PSICOLOGIA ANALÍTICA

CRIANÇAS MAIS FELIZES

Quando se trata de criar filhos, o mais importante não é a identidade ou o sexo dos pais ou substitutos, e sim a qualidade do cuidado e o comprometimento com os pequenos.

Crianças mais felizes

Famílias monoparentais são um fato. Uma em cada quatro crianças americanas vive apenas com um dos pais, geralmente a mãe. No Brasil, 12,2 % das mulheres vivem com filhos, sem cônjuge. Entre os homens, o número é de 1,8%, segundo dados de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Também cresce o número de famílias formadas da união de pessoas do mesmo sexo. No entanto, isso não parece representar nenhum tipo de desvantagem. A análise cuidadosa de várias pesquisas coloca por terra a ideia de que uma das condições para que uma criança seja saudável e feliz é ter, necessariamente, o pai e a mãe vivendo sob o mesmo teto. Aliás, cada vez mais parece claro que os elementos mais importantes da criação dos filhos não é a identidade ou o sexo dos adultos envolvidos, mas sim a qualidade do cuidado prestado e a sua consistência ao longo dos anos.

A verdade é que criar um filho nunca foi fácil e raramente alguém desempenha essa tarefa sem ajuda. Uma pesquisa com famílias em situação de risco feita por um grupo de cientistas das universidades Colúmbia e Princeton mostrou que apenas 17% das mães solteiras relataram criar os filhos completamente por conta própria. A maioria recebia auxílio do pai da criança, dos próprios pais ou de outros parentes e amigos. Ainda assim, salvo raras exceções, essas mães sentiam-se sobrecarregadas emocionalmente.

Para a criança, a consistência do cuidado recebido e a certeza de poder contar com uma pessoa de referência, que dê conta de suas demandas físicas e psíquicas, é fundamental. “Não basta ter um adulto na função paterna ou materna ‘por um período’; por exemplo, num ano a mãe, no próximo a avó e no outro o pai. É necessário ter alguém com quem contar a longo prazo”, afirma a psicóloga do desenvolvimento Anne Martin, da Universidade Colúmbia. “Ela precisa se sentir segura e protegida para se desenvolver intelectual e emocionalmente.”

Crianças mais velhas podem até contar com professores, monitores de instituições que frequentam ou líderes religiosos para receber apoio, desde que a presença dessa pessoa seja contínua em sua vida. A organização não governamental americana Big Brothers Big Sisters, por exemplo, requer que se comprometam por pelo menos um ano e os voluntários estabeleçam uma relação de mentor-aprendiz com o jovem que acompanha.

JEITOS DE CUIDAR

No entanto, a dura realidade é que o principal cuidador de uma família fragmentada não raro enfrenta dificuldades para encontrar alguém que assuma uma década ou mais de apoio incansável. Pesquisadores da Universidade Columbia e da Universidade Princeton demonstraram que a maioria dos pais (homens) não casados de um estudo relatou vontade de se envolver na vida dos filhos. Mas, após três anos do nascimento de um bebê, aproximadamente metade não mantinha contato recente.

Uma forma de ajudar a envolver o pai e outros cuidadores seria focar o relacionamento com a mãe da criança. O psicólogo clínico Kyle Pruett, pesquisador do Centro de Estudo da Criança da Universidade Yale, destaca essa variável em seus esforços para aproximar pais descomprometidos com a vida dos filhos. “Focar somente os homens resultou em desperdício de esforço e de dinheiro”, afirma Pruett.

Ele acompanhou um grupo de mães e constatou que o maior desafio era ajudá-las a aceitar a forma como o ex-companheiro (ou outro cuidador) exercia a paternidade. Um es­ tudo realizado em 2001 por pesquisadores da Universidade Estadual de Ohio confirmou o que psicólogos já dizem há anos: quando há desavenças entre as pessoas que cuidam da criança, o conflito é claramente percebido por ela e lhe causa sofrimento. Os pesquisadores americanos constataram que, um ano após os pais (que conviviam na mesma casa) terem assumido tarefas coordenadas pelas mães, os casais se tornaram mais combativos e propensos a minar o outro.

