SEM MEDO DO SUCESSO
Mais do que vontade, quem deseja empreender precisa estudar e planejar bem seus passos para minimizar os riscos e fazer valer o sonho e o investimento.

O brasileiro tem, naturalmente, um perfil inventivo, sonhador e empreendedor. Enxerga, por vezes, potencial em diversos processos e cria soluções a partir disso. E são muitos com esse perfil: um levantamento da Boa Vista – Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC) aponta que o número de novas empresas cresceu 13,6% no Brasil em 2017 na comparação com o ano anterior.
É desejo da maioria ser dono do próprio negócio, seja por necessidade, oportunidade ou vontade. Mas, apesar disso, alguns receios ainda impedem mentes criativas de tirar o sonho do papel e concretizá-lo. No geral, o medo de empreender está diretamente ligado às incertezas do processo.
Segundo estudo organizado pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), em parceria com a MindMiners, entre os medos mais recorrentes, ter de fechar a empresa porque ela “não deu certo” é um cenário que assusta 52% dos entrevistados; outros 38% temem não conseguir um investidor para ajudar a alavancar o negócio; e 21% têm medo de entrar em atrito com os sócios e/ou parceiros.
Para o consultor e sócio- presidente da baJStockler, Luís Henrique Stockler, esse receio faz parte e será continuo na vida das pessoas que desejam empreender. “Mais do que medo, é preciso ter determinação e acreditar, sem desistir quando há pedras no caminho. A vontade da realização deve superar qualquer entrave”, ressalta. “O que define o bom empreendedor é a capacidade de resiliência perante os resultados negativos peculiares ao processo. Falhar faz parte. Errar e aprender com o erro significa estar mais forte e preparado para acertar na próxima empreitada”, complementa o diretor do Instituto Gênesis da PUC-RIO, João Gabriel Hargreaves.
O diretor e fundador da Giuliana Flores. Clóvis Souza, que começou o negócio trabalhando terceirizado em uma loja vendendo flores e hoje conduz um negócio de sucesso, ressalta que resiliência e capacidade de adaptação devem ser os pontos fortes de quem deseja empreender. “Não desistir dos seus objetivos é o principal, mas saber mudar de ideia é igualmente fundamental – se não deu certo de um jeito, talvez o ideal seja mudar a estratégia. O importante é não desanimar e sempre se concentrar no seu objetivo”, indica.
ROTAS PARA O SUCESSO
A mentora e consultora Isabella Prata lembra que empreender uma ideia precisa de profunda pesquisa e análises quanto à demanda pelo que pensamos em desenvolver, o que diminuirá as chances de insucesso. “Costumo recomendar primeiro uma conexão com o mundo de hoje, para percebermos quem é o consumidor, o que as pessoas buscam nesse período de tantas mudanças globais que têm ocorrido. Essa conexão se dá por meio de absoluta atenção ao nosso entorno, do momento que acordamos até o momento que voltamos a dormir de noite observando as pessoas, os lugares, a cidade e a natureza, esteja você no trabalho, caminhando, fazendo uma refeição etc. É importante ler, pesquisar, conversar com as pessoas, acessar todas as mídias possíveis, exercitar a presença. ter foco e, principalmente, não se desconectar do seu próprio eu”, indica.
Vale lembrar que ser dono de um negócio não é, necessariamente, criar algo novo; é também poder inovar em modelos de empresas que já existem. “Talvez alguém já tenha aberto algo e busca um sócio que pode ser exatamente você, o seu perfil. Por isso, é importante estar antenado”, sugere Isabella.
João Hargreaves lembra ainda que o melhor modelo para investir depende do risco a ser assumido. “Franquias, por exemplo, têm menos risco do que um novo negócio. Em contrapartida, um novo negócio tem maior rentabilidade para o investidor caso seja um sucesso”.
O momento certo também está mais ligado à detecção de um negócio que seja escalável, com risco reduzido em função da situação vigente, do que ao desejo. “Empreendimentos de sucesso surgem e crescem quando resolvem problemas. Detectar um problema é o primeiro passo. Depois, desenvolver a solução para ele”, indica o diretor do Instituto Gênesis.
