JOÃO 12: 20-26

Certos gregos desejam ver Jesus. A recompensa dos servos de Cristo
Aqui alguns gregos que tinham perguntado por Ele, com respeito, o honram. Não lemos que dia era este, na última semana de Cristo. Provavelmente, não era o mesmo dia em que Ele entrou em Jerusalém (pois aquele dia foi dedicado ao trabalho público), mas um dia ou dois depois daquele.
I – Nós lemos quem eram as pessoas que prestaram esta honra ao nosso Senhor Jesus: ”Alguns gregos entre os que tinham subido a adorar no dia da festa”, v. 20. Alguns pensam que eram judeus da dispersão, alguns das doze tribos que estavam dispersos entre os gentios, e eram chamados de gregos, judeus helênicos. Mas outros opinam que eram gentios, os que eram chamados prosélitos do portão, tais como o eunuco e Cornélio. A religião natural pura encontrava a melhor recepção entre os judeus, e, portanto, aqueles entre os gentios que eram mais piedosos os acompanhavam em seus encontros solenes, à medida que isto lhes era permitido. Havia adoradores devotos do Deus verdadeiro até mesmo entre aqueles que eram estranhos à comunidade de Israel. Foi nos últimos tempos da igreja judaica que houve este afluxo de gentios ao Templo de Jerusalém – um feliz presságio da derrubada do muro de separação entre judeus e gentios. A proibição dos sacerdotes, de aceitar qualquer oblação ou sacrifício de um gentio (o que foi feito por Eleazar, filho de Ananias, o sumo sacerdote), diz Josefo, foi uma das coisas que motivou os ataques dos romanos, Way; liv. 2, cap. 30. Embora estes gregos, se incircuncisos, não tivessem permissão para participar da refeição de Páscoa, ainda assim vinham para adorar na festa. Nós devemos, com gratidão, usar os privilégios que temos, embora possa haver outros que nos sejam proibidos.
II – Qual foi esta honra que lhe prestaram: eles queriam “ver a Jesus”, v. 21. Tendo vindo para adorar na festa, desejavam fazer o melhor uso possível do seu tempo, e, portanto, dirigiram-se a Filipe, desejando que ele os pusesse no caminho de conseguir uma conversa pessoal com o Senhor Jesus.
1. Tendo um desejo de ver a Cristo, eles foram diligentes no uso dos meios adequados. Eles não concluíram que era impossível conseguir falar com Ele, uma vez que Ele era tão procurado pela multidão, nem ficaram simplesmente desejando, mas decidiram tentar e ver o que poderia ser feito. Observe que aqueles que desejam ter conhecimento de Cristo, devem procurá-lo.
2. Eles procuraram a Filipe, um dos discípulos. Alguns pensam que eles o tinham conhecido anteriormente, e viviam perto de Betsaida, na Galiléia dos gentios. E isto nos ensina que nós devemos aproveitar o conhecimento que temos das pessoas boas, para que nosso conhecimento a respeito de Cristo cresça. Ê bom conhecer aqueles que conhecem o Senhor. Mas, se estes gregos tinham estado perto da Galiléia, é provável que tivessem conhecido Cristo ali, onde Ele residia na maior parte do tempo. Por isto, eu penso que eles se dirigiram a Filipe somente porque viram que ele era um seguidor próximo de Cristo, e foi o primeiro com quem conseguiram falar. Embora parecesse humilde, o fato de que procurassem um dos discípulos de Jesus para conseguir uma oportunidade de conversar com Ele foi um exemplo da veneração que eles tinham por Cristo, um sinal de que eles o consideravam como alguém grandioso. Aqueles que desejam ver a Jesus pela fé, agora que Ele está no céu, devem dirigir-se aos seus ministros, a quem Ele nomeou para este propósito, para guiar as pobres almas na sua busca por Ele. Paulo deveria procurar a Ananias, e Cornélio, a Pedro. A condução destes gregos ao conhecimento de Cristo, por intermédio de Filipe, significou a interferência dos apóstolos, e a utilidade do seu ministério na conversão dos gentios à fé, e no discipulado das nações.
3. As palavras que dirigiram a Filipe foram, em resumo, estas: “Senhor, queríamos ver a Jesus”. Eles lhe dão um título de respeito, como alguém digno de honra, porque se relacionava com Cristo. Seu interesse é que queriam ver a Jesus, não somente ver seu rosto, para que pudessem dizer, quando voltassem para casa, que tinham visto alguém de quem se falava tanto (é provável que o tivessem visto quando apareceu publicamente), mas queriam ter algum tipo de conversa com Ele, e queriam que Ele os ensinas se, pois não era fácil encontrá-lo em seu tempo livre, suas mãos estavam muito cheias de trabalho público. Agora que tinham vindo para adorar na festa, queriam ver Jesus. Observe que, em nosso comparecimento às ordenanças sagradas, os cultos ao Senhor, e particularmente à Páscoa do Evangelho, o grande desejo das nossas almas deve consistir em ver Jesus. Ter nossa familiaridade com Ele aumentada, nossa confiança nele fortalecida, nossa conformidade a Ele mantida. Vê-lo como nosso, conservar a comunhão com Ele, e obter comunicações da graça vindas dele. Não alcançaremos o objetivo da nossa vinda se não virmos Jesus.
