A PSIQUE E AS PSICOLOGIAS

GÊNERO E CONFLITOS FAMILIARES

A família é o primeiro lugar de acolhimento e de segurança do ser humano, mas no campo da identidade de gênero ainda há muito o que aprender a respeitar

Dentro de uma visão sistêmica, a família nuclear nasce quando nasce uma criança. Para essa abordagem, casal não é família e sim duas pessoas que iniciam a conjugalidade. Com a chegada de uma criança, seja por nascimento ou por adoção, nascem dois tipos de casais, o casal conjugal que pode perdurar por toda a vida, até chegar à fase do ninho vazio, quando os filhos saem de casa e constroem suas próprias vidas, ou terminar com o divórcio ou a viuvez. Já o casal parental é eterno, mesmo que haja a separação. O vínculo entre o casal permanece pela existência dos filhos que fazem parte do núcleo familiar e pelos vários papéis parentais que são inaugurados. Quem era apenas sogra passa a ocupar o lugar de avó, quem era apenas marido passa a ser pai, os cunhados, tios, eassim por diante. O poder do nascimento de uma criança é muito grande, pois modifica e hierarquiza a família.

Antes de um filho existir concretamente, ele já é elaborado no universo simbólico e muitos planos são feitos para ele. Quando perguntamos se a grávida prefere menino ou menina, é comum escutar (embora às vezes haja uma preferência no seu íntimo) “tanto faz, contanto que venha com saúde será bem-vindo”.

A realidade não costuma confirmar a frase da prioridade da saúde sobre o gênero, especialmente quando na construção da sexualidade um filho é homossexual. Comportamento ultrapassado? Vivemos tempo de aceitação plena das diferenças de toda ordem? Não é esse o relato dos adolescentes e adultos quando têm a oportunidade de conversar sobre o assunto. No decorrer de minha experiência em escolas, trabalhando diretamente com adolescentes e também na prática clínica como psicopedagoga, tive a oportunidade de acompanhar inúmeros casos e fazer reflexões sobre o tema.

Primeiramente, durante a formação da sexualidade, o adolescente, na maioria das vezes, costuma viver muitos conflitos internos e experimentar muito sofrimento por ter dúvidas sobre a sua identidade. Até se definirem, esses conflitos vão desde a insegurança, apego extremo à religiosidade como forma de lutar contra o seu devir, afastamento total de ambientes religiosos, afastamento de familiares da família ampliada, dificuldades de aprendizagem, dificuldades de relacionamento com os pares nos ambientes sociais, doenças psicossomáticas e mesmo tentativas de suicídio. Não ter um lugar, sentir-se excluído, faz com que muitos tenham ideação suicida e quadros depressivos.

Os jovens e adultos relatam sobre a dificuldade que tiveram quando os pais “descobriram” a sua verdadeira identidade sexual ou a angústia que sentiram quando revelaram aos seus familiares. Começam pela consciente e clara declaração que um filho hétero não precisa sentar para conversar com seus pais e fazer a “grande revelação”, e os filhos homossexuais, sim. A estranheza e a certeza de que a aceitação da diversidade de gênero começa a partir dessa reflexão. Se fosse natural, não precisaria ser anunciado, revelado. O ideário de ter decepcionado as expectativas dos pais e o fato de não se sentir plenamente inserido nos eventos familiares estão nas declarações mais comuns. Afirmam também que, via de regra, quando não são expulsos de casa, há uma aceitação maior por parte das mães do que dos pais, e algumas condições são colocadas para a convivência, tais corno não levar em casa a pessoa com quem se relaciona, “respeitar” o ambiente familiar evitando falar sobre sua vida particular, assumir tarefas domésticas antes não realizadas, dentre outras situações que colocam o sujeito em um lugar de menor valor.

A violência simbólica ou declarada ocorre também nos espaços escolares e profissionais, além da própria família, que costuma fazer o primeiro movimento de exclusão, seja mantendo a questão velada ou com ofensas diretas. As mães costumam responder que aceitaram porque amam seus filhos incondicionalmente, mas temem a violência externa, a homofobia e o sofrimento que os filhos terão na sociedade por toda a vida. Os pais declararam de forma mais enfática a recusa e o lamento de que não poderão ser avós, ignorando a possibilidade de que no futuro uma união homoafetiva poderia trazer um neto através da adoção. Os conflitos entre os pais também são comuns quando um culpa o outro pela criação, pelas ausências ou comportamento opressor, na busca de uma resposta sobre o porquê da identidade do filho diferir dos seus sonhos e planos.

