JOÃO 18: 28-40 – PARTE III

Cristo na audiência. Cristo é acusado diante de Pilatos
III – O resultado das duas conversas, com os acusa dores e com o prisioneiro (vv. 38-40), em dois aspectos:
1. O juiz pareceu ser seu amigo, e favorável a Ele, pois:
(1) Declarou publicamente que Ele era inocente, v. 38. “Não acho nele crime algum”. Ele supõe que exista alguma controvérsia sobre a religião, entre Jesus e seus acusadores, em que Ele provavelmente estaria tão certo quanto eles, mas nada criminoso se apresentava contra Ele. Esta solene declaração da inocência de Cristo foi:
[1] Para a justificação e a honra do Senhor Jesus. Com isto, parece que, embora Ele fosse tratado como o pior dos malfeitores, Ele nunca mereceu tal tratamento.
[2] Para explicar o desígnio e a intenção da sua morte, para que Ele não morresse por nenhum pecado seu, nem mesmo durante o julgamento do próprio juiz, e, portanto, morresse como um sacrifício pelos nossos pecados, e para que, conforme o julgamento dos próprios acusadores, um homem morresse pelo povo, cap. 11.50. Este é aquele que “nunca fez injustiça, nem houve engano na sua boca” (Isaias 53.9), que deveria ser tirado, mas não por si mesmo, Daniel 9.26.
[3] Para agravar o pecado dos judeus, que o acusavam com tanta violência. Se um prisioneiro tivesse um julgamento justo, e fosse absolvido por aqueles que eram os juízes adequados do crime, especialmente se não houvesse causa para suspeitar que eles fossem parciais a seu favor, ele devia ser considerado inocente, e seus acusadores, forçados a concordar. Mas nosso Senhor Jesus, embora considerado inocente, ainda é perseguido como um malfeitor, e ainda há sede do seu sangue.
(2) Propôs uma solução para sua libertação (v. 39): “Vós tendes por costume que eu vos solte alguém por ocasião da Páscoa. Quereis, pois, que vos solte o rei dos judeus?” Ele propôs isto, não aos principais dos sacerdotes (ele sabia que eles nunca iriam concordar com isto), mas à multidão. Aparentemente, foi um apelo ao povo, Mateus 27.15. Provavelmente, ele tinha ouvido como este Jesus tinha sido recebido no outro dia, com as hosanas das pessoas comuns. Portanto, ele julgou que Ele fosse estimado pela multidão, e invejado somente pelos governantes, e por isto não teve dúvidas de que eles exigiriam a libertação de Jesus, e isto calaria a boca dos acusadores, e tudo estaria bem.
[1] Ele permite este costume dos judeus, o qual, talvez, eles tivessem tido em vigor durante muito tempo, em honra à Páscoa, que era uma recordação da sua libertação. Mas isto significava acrescentar às palavras de Deus, como se Ele não tivesse feito instituições suficientes para a devida comemoração daquela libertação, e, embora fosse um ato de misericórdia, podia ser injusto para o público, Provérbios 17.5.
[2] Ele se oferece para libertar-lhes Jesus, de acordo com este costume. Se Pilatos tivesse tido a honestidade e a coragem que convinham a um juiz, ele não teria designado uma pessoa inocente para competir com um notório criminoso por este favor. Se ele não encontrava nenhuma falta no Senhor Jesus, ele era obrigado, pela sua consciência, a libertá-lo. Mas ele desejava enfeitar a questão, e agradar a todos os lados, sendo governado mais pela sabedoria mundana do que pelas regras da equidade.
2. O povo pareceu ser seu inimigo, e implacável contra Ele (v. 40): “Todos voltaram a gritar, dizendo: Este não”, não queremos que este seja libertado, “mas Barrabás!” Observe:
(1) Como eles eram cruéis e furiosos. Pilatos lhes fez uma proposta calmamente, como merecedora da sua consideração madura, mas eles a decidiram acaloradamente, e deram sua decisão com clamor e ruído, em meio à maior confusão. Observe que os inimigos da santa religião de Cristo a desprezam, e esperam destruí-la. Testemunhe o clamor em Éfeso, Atos 19.34. Mas aqueles que pensam o pior das coisas ou pessoas, meramente porque eles recebem este clamor contrário, têm uma parcela muito pequena de constância e consideração. Na verdade, há razões para suspeitar de uma deficiência de razão e justiça no lado que pede a ajuda do tumulto popular.
(2) Como eles eram tolos e absurdos, como está evidenciado na curta descrição aqui dada do outro candidato: “Barrabás era um salteador”, e, portanto:
[1] Um infrator da lei de Deus. E ainda assim ele será poupado, em lugar daquele que reprovava o orgulho, a avareza e a tirania dos sacerdotes e anciãos. Embora Barrabás fosse um salteador, ele não lhes deseja tirar a cadeira de Moisés, nem suas tradições. Então, não havia nenhum problema com ele.
[2] Ele era um inimigo da segurança pública e da propriedade privada. O clamor da cidade costumeiramente é contra os ladrões (Jó 30.5: “Gritava -se contra eles como contra um ladrão”), mas aqui é favorável a um ladrão. Assim agem aqueles que preferem seus pecados a Cristo. O pecado é um salteador, todo desejo vil é um salteador, e ainda assim eles são tolamente escolhidos em lugar de Cristo, que verdadeiramente nos enriquece.