PSICOLOGIA ANALÍTICA

VIVENDO NO LIMITE

A busca por esportes ou situações de risco parece não ter explicação racional, mas o prazer pelo perigo está inscrito em nosso patrimônio genético: supostamente, nossos ancestrais mais ousados deixaram mais descendentes que acanhados e medrosos.

Vivendo no limite

Eles batem as portas com violência. Os motores rugem. A partir de agora, uma única coisa conta: acelerar. O despenhadeiro se aproxima a uma velocidade alucinante. Quem saltar primeiro do carro perde. No último instante, Jim abre a porta e se joga sobre o asfalto. Buzz não tem a mesma sorte. Juventude transviada, protagonizado por James Dean, retrata os Estados Unidos dos anos 50, o de uma geração rebelde que sai em busca de sua identidade. Jovens levando as provas de coragem às últimas consequências, sem hesitar arriscar a vida.

O fascínio pelo perigo atravessa os tempos e estende-se a todas as faixas etárias e classes sociais: ultrapassagens ousadas fazem parte do cotidiano de nossas estradas, atletas brincam com a vida em esportes radicais, alpinistas escalam montanhas e beiram o abismo.

 Poucas pessoas resistem à tentação do perigo. No final dos anos 90, com o boom das bolsas de valores, mesmo pais de família conservadores, que até então aplicavam suas economias em sólidas cadernetas de poupança, passaram a arriscar investimentos no mercado especulativo de ações de empresas de internet ou de alta tecnologia. Esses mesmos senhores são capazes de atravessar os Estados Unidos durante as férias para alcançar os paraísos do jogo em Las Vegas ou Reno. Aparentemente, esse hábito é comum a todas as culturas. Até mesmo na África e na América do Sul, integrantes das mais variadas etnias colocam todos os seus bens em jogo com cartas e dados.

Mas por que encontramos tanto prazer em situações perigosas – mesmo quando nos custam tão caro e, na pior das hipóteses, terminam em morte? Terry Burham, da Harvard Business School em Boston, e Jay Phelan, da Universidade da Califórnia em Los Angeles, estão convencidos de que a resposta pode ser encontrada na história evolutiva humana. Em um exercício mental, os dois regrediram aos primórdios da humanidade e ali imaginaram dois tipos de comportamento: o nidícola e o conquistador.

Os seres humanos de comportamento nidícola (daquele que nasce indefeso e tem de ficar no ninho por um longo período) aconchegavam-se na caverna, alimentavam-se de ervas e pequenos animais das proximidades, agindo com imensa cautela. Já os conquistadores andavam em bando e se arriscavam a desbravar novas regiões. A pergunta é: qual dos dois grupos foi capaz de se impor a longo prazo?

Segundo Burnham e Phelan, muitos dos conquistadores encontravam a morte prematura em seus perigosos empreendimentos, porém descobriam vegetais mais saborosos e campos de caça inexplorados. Além disso, angariavam valiosa experiência, tornando-se mais aptos a se defender contra os imprevistos da natureza. Ou seja: seus genes prevaleceram e acabaram por se alastrar pelo planeta. Nosso gosto pelo perigo seria, então, herança biológica. Também na esfera individual o comportamento de risco pode trazer benefícios. Os machos mais ousados em geral são preferidos por potenciais parceiras. Os mais atrevidos proveem a família com mais alimento e oferecem proteção mais confiável, porque em situações de conflito são mais agressivos. Esse fato verifica-se em culturas que desde tempos imemoriais quase não sofreram modificações em seu modo de vida. O antropólogo cultural Napoleon A. Chagnon, da Universidade da Califórnia em Santa Barbara, estudou, nos anos 60 e 70, os índios ianomâmi da fronteira do Brasil com a Venezuela. Descobriu ali que uma parte dos homens vivia com bem mais mulheres: os guerreiros mais audazes e agressivos. Supostamente, eles põem no mundo um maior número de descendentes que seus conterrâneos acanhados e medrosos. Chagnon concluiu que desse modo os genes daqueles que se arriscam com ousadia se impõem a longo prazo.

A inclinação ao comportamento afoito reflete-se no cérebro com o aumento da produção de dopamina, neurotransmissor que contribui para alterações da consciência e da percepção. Assim, em situações de risco, tornamo-nos capazes de executar tarefas com eficiência acima da média e somos compelidos a procurar novos desafios.

Evidentemente, a propensão pelo perigo manifesta-se de maneira muito diferenciada em cada indivíduo. Enquanto para alguns, poucas rodadas de pôquer com aposta mínima acabam com os nervos, outros adoram elevar seus níveis sanguíneos de dopamina às alturas saltando de paraquedas.

Os psicólogos comportamentais denominam “caça de sensações” esta necessidade por impressões sensoriais intensas e variadas. Através dela, os estados de enfado com carga negativa dão lugar a estados de alerta e tensão que são avaliados positivamente. As pessoas com essa tendência enveredam com mais facilidade por situações de risco sociais, financeiros e de saúde.

Os pesquisadores relacionam tal afinidade com o perigo com dois diferenciais genéticos. O psicólogo Marvin Zuckerman, da Universidade de Delaware em Newark, reconheceu a relação existente entre o comportamento de risco e a monoamina-oxidas e, enzima corresponsável pela quebra da dopamina. Quanto menos monoamina-oxidas e uma pessoa produz, tanto mais ela se aventura e sai em busca de situações arrojadas: seus níveis de dopamina encontram-se sempre elevados. Inversamente, pessoas com altos níveis de monoamina-oxidas e sentem-se muito menos impelidas ao comportamento de risco.

Na década de 90, um grupo de trabalho americano e outro israelense descobriram que um gene denominado novelty-seeking, o “gene da busca pela novidade”, codificador de certo receptor para a dopamina, parece ser responsável pela atenuação da noção de perigo. As pessoas que possuem tal receptor para a dopamina vão às últimas consequências em busca da emoção. Situações que para muitos são excitantes desencadeiam nelas somente tédio.

Em alguns grupos humanos esse gene aparece com maior frequência. Enquanto apenas um em cada quatro africanos ou europeus carrega consigo a propensão à ousadia, ela é colocada no berço de dois terços dos sul­ americanos. A explicação reside no fato de que seus ancestrais eram integrantes dos grupos humanos que por milênios migraram pela África e Europa em direção à América do Sul. Como vencedores da corrida pela ocupação do continente, transferiram seus genes e com eles a disposição ao comportamento aventureiro.

O espírito de aventura levou o ser humano a grandes realizações. Todavia, o coquetel biológico também esconde perigos, entre eles uma boa dose de super confiança. Levantamentos psicológicos mostram que grande parte das pessoas se considera mais sadia que a média ou acredita ter um senso infalível para investimentos financeiros. Aparentemente, nosso sistema de recompensa baseado na dopamina nos leva a encarar riscos dos quais fugiríamos não fosse a ação de uma droga endógena. O nome dado a isso pelos psicólogos é “sofisma otimista”. Surge quando o perigo não é ignorado, mas o risco de sua incidência mal avaliado.

