JOÃO 21: 1-14 – PARTE V

Cristo com seus Discípulos
V – A recepção que o Senhor Jesus lhes ofereceu quando chegaram à praia.
1. Ele tinha provisões prontas para eles. Quando chegaram à terra, molhados e com frio, cansados e famintos, encontraram ali fogo para aquecê-los e secá-los, e peixe e pão, uma provisão adequada para uma boa refeição.
(1) Não devemos sentir curiosidade e investigar de onde vieram estas brasas, e este peixe, e este pão, não mais do que o alimento que os corvos traziam a Elias. Aquele que pode multiplicar os pães e peixes que havia, poderia criar outros, novos, se o desejasse, ou transformar pedras em pão, ou enviar seus anjos para buscar o alimento, onde Ele soubesse que deveria haver. Não se sabe se esta provisão foi feita ao ar livre, ou em alguma cabana de pescador, na praia. Mas aqui não havia nada suntuoso nem luxuoso. Nós devemos nos satisfazer com as coisas humildes, como Cristo.
(2) Nós podemos nos sentir consolados por este exemplo do cuidado de Cristo pelos seus discípulos. Ele tem com que suprir todas as nossas necessidades, e conhece todas as coisas de que precisamos. Bondosamente, Ele fez a provisão para estes pescadores, quando chegaram cansados do seu trabalho, pois, em verdade, serão alimentados aqueles que confiam no Senhor e fazem o bem. É encorajador para os ministros de Cristo, a quem Ele fez pescadores de homens, o fato de que podem confiar que aquele que os emprega irá prover por eles. E se eles perderem o incentivo neste mundo, se forem reduzidos, como Paulo, à fome e à sede e aos jejuns frequentes, que se alegrem com o que têm aqui. Eles têm coisa melhor reservada para eles, e irão comer e beber à mesa de Cristo, no seu reino, Lucas 22.30. Há algum tempo, os discípulos tinham recebido Cristo com um peixe assado (Lucas 24.42), e agora, como um amigo, Ele lhes retribui a gentileza, e os recebe com outro. Na verdade, com a pesca, Ele lhes retribuiu mais do que cem vezes o que eles lhe tinham feito.
2. Ele pediu alguns dos peixes que os discípulos tinham apanhado, e eles lhe trouxeram, vv. 10,11. Observe aqui:
(1) A ordem que Cristo lhes deu, de trazer sua pesca à praia: “Trazei dos peixes que agora apanhastes”. Não como se Ele precisasse deles e não pudesse providenciar uma refeição para eles sem estes peixes. Mas:
[1] Ele desejava que eles comessem do trabalho das suas mãos, Salmos 128.2. Aquilo que conseguimos, com a bênção de Deus, no nosso próprio trabalho honesto, torna-se ainda mais agradável se tivermos do Senhor a autorização para disto comer, e desfrutar do bem do nosso trabalho. Isto tem uma doçura peculiar. Diz-se que o preguiçoso não assará sua caça. Ele não consegue temperar aquilo que se esforçou para obte1 Provérbios 12.27. Mas Cristo aqui desejava nos ensinar a usar o que temos.
[2] Ele desejava que os discípulos provassem as dádivas da sua milagrosa generosidade, para que pudessem ser testemunhas, tanto do seu poder quanto da sua bondade. Os benefícios que Cristo nos concede não devem ser enterrados nem acumulados, mas devem ser usados e expostos.
[3] Ele desejava dar uma amostra da recepção espiritual que Ele tem para todos os crentes, que, neste aspecto, é mais livre e familiar – que Ele come com eles, e eles com Ele. Suas graças são agradáveis a Ele, e assim o são seus consolos a eles. O Senhor aceita, da parte dos seus amados, o fruto da obra que Ele opera neles e através deles.
[4] Os ministros, que são pescadores de homens, devem trazer tudo o que pescam ao seu Mestre, pois dele depende seu sucesso.
