MEXENDO COM A CABEÇA DOS HOMENS
Basta dizer a eles que estão sendo observados por uma desconhecida para que seu desempenho cognitivo seja prejudicado.
Romances, filmes e roteiros para televisão estão repletos de cenas em que um rapaz procura inutilmente interagir com uma jovem bonita. Em muitos casos, o conquistador em potencial acaba fazendo algo tolo em suas incansáveis tentativas de impressionar a moça. É como se o cérebro do homem, de repente, não estivesse funcionando direito. E segundo uma pesquisa recente é exatamente o que acontece.
Há algum tempo, pesquisadores começaram a investigar como a interação com representantes do sexo oposto afetava aspectos cognitivos dos homens. Um estudo de 2016 demonstrou que após breve contato com uma mulher atraente os homens experimentam um declínio momentâneo do desempenho mental. Um novo estudo nessa área vai mais longe: sugere que não é preciso nem se aproximar concretamente de uma figura feminina interessante para que esses efeitos apareçam. Segundo a pesquisa, basta que o homem antecipe mentalmente a interação com uma mulher sobre a qual não sabe muita coisa para que seja constatada a deterioração cognitiva.
Para compreender por que isso ocorre, a pesquisadora Sanne Nauts e seus colegas da Universidade Radboud de Nijmegen, na Holanda, realizaram dois experimentos com a participação de estudantes universitários de ambos os sexos. No primeiro, avaliaram seu desempenho cognitivo aplicando um teste de Stroop. Desenvolvido em 1935 pelo psicólogo Ridley Stroop, o instrumento é usado para avaliar a capacidade de elaborar informações que competem entre si. O teste consiste em mostrar uma série de nomes impressos em cores diferentes. Por exemplo, “azul” pode estar impresso em verde, “vermelho” em laranja, e assim por diante. Os participantes devem nomear, o mais rápido possível, as cores nas quais as palavras estão escritas.
O teste é cognitivamente exigente porque nosso cérebro tem dificuldade em processar o significado da palavra sem relacioná-la imediatamente à cor da tinta na qual foi impressa. Quando as pessoas estão mentalmente cansadas, tendem a completar essa tarefa de modo mais lento.
No estudo de Sanne Nauts, após terem completado o teste de Stroop os voluntários realizaram outra prova, apresentada como dissociada da anterior. Os pesquisadores pediram aos universitários que lessem em voz alta uma série de palavras em holandês diante de uma webcam. Os cientistas explicaram que durante a “tarefa de leitura labial” um observador – ao qual era atribuído um nome qualquer, masculino ou feminino – estaria acompanhando o desempenho dos participantes através de uma câmera. Os voluntários não interagiam de modo algum com essa pessoa, que não era identificada nem por fotografia. Tudo o que sabiam – sobre ele ou ela – era o nome.
Logo depois de concluírem a leitura, os participantes foram submetidos a outro teste de Stroop. O desempenho das mulheres nessa segunda avaliação foi muito semelhante ao do primeiro, não importando o sexo do misterioso observador. Mas, entre os homens que julgaram ter sido observados por uma mulher, o desempenho foi pior nesse segundo teste. E essa deterioração cognitiva ocorreu independentemente de eles terem interagido com a suposta observadora.
Numa segunda etapa da pesquisa, Sanne Nauts e seus colegas iniciaram novamente o experimento aplicando o teste de Stroop em voluntários que haviam sido levados a pensar que precisariam fazer uma leitura em voz alta, como no primeiro experimento – na verdade, porém, eles nem sequer chegaram a realizar essa atividade; o importante era que acreditassem que teriam de cumpri-la. Metade dos voluntários foi induzida a crer que seria observada por um homem, e a outra parte, por uma mulher. Em seguida, todos foram convidados a realizar outro teste de Stroop. Mais uma vez, o desempenho das mulheres não apresentou diferença, independentemente do gênero do suposto observador. Já entre os rapazes, aqueles que acharam que seriam acompanhados por uma mulher tiveram desempenho significativamente pior no segundo teste.
PARA IMPRESSIONAR
Na sociedade moderna, muitas vezes as pessoas interagem através do telefone ou on-line, sendo a voz ou o nome os únicos modos de saber o sexo da outra pessoa. A pesquisa holandesa sugere que até interações muito limitadas como essas bastam para ameaçar a capacidade cognitiva dos homens quando são confrontados com o sexo oposto.
Embora esses estudos não ofereçam uma explicação concreta e definitiva para o fenômeno, os pesquisadores acreditam que o motivo esteja no fato de o homem considerar – pelo menos num primeiro momento – toda mulher uma possível parceira amorosa, ainda que nem sempre tenha clara consciência disso. Como todos os participantes das pesquisas eram jovens e heterossexuais, provavelmente fantasiaram que a misteriosa observadora poderia vir a ser uma parceira em potencial.