Assim, um fumante inveterado tende a avaliar o risco de ter câncer como igual ao do fumante moderado do mesmo sexo e idade – erro típico de avaliação otimista, pois evidentemente quem fuma demais corre maior risco de adquirir um tumor e adoecer.

O mecanismo reprime a sensação de medo: acreditamos estar a salvo e subestimamos a própria suscetibilidade. Ao mesmo tempo, a disponibilidade para a prevenção é muito baixa. Matthew Kreuter, da Escola de Saúde Pública em Saint Louis, e Victor Strecher, da Universidade de Michigan, em Ann Arbor, verificaram que, apesar do perigo, as pessoas muitas vezes insistem em comportamentos insalubres e arriscados. Segundo seus estudos, 50% de todos os infartados avaliam seu risco de saúde de modo excessivamente positivo, apesar de o infarto ter lhes ensinado o contrário.

De maneira geral, as pessoas julgam mal os riscos – somos, por assim dizer, cegos às probabilidades. Um exemplo: quando a roleta cai cinco vezes consecutivas no vermelho, a maior parte das pessoas crê, equivocadamente, que no próximo lance as chances do preto serão maiores. Os frequentadores dos cassinos incorrem constantemente nesse erro.

Do mesmo modo, temos mais medo de sofrer um desastre aéreo que um acidente automobilístico, embora muito mais pessoas morram vítimas de acidentes de trânsito. Tememos ameaças de morte espetaculares tais como assassinatos, incidência de raios ou picadas de cobras venenosas. Donos de bingos, vendedores de loteria ou representantes de seguradoras não têm pudor em aproveitar­ se dessa nossa superavaliação de chances pequenas, vendendo-nos rifas ou seguros contra eventos de probabilidade reduzida. Mas por que razão a mente humana, de resto capaz de compreender teorias matemáticas complexas, acaba incorrendo repetidamente nesse erro primário?

Também aqui a resposta reside na história evolutiva humana. Na época em que nosso cérebro se desenvolvia, as picadas de cobra e os ataques mortais de opositores e predadores representavam ameaças reais à integridade física e à vida do ser humano. Ainda hoje as tribos com modo de vida dito primitivo sofrem destes males, como os índios aché do leste paraguaio, por exemplo. Os antropólogos Kim Hill e Madalena Hurtado, da Universidade do Estado do Arizona, verificaram que 14% das mortes dos homens aché ocorriam por causa do ataque de cobras peçonhentas, 8% em virtude do ataque de animais selvagens e 6% por conflitos com opositores.

Nossos medos são então perfeitamente compreensíveis – porém, estão datados, não se alinham com nosso tempo. No entanto, o cérebro não é capaz de se acostumar ao cálculo “moderno” e abstrato de probabilidades. As cifras astronômicas com as quais temos de operar hoje em dia eram inteiramente desconhecidas de nossos ancestrais. Naquele tempo, a terra era habitada por pouquíssimas pessoas. Foi necessário que transcorressem milhares de gerações para que se desenvolvesse a capacidade de lidar com números e proporções simples. Porém, não se desenvolveu a capacidade de operar com problemas complicados que demandam abstração e capacidade de raciocínio lógico.

Relutamos, pois, em lidar com cálculos estatísticos complexos necessários à análise de risco. Em vez disso, nos aferramos a regras simples que se demonstraram válidas no passado. “Quanto mais impressionante um acontecimento, tanto mais cedo ele ocorre”, prega uma destas heurísticas descobertas pelos psicólogos Daniel Kahneman e Amos Tversky durante pesquisa sobre as falsas conclusões estatísticas. De fato, tal afirmação pode encontrar confirmação na prática – mas isso não ocorre nem de longe continuamente.

EVITANDO AS SEREIAS

Do mesmo modo, os matemáticos calcularam que, a longo prazo, um jogador sempre perde nos jogos de azar e nas loterias. Estatisticamente, a cada investimento de 100 a roleta devolve apenas 95. Trocando em miúdos: o ingresso ao cassino custa 5% do que é gasto lá dentro. Os especialistas chamam a participação em tais jogos como “taxa de estupidez”. Nas situações de risco, a nossa falta de senso para as probabilidades entra em um acordo perigoso com o frenesi provocado pela dopamina. Para sairmos ilesos das situações mais arriscadas, não deveríamos deixar a decisão por conta de nosso cérebro desenvolvido na idade da pedra. Deveríamos antes medir o perigo sem interferência da emoção, o que é mais fácil na teoria que na prática. Na maioria das pessoas, a razão é simplesmente desativada. Elas têm de se precaver para evitar o encanto pelo perigo.

Uma das estratégias mais eficientes é o que os psicólogos chamam de “auto amarras”. Os afetados limitam a si mesmos em seu campo de ação a fim de se proteger contra o comportamento leviano. Dependentes de jogo, por exemplo, se previnem levando somente uma pequena quantia de dinheiro ao cassino. Já Ulisses escapou da morte certa se deixando atar ao mastro do navio para não ceder ao canto sedutor das sereias, ordenando também à tripulação de heróis que tapasse os ouvidos com cera.

Mas não precisamos abdicar de todo do prazer fornecido pelo transe da dopamina, já que ele pode ser criado artificialmente, sem que precisemos arriscar a vida. A sociedade moderna oferece inúmeras e múltiplas ameaças falsas. Uma montanha-russa é capaz de nos colocar à beira de um ataque de nervos – e leva o sistema de recompensa da dopamina a níveis estratosféricos. O mesmo acontece quando assistimos a filmes de horror ou jogamos videogame ou jogos que simulam a bolsa. Nosso cérebro não sabe distinguir se o estímulo é falso ou real – e não colocamos em risco nem a saúde nem o dinheiro.

Vivendo no limite.2

A TRILHA SONORA DA AVENTURA

A “caça de emoções” está relacionada também às preferências musicais. O psicólogo Marvin Zuckerman, pesquisador da Universidade de Delaware, Estados Unidos descobriu há alguns anos que pessoas ávidas por sensações preferem, em geral, ouvir rock e composições clássicas.

Os estilos que mais rejeitam são trilhas sonoras de filmes e cânticos religiosos, por serem considerados monótonos. Logo, aquele que consegue relaxar melhor com as batidas de Marilyn Manson ou com free jazz revela ter, além do gosto peculiar, uma considerável sede de estímulos.

Dessa forma, a play list com as músicas preferidas de uma pessoa pode dizer muito a seu respeito, mesmo para um desconhecido. Em um estudo feito em conjunto, o psicólogo americano Sam Gosling, da Universidade do Texas, e seu colega inglês Peter Rentfrow, da Universidade de Cambridge, constataram que essa primeira impressão intuitiva frequentemente está correta. Os participantes de sua pesquisa ouviram as dez músicas preferidas de pessoas que não conheciam e tiraram, a partir dai, conclusões sobre elas. Os julgamentos relativos à forma de encarar experiências e novidades foram os mais acertados. A extroversão foi corretamente identificada também pelos ouvintes que participaram do teste.

