QUANDO O CÉU INVADE A TERRA
CAPÍTULO 2 – A RESTAURAÇÃO DA COMISSÃO
“Jesus, o Nazareno, varão aprovado por Deus diante de vós com milagres, prodígios e sinais, os quais o próprio Deus realizou por intermédio Dele entre vós…” (Atos 2:22)
Jesus não podia curar os enfermos. Também não podia libertar os que estavam atormentados por demônios, nem podia ressuscitar os mortos. Crer o contrário é ignorar o que Ele disse sobre Si mesmo e, o que é mais importante, não perceber qual foi o propósito da restrição que Ele impôs a Si mesmo, ou seja, viver como homem.
Jesus Cristo disse a Seu próprio respeito: “o Filho nada pode fazer”.4 No grego esta palavra nada tem um significado peculiar – ela significa NADA mesmo, tal como em português. Ele não era capacitado para fazer coisas sobrenaturais, absolutamente! Conquanto Ele seja cem por cento Deus, Ele decidiu viver com as mesmas limitações que o homem tem, urna vez remido. Jesus deixou isso bem claro repetidas vezes. Ele tornou-se o modelo para todos aqueles que aceitassem o convite para invadir o impossível em Seu nome. Ele realizou milagres, maravilhas, e sinais na condição de um homem em perfeito relacionamento com Deus, não como Deus. Se ele realizasse milagres por ser Deus, então tais feitos seriam inacessíveis para nós. Mas se Ele os realizou na condição de homem, seguir o Seu estilo de vida é uma responsabilidade nossa. Quando recobramos o sentido desta simples verdade, tudo se altera – e surge de novo a possibilidade de uma completa restauração do ministério de Jesus em Sua Igreja.
Em que Ele se distinguia, em Sua condição humana?
1. Ele não tinha pecado algum que o separasse do Pai.
2. Ele era totalmente dependente do poder do Espírito Santo, operando através Dele.
Quais as características da nossa condição humana?
1. Somos pecadores lavados pelo sangue de Jesus. Através do Seu sacrifício, Jesus venceu o poder e o efeito do pecado sobre todos os que creem. Agora nada nos separa do Pai. Permanece apenas um ponto em questão:
2. Em que grau de dependência do Espírito Santo queremos viver?
A COMISSÃO ORIGINAL
A espinha dorsal da autoridade e do poder do Reino acha-se na comissão. Se descobrirmos qual é a comissão e o propósito de Deus para a humanidade, isso nos ajudará a fortalecer a nossa determinação para termos uma significativa mudança na história da nossa vida. E para descobrir esta verdade temos que voltar para o começo de tudo.
O homem foi criado à imagem de Deus e colocado na mais sublime expressão de beleza e paz: no Jardim do Éden. Do lado de fora daquele jardim a história era outra. Não havia a ordem e a bênção que se achavam no interior do jardim e havia uma grande carência: lá não havia o toque daquele que tinha sido comissionado por Deus: Adão.
Sim, Adão e Eva foram colocados no jardim com uma missão. Deus disse: “Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a.”‘ A intenção de Deus era que, tendo eles mais filhos, que também viveriam sob a direção de Deus, eles estariam ampliando os limites do Seu jardim (do seu governo) por simplesmente prestarem a sua devoção a Ele. Quanto maior o número de pessoas num correto relacionamento com Deus, maior o impacto da liderança delas. Esse processo deveria continuar até que toda a terra estivesse debaixo do glorioso governo de Deus através do homem.
Contudo, em Génesis capítulo 1 descobrimos que o universo não é perfeito. Satanás havia se rebelado e tinha sido expulso do céu, e com ele uma parte dos anjos caídos passaram a dominar a terra. É óbvio por que o restante do planeta precisava ser subjugado: porque se achava sob a influência das trevas.6 Deus poderia ter destruído o diabo e suas hostes com uma palavra mas, em vez disso, optou por derrotar as trevas através da Sua autoridade delegada – através daqueles que tinham sido criados em Sua imagem e que amavam a Deus por sua livre escolha.
