VANTAGENS DE ESCREVER À MÃO
Tomar notas de próprio punho pode ser mais eficaz para o processo de aprendizagem do que digitar; especialistas acreditam que processo ajuda a reter informações.
Em busca de comodidade, cada vez mais deixamos de lado o papel e optamos por digitar. De fato, parece mais prático escrever um e-mail do que uma carta.
Mais ainda enviar uma mensagem rápida pelo celular do que encaminhar um bilhete. Mas como tudo tem seus prós e contras, nessa área também não é diferente. E, quando se trata de redigir, um grupo de cientistas alerta que nem sempre o método mais rápido é, necessariamente, o melhor. Segundo os pesquisadores da Universidade de Princeton, tomar notas à mão favorece a capacidade de síntese, ajuda a focar o essencial e – melhor -, a reter conceitos com mais facilidade.
O psicólogo Daniel Oppenheimer e sua equipe chegaram a essa conclusão quando pediram a alguns estudantes que assistissem a uma palestra e fizessem anotações – parte deles à mão e parte usando um notebook. Depois de 30 minutos, os pesquisadores fizeram entrevistas com os voluntários sobre aspectos fatuais e conceituais do conteúdo visto e descobriram que aqueles que escreveram com papel e caneta se saíram significativamente melhor, sobretudo em relação à ideias abstratas, ainda que o restante tivesse registrado maior quantidade de informações no computador.
Os pesquisadores ressaltam que, quando tomamos notas, selecionamos determinados dados, nós os codificamos e os recordamos mais tarde, o que favorece o armazenamento e facilita a aprendizagem. Quando o registro se torna muito fácil, tendemos a nos dispersar e perdemos a oportunidade de absorver algo novo, principalmente quando se trata de conceitos e não fatos. Escrever à mão, por outro lado, nos obriga a focar o essencial já que, em geral não somos fisicamente capazes de escrever cada palavra do que é dito, o que termina facilitando a assimilação.
Os resultados publicados na Psychological Science ajudam a esclarecer um fenômeno que os psicólogos chamam de “dificuldade desejável”, para se referir à necessidade de esforço e investimento com o intuito de assimilar novos conteúdos. “Às vezes, os obstáculos que nos frustram nos ajudam a aprender”, diz Oppenheimer.
A ESCRITA COMO TERAPIA
Registrar de forma orientada experiências traumáticas pode ajudar pessoas a refletir sobre si e a superar a dor da perda. Segundo estudo publicado no Journal of Paliative Medicine, a “escrita terapêutica” ajuda o paciente a descrever detalhes de experiências negativas, explicitar sentimentos, colocar os fatos em ordem cronológica e estabelecer nexos. O artigo se apoia na ideia de que descrever os próprios sentimentos e emoções em uma narração coerente dos fatos tem utilidade em situações específicas, como elaborar o luto da morte de uma pessoa querida. Para medir a eficácia da técnica, os pesquisadores avaliaram os pacientes deprimidos depois desses voluntários terem passado por uma perda significativa e pediram que registrassem regularmente seus sentimentos. Curiosamente, foi constatada melhora no estado geral de humor e ânimo das pessoas após o exercício. “Estudos recentes com ressonância magnética funcional demonstraram que nosso cérebro trabalha de forma diferente antes, durante e depois de escrevermos”, observa o psicólogo James Pennebaker, diretor do Departamento de Psicologia da Universidade do Texas em Austin. Pioneiro nesse tipo de pesquisa, ele investiga desde a década de 90 a ligação entre a capacidade de escrita expressiva e alterações biológicas.
A escrita terapêutica, complementar à terapia da fala, não se contrapõe à expressão oral. Pelo contrário: permite associações inesperadas, que muitas vezes levam a questões inconscientes intrincadas – e fundamentais para o tratamento.
Cientistas reconhecem, porém, que a neurobiologia da escrita terapêutica ainda apresenta muitos pontos obscuros. Algumas tentativas de registrar a atividade neural antes e depois de a pessoa escrever renderam poucas informações, pois as regiões ativas estão localizadas em áreas muito profundas do cérebro. O que se sabe é que a escrita ativa um conjunto de vias neurológicas – e vários estudiosos estão comprometidos em descobri-las. Atualmente na Universidade do Arizona, o neurocientista Richard Lane, doutor em psicologia, usa técnicas de imagem cerebral para estudar a neuroanatomia das emoções e a forma como elas são expressas.
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