Psicólogos também constaram que pessoas com sede de aventura tendem a apreciar arte abstrata, pop arte surrealismo e a rejeitar pinturas representativas. Essa preferência seria explicada pela excitação mental que esse tipo de arte costuma causar mesmo em uma segunda observação.

OUTROS OLHARES

O LADO ESCURO DA LEI

As mães que perderam a guarda dos filhos após acusarem os pais de abuso sexual.

O lado escuro da lei

A primeira lembrança que Mayara* tem daquele sábado, 20 de agosto de 2016 – o último dia em que viu o filho -, é de um estrondo. Um golpe potente que escancarou a porta do sobrado onde ela e a família moravam, em um condomínio em São Paulo. A segunda é a de policiais aglomerados em sua sala de estar, com os quais deparou logo que correu escada abaixo. A terceira é aquela que, passados dois anos, mais lhe dói. É a memória de uma frase: “A senhora é a Mayara? Viemos buscar o menor João Paulo”. Foi o momento em que ela desabou.

Mayara é uma psicóloga de 48 anos, cabelos lisos e voz firme. Por mais de três décadas, ocupou cargos altos na diretoria de grandes empresas. Nas redes sociais, depoimentos de antigos colegas descrevem-na como uma gestora habilidosa e decidida. Ao longo dos 12 dias que antecederam aquele sábado fatídico, no entanto, Mayara conta que vacilou repetidas vezes. Seu primeiro vacilo, embora breve, ela disse que aconteceu quando o filho João Paulo, poucos dias depois de passar duas semanas de férias na casa do pai – de quem Mayara se separara em 2014 -, lhe fez um apelo: “Ele se sentou, sério, no balcão da minha cozinha”, lembrou Mayara. “E disse: ‘Mamãe, me ajuda’.” Segundo ele, então com 5 anos, o pai o machucava constantemente. Às vezes sozinho, às vezes na companhia de um amigo, introduzia o dedo no ânus de João Paulo. “Eu pensei: ‘Meu Deus, o que eu faço com essa criança?”, disse Mayara, sem conseguir conter o choro.

Aquela não era a primeira história de abuso que Mayara ouvia, embora fosse a mais grave. Desde que tinha pouco mais de 2 anos, a criança relatava, a sua maneira, as estranhas brincadeiras em que o pai a envolvia. “A gente brinca de p… com p… Não é legal isso?”, João lhe perguntou certa vez, durante uma ida ao supermercado. O relato foi gravado por ela. No áudio, ouve-se um João Paulo que, na época, mal sabia falar: “Eu já fiz isso com meu pai e vou fazer de novo, ué”, dizia, entremeando as palavras com interjeições infantis. A suspeita de abuso foi notificada por Mayara à Justiça e levou ao divórcio do casal.

Naquele agosto de 2016, após a conversa no balcão da cozinha, Mayara saiu com o filho a tiracolo e correu a uma unidade do Conselho Tutelar do bairro em que viviam, pronta a relatar o ocorrido. De lá, os dois foram encaminhados a uma delegacia. João Paulo foi ouvido sozinho. No relato descrito no inquérito, contou como o pai o penetrava com o dedo repetidas vezes ao dia, com o auxílio de uma pomada retirada de uma bisnaga branca e azul: “Meu pai fica enfiando o dedo com força no meu bumbum. Já pedi, chorando, para ele parar. Mas ele não para”. João Paulo ainda disse que presenciava jogos sexuais entre o pai e outro homem: “Ele mostrou o pipi para o meu pai. Eu peguei uma faixa ninja e coloquei no meu olho, que eu não queria ver nada”, relatava o menino. “A delegada não teve dúvidas: me orientou a interromper as visitas do pai de imediato”, disse Mayara. “Seu filho é uma criança abusada, mãe. Ele, agora, é um problema do Estado”, teria dito a policial, segundo Mayara.

Mayara voltou para casa com a certeza de que a situação se resolveria. Foi uma convicção efêmera. No 12º dia de paz, um oficial de justiça e dois policiais irromperam em sua sala de estar. Sem conseguir contato com o filho, o pai fora à Vara de Família. Alegou que Mayara inventara o abuso para afastá-lo da criança – a mesma estratégia que, segundo ele, ela teria tentado durante a disputa de 2014. Mayara praticava “alienação parental”. Mayara perdeu a guarda da criança – e, considerada uma ameaça à saúde do filho, foi impedida de ter contato com ele.

A decisão da Justiça se ampara na lei da alienação parental, de 2010, criada para, em teoria, impedir que durante um processo de divórcio um dos pais afaste os filhos do convívio do outro. Segundo seus defensores, a legislação pode auxiliar juízes a resolver disputas familiares; segundo mães, advogados e juristas, é mal utilizada e se tornou parte da estratégia de defesa de homens suspeitos de abuso. A aplicação da lei é investigada em uma CPI, e um grupo com mais de 100 mães – Mayara entre elas – organiza-se para cobrar sua revogação.

A lei de alienação parental é uma jabuticaba jurídica. Apesar de o conceito aparecer em decisões tomadas em diversos países, somente no Brasil há um texto específico sobre o tema. A teoria que lhe serve de base é questionada por psicólogos e juristas há mais de 30 anos. O conceito de alienação parental foi criado pelo psicólogo forense americano Richard Gardner e apresentado em um artigo publicado em 1985 numa das revistas da Academia Americana de Psicanálise. Gardner, que se suicidou em 2003, trabalhava como perito em tribunais. Apesar de admitir que o fenômeno pode ser levado a cabo por qualquer um dos pais, Gardner lista uma sequência de artimanhas potencialmente utilizadas por mães “abandonadas”: “A mãe pode se queixar de maneira tão amarga de suas restrições financeiras a ponto de levar o filho a crer que vai morrer de fome”, escreveu.

O ponto mais polêmico diz respeito à existência de uma Síndrome de Alienação Parental (SAP), um conjunto de sintomas manifestados pela criança que vivenciou o processo de “vilanização” do pai. Nos casos mais graves, dizia o psicólogo, a criança pode mesmo relatar casos de abuso sexual que nunca ocorreram. As ideias de Gardner não têm boa aceitação por seus pares. Uma tentativa de seus adeptos de incorporar a SAP ao Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM, na sigla em inglês) – a bíblia da psiquiatria mundial, que lista os transtornos reconhecidos pela comunidade científica – terminou em frustração. Em 2015, um grupo de pesquisadores da Universidade de Roma concluiu que a síndrome não existe.

