MELHOR IDADE: VIVER MAIS E MELHOR
Com tantos recursos para combater os problemas físicos causados pelo envelhecimento, ultrapassar um século de existência já não parece uma possibilidade distante. O avanço de tecnologias que mantêm o corpo saudável evidencia o fato de que viver bem a terceira (ou quarta) idade depende da boa saúde mental. Desafiar o cérebro todos os dias parece funcionar como um poderoso elixir da juventude.
Nunca vivemos por tanto tempo. Desde a metade do século 19, a expectativa de vida vem aumentando linearmente: a cada ano ganhamos quase três meses e, num período de quatro anos, teremos quase 12 meses a mais. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que em 2030 – daqui a apenas 11 anos, portanto – o grupo de pessoas de 60 anos ou mais será maior que o de crianças com até 14 anos. Parece inevitável que, em algum momento, passe pela cabeça da maioria de nós a ideia de que ultrapassar os 100 anos de existência é algo bastante provável. E desejável, desde que possamos nos manter saudáveis até essa idade.
De fato, não parece coerente ansiar por três décadas a mais de dor, deficiências e isolamento. Porém, a maior parte das pesquisas científicas sobre envelhecimento foca principalmente o corpo físico – genes, células, órgãos e a formação de placas nas artérias e no cérebro. No entanto, à medida que nosso corpo dura mais, encontramos outro grande desafio: o bem-estar psicológico. Ou seja: mesmo se sobrevivermos ao declínio da audição, à osteoporose, a problemas cardíacos, ao câncer e a um sistema imunológico debilitado, as batalhas diárias poderão desgastar nosso psiquismo, especialmente se não estivermos atentos aos cuidados que a mente requer.
Com um arsenal crescente de medidas para combater os problemas físicos causados pelo envelhecimento, viver a terceira (ou quarta) ida de com qualidade dependerá cada vez mais da boa saúde mental. Nem sempre nos damos conta de que os anos podem enfraquecer a mente tanto quanto o corpo, desafiando nossa capacidade de continuar mentalmente ativos e emocionalmente saudáveis. Mas há esperança: a ciência começa a fornecer pistas sobre maneiras de superar as principais batalhas da idade avançada que se passam em nossa cabeça.
Talvez o fato mais irônico associado à neurologia do envelhecimento seja que, enquanto praticamente todos os outros hormônios importantes do corpo diminuem com a idade, o cortisol, o relacionado ao estresse, não apresenta nenhuma queda. Na verdade, pessoas idosas podem ter até mais cortisol quando sujeitas a situações estressantes. Aparentemente, não podemos apenas acabar com a capacidade do corpo de se encher de cortisol quando a vida fica difícil.
Parece piada de mau gosto feita por algum deus grego. E fica ainda pior, pois a capacidade do corpo de se recuperar do estresse diminui com a idade. Os efeitos do estresse causado por um vírus, por uma discussão com um amigo ou por um mergulho numa piscina gelada permanecem por mais tempo em organismos idosos. Ou seja: pelo menos teoricamente, com o passar dos anos, somos mais eficientes em nos tornarmos estressados e menos hábeis em deixar o estresse passar.
Níveis menores de serotonina combinados com níveis maiores de cortisol resultam numa mistura problemática. É a mesma encontrada em jovens clinicamente depressivos, mas os cientistas não sabem quão significativa é essa semelhança. O psiquiatra Owen M. Wolkowitz, professor da Universidade da Califórnia em San Francisco, diz que, embora os idosos tenham maiores concentrações de cortisol no corpo, estão dentro dos limites normais. O vilão da história pode ser um hormônio, o DHEA, que regula os efeitos do cortisol, que tende a diminuir com a idade. “Os índices variam de uma pessoa para outra, mas é a proporção dele em relação ao cortisol que importa. A queda acentuada pode ser problemática”, afirma Wolkowitz.
A imagem da “rabugice” associada a muitos idosos adquire novo significado quando consideramos o estado hormonal de homens e mulheres com mais de 70 anos. Se o nível de cortisol está desequilibrado, o som de gritos de crianças, por exemplo, pode ser extremamente irritante. Novamente: coisas negativas produzem mais coisas negativas. Uma pessoa cujo sistema de resposta ao estresse está permanentemente elevado desenvolve estratégias para limitar sua exposição a agentes estressores – estratégias que provavelmente resultam em envolvimento ainda menor com o mundo social, já reduzido por falta de energia.
