PSICOLOGIA ANALÍTICA

QUANDO OS AUTISTAS CRESCEM

É frequente que empresas busquem profissionais flexíveis, sociáveis, com boa rede de contatos e capacidade de interação – justamente aspectos de que pessoas diagnosticadas com TEA não dispõem. Em compensação, podem ter outras habilidades muito valiosas. Felizmente, alguns projetos têm ajudado a diminuir o preconceito e ampliar as oportunidades para esses jovens.

Quando os autistas crescem

Maria* tem autismo. Sempre teve dificuldade para fazer amigos, mas se saía bem nos estudos, tirava boas notas. A escola onde estudava oferecia serviços de apoio para alunos com distúrbios do desenvolvimento, o que a ajudou a ingressar numa faculdade local. “No entanto, quando esse tipo de suporte cessou após a graduação, ela praticamente desmoronou”, recorda a mãe, Amira. No primeiro mês na universidade, Maria parou de frequentar as aulas e deixou de completar as tarefas. Depois de algum tempo, evitava a todo custo sair do dormitório. Desistiu da faculdade e voltou para casa, passando a permanecer o dia todo no quarto durante 23 horas por dia.

A história de Maria não é incomum. Muitos pais comparam a experiência do filho com autismo de sair do ensino médio com a de “cair de um penhasco”. “De forma geral, crianças e adolescentes com necessidades especiais têm mais facilidade de conseguir atendimento em instituições do que os mais velhos”, reconhece Ana Maria Mello, superintendente da Associação de Amigos do Autista (AMA), mãe de um rapaz de 37 anos com comprometimento intelectual pronunciado. “Meu filho mesmo não tem condições de trabalhar, mas mesmo para os que têm mais autonomia, infelizmente, há pouquíssimas opções para esse público.” Na própria AMA, com cerca de 200 funcionários, existem só dois contratados pelo regime de cotas. “Como o próprio nome diz, o transtorno do espectro autista (TEA) aparece em variados graus e, de fato, nem todos estão aptos a trabalhar, mesmo em tarefas simples, como empacotar objetos”, explica a superintendente. Além disso, muitos sequer têm a vontade de seguir alguma atividade profissional; é preciso fazer primeiro um trabalho com os jovens que poderiam seguir um encaminhamento mais autônomo.

INTELIGÊNCIA E DIFICULDADE

Espera-se que na idade adulta eles estejam qualificados profissionalmente e encontrem uma ocupação que os ajude a obter alguma autonomia. Até recentemente, quase não existia esse tipo de trabalho para um segmento crescente da população: adultos com autismo de alto funcionamento, mesmo em países industrializados. Estudos americanos, aliás, mostram que esse grupo é subempregado em comparação com pessoas com deficiências cognitivas mais graves, o que pode favorecer a solidão e o abatimento emocional. A combinação única entre inteligência comum ou alta e dificuldades de compreensão social pode deixar esses jovens adultos em uma situação frustrante: muitos apresentam os mesmos objetivos que seus pares com desenvolvimento considerado típico e, ainda que se esforcem, as oportunidades são raras.

Pais, psicólogos, médicos, pesquisadores e educadores reconhecem o problema. Nos últimos anos, surgiram nos Estados Unidos alguns projetos voltados para o atendimento desse grupo negligenciado. Atualmente, por exemplo, Maria está matriculada num plano de estágio em um dos programas mais bem estruturados, o Aspire, com base no Hospital Geral de Massachusetts (MGH). Ela trabalha meio período e diz gostar da socialização com os colegas. “Sair, conversar, usar o transporte público tem sido uma grande mudança”, diz Amira. A prevalência da síndrome continua a subir e, cada vez mais, pessoas com o diagnóstico entram na idade adulta. Alguns projetos buscam facilitar essa transição à medida que a pessoa cresce.

O espectro do autismo abrange um vasto conjunto de sintomas, mas todos com o diagnóstico têm algo em comum: a falta de facilidade de interação social. Adultos jovens que participam de programas específicos manifestam esses prejuízos de diversas formas. Para muitos, é difícil identificar emoções alheias, discernir o tópico da conversa e a maneira apropriada de se comportar em público ou compreender os próprios sentimentos e as necessidades.

Obviamente essas dificuldades pesam muito na hora de encontrar e manter um emprego. Pessoas com outros tipos de problema, como distúrbios da fala e linguagem, dificuldades de aprendizagem e até mesmo deficiência intelectual, apresentam taxas muito mais elevadas de emprego, o que sugere que os números entre os adultos com autismo não podem ser explicados somente pelos prejuízos. “Em geral, as empresas buscam profissionais flexíveis, sociáveis, com boa rede de contatos e capacidade de interação, e é justamente nessas áreas que a pessoa com autismo tem dificuldade”, observa a psicóloga Fernanda Lima, diretora de formação da Specialisterne. A empresa social foi fundada há 13 anos na Dinamarca, quando um diretor do departamento de tecnologia de informação (TI), pai de um menino autista, na ocasião com 7 anos, viu que o filho havia desenhado um complexo índice de um mapa, extremamente preciso, com mais de 500 caracteres, incluindo letras e números – e não havia cometido um erro sequer. Hoje, está em 32 cidades em 15 países, onde possibilitou a colocação profissional de mais de mil pessoas, vinculadas diretamente aos escritórios e por meio de parcerias.

A consultoria chegou ao Brasil há um ano e até agora já foram formadas 33 pessoas, 13 delas colocadas no mercado de trabalho e as demais em processo de inclusão profissional. As contratações ocorreram nas cidades de São Paulo e São Leopoldo e, em breve, no Rio de Janeiro. Mas a proposta é aumentar esse número e, para isso, terá início um novo curso de formação em São Paulo, com duração de cinco meses. Em 2015, no Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo, foi iniciado um debate na Organização das Nações Unidas (ONU) entre representantes da Specialisterne e as duas maiores empresas mundiais do setor de TI, a SAP e a HP, para apresentar os benefícios de contratar pessoa com TEA. A SAP tem hoje mais de cem contratados e a HP, 37.

“A ideia não é que as empresas sejam benevolentes em relação a essas contratações, mas percebam o valor agregado que essa mão de obra especializada oferece”, salienta a psicóloga. Entre as vantagens profissionais de pessoas autistas de alto funcionamento (com os quais a Specialisterne trabalha) estão características como excelente memória, facilidade de raciocínio lógico e de manter a atenção prolongada no desempenho de uma tarefa que outros poderiam considerar desinteressante e tediosa, habilidade para detectar erros e padrões repetitivos, perseverança, honestidade (até pela falta de familiaridade com a dissimulação). “É o que chamamos de ‘paixão pelos detalhes’, que pode ser tão útil para o mercado”, diz Fernanda Lima.

A estimativa é que, pelo mundo afora, mais de 80% dos adultos com diagnóstico de autismo estejam fora do mercado de trabalho. “O fato é que, apesar das iniciativas que temos hoje, esses jovens estão em alto risco, principalmente após a saída do ensino médio, um período atribulado em que devem encontrar maneiras de participar do mundo do trabalho e da vida acadêmica”, afirma o psicólogo Paul Shattuck, professor na Universidade Drexel. Segundo ele, essa situação existe, em parte, porque os serviços de apoio foram criados levando em conta as necessidades de pessoas com deficiência intelectual, e não evoluiu muito ao longo do tempo. “Quem tem quociente intelectual (QI) mediano, mesmo que apresente dificuldades e peculiaridades na interação social, raramente consegue ajuda”, diz. Isso é realidade para muitos adultos que participam do Aspire. Apesar de o rótulo “síndrome de Asperger” não estar mais incluído no DSM-5, o manual psiquiátrico de transtornos mentais, muitos clientes do programa carregam esse diagnóstico ou se identificam com ele. Outros preferem autismo de alto funcionamento ou TID, que se refere ao transtorno invasivo do desenvolvimento, outro termo que não aparece mais no DSM, mas está associado a um nível relativamente alto de habilidades.

Mesmo quando essas pessoas encontram emprego, em geral as empresas costumam oferecer regime de voluntariado ou de meio período. Um levantamento mostrou que apenas 27 dos 48 participantes da amostra já haviam trabalhado desde o ensino médio; destes, apenas um era capaz de se sustentar. Já o Aspire, não disponível no Brasil, foi lançado há 12 anos, quando se separou do YouthCare (um programa de assistência a jovens), um projeto maior, que atende crianças com diversos tipos de problemas de saúde mental. O psicólogo clínico e diretor-executivo do Aspire, Scott McLeod, esclarece que o número de diagnósticos havia aumentado. E a YouthCare recebia muitos casos de pacientes no espectro. Os conselheiros decidiram, então, que precisavam de um programa voltado exclusivamente para o autismo.

Segundo a psicóloga escolar e diretora do programa, Dot Lucci, o objetivo é abordar o que a equipe do Aspire chama de três S: self-awareness (autoconhecimento), social competency (competência social) e stress management (gestão do estresse). Ela afirma que muitos que participam do projeto são brilhantes. “Mas, se você não é consciente de si nem apto socialmente e é incapaz de lidar com a ansiedade, nem toda inteligência do mundo pode ajudar. Nessas condições, dificilmente a pessoa será capaz de conseguir se manter um emprego ou permanecer num relacionamento”, argumenta.

NO TRABALHO

Alex se senta à mesa em uma conferência ao lado de seu supervisor, Kevin Heffernan. Ele está chegando ao fim de seu estágio de 14 semanas na divisão de Imobiliário Corporativo da Liberty Mutual. O rapaz conseguiu a vaga por meio do programa Aspire, que coloca profissionalmente jovens adultos com autismo em empresas nos arredores de Boston, além de oferecer apoio e orientação. Alex está entusiasmado com a experiência. “A oportunidade me deu um motivo para acordar”, diz. A experiência também lhe ensinou habilidades de trabalho essenciais, como fazer tabelas dinâmicas no Excel, algo de que se orgulha muito, a julgar pelo sorriso tímido em seu rosto quando menciona isso.

Heffernan conta que assim que terminar o estágio o garoto pode se candidatar a alguns cargos na empresa, e tem boas chances de conseguir uma vaga. “O céu é o limite para ele”, diz sorrindo. Não é somente sua capacidade de trabalho que impressiona o supervisor, mas também a forma como interage com os colegas. Antes de Alex começar a trabalhar, Heffernan foi avisado de que o rapaz era tímido e ficava ansioso em algumas situações sociais. “Meu radar ficava ligado”, admite o patrão. Mas com o tempo Alex foi se sentindo mais à vontade com os colegas de trabalho. “Ele está indo muito bem, obrigado”, comemora Heffernan.

Estudos sobre programas de treinamento profissional para pessoas com autismo, embora preliminares, sugerem que a abordagem pode ajudar os mais crescidos, como Alex, a ter sucesso. Por exemplo, em um ensaio clínico do programa de transição do ensino médio – projeto SEARCH, que atende adultos com a síndrome nos Estados Unidos, os participantes completaram um programa de estágio de nove meses incorporado em um negócio grande da comunidade, como um hospital, por exemplo, em que passaram por diferentes postos de trabalho e aprenderam diversas habilidades práticas, como usar o transporte público para chegar ao local. Eles tiveram também apoio individualizado de especialistas em autismo. Enquanto isso, o grupo de controle recebeu os serviços-padrão prestados pela escola. Os dados são animadores: dos 24 adultos que concluíram o estágio, 21 conseguiram um emprego, em comparação com apenas um dos 16 entre os outros voluntários. Essa diferença se manteve por três meses. E talvez ainda mais importante: os que participaram do programa ganharam independência ao longo do tempo – isto é, precisavam cada vez menos de suporte – o que, infelizmente, não foi observado no grupo de controle.

O projeto oferece orientação, atividades sociais em grupo e oportunidades de estágio. O Aspire dispõe também de serviços que facilitam a aproximação entre os estudantes, como o acampamento de verão do primeiro ano, em que os alunos têm a oportunidade de desenvolver habilidades práticas relacionadas à vida no campus. Assim que ingressam na faculdade, podem se inscrever no programa de tutoria do Aspire. Cada participante conhece um universitário bem articulado no campus, com quem forma um par. Esse aluno ajuda a pessoa com autismo a se familiarizar com os serviços e principais recursos, oferecendo suporte contínuo.

Para quem tem deficiência intelectual, programas como Next Steps (próximos passos), da Universidade Vanderbilt, permitem que os alunos tenham aulas ao lado de colegas, aprendam competências profissionais e sociais e ganhem um certificado após dois anos. Nos Estados Unidos, outras iniciativas para adultos com a síndrome também focam o emprego e a educação continuada. Um exemplo é o Programa de Estágio da Faculdade, com base em Indiana, Califórnia, Massachusetts e Nova York, voltado para estudantes universitários no espectro do autismo que não apresentam prejuízos intelectuais.

O projeto SEARCH também atende esse perfil ou quem apresenta qualquer prejuízo significativo no desenvolvimento. É importante fazer essas distinções por causa da grande variabilidade de funcionamento de pessoas com autismo. Não é fácil oferecer tratamento a essa população tendo em vista a heterogeneidade dentro do espectro. Diferenciar os casos também ajuda a assegurar programas de financiamento – a maioria vem de doações filantrópicas privadas, o que permite oferecer auxílio financeiro às famílias dos clientes.

Esses programas favorecem não só conseguir emprego, mas também mantê-lo com sucesso, o que, muitas vezes, exige ter de lidar com situações delicadas. Um dos estagiários do Aspire se mostrou bastante angustiado, por exemplo, depois de encontrar um colega de trabalho de etnia diferente da sua. Disse ao supervisor que não poderia trabalhar com essa pessoa porque já havia passado por uma experiência negativa com alguém da mesma cultura. Ana Maria Mello, da AMA, também se lembra de que, em uma entrevista de um candidato a uma vaga de emprego, ouviu do rapaz que nove horas era “muito cedo” para começar a trabalhar e ele não gostava de acordar cedo. “Sincero e sem rodeios”, comenta.

Essas situações podem ser desconfortáveis, mas McLeod enxerga isso como uma ótima oportunidade de aprender onde mais importa: na hora e na vida real. De fato, “fazer intervenções no cotidiano”, como ele mesmo diz, é a chave da abordagem do Aspire. “Um dos principais desafios para quem tem a síndrome é a transferência e generalização das habilidades”, argumenta. Ele acredita que compreender a perspectiva do outro pode fazer sentido num consultório terapêutico, mas ser algo extremamente difícil de praticar na vida diária.

