JOÃO 16: 7-15

A Conveniência da partida de Cristo. A promessa do Espírito
Assim como era usual que os profetas do Antigo Testamento consolassem a igreja, nas suas calamidades, com a promessa do Messias (Isaias 9.6; Miquéias 5.6; Zacarias 3.8), também, tendo vindo o Messias, a promessa do Espírito era o maior estímulo, e ainda o é.
Aqui temos três coisas a respeito da vinda do Consolador:
I – Que a partida de Cristo era absolutamente necessária para a vinda do Consolador, v. 7. Os discípulos se recusavam tão firmemente a crer nisto, que Cristo viu motivos para afirmá-lo com uma solenidade mais do que usual: “Digo-vos a verdade”. Nós podemos confiar na verdade de tudo o que Cristo nos disse. Ele não tem desejos de se aproveitar de nós. Agora, para deixá-los mais tranquilos, aqui Ele lhes diz que:
1. De maneira geral, era conveniente para eles que Ele partisse. Esta era uma doutrina estranha, mas, se era verdadeira, era suficientemente confortável, e lhes mostrava o quanto a tristeza que sentiam era absurda. “Convém”, não somente para mim, mas também para vocês, “que eu vá”. Embora eles não vissem isto, e se recusassem a crer nisto, era verdade. Observe que:
(1) Aquelas coisas que são realmente convenientes para nós sempre nos parecem dolorosas. Particularmente, nossa partida, quando terminarmos nossa jornada nesta terra.
(2) Nosso Senhor Jesus é sempre favorável àquilo que é mais conveniente para nós, quer pensemos assim ou não. Ele não lida conosco de acordo com a loucura de nossa própria escolha, mas graciosamente a rejeita e nos dá o remédio que não estamos dispostos a tomar, porque Ele sabe que ele é bom para nós.
2. Era conveniente porque tinha o objetivo do envio do Espírito. Observe:
(1) Que a partida de Cristo tinha o objetivo da vinda do Consolador.
[1] Isto está expresso de maneira negativa: “Se eu não for, o Consolador não virá”. E por que não? Em primeiro lugar, assim estava decidido nos conselhos divinos a respeito deste assunto, e a medida não devia ser alterada. A terra será abandonada por causa deles? Aquele que dá livremente pode recolher um dom antes que conceda outro, embora desejássemos retê-los a todos, carinhosamente. Em segundo lugar, é suficientemente coerente que o embaixador extraordinário fosse chamado de volta, antes da vinda do enviado, que deveria residir permanentemente. Em terceiro lugar, o envio do Espírito deveria ser o fruto da compra de Cristo, e esta compra seria feita pela sua morte, que envolveria sua partida. Em quarto lugar, seria uma resposta à sua intercessão dentro do véu. Veja cap. 14.16. Desta maneira, este presente deve ser pago pelo Senhor Jesus, e também pedido a Ele, para que possamos aprender a dar-lhe o devido valor. Em quinto lugar, o grande argumento que o Espírito iria utilizar para convencer o mundo seria a ascensão de Cristo ao céu, e sua acolhida aqui. Veja o versículo 10, e também cap. 7.39. Finalmente, os discípulos devem se desacostumar da sua presença física, a qual eles são muito capazes de amar, antes de estarem plenamente preparados para receber os auxílios e os consolos espirituais de uma nova dispensação.
[2] Está expresso de maneira positiva: “Se eu for, enviar-vo-lo-ei”, como se ele tivesse dito: “Confiem que eu proverei de maneira efetiva, de modo que vocês não percam com minha partida”. O Redentor glorificado não deixa de se preocupar com sua igreja na terra, nem irá deixá-la sem os auxílios necessários. Embora Ele parta, Ele envia o Consolador, ou melhor, Ele parte com o propósito de enviá-lo. Desta maneira, embora uma geração de ministros e cristãos parta, outra se ergue em seu lugar, pois Cristo irá sustentar sua própria causa.