DIREÇÃO
Ser empreendedor necessita de uma série de conhecimentos que podem ser adquiridos na universidade, na experiência de trabalhos executados e, sem dúvida, ao colocar a mão na massa. Não existe uma receita para o sucesso. É possível, por exemplo, manter-se no emprego e empreender ao mesmo tempo ou mergulhar exclusivamente no negócio. Para o primeiro caso, é preciso dispor de um valor para viver pelo período todo a ser percorrido até começar a ter lucro com o seu empreendimento, que pode levar alguns meses ou até dois ou mais anos. Essa análise pode ser feita a partir de um bom planejamento que inclua questões financeiras e também a gestão de seu tempo.
Ao iniciar uma empreitada, é válido fazer um plano de negócios, verificando, primeiro, a região e nicho de mercado. Depois, verificar se possui habilidades para desenvolver a atividade empreendedora e senso de administração. Também verificar quanto vai gastar para deixar o empreendimento funcionando e ter uma reserva para capital de giro, pois, na maioria das vezes, o empreendimento demora para “se pagar” e dar retorno.
A gerente da unidade de Navegantes (SC) da Instituição Comunitária de Crédito para MPEs BluSol, Emely Juliana Bonacols, lembra que nenhum negócio vem com uma receita pronta de sucesso; mas existem caminhos mais fáceis. “É válido entender do negócio, ter afinidade com a atividade empreendedora que vai exercer, habilidades técnicas e sabedoria para administrar. Com isso, maiores são as chances de dar certo. A pessoa que empreender tem que ter paixão pelo que está fazendo, pois é muito difícil imaginar o sucesso sem que a pessoa goste do que faz”, conclui.
Segundo o dentista André Belz, que trocou a tradição familiar e a carreira de dentista para ser sócio- franqueador da rede de franquias de idiomas Rockfeller, para ter experiência, você precisa começar um dia. “Quanto mais jovem a pessoa, mais fácil e mais coragem ela possui para assumir alguns riscos. Penso que todos podem desenvolver habilidades necessárias para se tornar um líder e empreendedor. Desejo, foco e humildade são os pré-requisitos principais”, opina.
Com sua experiência de negócios, Belz conclui que só se perde o medo de empreender, empreendendo. “Obviamente que quanto mais bem planejado, mais segurança se tem. Obter também informações, estudar o mercado em que deseja atuar, imersões e conversas com quem já faz e que você admira lhe traz certo ânimo e confiança”, afirma.
Por isso, Luís Stockler afirma: não existe um momento certo para empreender – o que existe é planejar e acreditar, acima de tudo, independentemente de outras pessoas, além de botar a mão na massa: fazer e executar. “Empreender é transformar o sonho em realidade”, concorda Hargreaves.
A análise de todos os riscos possíveis e a antecipação são essenciais. “Falhar faz parte do processo. Errar e aprender com o erro significa estar mais forte e preparado para acertar na próxima empreitada”, ressalta o diretor do Gênesis.
O melhor negócio a se investir? Segundo Isabela, isso é muito relativo, pois vai depender das preferências, investimento disponível, análises de pesquisas e muito planejamento. Para tomar a decisão do caminho, é válido procurar especialistas que possam ajudar no estudo e plano deste negócio. “É fundamental um investimento antes, pois depois que começar, o relógio dos riscos já estará em andamento e o tempo correrá contra”, lembra.
ATENÇÃO REDOBRADA
Empreender é um desafio, e o sucesso do negócio está atrelado a uma série de fatores, inclusive a capacidade dos empreendedores em minimizar seus riscos, evitando certos erros ao longo do seu crescimento. Um dos grandes erros é que as pessoas não planejam e não conhecem de fato o negócio no qual elas estão investindo.