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DE OLHO NO FUTURO

Maria se senta com um pequeno grupo de homens e mulheres jovens à mesa numa sala de reuniões, esperando começar o seminário semanal de estágio. Ela conversa com uma garota morena e sorridente chamada Nicole enquanto os outros verificam os smartphones. Um quadro de avisos na parede tem um papel que diz: “Eu almejo…”. Logo ao lado, há algumas estrelas desenhadas com metas escritas pelos clientes, desde sonhos a coisas simples: “Seja um piloto da Nascar”; “Chegue ao trabalho cinco minutos antes”; “Pergunte aos outros sobre seus interesses”. O psicólogo clínico Bretton Mulder, diretor do departamento de adolescentes e jovens adultos do Aspire, começa a sessão perguntando aos estagiários como foram as coisas nas primeiras duas semanas de trabalho. Maria se queixa de que levou duas horas para pegar seu crachá de segurança na MGH, onde tem atuado na área de gestão de materiais. Outros mencionam problemas de tráfego ou da socialização por meio da música. Depois de ouvir o grupo, Mulder discute maneiras de distinguir comentários relacionados ao tema na hora de participar de reuniões. Fala também sobre a importância de evitar julgar colegas de trabalho com base na aparência ou no nível de educação, por exemplo.

Durante a reunião, sem se dar conta, Nicole interrompe seus companheiros, mas logo em seguida percebe. Coloca uma das mãos sobre a boca e gentilmente sinaliza com a outra na direção de quem estava na vez de falar, como se dissesse, “Opa… vá em frente”. McLeod destaca que para muitas pessoas com a síndrome é um desafio demonstrar esse nível de autoconsciência exemplificado por Nicole. “No autismo, a dificuldade de compreender a perspectiva alheia pode vir acompanhada da confusão entre si e o outro”, explica. Para ajudar os participantes do Aspire e de outros programas a descobrir a própria identidade, os tutores os incentivam a refletir sobre suas forças, fraquezas, seus pensamentos e sentimentos. Um processo que pode levar a importantes compreensões: “Sou uma pessoa brilhante, mas que costuma reagir intensa- mente a certos estímulos sensoriais”, exemplifica McLeod. Os clientes são encorajados a partilhar esses aspectos relevantes da personalidade com amigos ou colegas de trabalho, o que tende a favorecer a aceitação e compreensão mais rapidamente.

Considerando a autoconsciência como base mental e as habilidades sociais aplicadas como componentes práticos, um terceiro fator, não raro deixado de lado, mas crucial para auxiliar adultos no espectro do autismo, é a capacidade de lidar com o estresse. Muitos projetos, incluindo o Aspire, ensinam a seus clientes técnicas da medi- tação mindfulness e ioga, por exemplo. Os dados preliminares indicam que, com esses três pilares, muitos clientes conseguem arrumar um trabalho e, em algum momento, dispensar os programas de apoio. No entanto, a prevalência do transtorno continua crescendo. Uma em cada 68 crianças tem autismo, segundo estimativas de 2010 dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), um aumento de 30% em relação aos números publicados em 2008. Pesquisas recentes sugerem que uma das principais razões dessa diferença se deve ao diagnóstico mais frequente precisamente do perfil atendido pelo Aspire: pessoas cognitivamente mais capazes.

Embora o projeto ainda não tenha mensurado os resultados, os dados da pesquisa sugerem que os clientes e suas famílias es- tão bem satisfeitos. Para algumas pessoas como Maria, o programa tem sido uma espécie de bote salva-vidas. O estágio na MGH pode não ser o emprego dos sonhos. “Qualquer um pode fazer isso”, ela diz a seus colegas com naturalidade durante o seminário de estágio. No entanto, Maria encara isso como um grande passo em direção ao seu objetivo de longo prazo, que é ser paramédica. E, talvez mais importante, Amira conta que a equipe ajuda a filha a se sentir “respeitada e admirada. Essas pessoas enxergam as possibilidades e o potencial que ela tem”. Como resultado, a perspectiva de Maria mudou drasticamente. “Ela costumava dizer que não tinha futuro”, desabafa a mãe. “Agora, minha filha faz planos.”

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PESSOAS QUE PRECISAM DE PESSOAS

Um rapaz de 19 anos, de pele clara e cabelos escuros, chamado Mateus, permanece no centro de um círculo, cercado por seus pares sentados em cadeiras dobráveis. “Preciso ganhar dinheiro rapidamente. O que devo fazer?”, pergunta.

“Roubar todo o ouro da cidade… ou assaltar um banco em Paris!”, exclama Dani.

“Trabalhar turnos de 24 horas para o resto da vida”, Nicolas sugere.

“Vender os braços e as pernas”, diz Jane, que escuta muitas risadas.

Esses jovens adultos com autismo participam de um jogo de improvisação chamado Bad advice (mau conselho), promovido no Aspire. A pessoa no centro do círculo apresenta um problema a ser resolvido, enquanto o restante tenta chegar à pior sugestão possível. Além de ser uma atividade divertida para “quebrar o gelo”, o exercício oferece o conceito de “prós e contras” sociais; a premissa é que ensinar como não se comportar em situações coletivas registra nos participantes, de maneira implícita, como devem agir.

Depois, começa mais uma sessão de grupo Excursões de Sábado do Aspire. Para a maioria dos clientes, os encontros proporcionam um passeio extremamente necessário. Embora muitos com autismo sejam considerados distantes e desinteressados na socialização, para outros tantos, o oposto é verdadeiro. Um estudo da Universidade do Missouri com adultos diagnosticados com a síndrome, publicado em abril passado, revela que uma boa parte sofre com a solidão e o isolamento, o que pode levar à depressão e à ansiedade. O afastamento social pode ser grave: um estudo nacional feito com adolescentes com autismo, publicado em 2011, mostra que mais da metade não havia se aproximado de um amigo no ano anterior. E, quando outro grupo de pesquisadores perguntou aos pais de adultos com a síndrome sobre necessidades não atendidas dos filhos, muitos citaram a interação coletiva. Um grande número de autistas nessa idade anseia se relacionar socialmente, mas não sabe como.

A excursão oferece uma oportunidade não só de desfrutar da companhia um do outro, mas de praticar habilidades em que os jovens adultos têm dificuldade, como o que a equipe chama de “atividades cotidianas” – tarefas como organizar um passeio e gerir tempo e dinheiro.  Após o jogo de improvisação e antes que o grupo sinta o vento de primavera no início da tarde, os profissionais da Aspire lembram a todos que vão assistir a um filme no centro da cidade durante a semana. Eles reveem a programação para o dia, verificam a rota de metrô para o cinema e distribuem carteiras com cartões de débito pré-carregados e bilhetes de metrô. No caminho de ida e volta do teatro, há bastante tempo para praticar outra habilidade essencial: a conversa.

Dan, um jovem com o cabelo muito rente e óculos de sol, pergunta a data de aniversário dos colegas para ler o horóscopo num aplicativo de smartphone. Atualmente, as saídas são tranquilas.

Depois do evento, todos costumam se reunir para discutir os “altos e baixos”. (Consenso: assistir ao filme Lego foi considerado positivo; Caminhar contra o vento, negativo.) No entanto, há percalços ocasionais.  Em uma viagem para o Arsenal da Marinha, com um grupo diferente, um dos membros, cansado de caminhar, se deitou para descansar em uma cama a bordo de um navio. Essas situações complicadas podem ser uma boa oportunidade de discutir comportamentos sociais adequados – por exemplo, explicando que, em algumas ocasiões, é necessário agir de forma diferente em público e no privado.

O programa Aspire realiza a maior parte das intervenções coletivamente, em vez de trabalhar no caso a caso. “Acreditamos que ações individuais não são desafiadoras; entendemos que o grupo é um dos lugares mais poderosos para aprender aptidões”, observa o psicólogo Scott McLeod. Ao mesmo tempo, esse contexto é possível causar mais segurança e previsibilidade do que diversas situações cotidianas, o que pode permitir que os clientes se sintam menos apreensivos e pratiquem habilidades que talvez de outra forma não os deixassem à vontade. “A razão de não demonstrar determinada capacidade social, em geral, se deve a fatores muito mais complexos do que apenas não ter tal habilidade”, completa. Em muitos casos, outras questões pesam, como ansiedade, dificuldade de compreender a perspectiva alheia ou simplesmente não assimilar o propósito de certos comportamentos coletivos. É por isso que o Aspire evita simplesmente desenvolver aptidões nos clientes, uma abordagem que, segundo McLeod, “falhou completamente”.

Poucos estudos (e distantes entre si) abordam a melhor forma de ajudar adultos com autismo a aprender e a praticar habilidades sociais. O programa desenvolveu um estilo de trabalho a partir de diversos métodos com base em evidências psicológicas. Um tutor enfatiza os pontos fortes do cliente e oferece comentários positivos e negativos, uma técnica apoiada nos princípios da psicologia positiva.

Eles também encorajam os participantes a raciocinar sobre os pensamentos e sentimentos subjacentes ao comportamento alheio e próprio, um princípio central da terapia cognitivo-comportamental. “A premissa é que podemos aprender aptidões coletivas por meio da troca com os pares, respeitando o próprio tempo e o do outro.

Mas, se não temos ideia do que está em jogo, isso se torna superficial. Tudo se desfaz ao encararmos uma situação diferente”, argumenta Dot Lucci. “Por isso, propomos algo diferente.”

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OUTROS OLHARES

DIVERSÃO COM RESPONSABILIDADE

No mundo infinito da internet, há de tudo, criando uma necessidade de abordar temas que englobam os impactos da exposição de crianças e adolescentes na web.

Diversão com responsailidade

Em um vídeo postado no YouTube e no Facebook, um menino de apenas 5 anos realiza um experimento curioso. Durante 30 dias, a criança elogia uma planta enquanto “maltrata” outra do mesmo tamanho. É um experimento sobre o efeito do bullying. No final, a criança se emociona ao perceber que a planta alvo de seu desafeto morreu. Em outro vídeo, duas crianças dançam sorridentes ao som do funk Sarrada no Ar, enquanto seus pais falam em alto e bom som “continuem”, “não parem não”. Enquanto isso, os filhos dançam até o chão. Não demora para eu achar um vídeo de duas adolescentes ensinando como camuflar o celular para usá-lo em sala de aula sem alertar o professor.

Não há dúvida de que o primeiro vídeo citado é interessante e resguarda uma mensagem positiva – um gargalo para as generalizações grotescas contra a internet. Generalizar é mais fácil, mas esse e tantos outros exemplos demonstram o quão perigoso é trilhar pelo caminho mais curto e simples. Quando falamos em conteúdo protagonizado por crianças e adolescentes, vale uma investigação mais profunda. Nesse caso, a raiz são os pais, que precisam ser ouvidos e explicar a origem desses canais virais e a maneira como veem essas produções compartilhadas na internet. Falar é um ato de coragem e escutar sobre aprendizagem nos ajuda a lidar com esses conflitos do ciberespaço.

Participei como ouvinte do 3° Workshop “Impactos da Exposição de Crianças e Adolescentes na Internet”, organizado pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGl.br) e Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), que contou com a presença de diversos profissionais, dentre eles Luiz Fernando Riesemberg, pai do YouTuber mirim Tiago, que protagonizou o vídeo viral do experimento de bullying com as plantas. Examinando a fala de Riesemberg, nota-se uma preocupação soberana dele: a felicidade do Tiago. O pai recorda que tudo começou a partir de uma brincadeira:  “Percebi que ele está entediado num sábado à tarde e resolvi fazer uma coisa diferente para ele. Ele então gravou um vídeo e não se aguentou e postou nas redes sociais. O feedback de amigos e familiares foi positivo, claro, motivando o pai a repetir o ato de compartilhar o vídeo do filhote. Até aí parece que o desejo do pai impera, mas ele lembra que sempre conversou com o filho sobre as postagens e deixou claro que era o filho que escolhia gravar ou não. O que chama atenção é a ênfase na fala de não apresentar a produção de conteúdo em vídeo como um compromisso para a criança.

Há vários canais protagonizados por crianças que estampam na primeira imagem do vídeo mensagens como “vídeos novos todas terças e quintas”. De fato, esse não é um bom caminho quando alguém pensa primeiramente na criança. Reisemberg lembra também que o Tiago sempre aprende algo novo quando grava e faz isso porque gosta e se diverte. Por parte do pai Luiz Fernando, nota-se uma legítima presença dele em todas as redes sociais, acompanhando os comentários e toda repercussão do vídeo de seu filho. Ele ainda observa que lê todos comentários e bloqueia perfis que escrevem frases ofensivas. Riesemberg é vigilante da imagem compartilhada do seu próprio filho, revelando que seu amor paternal é marcado por um senso temperado de autonomia, diversão e responsabilidade.

 

TIAGO J.B. EUGÊNIO – é mestre em Psicobiologia e Estudos do Comportamento Humano. É designer de aprendizagem na Rhyzos Educação e escreve sobre educação, tecnologias e Neurociências.

E-mail:tiagoeugenio20@gmail.com – site: http://www.tiagoeugenio.com.br

GESTÃO E CARREIRA

JAMAIS CONFIE NA PRIMEIRA SACADA

Siga a regra de Thomas Edison: Se quiser uma boa ideia, pense em dez outras.

Jamais confie na primeira sacada

Thomas Edison, um dos ícones históricos da inovação, adotava um método que pode explicar, em boa parte, o sucesso de suas empreitadas: sempre que pedia à equipe de seu laboratório uma solução para desenvolver um produto ou componente, Edison exigia também que trouxessem dez propostas em vez de uma. Longe de ser apenas um capricho de um chefe rigoroso ou detalhista, esse método era uma forma de combater o fenômeno da chamada “preguiça cerebral”, responsável por adotar a primeira proposta surgida, que raramente é a melhor possível. Neurocientistas do Baylor College of Medicine, em Houston, se basearam justamente no método de Edison para elaborar exercícios que evitam a preguiça cerebral, partindo do princípio de que a chave para inovar é sempre desenvolver a ideia inicial, para enriquecer ainda mais o ambiente em que ela surgiu.

