PSICOLOGIA ANALÍTICA

PRIMEIRO O GESTO, DEPOIS A PALAVRA

A inteligência humana se reflete no sofisticado controle da musculatura; foi por meio da ampliação da coordenação motora fina e das expressões faciais que, ao longo dos séculos, desenvolvemos a cognição, a linguagem e a capacidade de usar os mais variados instrumentos.

Primeiro o gesto, depois a palavra

Um macaco jamais poderia tocar piano. Falta-lhe, para isso, a capacidade de mover os dedos com velocidade e precisão para pressionar as teclas em rápida sucessão. Nós, humanos, porém, mesmo quando não sabemos nada de música, em pouco tempo podemos aprender a tocar pelo menos uma melodia curta. Isso sem falar na vertiginosa execução de pianistas profissionais. Nossa habilidade manual ultrapassa em muito a dos outros primatas – e esse é um fato, em geral, menos considerado que outros diferenciais na capacidade de articulação vocal e na linguagem. No entanto, do ponto de vista neurobiológico, essas duas habilidades estão estreitamente ligadas, pois os mesmos centros cerebrais controlam grande parte dos recursos necessários para a fala e para o uso das mãos.

Nos últimos séculos, a pesquisa comportamental derrubou quase todas as supostas barreiras que separavam os homens dos animais, como o uso de ferramentas, a comunicação simbólica e a categorização abstrata. O mesmo vale para as atividades cognitivas, faculdades de pensamento e compreensão que – embora em forma rudimentar – os animais também possuem. Só a linguagem parece ser exclusivamente nossa: apesar de todos os esforços, até hoje nenhum macaco aprendeu a falar, pelo menos não como nós. O pouco da linguagem de sinais que alguns aprendem com dificuldade é suficiente apenas para atender necessidades de comunicação com o treinador.

Uma característica da fala é o controle da musculatura do aparelho fonador. É notável que a destreza manual também se apoie em uma motricidade refinada. Somos capazes de comandar a musculatura das mãos e dos braços com mais precisão do que qualquer animal. Mas é importante observar que essa habilidade motora já começa a se manifestar nos primatas. Seus dedos se tornaram mais rápidos, e sua mímica mais pronunciada – o que ainda não basta para a articulação vocal. O fato é que só o homem tem o dom da fala, assim como a capacidade de realizar atividades manuais complexas. Acre­ dito que essa extraordinária inteligência motora forneceu a base de nossa evolução cultural. É ela que provê o fundamento para a fala e, consequentemente, para a cultura e a tecnologia.

Essa afirmação pode surpreender. Muitos animais correm e saltam melhor do que nós. Para fazer isso, dispõem de um complexo aparato neuronal que emite instruções de movimento e os ajusta às circunstâncias. Na evolução da inteligência motora humana é nesse mesmo fundamento que se baseiam nossa capacidade linguística e nosso controle manual.

O controle de movimentos dos mamíferos percorre três instâncias neuronais articuladas hierarquicamente. A mais baixa situa-se na medula espinhal. Lá se originam sinais produzidos em pequenas redes neuronais – os geradores centrais de padrões – que determinam, por exemplo, a alternância rítmica automática da musculatura das pernas ao caminhar. Esses sinais são transmitidos em seguida aos neurônios motores, cujas ramificações se estendem da medula aos músculos. A medula espinhal, por si só, consegue produzir os movimentos básicos, já que seus padrões são coordenados com as juntas individuais. Essas redes neuronais podem levarem conta informações dos sentidos e ajustar o movimento conforme a necessidade.

Primeiro o gesto, depois a palavra. 2

TRÊS PLANOS DE CONTROLE

Se quisermos manter um membro em certa posição, por exemplo, as redes neuronais fornecem os programas adequados: selecionam a possibilidade que deve ser ativada, a partir de informações enviadas do centro de movimento no mielencéfalo, a instância neuronal imediata­ mente superior à qual estão subordinadas. Essa parte posterior do cérebro também recebe e analisa informações sensoriais sobre a posição atual do membro durante o movimento.

Durante a evolução dos vertebrados superiores, os centros do mielencéfalo ficaram cada vez mais submetidos à influência do córtex motor. Nessa instância superior de controle do movimento, que se estende por uma faixa transversal no topo do cérebro, originam-se todas as atividades intencionais, tanto no caso de um felino carnívoro preparando-se para o salto como quando movimentamos a língua para falar. Mas o córtex motor não está em condições de produzir, sozinho, os movimentos apropriados. Para isso ele precisa de outras instâncias hierarquicamente superiores. A estimulação elétrica de regiões isoladas do córtex motor gera, em geral, apenas contrações de músculos individuais. Para que o córtex motor envie indicações de uma ação coordenada e adequada às necessidades e à situação é necessária a integração de regiões cerebrais situadas imediatamente à frente: as áreas pré-motoras. Elas fornecem os programas com a sequência de estímulos necessária para dirigir os movimentos a determinado objetivo. Para isso, reúnem informações provenientes dos órgãos dos sentidos, da musculatura e dos centros associativos na região anterior do cérebro.

Nas regiões pré-motoras do córtex formam-se também as intenções de realizar ações voluntárias, que são posteriormente transmitidas ao córtex motor. Mas essas áreas não produzem sozinhas suas instruções. Na verdade, recebem um grande auxílio do cerebelo, que supervisiona o desenrolar temporal de séries complexas de movimentos. O cerebelo funciona como um “treinador”, que cuida para que as novas ações sejam aprendidas; ele é ativado para a fixação de programas de movimento, como ocorre nas brincadeiras dos filhotes de animais e quando crianças aprendem a correr.

Os três planos hierárquicos para o controle da atividade muscular valem para os mamíferos em geral, mas neles começa a aparecer algo completamente novo – uma aquisição que logo iria alterar em muitos aspectos o comportamento dos primatas, embora só no homem assuma a máxima importância. O que surgiu foi uma “via expressa”, por assim dizer, ligando diretamente a parte anterior do cérebro à medula espinhal, provocando um curto-circuito nos centros motores do mielencéfalo: a chamada via cérebrospinal, ou via piramidal. Cerca de metade de seus filamentos neuronais vem do córtex motor; e a outra parte, das áreas pré-motoras. Os filamentos da via piramidal dos mamíferos estendem-se em primeiro lugar até os gerado­ res centrais de padrões na medula espinhal. Com isso, a parte anterior do cérebro pode influenciar diretamente os centros motores da medula e, desse modo, controlar com mais facilidade as ações.

Nos primatas ocorre ainda outro acréscimo. Os filamentos da via piramidal que controlam a mão e os dedos provocam um curto-circuito até mesmo nos geradores de padrões e estimulam diretamente os próprios neurônios motores, que se prolongam da medula até os músculos. É provável que a peculiar destreza manual dos primatas e do homem funda-se nessa ligação direta entre o córtex cerebral e os neurônios musculares. Graças a ela, nós e os símios somos capazes de mover os dedos individualmente, de acordo com nossa vontade, coisa que outros mamíferos, como os gatos, não conseguem fazer.

