A PSICOLOGIA DO TERROR
Estudos têm revelado uma realidade perturbadora: em determinadas circunstâncias, praticamente qualquer um pode ser levado a cometer ações de extrema violência, ainda que não raiva ou mágoa de suas vítimas. Afinal, qual funcionamento psíquico motiva os atos cruéis cometidos por terroristas? Para especialistas, a dinâmica dos grupos é fundamental para entender esse processo.
A ascensão abrupta e violenta do terrorismo está entre as tendências atuais mais perturbadoras. Embora o Brasil não esteja na “rota do terror”, é impossível não nos perguntarmos sobre o risco de atentados em nosso país. Segundo o Index Global de Terrorismo de 2017, mortes relacionadas a atentados terroristas aumentaram quase dez vezes desde o começo do século 21, subindo de 3.329 em 2000 para 13.885 em 2017. Apenas entre 2013 e 2014, cresceram 80%. Para psicólogos e psicanalistas, essa intensificação suscita perguntas urgentes. final, como os grupos extremistas são capazes de tratar outros seres humanos com tamanha crueldade? Por que seus atos atraem jovens do mundo todo? Quem são seus recrutas e no que eles pensam quando tiram vidas inocentes?
Muitos acreditam que apenas psicopatas ou sádicos – indivíduos “totalmente diferentes de nós” – seriam capazes de vestir coletes suicidas ou brandir a espada da execução. Mas, infelizmente, esse pensamento está equivocado. Graças a estudos realizados nos anos 60 e 70, sabemos que até mesmo pessoas estáveis poderiam machucar gravemente outros seres humanos dos quais não tenham nenhuma mágoa. A clássica pesquisa de “obediência à autoridade”, de Stanley Milgram, mostrou que voluntários de um estudo estavam dispostos a aplicar o que eles acreditavam serem choques elétricos fatais em outras pessoas quando o pedido era feito pelo pesquisador do laboratório. Já o “experimento da prisão de Stanford”, conduzido pelo psicólogo Philip Zimbardo, revelou que universitários voluntários que interpretavam o papel de guardas de uma cadeia fictícia abusavam do lugar de poder, agredindo e humilhando outros estudantes que faziam o papel de prisioneiros.
Esses estudos chegaram a uma conclusão perturbadora: praticamente qualquer um, em determinadas circunstâncias, pode ser levado a perpetrar ações de extrema violência. E assim é com terroristas. Da perspectiva psicológica, a maioria dos partidários de grupos radicais não são monstros – como gostaríamos de acreditar-, pelo menos não mais do que qualquer um dos americanos “normais” que participaram das investigações de Milgram ou Zimbardo. “Eles são pessoas comuns, e isso é o mais assustador”, diz o antropólogo Scott Atran, autor do livro Talking to the enemy (Editora Harper Collins, não lançado no Brasil). Segundo ele, o que torna alguém um fanático “não é um defeito inato de personalidade, mas sim a dinâmica do grupo” ao qual pertence.
Para Milgram e Zimbardo, essa dinâmica nos grupos estava relacionada ao conformismo – obedecer a um líder ou compartilhar o ponto de vista da maioria. Durante a última metade do século passado, no entanto, nossa compreensão de como as pessoas se comportam dentro dos grupos avançou. Descobertas recentes desafiam a noção de que indivíduos se tornem zumbis em grupos ou de que um fanático carismático possa facilmente fazer uma lavagem cerebral nessas pessoas.
Esse novo entendimento oferece uma visão mais atual sobre a psicologia dos aspirantes a terroristas e as experiências que podem levá-los ao radicalismo. Mais especificamente, estamos aprendendo que radicalismo não acontece num vácuo, mas sim, em parte, por causa de brechas entre grupos que extremistas procuram criar, explorar exacerbar. Se é possível provocar um número enorme de não muçulmanos a tratar todos os muçulmanos com medo e hostilidade, então aqueles muçulmanos que anteriormente evitavam conflito podem começar a se sentir marginalizados e prestar atenção nas vozes mais radicais entre eles. Da mesma maneira, se podemos provocar muçulmanos o suficiente a ser hostis com ocidentais, a maioria no Ocidente pode também começar a endossar uma liderança mais combativa. Embora pensemos frequentemente que extremistas islâmicos e islamofóbicos são diametralmente opostos, eles estão inextricavelmente interligados. E essa percepção significa que soluções para a praga do terror estarão tanto “conosco” quanto com “eles”.
