A HISTÓRIA DO
CASAMENTO
DIA 11 – LIMPE O CONVÉS
Limpe o convés: (verbo) Prepare-se para um evento ou objetivo específico lidando antecipadamente com qualquer coisa que possa impedir o progresso
Esse termo náutico originalmente era uma ordem dada a bordo
dos navios que se aproximavam de uma batalha. Quando recebiam essa instrução,
os marujos sabiam que deviam remover quaisquer ferramentas, cordas ou outros
objetos que pudessem impedi-los de se movimentar livremente pela embarcação. Hoje esse termo se aplica a qualquer preparação que nos
posicione para agir sem maiores embaraços.
No capítulo anterior, falamos sobre o casamento como um
projeto funcional e vivo. O propósito deste capítulo é tratar de quaisquer
problemas que possam impedi-lo de avançar e de experimentar a grandeza do
casamento. O ato deliberado de limpar o convés de um navio serve para impedir
que as cordas se emaranhem umas às outras. Se o convés estiver em desorganizado
ou cheio de entulho, é fácil, em tempos difíceis ou em mares revoltos, tropeçar
em alguma coisa que você poderia facilmente contornar se estivesse navegando em
águas tranquilas.
Amamos a ideia de posicioná-lo para velejar rumo ao seu
futuro, levando com você tudo aquilo que lhe sustentará, enquanto ao mesmo
tempo lança fora qualquer coisa que possa lhe trazer peso ou deixá-lo ancorado
ao passado.
Muitas pessoas não apenas “tropeçaram no convés” e se
feriram, como também caíram do barco e se perderam no mar.
O projeto de Deus para o casamento é infalível. No
entanto, o casamento parece colocar as falhas de cada um dos cônjuges em
evidência como nenhuma outra instituição. Em vez de esperar até estar navegando
em uma embarcação que esteja desesperadamente fora da rota – com velas
rasgadas, carga perdida, vazamentos no casco e cordas desgastadas – queremos
posicioná-lo corretamente para abrir caminho.
Ainda fazendo uso da analogia náutica, a recusa em tratar
adequadamente os problemas fundamentais do relacionamento poderia ser comparada
a se lançar ao mar com uma rolha tampando um buraco no casco do seu navio. Vai
funcionar por algum tempo, mas quando a pressão aumentar, a rolha não irá
aguentar.
Não queremos que você tropece ou afunde. Queremos que seu
casamento seja uma arca que pode resistir a qualquer tempestade que você encontrar.
Enquanto trabalhava no projeto do seu casamento no capítulo anterior, você
talvez já tenha reconhecido alguns problemas que precisa tratar antes de poder
avançar com aquilo que visualizou. Portanto, vamos procurar cada falha que pode
atrapalhá-lo cujas raízes são o egoísmo, o orgulho e a ofensa. Vamos nos
libertar de toda maldição que nos acorrenta e de todo medo que nos amarra e
deixar que a esperança seja nossa âncora.
NOSSO COMEÇO
Sabemos que limpar o convés é importante porque não foi
assim que iniciamos nossa jornada juntos. Não prestamos muita atenção durante o
aconselhamento pré-nupcial. Quando nosso conselheiro tentou nos aconselhar
sobre como navegar nas águas turbulentas dos conflitos, pensamos: Brigar?
Nunca vamos brigar! Deus nos uniu. Este conselho é para pessoas que não estão
apaixonadas como nós. Nós não somos essas pessoas. A mão de Deus está sobre
nossas vidas.
Depois de apenas algumas semanas de casamento, os
problemas começaram. Não demorou muito para entendermos o quanto estávamos errados.
Havíamos entrado no casamento enxergando nosso cônjuge como alguém perfeito,
mas logo ficamos cada vez mais conscientes de todas as falhas um do outro.
Então começamos a trabalhar duro para mudar um ao outro. Em resultado disso,
nosso casamento feliz se tornou um campo de batalha entre duas pessoas com
muita força de vontade. As fagulhas voavam enquanto ferro tentava afiar ferro.
Ainda não tínhamos a consciência de que nossa união era
na verdade fraca e frágil. Sim, estávamos profundamente comprometidos um com o
outro, mas cada um de nós valorizava excessivamente o próprio caráter,
especificamente nas áreas da paciência e do altruísmo. Tínhamos mais problemas
do que gostaríamos de admitir, e até o que era bom precisava ser fortalecido
para resistir aos desafios que estavam por vir.
Em vez de permitir que Deus limpasse nosso convés,
queríamos apenas limpar um ao outro. O casal que acreditava ser um par
perfeito havia acordado do sonho. Ainda fingíamos que tudo estava bem quando
íamos à igreja, mas nossa vida doméstica começava a se parecer mais com uma
disputa de luta livre.