Uma lesão na via piramidal faz com que símios percam a destreza dos dedos. Depois de um curto período de restabelecimento, esses animais podem voltar a correr e subir em árvores, mas não são mais capazes de agarrar coisas. Por outro lado, mesmo com um defeito na ligação com o mielencéfalo, evolutivamente mais antigo, eles continuam capazes de retirar alimento com os dedos de um buraco, embora não possam mais se locomover. Isso ocorre porque, neles, a locomoção se efetua a partir dos centros mais antigos do mielencéfalo, ao passo que o movimento dos dedos é comandado através da via piramidal, mais recente.

Chama a atenção o fato de que, já nos símios, a maioria dos filamentos nessas vias rápidas que levam à medula comandem ali justamente os neurônios que controlam músculos das mãos e dos dedos, e esse fenômeno acentua-se nos humanos. Além disso, em nosso caso, os neurônios motores dos braços e ombros recebem ordens diretamente “de cima”, da região anterior do cérebro. É por isso que os seres humanos podem atingir um alvo com grande precisão, e os macacos não conseguem acertar nem uma única vez a cabeça do prego com um martelo.

As pernas recebem pouca atenção na via piramidal, como se mostra na conhecida figura do “homúnculo motor”, um esquema distorcido de um homem colocado sobre o córtex motor, cuja grandeza relativa das partes individuais do corpo corresponde à sua representação neuronal. Em relação às pernas, as mãos aparecem como superdimensionadas, com os dedos, particularmente o polegar, assumindo proporções gigantescas. O esquema correspondente de um chimpanzé aproxima-se muito mais das proporções naturais de seu corpo; apenas as mãos e os pés parecem um pouco mais encorpados. Mas não é apenas a competência do homem no uso das mãos que se revela no esquema do homúnculo motor. A figura ajuda também a compreender a evolução da capacidade de articulação vocal do homem – algo interessante para os biólogos evolucionistas. A grotesca imagem representa o homem como constituído principalmente de mãos e rosto – um rosto com uma enorme boca. Lábios e língua, em particular, aparecem como fortemente representados no córtex motor.

De fato, no homem, um espesso ramo da via piramidal acomoda os nervos para a musculatura da face, lábios, língua e palato, bem como – e isto é um caso único entre os primatas – para a laringe. Nos símios, já há filamentos dessa via rápida que controlam a musculatura facial e, entre outras coisas, a mímica, mas essa ligação direta só se acentua no ser humano. A isso se acresce – o que é mais interessante – que o controle fino da musculatura facial agora nos permite produzir os sons da fala. Em outras palavras, foi a grande ampliação da inteligência motora para controle da face e das mãos que nos tornou humanos.

Primeiro o gesto, depois a palavra. 3

NEURÔNIOS-ESPELHO

Isso tudo pode ser expresso da seguinte maneira: a destreza motora de uma parte do corpo é tanto maior quanto mais extensamente estiver representada no córtex motor. Nos homens e nos símios, isso significa que há um número maior de filamentos piramidais associados a ela. Nos seres humanos, dois terços da superfície do córtex motor estão dedicados à face e às mãos; nos chimpanzés, isso é menos da metade (e essa diferença também se manifesta no cerebelo). Mas por que, ainda assim, um chimpanzé não consegue aprender a falar e tocar piano? Simples. Essas duas habilidades exigem coisas além do alcance de seu cérebro: uma competência motora mais fina e programas mais diversificados de sequências de movimentos longas e organizadas.

É só após um longo exercício que chegamos a dominar movimentos complexos e precisos dos braços, mãos e dedos. Isso vale tanto para trabalhos manuais quanto para tocar pia no. Para isso, o aprendiz recorre em grande medida à imitação. E embora os símios antropoides nem de longe alcancem o grau necessário de aprendizado motor, todos os primatas dispõem de alguns mecanismos neuronais notáveis e ainda não muito bem conhecidos, a partir dos quais nossa inteligência motora pode ter se construído.

As áreas pré-motoras geram as intenções concretas de movimento e fornecem ao córtex motor os programas neuronais adequados. Uma região da parte frontal do cérebro dos símios interessa especialmente os neuropsicólogos: a área FS, que participa de certas ações particulares das mãos e da boca. Ela coincide, em boa parte, com o centro da fala nos humanos, a chamada área de Broca. Só recentemente se verificou que a área de Broca não está envolvida apenas na fala, mas também em atividades das mãos e dedos, o que torna essa região do cérebro importante para a compreensão da evolução humana.

A área F5 dos símios, por sua vez, não participa da emissão de sons; seus neurônios destinam-se a funções de outro tipo. Em geral eles não se ativam para qualquer movimento da mão ou da boca, mas apenas para ações propositais e aprendidas, que se realizam sobre objetos, ou por meio deles. A ação desses neurônios se divide, além disso, em uma série de tarefas diversas. Nos símios, as células da área F5 estão dedicadas, em sua maioria, à tarefa de pegar coisas. Em consequência, a região não apresenta neurônios de movimento, mas verdadeiros neurônios de ação, que comandam comportamentos adquiridos e propositais.

Parece claro que essa área do cérebro apresenta um conjunto de instruções para situações correntes do dia a dia. Em princípio, esses programas individuais poderiam ser agrupados para formarem cadeias de ações dos mais variados comprimentos. O neurologista William H. Calvin, da Universidade Estadual de Washington, em Seattle, trouxe evidências de que a área F5 dos símios só executa essas instruções de forma relativamente lenta, imprecisa e limitada.

A área F5 exibe outra propriedade instigante: uma classe de células chamada neurônios-espelho dispara não apenas quando o símio executa determinada ação aprendida, mas também quando ele vê alguém executar essa ação. Nesses casos, trata-se sempre de ações propositais realizadas sobre um objeto, como agarrá-lo. É importante que o executante faça o mesmo movimento. Se o investigador não apanhar o objeto com os dedos, mas com uma pinça, as células nervosas do símio observador permanecem inativas.

Poderiam existir, então, algoritmos neuronais refinados e ampliados que permitiriam o aprendizado de complexas sequências de ações pela simples imitação, incluindo a fala? O aprendizado por imitação é mais importante para o homem do que para qualquer outro primata. Ainda não temos muitas informações precisas sobre neurônios-espelho na área de Broca dos seres humanos, mas já sabemos que essas células estão presentes ali e podem desempenhar um papel importante em nossa capacidade de imitação, na qual crianças pequenas são mestras. É possível que essa região do cérebro, em particular, tenha suprido as principais condições para uma motricidade fina plenamente desenvolvida. Pode ser que os neurônios de ação forneçam a base para dirigir movimentos precisos, através da via piramidal. E os neurônios-espelho ajudariam, antes de tudo, a aprender complexas sequências de movimentos.

Alguns neuropsicólogos supõem que deficiências nessa região do cérebro possam ser a razão pela qual algumas crianças autistas têm dificuldades de imitação. Muitas delas falam pouco, várias não se comunicam verbalmente e só conseguem planejar ações de forma incompleta. As primeiras investigações revelam que, em autistas, a área de Broca é bem menos ativa que o normal.

