JOÃO 20: 1-10 – PARTE IV

A Ressurreição
IV – Pedro e João, tendo chegado ao sepulcro, pros seguem com as buscas, mas não descobrem muita coisa.
1. João não foi mais além do que Maria Madalena.
(1) Ele teve a curiosidade de olhar dentro do sepulcro, e viu que estava vazio. Ele se abaixou e olhou dentro. Aqueles que desejam encontrar o conhecimento de Cristo devem se abaixar, e olhar para dentro, devem, com o coração humilde, se submeter à autoridade da revelação divina, e devem olhar com atenção.
(2) Mas ele não teve coragem de entrar no sepulcro. Os mais calorosos afetos nem sempre são acompanhados pela determinação mais ousada. Muitos são rápidos na corrida da religião, mas não se esforçam o suficiente para lutar suas batalhas com a coragem, a robustez e a perseverança necessárias.
2. Pedro, embora chegasse depois, entrou primeiro, e fez uma descoberta mais precisa do que aquela que João tinha feito, vv. 6,7. Embora João corresse mais depressa do que ele, Pedro não voltou para trás, nem permaneceu parado, mas correu atrás dele, tão rápido quanto podia. E, enquanto João olhava dentro, com muita atenção, Pedro chegou e, com grande coragem, “entrou no sepulcro”.
(1) Observe aqui a ousadia de Pedro, e como Deus reparte seus dons de maneira variada. João podia correr mais depressa do que Pedro, mas Pedro tinha mais coragem do que João. Raramente, é verdade para todas as pessoas o que Davi diz poeticamente a respeito de Saul e Jônatas, que eles eram “mais ligeiros do que as águias” e “mais fortes do que os leões”, 2 Samuel 1.23. Alguns discípulos são rápidos, e são úteis para despertar aqueles que são mais lentos. Outros são ousados, e são úteis para incentivar aqueles que são medrosos. Diversidade de dons, mas um só Espírito. Pedro aventurando-se no sepulcro pode nos ensinar:
[1] Que aqueles que, com ardor, procuram a Cristo, não devem se assustar com temores irracionais e fantasias tolas: “Há um leão no caminho, um fantasma no sepulcro”.
[2] Que os bons cristãos não devem ter medo do sepulcro, uma vez que Cristo já esteve nele. Pois para eles não há nada assustador no sepulcro. Não é o poço da destruição, nem são os vermes que nele há, vermes eternos. Portanto, não alimentemos, mas derrotemos, o medo que podemos sentir com a visão de um cadáver, ou por estarmos sozinhos entre os sepulcros. E, como em breve deveremos morrer e estar no sepulcro, devemos tornar a morte e o sepulcro familiares, como se fossem nossos parentes próximos, Jó 17.14.
[3] Devemos desejar passar pelo sepulcro para ir até Cristo. Este caminho, Ele percorreu para sua glória, e também nós devemos fazê-lo. Se não pudermos ver a face de Deus e viver, será melhor morrer, contemplando-a, do que nunca vê-la. Veja Jó 19.25ss.
(2) Observe a posição na qual Pedro encontrou as coisas no sepulcro.
[1] Cristo tinha deixado seus lençóis ali. Com que roupas Ele se manifestou aos seus discípulos, não sabemos, mas Ele nunca apareceu nos seus lençóis, como se supõe que fazem os fantasmas. Não, Ele os deixou ali, “à parte”, em primeiro lugar, porque, “havendo Cristo ressuscitado dos mortos, já não morre; a morte não mais terá domínio sobre ele”, Romanos 6.9. Lázaro saiu com seus lençóis, pois ele iria usá-los outra vez. Mas Cristo, ressuscitando para uma vida imortal, saiu livre destes estorvos. Em segundo lugar, porque Ele seria vestido com as vestes da glória, por isto deixa de lado estes trapos. No paraíso celestial, não haverá mais ocasião para roupas, como havia no terreno. O profeta que ascendeu deixou cair seu manto. Em terceiro lugar, quando ressuscitamos da morte do pecado para avida da justiça, nós precisamos deixar para trás nossos lençóis, devemos nos despir de toda a nossa corrupção. Em quarto lugar, Cristo os deixou no sepulcro, de certo modo, para nosso proveito, mostrando que o sepulcro é uma cama temporária para os santos. Assim, o Senhor preparou esta cama, e a deixou pronta para eles. O lenço propriamente dito é para o uso dos sobreviventes pranteadores, para enxugarem suas lágrimas.
