A IMPORTÂNCIA DO LEGADO
Ter ciclos consistentes de carreira numa empresa vale mais do que pular de galho em galho sem realizar nada de expressivo.
A oscilante economia do Brasil nos ensina a ser malabaristas na gestão de nossas vidas. Entre crises e períodos de crescimento, nós seguimos sobrevivendo. Olhando rapidamente para o passado, em poucos anos, alternamos tormentas de desemprego a períodos de exuberância financeira com intensa oferta de trabalho.
A habilidade de lidar com esses altos e baixos transformou o profissional brasileiro num guerreiro global. Fato é que várias empresas ao redor do mundo reconhecem nossa capacidade de adaptação e improviso. E não é à toa. Os muitos anos de experiencia lidando com o caos geraram musculatura e repertório para gerenciar mudanças. Por outro lado, o caldo de instabilidade gera alguns efeitos nocivos na condução da carreira. Nos períodos de recessão, a necessidade de recolocação faz com que muitos profissionais sejam obrigados a aceitar posições inferiores. A redução de salários gera desconforto e impacta na decisão de troca de trabalho assim que a economia melhora. Já os períodos de crescimento intenso revelam um déficit de pessoas qualificadas e obriga empresas a contratar com muita voracidade, gerando ofertas irresistíveis e movimentos de carreira impensados.
Isso aconteceu em 2012, quando a economia se recuperou da crise global entre 2008 e 2009 e causou expansão em oportunidades de trabalho jamais vistas. Chegamos a crescer 7,5% e isso gerou um exército de profissionais que ficavam especulando oportunidades e trocando de trabalho a cada seis meses.
Mas, nesse pêndulo dramático de crise-crescimento, não podemos deixar de lado a construção dos ciclos consistentes na carreira. Um profissional é avaliado pela história que constrói, em outras palavras: os resultados que ele deixa nas companhias pelas quais passou. O legado é o ativo de carreira que forma a marca daquela pessoa. As trocas frenéticas de emprego movidas pelas oportunidades que surgem podem transformar o currículo numa lista de trabalhos sem conclusão.
O mercado é cruel e não deixará de avaliar de forma negativa o currículo sem consistência. A regra dos ciclos consistentes vale para todos, do estagiário ao presidente. É necessário ter projetos com início e conclusão para formar uma carreira de valor. Se ficar sempre pensando no próximo posto se tornará um especialista em explicar por que trocou de trabalho em vez de mostrar suas realizações.
Antes de fazer escolhas é preciso refletir se o seu ciclo na organização realmente já se encerrou. Investigue a cultura e o novo projeto com profundidade. Boas explicações sobre trocas de emprego não sustentam uma carreira. O que faz a diferença é o legado.
RAFAEL SOUTO – é fundador e CEO da Consultoria Produtive, de São Paulo. Atua com planejamento e gestão de carreira, programas de demissão responsável e de aposentadoria.
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