Nosso cérebro, explicam os cientistas, geralmente adota o caminho da menor resistência – isto é, evita ficar elaborando em excesso –, pois esta seria a forma mais rápida para avançar na tarefa. O resultado, porém, pode deixar a desejar. O neurocientista David Eagleman, um dos autores da pesquisa do Baylor College, realizou um interessante exercício: primeiro pediu à sua plateia que imaginasse a paisagem de uma praia e depois perguntou quantas pessoas haviam vislumbrado espuma de ondas do mar ou cocos balançando em um coqueiro. Ninguém levantou a mão. Isso porque, explicou Eagleman, seus cérebros geraram as imagens mais simples possíveis para atender rapidamente à sua solicitação, sem maior elaboração.

Pesquisa da Wharton School, da Universidade da Pensilvânia, coordenada pelo professor Adam Grant (autor de Originals, livro que trata de inovação), confirma a conclusão dos colegas do Baylor: os maiores inovadores não necessariamente elaboram as melhores ideias, mas persistem o suficiente para obter mais ideias. Em seu livro, Grant explora os métodos necessários para reconhecer uma boa ideia, saber defendê-la, construir uma rede de aliados para apoiá-la e escolher o momento certo para implementá-la. “As primeiras ideias tendem a ser mais convencionais ou óbvias”, diz Grant, para quem a inovação só começa quando empacamos na busca inicial de soluções e, então, somos obrigados a explorar novos territórios mentais. Como diria Edison em uma conhecida frase, “não fracassei, apenas cheguei a 10 mil propostas que não funcionaram” – até obter a boa ideia.

ALIMENTO DIÁRIO

JOÃO 16: 16-22

Alimento diário

A partida e o retorno de Cristo. A tristeza e a alegria são preditas

Nosso Senhor Jesus, para o consolo dos seus discípulos entristecidos, aqui promete que os visitaria outra vez.

 

I – Observe a insinuação que Ele lhes fez, do consolo que lhes designava, v. 16. Aqui Ele lhes diz:

1. Que, dentro de pouco tempo, eles deixariam de vê-lo: “Um pouco”, e vós, que me vistes durante tanto tempo, e ainda desejais me ver, “não me vereis”, e, portanto, se tivessem alguma pergunta a fazer ao Senhor Jesus, deviam fazê-la rapidamente, pois agora Ele estava se despedindo deles. Observe que é bom considerarmos o quanto nossos períodos de graça estão próximos do seu final, para que possamos nos motivar a aproveitá-los enquanto permanecerem. Agora nossos olhos veem nossos professores, veem os dias do Filho do homem. Mas, talvez, dentro de pouco tempo, não os vejamos mais. Eles perderam Cristo de vista:

(1) Na sua morte, quando Ele se retirou deste mundo, e nunca mais se apresentou nele abertamente. O máximo que a morte faz aos nossos amigos cristãos é tirá-los da nossa vista, não da existência, nem da bem-aventurança, mas de qualquer relacionamento conosco. Eles estarão somente fora da nossa vista, mas não fora da nossa mente.

(2) Na sua ascensão, quando Ele se retirou deles (daqueles que, depois da sua ressurreição, tiveram algum tempo de convivência com Ele), e passou a estar fora do alcance da vista deles. Uma nuvem o recebeu, e, embora eles tivessem os olhos fixos nele, não o viram mais, Atos 1.9,10; 2 Reis 2.12. Veja 2 Coríntios 5.16.

2. Que, ainda assim, em breve, eles recobrariam a visão que tinham dele. “Outra vez um pouco, e ver-me-eis”, e, portanto, não deveis entristecer-vos como aqueles que não têm esperança. Sua despedida não era uma despedida final. Eles o veriam outra vez:

(1) Na sua ressurreição, pouco tempo depois da sua morte, quando Ele se apresentou vivo, por muitas provas infalíveis, e isto dentro de muito pouco tempo, nem sequer quarenta horas. Veja Oséias 6.2.

(2) Pelo derramamento do Espírito, pouco tempo depois da sua ascensão, que dissipou a névoa da ignorância e dos enganos em que eles estavam quase perdidos, e lhes deu uma percepção muito mais clara dos mistérios do Evangelho de Cristo do que eles já tinham tido. A vinda do Espírito era a visita de Cristo aos seus discípulos, não uma visita transitória, mas uma permanência, e uma visita que recobrou abundantemente a visão que tinham dele.

(3) Na sua segunda vinda. Eles viram o Senhor Jesus outra vez quando foram levados, um por um, até Ele, através da morte. E o verão juntos, no fim dos tempos, quando Ele vier nas nuvens, a ocasião em que todo olho o verá. Pode-se dizer verdadeiramente que era somente um pouco, e eles o veriam. Pois, o que são os dias do tempo, comparados aos dias da eternidade? 2 Pedro 3.8,9.

  1. Ele dá a razão: “‘Porquanto vou para o Pai’, e, portanto”:

(1) “Eu devo lhes deixar por algum tempo, porque meu trabalho me chama para o mundo superior, e vocês devem se contentar em me poupar, pois, na verdade, meu trabalho beneficia cada um de vocês”.

(2) “Portanto, vocês me verão novamente, dentro de pouco tempo, pois o Pai não irá me reter, o que seria prejuízo para vocês. Se Eu prosseguir com sua missão, vocês me verão novamente tão logo meu trabalho esteja concluído, tão logo seja conveniente”.

Ao que parece, tudo isto se refere mais à sua partida na morte, e ao seu retorno na ressurreição, do que à sua partida na ascensão, e ao seu retorno no final dos tempos. Pois era sua morte que os entristecia, e não sua ascensão (Lucas 24.52). E entre sua morte e sua ressurreição, realmente se passou pouco tempo. E a expressão bíblica pode ser interpretada não como “um pouco”, como em João 12.35), mas “por um pouco, e não me vereis”, a saber, os três dias em que o Senhor Jesus esteve no sepulcro. E outra vez, “por um pouco, e ver-me-eis”, a saber, os quarenta dias entre sua ressurreição e sua ascensão. Assim, podemos dizer dos nossos ministros e amigos cristãos: Um pouco, e não os veremos, seja porque eles devem nos deixar ou porque nós devemos deixá-los. Mas, assim como é certo que de­ vemos nos separar em breve, também não podemos nos esquecer de que, mais tarde, estaremos juntos para sempre. Ê como dizermos boa noite àqueles que nós esperamos ver, com alegria, na manhã seguinte.

 

II – A perplexidade dos discípulos com a insinuação que lhes foi dada. Eles ficaram confusos quanto a como interpretá-la (vv. 17,18). Alguns deles, fossem alguns dos mais fracos, que eram menos capacitados, ou alguns dos mais inquisidores, que eram mais desejosos de compreendê-lo, disseram, mansamente, entre si: Que é isto que nos diz? Embora Cristo frequentemente tivesse falado com este objetivo antes, eles ainda estavam às escuras. Embora estivessem recebendo vários preceitos, um depois do outro, eles não seriam úteis, se Deus, o Pai, não lhes desse o entendimento. Veja aqui:

1. A fraqueza dos discípulos, expressa no fato de que não conseguiam compreender uma mensagem tão clara, da qual Cristo já tinha lhes dado uma explicação, tendo dito a eles, com tanta frequência, e em termos tão claros, que Ele seria morto, e no terceiro dia ressuscitaria. Contudo, dizem eles: “Não sabemos o que diz”. Pois:

(1) A tristeza tinha enchido seus corações, e os deixava incapazes de receber as palavras de consolo. As trevas da ignorância e as trevas da melancolia comumente aumentam e complicam umas às outras. Os enganos provocam as tristezas, e as tristezas confirmam os enganos.

(2) A noção do reino secular de Cristo estava tão profundamente enraizada neles, que eles não conseguiam compreender o significado de todas estas mensagens do Senhor. Eles não sabiam como conciliar estas mensagens com aquela noção. Quando nós pensamos que as Escrituras devam estar de acordo com as falsas ideias de que estamos impregnados, não é de admirar que reclamemos de dificuldades. Mas, quando nossas reflexões são atraídas para a revelação, o assunto se torna uma questão de fácil compreensão.

(3) Aparentemente, o que os confundiu foi a expressão “um pouco”. Se o Senhor Jesus deveria ir, de qualquer modo, eles não conseguiam entender como Ele os deixaria tão rapidamente, quando sua permanência, até agora, tinha sido tão curta, e por um espaço de tempo tão curto, comparativamente. Desta maneira, é difícil descrevermos, para nós mesmos, essa mudança como próxima, ainda que sabemos que certamente vir á, e que pode vir repentinamente. Quando nós dizemos: “Um pouco”, e devemos ir daqui, “um pouco”, e devemos abrir mão da nossa explicação, nós não sabemos como compreender isto, pois sempre entendemos que a visão é para muitos dias, Ezequiel 12.27.

2. A vontade que tinham de ser instruídos. Quando estavam perplexos sobre o significado das palavras de Cristo, eles conversaram sobre isto, e pediram ajuda uns aos outros. Por meio da conversa sobre as coisas divinas, nós emprestamos o esclarecimento de outros, e, ao mesmo tempo, aperfeiçoamos o nosso. Observe com que exatidão eles repetem as palavras de Cristo. Embora nós não possamos resolver plenamente todas as dificuldades com que nos deparamos nas Escrituras, ainda assim não devemos, por causa disto, deixá-las de lado. Devemos determinar o que não podemos explicar, e esperar até que Deus nos revele estas coisas.

 

III – A explicação adicional daquilo que Cristo tinha dito.

1. Veja aqui por que Cristo explicou (v. 19): porque Ele sabia que eles desejavam lhe perguntar, e planejou isto. Observe que devemos levar os nós que não podemos desatar ao único que pode nos dar algum entendimento. Cristo sabia que eles desejavam perguntar a Ele, mas estavam acanhados e envergonhados para fazê-lo. Observe que Cristo toma conhecimento dos desejos piedosos, embora ainda não tenham sido oferecidos. Ele conhece as queixas que não podem ser proferidas, e até mesmo as antecipa, com as bênçãos da sua bondade. Cristo instruía àqueles que Ele sabia que estavam desejosos de pergunta-lhe, ainda que não perguntassem. Antes que eles peçam, Ele responde. Outro motivo pelo qual Cristo explicou foi porque Ele observou que eles estavam discutindo o assunto entre si: “Indagais entre vós acerca disto?’’ Bem, Eu vou esclarecer para vós”. Isto nos sugere quem são aqueles a quem Cristo deseja ensinar:

(1) Os humildes, que confessam sua ignorância, pois é isto o que suas perguntas evidenciam.

(2) Os diligentes, que usam os meios que possuem: “‘Indagais?’ Sereis ensinados. A qualquer que tiver será dado”.

2. Veja aqui como Ele explicou: não por meio de uma discussão agradável e crítica sobre as palavras, mas aproximando a questão deles. Ele lhes tinha dito que não mais o veriam, e depois o veriam, e eles não compreenderam o significado, e por isto Ele explica, falando da sua tristeza e alegria, porque normalmente nós avaliamos as coisas conforme elas nos afetam (v. 20): “Vocês irão chorar e lamentar minha partida, mas o mundo se alegrará nisto. E vocês ficarão entristecidos, enquanto Eu estiver ausente, mas, quando Eu retornai; sua tristeza se converterá em alegria”. Porém, Ele não diz nada sobre a expressão “um pouco”, porque viu que isto os confundiu mais do que qualquer outra coisa, e não é importante para nós conhecermos as horas e as ocasiões. Observe que os crentes sentem alegria ou tristeza conforme tenham ou não uma visão de Cristo, e os sinais da sua presença com eles.

(1) O que Cristo diz aqui, e nos versículos 21 e 22, sobre sua tristeza e alegria, deve, basicamente, ser interpretado como sendo o estado e as circunstâncias atuais dos discípulos, e, desta maneira, temos:

[1] A predição da sua tristeza: “Vós chorastes e vos lamentareis, e o mundo se alegrará, e vós estareis tristes”. Os sofrimentos de Cristo não podiam deixar de ser a tristeza dos seus discípulos. Eles choraram por Ele porque o amavam. A dor de um amigo nosso é uma dor para nós. Quando eles dormiram, foi por tristeza, Lucas 22.45. Eles choraram por si mesmos, e pela sua perda, e pelas tristes noções que tinham do que iria acontecer com eles, depois que Jesus tivesse partido. Não podia deixar de provocar tristeza perder aquele por quem eles tinham deixado tudo, e em quem tinham tido tantas expectativas. Cristo avisou aos seus discípulos, de antemão, a que esperassem tristezas, para que pudessem valorizar os consolos da maneira adequada.

[2] A alegria do mundo, ao mesmo tempo: “E o mundo se alegrará”. Aquilo que é a tristeza dos santos é a alegria dos pecadores. Em primeiro lugar, aqueles que são estranhos a Cristo irão permanecer na sua alegria carnal, e não se interessarão pelas suas tristezas. Ela não representa nada àqueles que passam pelo caminho, Lamentações 1.12. Em segundo lugar, aqueles que são inimigos de Cristo se alegrarão, porque esperarão tê-lo derrotado, e destruído seus interesses. Quando os principais dos sacerdotes pregaram Cristo na cruz, podemos supor que se alegraram com isto, como aqueles que habitam na terra, sobre as testemunhas mortas, Apocalipse 11.10. Que não seja surpresa para nós, se virmos outros triunfando, quando estivermos tremendo pela arca.

[3] O retorno da alegria a eles, no devido tempo: “Mas a vossa tristeza se converterá em alegria”. Assim como a alegria dos hipócritas, também a tristeza do verdadeiro cristão dura somente um pouco. Os discípulos ficariam felizes quando vissem o Senhor. Sua ressurreição era, para eles, como receber a vida estando mortos. E sua tristeza pelos sofrimentos de Cristo se converteria em uma alegria de tal natureza, que não poderia ser amortecida nem amargurada por nenhum sofrimento deles mesmos. Eles ficaram contristados, mas estavam sempre alegres (2 Coríntios 6.10). Tiveram vidas tristes, mas corações alegres.

(2) Os tópicos a seguir se aplicam a todos os fiéis seguidores do Cordeiro, e descrevem a situação comum dos cristãos.

