CIBERSEXO: PORNOGRAFIA SEM FRONTEIRAS
Pouco se sabe sobre as causas da dependência de sexo virtual, sendo sugeridas algumas possibilidades: experiências de condicionamento, predisposição genética aos transtornos do controle dos impulsos, transtornos do humor e histórico de traumas

Considera-se o cibersexo um fenômeno contemporâneo crescente, com poucos estudos conduzidos até o momento. Além disso, não há consenso na literatura quanto à classificação diagnóstica. Discutia-se, até então, a inclusão deste possível transtorno no DSM-V como uma psicopatologia específica (vinculado ao transtorno de hipersexualidade).
O usuário de sexo virtual que apresenta dependência compromete o seu bom funcionamento em diversos aspectos: liberdade de escolha, presença de cognições saudáveis (observa-se componentes obsessivos), comportamentos adaptativos (o dependente apresenta ações compulsivas) e relacionamentos saudáveis (é comum a presença de altos índices de isolamento).
Os sintomas de um dependente de sexo virtual são semelhantes aos de outras dependências tecnológicas (sintomas a seguir adaptados a partir da dependência de jogos eletrônicos), assim como proposto por Lemmens, Valkenburg e Peter (2009): saliência (utilização desta atividade como a mais importante na vida do usuário, dominando seus pensamentos, sentimentos e comportamento); tolerância (tendência a aumentar o tempo de uso para obter satisfação, modificação do humor (irritabilidade, tristeza); retrocesso (emoções negativas ou efeitos físicos que ocorrem quando o usuário reduz ou descontinua o uso); recaída (tendência a tentar repetida mente reverter o padrão de tempo de uso, rapidamente restaurado após período de abstinência ou controle); conflito (problemas interpessoais, que podem envolver mentiras ou decepções); problemas na área social (piora no rendimento no trabalho, ambiente de estudo e socialização).
Uma parcela crescente de adolescentes utiliza a Internet para fins sexuais. A preocupação de pais, educadores e profissionais da saúde em relação a esse fenômeno ocorre por dois motivos: a) possibilidade do desenvolvimento de uma dependência; e b) comportamentos sexuais de risco (contato com redes de prostituição e alvos de pedofilia). Apesar de haver uma preocupação de diversos estudiosos, podemos observar também a opinião de outros pesquisadores, que acreditam que o sexo virtual (visualização de pornografia e conversas sexuais) é um caminho saudável para descobertas cognitivas e comporta mentais nesta fase do desenvolvimento humano.
Moreno et ai. (2012) discutem, por outro lado, uma alarmante proliferação, pelos adolescentes, de referências sexuais nas redes sociais. A pesquisa mostrou que esse fenômeno está diretamente ligado à intenção de iniciar atividades sexuais. Apesar de o Facebook apresentar diversas possibilidades de uso, os autores sugerem que esse modelo virtual pode se tornar uma possibilidade de expressão sexual problemática, havendo a necessidade de mensagens educacionais a esse público.
CAMPOS NEBULOSOS
Até então pouco se sabe sobre as causas da dependência de sexo virtual, sendo sugeridas algumas possibilidades teóricas: experiências de condicionamento, predisposição genética aos transtornos do controle dos impulsos, transtornos do humor e histórico de traumas na infância. Em relação às comorbidades (ocorrência de psicopatologias de forma simultânea), a depressão, os transtornos de ansiedade, transtornos de personalidade e dependência de uso de substâncias são os mais citados na literatura científica. Esses dados sucintos sugerem a necessidade de mais estudos etiológicos e de comorbidades. Inegavelmente, precisam ser urgentemente respondidos para que a dependência de sexo virtual apresente maior possibilidade de inclusão nas próximas edições dos manuais psiquiátricos, além de uma melhor compreensão do seu funcionamento.
Em relação à dependência sexual (off-line) é revelado que entre 3% e 6% da população mundial possa apresentar esse transtorno. Em pesquisa feita na Coreia do Sul, com 690 adolescentes, por Koo e Kim (2007), os seguintes resultados foram disponibilizados: 5,7% possuem uso problemático (poucos sintomas de dependência); 0,4% estão no grupo dos moderadamente dependentes (alguns sintomas de dependência) e, por fim, 0,6% como severamente dependentes (quase todos ou todos os sintomas de dependência).
Através de uma investigação com 1.913 participantes, na Suécia, os resultados apontaram para um total de 5% das mulheres e 13% dos homens apresentando algum tipo de problema com sexo na Internet. Os autores ainda mencionam que 2% das mulheres e 5% dos homens indicavam problemas graves com o sexo virtual. Esse dado corrobora com os resultados encontrados na dependência de jogos eletrônicos, outra possível psicopatologia, de maior incidência do sexo masculino. O oposto se observa na dependência de celular (predominância do sexo feminino); a de Internet apresenta equivalência epidemiológica entre os sexos.