(2) Que a presença do Espírito de Cristo na sua igreja é muito melhor, e mais desejável, que sua presença física. Realmente, era conveniente para nós que Ele partisse, para nos enviar o Consolador. Sua presença física poderia estar em um lugar por vez, mas seu Espírito está em toda parte, em todos os lugares, em todos os momentos, sempre que dois ou três estiverem reunidos no seu nome. A presença física de Cristo atrai os olhos dos homens, mas seu Espírito atrai seus corações. A letra mata, mas o Espírito do Senhor vivifica.
II – Que a vinda do Espírito era absolutamente necessária para a realização dos interesses de Cristo na terra (v. 8): “E quando ele vier”. Aquele que é enviado deseja vir, e na sua primeira vinda, Ele fará isto, Ele “reprovará”, ou, como na interpretação da margem (versão inglesa KJV), “convencerá o mundo”, pelo seu ministério, no que diz respeito ao pecado, à justiça e ao juízo.
1. Veja aqui qual é a função do Espírito, e com que missão Ele é enviado.
(1) Para reprovar. O Espírito, pela palavra e pela consciência, é um reprovador. Os ministros são reprovadores por ofício, e por intermédio deles, o Espírito reprova.
(2) Para convencer. Este é um termo legal que muitas vezes representa a função do juiz, ao resumir as evidências e definir uma questão que tinha sido debatida durante muito tempo, sob uma luz clara e verdadeira. Ele “convencerá”, isto é, Ele calará os adversários de Cristo e da sua causa, revelando e demonstrando a falsidade e a falácia daquilo que eles sustentam, e a verdade e a certeza daquilo a que eles se opõem. Observe que o trabalho de convencer é o trabalho do Espírito. Ele pode realizá-lo com eficácia, e ninguém pode fazê-lo, exceto Ele. O homem pode abrir a causa, mas somente o Espírito pode abrir o coração. O Espírito é chamado de Consolador (v. 7), e aqui está escrito: Ele “convencerá”. Poderia pensar-se que este era um consolo frio e distante, mas é o método que o Espírito adota, a saber, primeiro convence, e depois consola, primeiro abre a ferida, e depois aplica os remédios curativos. Ou, interpretando a convicção de modo mais genérico, como uma demonstração daquilo que é certo, isto indica que os consolos do Espírito são sólidos e se baseiam na verdade.
[1] Veja quem são aqueles a quem Ele deverá condenar e convencer: o mundo, tanto os judeus quanto os gentios.
(1) Ele dará ao mundo os meios mais poderosos de convicção, pois os apóstolos deverão ir a todo o mundo, respaldados pelo Espírito, para pregar o Evangelho, que é completa mente comprovado.
(2) Ele irá prover de modo suficiente para o silêncio e a remoção das objeções e preconceitos do mundo contra o Evangelho. Muitos infiéis são convencidos por todos, e julgados por todos, 1 Coríntios 14.24.
(3) Ele irá convencer a muitos no mundo, de maneira efetiva e salvadora, muitos de todas as épocas, em todos os lugares, para sua conversão à fé de Cristo. Era um incentivo para os discípulos, em referência às dificuldades que eles provavelmente iriam encontrar:
[1] Que eles veriam o bem sendo feito, a queda do reino de Satanás como um relâmpago, o que seria sua alegria, assim como era a dele. Mesmo neste mundo maligno, o Espírito irá operar. E a convicção dos pecadores é o consolo dos ministros fiéis.
[2] Que isto seria o fruto dos seus serviços e sofrimentos, que iriam contribuir muito para esta boa obra.
2. Veja do que o Espírito irá convencer o mundo.
(1) “Do pecado, porque não creem em mim” (v. 9).