4. Aqui está o relato que Filipe fez deste fato ao seu Mestre, v. 22. Ele conta a André, que também era de Betsaida, e um veterano no grupo dos apóstolos, contemporâneo de Pedro, e lhe pergunta o que deviam fazer, se ele julgava que o pedido seria aceito ou não, porque Cristo tinha dito algumas vezes que Ele havia sido enviado somente à casa de Israel. Eles estão de acordo que o pedido devia ser feito, mas então Filipe deseja que André o acompanhe, provavelmente lembrando da aceitação favorável que Cristo lhes tinha prometido, caso dois deles concordassem na terra acerca de qual quer coisa que pedissem, Mateus 18.19. Observe que os ministros de Cristo devem ajudar-se mutuamente e contribuir para ajudar a levar as almas a Cristo: “Melhor é serem dois do que um”. Parece que André e Filipe levaram esta mensagem a Cristo quando Ele estava ensinando em público, pois lemos (v. 29) a respeito da multidão que ali estava. Raramente Ele estava sozinho.
III – A aceitação de Cristo desta honra que lhe era dedicada, representada pelo que Ele disse às pessoas que ali estavam, v. 23ss., em que o Senhor prediz tanto a honra que Ele mesmo teria por ser seguido (vv. 23,24) quanto a honra que ter iam aqueles que o seguissem, vv. 25,26. Isto tinha o propósito de orienta r e incentivar estes gregos, e todos os demais que desejassem conhecê-lo.
1. Ele prevê uma abundante colheita, na conversão dos gentios, da qual esta era uma espécie de primícias, v. 23. Cristo disse aos dois discípulos que vieram trazer o pedido dos egos, mas duvidavam se seriam bem-sucedidos ou não: “É chegada a hora em que o Filho do Homem há de ser glorificado”, pela ascensão dos gentios à igreja e para isto, Ele devia ser rejeitado pelos judeus. Observe:
O objetivo designado, que é a glorificação do Redentor: “É verdade? Os gentios começam a me procurar? A estrela da manhã começa a aparecer para eles? Já estão sentindo o alvorecer do novo dia? A bendita salvação tem sua hora e lugar, e está começando a alcançar os confins da terra? Então é chegada a hora em que o Filho do Homem há de ser glorificado”. Isto não era surpresa para Cristo, mas um paradoxo para os que estavam ao seu redor. Observe:
[1] O chamado, o efetivo chamado, dos gentios à igreja de Deus contribuiu enormemente para a glória do Filho do homem. A multiplicação dos redimidos era a exaltação do Redentor.
[2] Havia uma hora, uma hora indicada, uma hora certa, para a glorificação do Filho do homem, que, por fim, chegou, quando os dias da sua humilhação estavam contados e terminados, e Ele fala da chegada desta hora com exultação e triunfo: “É chegada a hora”.
(2) A estranha maneira como este fim seria alcançado, que seria pela morte de Cristo, evidenciada naquela semelhança (v. 24): “Na verdade, na verdade vos digo”, a quem falei da minha morte e dos meus sofrimentos, “que, se o grão de trigo, caindo”, não somente na, mas dentro da, “terra, não morrer”, e ser enterrado e extraviado, “fica ele só”, e nunca mais será visto; “mas, se morrer”, de acordo com o curso da natureza (caso contrário, seria um milagre), “dá muito fruto”, Deus dá a cada semente seu próprio corpo. Cristo é o grão de trigo, o grão mais valioso e útil. Aqui temos:
[1] A necessidade da humilhação de Cristo é evidenciada. Ele nunca teria sido a viva e vivificante cabeça e raiz da igreja se não tivesse descido do céu a esta terra amaldiçoada, e se não tivesse sido erguido desta no madeiro maldito, obtendo, desta maneira, nossa redenção. Ele deve derramar sua alma na morte, caso contrário não poderá ter parte com os poderosos, Isaías 53.12. Ele terá uma semente, que lhe será dada, mas Ele deve derramar seu sangue para comprá-la e purificá-la, deve ganhá-la e usá-la. Da mesma maneira, isto era necessário como uma qualificação para aquela glória que Ele teria, quando as multidões se unissem à sua igreja. Pois, se o Senhor Jesus não tivesse, pelos seus sofrimentos, expia do o pecado, apresentando, desta maneira, uma justiça duradoura, Ele não seria suficientemente qualificado para receber aqueles que viessem a Ele, e, portanto, de veria permanecer sozinho.
