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MULHERES EM MARCHA

A presença delas nas Forças Armadas cresceu 28% em cinco anos, mas ainda são poucas as que conseguem chegar ao topo da carreira militar.

Mulheres em marcha

É famosa a cena em que a atriz Demi Moore, na pele da tenente Jordan O’Neil, passa por uma sessão de tortura m G.I. Jane, que no Brasil virou Até o limite da honra. Com muito tiro, porrada e bomba, o filme de 1997 conta a história fictícia da primeira mulher a encarar o treinamento para ingresso numa das mais especializadas tropas militares do mundo. Na tela, a oficial vai parar no quartel dos Seals, a força de operações especiais da Marinha americana, por capricho de uma senadora, que pressiona o governo a aceitar uma mulher num curso em que os alunos passam por exercícios extenuantes cruéis. De olho na reeleição, a política enxerga no rostinho bonito da militar uma chance de ganhar dividendos explorando o caso na imprensa. Em meio a muita ação, a trama leva o telespectador ao tema central do roteiro. A mulheres têm condições de encarar missões em igualdade de condições com os homens? A sociedade aceitará enterrar mães e filhas mortas em batalhas futuras?

Exagero de Hollywood à parte, a presença de mulheres nas Forças Armadas crescem no mundo todo. No Brasil, elas já atuam em áreas e postos diversos e cumprem tarefas que, há até bem pouco tempo, eram exclusivamente desempenhadas por homens. Incluindo tropas especiais. Nos quartéis, elas provam que também podem defender o país. Longe de fraquejar, para usar uma expressão do presidente Jair Bolsonaro que causou mal-estar e revolta nas redes sociais durante a campanha presidencial, a mulheres já são 31.600 no quadro do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. Em cinco anos, a presença delas nas Forças Armadas saltou 28%: em 2014, eram 24.765, representando 6,34% das tropas ativas nas três Forças. Um percentual que em 2018 alcançou 9% do total do contingente militar brasileiro, o maior da história. Não é pouca coisa: nos Estados Unidos, o percentual feminino é de cerca de 15%.

Olhando os números, a presença delas na carreira militar segue um padrão semelhante ao de outras carreiras no país: muito intensa na base da pirâmide e rara no topo. A Marinha, a primeira das três Forças a aceitar o ingresso de mulheres, em 1980, é também a única a ter oficiais-generais do sexo feminino em seus quadros. E são apenas duas: a contra-almirante médica Dalva Maria Carvalho Mendes, de 62 anos, que chegou ao posto em 2012, do corpo de saúde; e a engenheira Luciana Mascarenhas da Mota Marroni, de 53 anos, promovida ao posto de contra-almirante no ano passado, do corpo de engenheiros. O posto de contra-almirante da Marinha equivale ao de general de brigada do Exército e ao de brigadeiro da Aeronáutica – todos postos de duas estrelas.

Nas Forças Armadas, em algumas áreas as mulheres já superam o número de homens. Na Marinha, por exemplo, há os setores médicos, onde as mulheres são 436 dos 810 profissionais (54%); de cirurgiões-dentistas, com 217 entre 334 oficiais (65%); e o quadro de apoio à saúde, em que 77% são mulheres (278 de 360). “Lá em casa agora é o marido que bate continência. Já era na prática, mas agora é de direito”, afirmou em tom de brincadeira Luciana Marroni, casada com um capitão de mar e guerra, uma patente abaixo de sua na hierarquia da Marinha.

Na Aeronáutica, a inclusão de mulheres nos quartéis aconteceu pela primeira vez em 1982. Trinta e sete anos depois, a Força Aérea Brasileira (FAB) tem o maior número de mulheres: 12.300 militares, ou cerca de 17,5% de todo o contingente, que é de 70.169. Nenhuma é brigadeiro, é verdade. Em 2006, formou-se a primeira turma de oficiais aviadoras da FAB. Elas poderão chegar ao posto de tenente-brigadeiro do ar e assumir o comando da Aeronáutica. Atualmente, a Força Aérea tem um total de 58 oficiais aviadoras, que atuam em todas as funções: pilotam caças, aviões de transporte, aeronaves de reconhecimento e de patrulha, além de helicópteros.

