JOÃO 19: 1-15 – PARTE II

Cristo é acusado diante de Pilatos
II – Tendo maltratado o prisioneiro, Pilatos o apresenta diante dos acusadores, esperando que agora estivessem satisfeitos, e desistissem do processo, vv. 4,5. Aqui ele propõe duas coisas para a consideração deles:
1. Ele não tinha encontrado nada em Jesus que o fizesse odioso ao governo romano (v. 4): “Nenhum crime acho nele”, – eu não acho nele a menor culpa, ou causa para acusação. Depois de um interrogatório adicional, ele repete a declaração que tinha feito, cap. 18.38. Com isto, ele se condena. Se não encontrava culpa nele, por que o açoitou, por que permitiu que Ele fosse maltratado? Ninguém deve receber o mal, exceto aqueles que fazem o mal. Mas muitos provocam e ofendem o Evangelho, pessoas que, se fossem sérias, não poderiam deixar de reconhecer que não encontram culpa nele. Se ele não encontrava crime em Cristo, por que o entregou aos seus acusadores, e não o libertou imediatamente, como deveria ter feito? Se Pilatos tivesse apenas consultado sua própria consciência, nunca teria açoitado, nem crucificado, a Cristo. Mas, pensando melhorar a questão, tentando agradar ao povo açoitando a Cristo, e salvar sua própria consciência não crucificando-o, ele faz ambas as coisas. Ao passo que, se tivesse decidido, no início, crucificá-lo, não teria tido necessidade de açoitá-lo. É comum que aqueles que pensam estar se protegendo de maiores pecados, cometendo pecados menores, cometam os dois.
2. Ele tinha feito a Cristo o que o tornaria menos perigoso a eles e ao seu governo, v. 5. Ele o levou para fora, usando a coroa de espinhos, com sua cabeça e rosto totalmente ensanguentados, e disse: “Eis o homem de quem vocês sentem tanta inveja”, sugerindo que, embora o fato de que Ele tivesse sido tão popular pudesse ter-lhes dado algum motivo para temer que o interesse que Ele despertava na nação diminuiria o interesse que eles despertavam, ainda assim ele tinha tomado uma medida efetiva para evitar isto, tratando-o como um escravo, e expondo-o ao desprezo. Depois disto, ele supunha que as pessoas não o considerariam com nenhum respeito, nem Ele conseguiria recuperar sua reputação. Mal podia Pilatos imaginar a veneração com que até mesmo estes sofrimentos de Cristo, depois de vários séculos, seriam recordados, pelos melhores e maiores homens, que se gloriariam naquela cruz e naqueles açoites, os quais ele pensava que teriam sido, para Ele e para seus seguidores, uma desonra perpétua e indelével.
(1) Observe aqui como nosso Senhor Jesus aparece vestido com todas as marcas da ignomínia. Ele saiu disposto a ser um espetáculo, e disposto a receber vaias, como sem dúvida Ele estava quando saiu vestido desta maneira, sabendo que Ele devia ser um “sinal que é contraditado”, Lucas 2.34. Ele saiu desta maneira, suportando nossa desonra? “Saiamos, pois, a ele… levando o seu vitupério”, Hebreus 13.13.
(2) Como Pilatos o apresenta: “E disse-lhes Pilatos: Eis aqui o homem”. O texto original não traz o nome de Pilatos, mencionando apenas: “E disse-lhes”. Mas, sendo Jesus o antecedente imediato, eu não vejo inconveniente em supor que estas fossem as palavras do próprio Cristo. Ele disse: “Eis aqui o homem por cuja causa vocês estão tão exasperados”. Mas algumas das cópias em grego, e a maioria dos tradutores, apresentam o texto da mesma maneira que nós: “Disse-lhes Pilatos”, com um desejo de agradá-los, “Eis aqui o homem”. Não tanto para despertar a piedade deles: Eis aqui um homem merecedor da sua compaixão, como para silenciar a inveja deles: Eis aqui um homem que não merece suas suspeitas, um homem por parte do qual vocês, daqui por diante, não precisam temer nenhum perigo. Sua coroa é profanada e lançada ao chão, e agora toda a humanidade zombará dele. As palavras, no entanto, são muito comoventes: “Eis aqui o homem”. É bom que cada um de nós, em benefício da fé, contemple o homem Jesus Cristo, nos seus sofrimentos. Eis aqui este rei, “com a coroa com que o coroou sua mãe”, a coroa de espinhos, Cantares 3.11. “Contemplem-no, e sejam apropriadamente afetados pela visão. Contemplem-no, e lamentem por sua causa. Contemplem-no, e amem-no. Permaneçam contemplando a Jesus”.