O neurocientista Robert M. Sapolsky, da Universidade Stanford, observa que, quando idosos se confrontam com uma situação difícil, têm mais tendência que os jovens a se distanciar dela. É possível que a reação intensa de estresse, acompanhada do tempo longo necessário para recuperação, faça com que o custo de uma abordagem direta de situações causadoras de estresse seja muito alto. Retirar se da sociedade, no entanto, é uma das piores coisas que uma pessoa em idade avançada pode fazer – numerosos estudos mostram que apoio social e interação ativa combatem a depressão.
Forçar-se a combater a depressão e o estresse é algo que requer iniciativa e planejamento. “Mas a mudança mais fundamental que os gerontologistas veem no cérebro que envelhece é a perda de 5% a 10% de tecido nos lobos frontais, responsáveis por várias habilidades”, diz o psiquiatra especializado em processos de envelhecimento Mony J. de Leon, professor de psiquiatria da Escola de Medicina da Universidade de Nova York. Embora o cérebro diminua ligeiramente em tamanho médio, nenhuma outra parte dele sofre mudança dessa magnitude.
Os lobos frontais são a sede do que os neuropsicólogos chamam de “função executiva” (FE). Definida na década de 90, trata-se da capacidade de planejar, organizar o tempo e manter o foco e a motivação. Qualquer grau de debilidade da FE leva o idoso a perder a capacidade de eliminar a depressão por meio de uma existência ativa, estruturada e significativa – ou mesmo de querer fazer isso. Segundo o psiquiatra de Boston John J. Ratey, autor de A user’s guide to the brain (Guia do usuário do cérebro), a ciência já comprovou o que sabemos empiricamente: ter propósitos na vida é essencial para a felicidade, assim como para o bom funcionamento do cérebro.
A FE debilitada costuma interferir também na possibilidade de estabelecer e manter apoio social -fazendo desaparecer a motivação para conviver com os amigos e a família. Traços de personalidade desagradáveis podem aparecer e afastar as pessoas, já que outra função da FE é o controle dos impulsos. Na verdade, a “rabugice” estava lá o tempo todo, mas sob controle. E agora não pode mais ser controlada.
Há casos em que medicações estimulantes ajudam a contrabalançar déficits cerebrais causados pela perda do lobo frontal. Ratey e colegas às vezes tratam a perda de energia associada com a idade avançada com remédios para narcolepsia. Embora não haja informação exata sobre como afetam os neurônios, sabe se que afetam o estado de alerta. Ratey descobriu que essas drogas podem contrabalançar a sedação que frequentemente surge como efeito colateral de muitos dos medicamentos que os idosos tomam.
CURTO-CIRCUITO NA EVOLUÇÃO
Se você está ficando deprimido e estressado com as baixas expectativas de uma vida mentalmente saudável na idade avançada, anime-se. Manter hábitos simples pode fazer grande diferença com o passar dos anos. A tática principal é continuar desafiando o cérebro. Embora seja inevitável certa redução no nível hormonal, o declínio mental não é. A partir dos 20 anos, todas as pessoas começam a apresentar perda gradual de suas faculdades mentais em testes neuropsicológicos, mas a velocidade desse declínio varia drasticamente. Além disso, a existência de pessoas como Alan Greenspan, de 89 anos. De 1987 a 2006, ele foi presidente do Banco Central americano. Após sua aposentadoria, aceitou o cargo honorário (sem receber vencimentos) no Departamento do Tesouro britânico. Até hoje, é um pensador da economia e há poucas semanas concedeu entrevista sobreo mercado financeiro. Suas ideias podem ser questionadas, mas sua lucidez deixa claro que é inteiramente possível que uma pessoa em idade avançada funcione melhor cognitivamente do que muitas com 30 anos.
Essa precisão é um reflexo de uma das descobertas mais fundamentais que a pesquisa fez nos anos 90: neurônios e suas interconexões podem funcionar muito bem em uma pessoa com 80 anos ou mais, já que o cérebro não é uma rede programada e inalterável de células. Mesmo envelhecidas, conexões podem se manter flexíveis e outras podem ser formadas, não importa a idade da massa cinzenta. Isso é extremamente importante porque indica que nosso cérebro é capaz de desenhar novas rotas no entorno de regiões que possam estar se tornando rígidas com a idade ou ainda trazer essas áreas de volta com maior funcionalidade.