Durante nosso primeiro ano de casamento, houve um dia em
que estávamos envolvidos no que alguns chamariam de “comunhão intensa”. John
não queria que eu (Lisa) saísse do quarto, então ele me disse para sentar na
nossa cama. Eu queria sair do quarto antes que pudesse dizer qualquer outra
coisa da qual me arrependeria logo de manhã. John disse para eu me sentar, e
quando eu já estava me levantando para sair, ele tentou fazer com que eu me
sentasse na cama para discutirmos as coisas. A combinação do meu movimento
levantando e o empurrão de John me fez cair no chão.
Levantei-me e fiquei de pé, segurando um abajur na mão.
John olhou para mim incrédulo, com um olhar de terror no rosto.
— O que você vai fazer com isso? — ele perguntou.
— Não sei — resmunguei.
O ridículo daquela cena criou uma oportunidade para nós
dois nos acalmarmos e conversarmos sobre o problema, mas a raiz do problema
continuou sem solução.
Alguns dias depois desse episódio, eu estava almoçando
com uma de minhas amigas. Ela estava casada há mais tempo que eu, e me senti
relativamente confortável em me abrir com ela sobre meus problemas
matrimoniais. Mas em vez de contar os detalhes do incidente com o abajur,
decidi fazer uma abordagem mais sutil. Perguntei de forma casual:
— Você já teve um desentendimento com seu marido e de
repente se viu com um abajur nas mãos?
Ela me olhou como se a pergunta fosse absurda:
— Não!
Respondi depressa:
— Nem eu!
Obviamente, eu estava mentindo. Minha amiga provavelmente
conseguiu deduzir que a minha pergunta supostamente aleatória era um grito de
socorro. Mas a máscara conjugal nos impediu de levar a conversa adiante.
John e eu sentíamos como se não tivéssemos para onde ir.
Sérios problemas estavam surgindo em nosso casamento, mas não sabíamos a quem
recorrer. Na igreja, escondíamos nossas dificuldades e mascarávamos nossa dor.
Sabíamos que o grau de conflito no nosso relacionamento estava aumentando, mas
não sabíamos como responder a isso. A vergonha e falta de esperança
provenientes da nossa situação fizeram com que as coisas fossem de mal a pior.
Consequentemente, a tensão em nossa casa se tornou insuportável.
E então aconteceu. Nosso conflito chegou ao ápice quando
eu (John) bati em Lisa. Antes desse incidente, nossas brigas eram físicas – eu
já a empurrara uma vez – mas essa foi a primeira vez que dei um tapa nela.
Imediatamente, percebi o que havia feito e fiquei completamente horrorizado com
meu comportamento e consumido pelo remorso. Lisa revidou e depois se trancou no
banheiro. Ambos fomos nos deitar naquela noite sentindo que algo havia se
perdido.
Na manhã seguinte, enquanto nós dois nos preparávamos
para sair para o trabalho, Lisa estava em silêncio e cada vez mais distante.
Parecia que a inviolabilidade e a confiança do nosso relacionamento haviam sido
rompidas. Ambos estávamos trabalhando em tempo integral, e à medida que a
semana passava, a distância entre nós aumentava. Lisa estava trabalhando com
vendas naquela época, e começou intencionalmente a ficar fora até tarde,
olhando as vitrines da região para evitar ter contato comigo. Quando finalmente
ela voltava para casa, recusava-se a falar ou a jantar comigo e ia direto para
a cama ler. Eu estava esperando ansiosamente pelo fim de semana para que
pudéssemos finalmente resolver o que havia acontecido.
MEU JURAMENTO
Quando era jovem, eu (Lisa) havia feito um juramento de
que se meu futuro marido algum dia me batesse, eu o deixaria. Fui criada em um
lar desequilibrado e ficava aterrorizada com a possibilidade de me encontrar em
outra situação abusiva. Quando John me bateu, lembrei-me do meu juramento e fui
confrontada com uma decisão que poderia transformar minha vida. Será que
conseguiria permanecer casada? Será que conseguiria amar e me entregar a um
homem que havia me batido?
As pessoas com quem eu trabalhava sabiam que algo estava
me perturbando profundamente. Uma de minhas supervisoras supôs o que havia
acontecido. Ela me encorajou a deixar John imediatamente, sem conversa. Eu
estava esperando o fim de semana chegar para poder trancar John do lado de fora
da casa. Além de falar com meus colegas de trabalho, eu estava lendo o livro do
Dr. James Dobson O Amor Tem Que Ser Firme, que me inspirou a elevar a
situação ao nível de uma crise.
