EU ACHO …

UM DIA A CONTA CHEGA

O grande romancista francês Balzac declarou que “por trás de cada grande fortuna existe um grande crime”. É inegável que os Estados Unidos têm desfrutado de uma riqueza e fartura sem precedentes na história. Mas nós, americanos, precisamos reconhecer que nossa prosperidade está fundamentada numa perversidade histórica, a escravidão, e que nunca vamos conseguir livrar-nos das consequências desse pecado original.

Escrevo estas palavras com confrontos entre policiais e populares estourando em 140 cidades americanas e algumas grandes metrópoles, inclusive Nova York e a capital, Washington, em chamas, baixo toque de recolher e com tanques nas ruas – tudo isso em reação à morte de um homem negro sem arma, George Floyd, asfixiado por um policial branco em Minnesota. Aconteceu na noite de 25 de maio, coincidentemente num feriado dedicado à memória dos 750 mil mortos em nossa Guerra Civil de 1861-1865, travada para extirpar a escravidão e incorporar o negro como cidadão com direitos plenos.

Em vez disso, o mundo assistiu ao vídeo de Floyd – com o policial ajoelhado em seu pescoço durante quase nove minutos – arfando, engasgando e finalmente gritando “Não consigo respirar!”. A mesma frase foi pronunciada por Eric Garner, um camelô negro detido por vender cigarros ilegalmente em Nova York e estrangulado por outro policial branco em 2014. Naquele ano, o jovem negro Michael Brown foi morto a tiros por policiais em St Louis e um policial branco em Cleveland fuzilou um menino negro de 12 anos, Tamir Rice, dois segundos depois de chegar a um parque onde a criança ostentava uma arma de brinquedo. A lista nunca termina.

Quando Barack Obama foi eleito presidente em 2008, eu acreditava que sua vitória podia ajudar a cumprir com as promessas de igualdade racial feitas depois da Guerra Civil 150 anos antes. Engano meu. A ascensão de um negro à Casa Branca apenas incentivou os racistas em nossa sociedade a serem ainda mais audaciosos. Eles questionaram desde o primeiro dia a legitimidade do governo dele, com Donald Trump na liderança. Proliferaram os desenhos animados retratando Obama como macaco e também a lenda de que ele tinha nascido na África. Para os racistas, todo negro é um sub-humano, a perda de um imóvel queimado por manifestantes irados vale mais do que a vida de um negro, e a melhor maneira de lidar com protestos contra abusos de negros pela polícia é com abusos ainda mais violentos.

Quando o primeiro navio negreiro chegou à Virgínia, a escravidão já existia havia um século no Brasil. Cerca de 500 mil africanos foram transportados aos Estados Unidos, enquanto 4 milhões chegaram ao Brasil. Lincoln emancipou os escravos em 1863, 25 anos antes da Lei Áurea. Nos Estados Unidos, a escravidão foi um fenômeno limitado por lei aos estados do sul; no Brasil, foi nacional. Apenas 13,4% dos americanos tem ascendência africana, enquanto a maioria dos brasileiros são negros, mulatos ou pardos.

Não é apenas o contexto histórico que assemelha nossos países. O Brasil praticou a miscigenação e celebrou os elementos africanos de sua cultura bem antes dos Estados Unidos. Mas nós temos nosso Tamir Rice, e vocês têm seu caso João Pedro. Policiais racistas rápidos demais no gatilho, idem. Presidentes incompetentes que desprezam negros e outras minorias raciais e tentam desqualificar qualquer questionamento como obra de “terroristas”, também. Em ambos os países, o negro ganha menos, morre mais jovem e sai da escola antes.

São as sequelas da escravidão, e não sei como remediá-las. A religião nos ensina que não se pode escapar do pecado original. Mesmo assim, temos o dever moral de aliviar o sofrimento e a injustiça, e isso explica as grandes multidões nas ruas americanas. Em todos esses casos de negros mortos, os policiais foram absolvidos. Um tímido primeiro passo em direção à justiça racial seria a condenação do policial que assassinou George Floyd.

Nestes dias de angústia, fico pensando num livro do escritor negro americano James Baldwin, The fire next time, de 1963. O título vem de um hino negro tradicional: Deus deu a Noé o sinal do arco-íris/Não mais será água, na próxima, as chamas. Aqui, a próxima já chegou, com sua conta pesada. Vocês tiveram mais sorte. Mas até quando?

**LARRY ROHTER – é jornalista e escritor, ex- correspondente do New York Times no Brasil e autor de Rondon, uma biografia.

Autor: Vocacionados

Sou evangélico, casado, presbítero, professor, palestrante, tenho 4 filhos sendo 02 homens (Rafael e Rodrigo) e 2 mulheres (Jéssica e Emanuelle), sou um profundo estudioso das escrituras e de tudo o que se relacione ao Criador.

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