POTENCIALIZAÇÃO DA QUALIDADE
Relações afetivas em geral e qualidade de vida são aspectos fundamentais na trajetória das pessoas, influenciando decisivamente, na busca pela felicidade.
Os relacionamentos entre as pessoas representam uma parte fundamental da atividade humana e permeiam toda a nossa vida, estando presentes de maneira direta ou indireta nela. O objetivo deste artigo é discutir a potencialização da qualidade dos relacionamentos afeto-sexuais. Iniciaremos abordando a importância das relações humanas de maneira global. Em seguida, trataremos dos aspectos que nos ajudam a conquistar um relacionamento afetivo-sexual de qualidade e das dificuldades para encontrar um parceiro compatível. Por fim, são enumeradas algumas dicas para fazer o amor durar.
Para Morris (1994), o homem é um “animal social”, um ser que vive em sociedade e que precisa manter relações sociais. O desejo de formar e estreitar laços tem origem na evolução da humanidade, os seres humanos não teriam sido capazes de sobreviver ou reproduzir-se sem tal motivação, caçavam, partilhavam o alimento, protegiam-se dos predadores e combatiam juntos os inimigos comuns. Desde a sua concepção, o ser humano é inserido no meio social, viver em sociedade é uma necessidade vital, precisamos uns dos outros, de nos relacionarmos, de termos a sensação de pertencimento, de desenvolvermos e mantermos relacionamentos interpessoais fortes, estáveis e positivos (Chagas; Lima; Portella, 2013).
De acordo com pesquisas em Psicologia Positiva, existem alguns fatores que seriam os responsáveis por uma melhor qualidade de vida e bem-estar. Dentre esses fatores destacam-se as relações com outros seres humanos.
Em seu livro Teoria da Potencialização da Qualidade de Vida, Portella (2013) destaca a importância dos relacionamentos interpessoais para uma vida feliz. Os relacionamentos interpessoais com parceiros amorosos, familiares, colegas de trabalho e bons amigos representam uma das fontes mais poderosas de bem-estar e satisfação na vida. Para Seligman e Diener, os relacionamentos com familiares e amigos são fundamentais para a felicidade das pessoas. Na teoria do florescimento humano, Seligman destaca a importância dos relacionamentos positivos ou significativos. Para o autor, pessoas são o melhor antídoto para situações ruins e a maneira mais confiável para vivenciar bons momentos. Nas horas difíceis de perda, tristeza e dor, os amigos podem ajudar a amenizar o momento vivido. Por outro lado, podemos dizer que poucas atividades positivas são solitárias.
Nenhum ser humano funciona como uma “ilha”. Precisamos dos outros para obter uma sensação de completude, de pertencimento. Precisamos doar tanto quanto precisamos receber e, muitas vezes, doar nos traz ainda mais benefícios do que receber ajuda. Somos dotados de emoções que nos sintonizam para amar, oferecer amizade em um compartilhamento de nossas vidas com a vida de outros e, embora essa relação possa nos causar dor, ainda assim precisamos das relações sociais para nos sentirmos completos. Pesquisas apontam para mecanismos que associam apoio social e benefícios da saúde através da regulação neural da reatividade ao estresse, ou seja, a resposta ao estresse está associada ao apoio social.
Segundo as pesquisas, a principal causa de angústia nos indivíduos é o rompimento de um relacionamento importante. Estudiosos norte-americanos da sociologia da família estudaram três gerações de residentes de São Francisco, na Califórnia, concluindo que o casamento é uma poderosa proteção contra os problemas, considerando-se todas as áreas bases da vida: saúde, ocupacional, afetiva / social, lazer, patrimônio e espiritual.
Estudos apontam que pessoas casadas são mais felizes do que as divorciadas, separadas, viúvas ou solteiras. A estratégia de investir em relacionamentos pode trazer felicidade não somente nos relacionamentos conjugais, mas em quase todas as relações significativas de nossas vidas. No entanto, o que a maior parte das pessoas deseja, de acordo com inúmeras pesquisas, é uma relação afetiva-sexual de qualidade. Porém, uma das dificuldades para alcançar esse objetivo é encontrar um parceiro compatível.
