PROVÉRBIOS 13: 5-14
O JUSTO, EXCLUSIVAMENTE FELIZ
V. 5 – Observe:
1. Onde reina a graça, o pecado é odioso. É o caráter inequívoco de todo homem justo o fato de que ele detesta a mentira (isto é, todo pecado, pois cada pecado é uma mentira, e particularmente toda fraude e falsidade nos negócios e no convívio), não somente pelo fato de que ele não dirá uma mentira, mas porque ele abomina a mentira, por um princípio reinante e enraizado de amor à verdade e à justiça, e de conformidade com Deus.
2. Onde reina o pecado, o homem é odioso. Se os seus olhos estivessem abertos e a sua consciência desperta, ele odiaria a si mesmo e se arrependeria, no pó e na cinza; no entanto, ele odeia a Deus e aos homens bons; e, em particular, é a mentira que o torna assim, e não há nada que seja mais detestável do que ela. E, ainda que ele possa pensar em abandoná-la, por algum tempo, ainda assim ele será dominado pela vergonha e pelo desprezo, no final, e enrubescerá ao mostrar seu rosto (Daniel 12.2).
V. 6 – Veja aqui:
1. Os santos protegidos da destruição. ”A justiça guarda ao que é sincero no seu caminho”, que tem intenções honestas em todos os seus atos, que adere conscientemente às regras sagradas e eternas da equidade, e que lida com sinceridade com Deus e também o homem. A sua integridade o guardará das tentações de Satanás, que não prevalecerá sobre ele; e das ofensas dos homens maus, que não o atingirão para lhes fazer nenhum dano real (Salmos 25.21).
2. A ruína assegurada para os pecadores. Em relação aos que são ímpios, até mesmo a sua iniquidade será destruída, no final, e eles ficam à mercê dela, enquanto isto não acontece. Eles são corrigidos, destruídos? É a sua própria iniquidade que os corrige, que os destrói; e eles a suportarão.
V. 7 – Esta observação é aplicável:
I – Às propriedades materiais dos homens. O mundo é um grande enga no, não somente as coisas do mundo, mas os homens do mundo. Todos os homens são mentirosos. Aqui está um exemplo em dois terríveis males, sob o sol:
11. “Há quem se faça rico, não tendo coisa nenhuma”; estes compram e gastam corno se fossem ricos, fazem grande alvoroço e exibição corno se tivessem tesouros escondidos, quando, talvez, se todas as suas dívidas fossem pagas, não valeriam um centavo. Isto é pecado, e será urna vergonha; muitos arruínam assim as suas famílias e trazem vergonha à sua profissão de religião. Os que vivem acima do que têm preferem estar sujeitos à sua própria soberba, e não à providência de Deus; eles terminarão de urna maneira condizente com os seus atos.
2. E “há quem se faça pobre, tendo grande riqueza”; estas pessoas são consideradas pobres, porque vivem sordidamente e mesquinhamente abaixo do que Deus lhes deu, e preferem enterrá-lo, em lugar de usá-lo (Eclesiastes 6.1,2). Nesta atitude há urna ingratidão para com Deus. urna injustiça para com a família e os próximos, e falta de caridade para com os pobres.
II – Aos seus bens espirituais. A graça é a riqueza da alma; a verdadeira riqueza; mas os homens normalmente a deturpam, seja intencionalmente ou por engano, devido à ignorância sobre si mesmos.
1. Há muitos que são hipócritas declarados, que são realmente pobres e vazios de graça, e ainda assim se julgam ricos, e não se convencerão da sua pobreza, ou se fingirão de ricos, e não reconhecerão a sua pobreza.
2. Há muitos cristãos temerosos, que são espiritualmente ricos, e cheios de graça, e ainda assim se consideram pobres, e não se deixarão persuadir de que são ricos, ou, pelo menos, não o reconhecerão; por suas dúvidas e temores, suas queixas e lamentações, se tornam pobres. O primeiro engano destrói no final; este é um fato perturbador durante a vida do homem.