Os resultados podem estar relacionados às expectativas sociais. É possível que a sociedade induza os homens a impressionar as mulheres com quem interagem. A hipótese é ainda especulativa, mas estudos anteriores demonstraram que quanto mais a pessoa se preocupa em transmitir uma boa impressão, mais seu cérebro se cansa. De fato, as interações sociais exigem quantidade significativa de energia mental, usada para imaginarmos como os outros poderão interpretar nossas palavras e ações.
As psicólogas americanas Jennifer Richeson e Nicole Shelton, por exemplo, descobriram que os brancos com preconceitos raciais enfrentam rebaixamento cognitivo (similar ao constatado em homens que acreditavam ser observados por uma mulher desconhecida) logo após interagir com pessoas negras. As pesquisadoras supõem que isso provavelmente ocorra porque os primeiros procuram não revelar seus preconceitos – e têm de se esforçar para tal.
Outra pesquisa desenvolvida por Jennifer e seus colegas registrou problemas cognitivos similares em jovens provenientes de famílias pobres, que eram alunos de universidades de elite, logo depois de eles terem sido observados por colegas mais ricos enquanto resolviam exercícios que supostamente mediam o quociente intelectual (QI). Enfim, parece evidente que, quando nos encontramos em situações nas quais nos sentimos inseguros, intimidados ou estamos particularmente preocupados com a impressão que causaremos, podemos ter dificuldades concretas para raciocinar claramente. No caso dos homens, o simples fato de pensar em interagir com uma mulher seria suficiente para ofuscar-lhes um pouco o cérebro. Se ela for bonita, então, pior ainda.
FOTOS DE GAROTAS BONITAS PODEM DESPERTAR AGRESSIVIDADE
Apesar dos avanços sociais e tecnológicos, ainda conservamos instintos primitivos. No caso dos homens, persiste a tentativa de garantir sucesso reprodutivo por meio de disputas físicas. Pelo menos é o que mostra um estudo publicado no periódico científico Personality and Social Psychology Bulletin. Uma das pesquisas citadas no trabalho foi coordenada pelo psicólogo Chang Lei. Ele pediu a 41 mulheres e a 60 homens chineses que analisassem 20 fotografias de pessoas do sexo oposto, divididas em dois grupos, o dos mais atraentes e o dos menos interessantes. Em seguida, o pesquisador pedia aos voluntários que respondessem a 39 questões relacionadas à possibilidade de a China participar de guerras ou de conflitos comerciais com três países estrangeiros. Ao avaliar as respostas, os pesquisadores observaram que a maior parte dos homens apresentou tendências bélicas depois de ver imagens de moças que julgavam atraentes. O mesmo efeito não foi notado quando as perguntas eram sobre conflitos comerciais. Entre as mulheres as fotografias não exerceram influência em nenhum dos casos.
Em outro experimento, 23 voluntários do sexo masculino viram oito imagens com a bandeira da China e oito com pernas femininas antes de participarem de um teste de computador no qual deveriam identificar a palavra “guerra” o mais rápido que conseguissem. Se fossem motivados por patriotismo, era esperado que os participantes do estudo se saíssem melhor após verem a bandeira de seu país. Mas, na verdade, os mais ágeis foram os que observaram fotografias de pernas de mulheres. Uma possível explicação é que talvez os homens acreditem, mesmo inconscientemente, que garotas preferem parceiros fortes, capazes de derrotar possíveis “concorrentes”, como acontece em outras espécies.
SEDUÇÕES ÍNTIMAS
Embora hoje as rendas e os lacinhos já não estejam tão escondidos, até há poucos anos sutiãs, calcinhas, combinações, anáguas e corpetes, sempre em cores discretas, eram encontrados apenas em lojas de armarinhos ou nas prateleiras dispostas disfarçadamente nas grandes lojas. Atualmente a roupa íntima é um fenômeno de moda presente em campanhas publicitárias famosas; tornou-se um aspecto da cultura. Quem não se lembra, por exemplo, do comercial dos anos 80 cujo tema era o “primeiro sutiã”, ou do advento do modelo wonderbra, que inaugurou as curvas falsas?
“Essas peças estão em uma posição ‘intermediária’ entre a pele e o tecido das roupas comuns; é essa carga simbólica que faz com que um corselete cause um impacto visual muito diferente daquele provocado por um maiô inteiro, que também cobre – ou deixa de cobrir – exatamente a mesma extensão do corpo de uma mulher”, afirma o semiólogo Ugo Volli, pesquisador da Universidade de Turim. Até o século 18, porém, eram os homens que usavam meias e ligas para deixar as pernas e até os genitais à mostra. As calcinhas também são uma invenção moderna. “No passado, acreditava-se que a mulher deveria ser ‘aberta embaixo’, uma ideia que ainda permanece disfarçadamente presente no imaginário erótico e é expressa por meio de imagens como a de Sharon Stone no filme Instinto selvagem, de 1992″, ressalta Volli. Segundo o estudioso de sistemas de signos e símbolos, essa crença, que estimula a fantasia de descobrir algo “secreto”‘ pode explicar por que os homens preferem, por exemplo, as meias femininas que vão até a altura das coxas em vez dos modelos inteiriços.