SELEÇÃO DE PARCEIROS
Como fazer para encontrar um relacionamento amoroso de qualidade? Sem dúvida, esse caminho é para os corajosos, que não desanimam com as decepções da vida amorosa pregressa, o cansaço do dia a dia, as frustrações com as quais nos deparamos na procura pela pessoa certa. Por que parece ser tão difícil, até quase impossível, encontrar aquela pessoa especial com a qual vamos viver felizes o resto de nossa vida?
Os filmes de Hollywood, certamente, não seriam o sucesso de bilheteria que são caso eles mostrassem o passado amoroso tenebroso dos protagonistas, antes que eles pudessem encontrar um ao outro e ficarem felizes no final do filme.
A verdade é que precisamos nos arriscar e, talvez, passar por um milhão de rejeições antes de encontrar o amor verdadeiro. Não podemos nos render aos relacionamentos medíocres ou ao desânimo no meio do caminho.
Encontrar um relacionamento amoroso, de fato, não é difícil. O difícil é encontrar um relacionamento amoroso de qualidade. Para construir esse tipo de relacionamento, dois elementos são fundamentais: a química romântica e a maturidade. O elemento químico é composto por três fatores, a saber: admiração mútua, química romântica e atração. A química romântica é o “fogo da paixão”, a necessidade de estar junto do outro em todos os momentos. Não estamos falando apenas de sexo, estamos falando do desejo pelo outro de um modo geral, da faísca no olhar, de passar o dia pensando no outro. A química envolve os fatores que tornam a convivência agradável, que faz com que não percebamos o tempo passar enquanto caminhamos juntos pela praia e que nos permite admirar o outro incansavelmente. Inclui, sim, é claro, a atração sexual, mas não se limita a ela.
A maturidade refere-se aos padrões do comportamento do outro que nós admiramos. Esses aspectos do comportamento incluem o nosso comprometimento ético, os valores das nossas ações, a responsabilidade, confiabilidade e confiança, respeito.
Cabe ressaltar que todos os aspectos da maturidade (consciência, associação, integridade e competência) podem sofrer alterações. No entanto, apenas dois aspectos da química (admiração mútua e química romântica) podem ser alterados, sendo que a atração não pode ser alterada. Hulburt desenvolve uma forma de avaliar essas características nos parceiros. Os “dados do amor” falam justamente do equilíbrio entre os aspectos da química e da maturidade nos relacionamentos amorosos. Segundo a “metáfora dos dados”, cada um dos parceiros possui um dado branco (representando seu grau de maturidade) e um dado vermelho (representando a química). Se houver desequilíbrio nessas pontuações, o relacionamento corre risco. Para o relacionamento ser excelente, ambos os parceiros devem obter alta pontuação nos dois dados, sendo alta pontuação um cinco ou um seis em cada dado. Caso os dois tenham nota seis nos dois dados, estamos de frente para um relacionamento com alto potencial de qualidade. Esse é um tipo de conexão profunda, que tem a probabilidade de 1 para 1.296 de acontecer. Mais especificamente, se uma pessoa saísse com 20 novas pessoas todos os anos, ela levaria 65 anos para encontrar um relacionamento de altíssimo padrão (6\6\6\6). No entanto, para sermos felizes e satisfeitos em nosso relacionamento amoroso, não necessariamente precisamos encontrar a combinação 6\6\6\6.
A outra possibilidade de se ter um relacionamento muito bom apresenta uma pontuação de dois cincos para química e dois seis de maturidade. Nesse caso, a química que os parceiros sentem um pelo outro é alta e ambos são bastante maduros. Esse relacionamento é um que está acima da média dos relacionamentos típicos e já traria grande satisfação para a vida conjugal. A probabilidade desse tipo de relacionamento acontecer é de 1 em 324. Ou seja, as probabilidades já são bem mais favoráveis. Nesse caso, se uma pessoa saísse com 20 novos parceiros todo ano, levaria, em média, quatro anos para encontrar esse relacionamento bom, de ótima qualidade.
Percebemos acima que selecionar um parceiro compatível pode ser um desafio. No entanto, a boa notícia é que uma vez tendo selecionado seu parceiro(a), existem muitas estratégias provenientes da Psicologia Positiva e Psicologia que podem ajudá-lo a melhorar o nível de maturidade e de química do seu relacionamento afetivo-sexual.