V. 8 – Nós somos propensos a julgar a bem-aventurança dos homens, pelo menos neste mundo, por suas riquezas, e que eles são mais ou menos felizes, conforme possuam uma maior ou menor quantidade dos bens neste mundo; mas aqui, Salomão nos mostra que grave engano é este, indicando que podemos ser reconciliados com uma condição ele pobreza e não ambicionar ou invejar os que têm abundância.
1. Aqueles que são ricos podem ser respeitados por alguns por causa de suas riquezas; para equilibrar tal fato, é importante mencionar que são invejados por outros, e atacados, e suas vielas correm perigo; assim, eles precisam resgatá-las com as suas riquezas. “Não nos mates a nós; porque temos no campo tesouros escondidos” (Jeremias 41.8). Sob o governo de alguns tiranos, ser rico já seria crime suficiente; e quão pouco um homem deve ser agradecido à sua riqueza, quando ela serve somente para redimir aquela viela que, ele outra maneira, não teria sido exposta!
2. Se aqueles que são pobres forem desprezados e ignorados por alguns que deveriam ser seus amigos, ainda assim, para contrabalançar isto, serão também desprezados e ignorados por outros , que seriam os seus inimigos, se tivessem algo a perder: “O pobre não ouve as ameaças”, não é censura do, repreendido, acusado, nem se mete em dificuldades, como os ricos; pois ninguém pensa que vale a pena notálos. Quando os judeus ricos foram levados cativos à Babilônia, os pobres da terra ficaram para trás (2 Reis 25.12). Não produziam nada, a cada sete anos.
V. 9 – Aqui temos:
1. A consolação dos homens bons – próspera e duradoura: ”A luz dos justos alegra”, isto é, aumenta e lhes traz felicidade. Mesmo a sua prosperidade exterior é sua alegria, e muito mais os dons, graças e consolações, com que suas almas são iluminadas: elas brilham, cada vez mais (Provérbios 4.18). O Espírito é sua luz, e lhes traz uma plenitude de alegria, e se alegra por fazer lhes o bem.
2. A consolação dos homens maus murcha e morre: ”A candeia dos ímpios se apagará”, melancólica, como uma vela em um jarro, e logo os tais estarão em completa escuridão (Isaias 50.11). A luz dos justos é como a do sol, que pode ser eclipsada e encoberta por nuvens, mas continuará; a dos ímpios é como um fogo que eles mesmos acenderam, e que imediatamente será apagado; ele é facilmente extinto.
V. 10 – Observe:
1. “Da soberba só provém a contenda”. Você deseja saber donde vêm as guerras e pelejas? Elas se originam desta raiz de amargura. Qualquer que seja o peso que outros desejos tenham nas contendas (paixão, inveja, cobiça), a soberba tem mais peso; é a soberba que semeia discórdia e não precisa de ajuda. A soberba torna o homem impaciente na contradição de suas opiniões ou de seus desejos, impaciente com a competição e a rivalidade, impaciente pelo desprezo, ou qualquer coisa que pareça indiferença, e impaciente com concessões, por causa de um convencimento de certo direito e verdade de sua parte; e consequentemente surgem contendas entre parentes e vizinhos, contendas em estados e reinos, em igrejas e sociedades cristãs. Os homens se vingarão, não perdoarão, porque são soberbos.
2. Os que são humildes e pacíficos são sábios e bem aconselhados. Os que pedem conselhos, e os aceitam, que consultam suas próprias consciências, suas Bíblias, seus ministros, seus amigos, e não fazem nada de uma forma impensada são sábios, tanto em outras situações como nesta, porque se humilham, se curvam e cedem, para preservar a tranquilidade e evitar contendas.
