CONHECER PARA
RESPEITAR
Um grande desafio para banir a desigualdade e a discriminação do cotidiano escolar
Nas considerações de Paulo Freire, “você, eu, um
sem-número de educadores sabemos, que a educação não é a chave das transformações
do mundo, mas sabemos também que as mudanças do mundo são um quefazer educativo
em si mesmas. Sabemos que a educação não pode tudo, mas pode alguma coisa. Sua
força reside exatamente na sua fraqueza. Cabe a nós pôr sua força a serviço de
nossos sonhos.”
Faz-se necessário compreender a educação como
transformação social, oportunizar aos nossos al unos desde a educação infantil
serem sujeitos construtores da própria história. A escola deve educar para a
vida desde bem cedo, daí a importância de se trabalhar na escola questões como:
a desigualdade social, a discriminação racial e a diversidade cultural;
oportunizando aos alunos a quebra de paradigmas desde cedo, reconstruindo
valores e verdades a respeito do outro, respeitando as diferenças sociais,
culturais e raciais no seu cotidiano.
É imprescindível, a escola atual, trabalhar de maneira
eficaz a matriz africana no seu currículo. Pois a História africana, sua
formação e delineamento da identidade cultural afro-brasileira, é de suma
importância no cenário educacional, pois será interpretando e recriando as
práticas de outras culturas, que os alunos irão ter possibilidades de conhecer
e assim respeitar o outro.
Herdeiros de uma escola que sempre privilegiou, em grande
parte de sua trajetória, conteúdos eurocêntricos, vivemos
hoje a urgência de rever conteúdos e temas formativos em nossos bancos
escolares. Dessa maneira, conhecer e refletir sobre os costumes e tradições, as
práticas e as representações culturais, a mitologia e a religião, a linguagem e
as escritas, a resistência e as lutas, a memória e a história do povo africano;
assim ensinar, aprender, refletir e debater sobre as identidades, é um
exercício fundamental para o combate à intolerância, à discriminação, à
xenofobia, ao racismo.
A importância de se discutir tais questões no âmbito da
educação é atestada pela amplitude e incidência de crimes e violência no
Brasil. Estes ocorrem no contexto de uma história e uma cultura que favorece a
violências de todo tipo. Tratar a discussão sobre a cultura afro-brasileira, como
matéria/disciplina, significa dar um passo importante para reduzir as
desigualdades e a violência que marcam nosso país e o cotidiano escolar. A luta
contra o preconceito é tanto política quanto acadêmica.
Para a Unesco, debater essas questões em sala de aula é
fundamental, é primordial que ensinem aos estudantes que todas as pessoas são
iguais, independentemente da cultura ou até mesmo de sua cor. Um dos
compromissos dos países-membros da Organização das Nações Unidas é garantir o
cumprimento da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, adotada pelo
Brasil e todos os outros Estados – membros da ONU em 2015. Entre os 17
objetivos globais da agenda, está a garantia de ambientes de aprendizagem
seguros e não violentos, inclusivos e eficazes, e a promoção da educação para a
igualdade e os direitos humanos.
A Carta Magna Brasileira prevê, no Art. 3.0, inciso IV,
que constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, dentre
outros, promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor,
idade e quaisquer outras formas de discriminação. Prevê, ainda, em seu Art.
206, no que tange ao direito à educação:
I – igualdade de condições para o acesso e permanência na
escola;
II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar
o pensamento, a arte e o saber;
III – pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e
coexistência de instituições públicas e privadas de ensino.
Neste sentido, a política de
educacional é imprescindível, é na educação básica que as crianças podem
tornar-se seres mais esclarecidos e livres para entender o mundo, sem
imposições. Para o alcance dessas propostas, é necessário, implementar a
educação sobre os temas dos direitos humanos e da diversidade na formação
inicial e continuada, oferecida por faculdades e universidades; disponibilizar
material didático-pedagógico para auxiliar os profissionais de educação na
abordagem destes temas; e realizar pesquisas para o monitoramento e avaliação
desse trabalho. Penso que os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) [BRASIL,
1997] são propostas do Ministério da Educação e do Desporto (MEC), datadas de
1997, 1998 e 1999, para a abordagem curricular da educação básica, com o
objetivo de serem um referencial comum para a educação de todos os Estados do
Brasil, não é suficiente, pois muitos professores têm tido dificuldades em
aplicar as sugestões apresentadas por eles, o trabalho interdisciplinar ainda é
um desafio no cotidiano escolar, sendo necessário políticas educacionais que
atendam a regionalidade de cada lugar no Brasil. Desse modo, verifica-se que a
Nova Lei de Diretrizes e Bases (LDB) de 1996, como os Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCNs) de 1997, enfatizam a ideia de diversidade cultural, múltiplos
olhares sobre a cultura e a História do patrimônio material e imaterial do
Brasil. Nos permitindo, como professores ampliar estes temas, incorporando
leituras críticas de textos em sala de aulas, resgates de lendas e tradições
regionais, pesquisas de fontes históricas, estudo de textos literários,
possibilitar discussões a respeito da diversidade cultural, narrativas
cotidianas. Mas isso só será viável pedagogicamente, se Escola, Docentes e
Alunos estiverem abertos para a realidade da comunidade escolar, pelo saber
adquirido a partir das vivências e tradições da mesma.