Vamos encontrar outros dados muito curiosos. Filhos gays costumam sair da casa dos pais e habitar sozinhos ou dividindo moradia com amigos muito mais cedo que filhos héteros, uma forma de se distanciar do mal-estar vivido dentro da própria casa. Em vários casos ouvem os pais se perguntando claramente “onde nós erramos na educação dele?”. Esse desconforto traz afastamento, mágoas e o sentimento que causa vergonha e humilhação aos familiares.

Os amigos também costumam ser, na grande maioria, pessoas com a mesma identidade sexual para evitar a rejeição, bem como os lugares escolhidos para o lazer. Assim constroem uma rede de segurança e empoderamento para a conquista de direitos civis e encontrar forças para seguirem em frente assumindo quem realmente são.

DAYSE SERRA – é doutora em Psicologia pela PUC- Rio, mestre em Educação Inclusiva pela UERJ, professora da Universidade Federal Fluminense. Escritora, terapeuta de família e casal pela Logos Psi, membro da Comissão Científica da Abenepi, membro do Conselho Editorial do Colégio Pedro II.

OUTROS OLHARES

A BANALIZAÇÃO DA MORTE

A morte é um tabu sempre presente em nossas vidas. Mas os que sonham com a imortalidade podem agora imaginar possibilidades mais concretas, mostradas na ficção científica e que, quem sabe, serão concretizadas pelos avanços da tecnologia

Uma das descobertas mais importantes do homem foi a morte. Nunca saberemos quando ela ocorreu. Foi uma descoberta avassaladora: a morte como algo universal, predestinado. Tudo que vive é um prefácio de uma morte certa, o tempo de vida é muito curto. Uma descoberta traumática. A inescapável mortalidade. O homem é o animal que sabe que será derrotado pela morte.

Com a descoberta da morte, vieram as tentativas de driblá-la. As religiões inventaram a vida após a morte. Ensinaram-nos a não valorizar tanto a vida, para não sofrermos tanto com a perspectiva da morte. “Quem quiser salvar sua vida a perderá”, diz o Evangelho. E sugere que Deus expulsou Adão e Eva do paraíso pois, ao comerem o fruto da Árvore do Conhecimento, poderiam querer se tornar imortais. A promessa da ressurreição da carne é o coroamento da vida eterna para os cristãos. Curiosamente, o Velho Testamento não faz referência, em nenhuma de suas passagens, à vida após a morte.

“O nosso destino é a escuridão”, proclamou Shakespeare na sua peça Antônio e Cleópatra (ato V, cena lI). A morte é um terna sempre presente na literatura e na Filosofia. Há uma longa estirpe de filósofos que se dedicaram a ele, passando por Agostinho, Pascal, Schopenhauer, Kierkegaard e muitos outros. No século passado, Heidegger foi um dos filósofos que mais se preocuparam com esse tema. Para ele, a morte é o Nada, o abismo cardinal, a fonte de toda inquietação humana e do pensamento. Seguindo as pegadas de Heidegger, alguns pensadores existencialistas como Camus e Sartre se debruçaram sobre o significado da morte e da finitude do homem.

O homem do século XXI continua a se debater com o horror absoluto da morte e da extinção de sua espécie. A biologia moderna é a nova narrativa sobre a vida e a morte. A imortalidade da alma é a ancestralidade da vida, sua reprodução indefinida como estratégia para triunfar sobre a morte. O código genético é praticamente o mesmo em todos os seres vivos e é sempre reeditado através das gerações.

Em seu livro mais famoso, O gene egoísta, o zoólogo Richard Dawkins defende que nossos corpos são apenas portadores de genes sobreviventes que, por meio de sucessivas gerações, garantiram otriunfo da vida nos últimos 3,5 bilhões de anos. Todas as espécies que existem são ramificações que surgiram de uma única linhagem primordial. A morte de uma pessoa pode ser um a tragédia individual, mas a espécie humana continuará por mais alguns milhões de anos. Nossa missão, como seres vivos, é transmitir genes.