[1] O Espírito é enviado para convencer os pecadores do pecado, e não simplesmente falar-lhes sobre ele. Na convicção, há mais do que isto. É provar-lhes, e forçá-los a reconhecer, assim como aqueles (cap. 8.9) que foram convencidos pelas suas próprias consciências. Fazê-los conhecer suas abominações. O Espírito convence da realidade do pecado, de que fizemos isto e aquilo; da falha no pecado, de que fizemos mal em fazer isto e aquilo; da tolice do pecado, de que agimos contra a razão e contra nossos verdadeiros interesses; da sujeira do pecado, de que por ele nos tornamos odiosos a Deus; da fonte do pecado, a natureza corrupta; e, por fim, do fruto do pecado, cujo fim é a morte. O Espírito demonstra a depravação e a degeneração de todo o mundo, pelas quais todo o mundo é culpado diante de Deus.
[2] Ao convencer o Espírito se prende especialmente ao pecado da incredulidade, que consiste no fato de não se crer em Cristo. Em primeiro lugar, por este ser um grande pecado dominante. Havia, e há, muitas pessoas que não creem em Jesus Cristo, e elas não se dão conta de que este é seu pecado. A consciência natural lhes diz que matar e roubar são pecados. Mas é a obra sobrenatural do Espírito convencê-las de que há um pecado em não crer no Evangelho, e rejeitar a salvação que ele oferece. A religião natural, depois que nos fornece suas melhores revelações e orientações, estabelece e nos deixa sob esta obrigação adicional, que, a qualquer revelação divina que nos seja feita, a qualquer tempo, com evidências suficientes que provem sua origem divina, nós devemos aceitar e sujeitar-nos. Transgridem esta lei aqueles que, quando Deus nos fala por intermédio do seu Filho, rejeitam aquele que fala, e, por isto, é pecado. Em segundo lugar, por este ser um grande peca do destruidor. Todo pecado é destruidor em sua própria natureza. Porém, nenhum pecado pode destruir aqueles que creem em Cristo e se mantêm em santificação. De modo que é a incredulidade que destrói os pecadores. É por esta causa que eles não podem entrar no repouso, que não podem escapar à ira de Deus. Este pecado combate contra o remédio. Em terceiro lugar, por este ser um pecado que está no fundo de todo pecado. O Espírito irá convencer o mundo de que a verdadeira razão pela qual o pecado reina sobre eles consiste no fato de que eles não estão unidos a Cristo pela fé. Não devemos supor que, separados de Cristo, tenhamos sequer uma gota de retidão.
(2) “Da justiça, porque vou para meu Pai, e não me vereis mais”, v. 10. Nós podemos interpretar isto:
[1] Como a justiça pessoal de Cristo. Ele convencerá o mundo de que Jesus de Nazaré era Cristo, o Justo (1 João 2.1), assim como o centurião reconheceu (Lucas 23.47): “Na verdade, este homem era justo”. Os inimigos de Jesus lhe atribuíam as piores características, e as multidões não se convenciam, ou não queriam se convencer, de que Ele não era um homem mau, o que fortalecia seus preconceitos contra sua doutrina. Mas Ele é justificado pelo Espírito (1 Timóteo 3.16), Ele prova ser um homem justo, e não um enganador. E então o ponto é realmente ganho, pois Ele é o grande Redentor ou a grande trapaça. Mas uma trapaça, nós temos certeza de que Ele não é. Agora, por qual meio ou argumento o Espírito irá convencer os homens da sinceridade do Senhor Jesus? Em primeiro lugar, o fato de que eles não mais o verão irá contribuir, de certa maneira, para a remoção dos seus preconceitos. Eles não mais o verão na semelhança da carne pecadora, na forma de um servo, que fez com que eles o desprezassem. Moisés foi mais respeitado depois de ser removido do que antes. Mas, em segundo lugar, sua ida ao Pai traria uma convicção completa disto. A vinda do Espírito, segundo a promessa, era uma prova da exaltação de Cristo à direita de Deus (Atos 2.33), e uma demonstração da sua justiça, pois o santo Deus nunca colocaria um enganador à sua direita.