UM ROMANCE
Nós, que somos filhos de Adão, recebemos do Soberano Deus o encargo de exercer domínio sobre o planeta terra. “Os céus são os céus do SENHOR, mas a terra, deu-a Ele aos filhos dos homens. “Essa honra, a mais elevada de todas, foi escolhida porque o amor sempre escolhe o melhor. Este é o início do romance da nossa criação: criados em Sua imagem, para que houvesse intimidade, para que o domínio se expressasse através do amor. É a partir dessa revelação que podemos aprender a andar como embaixadores de Deus, e assim vencer o “príncipe deste mundo”. O cenário estava montado para que todas as trevas viessem a cair à medida que o homem exercesse sua piedosa influência sobre a criação. Mas, em vez de isso acontecer, foi o homem que caiu.
Satanás não entrou no Jardim do Éden com violência e tomou posse de Adão e Eva. Ele não podia fazer isso! Por quê? Porque ele não exercia o domínio sobre a terra. Quem tem o domínio tem o poder. E como ao homem tinham sido dadas as chaves do domínio sobre o planeta, o diabo teria que obter do homem essa autoridade. A sugestão de comer do fruto proibido foi simplesmente uma tentativa do diabo para ver se Adão e Eva iriam concordar com ele, em oposição a Deus. Isso lhe daria o poder. E foi por concordarem com ele que o diabo passou a ter o poder para roubar, matar e destruir. É importante percebermos que até hoje satanás recebe poder quando o homem entra em acordo com ele.
A autoridade do ser humano para dominar foi perdida quando Adão comeu do fruto proibido. O apóstolo Paulo disse: “Desse mesmo a quem obedeceis sois servos”.8 Por aquele único ato a humanidade tornou se serva, ou melhor, escrava do Maligno, que passou a ter o direito de posse sobre ela. Tudo o que Adão possuía, inclusive o título da sua posição sobre o planeta e a correspondente condição de dominador, tomou-se o espólio que satanás tomou. Imediatamente Deus pôs em ação o seu plano de redenção predeterminado: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.”‘ Jesus viria para recuperar tudo o que se havia perdido.
NÃO HOUVE ATALHOS PARA A SUA VITÓRIA
O plano de Deus para dar ao homem de volta o domínio sobre a terra nunca foi interrompido. Jesus veio para sofrer a penalidade que o homem merecia em decorrência do pecado e assim recuperar o que estava perdido. Lucas 19:10 diz que Jesus veio “buscar e salvar o perdido.” Nã apenas estava a humanidade perdida para o pecado, o seu domínio sobre O planeta também estava perdido. Jesus veio para retomar essa duas perdas.
Satanás fez o que pôde para acabar com o plano de Deus ao fim dos quarenta dias do jejum de Jesus. O diabo sabia que não era digno d receber a adoração de Jesus, mas também sabia que Jesus tinha vindo para retomar a autoridade que o homem havia perdido. Satanás disse lhe: “Dar-Te-ei a Ti todo este poder e a sua glória, porque a mim me foi entregue, e dou-o a quem quero. Portanto, se Tu me adorares, tudo será Teu. “Observe a frase: “porque a mim me foi entregue”. Satanás não pôde roubá-la. Ela lhe foi cedida quando Adão abandonou o domínio de Deus
Era como se satanás estivesse dizendo a Jesus: “Eu sei por que Tu vieste. Tu sabes o que eu quero. Adore-me e eu lhe darei de volta a chaves.” Com efeito, satanás ofereceu a Jesus um atalho para o se objetivo que era retomar as chaves de autoridade que o homem perder por causa do pecado. Jesus disse “não” a esse atalho e recusou-se a dar lhe qualquer honra. (Foi este mesmo desejo de ser adorado que fez com que satanás caísse do céu no princípio.) Jesus não se desviou do caminho que tinha que percorrer, pois Ele tinha vindo para morrer.