SEGUINDO O LÍDER
Os achados de Milgram e Zimbardo mostraram que quase qualquer um poderia se tornar abusivo. Se você olhar atentamente os resultados deles, no entanto, a maior parte dos participantes não o fez. Então o que distinguiu aqueles que fizeram? Nos anos 80, o trabalho pioneiro dos psicólogos sociais Henri Tajfel e John Turner, apesar de não relacionado, sugeriu parte da resposta. Eles argumentaram que o comportamento de um grupo e a influência de seus líderes dependiam criticamente de dois fatores inter-relacionados: identificação e desidentificação. Especificamente, para alguém seguir um grupo – possivelmente até o ponto da violência -, é necessário identificar se com seus membros e, ao mesmo tempo, desapegar-se de pessoas de fora do grupo, deixando de vê-las com preocupação.
Confirmamos essa dinâmica em nosso próprio trabalho, que revisitou os paradigmas de Zimbardo e Milgram. Por meio de vários outros estudos, descobrimos que, assim como Tajfel e Turner propuseram, participantes estão dispostos a agir de maneira opressora apenas enquanto ainda se identificam com a causa para a qual estão trabalhando – e se desidentificam com aqueles que estão prejudicando. Quanto mais acreditam que a causa vale a pena, mais justificam suas ações como lamentáveis, porém necessárias.
Essa compreensão de que a identidade social, e não a pressão para obedecer, é que determina quão longe uma pessoa irá corroborar descobertas sobre o que realmente motiva terroristas. Em seu livro Understanding terror networks (Universidade da Pensilvânia, 2014, não publicado no Brasil), o psiquiatra forense Marc Sageman, antigo oficial de casos da CIA, enfatizou que terroristas são em geral verdadeiros crentes que sabem exatamente o que estão fazendo. “Os mujahedin eram assassinos entusiasmados, não robôs que simplesmente respondem a pressões sociais ou dinâmicas de grupo”, escreve. Sageman não descartou a importância de líderes convincentes – como Osama bin Laden e Abu Bakr al-Baghdadi, do Estado Islâmico no Iraque e na Síria (Isis) -, mas sugere que eles servem mais para proporcionar inspiração do que dirigir operações ou emitir comandos.
De fato, existe pouca evidência de que mentores orquestram atos de terror, apesar da linguagem que a mídia usa frequentemente quando reporta esses eventos. O que nos leva para uma segunda alteração na nossa maneira de pensar sobre dinâmica de grupos: nós observamos que quando pessoas se submetem à influência de autoridades, malevolentes ou não, elas não mostram obediência servil, mas encontram maneiras únicas e individuais de estender a agenda do grupo.
Depois que o experimento da prisão de Stanford foi concluído, por exemplo, um dos guardas mais zelosos perguntou a um dos prisioneiros de quem ele havia abusado o que ele teria feito em seu lugar. O prisioneiro respondeu: “Eu não acredito que teria sido tão criativo quanto você. Não acho que eu teria aplicado tanta imaginação ao que estava fazendo”. Terroristas individuais também tendem a ser, ao mesmo tempo, autônomos e criativos, e a falta de um comando hierárquico estrutural é parte do que torna o terrorismo difícil de combater.
“NOBRES” INICIATIVAS
Como líderes do terror atraem seguidores tão engajados e inovadores se não estão dando ordens diretas? Outras descobertas das últimas décadas (sintetizadas em nosso livro de 2011, em coautoria com Michael). Platow, The new psychology of leadership) destacam o papel que líderes têm em desenvolver um senso de identidade e propósito compartilhados por um grupo, ajudando membros a construir suas experiências. Eles empoderam seus seguidores estabelecendo uma causa comum e ganham poder dando formato a ela. De fato, os experimentos de Milgram e Zimbardo são aulas de como criar uma identidade compartilhada e então usá-la para mobilizar pessoas em prol de um fim destrutivo. Da mesma maneira como eles convenceram participantes de seus estudos a infligir dor em nome do processo científico, líderes bem-sucedidos precisam convencer o grupo de que suas iniciativas são honradas e nobres.
