PSICOLOGIA ANALÍTICA

A ILUSÃO DE FATOS ALTERNATIVOS

Pode parecer estranho, mas nenhum de nós jamais experienciou o mundo diretamente – o que temos é uma simulação da realidade mediada pelo cérebro. Algumas “regras” com base científica podem ajudar nessa “busca pela verdade”.

A ilusão de fatos alternativos

O penúltimo fim de semana de janeiro de 2017 marcou a tomada de posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos e o momento em que a expressão “fatos alternativos” se juntou a “pós-verdade” e “notícias falsas”. Na ocasião, foi registrado o primeiro choque do presidente americano com a imprensa. O mote foi um tanto bizarro e mesquinho: o tamanho da multidão durante o evento.

Em seu discurso um dia depois, Trump atacou jornalistas e redes de televisão por “mentirem” sobre a quantidade de pessoas presentes, ao mostrarem “um campo vazio” no National Mall. “Olhei para fora, o local estava cheio, parecia ter 1 milhão, 1,5 milhão de pessoas”, disse Trump. Mais tarde, o secretário de imprensa Sean Spicer continuou a defender a declaração do presidente enquanto criticava a mídia.

O debate sobre o que constitui a realidade objetiva e subjetiva provavelmente perdurará. Enquanto isso, nós, autores deste artigo, neurocientistas especializados no estudo da percepção errônea e da ilusão, temos algumas observações a fazer. Nossa pesquisa se concentra justamente nos erros cognitivos e de percepção que cometemos na vida cotidiana, bem como nos truques inteligentes concebidos por pintores e ilusionistas para fazer com que os espectadores experimentem algo além do óbvio. Poderíamos mesmo dizer que estudamos enganos e desvios – dois conceitos que se tornaram inesperadamente relevantes para a cena política.

Repetidas vezes, tivemos a oportunidade de comprovar no laboratório que nossos sentidos não são confiáveis: não importa quão certo estejamos de que nossa percepção dos eventos que nos rodeiam são como vemos, ainda assim podemos estar completamente errados. Uma parte principal do problema é que ninguém experimenta a realidade diretamente. Cada visão, som ou sentimento que qualquer um de nós já passou por filtros biológicos e pelos sofisticados mecanismos cerebrais de processamento de informações. A verdade é que, na prática, nenhum de nós nunca experienciou o mundo diretamente, mas apenas uma simulação mediada pelo cérebro. E essa representação não corresponde necessariamente à realidade.

Ainda que nossos sentidos não possam compreender completamente o mundo que nos cerca, existem regras precisas para o jogo de obter conhecimento imparcial e formas de medir a realidade objetiva. Veja como o método científico e a ciência da ilusão podem ajudar:

REGRA 1: NÃO PODEMOS DETERMINAR O QUE É VERDADE, MAS É POSSÍVEL ESTABELECER O QUE É FALSO.

A ilusão de fatos alternativos.2

Nossa imagem da realidade evolui cada vez que aprendemos algo novo sobre o mundo. No século 17, Isaac Newton mostrou que a física aristotélica não era a verdade completa. Por sua vez, o relativismo da física quântica ampliou e, sob muitos aspectos, superou a física newtoniana. Cada descoberta subsequente nos impulsiona a novas constatações: está sempre presente a possibilidade de que uma nova observação imprevista derrubará – ou pelo menos mudará – o que se aceita até agora como verdadeiro. Assim, um princípio fundamental da ciência é que, ao passo que nenhuma quantidade de dados pode verificar uma hipótese, uma única observação contraditória é capaz de refutá-la. Em outras palavras, as hipóteses não podem ser comprovadas como verdadeiras, embora possam ser comprovadas como falsas. Se há uma coisa em que o método científico se destaca é o fato de que é possível refutar proposições.

A hipótese de Donald Trump sobre o tamanho da multidão era possivelmente razoável de sua posição privilegiada no estrado. Como observado no texto publicado no Washington Post, o presidente pode ter levado em conta que a multidão se estendia até a parte de trás do National Mall. Ou talvez ele tenha mentido. De qualquer forma, as hipóteses só podem sobreviver enquanto os dados as sustentam. E fotografias aéreas, estimativas de cientistas e o número de passageiros de transporte público fornecido pelo Washington Metropolitan Area Transit (WMAT) rejeitam a afirmação da Casa Branca de que a multidão presente na posse de Trump foi a maior da história.

REGRA 2: ALTA CONFIANÇA NÃO É IGUAL À PROVA OBJETIVA.

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Lembra-se do vestido viral? O fenômeno das mídias sociais começou com a foto de um vestido, fotografado sob ambígua iluminação azul e amarela. Aproximadamente metade da humanidade viu a roupa nas cores branca e dourada; a outra metade viu em azul e preto. Tanto os partidários de uma opinião quanto os de outra se sentiam igualmente confiantes em sua avaliação e, por mais que tentassem, não podiam ver a roupa de outra maneira. Podemos pensar nas duas interpretações concorrentes do vestido como dois conjuntos igualmente válidos de “fatos alternativos”. Exceto por uma coisa: se iluminássemos o vestido com uma luz branca simples, ele ficaria azul e preto para qualquer pessoa.