Mas a biologia não consola ninguém. Quando a questão é a morte de um ser humano, ela serve, no máximo, para que o refrão “e a vida continua” possa ser repetido. A engenharia genética, o transplante de órgãos e até o transplante de cabeças estão a serviço do prolongamento da vida. Mas não nos contentamos com apenas prolongar a vida. Queremos a imortalidade, queremos uma ciência que negue que ela está reservada apenas para os deuses e não para os homens.

Atualmente, alguns gurus do Vale do Silício tentam nos convencer de que é possível fazer uma cópia digitalizada do cérebro das pessoas, com todos os seus circuitos neurais e lembranças. Essa cópia poderia ser enviada para a nuvem, na qual ela duraria indefinidamente. Quem lê esses gurus acaba se convencendo de que a ciência poderá, em breve, burlar a morte. Mas a estratégia para nos convencer de que a ciência poderá lidar com a morte é resultado de uma manobra sutil nas entrelinhas desses textos. Para laicizar a morte, esvaziá-la de todo sentido trágico, é preciso torná-la cada vez mais banal.

O sintoma dessa manobra aparece na ficção científica. Na novela Carbono alterado, livro de estreia de Richard Morgan (que se tornou um seriado de TV), o autor descreve um mundo no qual todas as pessoas têm um “cartucho”, um chip extraordinariamente poderoso que contém uma cópia digitalizada do cérebro. O corpo de uma pessoa pode ser destruído, mas se o cartucho ficar intacto, ele poderá ser implantado em um outro corpo no futuro, que o autor chama de “capa”. Todos passam a vida economizando para comprar uma capa. A única exceção são os católicos, que se recusam a viver novamente e, por isso, assinam um documento registrado no Vaticano para que seus cartuchos não sejam reimplantados.

O cenário descrito por Morgan é bizarro. Nessa sociedade, ninguém teme morrer, pois a morte pode acontecer várias vezes para uma pessoa e ela continuará a viverse o cartucho for reimplantado em outra capa. Uma ameaça de morte não surte efeito. A destruição do corpo e do cartucho não amedronta ninguém. O corpo pode ser substituído por uma nova capa e para o cartucho sempre haverá um backup, que poderia ficar armazenado na nuvem. A morte não é apenas secularizada. Ela é banalizada.

No seriado Westworld há, também, personagens que dizem não temer a morte pois já morreram e voltaram à vida várias vezes. A morte é algo trivial, pois se tornou um problema científico que em breve será solucionado.

Mas o que significa a banalização da morte? Morgan nos fornece a resposta em uma passagem de sua novela, na qual ele afirma: “Mas gente? Pessoas se reproduzem como células cancerosas, são abundantes […) A carne humana é mais barata que uma máquina. É a verdade axiomática de nossos tempos”

JOÃO DE FERNANDES TEIXEIRA – é paulistano, formado em filosofia na USP. Viveu e estudou na França, na Inglaterra e nos Estados Unidos. Escreveu mais de uma dezena de livros sobre filosofia da mente e tecnologia. Lecionou na UNESP, na UFSCAR e na PUC-SP.

GESTÃO E CARREIRA

O QUE VALE NO VALE VALE AQUI?

Área rica, com uma abundância de jovens talentos com ideias disruptivas, no vale do silício existe uma cultura organizacional que serve de exemplo

O Vale do Silício não é um território demarcado no mapa com linhas precisas. Ocupa, na Califórnia, uma área que começa no sul da baía de São Francisco e inclui muitas cidades como: Redwood City, Menlo Park, Palo Alto, Los Altos, Mountain View, Sunnyvale, Cupertino, Santa Clara e San Jose. Nelas estão as maiores (e mais prósperas) empresas desta era de inovação digital. O aparente centro gravitacional de tudo isso é a Universidade de Stanford, em Palo Alto.

Com uma abundância de jovens talentos com ideias disruptivas, lá existe uma cultura organizacional, aparentemente única. Se isso é um fato que pode ser transformado em um protocolo de ação, por que o mesmo sucesso não ocorre em outras áreas no mundo?

Não é por falta de tentativas. Muitas cidades criaram modelos semelhantes com incentivos a startups de tecnologia, mas o resultado ficou longe de ser igual. Segundo o Global Startup Ecosystem Report 2019, elaborado pela Startup Genome, o perfil de hoje coloca o Vale em primeiro lugar seguido, de muito longe, por Nova York, Londres, Pequim, Boston, Tel Aviv e Los Angeles. São Paulo aparece na lista como um ecossistema promissor, mas em uma posição distante das demais.