Apesar da controvérsia, a lei brasileira foi comemorada por especialistas em Direito de Família. “Ela veio responder a uma situação que já acontecia nos tribunais, embora não tivesse nome próprio”, disse a ex­ desembargadora Maria Berenice Dias. Aos 70 anos, Dias tomou decisões que contribuíram para ampliar o entendimento do Judiciário acerca do conceito de “família”. Foi ela quem cunhou o termo “homoafetividade”, ao defender a existência de famílias formadas por casais do mesmo sexo. “Fui a primeira pessoa do Brasil a julgar um caso segundo o conceito da alienação parental”, disse ela, que se aposentou em 2008, antes de a lei entrar em vigor. Hoje, ela tem um escritório de advocacia em Porto Alegre.

A lei lista um conjunto de situações em que ocorre a alienação parental. Comete a falta o genitor que tenta dificultar o contato do ex-parceiro com a criança; que fala mal do ex-parceiro diante do filho ou que – no limite – denuncia o ex-parceiro por um crime que não cometeu. As sanções vão de simples advertência até a reversão da guarda. “Como quando a mãe faz uma falsa acusação de abuso sexual – algo que não é assim tão incomum”, afirmou Dias. Acostumada a acompanhar divórcios conflituosos, ela contou que algumas mães – e também alguns pais, embora mais raramente – acusam o antigo parceiro como forma de pressionar por acordos vantajosos. “Às   vezes, a mãe interpreta mal algo que o filho disse”, afirmou Dias. “E, aí, seu primeiro impulso é fazer de tudo para protegê-lo”.

De autoria do ex-deputado federal Régis de Oliveira, a lei foi empurrada pela pressão diligente de Analdino Paulino Neto, um senhor de 65 anos, calva acentuada, olhos muito azuis e certo apreço por palavras de baixo calão. Em finais dos anos 90, Paulino Neto e um amigo criaram a Associação de Pais Separados (Apase). A organização dá orientação jurídica a pais que temem perder a guarda dos filhos em processos de divórcio turbulentos. “Viajo o Brasil inteiro prestando consultoria”, disse Paulino durante uma conversa em um café em São Paulo, enquanto mastigava uma quiche de queijo acompanhada por água de coco.

Seu interesse pela questão surgiu por causa de reveses pessoais. “Minha mulher, quando ficou grávida, passou a se sentir muito poderosa”, disse, agitando-se na poltrona. No divórcio, após o nascimento da filha, Paulino contou que foi agredido pela ex-mulher e afastado do convívio com a menina. “A mulher, quando tem um filho, parece que trepou com ela mesma”, teorizou, erguendo a voz e atraindo a atenção das pessoas nas mesas próximas. “Ela se esquece de que precisou de sêmen para engravidar.”

A Apase decidiu que deveria pressionar por mudanças na legislação porque as leis brasileiras, em sua visão, demoravam a acompanhar mudanças na sociedade. “A maioria dos pais, hoje, quer participar da vida dos filhos”, disse. “O problema é que o Judiciário não entendia isso, e as mães se viam capazes de enredar os filhos, para separá-los dos pais. São ‘mães medeias’. “Nas palavras dele, o Brasil vive “uma guerrilha urbana entre casais separados”. Nessa guerra, as mulheres se valem de duas armas importantes: a Lei Maria da Penha (“Um número muito grande de denúncias de agressão é falso”, disse) e as falsas denúncias de abuso sexual contra menores. “O que essas mães querem é privar os homens do direito de ser pais”, disse. Nesse instante, uma senhora veio à mesa acompanhada pelo filho. “Quanta sabedoria, hein, meu senhor? Meu ex-marido desapareceu e me deixou sozinha com um filho para criar.” Paulino mordeu a quiche, sem se abalar. Mayara peregrina pelo Judiciário há quatro anos, tentando provar que seu filho falava a verdade sobre os abusos do pai. Sempre ouve: “Você sabe que é muito difícil provar abuso, mãe. Vamos esquecer essa história”.

Logo que soube que pai e filho brincavam de “p… com p…”, Mayara decidiu que “precisava agir para confirmar ou refutar a história” contada pela criança. “Quando meu filho me contou aquela história (sobre a brincadeira de “p… com p…” do pai durante o banho), fiquei incrédula”, disse Mayara. Até ali, seu casamento fora marcado por alguns conflitos. Segundo ela, Antônio”, um administrador de empresas também na casa dos 40 anos, descontrolava-se sempre que bebia; nessas ocasiões, rasgava as próprias roupas e arranhava o rosto em surtos que, por um período, chegaram a ser diários. Mas sempre fora um pai cuidadoso: “Ter um filho era seu maior desejo”, contou Mayara. “Quando João Paulo nasceu, ele ficou exultante.”

A história da tal brincadeira deixou Mayara tão preocupada quanto surpresa. “Numa tarde, cheguei (em casa) no horário do banho, sem avisar.” Pai e filho tomavam banho. Ambos, segundo ela conta, tinham pênis eretos: “O que está acontecendo aqui?”, lembrou-se de ter gritado. A resposta veio na forma de socos e pontapés. Mayara entrou na Justiça com um pedido de Medida Cautelar, expulsou o marido de casa e tentou restringir seu acesso ao filho. Relatou no tribunal a cena presenciada. A juíza decidiu que Antônio deveria ser afastado da criança enquanto a história era apurada. “Mas me advertiu de que, se não fosse verdade, eu poderia sofrer sanções.” Na ocasião, lembrou Mayara, a advogada do pai disparou que “virou moda mãe acusar pai de abuso”.

Para apurar se a história de abuso tinha componentes de verdade, o ex-casal e o filho deviam passar pela avaliação de uma psicóloga forense. A pedido da defesa do pai, a tarefa ficou a cargo de uma perita privada, escolhida por eles. Nas palavras de Mayara, a passagem pela perita apontada pela defesa do ex-marido foi “um desastre”. O laudo disse que a relação de João Paulo com o pai era harmoniosa; e que a insistência da mãe no episódio do abuso refletia uma “personalidade persecutória”. Citando um texto de Richard Gardner, a perita concluiu que o comportamento “paranoico” de Mayara era comum em casos do gênero e que João Paulo não dava sinais de ter sido molestado. Segundo a avaliação, Mayara sofria de transtorno de personalidade esquizotípica, que a tornava propensa à paranoia. Mesmo assim,

quando questionada pela juíza que cuidava do caso, a psiquiatra confirmou que Mayara não representava risco para a criança.

Dois anos depois, quando ela notificou ao Conselho Tutelar o crime de Antônio, a criança passou por uma bateria de exames. No Instituto Médico-Legal do hospital Pérola Byington, um médico-legista examinou suas lesões, para tentar determinar se eram resultado de violência sexual. “A médica me alertou de que eram grandes as chances de o laudo dar negativo”, recordou Mayara. Foi o que aconteceu. O documento apontava a presença de lesões, que poderiam ou não ter sido causadas pelo pai. Não havia vestígios conclusivos de violência nem de sêmen. Sem provas contundentes, e com dois laudos apontando possíveis desequilíbrios psiquiátricos, a Justiça decidiu que Mayara oferecia riscos ao filho. A guarda foi entregue ao pai. O abuso, Mayara já se convencera, era difícil de provar.

