DIVERSÃO COM RESPONSABILIDADE
No mundo infinito da internet, há de tudo, criando uma necessidade de abordar temas que englobam os impactos da exposição de crianças e adolescentes na web.
Em um vídeo postado no YouTube e no Facebook, um menino de apenas 5 anos realiza um experimento curioso. Durante 30 dias, a criança elogia uma planta enquanto “maltrata” outra do mesmo tamanho. É um experimento sobre o efeito do bullying. No final, a criança se emociona ao perceber que a planta alvo de seu desafeto morreu. Em outro vídeo, duas crianças dançam sorridentes ao som do funk Sarrada no Ar, enquanto seus pais falam em alto e bom som “continuem”, “não parem não”. Enquanto isso, os filhos dançam até o chão. Não demora para eu achar um vídeo de duas adolescentes ensinando como camuflar o celular para usá-lo em sala de aula sem alertar o professor.
Não há dúvida de que o primeiro vídeo citado é interessante e resguarda uma mensagem positiva – um gargalo para as generalizações grotescas contra a internet. Generalizar é mais fácil, mas esse e tantos outros exemplos demonstram o quão perigoso é trilhar pelo caminho mais curto e simples. Quando falamos em conteúdo protagonizado por crianças e adolescentes, vale uma investigação mais profunda. Nesse caso, a raiz são os pais, que precisam ser ouvidos e explicar a origem desses canais virais e a maneira como veem essas produções compartilhadas na internet. Falar é um ato de coragem e escutar sobre aprendizagem nos ajuda a lidar com esses conflitos do ciberespaço.
Participei como ouvinte do 3° Workshop “Impactos da Exposição de Crianças e Adolescentes na Internet”, organizado pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGl.br) e Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), que contou com a presença de diversos profissionais, dentre eles Luiz Fernando Riesemberg, pai do YouTuber mirim Tiago, que protagonizou o vídeo viral do experimento de bullying com as plantas. Examinando a fala de Riesemberg, nota-se uma preocupação soberana dele: a felicidade do Tiago. O pai recorda que tudo começou a partir de uma brincadeira: “Percebi que ele está entediado num sábado à tarde e resolvi fazer uma coisa diferente para ele. Ele então gravou um vídeo e não se aguentou e postou nas redes sociais. O feedback de amigos e familiares foi positivo, claro, motivando o pai a repetir o ato de compartilhar o vídeo do filhote. Até aí parece que o desejo do pai impera, mas ele lembra que sempre conversou com o filho sobre as postagens e deixou claro que era o filho que escolhia gravar ou não. O que chama atenção é a ênfase na fala de não apresentar a produção de conteúdo em vídeo como um compromisso para a criança.
Há vários canais protagonizados por crianças que estampam na primeira imagem do vídeo mensagens como “vídeos novos todas terças e quintas”. De fato, esse não é um bom caminho quando alguém pensa primeiramente na criança. Reisemberg lembra também que o Tiago sempre aprende algo novo quando grava e faz isso porque gosta e se diverte. Por parte do pai Luiz Fernando, nota-se uma legítima presença dele em todas as redes sociais, acompanhando os comentários e toda repercussão do vídeo de seu filho. Ele ainda observa que lê todos comentários e bloqueia perfis que escrevem frases ofensivas. Riesemberg é vigilante da imagem compartilhada do seu próprio filho, revelando que seu amor paternal é marcado por um senso temperado de autonomia, diversão e responsabilidade.
TIAGO J.B. EUGÊNIO – é mestre em Psicobiologia e Estudos do Comportamento Humano. É designer de aprendizagem na Rhyzos Educação e escreve sobre educação, tecnologias e Neurociências.
E-mail:tiagoeugenio20@gmail.com – site: http://www.tiagoeugenio.com.br
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