Primeiro o gesto, depois a palavra. 4

OUTROS SONS

A linguagem distingue o homem de outros animais. O local no cérebro responsável por essa função, a área de Broca, desenvolveu-se a partir da área FS dos símios, na qual as instruções para os movimentos coordenados levam em conta também informações visuais. Como todos os primatas, somos “animais visuais”, isto é, agimos em grande medida orientados pela visão. As crianças aprendem a falar não apenas ouvindo, mas também observando os movimentos da boca – e não é por acaso que conseguem aprender uma língua de sinais tão facilmente como uma linguagem falada.

Pode-se até mesmo especular que mecanismos semelhantes ao comportamento dos neurônios-espelho participem dos planos que fazemos e da fala interior, silenciosa. De fato, nos símios, esses neurônios se ativam com a mera observação de uma ação, sem realizá-la – como se o animal estivesse executando a ação apenas “mentalmente”.

Nos seres humanos, um simples pensamento já se conecta à motricidade e nesse trabalho de entendimento puramente mental, extensas regiões do cerebelo são ativadas. Essa constatação é recente, pois há alguns anos ainda se pensava que o cerebelo desempenhasse apenas funções motoras.

O rico repertório vocal dos primatas não é aprendido pelos símios jovens: eles nascem com ele, e sua área F5 não desempenha nenhuma função na produção desses sons inatos. É um erro, portanto, procurar as origens de nossa linguagem na vocalização de outros primatas. Quando se deseja provocar a emissão desses sons pelos símios, é preciso acessar outra área do cérebro, denominada giro cingulado. A estimulação elétrica dessa área desencadeia nos seres humanos sons emocionais como choro ou riso, mas jamais elementos da fala. Em contrapartida, regiões pré-motoras dos seres humanos fazem com que eles pronunciem sílabas e palavras, mas não desencadeiam nenhum som nos outros primatas. Assim, o córtex cerebral é em princípio dispensável para a vocalização inata dos primatas. O repertório sonoro específico, bem como a capacidade de vocalização, permanece inalterado quando essas áreas do córtex são lesadas. Exatamente o contrário ocorre no caso da fala humana: pacientes com lesões bilaterais do córtex motor não conseguem mais falar nem cantar.

Os símios dispõem apenas de sons inatos, cuja origem neuronal ainda é desconhecida. Foram identificadas, porém, várias regiões cerebrais que, ao serem eletricamente estimuladas, desencadeiam esses sons. Uma porta para o repertório completo está no mesencéfalo (ou cérebro médio). Vale lembrar que a maioria das vocalizações específicas podem ser desencadeadas a partir do giro cingulado, que se localiza bem no interior do córtex, próximo à região em que os dois hemisférios cerebrais se encontram.

Ainda sabemos pouco sobre o papel do giro cingulado na emissão de sons pelos seres humanos. Ele certamente participa da produção de sons com carga emocional, mas é irrelevante para os elementos sonoros da linguagem. Em consequência, os velhos centros vocais dos primatas não são – e nunca foram – um modelo para nossa fala. As regiões motoras e pré-motoras do córtex são muito mais importantes, porque fornecem os programas para ações e controlam a musculatura da face e de todo o aparelho de articulação fonética. Impulsos para a fala originam-se ainda de outro lugar, um extenso campo do córtex situado acima da área de Broca – o verdadeiro centro da fala. Esse campo, a área motora suplementar (AM5), já assume uma posição importante na motricidade voluntária dos animais, e é frequentemente incluído no córtex pré-motor. Dessa área sai uma grande parte dos filamentos da via piramidal, incluindo aqueles que se estendem até a face. AAMS é importante para a produção de programas de comportamentos intencionais padronizados e, portanto, para a preparação e execução de ações.

Quando esse campo do córtex é estimulado eletricamente nos seres humanos, o paciente enuncia sílabas ou elementos linguísticos individuais. A AMS, no entanto, não é o centro da linguagem nos seres humanos. É a combinação entre a AM5 e a área de Broca que gera palavras e frases, unindo assim os elementos em um todo.

A AM5 parece ser importante para a fala espontânea. Quando essa área é destruída, o paciente ainda consegue responder a perguntas, mas não é mais capaz de falar espontaneamente – é como se lhe faltasse o impulso para falar. Tanto nos símios como no homem, esse campo dá início aos movimentos manuais adquiridos, e isso nos ajuda a entender melhor a função da AM5. Ela pode ter, no homem, uma função dupla: buscar na memória os padrões aprendidos dos movimentos dos dedos, e também dos movimentos do aparelho fonador. Mas ainda não está claro o modo como as duas áreas, a AM5 e a área de Broca, trabalham em conjunto, e quais as funções de cada uma.

 

PENSAMENTO E MOVIMENTO

O fato de que essas duas áreas desempenhem no homem um duplo papel – controle dos movimentos manuais e do aparelho fonador – faz alguns pesquisadores acreditarem que a linguagem se desenvolveu a partir da crescente habilidade manual dos primatas. Os símios aparentemente possuem na F5 (precursora da área de Broca humana) algo ritmos neuronais que concatenam movimentos individuais, embora as sequências resultantes continuem sendo curtas. Evidentemente, falta aos símios a capacidade de articular movimentos complexos em longas cadeias de ações, e recordarem-se delas.

Essa capacidade é indispensável não apenas para tocar piano, mas para concatenar sílabas em palavras, e palavras em frases. Apenas o homem dispõe de redes neurais locais que possibilitam essas concatenações em princípio infinitas de movimentos sequenciais. Do ponto de vista de sua história evolutiva, de fato a fala parece estar estreitamente ligada a nossas habilidades manuais. As maiores realizações na arte e na ciência não existiriam sem essas habilidades; nada saberíamos da riqueza intelectual de Sigmund Freud, Charles Darwin ou das criações musicais de Igor Stravinsky se estes não tivessem expressado ou escrito suas ideias, em palavras ou notação musical. Ao ler ou ouvir os pensamentos científicos ou musicais de outras pessoas, podemos chegar a pensá-los nós mesmos.

Os centros da linguagem no cérebro humano, principalmente a área de Broca, permitem juntar ações elementares da musculatura que comanda a articulação vocal de forma muito rápida e precisa, formando cadeias tão longas quanto se queira. Dispomos, para esse fim, de algoritmos neuronais que concatenam os comandos motores individuais formando séries arbitrariamente longas e sempre diferentes. Esses encadeamentos podem seguir regras aprendidas, como uma gramática ou o dedilhado de uma peça para piano.

Ainda não sabemos, porém, qual é a origem das estruturas gramaticais que ordenam as palavras em frases sintaticamente bem construídas. A pesquisa biológica encontra aí seus limites. A geração de sequências gramaticais de sons capazes de veicular sentidos exige competências de tipo fonológico e sintático, como as descritas por Noam Chomsky. Essas competências devem ter se desenvolvido em conjunto com as capacidades motoras, mas ainda não é possível, hoje, responder como isso se deu. Nossos pensamentos motores muitas vezes não são sequer executados, mas experimentados em silêncio. Nossa capacidade de pensar desenvolveu-se a partir de nossa espetacular inteligência motora, como se a moldássemos com as mãos e a expressássemos em palavras.