Tanto a AI Qaeda quanto o Isis utilizam essa estratégia. O que atrai seus simpatizantes é, em grande parte, o fato de que eles promovem o terror em nome de uma sociedade melhor – uma que relembre a comunidade pacífica que cercava o profeta Mohammed. No ano passado, a professora de jornalismo Shahira Fahmy, da Universidade do Arizona, fez uma análise sistemática da propaganda do Isis e descobriu que apenas 5% retratam o tipo de violência brutal que vemos frequentemente nas televisões ocidentais. A grande maioria traz visões de um “califado ideal”, que iria unir todos os muçulmanos de maneira harmoniosa. Aliás, um elemento significativo do sucesso do Isis – um que o torna mais ameaçador do que a AI Qaeda – está no fato de seus líderes clamarem a soberania do Estado. Na cabeça de seus acólitos pelo menos, eles têm os meios de tentar fazer esse califado utópico se tornar realidade.
Crucialmente, no entanto, a credibilidade e a influência dos líderes (especialmente aqueles que promovem conflito e violência) dependem não somente do que eles dizem e fazem, mas também do comportamento de seu oponente. Prova desse fato veio à tona depois de uma série de experimentos conduzidos por um de nós (Haslam) e llka Gleibs, na Faculdade de Economia de Londres, que observou como pessoas elegem líderes. Uma das descobertas centrais foi que indivíduos serão mais inclinados a escolher um líder belicoso se seu grupo estiver competindo com outro que esteja agindo de maneira beligerante. Nos Estados Unidos, o candidato republicano Donald Trump talvez tivesse sido sábio em ponderar isso antes de sugerir que todos os imigrantes muçulmanos são inimigos em potencial que devem ser barrados de entrar no seu país. Longe de enfraquecer os radicais, essa afirmação providencia o combustível que alimenta o motor da causa deles. De fato, depois que Trump deu essa declaração, um membro da AI Qaeda a reproduziu como parte da estratégia de propaganda.
A ZONA CINZENTA
Assim como o Isis se alimenta de políticos ocidentais imoderados, esses mesmos políticos também se alimentam do Isis para angariar apoio para si mesmos. Essa troca é parte daquilo que o estudioso de religião Douglas Pratt, da Universidade de Waikato, na Nova Zelândia, chama de corradicalização. E aqui habita o verdadeiro poder do terrorismo: ela pode ser usada para provocar grupos a tratar o grupo de outrem como perigoso – o que ajuda a consolidar seguidores ao redor daqueles mesmos líderes que pregam inimizades. Terrorismo não é tanto sobre disseminar o medo quanto é sobre plantar retaliação e novos conflitos. O pesquisador sênior Shiraz Maher, do Centro Internacional de Estudos de Radicalização e Políticas Violentas, na King’s College de Londres, mostrou como o Isis procura ativamente incitar países ocidentais a reagir de maneira que torne mais difícil para muçulmanos sentirem que pertencem a essas comunidades.
Em fevereiro de 2015, a Dabig, revista dirigida pelo Isis, trazia um editorial intitulado “A extinção da zona cinzenta”. Seus escritores lamentavam o fato de que tantos muçulmanos não enxergavam o Ocidente como seu inimigo e que muitos refugiados abandonando a Síria e o Afeganistão realmente viam países ocidentais como terras da oportunidade. Eles clamavam pelo fim da “zona cinzenta” de coexistência construtiva e a criação de um mundo claramente dividido entre muçulmanos e não muçulmanos, no qual todos ou apoiariam o Isis ou os kuffar (não crentes).
Também explicavam os ataques na redação da revista francesa Charlie Hebdo exatamente nestes termos: havia chegado “o tempo de outro evento – ampliado pela presença do Califado no cenário global – para trazer a divisão para o mundo”.