[2] Como a justiça de Cristo transmitida a nós, para nossa justificação e salvação, que é a justiça eterna que o Messias devia trazer, Daniel 9.24. Veja que, em primeiro lugar, o Espírito irá convencer os homens desta justiça. Tendo, pela convicção do pecado, lhes mostrado a necessidade que tinham de justiça, para que isto não os levasse ao desespero, Ele irá lhes mostrar onde ela pode ser encontrada, e como eles podem, se crerem, ser absolvidos da culpa e ser aceitos como justificados, diante de Deus. Era difícil convencer desta justiça àqueles que tentavam estabelecer a sua própria (Romanos 10.3), mas o Espírito o fará. Em segundo lugar, a ascensão de Cristo é o grande argumento apropriado para convencer os homens desta justiça: Eu “vou para meu Pai”, e, como evidência de que serei bem recebido junto a Ele, “não me vereis mais”. Se Cristo tivesse deixado alguma parte da sua missão inacabada, Ele teria sido enviado de volta. Mas agora que temos a certeza de que Ele está à direita de Deus, temos a certeza de que somos justificados por meio dele.
(3) “Do juízo, porque já o príncipe deste mundo está julgado”, v.11. Observe aqui:
[1] O Diabo, o príncipe deste mundo, foi julgado, foi considerado como um grande enganador e destruidor, e, como tal, recebeu julgamento e a execução foi realizada, em parte. Ele foi expulso do mundo gentílico quando seus oráculos foram silenciados, e seus altares, abandonados. Foi expulso do corpo de muitos, em nome de Cristo, cujo poder milagroso continua na igreja. Ele foi expulso das almas das pessoas, pela graça de Deus, através da operação do Evangelho de Cristo. Ele caiu como um relâmpago do céu.
[2] Este é um bom argumento, com o qual o Espírito convence o mundo do juízo, isto é, em primeiro lugar, da santidade e santificação inerentes, Mateus 12.18. Pelo juízo do príncipe deste mundo, fica evidente que Cristo é mais forte que Satanás, e pode desarmá-lo e destituí-lo, e estabelecer seu trono sobre a ruína do dele. Em segundo lugar, de uma nova e melhor dispensação das coisas. Ele irá mostrar que a missão de Cristo no mundo foi a de estabelecer as coisas para endireitá-lo, e dar início aos tempos de transformação e regeneração. E Ele prova isto com o fato de que o príncipe deste mundo, o grande mestre do desgoverno, é julgado e expulso. Tudo estará bem quando for quebrado o poder daquele que fazia tantas maldades. Em terceiro lugar, do poder e do domínio do Senhor Jesus. Ele convencerá o mundo de que todo o juízo é dado ao Senhor Jesus, e que Ele é o Senhor de tudo e de todos. A evidência disto é que Ele julgou o príncipe deste mundo, feriu a cabeça da serpente, destruiu aquele que tinha o poder da morte, e despojou os principados. Se Satanás foi dominado desta maneira por Cristo, nós podemos ter a certeza de que nenhum outro poder pode se erguer diante dele. Em quarto lugar, do dia do juízo final: todos os inimigos obstinados do Evangelho e do reino de Cristo certamente receberão, por fim, seu tratamento, pois o Diabo, seu cabeça, será julgado.
III – Que a vinda do Espírito seria de um benefício indescritível para os próprios discípulos. O Espírito tem trabalho para realizar, não somente sobre os inimigos de Cristo, para convencê-los e humilhá-los, mas também sobre seus servos e agentes, para instruí-los e consolá-los. E por isto era conveniente para eles que Ele partisse.
1. O Senhor lhes indica a terna percepção que tinha da sua debilidade em sua condição humana (v.12): ”Ainda tenho muito que vos dizer” (não que tais palavras devessem ter sido ditas, mas que Ele poderia e desejaria tê-las dito), “mas vós não o podeis suportar agora”. Veja que professor maravilhoso é Cristo.
(1) Não há ninguém como Ele, em termos de abundância de informações. Quando já tinha dito muito, Ele ainda tinha muitas outras coisas para dizer. Os tesouros da sabedoria e do conhecimento ficam escondidos nele, se nós não os buscarmos.