V. 11 – Isto mostra que os ricos vestem o que ganham.
1. Aquilo que é obtido de maneira ilícita nunca será bem usado, pois o acompanha uma maldição que o desgastará, e as mesmas disposições corruptas que predispõem os homens às maneiras pecaminosas de obtê-los os predispõem às maneiras igualmente pecaminosas de gastar: ”A fazenda que procede da vaidade diminuirá”. Aquilo que é obtido com esquemas como estes não é lícito, nem convém aos cristãos, pois somente servem para alimentar a soberba e a luxúria; aquilo que é obtido com jogos de azar pode ser considerado como obtido da vaidade tão verdadeiramente como o que é obtido por meio de mentiras e fraudes, e sendo assim diminuirá. A riqueza obtida ilicitamente dificilmente será desfrutada pela terceira geração.
2. Aquilo que é obtido pelo trabalho e com honestidade terá aumento, em lugar de diminuir: será um sustento, será uma herança; será uma abundância. Aquele que se esforça, trabalhando com as suas mãos, aumentará tanto o que tem a ponto de ter o que repartir com o que tiver necessidade (Efésios 4.28); e, quando for este o caso, o que ele tem aumentará cada vez mais.
V. 12 – Observe:
1. Nada é mais angustiante do que o desapontamento de uma expectativa, ainda que não pela coisa em si mesma, por uma negativa, mas no tempo da sua realização, por uma demora: ”A esperança demorada enfraquece o coração”, tornando-o debilitado, impaciente e irritado; mas a esperança destruída mata o coração, e quanto mais intensa a expectativa, mais dolorosa a frustração. É, portanto, sensato que não nos prometamos grandes coisas das criaturas, nem nos alimentemos com quaisquer vãs esperanças deste mundo, para que não sejamos vítimas da nossa própria frustração; devemos nos preparar para nos desapontarmos com aquilo que esperamos, para que a frustração seja mais fácil de ser suportada, e não devemos ser precipitados.
2. Nada é mais agradável do que desfrutar, por fim, daquilo que desejamos e esperamos por muito tempo: o desejo chegado coloca o homem em um tipo de paraíso, um jardim de prazer, pois é árvore de vida. A infelicidade eterna dos ímpios será agravada por suas esperanças frustradas; e a felicidade do céu será mais bem-vinda aos santos, tendo em vista que eles a desejaram longamente e fervorosamente, como a coroa de suas esperanças.
V. 13 – Aqui temos:
1. O caráter de alguém que está destinado à ruína: O que despreza a Palavra de Deus, e não tem consideração nem veneração por ela, nem se permite ser governado por ela, certamente perecerá, pois despreza aquilo que é o único meio de curar uma doença destrutiva, tornando-se odioso para aquela ira divina que certamente será a sua destruição. Aqueles que preferem as regras carnais aos preceitos divinos, e as seduções do mundo e da carne às promessas e consolações de Deus, desprezam a sua palavra, dando preferência àquelas coisas que competem com ela, e isto será a sua justa ruína: eles não aceitam advertências.
2. O caráter de alguém que certamente será feliz: O que teme o mandamento, que tem respeito e temor por Deus, que tem consideração pela sua autoridade, e reverência pela sua Palavra, que teme desagradar a Deus e sofrer as punições que são anexas aos mandamentos, não somente escapará à destruição, mas será galardoa do, pelo seu piedoso temor. Em guardar os mandamentos há grande recompensa.
V. 14 – Podemos interpretar, aqui, a doutrina dos sábios e justos como os princípios e regras pelos quais eles se governam, ou (o que é equivalente) as instruções que eles dão aos outros, que são como uma lei para os que estão ao seu redor; e, sendo assim:
1. Eles serão constantes fontes de consolação e satisfação, como uma fonte de vida, da qual fluem correntezas de água viva; quanto mais próximos estivermos dessas regras mais eficazmente asseguraremos a nossa própria paz.
2. Eles serão proteções constantes dos laços de Satanás. Os que seguem os preceitos desta lei serão mantidos afastados dos laços do pecado, e assim poderão desviar dos laços da morte, aos quais se apressam os que abandonam a doutrina do sábio.
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