(2) A obediência deles a esta ordem, v. 11. Está escrito (v. 6): “Já não a podiam tirar [a rede], pela multidão dos peixes”, isto é, eles tiveram dificuldade, era mais do que podiam fazer. Mas aquele que lhes disse que trouxessem a rede à praia, lhes facilitou as coisas. Assim, os pescadores de homens, quando têm almas apanhadas na rede do Evangelho, não conseguem trazê-las à praia, não conseguem concluir o bom trabalho iniciado, sem a contínua influência da graça divina. Se aquele que nos ajuda a apanhá-las, quando sem sua ajuda nós não teríamos apanhado nada, não nos ajudar a mantê-las, e levá-las à terra firme, edificando-as na fé santíssima, nós as perderemos, no final, 1 Coríntios 3.7. Observe:
[1] Que o mais ativo ao trazer os peixes à praia foi Pedro, que, assim como tinha, na situação anterior (v. 7), mostrado uma afeição mais zelosa pela pessoa do seu Mestre do que qualquer outro discípulo, nesta mostrou uma obediência mais imediata à ordem dele. Mas nem todos os que são fiéis são entusiasmados da mesma maneira.
[2] A quantidade de peixes que foi pescada. Eles tiveram a curiosidade de contá-los, talvez com o objetivo de estabelecer um dividendo. Havia, no total, cento e cinquenta e três peixes, todos grandes. Era mais do que eles necessitavam para sua provisão imediata, mas eles poderiam vendê-los, e o dinheiro serviria para custear suas despesas de volta a Jerusalém, para onde deveriam retornar em breve.
[3] Outro exemplo do cuidado de Cristo por eles, para engrandecer tanto o milagre quanto a graça: “E, sendo tantos” , e sendo grandes peixes também, “não se rompeu a rede”, de modo que eles não perderam nenhum peixe, nem danificara m sua rede. Está escrito (Lucas 5.6): “Rompia-se-lhes a rede”. Talvez esta fosse uma rede emprestada, pois eles tinham abandonado a sua há muito tempo, e, se fosse este o caso, Cristo desejava nos ensinar a cuidar daquilo que tomamos emprestado, como se fosse de nossa propriedade. Foi bom que sua rede não se rompesse, pois agora eles não tinham o tempo que anteriormente tinham para remendar suas redes. A rede do Evangelho apanhou multidões, três mil em um único dia, e ainda assim não se rompeu. Ela ainda é tão resistente como sempre foi, para trazer as almas a Deus.
3. Jesus os convidou a jantar. Observando que eles mantinham distância, e vendo que eles tinham receio de perguntar-lhe: “Quem és Tu?”, porque sabiam que era seu Senhor, Ele os chamou, de uma maneira muito familiar: “Vinde, jantai”.
(1) Veja aqui a liberdade que Cristo tinha com seus discípulos. Ele os tratava como amigos. Ele não disse: Vinde e esperai, vinde e servi-me, mas: Vinde, e jantai. Não disse: Jantai sozinhos, como os servos devem fazer, mas: Vinde, e jantai comigo. Este gentil convite pode ser interpretado como ilustrando:
[1] O convite que Cristo faz aos seus discípulos, à comunhão com Ele, na graça. Está tudo pronto. Vinde, e jantai. Cristo é um banquete. Venham se alimentar dele. Sua carne verdadeiramente é comida, e seu sangue verdadeiramente é bebida. Cristo é um amigo. Venham, ceiem com Ele. Ele mesmo lhes dará as boas-vindas, Cantares 5.1.
[2] O convite que Ele fará, para que todos desfrutem a presença dele, na glória futura: Vinde, benditos de meu Pai. Vinde, e sentai com Abraão, e Isaque, e Jacó. Cristo tem os recursos necessários para jantar com todos os seus amigos e seguidores. Há lugar e provisão suficiente para todos.
