ESSA TAL FELICIDADE
Devemos ter muito cuidado com a idealização que fazemos da felicidade, pois nem sempre nossa busca está conectada aos nossos valores e reais necessidades.
O coaching de vida ou life coaching tem como principal objetivo ajudar a pessoa a sentir-se mais feliz e realizada por meio da expansão de suas potencialidades e do equilíbrio entre suas demandas. Para tomarmos consciência de qual é nosso nível de realização em cada uma das quatro grandes áreas de realização, em geral usamos a roda da vida, que é um exercício em que a pessoa preenche um círculo, dando notas de 1 a 10 para seu nível de realização em cada um dos 12 quesitos que compõem a roda. O objetivo do exercício é fazer com que a pessoa se conscientize sobre a área em que ela mais precisa investir para melhorar seu nível de realização influenciando as outras áreas. Ou seja, essa técnica permite identificar qual área de sua vida alavancaria varias outras áreas.
A roda da vida pode nos ajudar a entender por onde começar uma mudança para melhor. Enquanto eu a descrevo, sugiro a você, leitor, que vá avaliando o quanto se sente realizado em cada um dos 12 quesitos que compõem as quatro áreas. Para isso, atribua-se nota de 1 a 10 em cada um deles. A primeira área de realização em nossa vida é a área pessoal, que é composta por três perguntas:
(1) o quanto você está satisfeito com seu estado geral de saúde e com sua disposição para a vida?
(2) qual o seu nível de satisfação com seu desenvolvimento intelectual? e
(3) como você avalia seu equilíbrio emocional no momento atual?
A área profissional compõe-se das seguintes questões:
(1) o quanto você se sente realizado através do seu trabalho?
(2) como você avalia os recursos financeiros obtidos através do set1 trabalho? e
(3) o quanto você se sente contribuindo socialmente por meio de sua atuação profissional?
A terceira área é composta pelos nossos relacionamentos e é representada pelas três perguntas que se seguem:
(1) o quanto você está satisfeito com a convivência em família?
(2) qual seu nível de satisfação na área do relacionamento amoroso? e
(3) como você avalia seus relacionamentos e sua vida social?
A quarta área da roda é a qualidade de vida, que completa os 12 quesitos com as seguintes questões:
(1) o quanto você se considera satisfeito com seu nível de diversão e lazer?
(2) qual seu nível de satisfação com sua dedicação ao campo espiritual? e
(3) como você avalia seu nível de felicidade geral na vida?
Essa última pergunta é uma síntese de todas as outras, o que nos permite afirmar que a felicidade é algo que envolve saúde, equilíbrio emocional, trabalho, relacionamentos e espiritualidade. Sigmund Freud afirma que o homem anseia pela felicidade e que esta resulta da satisfação de prazeres. O que nos dá prazeres mais intensos é a satisfação de nossas necessidades mais intensas. Ganhar muito dinheiro terá diferentes pesos para um endividado ou para um milionário. Quando estamos doentes sobre uma cama, desejamos coisas nas quais nem pensamos quando estamos saudáveis.
Ter os pés no chão com relação à nossa felicidade envolve ponderar sobre o quanto de satisfação real podemos esperar do mundo exterior, sobre o quanto estamos dispostos a modificar o mundo que nos cerca a fim de adaptá-lo aos nossos desejos ou adequar nossos desejos a ele. No processo de conquista da felicidade, a nossa constituição psíquica é mais relevante que as circunstâncias externas, pois buscaremos no mundo elementos que satisfaçam as demandas de nossa psiquê. A pessoa predominantemente erótica, por exemplo, terá como prioridade de sua felicidade ter um relacionamento que a satisfaça. Os narcisistas são, em geral, mais solitários e autossuficientes, por isso encontram mais satisfação em seus processos mentais internos, o que facilita muito a realização profissional. Por fim, as pessoas de ação precisam de um intenso relacionamento com o mundo e com as pessoas, e esse é o palco principal de sua felicidade.
Outra questão ligada à tal felicidade é o quanto nós a idealizamos. Em geral essa idealização nasce dos modelos que nos são oferecidos pela mídia, o que nos faz estabelecer critérios nem sempre conectados com nossos valores e reais necessidades. Equivale dizer que precisamos descobrir quais são os elementos da “nossa” felicidade, para não adotarmos os modelos que nos são impostos. A felicidade pode ser atingida, mas não buscada objetivamente. Nossa busca desenfreada pela felicidade nos afasta do real caminho em que ela se encontra, que é viver intensamente o momento presente nos seus mínimos e simples detalhes. Na medida em que mais conseguimos vivenciar plenamente o momento presente, descobrimos o quão surpreendente e prazeroso é contemplar o que está ao nosso redor, incluindo as emoções que nos visitam a cada instante. Viver o presente nos leva a mudanças em vários aspectos de nossa vida. O principal deles é aprendermos a ser felizes no agora e aproveitarmos ao máximo cada momento. Isso exige uma reconfiguração da ideia de que a felicidade é algo que está por vir. Ela não é fim, é meio.
JÚLIO FURTADO – é professor, palestrante e coach. É graduado em Psicopedagogia, especialista em Gestalt-terapia e dinâmica de grupo. É mestre e doutor em Educação. É facilitador de grupos de desenvolvimento humano e autor de diversos livros. www.juliofurtado.com.br
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