Na opinião de André Belz, existem negócios para diferentes tipos de pessoas. “Recomendo que seja algo com o qual a pessoa se identifique – não precisa ser exatamente do ramo, você não precisa ser cozinheiro para querer atuar com o ramo de alimentação, não precisa ser professor para atuar no ramo de educação -, mas em todos os exemplos precisa encontrar seu ponto em comum, nesses casos, por exemplo, vai tratar com pessoas, portanto é um fator considerado”, diz e complementa: “A pessoa precisa entender como os negócios funcionam para saber se quer mesmo fazer aquilo. Se for operar o negócio, mas não quer trabalhar no Natal e no Ano Novo, não pode ter uma loja ou um restaurante, por exemplo. Analisar as taxas de lucratividade, a suscetibilidade a crises, a origem das receitas (se são vendas únicas ou recorrentes através de planos de mensalidades), se há necessidade de ter estoque ou não, qual tipo de retorno financeiro a pessoa pretende ter, se ela pode ter mais unidades do negócio etc. são pontos importantes e que precisam ser avaliados”, analisa.
É muito comum também novos empreendedores não atentarem a todas as exigências de um plano de negócios, que não dão a devida atenção ao recrutamento de pessoal qualificado e que ignoram a gestão financeira nessa fase inicial.
Um plano de negócios completo e bem definido, uma equipe interdisciplinar e comprometida e uma boa gestão financeira podem ser os primeiros passos para o sucesso de um empreendimento. “É necessário ter muita consciência e estar absolutamente bem informado de tudo que se passa no mundo hoje e o que está por vir no futuro próximo. Se você não tem o hábito de pesquisar e estudar, é melhor começar logo. Também precisa estar preparado para eventualmente ter de trabalhar muito mais do que sempre trabalhou e correr tantos riscos que pode realmente não valer a pena”, indica a consultora e mentora Isabella Prata.
Conhecer os próprios medos e reconhecer o que pode ser prejudicial ajuda o empreendedor a buscar pessoas ou empresas para suprir essa defasagem. “Ninguém faz sucesso sozinho. Empreender é envolver e agregar pessoas em volta dele que o ajudem a vencer as dificuldades, superar o medo e chegar ao objetivo final”, diz Stockler.
Não planejar adequadamente e ter a expectativa errada quanto à atividade são os principais erros que podem prejudicar o negócio. Por essa razão é importante desenvolver um plano de negócios para saber quanto será necessário investir inicialmente, a necessidade para o capital de giro, ter a noção correta de tempo de retomo de investimento e conhecer o máximo possível a operação para depois não dizer “eu não sabia que era assim” ou “eu não sabia que tinha que fazer isso”.
Em caso de franquias, conheça bem as regras do jogo, o papel das partes, converse com franqueados da rede e estude os documentos como pré-contratos e contratos. ‘Todos têm chance de brilhar. O sucesso está intimamente ligado ao tanto de esforço e comprometimento que dedicamos ao que fazemos. Disciplina é importante para chegar a resultados, e planejamento é fundamental para ter clareza das estratégias e decisões a tomar”, conclui a gerente da BluSol.
PARA DRIBLAR O MEDO
- Saber como funciona a parte tributária do seu negócio e contratar uma empresa de contabilidade com experiência.
- Identificar quem será o público que comprará o seu produto.
- Saber manter e aumentar o seu networking, porque ninguém faz nada sozinho.
- Atentar para a meta de chegar ao ponto em que toda a equipe saiba claramente os valores da empresa.
- O empresário precisa estar ciente de que o dinheiro da empresa não é dele, então é necessário saber separar o que é seu e o que é da empresa.
- Pés no chão, amor aos colaboradores e clientes.
PARA SER EMPREENDEDOR, ALEM DE TER VONTADE E VISÃO DE NEGOCIOS, A PESSOA PRECISA:
- Ser capaz de executar o que se propõe com muita vontade, determinação, competência e uma boa dose de ousadia.
- Ter desempenho diferenciado dos profissionais comuns, de modo a se destacar facilmente em tudo que faz.
- Não medir esforços para atingir seus objetivos.
- Ser dotada de várias qualidades que a credencia para o sucesso.
- Ser consciente de que só se chega lá à custa de muito trabalho e dedicação.
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