O Pai queria que satanás fosse derrotado pelo homem, por alguém feito à Sua imagem. Jesus, que derramaria o Seu sangue para redimir humanidade, esvaziou-se a Si mesmo de Seus direitos como Deus e tomou sobre Si as limitações do homem. Satanás foi derrotado por um homem – o Filho do Homem, que tinha um relacionamento perfeito com Deus Assim sendo, quando alguém recebe a obra de salvação que Cristo realizou na cruz, tal pessoa é inserida nessa vitória. Jesus derrotou diabo com a Sua vida sem pecado, venceu-o em Sua morte ao pagar com o Seu sangue o preço de nossos pecados; e venceu também, quando ressuscitou triunfante, trazendo Consigo as chaves da morte e do inferno
NASCEMOS PARA REINAR
Ao redimir o homem, Jesus reaveu o que o homem havia perdido Do trono do triunfo Ele declarou: “Toda a autoridade Me foi dada no céu na terra. Ide, portanto…”Em outras palavras: Eu readquiri todas as coisas Agora fazei uso delas e recuperai a vossa condição humana. Nesta passagem Jesus cumpre a promessa que ele fizera aos discípulos, ao dizer: “Dar-te ei as chaves do reino dos céus” O plano original nunca foi interrompido; ele foi consumado de uma vez por todas na ressurreição e ascensão de Jesus. Foi para que nós sejamos agora completamente restaurados no plano de Deus, reinando como seres humanos feitos à Sua imagem. E, deste modo, estaremos aprendendo a fazer cumprir a vitória obtida no Calvário: “E o Deus da paz, em breve, esmagará debaixo dos vossos pés a satanás.”
Nascemos para reinar – reinar sobre a criação e sobre as trevas – para saquear o inferno e estabelecer o reino de Jesus aonde quer que formos através da pregação do evangelho do Reino. Reino significa domínio. O propósito original de Deus foi que o homem reinasse sobre a criação. Agora que o pecado entrou no mundo, a criação foi contaminada pelas trevas, isto é, pela enfermidade, pela doença, pelos espíritos opressores, pela pobreza, pelas calamidades naturais, pela influência demoníaca, etc. O nosso reinado ainda é sobre a criação, mas agora nosso alvo principal é expor e desfazer as obras do diabo. Temos que dar aquilo que recebemos, para que tal propósito seja por fim alcançado. Se verdadeiramente eu receber poder de um encontro com o Deus de poder, estarei capacitado para dá-lo. A invasão de Deus em situações impossíveis ocorre através daqueles que receberam poder do alto e que aprenderam a liberá-lo nas circunstâncias da vida.
A CHAVE DE DAVI
O evangelho da salvação é para tocar o homem por inteiro: o espírito, a alma e o corpo. John G. Lake designou isso como sendo uma Salvação Triúna. Um estudo da palavra mal confirma o alcance almejado com a redenção feita por Cristo. Esta palavra ocorre em Mateus 6:13: “Livra-nos do mal”. A palavra mal representa todo o curso do pecado sobre o homem. Poneros, a palavra grega para mal, vem da palavra panos, que significa dor. E esta vem da raiz penes, que significa pobre. Observe: mal – pecado, dor – enfermidade; pobre – pobreza. Jesus destruiu o poder do pecado, da doença e da pobreza através da Sua obra redentora na cruz. Na comissão dada a Adão e Eva para dominarem sobre a terra eles estavam sem enfermidades, sem pobreza e sem pecado. Agora que fomos restaurados ao propósito original de Deus, será que deveríamos contentar-nos com menos? Afinal de contas, agora estamos debaixo da “melhor aliança”, como ela é chamada!
A nós nos foram dadas as chaves do Reino, estando nelas a autoridade para pisar sobre todo o poder do inimigo. Há uma única aplicação deste princípio, encontrada na frase chave de Davi, mencionada no Apocalipse e também em Isaías. O Dicionário Bíblico de Unger afirma: “O poder das chaves consistia não apenas na supervisão das câmaras do rei, mas também em decidir quem deveria, ou não, ser recebido para o serviço do Rei.” Tudo o que o Pai tem é nosso por meio de Cristo. Todo o Seu tesouro e Suas câmaras reais acham-se à nossa disposição, para que possamos cumprir a Sua comissão. O que mais nos faz pensar nesta ilustração, porém, está em controlar quem entra para ver o Rei. Não é isso o que fazemos com o evangelho? Quando o declaramos, damos oportunidade às pessoas para virem até o Rei e assim serem salvas. Quando silenciamos, a nossa opção foi manter afastados da vida eterna aqueles que poderiam ter ouvido. É algo para se pensar, de fato!
