MENSAGENS ESCONDIDAS
Os estímulos que recebemos de maneira subliminar, ou abaixo do nível da consciência, surtem algum efeito sobre nossas escolhas, mesmo que não possamos nos dar conta. Essa influência, no entanto, ocorre apenas em situações bastante específicas.
Recebemos mensagens o tempo todo – tanto a respeito do mundo externo quanto de estados internos. Muitas dessas informações processamos conscientemente, mas inúmeras delas passam despercebidas. Ou seja: registramos, mas não temos consciência de que o fazemos. A música que toca distante, por exemplo, pode influenciar nossas escolhas. E se alguém nos perguntar se o som tem alguma relação com nossa opção, provavelmente vamos jurar que não. Um experimento, porém, mostrou que certos “detalhes” podem ter mais efeito sobre nós do que supomos. O psicólogo Adrian North e seus colegas, na época, na Universidade de Leicester, na Inglaterra, expuseram uma seleção de quatro vinhos alemães e quatro franceses, igualmente caros, em um supermercado britânico. Durante alguns dias, os cientistas intercalaram canções alemãs e francesas no ambiente. Depois, entrevistaram os clientes que compraram a bebida e descobriram que poucos haviam se dado conta de ter escutado alguma música. Porém, aqueles expostos a canções francesas escolheram vinhos dessa nacionalidade com maior frequência, e o mesmo se deu em relação às bebidas alemãs.
“Esse tipo de estudo nos leva a considerar que, assim como a música, a publicidade com mensagens abaixo do nível da consciência pode exercer influência em situações imediatas do cotidiano”, afirma o psicólogo social Wolfgang Stroebe, professor das universidades de Utrecht e de Groningen. Segundo ele, as mensagens teriam de ser curtas, aparecer no momento em que decidimos algo e estarem relacionadas às nossas intenções imediatas ou aos nossos hábitos. “Pelo que sabemos hoje, é improvável que anúncios publicitários com conteúdos subliminares possam induzir consumidores a comprar determinada marca dias depois”, afirma. Na prática, portanto, mensagens “escondidas” em músicas, peças publicitárias ou filmes são menos potentes ou aterrorizantes do que se acreditava no passado.
ASCENSÃO E QUEDA
A noção de que podemos ser influenciados sem nos darmos conta é antiga – evidências históricas sugerem que no século 5º a.C. os pensadores gregos já tentavam empregar linguagem sutil, mas persuasiva para induzir pessoas disfarçadamente. Em meados do século 20, essa famosa ideia capturou a atenção popular, mas só recentemente a ciência começou a analisar os efeitos reais daquilo que é transmitido abaixo do limiar da consciência.
1943 – Mensagens subliminares foram ocasionalmente incorporadas em programas de rádio, cinema e televisão. Em um curta de animação do Patolino daquele ano, por exemplo, as palavras “compre edições” aparecem brevemente na tela. Ninguém sabia se influenciariam as pessoas, mas decidiu-se que tentar não faria mal.
1957 – O pesquisador de mercado James Vicary afirmou que, ao disparar rapidamente as palavras “Coma pipoca” e “Beba Coca-Cola” durante um filme por uma fração de segundo, ele conseguiu aumentar significativamente a venda desses produtos. Cinco anos mais tarde, Vicary admitiu que havia falsificado o estudo. A essa altura, porém, a preocupação do público e o interesse de anunciantes e agências governamentais já tinham crescido em relação ao poder manipulador dessas mensagens.
Final dos anos 1960 até a década de 1980 – Muitos estudos científicos ao longo desse período começaram a desacreditar as alegações de que dados subliminares pudessem influenciar o comportamento de maneira sutil. Uma pesquisa, por exemplo, mostrou que disparar rapidamente as palavras “Chocolates Hershey” numa série de slides durante uma palestra não interferiu na opção de estudantes em relação à escolha desse produto durante um período de dez dias.
1990 – Apesar de muitos estudos continuarem a pôr em xeque os argumentos de que mensagens abaixo do limiar da consciência pudessem causar algum efeito psicológico, outras pesquisas começaram a apontar pequenos efeitos. Em uma delas, em 1992, um grupo de participantes visualizou imagens de uma pessoa envolvida em uma atividade diária comum. Depois de cada figura, os cientistas lançaram rapidamente uma fotografia: metade notou algo positivo e a outra parte, algo negativo. Esses últimos relataram imaginar a pessoa fotografada numa luz mais prejudicial.
Início de 2000 – As pesquisas continuam a sugerir que dados subliminares de fato influenciam nossa percepção; o efeito é apenas mais sutil do que pensávamos.
2006 – Os estudos mostram finalmente que mensagens que passam despercebidas pela consciência podem favorecer a publicidade em certas situações. Por exemplo, uma pesquisa de 2006 constatou que participantes que viam rapidamente uma imagem de uma bebida de marca, nesse caso a Lipton Ice Tea, eram mais propensos a escolhê-la para saciar a vontade de tomar algo. Essa associação só se manteve, porém, entre aqueles que já estavam com sede. (Outro estudo provocador mostrou que figuras embutidas relacionadas com o desejo de beber algo em um episódio de Os Simpsons realmente deixaram as pessoas com mais sede.
2007 – Informações subliminares podem colaborar também no desempenho acadêmico. Em um estudo de 2007, cientistas mostraram rapidamente a estudantes palavras escondidas relacionadas ou não com a inteligência, como “talento” e “grama”, respectivamente, antes de um teste prático. Aqueles que perceberam os termos associados com o intelecto se saíram melhor na avaliação num prazo médio de um a quatro dias.
2010-2016 – Estudos de neuroimagem demonstram que o cérebro responde a mensagens indiretas de maneira mensurável. Os níveis de atividade mudam na amígdala (associada ao processamento das emoções), na ínsula (envolvida com a consciência), no hipocampo (relacionado com a execução das memórias) e no córtex visual.
Você precisa fazer login para comentar.