A CASA FAVORITA DE DEUS

CAPÍTULO 1 – A CASA FAVORITA DE DEUS
Eu nunca havia percebido que Deus tinha uma casa favorita, até aquele verão em que levei minha família em uma excursão para onde tinha sido meu lar na infância. Tínhamos de ir para a minha cidade natal, West Monroe, Louisiana, para ver meu avô de qualquer maneira. Como já estávamos na cidade, certa tarde quente de Louisiana, coloquei minha família em nossa ‘van’ para um tour na vizinhança da casa onde eu fora criado.
Algumas pessoas diriam que não há nada demais em West Monroe, mas ela é especial para mim, porque ali era o meu lar. Vivíamos numa casa branca, coberta de madeira, na rua Slack, 114. A enorme árvore de magnólia, numa das extremidades do jardim de frente, ainda está lá (elas são as melhores árvores para garotinhos escalarem). O carvalho da outra extremidade, porém, já se fora há muito tempo (estas não são tão boas para escalar). Cada esquina parecia armazenar outra memória comovente que eu, fascinado, tinha de compartilhar com a minha família à medida que lá passávamos. Mostrei o lugar pelo qual ia à escola e descrevi tudo o que acontecia ao longo da nossa rota (completamente inconsciente dos bocejos mal escondidos da minha plateia).
Quando saímos do carro em frente à casa, mostrei o córrego onde o valentão da vizinhança, Clint, e eu, tivemos uma briga depois que ele chamou minha irmã de um nome feio. Na época, ela parecia uma batalha de proporções bíblicas, mas a curta versão dela é que eu dei um soco no nariz do Clint, e ele me atingiu “com um no estômago, e ambos fomos para casa chorando.
Eu amava a casa onde vivi e fui criado. Naturalmente, presumi que meus filhos a amariam também. Era óbvio para mim que ninguém estaria em casa naquela tarde, mas cidades do norte da Louisiana compartilham uma camaradagem e um tradicional código que abre espaço para um “tour da herança”. Eu não sabia quem era o atual dono da casa, mas, realmente, não achei que alguém ficaria aborrecido se a “equipe dos Tenney” excursionasse pela propriedade.
EU TINHA MEMÓRIAS PODEROSAS DA MINHA CASA FAVORITA
A grande excursão começou com histórias sobre o jardim da frente, suficientes para gastar pelo menos trinta minutos. Eu tinha muitas memórias nostálgicas sobre o que acontecera na minha casa favorita, e queria que meus filhos tivessem o próprio senso de tradição e uma conexão histórica com aquela casa.
Vagarosamente, fizemos nossa trajetória ao redor da casa, enquanto eu mostrava os locais históricos mais importantes e relembrava velhas histórias sobre a vida no “paraíso”. À medida que passamos pelo portão da varanda dos fundos, contei para os meus filhos sobre o dia em que o cachorro mordeu o entregador. Eu nunca tinha visto um entregador dançar tão habilmente com pacotes nos braços. Meu cachorro não era, na verdade, um grande cachorro, mas ele inspirou aquele homem suficientemente para motivá-lo a fazer uma dança rápida, digna de um prêmio, atravessando aquele quintal. Pessoalmente, achei hilário, mas o entregador não ficou nada feliz.
MINHA FAMÍLIA TINHA ME ABANDONADO
Eu descrevi a casa de brinquedo no quintal e o meu balanço caseiro feitos na árvore sobre a qual minha irmã conseguira cumprir a profecia da minha mãe, dizendo que ela quebraria o braço. Eu estava realmente começando a me sentir bem com aquela excursão quando, aproximadamente a três quadras do caminho ao redor da casa, olhei para trás e percebi que ninguém estava lá. Pensei: bem, eles encontraram algo realmente interessante e ainda estão espantados com o que viram. Tinha acabado de mostrar o local da sepultura onde minha irmã e eu enterrávamos nossos animais de estimação quando morriam, limão, pensei que talvez eles estivessem tristes ou teriam se encantado com a jardineira onde minha mãe me ensinara a plantar flores.
Quando refiz o mesmo caminho, percebi que minha família havia me abandonado. Eu admito que estávamos no meio de um dia quente da Louisiana, 35 graus lá fora e 100% de umidade; mas será que eles não entendiam que aquele era o pequeno preço que tinham de pagar para entrar no “paraíso”? A verdade é que estavam convencidos de que eu falava um “blábláblá”. Eles haviam voltado para a ‘van’ onde o ar condicionado estava ligado no máximo. Seus rostos demonstravam estado de absoluto tédio enquanto argumentavam sobre qual fita cassete ouvir “enquanto o papai fazia sua pequena viagem de memórias”.