Apesar de incômoda, a afirmação é verdadeira. “Na maioria das vezes, o máximo que conseguimos fazer é avaliar a probabilidade de a violência ter acontecido ou não”, disse o juiz Humberto Maion, do Tribunal de Justiça (TJ) de São Paulo, numa manhã de fins de julho. Maion despacha de uma sala comprida, com assoalho de madeira escura, no quarto andar do Fórum João Mendes Júnior – um imenso labirinto de corredores com vista para a Catedral da Sé. Sempre que lhe cai em mãos um caso de abuso sexual intrafamiliar – ocorrido no interior de uma família -, sua conduta se repete: rapidamente, a criança é afastada do suposto agressor.

A seguir, num processo sem prazo definido para ser concluído, tenta-se apurar a veracidade da acusação. “É raro, mas já vi casos em que a acusação era mentira”, disse Maion.

A apuração lida com uma série de complicadores. Raramente há testemunhas do abuso e nem sempre a violência deixa marcas físicas distintivas. Nos casos em que é feito exame de corpo de delito, é comum que o laudo produzido não chegue a conclusões claras, pois 72 horas após o abuso as chances de o perito encontrar material genético do agressor no corpo da criança são quase nulas. “O que o laudo médico faz é apontar as muitas possíveis causas das lesões”, disse Ivan Miziara, superintendente da Polícia Técnico-Científica de São Paulo. “Quando o laudo é inconclusivo, nós também ficamos angustiados. E isso acontece com mais frequência do que gostaríamos.” O juiz da Vara de Família, a quem cabe decidir nos casos de suspeita de abuso, pode levar em conta perícias psicológicas e psiquiátricas. Mas, na maioria dos casos, elas tampouco trazem respostas incontestáveis. “Nosso trabalho consiste em montar um complexo quebra-cabeça”, disse Cátula Pelisoli, psicóloga do TJ do Rio Grande do Sul.

“Olha só, elas não param de me mandar coisas.” A paulistana Lúcia estava sentada à mesa da cozinha de casa com os olhos grudados no celular. Há dois anos, ela criou um grupo no aplicativo WhatsApp que reúne mulheres com histórias semelhantes à sua. Em 2014, depois de denunciar o ex-marido por abusar do filho, ela perdeu a guarda da criança. Lúcia se casou com um homem quase 20 anos mais velho. “Gentil e encantador”, segundo ela. O filho do casal tinha cerca de 1 ano quando ela soube que era traída. Seguiu-se um divórcio amigável e um acordo informal segundo o qual o filho dividiria o tempo igualmente entre as casas dos pais. Lúcia disse que tudo corria bem, até o dia em que o garoto voltou para a casa da mãe chorando e vomitando. A situação se repetiu algumas vezes. Na última delas, Lúcia foi dar banho na criança e percebeu lesões na região anal. “O papai mexe no seu bumbum?”, perguntou. “Sim. E dói muito.”

Em desespero, procurou ajuda no hospital Pérola Byington, referência em casos de violência sexual. Foi avisada de que, antes de tudo, ela deveria fazer um boletim de ocorrência. Recuou. “Anos antes, meu ex-marido me contara que tinha sofrido abuso na infância”, disse ela. “Eu o via como uma vítima também. Não queria resolver a questão na esfera criminal.” Não registrou a ocorrência; preferiu confrontar o ex-cônjuge. Ele recorreu à Justiça, alegou ser vítima de alienação parental. Quando Lúcia registrou o boletim, seu filho passou por exame de corpo de delito, mas, àquela altura, não restavam mais sinais da violência. Ao fim do processo na Vara de Família, Lúcia foi considerada alienadora. O menino foi morar com o pai. Diante do fato, decidiu pesquisar casos semelhantes. Conheceu Mayara, e juntas reuniram outras mães em situação semelhante num grupo de WhatsApp que, hoje, gerencia. Descrentes do Judiciário, decidiram se amparar umas nas outras.

Naquela tarde de julho, Lúcia ainda sentia os abalos de uma história que acompanhara semanas antes. Uma das mães do grupo, temendo perder o filho, matara a criança com um tiro na cabeça e se suicidara. Em fevereiro de 2017, Dolores Mileide de Souza assistia a uma propaganda de cerveja na TV quando o filho, então com 3 anos, interrompeu-a: “O papai gosta, não é, mamãe?”, contou a psicóloga Izamara Holak, que acompanhou o caso do menino. Dolores confirmou.

Ela e o marido haviam se separado meses antes, e ele gostava mesmo de beber. “O papai joga aqui e põe a boca”, disse a criança, apontando para o próprio corpo, de acordo com o relato de Holak.

Dolores era investigadora de polícia em Apucarana, interior do Paraná. Morava no município vizinho, Cambé, em uma casa simples, com o filho e a mãe. A história da criança a transtornou. Ela relatou o episódio a colegas, que recomendaram que ela procurasse Holak – psicóloga voluntária na delegacia. “Depois de algumas consultas com o menino, eu estava convencida de que ele sofrera abuso”, disse Holak. O pai negou o crime e alegou que sofria alienação parental. Para apurar se o abuso ocorrera ou não, o juiz do caso pediu que a interação da criança com os pais fosse avaliada por psicólogos. “Estávamos na fase de produção de provas periciais”, contou Sandro Bernardo da Silva, advogado de Dolores. “Mas tudo indicava que ela manteria a guarda da criança.”

Dolores não estava segura. “Ela achava que o menino voltaria a conviver com o pai, voltaria a sofrer abusos”, lembrou Holak. Num áudio enviado a amigos, Dolores contou se sentir sozinha e desesperada. “É um pesadelo”, diz na gravação, enviada por WhatsApp. “E, quando eu vejo o relato de tantas mães… Não sei se vou suportar.” No começo de julho, Dolores enviou uma mensagem para Lúcia. Disse que deixaria o grupo de mães no WhatsApp. Na noite do dia 4, telefonou para a psicóloga Holak. Contou que temia os resultados das visitas monitoradas. Naquela mesma noite, escreveu uma carta de despedida: “Meu filho é um anjo (…) Não vai ser estuprado”. Atirou na criança e em si mesma.

Hoje, as mães coordenadas por Mayara e Lúcia pedem a revogação da lei da alienação parental; ou, ao menos, sua reformulação, de modo a proteger quem porventura denuncie abusos sexuais. Em maio deste ano, o grupo foi a Brasília participar de uma sessão da CPI dos Maus-Tratos. Presidida pelo senador Magno Malta (PR-ES) e criada para apurar situações que ponham em risco menores de idade, a CPI já foi palco de episódios controversos. Em novembro passado, Malta foi criticado por expor um homem preso por pedofilia ao escrutínio dos parlamentares. Pouco antes, propusera a condução coercitiva de Gaudêncio Fidélis, curador da exposição Queermuseu, para prestar depoimento. “É um homem polêmico, mas foi quem nos deu ouvidos”, disse Mayara. À agência de notícias do Senado, Malta disse estar convencido de que a lei da alienação parental é usada em defesa de abusadores. “Temos hoje um turbilhão de mães vivendo seu desespero. Infelizmente, gente do mal tem em todo lugar, inclusive no Judiciário”, disse o senador.