(2) Não há ninguém como Ele, inclusive em termos de compaixão. Ele lhes teria dito mais sobre as coisas pertencentes ao reino de Deus, particularmente sobre a rejeição dos judeus e o chamado dos gentios, mas eles não podiam suportá-lo, isto os teria confundido e embaraçado, e não lhes traria qualquer satisfação. Quando, depois da sua ressurreição, eles lhe falaram sobre a restauração do reino de Israel, o Senhor lembrou-lhes da vinda do Espírito Santo, pelo qual eles receberiam poder para suportar estas revelações, que eram tão contrárias às noções que eles tinham recebido, e que não poderiam suportar agora.
2. Ele lhes assegura auxílios suficientes, através do derramamento do Espírito. Eles estavam agora conscientes da sua grande ignorância, e dos seus muitos enganos. E o que será deles, agora que seu Mestre os está deixando? “Mas quando Ele, o Espírito de Verdade, vier, vocês ficarão tranquilos, e tudo ficará bem”. Realmente bem. Pois Ele se encarregará de guiar os apóstolos e de glorificar a Cristo.
(1) Guiar os apóstolos. Ele irá cuidar:
[1] Para que eles não percam seu caminho: Ele vos guiará, como o acampamento de Israel foi guiado, pelo deserto, pela coluna de nuvem e fogo. O Espírito guiaria suas línguas ao falar, e suas penas, ao escrever, para evitar que cometessem enganos. O Espírito nos é dado para ser nosso guia (Romanos 8.14), não somente para nos mostrar o caminho, mas para seguir conosco, pelos seus auxílios e influências constantes.
[2] Para que eles não deixem de alcançar seu objetivo: Ele os guiará em toda a verdade, como o piloto hábil guia o navio ao porto ao qual se destina. Ser guiado na verdade é mais do que simplesmente conhecê-la. É estar intimamente e experimentalmente familiarizado com ela. É estar piedosamente e vigorosamente afetado por ela. Não somente ter sua noção em nossas mentes, mas também seu sentimento nos nossos corações. Isto indica um descobrimento gradual da verdade, que brilha cada vez mais: “Ele os guiará por aquelas verdades que são claras e fáceis, em direção àquelas que são mais difíceis”. Mas, como em toda a verdade? O significado é:
Em primeiro lugar, em toda a verdade relativa à sua missão. Eles seriam plenamente instruídos sobre qual quer coisa que fosse necessário, ou útil, que eles soubessem, para desempenharem devidamente seu trabalho. O Espírito lhes ensinaria as verdades que eles deveriam ensinar aos outros, lhes daria o entendimento de tais verdades, e os capacitaria para explicá-las e defendê-las.
Em segundo lugar, em nada, exceto a verdade. Tudo aquilo em que Ele os guiar será a verdade (1 João 2.27). A unção é verdadeira. Nas palavras seguintes, Ele prova estas duas coisas:
1. “O Espírito não lhes ensinará nada, exceto a verdade, pois Ele não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e que souber que é a vontade do Pai, e Ele só falará isto”. Isto sugere:
(1) Que o testemunho do Espírito, na palavra e pelos apóstolos, é aquilo em que podemos confiar. O Espírito conhece e sonda todas as coisas, até mesmo as profundezas de Deus, e os apóstolos receberam este Espírito (1 Coríntios 2.10,11), de modo que podemos aventurar nossas almas na palavra do Espírito.
(2) Que o testemunho do Espírito sempre está de acordo com a palavra de Cristo, pois Ele não fala de si mesmo, não tem interesses ou intenções próprias, mas, tanto na essência quanto nos antecedentes, Ele é um só com o Pai e o Filho, 1 João 5.7. A palavra e o espírito dos homens frequentemente estão em desacordo, mas com a Palavra Eterna e o Espírito Eterno, isto nunca acontece.