OUTROS OLHARES

COMPRATIVISMO

Aumenta o número de brasileiros que compram ou boicotam uma marca em virtude de sua posição sobre questão racial ou política.

Comprativismo

Assim como votar, consumir é um ato político. Igual aos produtos à venda no mercado, candidato    também são negociados – e avaliados – durante a campanha eleitoral. A diferença é a moeda de troca envolvida ao final do processo de escolha: no lugar do real, o voto. Depois das eleições mais conturbadas desde a redemocratização, o Brasil que emergiu das urnas, há duas semanas, é um país cindido. Os eleitores elegeram um presidente que adotou uma retórica hiperbólica e bélica e disparou diatribes contra a minorias enquanto os consumidores preferem a marca que defendam causas sociais, indo de encontro ao país projetado pelo presidente recém-eleito. Ainda durante a campanha, Jair Bolsonaro disse querer ”um Brasil semelhante àquele que tínhamos há 40, 50 anos      atrás” – aos consumidores daquela época só importava se o produto era bom, e não se a empresa era confiável, ética, inovadora e engajada com questões sócio ambiental. O Brasil retrô ao qual o novo presidente se referiu é a antítese desse consumidor engajado que domina a agenda do século XXI.

A polarização vivida pelo país nas eleições 2018 não é um problema exclusivo do Brasil. É um fenômeno mundial. Ao mesmo tempo que a compra por convicção prevalece globalmente, o mundo tá ficando cada vez mais desconfiado, e o principal alvo é justamente o governo. A constatação é de um conjunto de pesquisas da Edelman, agência global de relações pública. Depois     de estudar o comportamento do consumidor em oito países, a sondagem Edelman Earned Brand 2018 concluiu que duas a cada três pessoas pagam por um produto motivada pelo policiamento    da marca sobre temas da sociedade. Em sua quarta edição, o levantamento foi feito no Brasil, na China, França, Alemanha, Índia, no Japão, Reino Unido e nos Estados Unidos, entre junho e julho deste ano.

Ainda segundo o Earned Brand 2018, 69 % dos brasileiros compram ou boicotam uma marca em    virtude de sua posição sobre uma questão social ou política, revelando um impressionante aumento de 13 pontos em relação ao ano passado.  A média mundial é mais baixa: 64%. Como o Brasil tem seguindo a tendência global, o consumo orientado por um causa domina todas as faixas   etárias, assim como se disseminou entre os diferentes grupos sócio- econômicos.

No Brasil, 5996 entrevistados responderam que as marcas têm ideias melhores que o governo para resolver os problemas; mundialmente, a média é 46%. A crença dos brasileiros quanto à capacidade de as empresas fazerem mais do que o governo, para solucionar questões sociais é mais arraigada aqui do que lá fora: 63% em comparação a 53%.

“Os consumidores estão depositando nas empresas seus desejos de mudança”, disse Marcília Ursini, vice-presidente de Engajamento para Marketing na Edelman. Cada vez mais as companhias estão indo além de seu negócio tradicional para se posicionar sobre questões relevantes para ela e seu público, seja por meio e um posicionamento consistente, seja pela defesa de questões atuais e do ativismo de causa, concluiu.

Em outra enquete, também da Endelman Trust Barometer 2018, mediu o índice de confiança em quatro instituições: governo, empresa, ONGs e mídia. Globalmente, 20 dos 28 países pesquisados, l incluindo o Brasil, foram classificados como desconfiados em relação a suas instituições. O nosso é

O terceiro país com maior queda no índice de confiança, atrás apenas dos Estados Unidos e da Itália – país que, coincidentemente, protagonizaram reviravolta nas últimas eleições e onde as redes sociais amplificaram todo tipo de discurso e foram vitais na disputa. O rol do mais desconfiados estão ainda na África do Sul, Índia e Colômbia. “esta edição do Edelman Trust Barometer, os dados revelam um mundo polarizado em relação ao sentimento de confiança, é um desafio para a organizações navegarem nesse ambiente com realidades tão díspares, avaliou Cristina Chachtitz, líder de Engajamento corporativo na Edelman.

A maioria dos entrevistados – 81% – acredita que no Brasil, o governo é a instituição mais corrompida das quatro pesquisadas …….. quase o dobro da média global. E 41% afirmaram que as empresas estão entre as instituições mais confiáveis ainda que tenha sido registrada uma queda de 4 pontos em relação a 2017.  Tradicionalmente, explicou Chaachtitz, a confiança cai quando as pessoas estão com menos esperança sobre o futuro e aumenta quando elas se sentem mais otimista. No Brasil, o descrédito nas instituições captado pela pesquisa nasceu num ambiente impregnado por uma crise política e econômica e emoldurado por escândalo de corrupção que    vieram à tona com a Operação Lava Jato. O levantamento de dados ocorreu entre outubro e novembro de 2017, pouco antes, portanto, do início do processo eleitoral.

O paulista Fábio Ronnie, de 40 anos está no rol dos brasileiros desconfiados. Morador de Guarulhos, na Região Metropolitana de São Paulo, ele tentou trocar seu carro, um Duster 2014, da Renault, por um EcoSport 2015 da Ford, em setembro passado. Atraído por um anúncio de uma concessionária multimarcas de sua cidade, que dizia ter “a melhor avaliação do mercado”, Ronnie se animou. A empolgação durou pouco. A concessionária ofereceu um valor 35% abaixo do sugerido na tabela Fipe para carros usados. Indignado, escreveu para o site Reclame AQUI e desancou a multimarcas.

“Acham que meu dinheiro sai da torneira”, escreveu em sua reclamação e concluiu seu texto fazendo uma alusão à corrupção no Brasil: “Depois um lugar desses quer reclamar do país, dos políticos, mas fazem exatamente a mesma coisa”. A chiadeira surtiu efeito. Menos de três horas    depois da queixa ter sido publicada no site, a empresa entrou em contato e sugeriu que seu carro    fosse avaliado por outra concessionária que não a de Guarulhos. O negócio não foi fechado, mas o potencial cliente ficou satisfeito com a agilidade da empresa. Ronnie não só admitiu a possibilidade de voltar a fazer negócios com a concessionária, como reafirmou, nesse episódio, sua convicção de que é mais fácil acreditar numa marca do que num político.

Tamanha descrença na classe política, segundo a professora Áurea Helena Puga, da Fundação     Dom Cabral (FDC), vem do fato de muitos políticos não abraçarem causas. “A maioria deles está legislando em causa própria”, diz ela, comentando que essa falta de compromisso não tem mais espaço no mundo corporativo. A consultora e também professora da instituição Betânia Tanure         completou o raciocínio comentando que a sociedade brasileira precisa amadurecer e perceber que ”o voto deveria ser encarado como um instrumento de apoio ou de agravo, como é o ato de consumir”.

Com o mundo vivendo a era do empoderamento do consumidor, são pessoas como Ronnie que dão as cartas no mundo dos negócios. Com mais informações sobre produtos e serviços, o consumidor do século XXI é um sujeito multicanal, que obriga as empresas a ser bem mais ágeis. Manter uma boa reputação no mercado virou uma obrigação, caso contrário ficará mais difícil   sobreviver – motivo pelo qual a concessionária Honda foi célere em resolver o problema de Ronnie.