[2] Os lençóis foram encontrados arrumados, o que serve como evidência de que seu corpo não tinha sido roubado enquanto os homens dormiam. Ladrões de sepulcros eram conhecidos por levar as roupas e deixar o corpo. Mas nenhum [anteriormente às práticas dos ressurrecionistas modernos] jamais levou o corpo e deixou as roupas, especialmente quando eram lençóis finos e novos, Marcos 15.46. Qualquer pessoa preferiria levar um corpo vestido nas suas roupas a levá-lo nu. Ou, se aqueles que supostamente o roubaram deixaram os lençóis, então não se pode supor que eles tenham tido o tempo suficiente para dobrar os lençóis, e o cuidado de fazê-lo.
(3) Veja como a coragem de Pedro incentivou João: agora ele se encorajou e entrou (v. 8), “e viu, e creu”. Não creu simplesmente no que Maria tinha dito, que o corpo tinha sido levado (não se lhe deve elogio por ter crido na quilo que viu), mas começou a crer que Jesus tinha res suscitado, embora sua fé ainda fosse fraca e hesitante.
[1] João seguiu a Pedro na aventura. Aparentemente, ele não teria entrado no sepulcro, se Pedro não tivesse entrado antes. Observe que é bom ser encorajado em um bom trabalho, pela coragem de outros. O temor da dificuldade e do perigo será removido observando a resolução e a coragem de outros. Talvez a rapidez de João tivesse feito Pedro correr mais rápido, e agora a coragem de Pedro fazia João aventurar-se mais do que um ou o outro, de outra maneira, teriam feito. Embora Pedro tivesse recentemente caído na desgraça de ser um desertor, e João tivesse sido promovido à honra de um confidente (tendo Cristo lhe confiado a tarefa de cuidar de sua mãe), ainda assim João não somente se associou a Pedro, mas não viu nenhum disparate em segui-lo.
[2] Mas, aparentemente, João antecipou a Pedro na fé. Pedro viu e admirou-se (Lucas 24.12), mas João viu e creu. Uma mente disposta à contemplação pode, talvez, receber a evidência da verdade divina mais rapidamente do que uma mente disposta à ação. Mas qual foi o motivo pelo qual eles foram tão lentos de coração em crer? O evangelista nos diz (v. 9): “Porque ainda não sabiam a Escritura”, isto é, eles não levaram em consideração, nem aplicaram, nem aproveitaram devidamente, o que conheciam da Escritura, “que diz que era necessário que [Ele] ressuscitasse dos mortos”. O Antigo Testamento falava da ressurreição do Messias. Eles creram que Ele era o Messias. Ele mesmo lhes tinha dito frequentemente que, de acordo com as Escrituras do Antigo Testamento, Ele ressuscitaria. Mas eles não tiveram a presença de espírito suficiente para explicar as aparências atuais com base nas Escrituras. Observe aqui, em primeiro lugar, como os discípulos foram inaptos, a princípio, a crer na ressurreição de Cristo, o que confirma o testemunho que posteriormente eles deram, com tanta segurança, a respeito dela. Pois, pela sua lentidão em crer, parece que eles não foram crédulos a respeito dela, nem foram daqueles que creem em tudo o que ouvem. Se eles tivessem tido qualquer desejo de promover seus próprios interesses com isto, avidamente teriam capturado o primeiro lampejo da sua evidência, teriam incentivado e apoiado as expectativas um do outro, e teriam preparado as mentes daqueles que os seguiam para receber as notícias deste fato. Mas nós vemos, ao contrário, que suas esperanças se frustraram, isto lhes pareceu uma coisa estranha, e uma das coisas mais distantes dos seus pensamentos. Pedro e João estavam tão relutantes em crer nisto, a princípio, que nada menos do que a mais convincente prova que o evento pudesse produzir poderia levá-los a testemunhá-lo, posteriormente, com tanta segurança. Parece que eles não somente eram homens honestos, que não desejavam enganar aos outros, mas homens cautelosos, que não desejavam ser coagidos. Em segundo lugar, qual foi a razão da sua lentidão em crer: “Ainda não sabiam a Escritura”. Este parece ser o reconhecimento do evangelista, da sua própria culpa, entre os demais. Ele não diz: “Porque Jesus ainda não tinha se manifestado a eles, não tinha mostrado a eles suas mãos e seu lado”, mas: “Porque Ele ainda não tinha aberto seu “entendimento para compreenderem as Escrituras” (Lucas 24.44,45), pois esta é a mensagem profética mais segura.