Eu estava ofendido. Não, eu me encontrava mais que ofendido. Sentia-me bravo. “O que há com vocês?” – eu perguntei. “Estou tentando mostrar todas as coisas…”
“Estamos entediados…” interrompeu Andréa, minha filha mais nova. “Papai, esta casa não significa nada para nós”, replicou Natasha, minha filha do meio.
Por um momento, esperei ver raios saindo da nossa ‘van’. Afinal de contas, não se fala de um “terreno sagrado” daquela maneira. Era quase um sacrilégio! Então, minha irreverente filha mais velha disse: “Papai, a única razão pela qual esta casa significa alguma coisa para você é por causa das suas memórias. Nós não temos nenhum passado relacionado a ela”.
Assim sendo, comecei a perceber que minha filha estava certa. Minha família não precisava, necessariamente, se interessar por aquela casa da mesma maneira que eu. Posso contar histórias sobre minha vida quando lá morei, pois estes contos são reais para mim; uma vida. Eles são minha vida guardada nas memórias da minha casa favorita.
POR QUE DEUS QUER RECONSTRUIR AQUELA CASA?
Poucos dias depois, estava olhando vários versos da minha Bíblia quando minha atenção se voltou para esta passagem em Atos 15:16. – (referindo-se a Amós 9:11-12).
“Cumpridas estas coisas, voltarei e reedificarei o tabernáculo caído de Davi; e, levantando-o de suas ruínas, restaurá-lo-ei.”
Pensei comigo mesmo: Por que Deus quer reconstruir aquela “casa”? Por que Ele não deseja construir o tabernáculo de Moisés com toda sua originalidade? Afinal de contas, aquele foi o primeiro lugar de habitação sagrado construído por mãos humanas. E mais do que isso, por que Deus não iria querer reconstruir o templo de Salomão em todo seu esplendor! Por que Deus disse que Ele queria reconstruir o tabernáculo de Davi?
Naquele momento, era como se eu ouvisse a voz do Senhor sussurrar para mim: “Porque esta é a minha casa favorita.” Que declaração! Por que Ele disse aquilo? – Perguntei a mim mesmo. Deus parecia responder pela minha experiência: Por causa das memórias. Eu acredito que Deus tenha algumas memórias de eventos preciosos naquele tabernáculo que não aconteceram em nenhum outro lugar.
Este livro não é sobre uma reprodução mecânica do tabernáculo de Davi, mas discorre a respeito do renascimento da paixão que fez com que ele fosse construído em primeiro lugar. O tabernáculo de Davi era menos estrutura e mais “acontecimentos”. A igreja, hoje, é mais estrutura e menos “acontecimentos”. Essa é a diferença entre uma “casa” e um “lar”. Isso também é o que fez a rua Slack, 114, tão viva para mim e sem importância para minhas filhas.
Se a paixão do coração de Davi pôde ser restaurada, então o próprio Deus vai ajudar no processo de reconstrução do tabernáculo (lugar de habitação). Ele disse isso!
De todos os edifícios, estruturas, tendas e templos que já foram construídos e dedicados a Deus, por que Ele distinguiu o abrigo provisório de Davi no Monte Sião e disse: Este é o que Eu vou reconstruir? A resposta para esta pergunta desafia muitas das nossas ideias mais queridas a respeito do papel da Igreja, transformando minha vida e gerando a mensagem contida neste livro.
O ABRIGO PROVISÓRIO DE DAVI MAL SE QUALIFICA COMO TABERNÁCULO
Como mencionei anteriormente, é curioso como Deus não escolheu reconstruir o tabernáculo ermo de Moisés. Esta é a receita original. O tabernáculo de Moisés é o começo; é o conceito de tabernáculo revelado na sua forma mais primitiva e pura. Por outro lado, muitos de nós iríamos escolher o templo de Salomão com todo o seu esplendor de multibilhões de dólares. Por que Deus não disse que reconstruiria aquela residência real para Ele mesmo?
O abrigo provisório de Davi mal se qualifica como tabernáculo quando comparado com o tabernáculo de Moisés, e, certamente, quando comparado com o templo de Salomão. Este reunia pouco mais que uma lona estendida sobre algumas varas de tenda, para proteger a arca do sol e dos elementos da natureza. Mesmo assim, Deus disse: “Eu vou reconstruí-lo”. Evidentemente, o que impressiona Deus e o que impressiona os homens são duas coisas diferentes.