[1] Sua condição e disposição era desolada. As tristezas eram seu destino, e a seriedade, seu estado de espírito. Aqueles que conhecem a Cristo devem, como Ele, conhecer a tristeza. Eles choraram e se lamentaram por aquilo a que os outros não davam importância, a saber, seus próprios pecados e os pecados dos que estavam à sua volta. Eles lamentam com os sofredores que lamentam, e lamentam pelos pecadores que não lamentam por si mesmos.

[2] O mundo, ao mesmo tempo, prossegue com toda a alegria. Eles riem agora, e passam seus dias tão jovialmente, que alguém poderia pensar que eles nem conheciam o sofrimento nem temiam. A alegria carnal e os prazeres certamente não são as melhores coisas, pois os piores homens não terão uma cota tão grande deles, e os favoritos do céu serão estranhos a eles.

[3] A tristeza espiritual em breve se converterá em alegria eterna. A alegria é semeada nos justos de coração, que semeiam lágrimas, e, sem dúvida, em breve segarão com alegria. Sua tristeza não somente se seguirá de alegria, mas se converterá em alegria, pois os mais preciosos consolos surgem das tristezas piedosas. Desta maneira, o Senhor faz uma ilustração, através de uma comparação com uma mulher prestes a dar à luz, a cujas tristezas Ele compara as dos seus discípulos, para incentivá-los, pois a vontade de Cristo é que seu povo seja um povo consolado.

Em primeiro lugar, aqui está a comparação, ou parábola, propriamente dita (v. 21): ”A mulher, quando está para dar à luz, sente tristeza”, sente uma dor cortante, “porque é chegada a sua hora”, a hora que a natureza e a providência fixaram, que ela esperou e da qual não pode escapar; “mas, depois de ter dado à luz a criança”, desde que tenha nascido saudável, e seja um Jabez (1 Crônicas 4.9), e não um Benoni (Genesis 35.18), “já se não lembra da aflição”, seus gemidos e queixumes se acabam, e as dores pós-parto são mais fáceis de suportar; “pelo prazer de haver nascido um homem no mundo”, da raça humana, um filho, seja homem ou mulher, pois a palavra significa as duas coisas. Observe:

3. O fruto da maldição, na tristeza e dor de uma mulher prestes a dar à luz, de acordo com a sentença de Gênesis (Genesis 3.16): “Com dor terás filhos”. Estas dores são extremas, as maiores dores e tristezas são comparadas a elas (Salmos 48.6; Isaias 13.3; Jeremias 4.31; 6.24), e são inevitáveis, 1 Tessalonicenses 5.3. Veja o que é este mundo. Todas as suas rosas estão rodeadas de espinhos, todos os filhos elos homens são, de acordo com esta explicação, crianças tolas, que são um peso para aquela que os carregou desde o início. Isto vem do pecado.

4. O fruto da bênção, na alegria que existe por um filho trazido ao mundo. Se, depois da queda, Deus não tivesse mantido em vigor a bênção: “Frutificai, e multiplicai-vos”, os pais nunca poderiam ter considerado seus filhos com algum consolo. Mas o que é fruto de uma bênção é motivo de alegria. O nascimento de um filho é:

(a) Uma alegria para os pais. Isto os alegra grandemente, Jeremias 20.15. Embora os filhos sejam preocupações garantidas, e consolos incertos, e muitas vezes provem ser as maiores cruzes, ainda assim é natural que nos alegremos com o nascimento deles. Se pudéssemos ter certeza de que nossos filhos, como João, seriam cheios do Espírito Santo, poderíamos realmente, como seus pais, ter prazer e alegria no seu nascimento, Lucas 1.14,15.

Mas quando consideramos, não somente que eles nascem em um mundo de pecados, mas, como está escrito, que eles nascem em um mundo de armadilhas e em um vale de lágrimas, nós vemos razões para nos alegrarmos com temor, para que não se prove que seria melhor para eles que nunca tivessem nascido.

(b) É uma alegria que faz com que a angústia não seja lembrada, ou lembrada como águas que já passaram, Jó 11.16, Gênesis 41.51. Isto é apropriado para apresentar:

[a] As tristezas dos discípulos de Cristo neste mundo. Elas são como as dores do parto, certeiras e agudas, mas não duram muito tempo, e seu resultado é alegre. Eles nascem em meio às dores do parto, esta é a forma como a igreja é descrita (Apocalipse 12.2), como também toda a criação, Romanos 8.22. E:

[b] Suas alegrias depois destas tristezas. Elas irão enxugar todas as lágrimas, pois já as primeiras coisas serão passadas, Apocalipse 21.4. Quando eles nascerem naquele mundo abençoado, e colherem o fruto de todos os seus serviços e tristezas, o trabalho árduo e as angústias deste mundo não mais serão lembrados, assim como os de Cristo: “O trabalho da sua alma ele verá e ficará satisfeito”, Isaías 53.11.

Em segundo lugar, a aplicação da comparação (v. 22): ‘”Vós, agora… tendes tristeza’, e provavelmente te­ reis mais; ‘mas outra vez vos verei’, e vós me vereis, e então tudo ficará bem”.

1. Aqui o Senhor lhes fala novamente da tristeza que sentiam: “‘Vós, agora, na verdade, tendes tristeza’, porque Eu vos deixo”, algo que fica evidente na antítese: “Outra vez vos verei”. Observe que as partidas de Cristo são causas justas de tristeza para seus discípulos. Se Ele ocultar seu rosto, eles não devem se perturbar. Quando o sol se põe, o girassol se curva. E Cristo percebe estas tristezas, tem um recipiente para colher as lágrimas, e um livro para registrar os suspiros de todos aqueles que anelam pela graça.

2. Mais abundantemente do que antes, Ele lhes garante o retorno da alegria, Salmos 30.5,11. Ele mesmo passou pelas suas próprias tristezas, e suportou as nossas, pela alegria que se apresentava diante dele. E Ele deseja que nos incentivemos, com a mesma perspectiva. Três coisas recomendam a alegria:

(a) Sua causa: “Outra vez vos verei”. Eu vos farei uma visita gentil e amistosa, para saber notícias de vós, e para vos ministrar consolo”. Observe que:

[a] Cristo irá graciosamente retornar para aqueles que esperam por Ele, embora, por um breve momento, pareça ter se esquecido deles, Isaías 54.7. Os homens, depois de terem sido exaltados, dificilmente olham para seus inferiores. Mas o Jesus exaltado visitará seus discípulos. Não somente eles o verão na sua glória, mas Ele os verá na sua humildade.

[b] Os retornos de Cristo são retornos de alegria para todos os seus discípulos. Quando as evidências dúbias são esclarecidas, e a comunhão interrompida é revivida, a boca se enche de riso.

(b) Sua cordialidade: “O vosso coração se alegrará”. A consolação divina coloca alegria no coração. A alegria no coração é sólida, e não é extravagante; é secreta, e é algo com que um estranho não se intromete; é doce, e dá satisfação a um bom homem; é garantida, e não é facilmente rompida. Os discípulos de Cristo devem se alegrar fervorosamente em seus retornos, sinceramente e enormemente.

(c) Sua continuidade: ”A vossa alegria, ninguém vo-la tirará”. Os homens se empenharão em tirar a alegria deles. Eles o fariam, se pudessem. Mas não conseguirão. Alguns entendem isto como uma referência à alegria eterna daqueles que são glorificados. Aqueles que entram no gozo do Senhor não mais sairão. Podem nos roubar nossas alegrias na terra, por mil acidentes, mas as alegrias celestiais são eternas. Eu prefiro interpretar que se trata das alegrias espirituais daqueles que são santificados, particularmente a alegria dos apóstolos no seu apostolado. “Graças a Deus”, diz Paulo, em nome dos demais, “que sempre nos faz triunfar”, 2 Coríntios 2.14. Um mundo maldoso a tiraria deles, eles a teriam perdido. Mas, podendo tirar todo o resto deles, não poderiam tirar-lhes a alegria: “Como contristados, mas sempre alegres”. Eles não podiam roubar-lhes sua alegria, porque não podiam separá-los do amor de Cristo, não podiam roubar-lhes seu Deus, nem seu tesouro no céu.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

A ILUSÃO DE FATOS ALTERNATIVOS

Pode parecer estranho, mas nenhum de nós jamais experienciou o mundo diretamente – o que temos é uma simulação da realidade mediada pelo cérebro. Algumas “regras” com base científica podem ajudar nessa “busca pela verdade”.

A ilusão de fatos alternativos

O penúltimo fim de semana de janeiro de 2017 marcou a tomada de posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos e o momento em que a expressão “fatos alternativos” se juntou a “pós-verdade” e “notícias falsas”. Na ocasião, foi registrado o primeiro choque do presidente americano com a imprensa. O mote foi um tanto bizarro e mesquinho: o tamanho da multidão durante o evento.

Em seu discurso um dia depois, Trump atacou jornalistas e redes de televisão por “mentirem” sobre a quantidade de pessoas presentes, ao mostrarem “um campo vazio” no National Mall. “Olhei para fora, o local estava cheio, parecia ter 1 milhão, 1,5 milhão de pessoas”, disse Trump. Mais tarde, o secretário de imprensa Sean Spicer continuou a defender a declaração do presidente enquanto criticava a mídia.

O debate sobre o que constitui a realidade objetiva e subjetiva provavelmente perdurará. Enquanto isso, nós, autores deste artigo, neurocientistas especializados no estudo da percepção errônea e da ilusão, temos algumas observações a fazer. Nossa pesquisa se concentra justamente nos erros cognitivos e de percepção que cometemos na vida cotidiana, bem como nos truques inteligentes concebidos por pintores e ilusionistas para fazer com que os espectadores experimentem algo além do óbvio. Poderíamos mesmo dizer que estudamos enganos e desvios – dois conceitos que se tornaram inesperadamente relevantes para a cena política.

Repetidas vezes, tivemos a oportunidade de comprovar no laboratório que nossos sentidos não são confiáveis: não importa quão certo estejamos de que nossa percepção dos eventos que nos rodeiam são como vemos, ainda assim podemos estar completamente errados. Uma parte principal do problema é que ninguém experimenta a realidade diretamente. Cada visão, som ou sentimento que qualquer um de nós já passou por filtros biológicos e pelos sofisticados mecanismos cerebrais de processamento de informações. A verdade é que, na prática, nenhum de nós nunca experienciou o mundo diretamente, mas apenas uma simulação mediada pelo cérebro. E essa representação não corresponde necessariamente à realidade.

Ainda que nossos sentidos não possam compreender completamente o mundo que nos cerca, existem regras precisas para o jogo de obter conhecimento imparcial e formas de medir a realidade objetiva. Veja como o método científico e a ciência da ilusão podem ajudar:

REGRA 1: NÃO PODEMOS DETERMINAR O QUE É VERDADE, MAS É POSSÍVEL ESTABELECER O QUE É FALSO.

A ilusão de fatos alternativos.2

Nossa imagem da realidade evolui cada vez que aprendemos algo novo sobre o mundo. No século 17, Isaac Newton mostrou que a física aristotélica não era a verdade completa. Por sua vez, o relativismo da física quântica ampliou e, sob muitos aspectos, superou a física newtoniana. Cada descoberta subsequente nos impulsiona a novas constatações: está sempre presente a possibilidade de que uma nova observação imprevista derrubará – ou pelo menos mudará – o que se aceita até agora como verdadeiro. Assim, um princípio fundamental da ciência é que, ao passo que nenhuma quantidade de dados pode verificar uma hipótese, uma única observação contraditória é capaz de refutá-la. Em outras palavras, as hipóteses não podem ser comprovadas como verdadeiras, embora possam ser comprovadas como falsas. Se há uma coisa em que o método científico se destaca é o fato de que é possível refutar proposições.

A hipótese de Donald Trump sobre o tamanho da multidão era possivelmente razoável de sua posição privilegiada no estrado. Como observado no texto publicado no Washington Post, o presidente pode ter levado em conta que a multidão se estendia até a parte de trás do National Mall. Ou talvez ele tenha mentido. De qualquer forma, as hipóteses só podem sobreviver enquanto os dados as sustentam. E fotografias aéreas, estimativas de cientistas e o número de passageiros de transporte público fornecido pelo Washington Metropolitan Area Transit (WMAT) rejeitam a afirmação da Casa Branca de que a multidão presente na posse de Trump foi a maior da história.

REGRA 2: ALTA CONFIANÇA NÃO É IGUAL À PROVA OBJETIVA.

A ilusão de fatos alternativos.3

Lembra-se do vestido viral? O fenômeno das mídias sociais começou com a foto de um vestido, fotografado sob ambígua iluminação azul e amarela. Aproximadamente metade da humanidade viu a roupa nas cores branca e dourada; a outra metade viu em azul e preto. Tanto os partidários de uma opinião quanto os de outra se sentiam igualmente confiantes em sua avaliação e, por mais que tentassem, não podiam ver a roupa de outra maneira. Podemos pensar nas duas interpretações concorrentes do vestido como dois conjuntos igualmente válidos de “fatos alternativos”. Exceto por uma coisa: se iluminássemos o vestido com uma luz branca simples, ele ficaria azul e preto para qualquer pessoa.

Todos podemos imaginar cenários alternativos para qualquer acontecimento: sequências de eventos que poderiam ter ocorrido, mas nunca aconteceram realmente. A série de TV Amazon Video The man in the high castle situa-se num universo distópico no qual as potências de determinado grupo venceram a Segunda Guerra Mundial. Talvez haja uma realidade alternativa em que o presidente Trump teve a maior audiência já registrada num evento – no entanto, não foi o que aconteceu em nosso universo.

REGRA 3: A PERCEPÇÃO DEPENDE DA PERSPECTIVA, MAS A SUBJETIVIDADE NÃO É UMA MEDIDA DA REALIDADE.

“O relatório da Casa Branca sobre o tamanho da multidão não era notável devido à sua imprecisão, mas sim pela confiança nas informações incorretas. Se Trump dissesse que 1 milhão de pessoas pareciam estar na inauguração, mas que ele não sabia o número real, o relato poderia ter parecido mais cativante do que inquietante. Estimativas também não são fáceis quando estamos próximos demais de uma situação, ou mesmo fazemos parte dela. Talvez por isso seja tão compreensível por que é mais efetivo conversar com um psicólogo sobre algum problema do que com um amigo interessado em nos ajudar, mas dificilmente isento afetivamente.