Se, no passado, a responsabilidade social de uma empresa era aumentar seus lucros, como pregou o ícone do laissez-faire e Prêmio Nobel de Economia de 1976, Milton Friedman, hoje ser uma marca vendedora não é mais a única variável para garantir o sucesso no mercado. É preciso ser uma marca vencedora, e, para isso, reputação é tudo. Num mundo onde a mudança virou rotina e a reputação um escudo, Friedman foi superado, na prática, pelo megainvestidor Warren Buffett, que, além de ganhar muito dinheiro, sintetizou o momento atual de maneira lapidar: “Perca dinheiro para a empresa, e eu entenderei. Perca um pingo de reputação, e eu serei implacável”. Prestígio virou sinônimo de dividendo, e por isso a reputação passou a ser um ativo cobiçado – a ponto de uma reclamação ter o poder de detonar uma bomba na empresa, obrigando-a promover mudanças radicais. Foi o que ocorreu com a Skol, lembrou o sociólogo e especialista em comportamento de consumidor Fábio Mariano, professor da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). O exemplo é antigo, mas emblemático, para ilustrar as mudanças que vêm ocorrendo no mundo contemporâneo.

Depois de sofrer um massacre nas redes sociais ao veicular uma campanha publicitária sugerindo que as mulheres deixassem o “Não” em casa no Carnaval 2015, a Skol fez um mea-culpa e assumiu seu passado machista por explorar a objetificação feminina na propaganda da cerveja. A empresa foi uma das primeiras marcas a abandonar estereótipos e incorporar uma linguagem inclusiva em sua propaganda: saíram os biquínis e trajes curtos, entraram em cena homens e mulheres de diferentes estilos e cores, casais gays e até pessoas que, durante muito tempo eram consideradas fora dos padrões estéticos exibidos pela publicidade.

“As marcas estão abraçando causas, porque o consumidor está cada vez mais consciente”, comentou Mariano, explicando que a consequência natural será a comunicação da empresa passar por mudanças”, a exemplo do que ocorreu com a Skol. Recalibrar a forma de se comunicar passou a ser fundamental, especialmente para dialogar com o consumidor brasileiro. Como apontou a Edelman, as escolhas baseiam-se na própria identificação – ou não – do consumidor com o posicionamento da marca em relação a temas da sociedade. Em período eleitoral, o risco de misturar política com negócio pode ser explosivo. Mas tudo depende da forma de comunicação.

Às vésperas do pleito, a rede de fast-food Burger King entrou na polarização política sem escolher nenhum dos lados. Optou por defender o voto consciente.  A empresa disseminou um vídeo nas redes sociais contra o voto nulo ou branco e lançou mão de uma urna falsa, instalada em frente à loja da rede na Avenida Paulista, o coração financeiro do país em São Paulo. Os pedestres eram      estimulados a participarem da falsa votação. Quem optasse por votar em branco ganhava um sanduíche recheado apenas de cebola e maionese, em que vinha escrito na embalagem do lanche: “Este é o Whopper em branco, um sanduíche sem ingredientes e escolhidos por outra pessoa. Quando alguém escolhe em seu lugar, não dá para reclamar do resultado”.

O ativismo eleitoral do Burger King não chegou a mudar substancialmente a falta de disposição dos eleitores em optar entre PSL e PT – a soma dos votos nulos e brancos, com as abstenções, contabilizou 42,1 milhões de votos, ou seja, cerca de um terço do total de votos computados. Mas   a estratégia rendeu elogios.  “A empresa fez parte da conversa de uma forma inteligente”, comentou Marília Ursini, da Edelman, chamando a atenção para outras estratégias que não foram tão felizes. Foi o caso do empresário Victor Vicenza, fabricante de calçados de Santa Catarina. O dono e a marca se confundiram ao deixar clara sua preferência por Bolsonaro, e a comunidade LGBTI+ revoltou-se. Clientes famosos, como Pabllo Vittar, anunciaram que não consumiriam mais   as sandálias, botas e sapatos da grife Vitor Vicenza.

“Vemos os partidos políticos, a política e as arenas de debate na sociedade cada vez com menos valor, e os consumidores estão se valendo da forma como ele compram e do poder do dinheiro para conseguir referendar essas posições, analisou Michel Alcoforado, antropólogo sócio fundador da Consumoteca, empresa especializada em consumo e tendências de comportamento do brasileiro. Ele está convencido de que “aplicativos e o movimento que vemos nas redes sociais em que as pessoas deixam de comprar determinados produtos por causa de suas posições políticas e identidades em seus pleitos, vão se fortalecer nos próximos anos. Foi-se o tempo em que vender era apenas um ato unilateral, e são os consumidores que ditam o ritmo da mudança.

Comprativismo.2

GESTÃO E CARREIRA

NEUROLIDERANDO MUDANÇAS

Será que a dificuldade em promover alterações nas organizações está no fato de as ações seguirem um modelo centrado em processos planejados? Do ponto de vista da neurociência cognitiva organizacional, parece que sim.

Neuroliderando mudanças

Influenciados pelos avanços das neurociências, gestores e líderes têm debatido sobre como conhecimentos nesse campo podem acelerar processos de mudanças tanto na vida pessoal quanto nas organizações. O tema é tão inusitado e polêmico que pesquisadores têm buscado mediar a dicotomia entre neuroeuforia e neurofobia na tentativa de informar (de modo realista e crítico) de que maneira a “neurociência cognitiva organizacional” pode apoiar a gestão de mudanças. Para progredirem nessa discussão, estudiosos do tema têm chamado atenção para os processos implícitos envolvidos no comportamento. Tais sugestões estão fundamentadas em avanços nos campos da psicologia, em especial em apontamentos de que o comportamento nem sempre é deliberado, reflexivo, flexível e motivado pela avaliação das consequências futuras, mas muitas vezes é automático, pouco controlado e guiado pelo contexto. Medidas implícitas geralmente são obtidas a partir de tarefas cognitivas computadorizadas – contudo, seu uso não está isento de críticas e apresenta potencialidades e limitações.

Se, por um lado, as medidas implícitas nos oferecem a oportunidade de capturar respostas espontâneas, eficientes em situações rotineiras e que muitas vezes ocorrem sem que as pessoas se deem conta – como se o pensamento estivesse em outro lugar –, por outro, elas impõem o desafio de definir o que fazer com essa dimensão do comportamento humano quando se trata de gestão de pessoas. Adotando um ponto de vista mais pragmático, discute-se, por exemplo, a utilidade dessas avaliações, uma vez que elas são consideradas rígidas, não conscientes e difíceis de mudar. Uma das razões que fundamentam essa preocupação pode estar amparada no modelo no qual está ancorada a distinção entre processos implícitos e explícitos – o modelo duplo de processamento de informações.

A partir desse modelo, comportamentos observados em resposta a estímulos apresentados por tempos inferiores a meio segundo são interpretados como implícitos (não conscientes), enquanto respostas mais demoradas são denominadas explícitas (conscientes). Embora a distinção dicotômica entre implícito e explícito seja mais didática do que realista, ela é relativamente convergente com estudos sobre a consciência, o que pode sustentar certo ceticismo acerca das possibilidades de modificação de comportamentos implícitos.