Ao dizer, “Eu voltarei e reconstruirei o tabernáculo de Davi que estava caído; reconstruirei suas ruínas e o levantarei”, Deus deixa claro que Ele não o derrubou. Este caiu por si mesmo. Isto também indica que o tabernáculo de Davi fora escorado de certa forma pelo homem. Como é que eu sei disso? Pela certeza de que nada que está apoiado ou sustentado pelo Deus Eterno pode cair, porque Ele nunca fica fraco ou cansado.
Deus parecia estar dizendo: “Eu sei que o tabernáculo de Davi era um tabernáculo de homem, e que as mãos do homem se tornaram fracas e cansadas. Então, Eu vou começar um processo que fortalece a raça humana e a traz de volta à mesma casa que Davi tinha. Aquela é a Minha casa favorita.”
DEUS NUNCA SE IMPRESSIONOU COM CONSTRUÇÕES
Por alguma razão, o mundo cristão se esqueceu de que Deus nunca se impressionou com construções. Pastores e membros que se reúnem em estruturas simples, ou abrigos, constantemente batalham por reconhecimento terreno, para serem reconhecidas como uma igreja legítima na cidade.
Provavelmente, alguns complexos de igrejas esplendorosas e multibilionárias na mesma cidade batalham por reconhecimento celestial, para serem identificadas como uma igreja legítima. Nossa afeição por torres e vitrais pode entrar no nosso caminho e impedir a adoração verdadeira. Se for preciso escolher, Deus prefere paixão a palácio! Se você recordar, Davi queria construir um templo, mas Deus lhe disse que Ele não estava interessado. Se você observar mais atentamente nas passagens bíblicas, descrevendo a dedicação do enorme templo de Salomão, verá Deus dizendo coisas tais como:
Sucedeu, pois, que, tendo acabado Salomão de edificar a casa do Senhor […] o Senhor tornou a aparecer-lhe […] e o Senhor lhe disse: Ouvi a tua oração e a tua súplica que fizeste perante mim; santifiquei a casa que edificaste, a fim de pôr ali o meu nome para sempre; os meus olhos e o meu coração estarão ali todos os dias. Se andares perante mim como andou Davi, teu pai […] então, confirmarei o trono de teu reino sobre Israel para sempre […]. Porém, se vós e vossos filhos, de qualquer maneira, vos apartardes de mim e não guardardes os meus mandamentos e os meus estatutos, que vos prescrevi, mas fordes, e servirdes a outros deuses, e os adorardes, então, eliminarei Israel da terra que lhe dei, e a esta casa, que santifiquei a meu nome, lançarei longe da minha presença; e Israel virá a ser provérbio e motejo entre todos os povos. E desta casa, agora tão exaltada, todo aquele que por ela passar pasmará, e assobiará, e dirá: Por que procedeu o Senhor assim para com esta terra e esta casa? Responder-se-lhe-á: Porque deixaram o Senhor, seu Deus […] e se apegaram a outros deuses, e os adoraram, e os serviram. Por isso, trouxe o Senhor sobre eles todo este mal. – (1 Reis 9:1-9).
Quando os discípulos de Jesus comentaram sobre a magnificente beleza do templo de Herodes em Jerusalém, Ele profetizou: “Vedes estas coisas? Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra que não seja derribada” – (Lucas 21:6).
Mas Deus nunca disse tais coisas sobre o tabernáculo de Davi. De fato, Ele falou exatamente o oposto. Ele parece não estar dizendo: “estava caído”, mas sim: “Posso ajudar a levantar as varas de sua tenda uma vez mais? Posso ajudar a restaurar o que o tempo roubou e o que a fraqueza do homem permitiu que viesse a colapso? Eu quero preservar esta casa – as memórias dos ‘encontros com os homens’, aqui, significam muito para Mim.”
Nós queremos encontros com Deus, mas Deus quer encontros com o homem, porque encontros com Seus filhos O comovem. Ele vai “rasgar véus” e interromper o tempo para ter uma visita com Seus filhos. Quando ponho meus compromissos de lado para “tomar um chá” no chão ou na casinha de brinquedo com a Andréa, isto constrói memórias vividas para ela; e isto também constrói memórias preciosas para mim.