Todos os indicadores, incluindo o número de empresas e os resultados financeiros do Vale do Silício, destoam de forma significativa de quaisquer outras áreas que, teoricamente, competem pelo primeiro lugar em agrupamento de startups de tecnologia. Pelo que se pode notar, mesmo que sejam replicadas as mesmas condições de apoio técnico e financeiro, pela parte governamental, o resultado não se repete.

O segredo do que se observa hoje, como sucesso alcançado, faz parte de uma cultura organizacional impossível de ser transcrita como um protocolo de uma única empresa, pois é a própria estrutura mental do Vale. Podemos tentar desmembrar em alguns itens:

1. QUALQUER IDEIA DEVE SER VALIDADA: Em uma reunião em 14 de junho/2019, na The Vault, em São Francisco (CA-EUA), com Fernando Figueiredo, brasileiro que é cofounder e CEO da Oaktech, empresa de estratégia global e internacionalização, ficou claro que a cultura aceita qualquer ideia nova desde que possa ser validada. Um exemplo disso é LiLou, o porquinho terapêutico do aeroporto de São Francisco. Alguém teve a coragem de apresentar um projeto que afirmava a importância de um porco circulando pelo aeroporto para acalmar os passageiros nervosos, e o gestor teve a coragem de colocar essa ideia em prática para ser validada. Hoje é um sucesso!

2. DESENVOLVIMENTO DE GRUPOSPARA TROCAS DE IDEIAS: Laís de Oliveira, brasileira que desponta como diretora de Desenvolvimento de Comunidades na Startup Genome (essa mesma que faz o levantamento dos ecossistemas de startups), com sede em São Francisco, nos fala da importância da criação de grupos com origens diversas. As comunidades podem, pela sua miscigenação, gerar ideias novas, parcerias produtivas e, além de tudo, financiamentos mútuos. Os projetos podem se intercambiar – sinergia -, gerando desafios impossíveis de serem alcançados por uma só pessoa: parceria é tudo nesse ambiente.

3. PARA TER ABUNDÂNCIA DEVE-SE COMPARTILHAR: Bruno Solis, da Kong lnc., hoje executivo de Contas para a América Latina com sólida experiência em vendas de sucesso, fala com orgulho dos mais de 600 mil usuários de seu sistema que não pagam um centavo sequer. No entanto, o faturamento da Kong é de vários milhões de dólares. Sua base é oferecer plataformas de código aberto e serviços em nuvem para quem deseja gerenciar, monitorar e escalar interface de programação de aplicativos e microservices. A base do pensamento é que quando você distribui o mercado pagador retorna aceitando o preço da credibilidade alcançada.

4. O TALENTO DEVE SER VALORIZADO: Vinícius Depizzol, brasileiro do estado do Espírito Santo, um dos principais designers no escritório da Microsoft Corporation na Market St., em São Francisco, disse que hoje, na cultura do Vale, há um grande cuidado das empresas para manter seus colaboradores o mais seguros e confortáveis possível. Não é o horário de saída ou entrada no prédio da empresa que vai trazer a solução da demanda. Muitos colaboradores passam mais tempo trabalhando em casa do que na empresa e, com responsabilidade e engajamento, apresentam os resultados em seus devidos prazos.

5. NÃO DISPENSAR O PASSADO POR CONTA DO FUTURO: Com Martin Spier, arquiteto de performance da Netflix, numa conversa no Steins Beer Garden em Cupertino, CA – EUA, sobre cultura organizacional e a liberdade que deve ser colocada à disposição dos colaboradores, foi ressaltado algo muito interessante: a Netflix ainda entrega DVDs mensalmente a 1mlhões de usuários. Como uma empresa que é líder mundial em streaming ainda carrega esse peso? A resposta foi direta: é um mercado de milhões de dólares. Embora a tecnologia esteja à disposição, muitas pessoas, por motivos quaisquer, preferem o velho DVD. A Netflix, que começou dessa forma, não abre mão desses clientes e mantém toda estrutura para atendê-los, mesmo que o retorno não seja o mesmo do modelo atual.