Com base nesse resultado, os autores da pesquisa sugerem que a melhor estratégia é decidir em conjunto qual a esfera de influência de cada um. Por exemplo, um dos pais fica no comando do banho e o outro se responsabiliza pelas refeições. E uma coisa é fundamental para o bem-estar da criança, não só imediatamente, mas também em razão dos efeitos futuros: jamais atacar ou menosprezar o outro na frente do filho, ainda que haja ressalvas ou discordâncias.

A relação positiva entre os cuidadores tem grande impacto sobre o desenvolvimento psicológico dos filhos. Em um estudo com famílias afro-americanas de 2013, pesquisadores da Universidade de Vermont e da Universidade da Carolina do Norte em Chapei Hill descobriram que, quanto melhor for a relação entre uma mãe solteira e seu principal “ajudante”, melhores serão o comportamento e a saúde mental das crianças. Maior qualidade no vínculo entre pais que não convivem sob o mesmo teto também pode reforçar o comprometimento com os filhos. Em um estudo de2008, os sociólogos Lawrence Berger e Mareia Carlson, da Universidade de Wisconsin-Madison, constataram que pais que viviam separados mas mantinham boa comunicação e dividiam tarefas com a mãe da criança eram mais propensos a se manter envolvidos na vida dos filhos cinco anos após o nascimento, independentemente de estarem romanticamente envolvidos com outras mulheres.

Crianças mais felizes. 2

RACIOCÍNIO LÓGICO

Ainda hoje, apesar de todas as transformações sociais e culturais, são as mulheres que continuam a cumprir a maioria das tarefas que se referem aos cuidados primários, como alimentação, banho e acolhimento das crianças. Mas também é fato que os pais tendem a participar de atividades complementares, como brincadeiras (menos importantes para a sobrevivência de uma criança, mas de grande importância no desenvolvimento cognitivo). Como resultado, a qualidade do envolvimento parece importar mais do que a quantidade de horas passadas com os filhos.

Em um estudo de 2013 desenvolvido com pais que vivem separados dos filhos biológicos, por exemplo, cientistas das universidades de Connecticut e Tufts descobriram que contribuições financeiras e frequência de visitas não têm efeito significativo no bem-estar da criança. O fator crítico é a quantidade de vezes que o pai a envolve em ações específicas, como ajudá-la nas lições de casa, brincar com ela ou participar de eventos esportivos e atividades da escola.

“Esse tipo de envolvimento ajuda no desenvolvimento cognitivo, uma vez que faz com que a criança aumente suas habilidades gerais com base no conhecimento acumulado”, escreveram os autores do trabalho. Chamado por eles de “andaime”, por dar sustentação à constituição psíquica do sujeito, esse engajamento ajuda os pequenos a desenvolver o raciocínio lógico e a capacidade de resolver problemas em várias situações ao longo da vida. Pais biológicos e casados tendem a realizar esse processo com mais uniformidade, pelas condições que a rotina impõe. No entanto, crianças que vivem longe do pai costumam ter menor chance de exposição a atividades cognitivamente estimulantes, de acordo com um estudo de 2013 de Mareia Carlson e Lawrence Berger.

Cada vez mais estudos comprovam que pais disponíveis não só para estar com os filhos, mas também para oferecer suporte emocional à mãe são de grande importância para o desenvolvimento intelectual das crianças. Uma revisão recente publicada no Journal of Community Psychology mostrou que figuras parentais substitutas (avós, tios, professores ou outros adultos de referência) ajudam a reforçar o desempenho escolar das crianças com a introdução de novas ideias e experiências que as desafiam a pensar criticamente. Na verdade, a construção do conhecimento pode ocorrer em qualquer lugar, não somente em passeios a museus ou na sala de aula, mas também no jantar, durante uma brincadeira ou no caminho do futebol. O importante é prestar atenção naquilo que interessa à criança e não desperdiçar a oportunidade de apresentar a ela um mundo interessante, que vale a pena ser conhecido.