DAVI ESTAVA INTERESSADO NA CHAMA AZUL
O componente mais poderoso do tabernáculo de Davi começou muito antes de a verdadeira tenda ser construída. Ele iniciou no coração de Davi, quando ele ainda era um menino pastor nos campos, aprendendo como adorar e comungar com Deus. E floresceu durante sua caminhada para retornar a arca da Aliança ale Jerusalém. Sua jornada é importante para nós porque também é uma figura, para a Igreja em nossos dias, da nossa marcha de retorno à presença de Deus. A passagem seguinte, extraída do meu livro Os caçadores de Deus, descreve os motivos de Davi como o último caçador de Deus dos seus dias:
“Quando Davi começou a trazer a arca da Aliança de volta para Jerusalém, ele não estava interessado na caixa coberta de ouro com os artefatos dentro dela. Ele estava interessado na chama azul que pairava entre as asas estendidas do querubim no topo da arca. Isto é o que ele queria, porque havia algo sobre a chama que significava que o próprio Deus estava presente. E aonde quer que aquela glória ou presença manifestada de Deus fosse, havia vitória, poder e bênção. Intimidade irá produzir ‘benção’, mas a busca de ‘bênção’ nem sempre irá produzir intimidade.”
DEUS FICOU INTENSAMENTE COMOVIDO COM A BUSCA DE DAVI PELA SUA PRESENÇA
De alguma maneira, Davi capturou algo na essência de Deus. Algo que ninguém mais parecia alcançar. Eu não entendo como isso funciona, mas sei que a paixão de Davi pela presença de Deus foi crucial. Somente espero que seja contagiosa. Desde aquela úmida tarde em West Monroe, Louisiana, eu ouvi um sinal do Céu: “Se você a construir, Eu virei.”
Lembre-se de que Davi é o único homem descrito nas Escrituras desta maneira: “Achei Davi, filho de Jessé, homem segundo o meu coração, que fará toda a minha vontade.” – (Atos 13:22).
Estou convencido de que há dois significados para esta frase: “segundo o meu coração”. A interpretação padrão é que Davi era um homem “como” o coração de Deus ou cujo coração era “como” o coração de Deus.
Eu também creio que Davi era um homem que constantemente “buscava” o coração de Deus. Ele era um caçador de Deus, um perseguidor da presença de Deus. Sua determinação de trazer a arca para Jerusalém era uma prova viva do seu intenso amor pela presença de Deus. Essa segunda interpretação é suportada, nos Salmos, pelas descrições incomparáveis de Davi em sua íntima caminhada espiritual com Deus.
Eu não vou entrar em detalhes, mas há muitas similaridades entre o tabernáculo de Davi, o templo que Salomão construiu e o tabernáculo de Moisés.3 O tabernáculo de Moisés e o templo de Salomão caracterizaram três áreas cercadas distintas: o átrio exterior, o Lugar Santo e o Santo dos Santos.
Um grande véu (uma grande cortina no nosso coloquialismo moderno) estava estendido cruzando o tabernáculo para separar o Tabernáculo Santo do Santo dos Santos onde a arca da Aliança descansava.
A arca era uma caixa de madeira, coberta de ouro, construída por Moisés de acordo com instruções recebidas por Deus. Sua tampa era equipada com sólidas figuras de querubins (duas figuras angelicais) de ouro, com asas estendidas, olhando um para o outro. O espaço entre eles era chamado: “propiciatório” (o lugar da misericórdia), e era lá que a chama azul da presença manifesta de Deus pairava (também a glória, shekinah). A arca, o lugar da misericórdia e a chama azul da presença de Deus estavam sempre escondidos atrás do tecido grosso do véu.
Deus nunca gostou daquele véu. Ele precisava tê-lo, mas não gostava dele. Quando Jesus morreu na cruz do Calvário, foi Deus quem rasgou o véu de alto a baixo no templo de Herodes, em Jerusalém. Ele o rasgou de tal forma que nunca mais poderia ser costurado de novo. Ele odiava aquele véu como um prisioneiro odeia a porta de sua cela! Ele representava a parede, a linha de divisão que O separava da humanidade. Até aquele dia no Calvário, Deus tinha de Se esconder atrás do véu para preservar a vida da humanidade caída, que vinha adorá-Lo em Sua santidade.
ESTOU CANSADO DE ESTAR SEPARADO DOS MEUS FILHOS
Talvez o ingrediente que falta é a chave do favor: o tabernáculo de Davi era o único, entre todas estas construções, que não tinha véu.