“O cérebro se mantém plástico até a morte”, diz o doutor em neurobiologia e psiquiatria Arnold B. Scheibel, de 89 anos, professor da Universidade da Califórnia em Los Angeles, ex-diretor do Instituto de Pesquisa do Cérebro. “Com a plasticidade, podemos dar um curto circuito na evolução; é possível nos ‘forçar’ a evoluir ao longo da vida.” Os cientistas apenas começam a entender como mantemos a plasticidade de nosso cérebro, mas alguns fatores já foram descobertos. Atividade física é um deles. Embora o mecanismo ainda não tenha sido completamente elucidado, é consenso entre médicos e pesquisadores que exercitar os sistemas muscular e cardiovascular parece manter o cérebro maleável.
Vários estudos comprovam, por exemplo, que a caminhada aeróbica melhora a função executiva em pessoas com idade entre 60 e 85 anos, e não há razão para acreditar que isso não se aplique também para pessoas ainda mais idosas, caso tenham condição de fazer o exercício. Quem se submete ao treino desenvolve maior habilidade de mudar rapidamente de uma tarefa para outra, a distração diminui e os reflexos se tornam mais ágeis (por exemplo, a capacidade de tirar o pé do acelerador quando isso lhes era solicitado aumentou).
Essas três habilidades, aliás, são bastante afetadas em crianças com transtorno do déficit de atenção. Esse ponto de vista neurológico reforça a noção de que a idade avançada seja uma espécie de segunda infância.
NOVOS “TRUQUES”
Há evidências de que idosos que mantêm contato afetivo com família e amigos e se inserem em variados ambientes (participando de grupos religiosos, atividades em grupo, aulas etc.) desfrutam de mais saúde física e mental. Caminhadas, corridas e musculação favorecem a oxigenação celular e ajudam a manter afastadas a depressão e a ansiedade – o que favorece a vida social, que, por sua vez, beneficia a função cerebral. Resultado: uma coisa estimula a outra, deflagrando uma interdependência bastante positiva. Manter-se socialmente ativo ajuda também a melhorar a autoestima e a atitude positiva diante da vida. Pessoas idosas que frequentam comunidades religiosas pelo menos uma vez por semana, por exemplo, têm vantagem de sobrevivência em relação àqueles que não o fazem. Se isso ocorre por terem um local privilegiado de convivência ou foi efeito do “empurrãozinho” espiritual, não importa. A mensagem é clara: é preciso manter-se envolvido, participar de algo que considere relevante.
O tão sonhado elixir da juventude parece ser mais acessível do que se imaginava. O mais importante para manter a plasticidade cerebral parece ser o exercício – físico e mental. “Sabemos que o tal ‘cérebro envelhecido ‘ é tão poderoso no aprendizado quanto o cérebro jovem. A velha frase ‘não se ensina um truque novo para um cachorro velho’ simplesmente não é verdadeira”, garante Scheibel. Desafios mentais, debates políticos ou literários com amigos, cursos sobre os mais variados temas mantêm as conexões neurais fortes, da mesma maneira que o exercício físico fortalece as fibras musculares. A lição é a mesma: use-o ou perca-o. Adotar hobbies e buscar objetivos intelectuais ou vocacionais pode ajudar ainda mais. “É verdade que aprender na idade avançada pode demorar um pouco mais, mas permanecemos aprendizes potenciais durante toda a nossa vida”, diz Scheibel.
Há alguns anos, o professor de neurologia Elkhonon Goldberg, da Universidade de Nova York, desenvolveu um programa desenhado para interromper o declínio cognitivo. Os pacientes enfrentam uma bateria inicial de testes e são utilizados programas de computador personalizados para remediar suas fraquezas. Eles passam então a trabalhar com seus programas, duas ou três vezes por semana. Os resultados são encorajadores, já que a função cognitiva da maior parte das pessoas mostra ganhos modestos, mas mensuráveis. Elas dizem se sentir “mais espertas” e muitas percebem uma redução na rapidez de raciocínio quando saem de férias. “O programa parece contribuir para um sentimento de lucidez e perspicácia, mas, sem fazer um estudo controlado em larga escala, não há como ter certeza”, diz Goldberg.