Mesmo com relatos como os de Mayara, Lúcia e Dolores, é difícil avaliar a boa ou má execução da lei, pois faltam números oficiais sobre o assunto. É impossível dizer com que frequência a alegação de alienação parental é usada nos processos em que existe urna suspeita de abuso sexual. “O Brasil é o país do achismo jurídico”, disseram, por e-mail, o juiz Romano Enzweliler e a advogada Cláudia Galiberme. Em 2014, eles publicaram o artigo “Alienação parental, uma iníqua falácia”, no qual questionam o embasamento teórico da lei e reúnem casos em que o texto foi usado em decisões controversas. Na falta de dados representativos, os dois recorreram a decisões disponíveis no site do STJ. Encontraram ao menos 11 casos – de 28 – em que acusados de abuso alegam ser vítimas de “falsas memórias” implantadas por mães mal-intencionadas. “Em alguns casos, a lei é usada como escudo para acobertar pedófilos”, disseram os juristas.

Segundo eles, o mais grave é que, apesar das muitas dúvidas quanto a seus possíveis malefícios, a lei tenha sido rapidamente adotada pelos tribunais. “No país dos modismos jurídicos, a alienação parental virou uma febre”, escreveram. De fato, dados do TJ de São Paulo dão conta de que a popularidade do conceito cresceu de maneira surpreendente. Se em 2013 o tribunal julgou 150 casos de alienação parental, em 2017 foram mais de 3 mil. No Reino Unido, uma recente tendência do Judiciário a tratar conflitos no divórcio como casos de alienação parental foi combatida por acadêmicos. “O diagnóstico errôneo da alienação parental pode culminar na separação da criança de uma mãe que somente tenta protegê-la”, escreveu a professora Jane Fortin, da Universidade de Sussex, no jornal The Guardian.

Em mais de uma ocasião, tentou-se conversar com os pais citados. Manteve-se conversas por WhatsApp com Antônio, ex-marido de Mayara. Ele concordou em dar uma entrevista pessoalmente. Mas, dizendo-se atribulado com compromissos de trabalho, desmarcou a conversa três vezes. Após duas semanas, um assessor de imprensa entrou em contato em seu nome e acusando de estar “intimidando” seu cliente. “Vocês foram influenciados pela ex­ mulher do meu cliente, uma mulher condenada pela Justiça”, afirmou, por telefone, aos gritos, o assessor. O marido de Lúcia não respondeu às tentativas de contato.

Enquanto cobra a revogação da lei, Mayara luta para voltar a ver seu filho. Nos últimos dois anos, procurou provar à Justiça que é sã: submeteu-se à análise de psiquiatras, na tentativa de colocar por terra o diagnóstico de transtorno de personalidade esquizotípica que recebeu. Um laudo, produzido pelo professor Jorge Adelino Rodrigues da Silva, professor do Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), contestou os anteriores e atestou sua normalidade psíquica. “A situação é enlouquecedora, mas eu não tenho o direito de enlouquecer. Porque meu filho pediu ajuda, e a Justiça não ouviu. Preciso estar sã, para brigar por ele.”

O lado escuro da lei.2

*Os nomes foram trocados para preservar a intimidade dos citados nesta reportagem.

GESTÃO E CARREIRA

COMUNICAÇÃO: TÃO CRISTALINA QUANTO A ÁGUA

Funcionários pedem mais informações, mas até que ponto a transparência sem limites pode ser prejudicial à uma empresa?

Comunicação - tão cristalina como a agua

Vivemos a era da transparência. Quase tudo o que um indivíduo faz, fala ou escreve acaba indo parar nas redes sociais. De um lado, essas mídias funcionam corno importante meio de informação, de outro se mostram uma julgadora implacável tanto das decisões da vida pessoal quanto das estratégias de uma empresa. Uma campanha publicitária ruim, uma resposta fora de tom ao consumidor, uma injustiça contra um funcionário. Tudo vira motivo de debate, hashtag e textão na internet. O falatório segue o ritmo dentro dos muros corporativos. “A organização não consegue evitar que as pessoas se comuniquem entre elas, por isso tem a obrigação de ser o mais transparente possível”, afirma Marcos Facó, diretor de comunicação e marketing da Fundação Getúlio Vargas.

Isso obriga as empresas a repensar seu posicionamento e a discutir internamente como lidar com esse bombardeiro de perguntas. Seria a comunicação cristalina a melhor estratégia? Ou o caminho é fingir que nada aconteceu?

O filósofo sul-coreano Byung­ Chul Han aponta para esse dilema em seu livro A Sociedade da Transparência (Vozes, 21 reais).

Para ele, a atual obsessão da população por esse tema ocorre porque a confiança deixou de existir. “Quando a confiança desaparece, a sociedade aposta na vigilância e no controle”, diz um trecho da obra.

Logo, em tempos de ceticismo, tratar abertamente dos assuntos pode ser um diferencial competitivo. Estudos recentes indicam que 94% dos clientes se mostram fiéis às marcas transparentes, enquanto as companhias mais comunicativas conseguem melhor engajamento de   seus empregados. Dados da pesquisa “As 150 Melhores Empresas para Trabalhar”, em parceria com a escola de negócios FIA) apontam que as dez melhores colocadas no ranking de 2017 alcançaram a nota 93,6 quando seus funcionários foram questionados se recebiam todas as informações necessárias para fazer bem seu trabalho. A média geral das 150 Melhores foi de 89,1 e as que não entraram na lista atingiram o índice de 81,6.

Mesmo a informação das más notícias apresenta efeito mais positivo do que negativo, como descobriu a farmacêutica Pfizer. Em 2017, a subsidiária brasileira viu despencar o faturamento da unidade de Produtos Essenciais, que vende medicamentos para governo e usuários finais. Com a crise, o setor público segurou o dinheiro e as compras diminuíram mês a mês. Era dezembro, a companhia percebeu que precisaria cortar 100 funcionários, do total de 1.600 no Brasil. Em vez de bater o martelo e desligar as pessoas sumariamente, chamou o pessoal para conversar e entender suas necessidades e vontades. Cientes das demissões, alguns, de fato, preferiram sair, enquanto outros expressaram o desejo de continuar.

Nos dois meses seguintes, o time de RH começou a mapear os talentos que poderiam ser alocados em outra área; descobriu que o departamento de inovação estava em franca expansão – e contratando. Cerca de 50 pessoas que seriam demitidas ficaram na Pfizer em novas funções. “Não podemos dizer que não houve ansiedade dos funcionários neste processo, mas o acolhimento e a conversa franca entre as partes criou uma sensação positiva dentro da companhia”, diz Sheila Ceglio, diretora de recursos humanos da Pfizer.