ENTRE HABITUAÇÃO E TÉDIO

Existe, entretanto, uma visão alternativa e mais flexível dessa distinção, a qual considera o comportamento como um contínuo (e não como tudo ou nada), capaz, então, de transitar do implícito para o explícito e vice–versa. Por exemplo, aceita-se que, com tempo, esforço e motivação, as pessoas possam evoluir de comportamentos implícitos para explícitos. O contrário também é admitido – porém, a transição de comportamentos explícitos para implícitos parece depender de exposições repetidas a novas associações.

Além disso, de acordo com os estudos sobre o efeito de mera-exposição realizados pelo psicólogo Robert Zajonc, professor da Universidade de Michigan, morto em 2008, aceita-se que seja possível desenvolver novas atitudes associadas à frequência de exposição. Isso fundamenta práticas de exposição repetida a intervenções orientadas à mudança de comportamentos no trabalho. Uma característica importante desse efeito é que ele pode ser interpretado em termos de um contínuo entre habituação e tédio. Enquanto a primeira talvez influencie o comportamento pela familiaridade, o tédio desencadeado pela frequência excessiva pode diminuir e até mesmo extinguir o efeito de exposição. Essa ideia é particularmente relevante para a gestão porque pode influenciar definições de cronogramas de periodicidade de intervenções rumo a metas de mudança comportamental nas organizações, por exemplo. Um ponto importante, porém, é que mesmo as atitudes parecem ter uma dimensão implícita e outra explícita.

Se fizermos uma pequena pesquisa sobre como as pessoas definem atitudes, será possível chegar à conclusão de que o termo é definido de maneiras distintas pelo público geral. Para uns, por exemplo, pode estar relacionado a comportamentos (uma pessoa com uma atitude exagerada diante de um acontecimento); para outros, a questões afetivas (atitude positiva e confiante em relação aos seus problemas). De certo modo, essas perspectivas estão mais ancoradas nas experiências do dia a dia. No contexto científico, o conceito de atitude tem um significado mais preciso, que pode ser explicado, em termos gerais, da seguinte forma: atitudes envolvem três domínios – afetivo, cognitivo e comportamental. Para simplificar, pensemos em um assunto que tem sido discutido com alguma frequência: ambientes livres de cigarro. Uma pessoa pode não gostar de cigarro (afeto), pode pensar que cigarro é nocivo à saúde e, portanto, negativo (cognição) e, por fim, pode não querer ficar próxima a fumantes (comportamento). Assim, de modo simples, a atitude dessa pessoa é, na verdade, um somatório dos três domínios – afetivo, cognitivo e comportamental. No contexto interpessoal, as atitudes têm muita importância, pois podem definir o grau em que as pessoas se aproximam ou se distanciam umas das outras. Pensemos em uma situação corriqueira, como ir a uma festa de final de ano. Uma pessoa pode se aproximar para conversar e contar que é psicólogo. Ao receber essa informação, surge o pensamento: “Não me sinto confortável com psicólogos, pois estão sempre nos avaliando. Então, vou encerrar a conversa e me afastar”. Essa atitude pode ser reconhecida como uma atitude explícita, já que foi fruto de um processo propositivo sobre o qual houve controle – ao receber uma informação, uma associação foi gerada e validada como verdadeira (psicologia = avaliação). Há outro tipo de atitude que é menos suscetível ao controle, a implícita. As atitudes implícitas se refletem em associações na memória que conectam um objeto a certas avaliações afetivas e cognitivas. Essas associações não são passíveis de controle, pois já estão fortemente estabelecidas e foram reforçadas ao longo do tempo. São um tipo de atitude automática que poderão ter impacto direto no comportamento se forem validadas como verdadeiras. Muitos estudos mostram que as atitudes implícitas podem ser preditoras de comportamentos reais. Isso costuma ocorrer com frequência, já que, para que uma associação automática seja validada como falsa, é preciso um alto grau de motivação para mudança. Dado esse foco no nível cognitivo de como as pessoas avaliam e elaboram teorias sobre objetos no mundo, procedimentos adequados de medida são necessários, já que não é possível simplesmente perguntar às pessoas sobre suas representações mentais e os processos de validação/decisão que nelas operam. Além disso, questões ligadas à desejabilidade social podem enviesar resultados de processos de avaliação tradicionais, como questionários de autorrelato. Foi por essa razão que o campo da cognição social adaptou paradigmas experimentais da psicologia cognitiva e desenvolveu ferramentas para avaliar as atitudes implícitas. Uma dessas ferramentas é o teste de associação implícita (IAT), publicado em 1998 pelos psicólogos Anthony G. Greenwald, Debbie E. McGhee, ambos da Universidade de Washington, em colaboração com o pesquisador Jordan Schwartz.

Um contexto no qual as atitudes têm sido muito exploradas é o organizacional. Vamos pensar em um gestor de recursos humanos (RH) que decide constantemente sobre quem empregar, quem promover etc. É muito provável que esse gestor, assim como outros profissionais da organização, sinta-se seguro de que seus pensamentos, suas crenças e ações conscientes sejam os fatores que guiam seu processo de tomada de decisão. Podemos, então, questionar: e as atitudes implícitas não têm um papel na tomada de decisão? Em um processo seletivo, será que certos tipos de informação sobre os candidatos não podem enviesar automaticamente as decisões do entrevistador? Que tipo de informações poderiam se constituir em pistas automáticas capazes de influenciar a decisão do entrevistador? Podemos pensar, por exemplo, em idade do candidato, raça, orientação sexual, religião, local de formação etc. Para auxiliar as organizações a reduzir chances de que atitudes implícitas influenciem a decisão de gestores, o IAT pode ser uma medida útil para “diagnosticar” se há, entre os gestores, vieses implícitos relacionados a determinadas características dos funcionários. Embora resistentes à mudança, as atitudes implícitas podem ser trabalhadas na organização para que não influenciem tão fortemente as decisões tomadas.

Outra aplicação do conceito de atitudes implícitas nas organizações se refere à avaliação de preferências implícitas dos funcionários diante da necessidade de realizar novas atividades no trabalho, como o cumprimento de valores ou de normas ambientais, sociais e organizacionais. Por exemplo, é possível utilizar pronomes pessoais – eu e meu – e valores organizacionais em um IAT para avaliar implicitamente o quanto os funcionários estão alinhados a esses valores, ou o quanto eles se identificam com a empresa. Esse tipo de avaliação pode auxiliar os gestores a desenvolver ações de melhoria na organização que talvez não fossem possíveis caso eles apenas contassem com o reporte explícito da preferência dos funcionários. Há diversos estudos que indicam a relevância de as organizações desenvolverem medidas que avaliam atitudes implícitas em sua rotina. O uso dessas medidas pode ser muito vantajoso quando o construto que se deseja avaliar é regido por um processo associativo de difícil controle ou quando as pressões sociais inviabilizam o uso de ferramentas como questionários em entrevistas. Outra questão intrigante no campo do processamento implícito é a relativa ao comportamento moral. Estudos em neurociência cognitiva e social têm indicado que o cérebro humano julga de forma automática esse tipo de comportamento. O resultado desse julgamento influencia a maneira como as pessoas se comportam no contexto de relações interpessoais nas empresas.