Em resumo, terrorismo está relacionado à polarização. Trata-se de reconfigurar relações intergrupais de modo que liderança extrema pareça ser a maneira mais sensata de lidar com um mundo extremo. Desse ponto de vista, terrorismo é o oposto de destruição não pensada. É uma estratégia consciente – e efetiva – para atrair seguidores para o âmbito de líderes que buscam confronto. Assim, quando se trata de entender por que líderes radicais continuam patrocinando o terrorismo, nós precisamos examinar suas ações e nossas reações. Como o editor David Roth kopf escreveu em Foreign Policy, depois dos massacres de Paris e Isis em novembro passado, “reações exageradas são precisamente a resposta errada para o terrorismo e é exatamente o que os terroristas querem; elas fazem o trabalho dos terroristas e para os terroristas”.
Em muitos países, os esforços antiterroristas atuais levam pouco em consideração como nossas respostas podem estar aumentando as apostas. Essas iniciativas focam apenas indivíduos e presumem que a radicalização começa quando algo enfraquece o senso de propósito e de si mesmo de uma pessoa: discriminação, perda dos pais, bullying, mudanças radicais ou qualquer outra coisa que deixe a pessoa confusa, incerta ou sozinha. O psicólogo Erik Erikson nota que jovens (ainda no processo de formação de uma identidade sólida) são mais vulneráveis a esse tipo de “descarrilamento”. “Nesse estado, eles se tornam uma presa fácil para os grupos radicais, que oferecem o que eles dizem ser uma sociedade acolhedora em busca de um objetivo nobre”, ressalta.
Não temos dúvida de que essa é uma parte importante no processo pelo qual pessoas são levadas a grupos terroristas. Muitas evidências apontam para a importância dos laços de pequenos grupos e, de acordo com Atran e Sageman, terroristas muçulmanos são caracteristicamente centrados em grupos de amigos e parentes. Mas essas lealdades por si só não são suficientes para explicar o que Sageman chama de “problema da especificidade”. Muitos grupos proporcionam laços de camaradagem envolta de uma causa compartilhada: grupos de esporte, cultura, meio ambiente. Até mesmo a maioria das facções religiosas – incluindo grupos muçulmanos – promove a comunidade e sem incentivar a violência. Então por que, especificamente, alguns são atraídos para os poucos grupos muçulmanos que pregam a violência e o confronto?
Argumentamos que esses grupos estão oferecendo mais do que consolo e apoio. Eles fornecem também narrativas que ressoam com seus recrutas e os ajudam a dar sentido às suas experiências. Nesse caso, nós precisamos examinar seriamente as ideias que militantes muçulmanos propagam – incluindo a noção de que o Ocidente é um velho inimigo que odeia todos os muçulmanos. Será que a “maioria” das reações do nosso grupo de alguma maneira dá crédito às vozes de grupos radicais minoritários na comunidade muçulmana? Será que policiais, professores e outras figuras proeminentes fazem jovens muçulmanos no Ocidente se sentirem excluídos ou rejeitados – a ponto de eles começarem a ver o Estado menos como um protetor e mais como um adversário? Se sim, como isso muda o comportamento deles? Para começar a descobrir, um de nós (Reicher), trabalhando com os psicólogos Leda Blackwood, agora na Universidade de Bath, na Inglaterra, e Nicholas Hopkings, da Universidade de Dundee, na Escócia, conduziu entrevistas individuais e em grupo em aeroportos escoceses, em 2013. Como barreiras nacionais, aeroportos mandam sinais claros sobre pertencimento e identidade. Nós descobrimos que a maioria dos escoceses – muçulmanos ou não – tinha uma sensação de “retornar a casa” depois de uma viagem para fora. Ainda assim, muitos escoceses muçulmanos já haviam se sentido ameaçados por causa de suspeitas vindas de seguranças do aeroporto. Por que eu fui puxado para o lado? Por que me perguntaram todas aquelas coisas? Por que minha bagagem foi revistada?
UMA OUTRA PRISÃO
Nós demos o nome de “reconhecimento falho” a essa experiência em que outros não notaram ou negaram uma identidade valiosa para uma pessoa. Isso gerou, sistematicamente, raiva ou cinismo para com autoridades. levou esses indivíduos a se distanciar de pessoas aparentemente britânicas. Depois dessas experiências, um muçulmano escocês disse que se sentiria ridículo se continuasse a incentivar confiança em agências que o tinham humilhado. Em outras palavras, o reconheci mento falho pode silenciar aqueles que, tendo uma vez se sentido alinhados com o Ocidente, talvez estivessem mais bem alocados para prevenir uma polarização maior. Para ficar claro, o reconhecimento falho não tornou pessoas moderadas em terroristas ou extremistas instantaneamente. Mas a balança do poder começou a pender menos para o lado de líderes que dizem “trabalhe com as autoridades: elas são suas amigas” e mais para o dos que insistem que “as autoridades são inimigas”.