6. PENSAR DIFERENTE SEMPRE: A consultora sobre o ecossistema do Vale, Mariangela Smania, quando conduz o seu treinamento “Path to lnnovation” pelo campus da Universidade de Stanford, reforça a estrutura valiosa do Design Thinking, olhar o todo e os detalhes para inovar. Não basta apenas saber da necessidade e ter a solução, muitas pessoas desenvolveram produtos e serviços fantásticos que não tiveram êxito ou foram ultrapassados rapidamente pela concorrência. O pensamento disruptivo é um talento, mas pode e deve ser replicado com a utilização de técnicas apropriadas. São apenas alguns pontos que podemos extrair da cultura reinante no Vale que, pelo que vemos, apresenta resultados. Este texto trata de um pequeno resumo das principais ideias que nos foi possível colher no mês de junho de 2019, quando estivemos imersos nesse ambiente do Vale do Silício e tivemos a oportunidade de ter encontros- verdadeiras aulas – com muitosexecutivos de várias empresas. Esta coluna retrata um pouco do que pude apreender deles sobre a cultura organizacional do Vale. Não é a chave do segredo, mas uma porta importante que vem dando resultados significativos na inovação de grandes e pequenas empresas.

JOÃO OLIVEIRA – é doutor em Saúde Pública, psicólogo e diretor de Cursos do Instituto de Psicologia Ser e Crescer (www.isec.psc.br).Entre seus livros estão Relacionamento em Crise: Perceba Quando os Problemas Começam Tenha as Soluções, Jogos para Gestão de Pessoas: Maratona para o Desenvolvimento Organizacional, Mente Humana: Entenda Melhor a Psicologia da Vida, e Saiba Quem Está à sua Frente Análise Comportamental pelas Expressões Faciais e Corporais (Wak Editora)

ALIMENTO DIÁRIO

A HISTÓRIA DO CASAMENTO

DIA 13 – A BRIGA: A HISTÓRIA DE JOHN

Houve um tempo no nosso casamento em que ficamos magoados um com o outro por cerca de dezoito meses seguidos. A mesma discussão vinha à tona repetidas vezes. Chegávamos até a implicar sutilmente um com o outro na frente dos nossos filhos. Os mais velhos percebiam o que estava acontecendo, e faziam comentários do tipo “Vocês podem fazer o favor de não falar sobre isso durante o jantar?” Nossa dor e desunião eram uma fonte de tensão constante em nosso lar, e estavam corroendo nosso casamento e nossa família.

Uma noite, depois de trocarmos acusações como de costume, eu (John) saí de casa como um furacão. Estava furioso com Lisa e imediatamente comecei a reclamar com Deus. Eu lamentava as imperfeições de Lisa e sua falta de visão. Tinha a sensação de que Deus havia me prendido a uma esposa que não me dava apoio e que era desnecessariamente crítica. Eu me perguntava se podia continuar vivendo com uma esposa assim.

Nunca me esquecerei de como Deus respondeu. O Espírito Santo não me disse uma palavra sobre o quanto Ele lamentava por mim, nem tratou da dor que eu estava sentindo. Em vez disso, Ele simplesmente sussurrou: “Filho, quero que pense em algo que você aprecia em Lisa e depois Me agradeça por isso”.

Levei algum tempo para responder, mas finalmente resmunguei: “Ela é uma boa mãe”. Enquanto as palavras escapavam da minha boca, senti como um sopro de vida em minha alma. Deus me impeliu a continuar. Eu disse: “Senhor, obrigado porque Lisa é uma ótima cozinheira”. Depois disse: “Obrigado porque ela é linda”. Mais palavras começaram a fluir, e eu continuei enumerando com gratidão as qualidades de Lisa sem parar, como uma metralhadora.

A essa altura eu não estava mais irritado com ela; estava irritado comigo mesmo. Pensei: Você é um completo idiota! Sua esposa é maravilhosa, e você tem sido um estúpido com ela. O que há de errado com você? Fiquei dolorosamente ciente do quanto eu havia tratado Lisa de modo horrível. Ela era a esposa que eu havia escolhido e a mãe dos nossos filhos, uma absoluta bênção de Deus, e eu a havia tratado como uma inconveniência para o meu chamado.

Quando saí de casa, Lisa estava extremamente aborrecida comigo e eu com ela. Mas agora eu só queria ir para casa e dizer o quanto era grato por ela. Enquanto corria para casa, pensei comigo mesmo: Posso não ser bem recebido, mas preciso dizer o quanto sou grato por ela.