JULGAMENTO MORAL

Avanços no entendimento dos processos implícitos têm apontado para o fato de que os funcionários são mais produtivos e apoiam mais as ideias de seus líderes quando estes são empáticos e éticos. Um estudo realizado nos Estados Unidos com uma empresa de transporte mostrou que o índice de absenteísmo era muito menor – e não importavam as outras condições aversivas negativas do trabalho – quando os funcionários consideravam seus supervisores diretos como pessoas justas, preocupadas com o bem-estar dos membros da equipe. Os pesquisadores atribuem o baixo índice de absenteísmo à necessidade de os funcionários serem recíprocos com aquele que os ajuda, de forma a evitar qualquer problema que o absenteísmo possa gerar para ele.

A percepção sobre o comportamento do outro como justo ou moral vem sendo indicada por diversos estudos como um fator importante nas interações sociais, influenciando a motivação para a mudança, por exemplo. O que está por trás das ações alheias é um fator considerado automaticamente pelo cérebro no julgamento das intenções e ações do outro. As áreas do córtex pré-frontal medial (CPFM) e ventromedial (CPFVM) e a junção temporoparietal (JTP) são importantes no processamento da intenção alheia e no julgamento moral – que é o julgamento do comportamento como justo –, visando ao bem-estar do outro e à ética, com a preocupação de não causar danos e prejudicar alguém.

Os pesquisadores Silke Astrid Eisenbeiss, da Universidade de Tübingen, e Clemens M. Fahrbach, da Universidade Ludwig-Maximilians (as duas instituições na Alemanha), e Daan Van Knippenberg, da Universidade Eramus de Roterdã, na Holanda, realizaram um estudo com 32 empresas alemãs de vários setores. Destas, 145 empregados participaram respondendo a dois questionários, a fim de verificar o desempenho das empresas – um sobre a percepção do CEO (diretor, do inglês chief executive officer) como ético e outro sobre a cultura da empresa, se era ética ou não. O resultado foi surpreendente: as empresas com CEOs considerados éticos e com cultura organizacional ética apresentaram melhor desempenho do que as outras.

Em outro estudo, Alex B. Van Zant e Don A. Moore, professores da Universidade da Califórnia, solicitaram que funcionários julgassem propostas de dois CEOs fictícios. As propostas eram vinhetas que apresentavam uma justificativa dada pelo CEO para a elaboração da proposta. O CEO cujas justificativas ressaltavam a importância das propostas para o bem-estar dos funcionários foi julgado como moral e benevolente, obtendo maior apoio dos funcionários do que o CEO pragmático, que foi considerado egoísta e obteve menos apoio, visto que suas justificativas focavam os lucros e a redução de custos.

Considerando os resultados desses estudos, cabe perguntar, por exemplo, por que os funcionários têm aversão a um CEO pragmático se o objetivo das empresas e de um CEO é, racionalmente falando, aumentar a lucratividade da empresa e sua representatividade no mercado?

A neurociência tem contribuído para que esses fenômenos sejam mais bem compreendidos. Como citamos, o julgamento moral é um processo automático por ser um mecanismo evolutivo que aumenta as vantagens de sobrevivência do ser humano. O fato de este ser dependente de outros seres humanos para sobreviver demanda o uso de mecanismos de proteção, como a detecção automática da intenção do outro, a preferência por comportamentos de reciprocidade (pró-sociais – cooperação, justiça, confiança) e a aversão à solidão. Tais mecanismos dispõem de bases neurobiológicas envolvendo o sistema de recompensa, o córtex cingulado anterior e as áreas anteriormente citadas. A solidão, a rejeição social e a exclusão social geram dor social, ativando as mesmas áreas que processam dor física.

Um dos primeiros estudos a mostrar que esses mecanismos neurobiológicos participam também do julgamento das ações de empresas foi realizado por Pitt, Savjani e Eagleman. Os autores descobriram que as áreas cerebrais ativadas quando realizavam o julgamento das ações de seres humanos (CPFM,polo superior temporal bilateral, córtex cingulado posterior) são as mesmas que processam o julgamento das ações das corporações (ações pró-sociais e antissociais). Ou seja, as corporações são neurologicamente representadas como seres sociais. A ativação dessas áreas está relacionada à capacidade de sentir empatia, de pensar sobre as ações dos outros e, portanto, de decidir sobre colaborar (ou não) com um processo de mudança.

Ao entenderem melhor os processos automáticos envolvidos no comportamento, gestores e líderes passam a perceber por que é tão difícil (e, às vezes, até impossível) implementar mudanças, e é essa uma das principais contribuições que a neurociência está oferecendo às organizações hoje. A justificativa dessa abordagem está fundamentada na ideia deque, quanto mais os líderes aprenderem sobre os processos automáticos envolvidos no comportamento (por exemplo, atitudes implícitas e julgamento moral), com o tempo, mais seus colaboradores também aprenderão, e maior será a capacidade de engajar pessoas e de promover mudanças duradouras

Neuroliderando mudanças. 2

NÃO BASTA TER TALENTO, É PRECISO SER EMPÁTICO

Características como carisma, inteligência e empatia sempre foram consideradas fundamentais para o exercício do comando eficaz. Durante muitos anos especialistas afirmaram que bons líderes teriam talentos inatos, usados para conquistar seguidores e despertar o entusiasmo da equipe ou conseguir obediência. Essa teoria sugeria que pessoas com perfil de líder poderiam ser bem-sucedidas em qualquer situação.

Nos últimos anos, porém, vem surgindo uma nova imagem de liderança. Em vez de simplesmente desfrutar o “dom” da autoridade inata, os líderes contemporâneos precisam se esforçar para entender valores e opiniões das pessoas que pretendem comandar, se quiserem estabelecer relações produtivas. Essa conduta permite compreender o funcionamento do grupo, o que resulta em intervenções mais eficazes, sobretudo a longo prazo. O conceito de liderança, portanto, está relacionado à capacidade de direcionar os interesses do grupo onde se está inserido, e não à obediência em troca de recompensas ou obtida com punições; os mais hábeis não são os que conseguem impor o que pensam, mas sim aqueles que despertam nos colegas o desejo de cooperação, em vez de imposição. Para ganhar credibilidade, os líderes de hoje devem se posicionar na equipe, não acima dela.

Segundo essa nova abordagem, não é possível determinar um conjunto de traços de personalidade que garantam a boa liderança: as características desejáveis de um líder dependem da natureza do grupo. Pesquisas recentes revelam, porém, que a maioria das empresas ainda leva em conta o conceito antigo, segundo o qual pessoas em postos de comando devem trabalhar para “moldar” a identidade do grupo subalterno de acordo com os próprios interesses. 