Esta chave pode começar a desenrolar um dos pedaços mais importantes da sabedoria de todos os tempos: Deus, realmente, não quer estar separado de nós. De fato, Ele fará o possível para destruir as coisas que O separam e O escondem de nós. Deus odeia o pecado porque ele traz separação. Deus foi tão longe a ponto de rasgar o “véu” da carne de Seu Filho no monte Calvário. Ao mesmo tempo, mãos invisíveis rasgaram o véu no monte Sião, para dizer: “Eu jamais quero isto costurado de novo! Estou cansado de estar separado de Meus filhos.” Deus não quer somente horas de visitas com Seus filhos. Ele quer tempo integral! Ele “quebrou a parede mediana da separação.” – (Ver Efésios 2:14).
Agora, estamos começando a coletar algumas pistas que nos dizem por que Deus gostou mais da casa de Davi do que de qualquer outra construída em Seu nome. Moisés seguiu as direções de Deus e construiu a tenda, ou tabernáculo, com paredes suspendidas de tenda, cercadas por uma parede de linho de 4,6 m de altura, numa moldura de madeira, em torno do seu perímetro externo. Em contraste, não havia véu nem paredes de qualquer tipo em torno do tabernáculo de Davi. Nada separava a humanidade da chama azul de Deus na casa da Davi. De fato, a única coisa que cercava a presença de Deus no tabernáculo de Davi eram os adoradores, que ministravam a Ele durante as vinte e quatro horas do dia, sete dias da semana, trezentos e sessenta e cinco dias do ano, por aproximadamente trinta e seis anos!
Durante aquele tempo, se o rei Davi se levantasse no meio da noite com uma insônia da realeza, ele poderia ouvir o cantar, o louvar e o tilintar dos címbalos vindos do tabernáculo. Ele podia olhar na direção da lareira próxima ao seu quarto e ver as sombras de pés se arrastando e dançando ao redor da arca, iluminadas por luzes de velas tremulantes e lamparinas.
Talvez tenha sido naquele tempo que ele escreveu:
“Bendizei ao Senhor, vós todos, servos do Senhor, que assistis na Casa do Senhor, nas horas da noite; erguei as mãos para o santuário e bendizei ao Senhor.” – (Salmos 134:1-2).
Dia e noite, os adoradores encontravam-se, dançavam e adoravam a Deus em Sua presença. Era como se eles estivessem mantendo os céus abertos com suas mãos levantadas. Se Davi olhasse diligentemente, se o ângulo estivesse bem correto e se os adoradores se movessem também desta maneira, ele veria o brilho azul da glória de Deus irradiando entre seus braços levantados e os pés dançantes.
NO TABERNÁCULO DE DAVI, A GLÓRIA DE DEUS ERA VISTA POR TODOS
O tabernáculo de Davi era único. Em todos os outros lugares de adoração onde a arca da Aliança estava abrigada, os adoradores tinham de adorar quem estava atrás do véu sem nunca saber ou ver o que estava lá. Somente o sumo sacerdote poderia se arriscar a ir atrás daquele véu – mesmo assim, apenas uma vez ao ano. Mas, no tabernáculo de Davi, a glória de Deus era vista por todos – não importava se eram adoradores, transeuntes ou ímpios. A adoração sem véu criou visão sem impedimento!
O milagre da “Casa favorita de Deus” pode ser esboçado no desejo de Davi pela presença de Deus. Ele disse: “Como posso pegar a arca de Deus para mim?” Ele agiu sobre este desejo com todo o seu ser. Sua primeira tentativa de trazer a arca da Aliança para Jerusalém terminou em desastre; resultou em uma completa revisão dos métodos de Davi para “lidar com o Santo”. Quando Davi e sua linhagem de levitas e adoradores finalmente chegaram a Jerusalém, após uma viagem árdua de 20 quilômetros a pé, Davi devia estar dançando tanto de alívio quanto de alegria: “Conseguimos!”
Em algum lugar no processo de transportar a arca e honrar a Deus, Davi começou a dar importância às coisas que Deus valoriza. Por outro lado, sua esposa Mical valorizou a dignidade mais do que a Divindade. Ela foi amaldiçoada com a esterilidade, embora o fato de não ter filhos pudesse ser atribuído à sua falta de intimidade com Davi.
Encontros íntimos com Deus são, às vezes, embaraçosos na vida do homem. O panorama da cristandade americana, e de várias partes do mundo, está semeado com igrejas áridas que viraram as costas para a intimidade da adoração. São as Micals dos dias modernos que também têm escolhido valorizar dignidade mais do que intimidade com a Divindade.