2. “Ele lhes ensinará toda a verdade, e não reterá nada que seja proveitoso a vocês, pois Ele lhes anunciará o que há de vir”. O Espírito era, nos apóstolos, um Espírito de profecia. Tinha sido predito que Ele o seria (Joel 2.28), e Ele realmente o era. O Espírito lhes mostraria as coisas futuras, conforme Atos 11.28; 20.23; 21.11. O Espírito falou da apostasia dos últimos tempos, 1 Timóteo 4.1. João, quando estava no Espírito, recebeu coisas que lhe foram mostradas em visões. Isto era uma grande satisfação para suas próprias mentes, e muito útil para eles na sua conduta, e também era uma grande confirmação da sua missão. Jansênio faz uma observação piedosa sobre isto: “Nós não devemos reclamar pelo fato de o Espírito não nos mostrar tantas coisas futuras neste mundo, como fez com os apóstolos. Deve ser suficiente para nós o fato de que o Espírito nos mostrou as coisas que virão no outro mundo, que são nosso principal interesse”.
(2) O Espírito se encarregou de glorificar a Cristo, vv. 14,15.
[1] Até mesmo o envio do Espírito era uma glorificação a Cristo. Deus, o Pai, o glorificou no céu, e o Espírito o glorificou na terra. Era a honra do Redentor o fato de que o Espírito fosse enviado em seu nome e também na sua missão, para dar prosseguimento à sua tarefa, e aperfeiçoá-la. Todos os dons e graças do Espírito, toda a pregação e todos os textos escritos pelos apóstolos, sob a influência do Espírito, as línguas e milagres, são maravilhas que glorificam a Cristo.
[2] O Espírito glorificou a Cristo conduzindo seus seguidores na verdade, como ela está em Jesus, Efésios 4.21. Ele lhes garante, em primeiro lugar, que o Espírito lhes transmitiria as coisas de Cristo: Ele “há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar”. Assim como, em essência, o Espírito procedia do Filho, Ele também derivava dele em influência e operação. Ele terá daquilo que é meu. Tudo o que o Espírito nos mostra, isto é, nos dá para nossa instrução e consolo, tudo o que Ele nos dá para nosso fortalecimento e vivificação, e tudo o que Ele nos garante e sela, tudo pertence a Cristo, e foi recebido dele. Tudo é dele, pois Ele o comprou, e pagou caro por isto, e, portanto, Ele tinha motivos para chamar de seu. Seu, pois Ele o recebeu primeiro. Foi dado a Ele, como o cabeça da igreja, para ser transmitido por Ele a todos os seus membros. O Espírito não veio para edificar um novo reino, mas para promover e estabelecer o mesmo reino que Cristo tinha edificado, para manter o mesmo interesse e procurar o mesmo desígnio. Portanto, aqueles que aspiram ao Espírito e difamam a Cristo, se contradizem e desmentem, pois Ele veio para glorificar a Cristo. Em segundo lugar, que assim as coisas de Deus deveriam nos ser transmitidas. Para que ninguém se esquecesse de que o recebimento de tão grande bênção lhe tornaria muito mais rico, o Senhor acrescenta: “Tudo quanto o Pai tem é meu”. Como Deus, Ele tem toda aquela luz auto- existente e toda aquela felicidade auto- suficiente que o Pai tem. Como Mediador, todas as coisas lhe são entregues pelo Pai (Mateus 11.27). Toda aquela graça e verdade que Deus, o Pai, desejava nos mostrar, Ele colocou nas mãos do Senhor Jesus, Colossenses 1.19. As bênçãos espirituais nas coisas celestiais são dadas pelo Pai ao Filho, para nós, e o Filho encarrega o Espírito de transmiti-las a nós. Alguns relacionam isto ao que foi dito há pouco: Ele “vos anunciará o que há de vir”, e assim está explicado por Apocalipse 1.1. Deus, o Pai, deu tudo a Cristo, e Ele o anunciou a João, que, por sua vez, escreveu o que o Espírito disse, Apocalipse 1.1.
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