POR MAIS CONFIANÇA

Exemplos como o da Pfizer ajudam a amainar um fato recorrente nas empresas: um em cada cinco trabalhadores não confiam em seu empregador, segundo uma pesquisa da associação americana de psicologia. Ainda de acordo com o estudo, os insatisfeitos tendem a ser menos motivados com o trabalho, mais estressados, negativos e até cínicos com superiores e colegas. “Tudo isso pode afetar a produtividade de um grupo inteiro”.

Para evitar o “disse me disse”, a distribuidora de energia elétrica Elektro criou a sua própria rede social. Lançada há quatro anos, a Conecta integra as 3.500 pessoas da companhia e facilita a divulgação de trabalhos recentes e de fotos da rotina dos funcionários­ “Isso nos aproxima, uma vez que a Elektro é caracterizada por uma alta dispersão geográfica”, afirma o presidente Giancarlo Souza. Em 2016, a ferramenta ganhou outra funcionalidade para acabar com o falatório nos processos de recrutamento interno. Inspirado no aplicativo de relacionamento Tinder, o sistema, por meio de testes e questionários, faz contas para entender qual função melhor se encaixa aos anseios do empregado. Logo, gente que estava infeliz na antiga posição pode concorrer a outras vagas de maneira transparente e menos burocrática. Para Souza, a Conecta democratizou o desenvolvimento e a ascensão dos profissionais, que deixaram de depender da vontade de gestores para se movimentar na carreira.

O LADO OCULTO DA TRANSPARÊNCIA

Apesar dos benefícios, há um paradoxo no excesso de informação. Um artigo da consultoria de negócios Mc Kinsey mostra o caso de uma companhia que aumentou em 17 % a percepção dos funcionários em relação a transparência na política de bónus. Depois disso, a confiança caiu 7% e a sensação de justiça no reconhecimento do esforço, 8%.

Por isso, alguns cuidados precisam ser tomados. Holly Henderson Brower, professora da Wake Forest University, nos Estados Unidos, e outros autores indicam quatro passos para um processo cristalino dar resultado: rever políticas e procedimentos corporativos; abandonar o controle de maneira inteligente; dividir informações importantes e investir no desenvolvimento da mão de obra. Em alguns momentos, a transparência também pode assustar. Especialmente em tempos em que a incerteza reina nos corredores da empresa, como em um processo de fusão ou aquisição. É esse desafio que a Corteva (resultante dos braços de agronegócio das gigantes Dow e DuPont que se uniram em um negócio de 130 bilhões de dólares) vai enfrentar a partir do ano que vem. Isso porque ela ainda não existe: somente em 2019 ela se tornará independente. Nesse meio tempo, é praticamente impossível evitar as fofocas e as teorias de conspiração sobre o futuro. Para reduzir o impacto, o RH se mexeu. De maneira coordenada em todas as subsidiárias, houve uma intensa rotina de conversas para saber para qual das três companhias que surgirão da fusão cada funcionário irá. Ao mesmo tempo, a Du Pont passou a remodelar a gestão, diminuindo cargos de chefia para acelerar a tomada de decisão. Simone Bianche, diretora de RH da empresa, começou a organizar a área que daria origem ao braço de agricultura. Dos 6.500 empregados de Dow + Du pont, cerca de 2.000 receberão o crachá da Corteva a partir do ano que vem, incluindo Simone para reduzir ruídos e diminuir a ansiedade, canais de dúvidas também foram abertos. “A transparência é um comportamento que todos esperamos no nascimento da Corteva”, afirma ela. No último 1º de junho, o americano James Collins Jr., futuro CEO da nova organização, mandou uma mensagem lembrando a todos que, naquela mesma data, em 2019, todos seriam Corteva.

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DE PEITO ABERTO

Os quatro passos para ter uma empresa transparente

1 – FAÇA UM BALANÇO DE SUAS POLITICAS

Em muitos casos, as práticas e procedimentos da empresa não condizem mais com os tempos atuais e os funcionários das novas gerações. É necessário fazer um balanço do que é importante para o negócio neste momento.

2 – DESISTA D0 CONTROLE (DE MANEIRA INTELIGENTE)

Caso um executivo queira centralizar o comando e controle, dificilmente os funcionários serão mais abertos e transparentes. Provavelmente, falarão nas costas do chefe. É necessário dar mais responsabilidades para todos e, principalmente, ser tolerante quanto aos erros. Trate os equívocos como uma oportunidade para facilitar o aprendizado.

3 – DIVULGUE AS INFORMAÇÕES BOAS E RUINS

Relutamos em compartilhar informações negativas, mas elas são necessárias. Caso a sua empresa tenha perdido clientes e não consiga pagar bônus por conta disso, seja claro desde o primeiro momento – não espere a data do pagamento para falar dos problemas.

4 – INVISTA NO DESENVOLVIMENTO DOS TIMES

Funcionários que se sentem valorizados pela empresa são mais leais. Entenda as necessidades deles e as aspirações. Assim, será bem mais fácil conduzir a empresa de forma transparente.

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AS 7 PERGUNTAS DA CONFIANÇA

Um trio de professores americanos criou um questionário para executivos fazerem a si mesmos e melhorar a transparência da empresa.

1 – Eu mostro para os funcionários que confio em suas habilidades?

2 – Eu deixo claro as pessoas que me preocupo como bem-estar delas?

3 – Eu demonstro segurança na capacidade dos empregados em executar o trabalho deles?

4 – Eu dou responsabilidade para os colaboradores mudarem o que eles não acham correto?

5 – Eu deixo os profissionais tomarem decisões relacionadas ao trabalho deles?

6 – Eu encorajo os meus funcionários a assumirem riscos?

7 – As minhas palavras e ações transmitem que eu acredito nas equipes?

ALIMENTO DIÁRIO

JOÃO 14: 25-27

Alimento diário

O Sermão Consolador de Cristo

 

Aqui Cristo consola seus discípulos através de dois fatos:

I – Que eles estariam sob a orientação do seu Espírito, vv. 25,26, onde podemos observar:

1. A reflexão que Cristo desejava que eles fizessem sobre as instruções que Ele lhes tinha dado: “Tenho-vos dito isso” (referindo-se a todas as boas lições que Ele lhes tinha ensinado, desde que eles tinham iniciado na sua escola), “estando convosco”. Isto evidencia:

(1) Que o que Ele tinha dito, agora Ele não retirava nem cancelava, mas ratificava, ou seja, Ele permanecia firme nisto. O que Ele tinha dito, estava dito, e Ele iria cumprir.

(2) Que Ele tinha aproveitado, ao máximo, a oportunidade da sua presença física com eles: “Enquanto Eu estive presente com estas palavras, vocês sabem que Eu não perdi tempo”. Observe que quando nossos professores estão prestes a se afastarem de nós, devemos nos lembrar do que eles nos disseram, quando ainda estavam conosco.