Lembre-se de que Davi não estava atrás do ouro; ele tinha muito ouro. Ele não andava atrás da caixa; podia ter outras caixas construídas. Davi não se interessava pelos artefatos da caixa; eles eram boas lembranças das aparições de Deus para os outros muito antes de ele nascer; mas não representavam fascinação para ele. Davi estava buscando aquela chama azul da glória de Deus. Pelas suas ações, Davi estava dizendo: “Eu tenho de aprender a carregar aquela chama azul.”
Podemos construir prédios melhores, criar corais maiores, escrever músicas melhores e pregar melhores sermões – podemos fazer tudo com mais excelência do que antes. Mas se não estivermos carregando a “chama azul”, Deus não estará se agradando. E Ele fará com que igrejas “sem chama” se tornem irrelevantes para os homens como queremos apenas o suficiente de Deus em nosso lugar de adoração para nos dar um formigamento ou fazer um calafrio subir por nossa espinha. Então dizemos: “Oh, Ele está aqui.” A questão é: “Ele ficará”? A questão não é sobre nós, mas sobre Deus.
Tem de haver mais nisto do que emoções e arrepios. Davi não se sentia contente com uma visitação temporária. Ele estava buscando mais, e esta foi a razão pela qual disse aos adoradores levitas: “Vocês não vão a lugar algum. Eu quero você e seu grupo pegando as primeiras três horas. Quanto aos outros, fiquem com a próxima vigia, e vocês, com a terceira.”
Eu anseio pelo dia em que o povo de Deus vai adorá-Lo e honrá-Lo durante vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana – “24/7”. Com raras exceções, os santuários das igrejas são as salas menos usadas nos Estados Unidos e em todo o mundo. Enquanto uma constante multidão de pessoas aflui a lojas de conveniência vinte e quatro horas para estocar necessidades terrenas e passageiras, nossas igrejas mal funcionam duas horas por semana, porque a demanda para seus “produtos” é muito baixa. Devemos cultivar o estilo de vida “24/7” antes que embarquemos em uma estrutura organizada, para que isto não se torne como todas as outras coisas que temos feito – mecânicas.
Este livro não foi escrito para defender artificialmente estacas que mantêm as portas da igreja abertas. Ele é um chamado para a paixão do coração de Davi, um adorador. Seu tabernáculo se tornou a casa favorita de Deus por causa de quem adorava ali! Assim como a rua Slack, 114 se tornou minha casa favorita, não em razão da árvore de magnólia ou da pintura branca e do carpete verde da sala de estar, mas por causa de quem morava lá – Mamãe, Papai e a família.
Deus só quer estar com Seus filhos. Estábulos serão suficientes. Funcionou em Belém e na rua Azusa.5 Qualquer coisa para se aproximar. Se Davi olhasse para o seu humilde tabernáculo e dissesse: “Algum dia, espero fazer melhor”, então Deus responderia: “Uma tenda é suficiente, Davi. Somente mantenha seu coração quente!”
Temos construído lindos santuários com quase ninguém dentro deles, porque, se não há chama, não há nada para se ver. Não há glória shekinah em nossas igrejas, pois temos perdido nossa habilidade de hospedar o Espírito Santo. Por que Deus disse que Ele iria reconstruir a casa de Davi? Eu acredito que seja porque o tabernáculo de Davi não tinha véu ou muros de separação. Deus deseja intimidade entre Ele e Seu povo; Ele quer revelar Sua glória a um mundo perdido e morto. Ele tem de reconstruí-lo, porque as fracas mãos do homem cansaram de manter abertos os portões do Céu com sua adoração e intercessão.
Será que estamos querendo redescobrir o que Davi aprendeu ou já estamos entediados com o “tour da herança” de Deus? Será que já escapamos para a ‘van’ e ligamos o ar condicionado enquanto dizemos: “Isso não significa nada para mim porque eu não tenho nenhuma memória relacionada a este lugar”?
Penso comigo mesmo o que significou para Deus, em toda a Sua glória, poder estar no tabernáculo rústico de Davi, sentar bem no meio do Seu povo, sem véus ou paredes separando-O de Sua criação, pela primeira vez desde o jardim do Éden.
Volte sua face na direção d’Ele agora e Lhe pergunte o que Ele realmente quer. A resposta vai mudar você para sempre.
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