[2] A vantagem da humilhação de Cristo é exemplificada. Ele se humilhou ao máximo na sua encarnação, parecendo que estava sendo enterrado vivo nesta terra, tal a maneira como sua glória foi ocultada. Mas isto não era tudo: Ele morreu. O Deus imortal se submeteu à lei da mortalidade, e esteve no sepulcro como uma semente sob a terra. Mas, assim como a semente aflora novamente, verde e fresca, e floresce, e cresce, o Cristo morto trouxe a si milhares de cristãos vivos, e se tornou sua raiz. A salvação das almas até aqui, e daqui até o final dos tempos, deve-se à morte deste grão de trigo. Deste modo, o Pai e o Filho são glorificados, a igreja é abastecida, o corpo místico é mantido, e será, no final, completado. E quando o tempo já não existir mais, o Capitão da nossa salvação, trazendo muitos filhos à glória, pela virtude da sua morte e ressurreição, e tendo sido aperfeiçoado pelos sofrimentos, será celebrado par a sempre, pelos louvores alegres dos santos e dos anjos, Hebreus 2.10,13.
2. Ele prevê e promete uma abundante recompensa àqueles que o aceitarem cordialmente, e ao seu Evangelho, e aos seus interesses, e evidenciarem que o fazem pela sua fidelidade, sofrendo por Ele ou servindo-o.
(1) Sofrendo por Ele (v. 25): “Quem ama a sua vida”, mais do que a Cristo, “perdê-la-á”, mas “quem, neste mundo, aborrece a sua vida”, e prefere a graça de Deus e o interesse em Cristo a ela, “guardá-la-á para a vida eterna”. Cristo insistia muito nesta doutrina, pois o grande desígnio do seu Evangelho é nos desacostumar deste mundo, colocando-nos diante de outro.
[1] Veja aqui as consequências fatais de um desordenado amor à vida. Muitos homens se abraçam à morte, e perdem sua vida, amando-a demais. Aquele que amar tanto sua vida física neste mundo, sua vida animal, a ponto de ser indulgente com seus desejos, e fizer provisões para a carne, satisfazer sua luxúria, estará encurtando seus dias, perderá esta vida que tanto aprecia, além de outra, infinitamente melhor. Aquele que ama tanto a vida do corpo, e seus prazeres e delícias, a ponto de, temendo arriscá-los, renegar a Cristo, os perderá, isto é, perderá a verdadeira felicidade no outro mundo, enquanto pensa estar garantindo uma felicidade imaginária neste. “Pele por pele” um homem pode dar pela sua vida, e será capaz de fazer um negócio aparentemente bom, mas aquele que dá sua alma, seu Deus, seu céu, pela sua vida, paga por ela um preço muito alto, e é culpado de cometer a mesma tolice daquele que vendeu sua primogenitura por um guisado.
[2] Veja também a abençoada recompensa de um sagrado desprezo pela vida. Aquele que aborrece tanto a vida do corpo, a ponto de arriscá-la para preservar a vida da sua alma, achará a ambas, com vantagens indescritíveis, na vida eterna. Observe que, em primeiro lugar, é necessário que os discípulos de Cristo aborreçam sua vida neste mundo. Uma vida neste mundo pressupõe uma vida no mundo porvir, e esta é aborrecida quando é menos amada do que aquela. Nossa vida neste mundo inclui todas as alegrias deste nosso estado atual, riquezas, honras, prazeres, e uma longa vida. Mesmo possuindo tudo isto, nós devemos aborrecer, isto é, desprezar estas coisas, por serem inúteis e insuficientes para nos fazer felizes, odiar as tentações que há nelas, e separar-nos delas alegremente, quando competirem com o serviço a Cristo, Atos 20.24; 21.13; Apocalipse 12.11. Veja aqui o poder da santidade, que conquista os mais fortes afetos naturais, e o mistério da santidade, que é a maior sabedoria, e ainda assim faz com que os homens detestem suas próprias vidas. Em segundo lugar, aqueles que, por amor a Cristo, aborrecem sua vida neste mundo, serão abundantemente recompensados na ressurreição dos justos. Aquele que “aborrece a sua vida, guardá-la-á”. Cada crente deve colocar sua vida nas mãos daquele que a guardará para a vida eterna, e a de volverá com uma melhoria tão grande quanto a que a vida celestial pode fazer da vida terrena.