Quando a escola aborda a questão racial, cultura
afro-brasileira, numa perspectiva plural, ela mostra ao aluno que tudo o que
existe na nossa sociedade são construções culturais, e que elas mudam ao longo
do tempo. Dar essa perspectiva histórica ao aluno, de que nem sempre foi assim e
nem sempre vai ser assim, faz com que eles reflitam e aí, sim, se tem um ganho
progressivo de liberdade, de autonomia, que são características importantes.
Nesta perspectiva, os PCN’s oportunizam à escola refletir sobre o seu
currículo, sobre as necessidades de sua comunidade escolar quanto à realidade
de diversificar as práticas pedagógicas, pois rompem a limitação da atuação dos
educadores em relação às atividades formais e ampliam um leque de
possibilidades para a formação do (a) educando (a).
A escola pode e deve contribuir na construção de
princípios de igualdade e justiça, culminando assim no desenvolvimento de uma
cultura democrática e participativa. Se queremos uma sociedade mais justa e
igualitária, é sem dúvida na escola que iremos reverter o quadro desolador de
desigualdade. E atitudes preconceituosas e discriminatórias somente podem ser
mudadas por meio da educação – em todos os níveis e modalidades – em direitos
humanos e de respeito à diversidade humana, em todas suas manifestações.
O currículo escolar também é uma outra ação necessária,
pois deveriam dar maior ênfase ao cotidiano escolar, permitir
estudos de Histórias regionais, locais, que incentivassem a formação de uma
identidade cultural e consequentemente nacional; dar ênfase as tradições,
valores, memórias, vivências e uma nova percepção do tempo e do espaço. Levar
esta discussão para o universo escolar é abrir-se para uma educação que vai
além da reprodução de valores, é entender que se deve educar para a crítica às
reproduções culturais, tornar prioridade nas políticas curriculares. Os
professores podem oportunizar, por meio de atividades pedagógicas, a busca
pelas raízes culturais junto aos alunos, através de projetos pedagógicos que
trabalhem educação e cultura. No que se refere à contribuição africana é
evidente, principalmente, na culinária, dança, religião, música e língua. Deste
intercâmbio cultural formou-se a cultura afro-brasileira, sendo visível à influência
africana em todos os aspectos da sociedade brasileira, em diálogo com valores
humanos de várias etnias e grupos sociais, imprimimos valores civilizatórios de
matriz africana à nossa brasilidade que é plural. É imprescindível trabalhar
esses temas no cenário educacional, iniciando desde a educação infantil até ao
Ensino Médio; além do Ensino superior. Para assim edificarmos valores
essenciais para a vida e na vida! E assim, estarmos contribuindo por uma
educação crítico social no cumprimento das leis: 10.639/03 e 11.645/08.
É cumprir nosso papel social, enquanto professores,
fortalecendo nossa identidade social, para que nossos alunos conheçam e
reconheçam o espaço em que vivem, proporcionando mudanças no seu modo de
entender a si mesmo, entender os outros, as relações sociais e a própria
História; entendendo que saber sua história é saber narrar a si mesmo e ao
outro; é ser sujeito de sua própria história, um agente ativo na sociedade, um
sujeito capaz de pensar e transformar, exercendo sua plena cidadania. A ideia
de educação deve estar intimamente ligada às de cultura, liberdade, democracia
e cidadania.
É importante refletir esta questão, como a Cultura se
traduz em experiências escolares? Qual a imagem que os alunos têm de si mesmos,
de seu lugar, de seu país, do mundo em que vivem? É preciso, enquanto
professores, buscarmos esse olhar, essa identidade, esse sujeito capaz de
transformar a sua realidade a partir do conhecimento obtido. Oportunizar ao
aluno a busca de suas raízes, em relembrar coisas do passado, seja na família
ou comunidade, na cidade ou região, tornando a história viva;
tornando-se sujeitos de sua própria História, sendo capaz de transformá-la de
maneira crítica e consciente, propiciando a sociedade cidadãos críticos, transformadores
e sensíveis ao meio em que vivem.