Quando John voltou para casa naquela noite, ele não
conseguiu entrar no apartamento. Eu havia trancado a porta por dentro e ele não
tinha como entrar. Isso foi antes dos telefones celulares, de modo que ele
ficou do lado de fora e chamou: “Lisa, cheguei. Por favor, deixe-me entrar!”
Acabei abrindo uma janela para informá-lo de que eu sabia que ele havia
chegado, mas que ele precisava encontrar outro lugar para passar a noite. John
não conseguia acreditar. Depois de algum tempo, ele percebeu que não entraria
em casa, então decidiu passar a noite com um amigo, com o pretexto de orar e
jejuar.
Agora que eu tinha a casa toda para mim, decidi ter uma
conversa séria com Deus. Creio que minha oração começou mais ou menos assim:
“Tudo bem, Deus, tenho algumas sugestões para o Senhor. Enquanto John está
fora, ele precisa ter uma revelação do quanto tem sido terrível comigo. Talvez
o Senhor possa dar a ele um sonho mau ou assustá-lo com um relâmpago. Apenas
não o mate porque ele não tem um seguro de vida muito bom”.
Mas por mais que eu orasse sobre John, a única pessoa a
respeito de quem Deus queria falar comigo era eu mesma. Deus não estava
interessado em discutir os problemas de John comigo. Ele queria falar sobre
como estava o meu coração. Ele me disse: “Lisa, você precisa de uma
intervenção sobrenatural no seu casamento. E se quiser uma intervenção
sobrenatural no seu casamento, você terá de agir sobrenaturalmente. Isso
significa que você deve perdoar mesmo achando que o perdão não é merecido”.
“Lisa”, Deus continuou dizendo, “você está
guardando todas as suas mágoas contra o John”.
GUARDANDO MÁGOAS
Quando John e eu brigávamos, não brigávamos apenas sobre
o problema imediato. Usávamos a munição acumulada nos nossos meses de casamento
para diminuir e desacreditar um ao outro. Um registro sempre crescente de
ofensas, condenação e amargura era o fundamento para todos os desentendimentos.
Até as discussões menores evoluíam para o que pareciam batalhas de proporções
épicas.
Eu, a maior culpada nesses longos conflitos, não estava
disposta a perdoar John e suas ofensas passadas. Por causa da mágoa que eu
havia trazido para o nosso relacionamento, eu temia a possibilidade de que, se
eu cancelasse as dívidas dele, poria em risco minha segurança emocional e
física. Mas Deus me disse que embora John estivesse longe de ser perfeito, ele
merecia meu perdão.
Continuei tentando dirigir a atenção de Deus novamente
para John, mas Ele não estava cooperando. Supliquei “Por que sou sempre eu que
tenho de mudar? Espero que o Senhor esteja dizendo a John para fazer o mesmo
porque ele não vai mudar a não ser que o Senhor diga a ele para fazer isso”.
Mas em meio a tudo isso, Deus estava revelando a
corrupção do meu próprio coração. O orgulho e o egoísmo logo surgiram com suas
consequências terríveis. Eu me vi pensando em como as pessoas reagiriam se John
e eu não estivéssemos sentados juntos ou de mãos dadas na igreja no domingo.
Decidi que permitiria que ele voltasse para casa apenas a tempo de se vestir e
me levar para a igreja, para que pudéssemos manter as aparências. Eu não estava
preocupada com John ou com nosso relacionamento. Estava preocupada com o que as
outras pessoas pensavam a nosso respeito. Meu orgulho estava me impedindo de
experimentar o efeito transformador da graça de Deus exatamente onde eu mais
precisava dela.
Finalmente me quebrantei e permiti que Deus fizesse Sua
vontade no meu coração. Mesmo depois do terrível erro de John, escolhi
reconhecer a minha parte no que havia ocorrido. Assim que eu me humilhei, a
graça de Deus se manifestou. A humildade sempre abre as comportas da graça:
“Deus se opõe aos orgulhosos, mas concede graça aos
humildes.” 1 Pedro 5:5
Ficou evidente para mim que eu não podia mudar John. Só
Deus poderia fazer isso. Mas eu podia permitir que Deus mudasse a mim mesma.
Depois daquele fim de semana fora, John voltou para casa
um homem diferente. Depois que Deus tratou com ele nos primeiros anos do nosso
casamento, ele nunca mais me bateu – e hoje fazem mais de três décadas desde
que isso aconteceu. Nossa união foi transformada quando ambos respondemos com
humildade diante de Deus e diante um do outro com esperança de uma restauração
e reconciliação completas.