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Uma das pioneiras é a coronel Carla Lyrio Martins, de 53 anos, primeira mulher a comandar uma organização militar da FAB. A mineira – que é médica hematologista e casada – conta que decidiu fazer o concurso nacional da Aeronáutica logo que se formou na faculdade de medicina em Petrópolis. Ingressou, pela porta da frente, em 1990. “O que me levou a optar por uma carreira nas Forças Armadas? Foi a segurança e a estabilidade no emprego. Procurei uma instituição que pudesse me dar ferramentas para exercer a medicina com a melhor qualidade possível. Além disso, em minha opinião, na Aeronáutica o crescimento profissional se dá pela meritocracia, o que torna o ambiente saudável para as mulheres, com respeito e igualdade de condições”, afirmou a oficial, que, na hora vagas, se cerca de música e dança: foi professora de balé, é fã de Marina e Adriana Calcanhotto curte o solo de guitarra do mexicano Carlo Santana.

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No Exército, a presença de mulheres em todas as posições também cresceu. Em 2018 elas já somavam 10.863 militares, cerca de 5% de toda a tropa. Além disso, pela primeira vez na história, a Força permitiu o ingresso de mulheres na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), em Resende, Rio de Janeiro, e na Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx), em Campinas, São Paulo, onde são formados oficiais combatentes. Embora muito general torça o nariz para essa evolução, a primeira turma da Aman chega ao segundo ano almejando subir até a patente de general de Exército (quatro estrelas), o topo da carreira em tempos de paz, e reivindicar, no futuro, o comando geral da Força “No Exército existe respeito. Sua opinião importa”, disse a major Ana Cristina Christiano Silva Joras, de 48 anos, uma flamenguista que vive em Brasília, mas cresceu no Rio, gosta de ir à Lapa e é fã dos sambistas Paulinho da Viola e Teresa Cristina

No Brasil dos contrastes, onde um fosso de desigualdade ainda separa mulheres e homens na relação de trabalho e remuneração, um estudo recente da coordenação de trabalho e rendimento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sugere um aspecto inesperado num ambiente aparentemente tão masculino. A análise reforça a opinião que a médica Carla Martins dá a respeito da meritocracia e igualdade de condições: as Forças Armadas, a Polícias Militares e os Corpos de Bombeiros militares são os únicos campos de atividade profissional no Brasil em que o rendimento médio das mulheres é superior ao dos homens.

Coordenador da pesquisa, Cimar Azeredo Pereira lembra que essa diferença surpreendente pode estar associada a uma pequena distorção. “Existem dois fatores que podem explicar isso: ainda é baixa a participação das mulheres nesse grupo; e o fato de elas ocuparem cargos mais elevados”.

Fora dos quartéis, a realidade parece ser mesmo outra. Em 2018, segundo o IBGE, o pai tinha 101,9 milhões de homens e 106,5 milhões de mulheres. Apesar de serem maioria na população e terem mais escolaridade do que os homens, as mulheres ganham bem menos. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua do lBGE, elas ganhavam no terceiro trimestre de 2018 cerca de R$ 1.851, enquanto os homens recebiam R$ 2.385. Ou seja, o rendimento das mulheres equivalia a cerca de 78% do rendimento dos homens. Além disso, no Brasil, 60,9 % dos cargos gerenciais, públicos ou privados, são ocupados por homens, em comparação a apenas 39,1% pelas mulheres.

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“A pesquisa aponta uma correlação forte dessa desigualdade com o nível de escolaridade dos trabalhadores. À medida que a escolaridade aumenta, cresce a desigualdade de rendimento entre homens e mulheres”, explicou Cimar Pereira. “Entre o trabalhador sem instrução menos de um ano de estudo, as mulheres ganhavam aproximadamente 80 % do rendimento conferido aos homens. Entre aquele com superior completo, e a estimativa era significativamente inferior, 60%.”

O estudo do IBGE vai ao encontro de outro, publicado em 2017 pelo Instituto Igarapé.

Batizado de Situações extraordinárias: a entrada de mulheres na linha de frente das Forças Armadas, o artigo de Renata Avelar Giannini, Maiara Folly e Mariana Fonseca Lima aponta que as mulheres teriam maiores habilidades para atividades de inteligência e maior capacidade de resistência e resiliência. Já os homens, uma maior propensão a ações que exigem vigor físico. O trabalho analisou depoimentos de mulheres e homens da Escola Naval (Marinha), da Academia Militar de Agulhas Negras e da Academia da Força Aérea (AFA). Três das principais escolas de formação de oficiais das Forças Armadas.