Nós podemos levar essa análise do reconhecimento falho e suas consequências um passo além. Quando nós adaptamos o estudo da prisão de Zimbardo em nossa própria pesquisa, nós queríamos reexaminar o que acontece quando você mistura dois grupos com níveis de poder desiguais. Nós queríamos testar algumas das mais recentes teorias sobre como a identidade social afeta as dinâmicas de um grupo. Por exemplo, achamos que prisioneiros se identificariam com seu grupo somente se não tivessem perspectivas de deixá-lo. Então, informamos os voluntários que fariam o papel de prisioneiros de que poderiam ser promovidos a guardas se tivessem as qualidades certas. Então, depois de apenas uma rodada com essas promoções, dissemos que não haveria mais mudanças. Eles estavam presos àquelas posições.
Nós discutimos o efeito dessa manipulação em muitas publicações, mas existe uma descoberta sobre a qual não escrevemos em nenhum lugar antes – uma observação que é especialmente relevante para nossa discussão de extremismos. Desde o início do nosso estudo, um prisioneiro em particular tinha ambições muito claras de ser um futuro guarda. Ele via a si mesmo como capaz de unir os guardas e fazê-los trabalhar como uma equipe (coisa que eles estavam tendo dificuldade em fazer). Outros prisioneiros o provocavam; eles falavam de motim, o que ele ignorava. Então, durante o processo de promoção, os guardas não olharam para esse prisioneiro e promoveram alguém que ele enxergava como menos eficiente e mais fraco. Sua vontade de identificar-se como guarda foi publicamente rejeitada de maneira humilhante.
Quase imediatamente, seu comportamento mudou. Antes ele era um preso modelo que evitava seus companheiros, mas agora se identificava fortemente com eles. Ele havia desencorajado os prisioneiros de minar a autoridade dos guardas, mas agora se juntava a eles com grande entusiasmo. E, apesar de ter apoiado a ordem antiga e ajudado a manter a sua existência, ele começou a ser o principal instigador de uma série de atos subversivos que levaram à destruição do regime dos guardas.
Sua conversão dramática veio depois de uma série de passos psicológicos que ocorrem regularmente em comunidades hoje: vontade de pertencer, falha nesse reconhecimento, separação e falta de identificação. Fora de nossa prisão experimental, a história acontece mais ou menos assim: líderes de minorias radicais usam a violência e o ódio para provocar a autoridade das maiorias a instituir uma cultura de vigilância contra membros de grupos minoritários. Essa cultura causa falha no reconhecimento dessas pessoas como membros daquela maioria e sua comunidade, o que leva à não identificação e à separação da corrente principal. E esse distanciamento pode tornar os argumentos dos radicais difíceis de recusar. O ponto é que vozes da minoria radical não são suficientes para radicalizar alguém, nem as experiências individuais das pessoas. O que é potente, no entanto, é a junção das duas e a habilidade de uma reforçar e ampliar a outra.
A análise do terrorismo que apresentamos aqui é, claro, provisória, na medida em que continuamos a coletar evidência. Nós não negamos que alguns indivíduos terroristas tenham de fato personalidades patológicas. Mas o terrorismo junta muitas pessoas que normalmente não se sentiriam inclinadas a disparar o gatilho ou a plantar uma bomba. E, portanto, não pode haver dúvida de que o entendimento desse fator pede um exame em nível grupal – não apenas de radicais, mas da dinâmica grupal que impulsiona o comportamento deles. Esse é o contexto do qual todos nós fazemos parte, algo que todos nós ajudamos a moldar. Nós tratamos minorias com desconfiança? Aqueles que nos governam questionam suas reivindicações de cidadania? Nós reagimos ao terror com pedidos de contraterror? A boa notícia é que, do mesmo modo que nossa análise nos vê como parte do problema, também nos torna parte da solução.
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