DESENVOLVIMENTO INFANTIL
Os marcos importantes de cada fase nunca devem ser negligenciados, pois os sinais de que há algo errado aparecem sempre no dia a dia e não apenas no consultório médico
À parte o amor que temos pelos filhos, há também uma grande responsabilidade por seu desenvolvimento sadio. Assim, o acompanhamento pediátrico é muito importante, mas o olhar diário da família é imprescindível.
Para além de problemas emocionais e comportamentais, inclusive aqueles que merecem atenção redobrada, há uma pergunta que os pais sempre se fazem: essa aquisição está de acordo com a faixa adequada de desenvolvimento ou existe um atraso?
Algumas áreas podem ser de importância vital no amadurecimento da criança e alguns sinais estão presentes desde os primeiros meses de vida. São alertas que podem ajudar famílias a procurarem profissionais e assim impedir danos maiores aos filhos, antes da entrada no ensino fundamental.
A primeira aquisição que exige atenção diz respeito ao desenvolvimento motor dos bebês. Segurar a cabeça, o tronco, sentar-se e afinal iniciar o andar são etapas esperadas do crescimento que acontecem sucessivamente antes dos 12 ou até 15 meses de idade.
Ao entrar na pré-escola, aos 2 anos, a criança deve ser capaz de subir e descer sozinha uma escada, chutar uma bola com objetivo, assim como aos 36 meses completos deve copiar um círculo desenhado em um papel e andar de triciclo. Não ser capaz de copiar uma cruz ao completar 4 anos, e um quadrado aos 5, assim como abotoar seu casaco, amarrar os cadarços do tênis, usar talheres para comer, não desenhar como esperado para essa idade levantam a suspeita de um problema de coordenação motora. Existem pequenas variáveis no tempo dessas aquisições, devido às oportunidades de treino, mas a avaliação da gravidade em atrasos de mais de 6 meses deve ser feita por profissionais.
No 5º aniversário, a criança é capaz de armar um quebra-cabeça de 4 peças em até 20 segundos, pode abotoar seis botões em até 70 segundos, pula com os pés juntos uma corda, e aos 6 anos avança em linha reta com os olhos abertos, colocando alternadamente o calcanhar do pé que avança contra a ponta do que apoia. Nessa idade também pula bem corda, se equilibra em um pé só por 15 segundos, distingue direita e esquerda e recorta corretamente com a tesoura.
Outra aquisição muito importante é a da linguagem. Bebês muito quietos, que não vocalizem antes dos 12 meses e só falem mamãe e papai no seu segundo aniversário, ou que cheguem aos 3 anos e não formem frases com linguagem compreensível pela maioria das pessoas, devem ser levados para uma avaliação, pois esses atrasos repercutem de modo decisivo na aquisição da alfabetização.
O próprio desenvolvimento cognitivo pode ser avaliado, em parte, pela riqueza e tipo de linguagem que a criança utiliza e também por seus desenhos, mas entre 3 e 4 anos espera-se que já domine algumas formas e, no final desse período, seu desenho tenha intenção clara de reproduzir um ser humano reconhecível, com cabeça, pernas, braços e tronco. Estimular essas formas de linguagem é muito importante também para o incremento de novas habilidades indispensáveis para a escolarização.
Por volta dos 6 anos, a criança já recorda uma historinha, sabe explicar um fato ocorrido, fala articulando muito bem todos os sons, ordena objetos de acordo com determinada qualidade (grossura, cor, tamanho). Reconhece os números de 1 a 10 associando-os com as quantidades que representam e faz somas simples. Distingue palavras escritas singelas como seu nome, mamãe e papai.
Até completar 7 anos, é capaz de explicar o porquê de um raciocínio seu, e as diferenças principais entre um homem e um cachorro, por exemplo. Faz analogias (por exemplo: um irmão é um menino, uma irmã é…), conta moedas fracionárias e notas de dinheiro, mostra rápida progressão do pensamento. É um ser curioso, de lógica concreta e pronto para a alfabetização e os desafios escolares.
Voltando à fase de bebê, ressalto a importância do aspecto social. Aos 3 meses a criança de desenvolvimento adequado mostra interesse pelo rosto das pessoas que cuidam dela, por objetos em movimento, e até os 6 meses deve reconhecer a mãe de modo especial, demostra curiosidade por coisas, e aos 9 meses mostra sentir angústia perto de estranhos enquanto em seu rosto já se percebem expressões variadas de acordo com a situação vivenciada.
Ao assoprar a primeira velinha, uma de suas brincadeiras favoritas consiste em brincar de se esconder com sua mãe, mostra preferência por um ou outro brinquedo, enquanto engatinha ou anda explora o espaço a sua volta. Perto dos 2 anos, a criança estabelece contato visual mais continuado, sorri quando alguém sorri para ela, responde ao ser chamada, imita ações e compartilha interesses. Aos 3 anos já brinca em grupo de crianças e procura se enturmar. Por volta dos 6 anos é esperado que tenha um melhor amigo e prefira brincar sozinha ou com dois ou três companheiros da mesma idade do que em grupos numerosos.
É conhecendo nossas crianças e observando seu desenvolvimento que as tornamos aptas aos primeiros desafios da vida. Qualquer atraso no desenvolvimento até essa fase é de suma importância, deve ser avaliado por profissionais, pois vai atuar de modo a prejudicar todo o aproveitamento pessoal e acadêmico subsequente, além de diminuir sua autoestima e ter repercussão na sua segurança emocional.
MARIA IRENE MALUF – é especialista em Psicopedagogia, Educação Especial e Neuroaprendizagem. Foi presidente nacional da Associação Brasileira de Psicopedagogia – ABPp (gestão 2005/07). É autora de artigos em publicações nacionais e internacionais. Coordena curso de especialização em Neuroaprendizagem. irenemaluf@uol.com.br
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