O fato é que os números absolutos de homens e mulheres que estão envelhecendo vão mudar a imagem do que pode e deve ser a idade avançada. A saúde mental sólida será vista como realidade – não como o pequeno milagre que é hoje. Assim, um segmento significativo da medicina deve mudar. “A geriatria como especialidade tem cerca de 20 ou 25 anos – há 30, a clientela era pequena demais”, diz Scheibel. “E o interesse dos pesquisadores pelo envelhecimento vem de umas duas décadas antes disso.” No âmbito social, a aposentadoria vai mudar substancialmente ou até ser abolida.
O próprio Scheibel é um exemplo da tendência: a aposentadoria compulsória foi abolida na Universidade da Califórnia, e ele continuou a dar aulas e a pesquisar na instituição. Ele acredita, aliás, que o costume social da aposentadoria possa ser responsável pela perda da função do lobo frontal que agora aceitamos como normal.
CONTRA A DEPRESSÃO
Não raro, as pessoas tendem a diminuir a importância de realidades que causam desconforto. Vários pesquisadores têm se dedicado a compreender esse processo e alguns, como a psicóloga Shelley E. Taylor, da Universidade da Califórnia em Los Angeles, acreditam que fazer projeções positivas revele um padrão psicológico saudável – desde que não haja exageros, como negando situações que precisam ser resolvidas. Segundo a pesquisadora, não há razão para simplesmente deixarmos de nos “iludir positivamente” na velhice, cultivando interesse e fazendo planos. Aliás, em geral, quando pessoas muito idosas e fisicamente debilitadas são questionadas se preferem viver um ano a mais com a doença ou morrer mais cedo, mas com boa saúde, normalmente escolhem quantidade em vez de qualidade. Ainda assim, viver mais tempo não significa ter uma existência feliz ou pelo menos marginalmente satisfatória. Não raro, a propensão à depressão pode se tornar uma prisão mental.
“A solidão e o isolamento são grandes problemas. Muitos pacientes passam a interagir pouco à medida que envelhecem; perdem pessoas, funções que desempenhavam e propósito de vida”, diz o psiquiatra John J. Ratey, especializado no atendimento de idosos. Ele chama a atenção também para os desafios corporais que se acentuam nessa fase – e um círculo vicioso começa a se desenvolver, interceptando a propensão de fazer algo produtivo, seja física ou mentalmente. Com isso, se perdem energia, iniciativa e atenção. “Quando as pessoas se aposentam, muitos pensam ‘vou ter muito tempo para as minhas coisas’ e terminam apenas assistindo à TV. A inatividade leva a mais inatividade – quando não nos mexemos suficiente, pouco a pouco aderimos à letargia, e, uma vez que entramos nesse processo tão prejudicial, fica difícil revertê-lo”, diz o psiquiatra.
Muitos profissionais de saúde argumentam que um estado global de torpor físico e mental prolongado não equivale exatamente a ter vida, no sentido mais amplo do termo. Por outro lado, nem sempre é possível apoiar-se nos recursos internos para sair da depressão – e nem sempre a medicação é eficaz. Muitos pesquisadores acreditam que mudanças relacionadas ao envelhecimento do sistema da serotonina têm papel-chave nesse processo. Os níveis desse neurotransmissor estreitamente ligado aos sentimentos de bem-estar tendem a decrescer com o passar dos anos.
Embora a base neurológica da emoção seja bastante complexa, sabemos que pessoas com baixos níveis de serotonina têm mais tendência a ficar depressivas, ansiosas ou irritadas. A neurobióloga Carolyn Meltzer, titular de radiologia da Faculdade de Medicina da Universidade Ermor, descobriu uma redução de 55% nos receptores de serotonina em idosos. As mulheres sofrem complicações ainda maiores depois da menopausa, com o declínio acentuado dos níveis de estrógeno, precursor da serotonina no cérebro.
Por isso, embora a depressão não seja um “destino”, combatê-la pode ser difícil porque as pessoas com idade avançada se descobrem na constante companhia da morte: perdem amigos e parentes e sabem que a morte está próxima. Encarar a finitude – e não desistir do que ainda pode ser vivido – requer um trabalho psíquico complexo, mas pode ser mais fácil quando a pessoa se “planeja” para envelhecer.