(2) Veja como os discípulos eram reverentes diante de Cristo. Eles estavam, de alguma maneira, envergonhados de fazer uso da liberdade a que Ele lhes convidava, e, quando Ele os convidou para a refeição, parece que ficaram parados. Estando prestes a comer com um governante, e tal governante, eles consideram diligentemente o que está diante deles. Nenhum deles lhe perguntou: “Quem és Tu?” Ou:
[1] Porque não desejavam ser tão ousados com Ele. Embora, talvez, Ele se manifestasse de uma maneira disfarçada no início, como aos dois discípulos, quando seus olhos estavam como que fechados para que não o conhecessem, ainda assim eles tinham bons motivos para pensar que fosse Ele, e não poderia ser outra pessoa. Ou:
[2] Porque não desejavam evidenciar sua própria tolice. Depois que Ele lhes tinha dado este exemplo do seu poder e da sua bondade, eles seriam realmente estúpidos se questionassem se era Ele ou não. Quando Deus, na sua providência, nos dá provas palpáveis do seu cuidado pelos nossos corpos, e nos dá, na sua graça, provas manifestas da sua boa vontade para com nossas almas, e sua boa obra nelas, nós devemos nos envergonhar da nossa desconfiança, e não devemos ousar questionar, pois Ele não nos deixou espaço para dúvidas. As dúvidas infundadas devem ser reprimidas, e não incentivadas.
4. Ele parte o alimento para eles, como o senhor do banquete, v. 13. Observando como ainda estavam tímidos e temerosos, “chegou, pois, Jesus, e tomou o pão, e deu-lho, e, semelhantemente, o peixe”. Sem dúvida, Ele pediu a Deus, o Pai, uma bênção e deu graças (como em Lucas 24.30), mas, sendo este seu procedimento conhecido e constante, não necessita ser mencionado.
(1) A recepção aqui era apenas comum. Era somente uma refeição de peixe, servida de modo informal. Aqui não havia nada pomposo, nada curioso. Realmente abundante, mas simples e caseiro. A fome é o melhor tempero. Cristo, embora no seu estado exaltado, mostrou-se vivo, comendo, mas não se mostrou como um príncipe, em um banquete. Aqueles que não conseguiam se contentar com pão e peixe, a menos que tivessem molho e vinho, dificilmente seriam encontrados jantando com Cristo aqui.
(2) O próprio Cristo começou a comer. Embora, talvez, tendo um corpo glorificado, não necessitasse comer, ainda assim desejava mostrar que tinha um corpo real, que podia comer. Os apóstolos apresentaram, como sendo uma prova da ressurreição de Jesus, o fato de que tinham comido e bebido com Ele, Atos 10.41.
(3) Ele distribuiu o alimento a todos os seus convidados. Ele não somente fez a provisão para eles, e os convidou ao jantar, mas Ele mesmo dividiu o alimento entre eles, e o colocou nas suas mãos. Desta maneira, a Ele nós devemos a aplicação, além da compra dos benefícios da redenção. Ele nos dá a capacidade de nos alimentar destes benefícios.
O evangelista os deixa no jantar, e faz esta observação (v.14): “E já era a terceira vez que Jesus se manifestava aos seus discípulos”, ou à maior parte deles. Este era o terceiro dia, segundo alguns comentaristas. No dia em que Ele ressuscitou, Ele se manifestou cinco vezes. A segunda ocasião ocorreu oito dias depois. E esta era a terceira. Ou esta era sua terceira manifestação a um número considerável dos seus discípulos, juntos. Embora Ele tivesse se manifestado a Maria, às mulheres, aos dois discípulos e a Cefas, ainda assim Ele tinha se manifestado somente duas vezes, antes desta, a um grupo deles que estava reunido. Isto é observado aqui:
[1] Para a confirmação da verdade da sua ressurreição. A visão foi dobrada, foi triplicada, pois era verdadeira. Aqueles que não creram no primeiro sinal seriam levados a crer na voz dos sinais posteriores.
[2] Como um exemplo da contínua bondade de Cristo aos seus discípulos. Uma vez, e outra vez, e uma terceira vez, Ele os visitou. É bom manter um registro das graciosas visitas de Cristo, pois Ele mantém um registro delas, e elas nos serão lembradas, contra nós, se não permanecermos dignos delas, como o foram contra Salomão, quando foi lembrado de que o Senhor Deus de Israel tinha aparecido duas vezes a ele. Agora é a terceira vez. Será que nós aproveitamos devidamente a primeira e a segunda? Veja 2 Coríntios 12.14. Esta é a terceira vez, e talvez seja a última.