Não raro, quando estamos em meio a uma multidão, empacotados como sardinhas, imaginamos haver milhões de pessoas no mesmo evento e ficamos surpresos depois de descobrir, com base em imagens aéreas, dados do departamento de trânsito e estimativas de especialistas, que havia menos de meio milhão de pessoas. A diferença entre a percepção e o que de fato se verificou realça quão difícil é avaliar o tamanho de uma situação enquanto fazemos parte dela – mesmo para cientistas perceptuais acostumados a desconfiar de seus sentidos.”

 

 

Nossa fiação neural é constituída de tal forma que é praticamente impossível para os seres humanos pensar, ou mesmo entender algo, em termos absolutos, por mais simples que seja. Nossos olhos não contam fótons da maneira como o medidor de luz de um fotógrafo o faz. Em vez disso, vemos o mundo como um padrão de contrastes: o mesmo círculo cinzento pode parecer preto para nós se rodeado por branco e branco se rodeado por preto. Nossa percepção depende do contexto e da perspectiva. Chamamos de ilusões aqueles casos em que nosso relativismo subjetivo se afasta dramaticamente dos dados objetivos (como quando vemos um círculo cinza como branco, embora o medidor de luz do fotógrafo prove que não é assim).

Algumas das percepções mais deslumbrantes confiam no uso engenhoso da perspectiva. Kokichi Sugihara, um matemático do Japão e vencedor por mais de uma vez da competição da Melhor Ilusão, construiu rampas em que bolas de madeira parecem rolar ladeira abaixo. No entanto, um ponto de vista diferente revela que o movimento ascendente é apenas uma ilusão e que na realidade as bolas não estão se movimentando.

Nos Estados Unidos, muito se falou sobre como a percepção pode ter afetado as reivindicações da Casa Branca a respeito do tamanho da multidão inaugural. Há a questão do ponto de vantagem de Trump a partir do estrado, o que pode ter influenciado sua percepção sobre números maiores. Mas a assessoria de imprensa do governo tomou outro rumo, argumentando que as fotos aéreas fizeram a multidão de Trump parecer menor do que na vida real, devido ao uso sem precedentes de revestimentos de chão brancos para proteger a grama no Mall.

Considerando que o grande número de pessoas vestidas com roupas escuras de inverno deve ser geralmente mais fácil de analisar contra um fundo branco do que contra um escuro. Sem mencionar o fato de que os revestimentos de assoalho brancos foram usados pela primeira vez em 2013, para a cerimônia da segunda posse de Barak Obama, e ainda estavam no lugar – mas menos visíveis devido à maior multidão – durante a Marcha das Mulheres, no dia seguinte à inauguração.

Em nossa nova era americana de notícias falsas e tristeza pós-verdade, a busca por verdade objetiva e fatos (não alternativos) tornou-se mais crítica do que nunca. Os cientistas e os jornalistas devem unir forças nesse esforço comum e não hesitar em chamar atenção para as falsidades presentes e futuras, seja por erros inocentes ou por tentativas francas de induzir em erro. Considerando que a pós-verdade é uma ilusão – sem base na realidade –, a verdade real é impermeável aos nossos desejos, emoções ou crenças. O método científico nos ensina que só alcançaremos a verdade rejeitando obstinadamente cada pedaço de desinformação que está em nosso caminho. Os relatórios investigativos e a verificação de fatos agressiva serão cruciais para nos levar até lá.

OUTROS OLHARES

LENTES COLORIDAS

Os óculos amarelos (ou vermelhos) ajudam a proteger a retina contra a luz dos equipamentos eletrônicos – mas o melhor mesmo é evitar o uso na hora de dormir.

Lentes coloridas

“Óculos de computador”, “óculos para dormir”, ou óculos bloqueadores da luz azul”. Essas são algumas das promessas de atributos das lentes que têm feito bonito entre celebridades americanas e europeias. No Brasil, a moda também já está chegando para os comuns dos mortais. Nas duas maiores redes de ótica do país, o aumento nas vendas de lentes que filtram a luz azul foi de cerca de 15% em relação ao ano passado. ” Viciada nesses óculos para luz azul”, postou recentemente a blogueira e influenciadora digital Camila Coelho, 30 anos, com 7,4 milhões de seguidores no Instagram. Eles são produzidos, na maioria dos casos, com vidros na cor âmbar (laranja ­ amarelado) ou vermelha.

A boa notícia, para além da estética chamativa: eles funcionam, ao bloquear a luminosidade dos celulares, tablets, computadores e laptops. A luz azul afeta a qualidade do sono. A retina possui células chamadas ganglionares, um tipo de neurônio fotossensível que influi no relógio biológico do organismo – aquele que determina o sono e o estado de alerta. A luz, nesse sistema natural do organismo, entra pelas células ganglionares e age na região cerebral chamada glândula pineal, reduzindo a produção do hormônio do sono, a melatonina. Os neurônios ganglionares são sensíveis a qualquer iluminação – ultravioleta, amarela, verde. Mas, sobretudo, à luz azul.

O azul é, portanto, a principal fonte luminosa responsável por avisar ao corpo que é hora de acordar. Diz o oftalmologista Max Damico, do Hospital Sírio ­ Libanês, em São Paulo: “As pessoas deveriam deixar de lado os aparelhos eletrônicos ao menos duas horas antes de dormir”. Como é hábito difícil de abandonar, deu-se o fenômeno dos óculos coloridos. Estudo publicado na revista Ophthalmic & Physiological Optics mostrou que aqueles que utilizaram as lentes âmbar três horas antes de dormir, ao longo de duas semanas, apresentaram aumento de 58% na produção de melatonina. Dormiram mais rápida e profundamente.

Há, como sempre, boa dose de exagero em relação aos danos provocados pelos equipamentos eletrônicos. É sabido que atrapalham o sono, mas não muito mais que isso. Alguns modelos de lente são vendidos com o apelo de evitar doenças graves, como a degeneração macular. A luz azul emitida por eletrônicos não tem essa capacidade comprovada. “O que pode afetar os olhos, ressecando ­ os, é o ato de olharmos fixamente sem piscar e por muito tempo para esses aparelhos”, diz Paulo Schor, professor de oftalmologia e ciências visuais da Escola Paulista de Medicina. “Ainda assim, é possível evitar o problema, fazendo intervalos na leitura a cada vinte minutos e, durante esse tempo, focando um objeto distante ao longo de vinte segundos.” Trata-se de um bom conselho para quem acha as lentes amarelas e vermelhas feiosas. Com todo o respeito a Brad Pitt.

GESTÃO E CARREIRA

ESPECIALISTA É BOM, GENERALISTA É MELHOR

Quem é fera em uma função fica mais vulnerável no mercado.

Especialista é bom, generalista é melhor

Aquele especialista que domina como ninguém um assunto sempre tem prioridade na hora de uma contratação, certo? Nem sempre, segundo um estudo da Columbia Business School e da Tulane University. Avaliando casos de 400 profissionais recém- graduados, com cursos de MBA, os autores constataram que aqueles com formação mais generalizada recebiam melhores ofertas de trabalho. E ganhavam bônus 36% superiores aos dos especialistas. O melhor desempenho desses profissionais pode ser explicado por uma mudança fundamental no mundo dos negócios: a necessidade de as empresas se adaptarem às constantes evoluções do mercado – algo que pode ser facilitado quando se tem quadros mais versáteis.

Essa conclusão significa uma guinada na tendência verificada nos últimos anos de se exigir um perfil consistente em uma área específica de trabalho. Entrevistas feitas pelos autores com líderes reforçam a percepção: muitos declararam sua preferência por candidatos versáteis e não por especialistas, mais fáceis de serem substituídos. O estudo constatou ainda que o especialista tem mais aversão ao risco, o que o torna menos ousado.

ALIMENTO DIÁRIO

JOÃO 16: 7-15

Alimento diário

A Conveniência da partida de Cristo. A promessa do Espírito

 

Assim como era usual que os profetas do Antigo Testamento consolassem a igreja, nas suas calamidades, com a promessa do Messias (Isaias 9.6; Miquéias 5.6; Zacarias 3.8), também, tendo vindo o Messias, a promessa do Espírito era o maior estímulo, e ainda o é.

Aqui temos três coisas a respeito da vinda do Consolador:

I – Que a partida de Cristo era absolutamente necessária para a vinda do Consolador, v. 7. Os discípulos se recusavam tão firmemente a crer nisto, que Cristo viu motivos para afirmá-lo com uma solenidade mais do que usual: “Digo-vos a verdade”. Nós podemos confiar na verdade de tudo o que Cristo nos disse. Ele não tem desejos de se aproveitar de nós. Agora, para deixá-los mais tranquilos, aqui Ele lhes diz que:

1. De maneira geral, era conveniente para eles que Ele partisse. Esta era uma doutrina estranha, mas, se era verdadeira, era suficientemente confortável, e lhes mostrava o quanto a tristeza que sentiam era absurda. “Convém”, não somente para mim, mas também para vocês, “que eu vá”. Embora eles não vissem isto, e se recusassem a crer nisto, era verdade. Observe que:

(1) Aquelas coisas que são realmente convenientes para nós sempre nos parecem dolorosas. Particularmente, nossa partida, quando terminarmos nossa jornada nesta terra.

(2) Nosso Senhor Jesus é sempre favorável àquilo que é mais conveniente para nós, quer pensemos assim ou não. Ele não lida conosco de acordo com a loucura de nossa própria escolha, mas graciosamente a rejeita e nos dá o remédio que não estamos dispostos a tomar, porque Ele sabe que ele é bom para nós.

2. Era conveniente porque tinha o objetivo do envio do Espírito. Observe:

(1) Que a partida de Cristo tinha o objetivo da vinda do Consolador.

[1] Isto está expresso de maneira negativa: “Se eu não for, o Consolador não virá”. E por que não? Em primeiro lugar, assim estava decidido nos conselhos divinos a respeito deste assunto, e a medida não devia ser alterada. A terra será abandonada por causa deles? Aquele que dá livremente pode recolher um dom antes que conceda outro, embora desejássemos retê-los a todos, carinhosamente. Em segundo lugar, é suficientemente coerente que o embaixador extraordinário fosse chamado de volta, antes da vinda do enviado, que deveria residir permanentemente. Em terceiro lugar, o envio do Espírito deveria ser o fruto da compra de Cristo, e esta compra seria feita pela sua morte, que envolveria sua partida. Em quarto lugar, seria uma resposta à sua intercessão dentro do véu. Veja cap. 14.16. Desta maneira, este presente deve ser pago pelo Senhor Jesus, e também pedido a Ele, para que possamos aprender a dar-lhe o devido valor. Em quinto lugar, o grande argumento que o Espírito iria utilizar para convencer o mundo seria a ascensão de Cristo ao céu, e sua acolhida aqui. Veja o versículo 10, e também cap. 7.39. Finalmente, os discípulos devem se desacostumar da sua presença física, a qual eles são muito capazes de amar, antes de estarem plenamente preparados para receber os auxílios e os consolos espirituais de uma nova dispensação.

[2] Está expresso de maneira positiva: “Se eu for, enviar-vo-lo-ei”, como se ele tivesse dito: “Confiem que eu proverei de maneira efetiva, de modo que vocês não percam com minha partida”. O Redentor glorificado não deixa de se preocupar com sua igreja na terra, nem irá deixá-la sem os auxílios necessários. Embora Ele parta, Ele envia o Consolador, ou melhor, Ele parte com o propósito de enviá-lo. Desta maneira, embora uma geração de ministros e cristãos parta, outra se ergue em seu lugar, pois Cristo irá sustentar sua própria causa.

(2) Que a presença do Espírito de Cristo na sua igreja é muito melhor, e mais desejável, que sua presença física. Realmente, era conveniente para nós que Ele partisse, para nos enviar o Consolador. Sua presença física poderia estar em um lugar por vez, mas seu Espírito está em toda parte, em todos os lugares, em todos os momentos, sempre que dois ou três estiverem reunidos no seu nome. A presença física de Cristo atrai os olhos dos homens, mas seu Espírito atrai seus corações. A letra mata, mas o Espírito do Senhor vivifica.

 

II – Que a vinda do Espírito era absolutamente necessária para a realização dos interesses de Cristo na terra (v. 8): “E quando ele vier”. Aquele que é enviado deseja vir, e na sua primeira vinda, Ele fará isto, Ele “reprovará”, ou, como na interpretação da margem (versão inglesa KJV), “convencerá o mundo”, pelo seu ministério, no que diz respeito ao pecado, à justiça e ao juízo.

1. Veja aqui qual é a função do Espírito, e com que missão Ele é enviado.

(1) Para reprovar. O Espírito, pela palavra e pela consciência, é um reprovador. Os ministros são reprovadores por ofício, e por intermédio deles, o Espírito reprova.

(2) Para convencer. Este é um termo legal que muitas vezes representa a função do juiz, ao resumir as evidências e definir uma questão que tinha sido debatida durante muito tempo, sob uma luz clara e verdadeira. Ele “convencerá”, isto é, Ele calará os adversários de Cristo e da sua causa, revelando e demonstrando a falsidade e a falácia daquilo que eles sustentam, e a verdade e a certeza daquilo a que eles se opõem. Observe que o trabalho de convencer é o trabalho do Espírito. Ele pode realizá-lo com eficácia, e ninguém pode fazê-lo, exceto Ele. O homem pode abrir a causa, mas somente o Espírito pode abrir o coração. O Espírito é chamado de Consolador (v. 7), e aqui está escrito: Ele “convencerá”. Poderia pensar-se que este era um consolo frio e distante, mas é o método que o Espírito adota, a saber, primeiro convence, e depois consola, primeiro abre a ferida, e depois aplica os remédios curativos. Ou, interpretando a convicção de modo mais genérico, como uma demonstração daquilo que é certo, isto indica que os consolos do Espírito são sólidos e se baseiam na verdade.

[1] Veja quem são aqueles a quem Ele deverá condenar e convencer: o mundo, tanto os judeus quanto os gentios.

(1) Ele dará ao mundo os meios mais poderosos de convicção, pois os apóstolos deverão ir a todo o mundo, respaldados pelo Espírito, para pregar o Evangelho, que é completa mente comprovado.

