ingenuidade, a que todos nós estamos sujeitos quando somos jovens pais.
Algumas orientações podem ajudar a quem deseja ter um filho que, mesmo não sendo (pois não precisa mesmo ser) o primeiro da classe, terá tudo para se dar muito bem na vida acadêmica e mais tarde na vida profissional. Imagine que ao invés de seus familiares lhe perguntarem como você vai, lhe perguntassem sempre sobre seu saldo bancário, seu salário, suas promoções no emprego… como você se sentiria? Da mesma forma se sentem as crianças cujos pais as pressionam diariamente com perguntas do tipo “que nota você tirou hoje?” ao invés de se importarem em saber como foi o seu dia na escola, se aprendeu coisas novas, se foi divertido estar com os amigos. O aspecto humano nunca pode perder espaço para a produção!
FAZER AS LIÇÕES JUNTO COM O FILHO: a princípio, toda criança precisa de alguma ajuda, até para se organizar e compreender o que é exigido dela. Mas fazer pela criança, seja o que for, é contra indicado, pois, além de lhe dar a impressão de que ela sofre de alguma incapacidade, cria dependência. O correto é o pai ou a mãe checar se as tarefas foram feitas com esmero, ouvir as dúvidas e orientar, quando possível. Mas as dificuldades devem ser encaminhadas aos professores. Lição de casa é um importante momento de aprendizagem para a criança desenvolver a sua cognição e metacognição. Outro problema é permitir que tarefas sejam feitas às pressas, às vezes no carro, outras na porta da escola, com o adulto ditando as respostas: a lição não é uma provação! Além disso, criar responsabilidade é uma conquista gradativa e, na prática, nunca se desenvolve quando outras pessoas fazem por nós.
RESOLVER OS PROBLEMAS DOS FILHOS PARA POUPÁ-LOS: se desde pequenos os filhos se habituam que tudo será provido e resolvido pelos pais ou adultos de modo geral, eles dificilmente aprenderão a planejar, se organizar, prever necessidades futuras, suprir faltas. Se tornarão jovens frágeis, imaturos, dependentes e frustrados. Aprenderão a postergar suas responsabilidades à espera de alguém que os venha socorrer de última hora. Infelizmente há familiares que chegam ao cúmulo de tentar justificar comportamentos de desleixo e desinteresse dos filhos com atestados de transtornos de aprendizagem para que possam usufruir de benefícios desnecessários. Um exemplo que constitui uma verdadeira temeridade e que deve ser combatido. Na vida profissional como será que esses pais pensam em proteger os filhos? Qual desafio terão capacidade de enfrentar, se mesmo os pequenos problemas não tiverem sido resolvidos?
PREMIAR BOAS NOTAS: se o prêmio for um abraço, um carinho, uma comemoração familiar, tudo bem. Mas trocar notas por bens materiais desvirtua a educação e aumenta o sentimento de frustração naquela criança que, embora se esforce, não consegue ser bem-sucedida. Notas se conquistam, não se compram: não têm preço, têm valor. Valor correspondente ao empenho de cada um. Por isso, o que vale não é o “10”, mas a superação gradativa em relação a si mesmo.
ESTUDO E PRAZER: todo mundo sabe que antes de entrar na educação formal as crianças adoram os livros. Todas parecem que serão leitoras vorazes, mas bastou entrar no ensino formal e uma boa parte parece que perde o prazer de ler. Quando se impõe gradativamente a obrigação, a criança bem-educada compreende que está crescendo e suas responsabilidades também e que mesmo que prefira naquele momento estar brincando, é necessário ler um livro ou estudar. A obrigação deve vir primeiro, antes das brincadeiras. A superproteção dos pais que não dão as devidas responsabilidades aos filhos cria crianças que não querem ler, não querem fazer lição, não querem enfrentar nada que os desaponte, desafie ou desagrade. Gradativamente vão se afastando do rendimento escolar médio de sua classe. Surgem problemas de aprendizagem, perfeitamente evitáveis!
O RESPEITO PELA ESCOLA: é a instituição socialmente destinada às crianças e com várias metodologias, justamente para que as famílias busquem e escolham aquela que mais se aproxima da linha educativa que oferece em casa. Saber identificar e respeitar os pontos em que família e escola não concordam é primordial para a manutenção do aluno nesse ambiente e até como lição de vida: afinal, nenhum lugar, nem mesmo a família, é perfeito! Sempre há um ponto de discordância, que desagrada e exige paciência e compreensão. Falar mal da escola ou dos professores então é inimaginável, já que esses profissionais representam os pais dentro da escola, a qual em última análise foi selecionada pela família para seus filhos.
O assunto obviamente não se esgota por aqui, mas tudo que se refere a respeito humano, afetividade, estímulo intelectual, dignidade, valores faz muito bem e é bom para o futuro das crianças. A dedicação ao filho não é a penas cuidar fisicamente dele, pagar boas escolas, oferecer férias e brinquedos, fazer-lhe as vontades, mas lhe dar estímulo e oportunidade de crescer de modo autônomo, responsável, dentro de normas socialmente aceitas, para que se desenvolva a partir de suas características pessoais e assim atinja o seu melhor, tanto pessoal como social e profissionalmente.
MARIA IRENE MAUF – é especialista em Psicopedagogia, Educação Especial e Neuroaprendizagem. Foi presidente nacional da Associação Brasileira de Psicopedagogia – ABPp (gestão 2005/07). É editora da revista Psicopedagogia da ABPp e autora de artigos em publicações nacionais e internacionais. Coordena curso de especialização em Neuroaprendizagem.
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