O CAMINHO PARA A FONTE DA JUVENTUDE
Obviamente não há garantias de que será possível viver mais de 100 anos em boas condições físicas, com capacidades cognitivas preservadas e equilíbrio emocional. Mas a ciência tem provado que alguns hábitos podem influir – e muito – na qualidade do processo de amadurecimento, favorecendo o bem-estar psicológico e a satisfação com a vida apesar de certas deficiências devidas à idade
ALIMENTAÇÃO
Os radicais livres são moléculas que consomem parte do oxigênio que respiramos. Embora tenham papel importante no combate de inflamações e controle do tônus muscular, também estão associados a processos degenerativos próprios do envelhecimento e até ao câncer. Uma maneira eficiente de nos defendermos dos danos celulares causados pelos radicais livres é alimentar-nos diariamente com frutas e vegetais (de preferência produzidos sem agrotóxicos), ricos em antioxidantes como mirtilo, kiwi, laranja, ameixa, uva-passa e uva rosada, beterraba, brócolis, berinjela, alfafa, milho, pimentão vermelho e espinafre.
CORPO EM MOVIMENTO
O que nos mantém jovens na velhice? Vários estudos, entre eles uma pesquisa de longo prazo, desenvolvida pela Universidade Jacobs, em Bremen, na Alemanha, fornecem resultados interessantes. Participantes de programas de exercícios gerais para coordenação e equilíbrio (incluindo caminhada e corrida) apresentaram maior habilidade mental para resolver exercícios que exigiam atenção e agilidade de raciocínio. O desempenho dos voluntários foi analisado antes e depois da participação no programa. Apenas a prática de alongamento e relaxamento não teve o mesmo efeito.
CONTATO FÍSICO
Um simples abraço pode ser suficiente, por exemplo, para fazer o cérebro aumentar a liberação de oxitocina, hormônio que facilita a aproximação entre pessoas. Além de ter efeito tranquilizante sobre o sistema cerebral, reduz o nível de alerta e ansiedade, o que favorece a sensação de bem-estar. Se considerarmos que o isolamento prolongado é, por si só, fonte de estresse, é compreensível que pessoas solitárias tenham o sistema nervoso simpático (responsável pelo disparo da resposta ao estresse) continuamente hiperativo, o que pode elevar o risco de hipertensão e problemas cardíacos.
AMIZADE
Uma das mais importantes descobertas das neurociências nas últimas duas décadas é que as trocas afetivas têm enorme impacto sobre o cérebro e a mente. Relações estáveis estimulam a saúde mental e física e até prolongam a vida. Realizada na Escola de Saúde Pública da Universidade Harvard, uma das inúmeras pesquisas nessa área revelou, por exemplo, que homens idosos com vários amigos têm no sangue quantidade reduzida de interleucina-6 (que causa inflamação e pode ser fator de risco para doenças cardiovasculares), em comparação com homens solitários.
DESAFIOS PRAZEROSOS
Traçar objetivos e estabelecer propósitos costuma ser um dos mais potentes antídotos contra a sensação de desânimo em relação à vida. Na aposentadoria, com filhos (e até netos) criados e sem tantos compromissos a serem cumpridos, é possível – e profundamente benéfico – estabelecer metas e desenvolver projetos prazerosos. Aprender um idioma ou a tocar um instrumento, ter aulas de dança ou frequentar bailes, praticar esportes coletivos, participar de grupos e fazer trabalho voluntário traz alento para o corpo e para a alma.
MEDITAÇÃO
Recentemente, o pesquisador Cliff Saron, da Universidade da Califórnia em Davis, descobriu que meditar pode ajudar a viver mais – já que aumenta a longevidade das células. Uma enzima chamada telomerase, que alonga segmentos de DNA nas extremidades de cromossomos (denominados telômeros), garante a estabilidade do material genético durante a divisão celular. Eles ficam mais curtos toda vez que uma célula se divide e, quando o comprimento atinge tamanho crítico, a célula para de se dividir – e envelhece. Em comparação com os que apresentam grande redução de estresse psicológico e atividade mais elevada da telomerase no final do retiro. Ou seja: menor tendência ao envelhecimento.
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