(2) Ele irá prover de modo suficiente para o silêncio e a remoção das objeções e preconceitos do mundo contra o Evangelho. Muitos infiéis são convencidos por todos, e julgados por todos, 1 Coríntios 14.24.

(3) Ele irá convencer a muitos no mundo, de maneira efetiva e salvadora, muitos de todas as épocas, em todos os lugares, para sua conversão à fé de Cristo. Era um incentivo para os discípulos, em referência às dificuldades que eles provavelmente iriam encontrar:

[1] Que eles veriam o bem sendo feito, a queda do reino de Satanás como um relâmpago, o que seria sua alegria, assim como era a dele. Mesmo neste mundo maligno, o Espírito irá operar. E a convicção dos pecadores é o consolo dos ministros fiéis.

[2] Que isto seria o fruto dos seus serviços e sofrimentos, que iriam contribuir muito para esta boa obra.

2. Veja do que o Espírito irá convencer o mundo.

(1) “Do pecado, porque não creem em mim” (v. 9).

[1] O Espírito é enviado para convencer os pecadores do pecado, e não simplesmente falar-lhes sobre ele. Na convicção, há mais do que isto. É provar-lhes, e forçá-los a reconhecer, assim como aqueles (cap. 8.9) que foram convencidos pelas suas próprias consciências. Fazê-los conhecer suas abominações. O Espírito convence da realidade do pecado, de que fizemos isto e aquilo; da falha no pecado, de que fizemos mal em fazer isto e aquilo; da tolice do pecado, de que agimos contra a razão e contra nossos verdadeiros interesses; da sujeira do pecado, de que por ele nos tornamos odiosos a Deus; da fonte do pecado, a natureza corrupta; e, por fim, do fruto do pecado, cujo fim é a morte. O Espírito demonstra a depravação e a degeneração de todo o mundo, pelas quais todo o mundo é culpado diante de Deus.

[2] Ao convencer o Espírito se prende especialmente ao pecado da incredulidade, que consiste no fato de não se crer em Cristo. Em primeiro lugar, por este ser um grande pecado dominante. Havia, e há, muitas pessoas que não creem em Jesus Cristo, e elas não se dão conta de que este é seu pecado. A consciência natural lhes diz que matar e roubar são pecados. Mas é a obra sobrenatural do Espírito convencê-las de que há um pecado em não crer no Evangelho, e rejeitar a salvação que ele oferece. A religião natural, depois que nos fornece suas melhores revelações e orientações, estabelece e nos deixa sob esta obrigação adicional, que, a qualquer revelação divina que nos seja feita, a qualquer tempo, com evidências suficientes que provem sua origem divina, nós devemos aceitar e sujeitar-nos. Transgridem esta lei aqueles que, quando Deus nos fala por intermédio do seu Filho, rejeitam aquele que fala, e, por isto, é pecado. Em segundo lugar, por este ser um grande peca­ do destruidor. Todo pecado é destruidor em sua própria natureza. Porém, nenhum pecado pode destruir aqueles que creem em Cristo e se mantêm em santificação. De modo que é a incredulidade que destrói os pecadores. É por esta causa que eles não podem entrar no repouso, que não podem escapar à ira de Deus. Este pecado combate contra o remédio. Em terceiro lugar, por este ser um pecado que está no fundo de todo pecado. O Espírito irá convencer o mundo de que a verdadeira razão pela qual o pecado reina sobre eles consiste no fato de que eles não estão unidos a Cristo pela fé. Não devemos supor que, separados de Cristo, tenhamos sequer uma gota de retidão.

(2) “Da justiça, porque vou para meu Pai, e não me vereis mais”, v. 10. Nós podemos interpretar isto:

[1] Como a justiça pessoal de Cristo. Ele convencerá o mundo de que Jesus de Nazaré era Cristo, o Justo (1 João 2.1), assim como o centurião reconheceu (Lucas 23.47): “Na verdade, este homem era justo”. Os inimigos de Jesus lhe atribuíam as piores características, e as multidões não se convenciam, ou não queriam se convencer, de que Ele não era um homem mau, o que fortalecia seus preconceitos contra sua doutrina. Mas Ele é justificado pelo Espírito (1 Timóteo 3.16), Ele prova ser um homem justo, e não um enganador. E então o ponto é realmente ganho, pois Ele é o grande Redentor ou a grande trapaça. Mas uma trapaça, nós temos certeza de que Ele não é. Agora, por qual meio ou argumento o Espírito irá convencer os homens da sinceridade do Senhor Jesus? Em primeiro lugar, o fato de que eles não mais o verão irá contribuir, de certa maneira, para a remoção dos seus preconceitos. Eles não mais o verão na semelhança da carne pecadora, na forma de um servo, que fez com que eles o desprezassem. Moisés foi mais respeitado depois de ser removido do que antes. Mas, em segundo lugar, sua ida ao Pai traria uma convicção completa disto. A vinda do Espírito, segundo a promessa, era uma prova da exaltação de Cristo à direita de Deus (Atos 2.33), e uma demonstração da sua justiça, pois o santo Deus nunca colocaria um enganador à sua direita.

[2] Como a justiça de Cristo transmitida a nós, para nossa justificação e salvação, que é a justiça eterna que o Messias devia trazer, Daniel 9.24. Veja que, em primeiro lugar, o Espírito irá convencer os homens desta justiça. Tendo, pela convicção do pecado, lhes mostrado a necessidade que tinham de justiça, para que isto não os levasse ao desespero, Ele irá lhes mostrar onde ela pode ser encontrada, e como eles podem, se crerem, ser absolvidos da culpa e ser aceitos como justificados, diante de Deus. Era difícil convencer desta justiça àqueles que tentavam estabelecer a sua própria (Romanos 10.3), mas o Espírito o fará. Em segundo lugar, a ascensão de Cristo é o grande argumento apropriado para convencer os homens desta justiça: Eu “vou para meu Pai”, e, como evidência de que serei bem recebido junto a Ele, “não me vereis mais”. Se Cristo tivesse deixado alguma parte da sua missão inacabada, Ele teria sido enviado de volta. Mas agora que temos a certeza de que Ele está à direita de Deus, temos a certeza de que somos justificados por meio dele.

(3) “Do juízo, porque já o príncipe deste mundo está julgado”, v.11. Observe aqui:

[1] O Diabo, o príncipe deste mundo, foi julgado, foi considerado como um grande enganador e destruidor, e, como tal, recebeu julgamento e a execução foi realizada, em parte. Ele foi expulso do mundo gentílico quando seus oráculos foram silenciados, e seus altares, abandonados. Foi expulso do corpo de muitos, em nome de Cristo, cujo poder milagroso continua na igreja. Ele foi expulso das almas das pessoas, pela graça de Deus, através da operação do Evangelho de Cristo. Ele caiu como um relâmpago do céu.

[2] Este é um bom argumento, com o qual o Espírito convence o mundo do juízo, isto é, em primeiro lugar, da santidade e santificação inerentes, Mateus 12.18. Pelo juízo do príncipe deste mundo, fica evidente que Cristo é mais forte que Satanás, e pode desarmá-lo e destituí-lo, e estabelecer seu trono sobre a ruína do dele. Em segundo lugar, de uma nova e melhor dispensação das coisas. Ele irá mostrar que a missão de Cristo no mundo foi a de estabelecer as coisas para endireitá-lo, e dar início aos tempos de transformação e regeneração. E Ele prova isto com o fato de que o príncipe deste mundo, o grande mestre do desgoverno, é julgado e expulso. Tudo estará bem quando for quebrado o poder daquele que fazia tantas maldades. Em terceiro lugar, do poder e do domínio do Senhor Jesus. Ele convencerá o mundo de que todo o juízo é dado ao Senhor Jesus, e que Ele é o Senhor de tudo e de todos. A evidência disto é que Ele julgou o príncipe deste mundo, feriu a cabeça da serpente, destruiu aquele que tinha o poder da morte, e despojou os principados. Se Satanás foi dominado desta maneira por Cristo, nós podemos ter a certeza de que nenhum outro poder pode se erguer diante dele. Em quarto lugar, do dia do juízo final: todos os inimigos obstinados do Evangelho e do reino de Cristo certamente receberão, por fim, seu tratamento, pois o Diabo, seu cabeça, será julgado.

 

III – Que a vinda do Espírito seria de um benefício indescritível para os próprios discípulos. O Espírito tem trabalho para realizar, não somente sobre os inimigos de Cristo, para convencê-los e humilhá-los, mas também sobre seus servos e agentes, para instruí-los e consolá-los. E por isto era conveniente para eles que Ele partisse.

1. O Senhor lhes indica a terna percepção que tinha da sua debilidade em sua condição humana (v.12): ”Ainda tenho muito que vos dizer” (não que tais palavras devessem ter sido ditas, mas que Ele poderia e desejaria tê-las dito), “mas vós não o podeis suportar agora”. Veja que professor maravilhoso é Cristo.

(1) Não há ninguém como Ele, em termos de abundância de informações. Quando já tinha dito muito, Ele ainda tinha muitas outras coisas para dizer. Os tesouros da sabedoria e do conhecimento ficam escondidos nele, se nós não os buscarmos.

(2) Não há ninguém como Ele, inclusive em termos de compaixão. Ele lhes teria dito mais sobre as coisas pertencentes ao reino de Deus, particularmente sobre a rejeição dos judeus e o chamado dos gentios, mas eles não podiam suportá-lo, isto os teria confundido e embaraçado, e não lhes traria qualquer satisfação. Quando, depois da sua ressurreição, eles lhe falaram sobre a restauração do reino de Israel, o Senhor lembrou-lhes da vinda do Espírito Santo, pelo qual eles receberiam poder para suportar estas revelações, que eram tão contrárias às noções que eles tinham recebido, e que não poderiam suportar agora.

2. Ele lhes assegura auxílios suficientes, através do derramamento do Espírito. Eles estavam agora conscientes da sua grande ignorância, e dos seus muitos enganos. E o que será deles, agora que seu Mestre os está deixando? “Mas quando Ele, o Espírito de Verdade, vier, vocês ficarão tranquilos, e tudo ficará bem”. Realmente bem. Pois Ele se encarregará de guiar os apóstolos e de glorificar a Cristo.

(1) Guiar os apóstolos. Ele irá cuidar:

[1] Para que eles não percam seu caminho: Ele vos guiará, como o acampamento de Israel foi guiado, pelo deserto, pela coluna de nuvem e fogo. O Espírito guiaria suas línguas ao falar, e suas penas, ao escrever, para evitar que cometessem enganos. O Espírito nos é dado para ser nosso guia (Romanos 8.14), não somente para nos mostrar o caminho, mas para seguir conosco, pelos seus auxílios e influências constantes.

[2] Para que eles não deixem de alcançar seu objetivo: Ele os guiará em toda a verdade, como o piloto hábil guia o navio ao porto ao qual se destina. Ser guiado na verdade é mais do que simplesmente conhecê-la. É estar intimamente e experimentalmente familiarizado com ela. É estar piedosamente e vigorosamente afetado por ela. Não somente ter sua noção em nossas mentes, mas também seu sentimento nos nossos corações. Isto indica um descobrimento gradual da verdade, que brilha cada vez mais: “Ele os guiará por aquelas verdades que são claras e fáceis, em direção àquelas que são mais difíceis”. Mas, como em toda a verdade? O significado é:

Em primeiro lugar, em toda a verdade relativa à sua missão. Eles seriam plenamente instruídos sobre qual­ quer coisa que fosse necessário, ou útil, que eles soubessem, para desempenharem devidamente seu trabalho. O Espírito lhes ensinaria as verdades que eles deveriam ensinar aos outros, lhes daria o entendimento de tais verdades, e os capacitaria para explicá-las e defendê-las.

Em segundo lugar, em nada, exceto a verdade. Tudo aquilo em que Ele os guiar será a verdade (1 João 2.27). A unção é verdadeira. Nas palavras seguintes, Ele prova estas duas coisas:

1. “O Espírito não lhes ensinará nada, exceto a verdade, pois Ele não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e que souber que é a vontade do Pai, e Ele só falará isto”. Isto sugere:

(1) Que o testemunho do Espírito, na palavra e pelos apóstolos, é aquilo em que podemos confiar. O Espírito conhece e sonda todas as coisas, até mesmo as profundezas de Deus, e os apóstolos receberam este Espírito (1 Coríntios 2.10,11), de modo que podemos aventurar nossas almas na palavra do Espírito.

(2) Que o testemunho do Espírito sempre está de acordo com a palavra de Cristo, pois Ele não fala de si mesmo, não tem interesses ou intenções próprias, mas, tanto na essência quanto nos antecedentes, Ele é um só com o Pai e o Filho, 1 João 5.7. A palavra e o espírito dos homens frequentemente estão em desacordo, mas com a Palavra Eterna e o Espírito Eterno, isto nunca acontece.

2. “Ele lhes ensinará toda a verdade, e não reterá nada que seja proveitoso a vocês, pois Ele lhes anunciará o que há de vir”. O Espírito era, nos apóstolos, um Espírito de profecia. Tinha sido predito que Ele o seria (Joel 2.28), e Ele realmente o era. O Espírito lhes mostraria as coisas futuras, conforme Atos 11.28; 20.23; 21.11. O Espírito falou da apostasia dos últimos tempos, 1 Timóteo 4.1. João, quando estava no Espírito, recebeu coisas que lhe foram mostradas em visões. Isto era uma grande satisfação para suas próprias mentes, e muito útil para eles na sua conduta, e também era uma grande confirmação da sua missão. Jansênio faz uma observação piedosa sobre isto: “Nós não devemos reclamar pelo fato de o Espírito não nos mostrar tantas coisas futuras neste mundo, como fez com os apóstolos. Deve ser suficiente para nós o fato de que o Espírito nos mostrou as coisas que virão no outro mundo, que são nosso principal interesse”.

(2) O Espírito se encarregou de glorificar a Cristo, vv. 14,15.

[1] Até mesmo o envio do Espírito era uma glorificação a Cristo. Deus, o Pai, o glorificou no céu, e o Espírito o glorificou na terra. Era a honra do Redentor o fato de que o Espírito fosse enviado em seu nome e também na sua missão, para dar prosseguimento à sua tarefa, e aperfeiçoá-la. Todos os dons e graças do Espírito, toda a pregação e todos os textos escritos pelos apóstolos, sob a influência do Espírito, as línguas e milagres, são maravilhas que glorificam a Cristo.