Quando cheguei em nossa casa, encontrei Lisa e exclamei: “Lisa, sinto muito! Tenho sido um estúpido. Por favor, perdoe-me. Você é uma mãe incrível e uma esposa excelente, você é o desejo do meu coração”. Contei a ela o que Deus havia trazido à minha lembrança e depois comecei a elogiá-la por todas as suas características, qualidades e dons magníficos. As palavras se derramavam do meu coração como um rio.

Enquanto eu falava, Lisa abrandou-se e começou a chorar. Sem que eu soubesse, enquanto eu estava fora, ela havia orado: “Deus, se Tu trouxeres John de volta e ele me disser que sente muito, abrirei meu coração outra vez”.

A BRIGA: A HISTÓRIA DE LISA

As coisas haviam ficado tão ruins durante aqueles dezoito meses que deixei de usar meu anel de casamento. Eu dizia a John que estávamos casados, mas não comprometidos, seja lá o que isso queira dizer. Comecei a acreditar que não amava mais o John. Minha recusa em perdoar havia feito meu coração se esfriar, e o nosso relacionamento corria um grande risco.

Naquela época, John estava viajando muito, então comecei a gostar mais do tempo que ficava sozinha do que dos momentos que ele estava em casa. A vida é mais fácil quando ele não está, eu pensava. Ele em casa só serve para me enlouquecer, com todas aquela brigas e tensão.

Desesperada, comecei a clamar ao Senhor: “Deus, estamos em um impasse. John não está sendo nada bom comigo! Pai, sei que Tu deves estar zangado com o comportamento dele!”

E eu continuava falando sem parar, expondo a minha causa diante do Pai quase que diariamente. Mas quando finalmente me calei, eu O ouvi dizer:

  • Lisa, diga-Me que Eu sou suficiente para você.

A princípio fiquei um pouco assustada. Se eu dissesse que Deus era suficiente, isso significava que John não iria mudar? Devolvi as palavras:

  • Pai, Tu és suficiente para mim. Então me vi repetindo a pergunta:
  • Mas e quanto ao John? Novamente ouvi:
  • Diga-Me que Eu sou suficiente para você.
  • Tu és suficiente para mim.5

Aquelas palavras se tornaram meu refrão. Todas as vezes que o conflito ou a decepção surgiam, eu orava “Jesus, Tu és suficiente para mim”. Com o tempo, a revelação criou raízes em meu coração e minhas orações se transformaram. O que começou com uma confissão quebrantada (“Jesus, Tu és suficiente para mim”) se transformou em um transbordar de satisfação em Deus: “Jesus, Tu és mais do que suficiente para mim!”

Pouco tempo depois, Deus havia feito a Sua obra nos nossos corações. John voltou para casa de uma viagem e fui apanhá-lo com satisfação no aeroporto (uma tarefa que eu havia permitido que outros realizassem durante os meses em que preferia que ele não voltasse para casa). Estava feliz em saudar meu marido, e descobri que ele havia me trazido um lindo presente.

Aquele instante marcou um novo começo para o nosso casamento. É interessante que mesmo antes da mudança acontecer, Deus abriu o coração de cada um de nós por meio da gratidão.

No casamento, se nos comprometermos em imitar o exemplo de Jesus, perdoando mesmo quando somos maltratados, veremos nossa união permanecer estável e até florescer. Sem que soubéssemos naquela época, um dos maiores exemplos que demos aos nossos filhos foi dizer um ao outro que sentíamos muito e depois perdoarmos um ao outro. Nossos filhos passaram a entender que somos habitantes imperfeitos habitando em um mundo imperfeito, mas o perdão perfeito de Deus em nossos corações pode cobrir uma multidão de pecados. Esses pecados, destinados a gerar o caos e destruir nossa união, na verdade acabaram se tornando lições de vida para nossos filhos do amor, da graça e do perdão de Deus. Vimos estas palavras de sabedoria se cumprirem em nossa família:

Aquele que cobre uma ofensa promove amor… Provérbios 17:9

Se você opta por ficar preso à ofensa, todos perdem porque o amor vai morrendo aos poucos. Entretanto, quando você opta por perdoar, todos na sua família ganham porque o amor floresce.