A cultura é plural, implica sujeitos, valores,
manifestações artístico-culturais e materiais, imaginário social, identidade,
conhecimento, relações de poder, religião, etc. ; possibilitando assim várias
possibilidades de projetos interdisciplinares, girando em torno de grandes
temas, como: Identidade e Pluralidade; Cultura de massa e Consumo; Patrimônio e
Herança Cultural; Cultura e Cidadania. Todos estes temas estão interligados,
valorizando a cultura no cenário educacional. Assim sendo, a cultura configura
um mundo de símbolos, que atribui significados e delimita a forma como se lê,
se sente, se vive; definindo a maneira de ser e de agir do indivíduo.
Nessa perspectiva, o ensino aprendizagem oportuniza um
espaço – tempo de reflexão crítica acerca da realidade social e, sobretudo,
referência para o processo de construção das identidades destes sujeitos e de
seus grupos a qual pertence, o que é determinante na construção da leitura de
mundo deste aluno. Para uma boa prática, é necessário conhecer e fortalecer a
identidade social, possibilitando ao aluno conhecer e reconhecer o espaço onde
vivem, pertencer e se apropriar do mesmo no decorrer da sua História,
promovendo a troca de significados e vivencias. Incentivar a diversidade
cultural, o conhecimento e respeito a cultura do outro, fortalecer a memória e
novos saberes, conhecer tradições e o lugar em que vive. Conhecer para
respeitar! Aprender a ser, só é possível quando existem trocas de saberes,
partilha de experiências e situações instigadoras. Assim, vamos gerar cidadãos
capazes de mudar e transformar o lugar em que vivem, sem precisar mudar de
lugar.
A História das populações indígenas e afro brasileira, é
de suma importância de ser compreendida e vivida na atualidade; como meio de
conscientização e valorização do passado dos povos indígenas e africanos,
oportunizando ao aluno a reflexão e o respeito às diferenças culturais em nosso
país. A promulgação da Lei 10.639/03, alterando a LDB, estabeleceu a
obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira” no
currículo oficial da rede de ensino da educação básica, oportunizando a
visibilidade e o reconhecimento da cultura e memória do povo africano e suas
experiências, na sociedade brasileira ao longo da História. A
mesma lei foi novamente alterada pela de n. 11.645/08, com a inclusão da
temática indígena nas escolas, em uma abordagem que possibilita ao aluno dos
ensinos fundamental, médio e superior, ter uma visão crítica à imagem dos povos
indígenas, sua diversidade étnico-cultural, sua história e presença na
atualidade.
Desta forma, a escola deve reconhecer e valorizar a
história e a cultura africana, a afro-brasileira e a indígena, que são
imprescindíveis para o ensino da diversidade cultural no Brasil. Trata-se de um
momento em que a educação brasileira busca valorizar devidamente a história e a
cultura de seu povo afrodescendente e indígena, buscando assim desconstruir
paradigmas racistas e eurocêntricos da memória e História desses povos, que
devem ser reconhecidos e respeitados. A escola deve educar para a vida e na
vida, desde bem cedo, entendendo a sociedade como um espaço de realizações
instigando no aluno a formação de uma consciência crítica e cidadã. Para isso,
será necessário, que a escola tenha clareza de seu currículo, de sua proposta
pedagógica, de seu sistema de avaliação no processo de ensino e de
aprendizagem, na ação educativa; discutindo-a, e colocando como perspectiva a
possibilidade de mudar essa realidade, repensar a formação de homens capazes de
transformar, caracterizada pela ação transformadora do mundo.
Compreender que o homem é um ser histórico, capaz de
construir sua história participando ativamente com os outros no mundo. Uma
educação transformadora, é capaz de promover mudanças por meio da leitura do
espaço; o qual traz em si todas as marcas da vida dos homens, construído
cotidianamente e que expressa tanto as nossas utopias, como os limites que nos
são postos; é oportunizar a reflexão sobre o papel de sujeitos de nossa
História, mobilizando para os caminhos de acesso ao conhecimento, associada a
cultura, leitura crítica da realidade, desafiando-nos para que percebamos que o
mundo pode ser mudado, transformado, reinventado.
A escola tem como desafio nos dias atuais, a formação do cidadão, para que este tenha conscientemente participação social, política e atitudes críticas diante da realidade que vive, oportunizando uma atuação e transformação da realidade histórica na qual está inserido. É imprescindível, que a sociedade e o Estado, percebam e assumam que a escola é uma instituição social plural, que se educa para a vida e para a cidadania. Se fazendo necessário, repensar o significado da transformação social no cenário educacional e assim buscar para o nosso país. Assim, um dos desafios da educação é inspirar, criar e recriar possibilidades de lutas contra o preconceito, a violência, a alienação, o autoritarismo, enfim uma nova ressignificação da atuação pedagógica para aceitar e incluir as diferenças do outro, das nossas próprias diferenças e assumir uma postura diante das diferenças produzidas ao longo da História da Humanidade.
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