[2] O Espírito glorificou a Cristo conduzindo seus seguidores na verdade, como ela está em Jesus, Efésios 4.21. Ele lhes garante, em primeiro lugar, que o Espírito lhes transmitiria as coisas de Cristo: Ele “há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar”. Assim como, em essência, o Espírito procedia do Filho, Ele também derivava dele em influência e operação. Ele terá daquilo que é meu. Tudo o que o Espírito nos mostra, isto é, nos dá para nossa instrução e consolo, tudo o que Ele nos dá para nosso fortalecimento e vivificação, e tudo o que Ele nos garante e sela, tudo pertence a Cristo, e foi recebido dele. Tudo é dele, pois Ele o comprou, e pagou caro por isto, e, portanto, Ele tinha motivos para chamar de seu. Seu, pois Ele o recebeu primeiro. Foi dado a Ele, como o cabeça da igreja, para ser transmitido por Ele a todos os seus membros. O Espírito não veio para edificar um novo reino, mas para promover e estabelecer o mesmo reino que Cristo tinha edificado, para manter o mesmo interesse e procurar o mesmo desígnio. Portanto, aqueles que aspiram ao Espírito e difamam a Cristo, se contradizem e desmentem, pois Ele veio para glorificar a Cristo. Em segundo lugar, que assim as coisas de Deus deveriam nos ser transmitidas. Para que ninguém se esquecesse de que o recebimento de tão grande bênção lhe tornaria muito mais rico, o Senhor acrescenta: “Tudo quanto o Pai tem é meu”. Como Deus, Ele tem toda aquela luz auto- existente e toda aquela felicidade auto- suficiente que o Pai tem. Como Mediador, todas as coisas lhe são entregues pelo Pai (Mateus 11.27). Toda aquela graça e verdade que Deus, o Pai, desejava nos mostrar, Ele colocou nas mãos do Senhor Jesus, Colossenses 1.19. As bênçãos espirituais nas coisas celestiais são dadas pelo Pai ao Filho, para nós, e o Filho encarrega o Espírito de transmiti-las a nós. Alguns relacionam isto ao que foi dito há pouco: Ele “vos anunciará o que há de vir”, e assim está explicado por Apocalipse 1.1. Deus, o Pai, deu tudo a Cristo, e Ele o anunciou a João, que, por sua vez, escreveu o que o Espírito disse, Apocalipse 1.1.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

BATIMENTOS CARDÍACOS PODEM ENGANAR PERCEPÇÕES

Pessoas muito sensíveis a seus estados internos, como a consciência da pulsação do próprio sangue, tendem a ser mais propensas a transtornos de ansiedade e pânico.

Batimentos cardíacos podem enganar percepções

Você sente seu coração batendo? A maior parte das pessoas não consegue, a menos que estejam agitadas ou com medo. Isso ocorre porque, em condições normais, o cérebro disfarça essa percepção para garantir um equilíbrio delicado e necessário: precisamos ser capazes de sentir o músculo cardíaco disparar ocasionalmente para reconhecer o medo ou a excitação. Porém, perceber o ritmo constante na maior parte do tempo nos distrairia demais ou até nos enlouqueceria. Atualmente, várias pesquisas sugerem, no entanto, que, devido à forma como o cérebro compensa (e disfarça) nossos batimentos, ele poderia estar vulnerável a ilusões sensoriais.

Cientistas de uma equipe do Instituto de Tecnologia Federal Suíço, em Lausanne, conduziram uma série de estudos com 143 participantes e constataram que os voluntários levavam mais tempo para identificar um objeto que “aparecia e sumia” quando surgia em sincronia com seus batimentos cardíacos. Utilizando uma ressonância magnética funcional, os especialistas notaram também que a atividade na ínsula, uma área cerebral associada à autopercepção, era suprimida quando as pessoas viam essas imagens sincronizadas.

Os pesquisadores que conduziram o estudo, publicado em maio de 2016 no Journal of Neuroscience, sugerem que o objeto era suprimido pelo cérebro, pois se “misturava” com todas as outras alterações do corpo que ocorrem com cada batimento cardíaco, das quais não nos damos conta: os olhos fazem movimentos minúsculos, a pressão ocular muda ligeiramente, o tórax se expande e se contrai. “O cérebro ‘sabe’ que o batimento é proveniente da própria pessoa, por isso é como se não se incomodasse com as consequências sensoriais desses sinais”, diz Roy Salomon, um dos a tores do estudo.

Outra pesquisa já havia mostrado que as pessoas percebem mais prontamente que um órgão ou membro de realidade virtual é realmente o seu próprio quando surge junto a um estímulo que “aparece e some” em sincronia com seus batimentos cardíacos. Na extremidade oposta do espectro estão resultados de estudos que revelam que as sensações cardíacas podem intensificar o processo de identificação de ameaças. Indivíduos detectam com mais facilidade imagens assustadoras que aparecem ao mesmo tempo que os batimentos cardíacos e as consideram mais intensas. Talvez em razão de um batimento cardíaco perceptível estar frequentemente associado ao medo e à ansiedade, o cérebro tende a confundir o estímulo sincronizado, como se estivesse associado à reação de estresse que nos impulsiona a lutar ou fugir. A descoberta ajuda a explicar por que as pessoas muito sensíveis a seus estados internos, incluindo a consciência de seus bati- mentos cardíacos, tendem a ser mais propensas a transtornos de ansiedade e pânico. Para a maioria de nós, porém, o coração continua sua labuta sem ser notado – e pode ser que as peculiaridades perceptuais relacionadas também não estejam sendo notadas.

Batimentos cardíacos podem enganar percepções.2

OUTROS OLHARES

TEMPO NOS GAMES: UMA QUESTÃO SOCIAL

Violência urbana, divórcios em escala e a falta de monitoramento sobre o comportamento dos adolescentes contribuem para o aumento do engajamento deles em jogos eletrônicos.

Tempo nos games - uma questão social

Em 2016, o mercado de games faturou mais de 99 bilhões de dólares. Atualmente, a indústria de jogos eletrônicos é terceira maior do mundo, perdendo em faturamento apenas para os segmentos bélico e automobilístico. Consumidores adolescentes são maioria, comparados com outros grupos etários. A preocupação maior desse grupo, comumente, é sobre o uso exagerado e aspectos associados à dependência do jogo. O consumo pode ser tão intenso que o jogador abre mão do convívio social para permanecer jogando. Em casos extremos, isso pode virar um transtorno, trazendo muitos prejuízos para o jogador e também para a família. Estudos sugerem que características psicológicas (por exemplo, extroversão, introversão), características sociodemográficas e relacionamento proximal familiar são variáveis que influenciam fortemente o tempo investido em um jogo eletrônico. Sabe-se, por exemplo, que a qualidade da relação entre pai e filho é inversamente proporcional ao tempo dedicado aos games. Dito de outro modo, quanto melhor é a relação estabelecida entre pais e filho, menor é o número de horas jogadas.

No entanto, em recente estudo publicado por pesquisadores da Universidade Nacional de Incheon, na Coreia do Norte, investigou outras variáveis até então não estudadas. Os cientistas utilizaram uma perspectiva sociológica para estudar o fenômeno, chamando atenção sobre como a organização e a estrutura da comunidade em torno do jogador podem influenciar o tempo despendido nos jogos pelos adolescentes. Por exemplo, jogadores residentes em bairros percebidos como menos seguros e pobres, e que expressam um desejo menor de continuarem vivendo ali, investem mais horas em jogos eletrônicos. Outra característica importante estudada foi a emigração e imigração de pessoas nas comunidades norte-americanas. Quanto maior é o entra e sai de pessoas em uma dada comunidade, maior é a probabilidade de os adolescentes jogarem por mais tempo. Sabiamente, os pesquisadores relacionaram essa taxa de movimentação comunitária com a taxa de divórcios – uma vez que essa é uma das causas principais da saída de um dos pais uma comunidade. O resultado não podia ser diferente: constatou-se que os adolescentes tendem a jogar um maior número de horas em regiões com maiores taxas de divórcio. A separação dos pais diminui a força de monitoramento e supervisão sobre o comportamento dos adolescentes.

A proporção de famílias monoparentais é uma das características estruturais que enfraquece a rede social local, pois segundo os pesquisadores norte-coreanos, pais solteiros não investem tempo e energia suficientes para participar da comunidade local – diminuindo a supervisão coletiva, realizada, inclusive pela vizinhança.

Nesse aspecto, é importante refletirmos sobre o efeito da maneira que nos organizamos socialmente nas grandes cidades. Uma lista aérea das regiões da cidade de São Paulo, por exemplo, sugere um verdadeiro paliteiro de construções desconexas. No final dos anos 1970, a cidade cresceu para todos os lados, sobretudo paro cima, mergulhando de cabeça no mercado multimilionário de condomínios. Diante do crescimento da violência urbana, as pessoas identificaram vantagens e se refugiaram no alto das torres – uma espécie de fortaleza protegida por muros, sem acesso à rua, crianças e adolescentes têm cada vez menos contato com outras pessoas de sua idade e perdem oportunidades importantes para se engajar em brincadeiras extremamente importantes para o desenvolvimento. É brincando que se desenvolvem emoções e   conhecimentos que serão necessários na fase adulta. Dentro das residências, os filhos trabalham apenas o “ego” e passam a lidar com sentimentos como frustração, empatia e solidariedade de uma forma mais automatizada e centrada no seu próprio ego. Por exemplo, não gostou, desliga a TV e o videogame. O mundo passa a ser observado como uma sequência de telas que podem ser detectadas, desfeitas ou até mesmo bloqueadas por meio do touch em uma tela.

Como se não bastasse isso, a taxa de divórcios cresce e, com os pais separados um do outro, a força de monitoramento sobre o comportamento dos adolescentes fica arrefecida, contribuindo para o aumento do engajamento dele em jogos eletrônicos. Uma das soluções propostas pelos autores da pesquisa é investir em programas de assistência social tanto para jovens como para os pais. Ampliar o leque de opções para diversão e entretenimento em espaços públicos. Aumentar a segurança social é outra proposta apresentada. Não há dúvida que esses pontos são essenciais, mas eles dependem bastante de investimentos governamentais e decisões que necessariamente não estão sob o nosso controle.

Então, o que fazer? Esperar o mundo mudar ou provocar pequenas mudanças na forma que agimos? Não há dúvida de que a segunda opção seja possível e a mais adequada, Mesmo com as demandas de uma vida atribulada, os pais podem criar regras para os filhos e também investir tempo em entender o mundo deles. O jantar, com certeza fica mais prazeroso se ao invés da conversa à mesa ser de cobrança de por que o filho não larga o videogame, ela passe a focar no que o jovem ou a criança acham sobre o conteúdo de alguns jogos, quais as suas sensações e percepções acerca das horas que passam ausente desse jogo e quais seus desejos como pessoa. Muitos pais podem ser surpreendidos com as respostas deles.

Tempo nos games - uma questão social.2

TIAGO B. EIGÊNIO – é mestre em Psicologia e Estudos do Comportamento Humano. É designer de aprendizagens na Rhyzos Educação e escreve sobre educação, tecnologias e Neurociências.

E-mail: tiagoeugenio20@gmail.com

Site: www.tiagoeugenio.com.br

GESTÃO E CARREIRA

A SÍNDROME DO SUCESSO

Trabalho colaborativo sobrecarrega os profissionais mais talentosos.

A síndrome do sucesso

A onda do trabalho colaborativo tomou conta das empresas na última década – graças aos e-mails, às videoconferências e aos aplicativos de smartphones. Colegas trocam figurinhas o tempo todo sobre as tarefas a resolver, mesmo que estejam em continentes e fusos horários diferentes. Embora exaltado como símbolo dos novos tempos, esse fenômeno está fazendo uma vítima: aquele funcionário mais capacitado e criativo, que passa a ser bombardeado com dúvidas e solicitações alheias, sendo impedido, em consequência, de trabalhar com calma e produzir mais. Por conta da pressão, ele acaba, muitas vezes, deixando a empresa. É o que um estudo publicado pela Harvard Business Review qualifica de “síndrome do sucesso”: quanto mais talentoso o profissional, mais tarefas sobram para ele.

Examinando empresas da lista da Fortune 500, os autores constataram uma tendência crescente nas empresas: a adoção de sistemas duplos de gestão. Traduzindo: os funcionários passaram a responder a dois chefes – uma necessidade surgida da complexidade cada vez maior das tarefas exigidas. É mais uma manifestação do tal trabalho cooperativo que, novamente, acaba colocando mais peso sobre os ombros dos talentosos – não bastasse a solicitação dos colegas, eles agora têm de se reportar a dois superiores. O curioso é que muitos líderes se confessavam surpresos com a queda de produtividade de seus talentos – até se darem conta de que eles estavam recebendo solicitações de todos os lados. Os autores sugerem que as empresas estabeleçam limites ao trabalho colaborativo, poupando os mais capazes de desvios de função.

ALIMENTO DIÁRIO

JOÃO 16: 1-6

Alimento diário

A Perseguição é predita. A conveniência da partida de Cristo

 

I – Cristo lida fielmente com seus discípulos quando os envia nas suas missões, pois lhes contou o pior para que pudessem se sentar e considerar o custo. Ele lhes tinha dito, no capítulo anteri01 que esperasse m o ódio do mundo. Agora aqui, nestes versículos:

1. Ele lhes dá um motivo pelo qual os alarmou, desta forma, com a expectativa de problemas: “Tenho-vos dito essas coisas para que vos não escandalizeis”, v. 1. 1. Os discípulos de Cristo podem se escandalizar com a cruz, e o escândalo da cruz é uma tentação perigosa, até mesmo para os bons homens, que os tenta a voltar as costas para os caminhos de Deus, ou para se afastar deles, ou para prosseguir pesadamente neles; para deixar, ou sua integridade, ou seu conforto. Não é por acaso que uma ocasião de sofrimento é chamada de “hora da tentação”.

2. Nosso Senhor Jesus, ao nos avisar sobre os problemas, pretendia remover o terror, para que eles não fossem uma surpresa para nós. De todos os adversários da nossa paz, neste mundo de dificuldades, nenhum nos insulta mais violentamente, nem nos deixa mais em desordem, do que os desapontamentos. Mas nós podemos receber facilmente um visitante que esperamos, e estando precavidos, estaremos armados com antecedência.