Em tempo de militares homens no comando central da República, o aumento de mulheres nos postos mais altos das Forças Armadas brasileiras é um avanço, mas não tem sido uma conquista simples. Na trincheira pela busca de igualdade, a batalha tem sido dura. Mesmo com duas oficiais-generais, a Marinha só foi autorizada a abrir vaga num concurso para o ingresso de oficiais no corpo operativo no ano passado: para a Armada e os Fuzileiros Navais. Isso ignifica que as candidatas que começaram neste ano o curso de oficial na Escola Naval podem ir para guerra e até alcançar o posto máximo em tempo de paz: o de almirante de esquadra. Vai demorar, mas num futuro ainda distante, calculam-se 30 anos, elas poderão pleitear o comando da Marinha. “Pode parecer simples, mas foi uma vitória de muitos anos de luta. Com mobilização de muitas”, disse a contra­ almirante Dalva Maria Carvalho Mendes.

Com seu uniforme branco, as duas estrelas reluzindo nos ombros, a contra-almirante foi pessoalmente conversar com os deputados e senadores em Brasília sobre a importância de que a lei fosse mudada para permitir que mulheres ingressassem na Escola Naval em igualdade de condições com os homens, uma militância que pode parecer estranha para um oficial­ general das Forças Armadas. Não foi uma ação isolada de uma feminista, definição que a própria Dalva Mendes rejeita. O comando da Marinha apoiou. “Fui lá para mostrar que podemos desempenhar as mesmas funções. Acho que participei de umas quatro reuniões com a bancada feminina da Câmara dos Deputados. Também estive no Senado Federal. Conseguimos uma grande vitória. Diferente a gente sempre vai ser. A diferença é importante. Faz crescer. Mas as mulheres têm algumas habilidades que os homens não possuem. E vice-versa. Nem toda mulher pode ser fuzileira, assim como nem todo homem”, disse ela. Pioneira, em 1981 fez parte da turma de 202 mulheres que entraram pela primeira vez nas Forças Armadas.

A contra-almirante lembrou que o tempo da subserviência da mulher passou e que a participação dos homens nas tarefas domésticas aumentou. Ela atribui o aumento de casos de feminicídio no país à reação de homens com “cabeça atrasada”. “A sociedade ainda é hostil com as mulheres, gerando reação. Principalmente de homens que ainda não conseguiram compreender a necessidade de estar realmente junto. De compartilhar responsabilidade”, disse a oficial. Dalva Mendes contou que aprendeu a respeitar o próximo numa vila de casas no bairro do Caju, típica da Zona Norte do Rio, onde morou ainda muito jovem com o pai e os avós. O avô, contou ela, trabalhava com mármore, mais tarde usado como base para as sepulturas. A avó era tecelã das boas.

“Meu pai era nordestino. Cobrava muito. Eu tinha de chegar antes das 22 horas em casa e não podia namorar. Apesar de tudo, ele ensinou: ‘ Filha minha tem de se sustentar. Não pode depender de homem’. Isso foi determinante em minha criação e de minha irmã. Eu sou almirante. Minha irmã é juíza. Meu pai repetia e explicava que nós tínhamos de ficar com nossos parceiros porque queríamos, por amor, e não por precisar deles”, lembrou, orgulhosa. “Isso foi extremamente positivo em minha formação.”

Sobre a mudança na regra de ingresso na Escola Naval, a contra-almirante prevê urna competição saudável pela frente. “Você acha que os meninos ficarão satisfeitos de disputar com as meninas? Claro que não. Mas isso faz parte. Essa adaptação precisa acontecer. Faz parte da evolução”, disse. “No Congresso Nacional, os deputados não entendiam por que a mulher não podia entrar na Escola Naval. Expliquei que havia uma legislação que impedia. Impedia em defesa da família. Um conceito da sociedade que trata a mulher como matriz, que precisa ficar como semente. E aí? Na hora que tão invadindo sua pátria, a mulher vai ficar em casa, escondida embaixo de um fogão?”

Autor: Vocacionados

Sou evangélico, casado, presbítero, professor, palestrante, tenho 4 filhos sendo 02 homens (Rafael e Rodrigo) e 2 mulheres (Jéssica e Emanuelle), sou um profundo estudioso das escrituras e de tudo o que se relacione ao Criador.

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