MORAL DA HISTÓRIA
Gostaríamos de poder dizer que as feridas daquele período
de nossas vidas se curaram da noite para o dia, mas não foi assim. Os dois anos
seguintes do nosso casamento continuaram a ser marcados por grandes lutas e dificuldades
emocionais enquanto tentávamos aprender a viver juntos de uma maneira que
honrava a Deus. Ouvimos todo tipo de conselhos, que variavam desde ambos sermos
o chefe até Lisa desaparecer completamente tanto na sua voz quanto no seu
papel.
Na nossa imaturidade, frequentemente atacávamos um ao
outro verbalmente enquanto Deus estava fazendo uma obra em nossas vidas
individuais. Saímos dos nossos quatro primeiros anos de casamento nos sentindo
extremamente quebrantados. Em alguns aspectos, vivíamos as consequências dos
nossos erros. Havia até mesmo evidências físicas ao nosso redor dos fracassos
que vivemos, inclusive uma geladeira amassada e uma janela substituída. Mas
Deus não perdeu a esperança em nós. Ele estava redimindo os nossos erros
transformando-os em oportunidades de limpar o convés. O que o inimigo havia
preparado para destruir nosso casamento, Deus usou como alicerce para o que
estava por vir.
Embora sempre tenhamos dito que tivemos dificuldades,
nunca entramos em tantos detalhes assim nos nossos ensinamentos. Estamos
compartilhando mais informações agora não como uma desculpa para o nosso
comportamento, mas para encorajar você a saber que a mudança pode acontecer. Ao
mesmo tempo, sabemos que nem todo abuso tem final feliz, e não estamos incentivando
nenhuma mulher ou homem a permanecer em uma situação onde eles ou seus filhos
não estejam em segurança. Se você está nessa situação, vá para um lugar seguro.
Não se envergonhe. Fique em segurança e procure a ajuda que necessitar.
Falaremos mais sobre isso em breve.
Durante esses anos desafiadores, nosso casamento parecia
completamente destituído de esperança. Trinta anos depois, porém, estamos
desfrutando a vida juntos mais do que nunca. Nosso casamento é maravilhoso, o
que é verdadeiramente um testemunho do poder de Deus de operar milagres. Isso
não quer dizer que não passamos por outros vales ao longo do caminho. Mas de
uma coisa sabemos: à medida que escolhemos amar, Deus foi fiel para nos fazer
atravessar cada um deles.
Não sabemos como está seu relacionamento hoje, mas
podemos lhe garantir que há esperança! Volte seu coração para Deus e permita
que Ele trate com você. Você não pode mudar seu cônjuge, mas Ele pode. Entregue
a responsabilidade a Ele. Deus começará uma linda mudança se você permitir.
UMA PALAVRA SOBRE
ABUSO
Queremos deixar isto claro: marido, nunca é aceitável que
você parta para o embate físico com sua esposa. A Bíblia diz que você deve
honrá-la como o vaso mais frágil (ver 1 Pedro 3:7). Os ataques emocionais ou
até físicos de sua esposa não lhe dão o direito de reagir da mesma maneira.
Afaste-se se for preciso. Não reaja fisicamente, ainda que seja apenas em
retaliação aos ataques dela, ou você perderá a confiança de sua esposa. Ela não
se sentirá mais segura nos seus braços. Se você cometeu abuso contra sua
esposa, arrependa-se imediatamente diante de Deus e peça perdão a ela.
Esposa, o desejo natural do seu marido é protegê-la. Deus
deu a muitos homens uma força superior com esse propósito específico. Você pode
considerar ataques físicos a seu marido como ataques de raiva banais e
inofensivos, já que eles não causam danos físicos a ele. Mas para seu marido,
seus ataques são devastadores. Certo ou errado, os homens foram feitos para
reagir fisicamente quando são atacados. Não queremos provocar ou despertar o
pior um no outro; queremos trazer para fora o melhor. Se você cometeu abuso
contra seu marido, arrependa-se e pare imediatamente com esse comportamento.
Talvez você tenha crescido dentro de uma cultura familiar
violenta. Talvez em sua família o abuso verbal, emocional ou físico fosse algo
normal. Queremos que você saiba que essa nunca é uma maneira saudável de
resolver os conflitos. O aconselhamento cristão pode lhe dar as ferramentas
necessárias para resolver os desafios de sua vida pessoal e familiar de forma
saudável. Muitas igrejas oferecem pequenos grupos de estudo sobre esses temas.
Jamais sinta vergonha de procurar ajuda profissional e espiritual.
E isso vale tanto para maridos quanto esposas: se seu cônjuge se sente inseguro com relação a você, saia de perto dele e trabalhe para recuperar essa confiança. Não tente forçar uma conversa em qualquer ambiente onde ele ou ela se sinta em risco. Se fizer isso, as coisas só irão piorar, e você provavelmente fará algo que lamentará mais tarde.
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