Todos podemos imaginar cenários alternativos para qualquer acontecimento: sequências de eventos que poderiam ter ocorrido, mas nunca aconteceram realmente. A série de TV Amazon Video The man in the high castle situa-se num universo distópico no qual as potências de determinado grupo venceram a Segunda Guerra Mundial. Talvez haja uma realidade alternativa em que o presidente Trump teve a maior audiência já registrada num evento – no entanto, não foi o que aconteceu em nosso universo.

REGRA 3: A PERCEPÇÃO DEPENDE DA PERSPECTIVA, MAS A SUBJETIVIDADE NÃO É UMA MEDIDA DA REALIDADE.

“O relatório da Casa Branca sobre o tamanho da multidão não era notável devido à sua imprecisão, mas sim pela confiança nas informações incorretas. Se Trump dissesse que 1 milhão de pessoas pareciam estar na inauguração, mas que ele não sabia o número real, o relato poderia ter parecido mais cativante do que inquietante. Estimativas também não são fáceis quando estamos próximos demais de uma situação, ou mesmo fazemos parte dela. Talvez por isso seja tão compreensível por que é mais efetivo conversar com um psicólogo sobre algum problema do que com um amigo interessado em nos ajudar, mas dificilmente isento afetivamente.

Não raro, quando estamos em meio a uma multidão, empacotados como sardinhas, imaginamos haver milhões de pessoas no mesmo evento e ficamos surpresos depois de descobrir, com base em imagens aéreas, dados do departamento de trânsito e estimativas de especialistas, que havia menos de meio milhão de pessoas. A diferença entre a percepção e o que de fato se verificou realça quão difícil é avaliar o tamanho de uma situação enquanto fazemos parte dela – mesmo para cientistas perceptuais acostumados a desconfiar de seus sentidos.”

 

 

Nossa fiação neural é constituída de tal forma que é praticamente impossível para os seres humanos pensar, ou mesmo entender algo, em termos absolutos, por mais simples que seja. Nossos olhos não contam fótons da maneira como o medidor de luz de um fotógrafo o faz. Em vez disso, vemos o mundo como um padrão de contrastes: o mesmo círculo cinzento pode parecer preto para nós se rodeado por branco e branco se rodeado por preto. Nossa percepção depende do contexto e da perspectiva. Chamamos de ilusões aqueles casos em que nosso relativismo subjetivo se afasta dramaticamente dos dados objetivos (como quando vemos um círculo cinza como branco, embora o medidor de luz do fotógrafo prove que não é assim).

Algumas das percepções mais deslumbrantes confiam no uso engenhoso da perspectiva. Kokichi Sugihara, um matemático do Japão e vencedor por mais de uma vez da competição da Melhor Ilusão, construiu rampas em que bolas de madeira parecem rolar ladeira abaixo. No entanto, um ponto de vista diferente revela que o movimento ascendente é apenas uma ilusão e que na realidade as bolas não estão se movimentando.

Nos Estados Unidos, muito se falou sobre como a percepção pode ter afetado as reivindicações da Casa Branca a respeito do tamanho da multidão inaugural. Há a questão do ponto de vantagem de Trump a partir do estrado, o que pode ter influenciado sua percepção sobre números maiores. Mas a assessoria de imprensa do governo tomou outro rumo, argumentando que as fotos aéreas fizeram a multidão de Trump parecer menor do que na vida real, devido ao uso sem precedentes de revestimentos de chão brancos para proteger a grama no Mall.

Considerando que o grande número de pessoas vestidas com roupas escuras de inverno deve ser geralmente mais fácil de analisar contra um fundo branco do que contra um escuro. Sem mencionar o fato de que os revestimentos de assoalho brancos foram usados pela primeira vez em 2013, para a cerimônia da segunda posse de Barak Obama, e ainda estavam no lugar – mas menos visíveis devido à maior multidão – durante a Marcha das Mulheres, no dia seguinte à inauguração.

Em nossa nova era americana de notícias falsas e tristeza pós-verdade, a busca por verdade objetiva e fatos (não alternativos) tornou-se mais crítica do que nunca. Os cientistas e os jornalistas devem unir forças nesse esforço comum e não hesitar em chamar atenção para as falsidades presentes e futuras, seja por erros inocentes ou por tentativas francas de induzir em erro. Considerando que a pós-verdade é uma ilusão – sem base na realidade –, a verdade real é impermeável aos nossos desejos, emoções ou crenças. O método científico nos ensina que só alcançaremos a verdade rejeitando obstinadamente cada pedaço de desinformação que está em nosso caminho. Os relatórios investigativos e a verificação de fatos agressiva serão cruciais para nos levar até lá.

Autor: Vocacionados

Sou evangélico, casado, presbítero, professor, palestrante, tenho 4 filhos sendo 02 homens (Rafael e Rodrigo) e 2 mulheres (Jéssica e Emanuelle), sou um profundo estudioso das escrituras e de tudo o que se relacione ao Criador.

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