Crianças mais felizes. 3

FALHAS E EQUÍVOCOS

Pais de adolescentes sabem muito bem: não é nada fácil lidar com crises e desafios escolares e sociais que com frequência aparecem na passagem da infância para a idade adulta. Surgem muitas dúvidas quando se trata de escolher o melhor modo de lidar com os impasses, até porque, não raro, as questões dos jovens remetem os adultos às angústias já vividas por eles nessa etapa (nem sempre elaboradas). No entanto, ser um bom pai tem muito a ver com aceitar os filhos – embora seja mais fácil dizer isso do que agir, principalmente quando aparecem com uma tatuagem ou quando os pais recebem uma ligação da escola convocando uma reunião para falar do mau comportamento.

O psicólogo Ronald P. Rohner, pesquisador da Universidade de Connecticut, estuda as consequências da rejeição de crianças e adolescentes pelos pais e a influência que o olhar parental tem sobre aspectos importantes da personalidade. Jovens que se sentem acolhidos em casa costumam ser mais independentes e emocionalmente estáveis, têm maior autoestima e mantêm uma visão positiva do mundo. Aqueles que se sentem rejeitados não raro demonstram o oposto: hostilidade, sentimentos de inadequação, instabilidade e uma visão negativa das mais variadas situações.

Em seu trabalho Rohner analisou dados de 36 estudos sobre aceitação e rejeição dos pais. “Não parece haver dúvidas de que o investimento emocional tanto materno quanto paterno está associado com essas características de personalidade”, afirma o psicólogo. E, segundo ele, o afeto do pai é tão importante quanto o da mãe. “Culturalmente, a grande ênfase na figura da mãe levou a uma tendência inadequada de responsabilizá-la pelos problemas de comportamento das crianças quando, de fato, o homem está muito mais implicado nessas situações do que as pessoas em geral imaginam.”

O pai parece ter também um papel surpreendentemente importante no fortalecimento da empatia dos filhos. O psicólogo Richard Koestner, da Universidade McGill, analisou um estudo com 75 homens e mulheres acompanhados por pesquisadores da Universidade Yale em 1950, quando os voluntários eram crianças. Koestner e seus colegas examinaram diversos fatores que poderiam afetar a capacidade empática na fase adulta, mas um em especial lhe chamou a atenção: o tempo que o pai passava com os filhos.

“Ficamos espantados ao descobrir que o carinho recebido pela dupla pai- mãe em si não fez diferença significativa em relação à empatia. E nos surpreendemos mais ainda ao constatar quanto era forte a influência especificamente paterna”, diz Koestner.

A psicóloga Melanie Chifre Mallers, da Universidade Estadual da Califórnia em Fullerton, também descobriu que filhos com boas lembranças do pai eram mais capazes de lidar com as tensões cotidianas da vida adulta. Na mesma época, uma equipe de pesquisadores da Universidade de Toronto submeteu um grupo de adultos a um escâner de ressonância magnética funcional para avaliar as reações quando observavam o rosto dos pais. Imagens da mãe provocaram, de imediato, maior atividade em várias regiões cerebrais, algumas associadas ao processamento de características da face. Já o rosto do pai acionou, em primeiro lugar, circuitos no núcleo caudado, uma estrutura relacionada a sentimentos de amor.

As evidências mostram que o homem contribui de forma única com os filhos. Mas o contrário não é necessariamente verdadeiro: crianças que não convivem com ele na mesma casa não estão de forma alguma condenadas ao fracasso. Embora o pai seja importante, esse papel pode ser substituído. Obviamente, conhecemos crianças que cresceram em circunstâncias difíceis, mas que hoje desfrutam de uma vida rica e gratificante. Nem todos se tornam o presidente dos Estados Unidos, mas Barack Obama é um exemplo do que pode ser alcançado por uma criança que passou a infância sem pai, mas conseguiu superar a situação. A paternidade tem a ver com orientar as crianças para que possam ser adultos felizes e saudáveis, à vontade no mundo, preparados para viver relações de afeto, respeito e cuidado e, eventualmente, ser pais ou mães.

Autor: Vocacionados

Sou evangélico, casado, presbítero, professor, palestrante, tenho 4 filhos sendo 02 homens (Rafael e Rodrigo) e 2 mulheres (Jéssica e Emanuelle), sou um profundo estudioso das escrituras e de tudo o que se relacione ao Criador.

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