Foram chaves muito caras, pelas quais Ele pagou. E são chaves custosas para nós usarmos. Mas é bem maior o custo de enterrá-las e não obter um aumento no número daqueles para quem o Rei vem. Esse preço vai ser sentido por toda a eternidade.
UMA REVOLUÇÃO NA IDENTIDADE
Agora é a hora para acontecer uma revolução em nossa visão. Quando os profetas nos dizem “sua visão é pequena demais”, muitos de nós pensamos que o antídoto para isso é aumentarmos os números da nossa expectativa. Por exemplo, se a nossa expectativa é de alcançarmos dez novos convertidos, então mudamos para cem. Se estivermos orando por cidades, vamos então orar por nações. Desse modo não estamos entendendo corretamente a questão. O aumento de números não é necessariamente um sinal de se ter uma visão mais ampla, segundo a perspectiva de Deus. A visão começa com identidade e propósito. Através de uma revolução em nossa identidade, podemos pensar com um propósito divino. Tal mudança tem início com uma revelação de Deus.
Uma trágica consequência de se ter uma identidade enfraquecida é que ela passa a afetar a nossa abordagem das Escrituras. Muitos, se não a maioria, dos teólogos cometem o erro de tomar todo o bom material contido nos profetas e o varrem, pondo-o debaixo do tapete chamado Milênio. Não é meu desejo debater este assunto agora. Mas quero falar da nossa propensão de adiar aquelas coisas que requerem coragem, fé e ação, deixando-as para uma outra hora. A ideia errada que temos é: se é algo bom, não deve ser para agora.
Uma base para essa teologia é que a situação da Igreja estará sempre piorando, cada vez mais; portanto, as coisas trágicas que acontecem na Igreja são apenas mais um sinal de que estes são os últimos dias. Num sentido pervertido, a fraqueza da Igreja para muitas pessoas confirma que estão no caminho certo. A situação do mundo e da Igreja, cada vez piorando mais e mais, torna-se para elas um sinal de que está tudo bem. Tenho muitos problemas com esse tipo de pensamento, mas um deles vou mencionar agora: é que pensar desse modo não requer fé alguma!
Estamos tão entrincheirados na descrença que qualquer posição contrária a essa cosmovisão é tida como sendo do diabo. Assim acontece com a ideia de um impacto predominante ser causado pela Igreja, antes de Jesus voltar. É quase como se quiséssemos defender o direito de sermos em número pequeno, e atuarmos de qualquer jeito. Aceitar um sistema de crenças que não requer fé alguma é perigoso. É contrário à natureza de Deus e a tudo o que as Escrituras declaram. Como é do plano do Senhor fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos, de acordo com Efésios 3:20, suas promessas, pela sua própria natureza, desafiam o nosso intelecto e as nossas expectativas. “(Jerusalém) não pensava no seu fim; por isso, caiu de modo espantoso”. A consequência de esquecermos as promessas do Senhor é algo que não dá para suportarmos.
Normalmente estamos muito mais convencidos da nossa indignidade do que da dignidade do Senhor. A nossa incapacidade é alvo de uma atenção muito maior do que a que damos à capacidade do Senhor. Mas o mesmo Ser Eterno – que chamou o temeroso Gideão de homem valente; e a Pedro, com sua personalidade tão instável, de rocha, ou pedra – esse mesmo Ser eterno chamou-nos de Corpo do Seu Filho amado sobre a terra. Isso sem dúvida significa alguma coisa.
No próximo capítulo veremos como usar um dom para manifestar o Reino de Deus, fazendo com que o céu toque na terra.
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