Ainda há um número expressivo de terapeutas e psiquiatras que desconhecem formas de intervenções em usuários acometidos pela dependência de sexo virtual. O artigo mais antigo que cita um modelo de tratamento data de 1996. Uma das queixas mais recorrentes é a do sujeito que utiliza indiscriminadamente a pornografia na Internet e acaba por se tornar um estranho para o seu parceiro, afetando o bom relacionamento do casal.
O programa intitulado A Relational Intervention Sequence for Engagement (ARISE) é citado na literatura científica como uma possibilidade para a resolução de conflitos familiares, implicando em modificações de atitudes e emoções vinculadas ao transtorno.
As técnicas que podem ser utilizadas no manejo e prevenção do uso problemático do sexo virtual são:
a) assegurar que o periférico (computador ou portáteis) seja utilizado exclusivamente em locais de constante movimentação;
b) limitar os dias e o tempo de uso;
c) especificar locais onde o periférico possa ou não ser utilizado;
d) instalar planos de fundo (screen savers ou backgrounds) de pessoas importantes (familiares, parceiro/a). Outro estudo revela outras técnicas: melhoria na intimidade do casal, recondicionamento de estimulação e desenvolvimento de estratégias de enfrentamento. A terapia familiar e o treinamento de habilidades sociais são outras opções viáveis. A terapia cognitivo-comportamental (TCC) também é sugerida, especialmente pela sua satisfatória eficácia na modificação de crenças distorcidas e comportamentos desadaptativos desses pacientes.
Dentre os diversos medicamentos utilizados no tratamento da dependência de sexo virtual, é citada, com maior ênfase, a Naltrexona, comumente utilizada no tratamento do alcoolismo. A ação desse fármaco ocorre no centro de recompensa do indivíduo, influenciando na liberação da dopamina, diminuindo consideravelmente a compulsão à pornografia virtual.
Infelizmente, ainda há um número limitado de materiais científicos sobre o cibersexo. Em relação ao diagnóstico, é fundamental o desenvolvimento de novos estudos com o objetivo de afirmar se a dependência de sexo virtual pode ser considerada um novo transtorno psiquiátrico. As comorbidades são semelhantes às da dependência de Internet e de jogos eletrônicos.
No que se refere à etiologia, foram encontradas poucas informações que pudessem fornecer subsídios para o estudo da dependência de sexo virtual. Apesar das hipóteses mencionadas, ainda estão distantes de serem conclusivas. Em relação ao tratamento, apesar da existência de modelos psicoterapêuticos e farmacológicos, ainda não há resultados comprovados de sua eficácia em longo prazo. Entretanto, diversas técnicas, apresentadas anteriormente, podem ser utilizadas pelos profissionais da saúde. Estes profissionais devem refletir, no momento da entrevista inicial, sobre a inserção de questionamentos sobre o uso de tecnologia do paciente, seja da Internet, de jogos eletrônicos ou da Internet associada ao sexo com terceiros e/ou outros tipos de pornografia.
Vislumbra-se, de forma positiva, um futuro em que tratamentos (psicoterapêuticos e/ou farmacológicos) de dependentes de sexo virtual seja m aplicados nos sistemas públicos e privados (é necessário, por exemplo, a criação de protocolos de modelos terapêuticos para o cibersexo, no Brasil, com sessões estruturadas em quantidade limitada).Para isso ,se faz necessário capacitar os profissionais da saúde, além de divulgar, à população em geral, a existência dessa problemática. Ainda é comum verificar, de acordo com a prática clínica, o profundo desconhecimento dos pacientes sobre as dependências tecnológicas, a gravidade desse possível transtorno e a frequente ocorrência, seja em adolescentes ou adultos.

O QUE É CIBERSEXO?
O cibersexo é uma das subcategorias de um grupo maior a Online Sexual Acfivifies (OSA); traduzido no Brasil por “atividades sexuais on-line”. Carnes Delmonico e Griffin apontam três principais características do cibersexo: o acesso à pornografia on-line, a interação com um parceiro virtual e o uso de softwares (programas de computador). O sexo virtual ocorre quando duas ou mais pessoas compartilham de uma conversa de cunho sexual enquanto estão on-line. O propósito desta interação é o prazer sexual, não sendo uma necessidade obrigatória a prática da masturbação.
Southern menciona que o cibersexo está relacionado aos seguintes comportamentos: visualizar imagens eróticas e/ou pornográficas de serviços de notícias ou web sites; expor detalhes explícitos sobre a vida sexual de alguém através do upload(carregar conteúdos na Internet) ou disseminando essa informação; interação com profissionais do sexo empregados por sites específicos (serviços de webcam ou acompanhantes): interação com parceiros anônimos por salas de chat, blogs, ou outros tipos de contatos; encontrar potenciais parceiros sexuais para contatos offline.
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