(2) Servindo a Ele (v. 26): “Se alguém me serve, siga-me”, como um servo segue ao seu mestre; “e, onde eu estiver”, ali esteja meu servo. Assim alguns interpretam, indicando parte do dever do servo, que precisa estar perto do Senhor para servi-lo. Nós entendemos como parte da promessa: Ali ele estará em felicidade comigo. E para que isto não pareça pouco, Ele acrescenta: “Se alguém me servir, meu Pai o honrará”. E isto é suficiente, mais que suficiente. Os gregos desejavam ver a Jesus (v.21), mas Cristo os faz saber que não era suficiente vê-lo, eles de vem servi-lo. Ele não veio a este mundo para ser um espetáculo para nossa vista, mas para ser um rei, para nos governar. E Ele diz isto para o incentivo daqueles que o procuravam, para se tornarem seus servos. Ao empregar servos, é comum determinar tanto o trabalho quanto o salário. Cristo faz as duas coisas aqui.
[1] Aqui está o trabalho que Cristo espera dos seus servos. É muito fácil, e razoável, e do tipo que lhes é conveniente.
Em primeiro lugar, que acompanhem os movimentos do seu Mestre: “Se alguém me serve, siga-me”. Os cristãos devem seguir a Cristo, seguir seus métodos e suas prescrições, fazer o que Ele diz, seguir seu exemplo e modelo, andar como Ele andou, seguir sua conduta, pela sua providência e pelo seu Espírito. Nós devemos ir aonde Ele nos levar, e pelo caminho pelo qual Ele nos levar. Devemos seguir o Cordeiro a qualquer lugar que Ele nos conduzir. “Se alguém me serve, se ele se coloca neste relacionamento comigo, que se dedique ao meu serviço, e sempre esteja ao meu dispor” Ou: “Se alguém realmente me serve, que faça uma profissão pública e aberta do seu relacionamento comigo, seguindo-me, assim como um servo reconhece seu mestre seguindo-o pelas ruas”.
Em segundo lugar, que acompanhem o repouso do seu Mestre: “Onde eu estiver, ali estará também o meu servo”, para me servir. Cristo está onde estiver sua igreja, nas assembleias dos seus santos, onde são administradas suas ordenanças, e ali deverão estar seus servos, para se apresentarem diante dele, e receberem dele suas instruções. Ou: “Quando Eu estiver no céu, para onde vou agora, ali deverão estar os pensamentos e os afetos dos meus servos, ali deverá estar seu interesse, onde Cristo estiver assentado”. Colossenses 3.1,2.
[2] Aqui estão as recompensas que Cristo promete aos seus servos, e são muito ricas e nobres.
Em primeiro lugar, eles serão felizes com Ele: “Onde eu estiver, ali estará também o meu servo”. Estar com Ele, quando Ele estava aqui, em meio à pobreza e às dificuldades, não seria viver sua primazia. Portanto, sem dúvida, o Senhor se refere à bênção de estar com Ele no paraíso, assentado com Ele à sua mesa, nas alturas, no seu trono ali. Estar com Cristo é a felicidade de todos aqueles que vivem no céu, cap. 17.24. Cristo fala da felicidade do céu como se já estivesse ali: “Onde eu estiver”, porque Ele tinha certeza disto, e estava próximo disto, e isto era seguro aos seus olhos e ao seu coração. E a mesma alegria e glória que Ele julgava recompensa suficiente para todos os seus serviços e sofrimentos são propostas aos seus servos, como recompensa pelos seus. Aqueles que o seguirem ao longo do caminho estarão com Ele no final.
Em segundo lugar, eles serão honrados pelo Pai. Ele os compensará por todos os seus sofrimentos e perdas, conferindo-lhes uma honra, como é conveniente que um grande Deus o faça, mas muito além daquilo que os vermes insignificantes da terra poderiam esperar recebei: Aquele que dá a recompensa é o próprio Deus, que considera os serviços prestados ao Senhor Jesus como sendo prestados a si mesmo. A recompensa é a honra, a verdadeira e eterna honra, a mais elevada honra. E a honra que vem de Deus. Está escrito (Provérbios 27.18): “O que vela pelo seu senhor”, humildem ente e diligentemente “será honrado”. Deus honrará aqueles que servirem a Cristo. Eles serão recompensados no dia determinado por Deus, que agora está oculto de todos, como se estivesse sob um véu. Aqueles que servem a Cristo devem se humilhar, e serão normalmente desprestigiados neste mundo, e, como recompensa por estas duas cosias, eles serão exaltados no momento adequado.
Até aqui, as palavras de Cristo fazem referência àqueles gregos que desejavam vê-lo, incentivando-os a servi-lo. Não sabemos o que aconteceu com aqueles gregos, mas esperamos que todos aqueles que pergunta rem qual é o caminho para o céu, com seus rostos voltados para lá, o encontrem, e caminhem nele.
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