MENTIROSOS POR NATUREZA
Mentimos por necessidade de justificar atitudes que poderiam ser censuradas por outras pessoas. A mentira é um elemento decisivo para a competência social.
Após analisar a conversa de 20 pessoas filmadas secretamente, o psicólogo norte-americano Gerald Jellison, da Universidade do Sul da Califórnia chegou a uma estatística desconcertante: mesmo os mais sinceros contaram uma mentira a cada oito minutos – o que leva a crer que, por mais que se exalte o valor da verdade, mentiras e embustes são nossos parceiros constantes.
Em geral, foram contadas mentirinhas, mas não deixaram de ser o que são: mentiras. Segundo o psicólogo, isso acontece por necessidade de justificar atitudes que poderiam ser censuradas por outras pessoas. Não pensamos duas vezes ao inventar um engarrafamento que explique um atraso, por exemplo, mesmo quando não temos a menor intenção de ser pontuais.
O estudo ainda constatou que os maiores mentirosos são pessoas com maior número de contatos sociais, como vendedores, auxiliares de consultórios, médicos, advogados, psicólogos e jornalistas. A explicação para esse fato é que a mentira é um elemento decisivo para a competência social, dizem os especialistas.
Homens e mulheres mentem por diferentes motivações. É o que concluiu o psicólogo Robert Felldman, da Universidade de Massachussetts (EUA), ao analisar 242 estudantes. Ele notou que mulheres mentiam em suas conversas com estranhos com a preocupação de agradar os interlocutores. Os homens, por sua vez, pretendiam valorizar sua própria imagem.
Seja qual for a motivação, enganar não é tarefa fácil. E requer massa cinzenta. Em certas regiões do cérebro, a atividade se intensifica sempre que se recorre à mentira. Imagens obtidas a partir da tomografia computadorizada revelam maior atividade cerebral em duas regiões específicas, o giro do cíngulo anterior e o córtex pré-frontal. Isso leva a crer que a sinceridade seja, de certo modo o estado cognitivo normal. Sempre que se recorre ao falseamento, é preciso um esforço adicional dos neurônios. O cérebro precisa impedir que se diga a verdade.
No final da década de 1970, os psicólogos Paul Ekman e Vincent Friesen mapearam cada um dos movimentos faciais que sinalizam certas emoções – raiva, nojo, tristeza, alegria, medo, surpresa e desprezo – a partir de sua intensidade e tempo de duração. O inventário recebeu o nome de FACS (Facial Action Coding System).
Eles compararam expressões empregadas em diversas culturas, como a dos Estados Unidos, Japão, Brasil, e Nova Guiné. Por fim, endossaram a teoria evolucionista do inglês Charles Darwin. (1809-1882). Este defendia a universalidade de certas expressões, conceito de desenvolvido em A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais, de 1872.
Como descobrir, então se uma pessoa está ou não dizendo a verdade em situações decisivas como ao selecionar um candidato para um cargo em uma empresa, ao entrevistar pais que possivelmente usem de violência com os filhos, ou mesmo ao questionar presos que pleiteiam liberdade condicional?
Estudos, sobre os métodos de detecção da mentira mostram que a chance de desmascarar um falsário não passa de 60%, sendo que o percentual esperado para o acerto ao acaso é de 50%. Para detecção, são exibidos vídeos ou fitas aos observadores, que são orientados a julgar se as pessoas envolvidas estão ou não falando a verdade. Expressões faciais, no entanto, são capazes de oferecer pistas importantes. Elas revelam o que as pessoas está realmente sentindo, inclusive sinais de dissimulação. Isso é possível a partir da identificação de pequenas contrações musculares que indicam sentimentos reais, ainda que haja um esforço para tentar encobri-los, como mascarar a raiva com um sorriso falso, por exemplo.
“Sem o engodo, nossas complexas relações seriam impensáveis”, escreveu David Nyberg, professor de Filosofia e Pedagogia na Universidade de Nova York. Para ele, o fato de sermos grandes mentirosos não é algo negativo, mas um sinal de avanço de nossa inteligência social. Se toda a população mundial resolvesse dizer a verdade a um só tempo, a convivência seria bem mais tumultuada.
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