“O fascínio da roupa íntima está na brincadeira do vejo/não vejo que atrai a atenção para as zonas erógenas, o que faz com que estar vestido seja, em geral, mais erótico que ver o corpo completamente nu”, afirma o psicólogo e terapeuta de casais Giuseppe Rescaldina.
O pesquisador dinamarquês Per Ostergaard lembra que, em certas situações, usar determinada roupa é uma espécie de ritual, um momento de passagem: há peças que, na intimidade, despertam o imaginário erótico e permitem ao casal encarnar o que ele chama de “personagens de si mesmos”. Em geral a renda branca, por exemplo, evoca a ideia de pureza; já a cor preta costuma ser associada à ideia de mistério e sofisticação. Para grande parte das pessoas o vermelho vivo lembra tanto sensualidade quanto transgressão, enquanto estampas que imitam pele de animais podem remeter ao erotismo e à sensualidade. Embora não haja consenso, fatores culturais também entram em jogo, e persiste um imaginário erótico constantemente incrementado pela mídia. O fato é que a roupa íntima “fala de nós” e nos permite viver diferentes papéis. Talvez por isso a renda transparente, o corselete e as meias 7/8 continuem sendo tão atraentes por tantas décadas. Embora a tecnologia proponha cortes e tecidos confortáveis outrora inimagináveis, as imagens que realmente seduzem são as da roupa íntima que parece ser usada justamente para ser tirada.
Já para os homens, a visão é um dos sentidos fundamentais para alimentar a excitação, enquanto mulheres costumam se voltar para o conjunto. Não é à toa que a maioria delas consegue manter vários focos de atenção simultaneamente “Trata-se de uma herança da época na qual o macho deveria escolher uma parceira com a qual propagar os próprios genes, por isso se voltava para detalhes, enquanto a fêmea precisava de um companheiro para criar a prole, e fazer essa avaliação exigia observar o conjunto com um olhar mais abrangente”, observa o sexólogo Fabrizio Quattrini, presidente do Instituto Italiano de Sexologia Científica, em Roma. É por isso que peças transparentes em cores que se destacam do tom da pele, cobrindo (e ao mesmo tempo evidenciando) as zonas erógenas excitam tanto os homens. Ou pelo menos grande parte deles.
A cor da pele, em geral, é menos apreciada porque lembra demais a própria carne – e a suavidade, remetendo à realidade concreta, causando uma dicotomia entre carinho e paixão. “Simplificando, podemos afirmar que homens apreciam elementos que ‘forçam’ e ressaltam a imagem, que em nossa imaginação poderiam ser usados por um travesti ou uma prostituta. O vermelho forte, o sutiã que realça os seios ou a bota de salto fino superalto têm algo de tentador e ao mesmo tempo de proibido”, comenta a sexóloga Chiara Simonelli. “É uma espécie de fantasia que, para algumas pessoas, ajuda a acordar os sentidos, dá asas à imaginação e permite experimentações que, se estivessem vestidas de forma ‘comum’, dificilmente fariam”, diz. Nesse contexto, a preparação até que a roupa seja exibida ao olhar alheio – a escolha da cor, dos detalhes, da maquiagem, a admiração da própria imagem antes, no espelho, e o momento da surpresa para o parceiro – compõe um ritual de apropriação de aspectos nem sempre óbvios da personalidade. A sexóloga ressalta que a característica arcaica da sensibilidade masculina é despertada por estereótipos, o que faz com que elementos eróticos pareçam especialmente interessantes. Essa produção pode, em determinados casos, apresentar-se para o homem como a sedutora imagem da mulher que se oferece a ele como um presente e, assim, o reafirma em seu papel dominante – na prática, um lugar cada vez menos efetivo.
Já o olhar feminino costuma valorizar o conjunto, o que torna as mulheres mais benevolentes. Elas demonstram preferência por roupas íntimas masculinas que combinem conforto, elegância e higiene. Antigamente, um homem que dedicasse muita atenção à própria roupa de baixo seria classificado como pouco viril. Hoje, embora esse interesse exagerado continue a ser uma característica do universo homossexual masculino, a afirmação da própria imagem já comporta a descoberta do cuidado com o corpo e – algo antes impensável – maior preocupação com a roupa de baixo.
Para muitas mulheres, o uso da lingerie pode ajudar a enfatizar ou resgatar a feminilidade: em muitos casos, admirar-se ao espelho com um conjunto bonito de calcinha e sutiã é um recurso para fazer as pazes com o próprio corpo – e aceitar que não é necessário ser perfeita para ser bonita, sensual e desejada.