3. Pedro e João não prosseguiram na sua busca, mas desistiram, oscilando entre a fé e a incredulidade (v. 10): “Tornaram, pois, os discípulos para casa”. Eles voltaram para seus amigos e companheiros, os demais discípulos, nos seus próprios alojamentos, pois eles não tinham nenhuma casa em Jerusalém. Eles foram embora:
(1) Por medo de serem considerados suspeitos de roubar o corpo, ou de serem acusados disto, agora que o corpo tinha desaparecido. Em vez de fortalecerem sua fé, sua preocupação é a de proteger a si mesmos, de fugir para sua própria segurança. Em tempos difíceis e perigosos, é difícil, até mesmo para os homens bons, prosseguir no seu trabalho com a determinação que lhes convém.
(2) Porque estavam confusos, e não sabiam o que deveriam fazer a seguir, nem como entender o que tinham visto. Portanto, não tendo coragem de permanecer no sepulcro, eles decidem ir para casa, e esperar até que Deus lhes revele o que aconteceu, uma atitude que exemplifica a fraqueza que ainda tinham em si mesmos.
(3) É provável que os demais discípulos estivessem reunidos. Eles retornam para junto deles, para contar o que tinham descoberto, e para consultar com eles o que devia ser feito, e, provavelmente, agora convocaram a reunião para o período da tarde, quando Cristo veio a eles. Deve-se observar que antes que Pedro e João fossem ao sepulcro, um anjo tinha aparecido ali, afastado a pedra, assustado os guardas e consolado as mulheres. Tão logo eles se afastaram do sepulcro, Maria Madalena vê dois anjos no sepulcro (v. 12), mas Pedro e João foram ao sepulcro, e entraram nele, e não viram nenhum anjo. Como devemos entender isto? Onde estavam os anjos quando Pedro e João estavam no sepulcro, tendo aparecido ali antes e depois dos apóstolos?
[1] Os anjos aparecem e desaparecem quando querem, de acordo com as ordens e instruções que lhes são dadas. Eles podem estar, e estão, realmente, onde não são visíveis. Na verdade, aparentemente, podem ser visíveis a uns e não a outros, ao mesmo tempo, Números 22.23; 2 Reis 6.17. É presunção desejarmos perguntar como eles se fazem visíveis, e depois invisíveis, e depois visíveis novamente. Mas o fato de que fazem isto fica evidente, com base nesta história.
[2] Este favor foi mostrado àqueles que foram muito adiantados e constantes na sua procura por Cristo, e foi a recompensa daqueles que vieram primeiro e ficaram até o final, mas foi negado àqueles que fizeram uma visita rápida.
[3] Os apóstolos não deviam receber suas instruções dos anjos, mas do Espírito da graça. Veja Hebreus 2.5.
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