QUÍMICA ROMÂNTICA
1). POTENCIALIZANDO A ADMIRAÇÃO MÚTUA: refere-se à admiração mútua das qualidades do parceiro. Segundo Seligman, somente se formos únicos aos olhos da pessoa amada é que ela se comprometerá profunda e irracionalmente conosco. Parte do que nos faz insubstituíveis aos olhos daqueles que nos amam é o perfil de nossas forças e a forma especial que temos de expressá-las. Ele aponta os caminhos: gratidão, perdão, bondade, perspectiva, integridade, inteligência social, justiça, humor, autocontrole, animação, prudência e humildade são forças que podem levar ao amor. No entanto, com o passar dos anos, podemos enxergar as forças de nossos parceiros como defeitos e isso pode levar ao desgaste do relacionamento. Por exemplo, no início podemos perceber nosso parceiro como perseverante. Porém, essa mesma qualidade com o tempo pode passar a nos incomodar e passamos a vê-la como rigidez.
Gottamn ressalta a importância da cultura da apreciação, na qual as interações saudáveis e positivas e a sensação de segurança sejam normas. Assim, de acordo com o autor, é importante expressar verbalmente admiração por nosso parceiro.
2). QUÍMICA ROMÂNTICA: refere se ao desejo infindável e poderoso de estar com alguém de uma maneira íntima, desejo de ser especial e valioso na vida daquela pessoa. Sentir uma afeição profunda. Podemos lançar mão de algumas estratégias para potencializar esse elemento da nossa vida afetiva sexual: investir em metas em comum e do outro; compartilhar valores e propósito de vida; auxiliar o parceiro (ser valioso e especial); conectar-se com o parceiro, percebendo e atendendo suas necessidades.
3). ATRAÇÃO (FEROMÔNIOS): para a manutenção da atração é fundamental lidar com o fenômeno da habituação. A atração sexual pode perder um pouco seu brilho ao longo dos anos. Isso acontece porque estamos sujeitos a um fenômeno chamado de habituação. Se repetimos muitas vezes uma determinada atividade, da mesma forma ou de modo similar, nos habituamos a essa atividade, e o prazer que sentimos com ela diminui. Se nos habituarmos com o parceiro(a) e com o modo como nos relacionamos sexualmente, acabamos sentindo essas relações como menos prazerosas. Mas esse destino não é inevitável. Pequenas modificações e surpresas na vida sexual e romântica, como, por exemplo, um novo jogo sexual, uma noite especial a dois programada com as atividades valorizadas pelo casal, a realização de fantasias sexuais, podem evitar o fenômeno da habituação, mantendo a vida íntima do casal prazerosa. De acordo com Vasconcelos e Klem, o sexfulness é uma estratégia para potencializar a vida sexual do casal e vencer a habituação. Essa estratégia é composta por três técnicas: mindfulness (atenção plena voltada ao momento presente), savoring (apreciação) e flow (mergulhar de cabeça nas experiências). Investindo no sexfulness, o casal terá uma vivência excelente e plena de seu potencial para o prazer.
MATURIDADE
1). CONSCIÊNCIA: até que ponto você está consciente dos seus sentimentos e da outra pessoa? O quanto você conhece sua motivação e age de forma não defensiva e realista? Para a maioria das pessoas, os sentimentos são confusos, isso quer dizer que temos dificuldade de entrar em contato e conhecer o que estamos sentindo, expressar esses sentimentos de maneira clara e também de compreender e acolher os sentimentos de outras pessoas. A comunicação aberta, sincera e acolhedora é o melhor caminho para lidar com esse aspecto do relacionamento. Os companheiros devem sempre se preocupar em tentar compreender o que o outro está sentindo, principalmente na hora de encarar as queixas e demandas. Deve-se tentar manter uma atitude aberta, procurando ouvir primeiro.
2). ASSOCIAÇÃO: como lidar com suas necessidades sociais e até que ponto respeita e se importa com as do outro. Trata também das expectativas e necessidades que temos nos relacionamentos. Um casal em um relacionamento maduro não deve esperar que o outro tenha o poder de “ler a sua mente”. É importante que necessidades e desejos sejam colocados às claras. Que o casal compartilhe seus pensamentos e sentimentos mais íntimos, que eles sempre se sentem para discutir os problemas e tomar decisões juntos. O planejamento de atividade prazerosa em conjunto também é um importante aspecto para nos ajudar a lidar com expectativas e realizar nossos objetivos em conjunto.