O MEDO

A próxima coisa a ser tratada no seu relacionamento é o medo. Durante os dez primeiros anos do nosso casamento, eu (Lisa) lutava contra o medo do abandono. Meu pai e meu primeiro pastor haviam deixado suas esposas por mulheres mais jovens. Por causa do que vivi, permiti que pensamentos de medo permanecessem em minha mente sem qualquer controle. Eles não gritavam; eles sussurravam: Mais cedo ou mais tarde, todos os homens partem. Não deixe que eles se aproximem demais. Assim não poderão decepcioná-la. Esse tipo de pensamento fazia com que eu até mesmo resistisse a pequenas demonstrações de afeto. Quando John me abraçava, não demorava muito e eu começava a dar tapinhas nele para poder me afastar.

Um dia, depois de um de meus “tapinhas de afastamento”, John perguntou- me diretamente:

— Será que só depois que formos velhos você vai perceber que nunca vou abandoná-la? Você vai esperar até termos setenta anos?

Fiquei perplexa.

— Vou esperar o tempo que for preciso — ele continuou — mas enquanto isso vamos perder muito tempo de diversão.

Entendi que estava fazendo John pagar pelas decepções que eu havia tido com outros homens. Pensei: Por que John tem de pagar pelos erros deles? Isso não é justo. No esforço de me proteger, estou sabotando nosso relacionamento. Meu medo de perder John no futuro estava roubando de nós dois o nosso presente. Decidi então que eu preferia amar John completamente, mesmo correndo o risco de perdê-lo, a amá-lo pela metade e olhar para trás com remorso pelo que poderia ter vivido com ele.

O medo e a desconfiança nos impedem de florescer no casamento, pois o medo se agarra tenazmente ao passado enquanto se recusa a crer que algo melhor pode surgir no futuro. Se quisermos que Deus faça algo novo em nosso casamento, precisamos escolher abandonar o medo e aceitar o que o amor poder vir a projetar para o nosso futuro. A expectativa do medo é o fracasso, ao passo que o amor definitivamente nunca falha.

O medo é uma força espiritual que se opõe diretamente ao amor e à proteção de Deus em nossas vidas. Ele é o oposto do amor, porque tanto o amor quanto o medo atuam tendo como base a crença no desconhecido. O amor nos desafia a duvidar do que vemos e a crer no que não podemos ver. O medo nos impulsiona a crer no que vemos e a duvidar do que não vemos. Quando nos deparamos com o medo do fracasso ou com a esperança do amor, podemos escolher crer em um ou no outro, mas não em ambos. O medo desaloja o amor; o amor lança fora o medo.

… No amor não há medo antes o perfeito amor lança fora o medo; porque o medo envolve castigo; e quem tem medo não está aperfeiçoado no amor. 1 João 4:18-19, AA

A capacidade transformadora do amor é maior que a capacidade que o medo tem de nos enlaçar. O amor perfeito que lança fora o medo só é encontrado na experiência do amor de Deus. Através do poder do Seu amor, podemos abandonar a preocupação com nós mesmos, porque sabemos que Deus cuidará fielmente das nossas necessidades. Mas se não passamos tempo na presença de Deus, não podemos ter um conhecimento íntimo da Sua natureza amorosa; pois Sua fidelidade se manifesta na Sua presença.

Sem conhecimento da verdadeira natureza de Deus, viveremos com medo constante de sermos abandonados por Ele ou por nossos cônjuges, o que é uma forma deturpada de castigo. À medida que nos tornamos cada vez mais seguros no amor de Deus por nós, podemos ser livres do medo e oferecer um amor altruísta aos nossos cônjuges. A Palavra de Deus diz:

Amados, amemos uns aos outros, pois o amor procede de Deus. Aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor. 1 João 4:7-8

A fortaleza do medo é o que faz com que digamos: “Se meu cônjuge algum dia me trair, nunca o perdoarei”. Essas promessas, cujo propósito é nos proteger no futuro, impedem-nos de abraçar o poder do amor de Deus hoje. Precisamos aprender a confiar em Deus para cuidar do nosso coração, ainda que um cônjuge nos rejeite, fira ou traia. Deus nos pediu para entregarmos nossos temores a Ele. A recusa em fazer isso diz a Deus que não acreditamos que Ele é capaz de dirigir nossas vidas. Não podemos nos submeter ao senhorio de Jesus sem entregarmos nossos medos

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