Para entender melhor o tema, formamos três equipes e determinamos diferentes formas de remuneração:  num dos grupos todos recebiam os mesmos valores; nos outros, o salário do líder correspondia ao dobro e ao triplo do dos demais. Embora a diferenciação não tenha afetado os esforços dos coordenadores, o rendimento dos membros da equipe caía de maneira significativa e sob condições de desigualdade mais acentuada. O pesquisador americano Peter F. Drucker, doutor em administração, professor da Universidade Claremont Graduate, argumentou que “salários muito altos no topo abalam a equipe, que passa a considerar o próprio gerente como adversário, em vez de colega. Essa estratégia apaga qualquer disposição das pessoas em pensar coletivamente e se esforçar para algo além do próprio interesse imediato”. 

Obviamente, a diferença de remuneração é vista pelos integrantes da equipe como injusta. O conceito de comando ético, em geral, está relacionado à capacidade de se sacrificar pelos outros e não obter vantagens individuais. Mahatma Gandhi (1869-1948) costuma ser citado como exemplo: conquistou admiradores em todo o mundo usando vestimenta de aldeão indiano, como símbolo de sua recusa a bens materiais. (Por STEPHEN D. REICHER, doutor em psicologia social, professor da Universidade de St. Andrews, na Escócia; S. ALEXANDER HASLAM, doutor em psicologia, professor da Universidade de Exeter, na Inglaterra; e MICHAEL J. PLATOW, doutor em psicologia, professor da Universidade Nacional Australiana)

 

 

 KEITILINE R. VIACAVA é administradora, doutora em psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e pós- doutora em neurociência cognitiva pela Universidade Georgetown.

MARIA CLARA P. DE PAULA COUTO é psicóloga, doutora em psicologia pela UFRGS e pesquisadora de pós-doutorado no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq/HCFMUSP).

CAMILA CAMPANHÃ é psicóloga, doutora em distúrbios do desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e professora de especialização na mesma instituição.

ALIMENTO DIÁRIO

PROVÉRBIOS 14: 31-35

Pensando biblicamente

O CONTRASTE ENTRE OS JUSTOS E OS ÍMPIOS

 

V. . 31 – Aqui, Deus tem prazer em se interessar, mais do que poderíamos imaginar, pelo tratamento dado aos pobres.

1. Ele se considera insultado com os insultos que são feitos a eles. O que oprime ao pobre, aproveitando-se dele porque é pobre e não tem como se sustentar, deve saber que insulta aquele que o criou. Deus o criou, e lhe deu a sua existência, o mesmo que é o autor da nossa existência; todos nós temos um só Pai, um Criador; veja como Jó considerou isto (Jó 31.15). Deus o fez pobre, e lhe indicou este destino, de modo que, se lidarmos cruelmente com alguém porque é pobre, isto repercute na presença de Deus, por lidarmos cruelmente com esta pessoa. Esta é uma humilhação, que faz com que a pessoa pobre venha a ser pisada.

2. Ele se considera honrado pelas bondades que lhes são feitas; Ele as considera como sendo feitas a Ele mesmo, e se mostrará, consequentemente, satisfeito com elas: “Tive fome, e destes-me de comer”. Portanto, aqueles que procuram oferecer alguma honra verdadeira a Deus demonstrarão isto através da compaixão que tiverem para com os pobres, para com os quais Ele se empenhou, de urna maneira especial, desejando protege­ los e favorecê-los.

 

V. 32 – Aqui temos:

1. A condição desesperada de um ímpio, quando sai ao mundo: “Pela sua malícia, será lançado fora o ímpio”. Ele se agarra tão fortemente ao mundo que não pode encontrar forças em seu coração para deixá-lo, mas é lançado fora dele; a sua alma é exigida, é forçada a se retirar dele, e o pecado se apega tão intimamente a ele, que se torna inseparável; e vai com ele para o outro mundo; ele é lançado fora, com a sua maldade, morre em seus pecados. sob a culpa e o poder deles, sem ser justificado, sem ser santificado. A sua iniquidade é a tempestade em que ele é lançado, como pragana perante o vento, expulsa do mundo.

2. A condição confortável de um homem piedoso, quando conclui seu caminho: “O justo até na sua morte tem esperança”, esperança de felicidade do outro lado da morte, de coisas melhores no outro mundo do que teve neste. Os justos, então, têm em si a graça da esperança; embora tenham dores, e algum temor da morte, ainda assim têm esperança. Eles têm diante de si o bem que esperavam, a bendita esperança que Deus, que não mente, prometeu.

 

V. 33 – Observe:

1. A modéstia é urna das marcas da sabedoria. Aquele que é verdadeiramente sábio esconde o seu tesouro, de modo a não se vangloriar dele (Mateus 13.44), ainda que não esconda o seu talento, de modo a não negociar com ele. “No coração do prudente, repousa a sabedoria”; a sua mente absorve o seu conhecimento, e o tem preparado, mas não fala dele em alguma ocasião inoportuna nem faz estardalhaços. O coração é a sede dos sentimentos, e ali a sabedoria deve repousar, no seu amor prático, e não nadar até a cabeça.

2. A franqueza e a ostentação são sinal de tolice. Se os tolos têm algum pequeno resquício de conhecimento, aproveitam todas as oportunidades, ainda que alheias à situação, de exibi-lo, e o apresentam com destaque. Ou a tolice que há no interior dos tolos se conhece pela sua disposição em falar. Muitos homens tolos se esforçam muito mais para exibir a sua tolice do que um sábio pensa que vale a pena se esforçar para exibir a sua sabedoria.

 

V. 34 – Observe:

1. A justiça exalta as nações, ao reinar nelas. Uma administração justa do governo, a equidade imparcial entre os homens, o incentivo público dado à religião, a prática e profissão de virtude, a proteção e preservação de homens virtuosos, a caridade e a compaixão com estrangeiros (as esmolas são, às vezes, chamadas de justiça), estas coisas exaltam uma nação; elas sustentam o trono, elevam as mentes das pessoas e qualificam uma nação para a benevolência de Deus, o que as exalta, como uma nação santa (Deuteronômio 26.19).

2. O pecado, reinando em uma nação, traz desgraça a ela: “O pecado é o opróbrio dos povos”, é uma vergonha para qualquer cidade ou reino, e os torna desprezíveis entre os seus vizinhos. O povo de Israel foi exemplo frequente das duas partes desta observação; eles eram grandes quando eram bons, mas quando abandonavam a Deus, todos à sua volta os insultavam e os pisavam. É, portanto, o interesse e o de­ ver dos príncipes, usarem o seu poder para suprimirem a maldade e apoiarem a virtude.

 

V. 35 – Isto mostra que, em uma corte e em um governo bem organizados, sorrisos e favores são distribuídos entre os que se dedicam a funções públicas, de acordo com os seus méritos: Salomão informa que adotará esta regra:

1. Os que se comportarem de maneira prudente serão respeitados e promovidos, independentemente dos inimigos que possam ter e que procurem miná-los e prejudicá-los. Nenhum homem deverá negligenciar as suas funções ou serviços para agradar um grupo, ou um favorito.

2. Os que forem egoístas e falsos, que traírem a sua nação, oprimirem os pobres e semearem a discórdia, desta maneira causando vergonha, serão removidos e banidos da corte, independentemente dos amigos que possam falar a seu favor.

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