3). INTEGRIDADE: segundo Hurlburt, esse quesito diz respeito ao comportamento ético e autodisciplina individual. Juntas, essas características revelam o caráter da pessoa e até que ponto ela é confiável. Estratégias para potencializar a integridade são: investir nas forças de caráter (pessoais e nas do parceiro); investir na virtude da coragem, através do trabalho com as forças da bravura, persistência, integridade e vitalidade.
4). COMPETÊNCIA: indica até que ponto a pessoa é decidida, organizada, motivada e boa para resolver problemas. Não pode ser deixada de lado, contudo, a flexibilidade. Responsabilidade com rigidez pode nos levar ao adoecimento psicológico. A responsabilidade, entretanto, pode ser essencial para que sejamos admirados por nosso parceiro (a) como alguém que merece ser admirado. Para o casal, a capacidade de fazer e cumprir planos é muito importante. É sinal de respeito mútuo. Além disso, uma vida a dois apresenta muitos deveres e obrigações (casa, filhos, finanças etc.), que devem ser divididos. A forma como um se organiza nesses aspectos certamente impacta a vida do outro.
MANUTENÇÃO DO AMOR
Gottman consegue prever quais casais irão se separar e quais ficarão juntos observando a interação dos casais, durante 18 horas diárias, por um final de semana inteiro. Em seu Laboratório do Amor, prevê os divórcios com 94% de acerto, baseado nos seguintes indícios:
Discussão áspera quando há discordância;
Queixas, críticas ao parceiro;
Demonstrações de menosprezo;
Atitude defensiva imediata;
Não valorização (particularmente sabotagem);
Linguagem corporal negativa (cruzar os braços, afastar o tronco).
Também prevê quais casamentos irão melhorar, o que ocorre quando casais dedicam cinco horas semanais ao casamento e seguem as seguintes recomendações:
DESPEDIDAS. Ao despedirem-se pela manhã cada um comenta o que fará durante o dia (2 minutos x 5 dias = 10 minutos);
REGRESSOS. Ao final de cada dia, os casais têm uma conversa tranquila de 20 minutos (20 minutos x 5 dias = 1 hora e 40 minutos);
AFETO. O casal se toca, agarra, pega, beija, tudo com ternura e perdão (5 minutos x 7 dias = 35 minutos);
UMA VEZ POR SEMANA. Somente os dois, numa atmosfera relaxada, dedicam um tempo para a renovação do amor 2 horas, uma vez por semana);
ADMIRAÇÃO E APRECIAÇÃO. Todos os dias, nem que seja apenas uma vez, procuram demonstrar afeto e apreciação um pelo outro (5 minutos x 7 dias= 35 minutos).
Lyubomirsky recomenda algumas estratégias para o fortalecimento das relações amorosas, como o casamento:
CONVERSAR MUITO. Casais bem sucedidos passam no mínimo cinco horas ou mais por semana juntos e conversando, compartilhando alguma atividade de interesse de ambos;
EXPRESSAR ADMIRAÇÃO, SATISFAÇÃO E AFETO PELO COMPANHEIRO(A). Relações felizes se caracterizam por uma proporção de afeto, de positivo a negativo, de 5 para 1. Significa que: para toda afirmação ou comportamento negativo (crítica, censura ou reclamação) deverá haver cinco comportamentos positivos;
INVESTIR NA BOA SORTE E NOS SUCESSOS DO PARCEIRO (A). Mais do que reagir às decepções e reveses um do outro, deve-se demonstrar emoção, interesse e entusiasmo pelas vitórias e conquistas do companheiro (a);
APRENDER A ADMINISTRAR CONFLITOS. Casamentos felizes evitam as acusações, as críticas, o desprezo, as defesas antecipadas, buscam sempre apaziguar, expressam afeto e levam a divergência com bom humor;
PARTILHAR UMA VIDA INTERIOR. No relacionamento, sonhos, objetivos e interesses devem ser compartilhados, enfrentando lado a lado os riscos e assumindo juntos as responsabilidades, mantendo o respeito mútuo.
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