2. O incentivo dado aos discípulos para que esperassem outro mestre, e de que Cristo iria encontrar uma maneira de falar com eles depois que se afastasse deles, v. 26. Ele lhes tinha dito anteriormente que o Pai lhes daria este outro Consolador (v. 16), e aqui Ele volta a falar disto novamente. Pois assim como a promessa do Messias tinha sido a consolação de Israel, agora a promessa do Espírito também seria um grande consolo. Duas coisas o Senhor ainda lhes diz a respeito do envio do Espírito Santo:

(1) Em nome de quem Ele seria enviado: “O Pai enviará em ‘meu nome’, isto é, por minha causa, por meu pedido e minha solicitação especiais, ou, como meu agente e representante”. Ele veio no nome do seu Pai, como seu embaixador. o Espírito vem no seu nome, como residente na sua ausência física, para prosseguir com sua missão, e para preparar as coisas para sua segunda vinda. Aqui Ele é chamado de Espírito de Cristo, pois Ele defende sua causa e realiza sua obra.

(2) Com que missão Ele seria enviado: Ele fará duas coisas:

[1] Ele “vos ensinará todas as coisas”. Como um Espírito de sabedoria e revelação, Cristo era um professor para seus discípulos. Se Ele os deixar, agora que eles têm tão pouca proficiência, o que acontecerá com eles? Ora, o Espírito os ensinará, será seu professor permanente. Ele lhes ensinará todas as coisas necessárias, para que eles mesmos aprendam, e para que ensinem a outros. Pois aqueles que desejam ensinar as coisas de Deus devem, antes, ser ensinados sobre Deus. Esta é a obra do Espírito. Veja Isaías 59.21.

[2] Ele “vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito”. Cristo lhes tinha ensinado muitas lições boas, de que eles tinham se esquecido, e que seriam procuradas quando precisas­ sem delas. Eles não guardavam a lembrança de muitas coisas porque não compreendiam corretamente seu significado. O Espírito não iria ensinar-lhes um novo Evangelho, mas fazê-los lembrar-se daquilo que já lhes tinha sido ensinado, levando-os ao entendimento destas coisas. Todos os apóstolos deviam pregar, e alguns deles, escrever, as coisas que Jesus fazia e ensinava, para transmiti-las a nações distantes e a gerações futuras. Se eles tivessem sido deixados à sua própria sorte a partir de então, algumas coisas necessárias poderiam ter sido esquecidas, outras, mal interpretadas, por causa da traição da sua lembrança. Por isto o Espírito é prometido, para capacitá-los verdadeiramente a encontrar a ligação e registrar o que Cristo lhes tinha dito. E o Espírito da graça é dado a todos os santos, para lhes lembrar todas as coisas, e nós, pela fé e pela oração, devemos nos comprometer com Ele a guardar aquilo que ouvimos e conhecemos.

 

II – Que eles estariam sob a influência da sua paz (v. 27): “Deixo-vos a paz”. Quando Cristo estava prestes a deixar o mundo, Ele fez seu testamento. Sua alma, Ele entregava ao seu Pai; seu corpo, Ele deixou a José de Arimatéia, para que fosse sepultado decentemente; suas roupas ficaram para os soldados; sua mãe, Ele deixou aos cuidados de João. Mas o que Ele deixaria aos seus pobres discípulos, que tinham deixado tudo por Ele? Ele não tinha ouro nem prata, mas lhes deixou algo que era infinitamente melhor, sua paz. “Eu os deixo, mas deixo minha paz com vocês. Eu não somente lhes dou o direito a ela, mas lhes dou a posse dela”. Ele não partiu com ira, mas com amor, pois esta foi sua despedida: “Deixo-vos a paz”, como um pai amortecido deixa porções da herança aos seus filhos, e esta é uma parte valiosa. Observe:

1. O legado que aqui é deixado como herança: “a paz, a minha paz”. A paz representa todo o bem, e Cristo nos deixou todo o bem necessário, tudo o que é realmente e verdadeiramente bom, como todo o bem comprado e prometido. A paz representa a reconciliação e o amor. A paz deixada como herança é a paz com Deus, a paz entre uns e outros. Nossa paz interior parece ser o objetivo especial, uma tranquilidade de espírito originada de um sentimento da nossa justificação perante Deus. É a contrapartida dos nossos perdões, e a tranquilidade dos nossos espíritos. É isto que Cristo chama de sua paz, pois Ele mesmo é nossa paz, Efésios 2.14. É a paz que Ele comprou para nós e pregou a nós, e com a qual os anjos saudaram os homens no seu nascimento, Lucas 2.14.

2. A quem é deixada esta herança: ”A vocês, meus discípulos e seguidores, que serão expostos a tribulações e terão necessidade de paz. A vocês, que são os filhos da paz e estão qualificados para recebê-la”. Este legado era deixado a eles, como representantes da igreja, a eles e aos seus sucessores, a eles e a todos os cristãos fiéis, em todas as épocas.

3. De que maneira ela é deixada: “Não vo-la dou como o mundo a dá”. Isto é:

(1) “Eu não estou saudando vocês, dizendo: Paz seja convosco. Não, isto não é uma mera formalidade, mas uma bênção verdadeira”.

(2) ”A paz que Eu dou é de tal natureza, que os sorrisos do mundo não podem dá-la, nem as censuras do mundo, removê-la”. Ou:

(3) “Os presentes que Eu lhes dou não são como os que o mundo dá aos seus filhos e adeptos, aos quais o mundo finge ser gentil”. Os presentes do mundo se referem somente ao corpo e ao tempo. Os presentes de Deus enriquecem a alma para a eternidade. O mundo nos dá vaidades mentirosas e aquilo que irá nos enganar. Cristo nos dá bênçãos substanciais, que nunca falharão conosco. O mundo dá e toma. Cristo dá uma boa parte que nunca será tomada.

(4) A paz que Cristo dá é infinitamente mais valiosa do que aquela que o mundo dá. A paz do mundo começa na ignorância, consiste de pecado e termina em incontáveis problemas. A paz de Cristo começa na graça, consiste de nenhum pecado, e termina, por fim, na paz duradoura. A diferença entre a paz de Cristo e a do mundo é como a diferença entre uma letargia mortal e um sono revigorante e reanimador.

4. O uso que eles deviam fazer dessa paz: “Não se turbe o vosso coração”, por qualquer mal, passado ou presente, “nem se atemorize”, por qualquer mal futuro. Observe que aqueles que se interessam no concerto da graça, e têm direito à paz que Cristo dá, não devem render-se a tristezas e temores esmagadores. Isto é apresentado aqui como a conclusão de todo o assunto. O Senhor tinha dito (v. 1): “Não se turbe o vosso coração”, e aqui Ele repete estas palavras, como algo para o que Ele tinha agora dado razões suficientes.

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