 

II – Ele prediz particularmente o que eles iriam sofrer (v. 2): “Os que detêm o poder, ‘expulsar-vos-ão das sinagogas’. E isto não é o pior, eles os matarão”. Eis que há duas espadas sacadas contra os seguidores do Senhor Jesus.

1. A espada da reprovação eclesiástica. Ela é sacada, contra eles, pelos judeus, pois eles eram os únicos pretendentes ao poder da igreja. Eles “expulsar-vos-ão das sinagogas”, eles irão excomungá-los.

(1) “Eles irão expulsá-los das sinagogas das quais vocês são membros”. A princípio, eles os açoitaram nas suas sinagogas, por serem pessoas que desprezavam a lei (Mateus 10.17), e no final, os expulsaram, por serem incorrigíveis.

(2) “Eles irão expulsá-los da congregação de Israel em geral, a igreja nacional dos judeus. Irão negar-lhes os privilégios desta igreja, e os colocarão na condição de criminosos”, golpeados na cabeça, como outro lobo. Eles os considerarão como samaritanos, como homens pagãos e publicanos. Eu proíbo a você o uso de água e fogo. E, se não fosse pelas punições, confiscas e anulações, que ocorreram consequentemente, não seria nenhuma ofensa ser expulso, desta maneira, de uma casa infectada e decadente. Observe que sempre foi o destino dos discípulos de Cristo serem injustamente excomungados. Muitas boas verdades foram consideradas anátemas, e muitos filhos de Deus foram entregues a Satanás.

2. A espada do poder civil: “A ocasião é chegada, a hora é chegada. Agora, provavelmente, as coisas serão piores para vocês do que têm sido até agora. Quando vocês forem expulsos como hereges, eles os matarão, e pensarão estar fazendo um serviço a Deus, e muitos outros pensarão a mesma coisa”.

(1) Vocês perceberão que eles são realmente cruéis: eles os matarão. As ovelhas de Cristo eram consideradas como ovelhas para o matadouro. Os doze apóstolos (nós sabemos) foram todos mortos, exceto João. Cristo tinha dito (cap. 15.27): “Vós… testificareis”, vós sereis mártires, selareis a verdade com vosso sangue, o sangue do vosso coração.

(2) Vocês perceberão que eles são, aparentemente, conscienciosos. Eles julgarão fazer um serviço a Deus. Eles parecerão oferecer um bom sacrifício a Deus. Assim como aqueles que expulsavam os servos de Deus antigamente, e diziam: “O Senhor seja glorificado”, Isaías 66.5. Observe:

[1] É possível que aqueles que são verdadeiros inimigos do serviço a Deus finjam ter um zelo vigoroso por ele. A obra do Diabo, muitas vezes, foi feita usando o uniforme de Deus, e um dos mais perversos inimigos que o cristianismo jamais teve esteve no templo de Deus. Na verdade:

[2] É comum tratar com condescendência a um inimigo do Evangelho, sob o pretexto de um dever para com Deus, e um serviço à sua igreja. O povo de Deus sofreu as maiores aflições por parte de perseguidores conscienciosos. Paulo realmente pensava que tinha que fazer o que fez, contra o nome de Jesus. Isto não diminui, em nada, o pecado dos perseguidores, pois as vilanias nunca serão consagradas, ainda que lhes seja atribuído o nome de Deus. Mas acentua os sofrimentos dos perseguidos o fato de que morram considerados inimigos de Deus. Porém, no grande dia, haverá uma ressurreição pessoal e individual, que incluirá nomes e corpos.

 

III – Ele lhes dá a verdadeira razão da inimizade e da ira do mundo contra eles (v. 3): “Isso vos farão’’, não porque vós lhes tendes feito qualquer mal, mas ‘porque não conheceram ao Pai nem a mim’. Que o fato de que ninguém será inimigo de vocês, exceto os piores homens, possa consolar vocês”. Observe:

1. Muitos que fingem conhecer a Deus são desgraçadamente ignorantes sobre Ele. Aqueles que fingem servir a Deus pensam que o conhecem, mas, na verdade, têm uma noção errada a respeito dele. Israel traspassou o concerto, e ainda clamou: “Deus meu! Nós, Israel, te conhecemos”, Oséias 8.1,2.

2. Aqueles que são ignorantes a respeito de Cristo não podem ter nenhum conhecimento correto a respeito de Deus. Em vão, os homens fingem conhecer a Deus e ao Evangelho, enquanto desprezam a Cristo e ao cristianismo.

3. São realmente muito ignorantes a respeito de Deus e de Cristo aqueles que julgam que a perseguição das pessoas boas seja um serviço aceitável à Divindade. Aqueles que conhecem a Cristo sabem que Ele “não veio para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las”; que Ele governa pelo poder da verdade e do amor, e não do fogo e da espada. Não há igreja tão perseguidora como aquela que faz da ignorância a mãe da devoção.

 

IV – Ele lhes diz por que lhes deu este aviso agora, e por que não o fez antes.

1. Ele lhes diz isto agora (v. 4), não para desencorajá-los, ou aumentar seu sofrimento atual. Também não lhes falou do perigo que corriam para que pudessem planejar como evitá-lo, mas para que, quando chegasse “aquela hora” (e podem ter a certeza de que ela chegaria), eles se lembrassem de que o Senhor já lhes tinha falado sobre ela. Observe que, quando chega a hora do sofrimento, é útil que nos lembremos daquilo que Cristo nos disse sobre este.

(1) Ele lhes diz isto agora para que nossa fé na previsão e na fidelidade de Cristo possa ser confirmada. E:

(2) Para que as dificuldades possam ser menos dolorosas, pois já nos foi falado sobre elas anteriormente, e para que nos dediquemos à nossa profissão de fé na expectativa delas, de modo que elas não sejam uma surpresa, nem sejam interpretadas como um mal que nos é feito. Assim como Cristo, nos seus sofrimentos, também seus seguidores, nos seus sofrimentos, objetivam o cumprimento das Escrituras.

2. Por que Ele não lhes contou isto antes: “Eu não vos disse isso desde o princípio”, quando nos conhecemos, “porque estava convosco”.

(1) Enquanto estava com eles, Ele suportava o choque da maldade do mundo, e permanecia na linha de frente da batalha. Contra Ele, os poderes das trevas apontaram toda a sua força, não contra pequenos ou grandes, mas somente contra o rei de Israel. Ele não tinha necessidade de falar tanto aos discípulos sobre os sofrimentos, porque eles não tinham grande participação neles. Mas descobrimos que, desde o princípio, Ele lhes pedia que se preparassem para os sofrimentos. E, portanto:

(2) Isto parece indicar a promessa de “outro consolador”. Ele tinha lhes falado pouco sobre isto no início, porque Ele mesmo estava com eles, para instruí-los, orientá-los e consolá-los, e então não precisavam da promessa da presença extraordinária do Espírito. Os filhos da câmara nupcial não têm tanta necessidade de um consolador, até que o esposo seja retirado.

 

V – Jesus expressa uma preocupação muito afetuosa com a atual tristeza dos seus discípulos, por causa do que Ele lhes tinha dito (vv. 5,6): “Agora Eu não devo mais ficar convosco, mas devo seguir meu caminho em direção ‘àquele que me enviou’, para repousar ali, depois desta fadiga. ‘E nenhum de vós me pergunta’, com alguma coragem: ‘Para onde vais?’ Mas, em vez de procurar o que poderia consolar-vos, vós vos aprofundais no que parece melancólico, e o ‘vosso coração se encheu de tristeza”‘.

1. Ele lhes tinha dito que estava prestes a deixá-los: ”Agora, vou”. Ele não era afastado pela força, mas partia voluntariamente. Sua vida não era extraída dele, mas entregue por Ele. Ele foi para aquele que o enviou, para prestar contas da sua obra. Assim, quando nós partirmos deste mundo, nós iremos para aquele que nos enviou a ele, e isto deveria nos fazer, a todos, interessados em viver com bons objetivos, lembrando que temos uma tarefa que nos foi confiada, que deve ser desempenhada até um dia determinado.

2. Ele lhes tinha advertido sobre as dificuldades que sofreriam quando Ele tivesse partido, e que não deveriam esperar uma vida tão tranquila como a que tinham tido. Consequentemente, se este era o legado que Ele tinha para deixar a eles, que tinham deixado tudo por Ele, eles seriam tentados a pensar que tinham feito um mau negócio, e estavam, nesta ocasião, em consternação, em razão do que seu Mestre se solidariza com eles, mas ainda assim os repreende:

(1) Porque eles não se preocuparam com o consolo, e não se mobilizaram para procurá-lo: “Nenhum de vós me pergunta: Para onde vais?” Pedro tinha feito esta pergunta (cap. 13.36), e Tomé a tinha repetido (cap. 14.5), mas eles não perseveraram, eles não prestaram atenção à resposta. Eles estavam no escuro, no que dizia respeito a ela, e não investigaram nem procuraram um esclarecimento mais completo. Eles não continuaram a procurar, não continuaram batendo. Veja que Mestre misericordioso é Cristo, e corno Ele é condescendente com os fracos e ignorantes. Muitos professores não toleram que o aprendiz faça a mesma pergunta duas vezes. Se ele não consegue entender algo rapidamente, que continue sem entendê-lo. Mas nosso Senhor Jesus sabe corno lidar com as crianças, que devem ser ensinadas “mandamento sobre mandamento”. Se os discípulos aqui tivessem percebido que a partida de Jesus visava o progresso do seu Evangelho (Pois, por que seriam eles contra este progresso?) e o próprio progresso deles, seu afastamento deles e os sofrimentos deles por Ele não deveriam perturbá-los de urna maneira incomum. Pois uma visão de Jesus à direita de Deus seria um incentivo eficaz para eles, assim como o foi para Estêvão. Observe que uma investigação, com fé e humildade, dos desígnios e das tendências das mais obscuras dispensações da Providência nos ajudaria a nos reconciliarmos com elas, e nos faria sofrer menos, e temer menos, por sua causa. Isto nos faria deixar de perguntar: De onde eles vêm? E nos satisfaria abundantemente perguntar: Para onde eles vão? Pois sabemos que estas coisas contribuem para o bem, Romanos 8.28.

(2) Porque eles estavam excessivamente concentrados nos motivos da sua tristeza: “O vosso coração se encheu de tristeza”. Cristo tinha dito o suficiente para enchê-los de alegria (cap. 15.11). Mas, olhando somente para aquilo que lhes era contrário, e não para aquilo que era feito por eles, eles ficaram tão cheios de tristeza, que não havia espaço para a alegria. Observe que a falha e a tolice comum de cristãos melancólicos consiste em permanecerem no lado escuro da nuvem, para meditar somente no terror, e fazer-se de surdos para a voz de gozo e de alegria. Aquilo que enchia os corações dos discípulos de tristeza, e impedia a operação dos estímulos que Cristo administrava, era um afeto excessivamente grande por esta vida atual. Eles estavam cheios de esperanças com o reino e a glória externos do Mestre, além da esperança de que brilhariam e reinariam com Ele, e, consequentemente, ao invés disto, ouvir nada além de obrigações e aflições os enchia de tristeza. Nada atrapalha mais nossa alegria em Deus do que o amor pelo mundo, e a “tristeza do mundo” é a consequência.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

RONCO: UMA EPIDEMIA BARULHENTA

O ronco pode ser um indicador de apneia, uma doença grave. Novos recursos, como estímulos cerebrais, ajudam tanto o paciente quanto quem convive com ele a vencer esse problema.

Ronco - uma epidemia barulhenta

Durante muitos anos, o ronco estrondoso de AI Pierce costumava levar sua mulher a sair do quarto e se aconchegar no sofá da sala de televisão. Após inúmeras noites mal dormidas, ele passou, então, a usar um pequeno controle remoto para ligar um sensor eletrônico implantado no peito. O dispositivo detecta pequenas mudanças no padrão de sua respiração – sinais precoces de que as vias aéreas de Pierce estão começando a entrar em colapso. Ao detectar essas mudanças, ele aciona um leve estímulo elétrico que percorre um fio até o pescoço. O fio termina em um minúsculo eletrodo ligado a um nervo que controla os músculos de sua língua. O nervo, estimulado pela carga, ativa músculos que empurram a língua de Pierce para a frente na boca, levando as vias aéreas a abrirem.

Durante toda a noite, o encanador de 65 anos de Florence, Carolina do Sul, recebe centenas de pequenos choques – mas dorme tranquilamente. Na manhã seguinte, descansado e revigorado, Pierce usa o controle para desligar o dispositivo.

Essa nova tecnologia, chamada estimulação eletrônica das vias aéreas superiores, aprovada no verão passado pela Administração de Alimentos e Medicamentos (FDA) dos Estados Unidos, oferece muito mais que alívio de um barulho irritante. O ronco alto de Pierce era o sintoma mais evidente de apneia obstrutiva do sono. O distúrbio é drasticamente subdiagnosticado, com número de atingidos estimado em 25 milhões de americanos. No Brasil, o Instituto do Sono de São Paulo estima que aproximadamente, 33% de pessoas sofrem de apneia. O problema é grave: está associado a hipertensão arterial, cardiopatias, diabetes, depressão e até diminuição da capacidade de aprendizagem, podendo deflagrar ou agravar esses quadros. Em geral, portadores de apneia do sono grave têm o triplo do risco de morte por todas essas causas, em comparação com pessoas sem o distúrbio.

No entanto, não é fácil encontrar auxílio para quem sofre do problema. Uma opção eficaz, uma máscara presa com tira que empurra delicadamente o ar para dentro da garganta para mantê-la aberta, é compreensivelmente rejeitada por grande parte dos que tentam usá-la, por ser bastante desconfortável. Outras opções oferecem resultados contraditórios. Assim, por mais radicais que possam parecer, o implante cirúrgico e a estimulação do nervo talvez sejam a resposta para muitos roncadores. Em um estudo publicado no ano passado no New England Joumal of Medicine, a técnica reduziu episódios de apneia grave em cerca de dois terços. A aprovação da FDA viabiliza o tratamento com cobertura de seguro.

Grande parte dos médicos ainda não se dedicam muito a encontrar terapias para a apneia. Mesmo os pacientes tendem a não considerar que o distúrbio seja grave. “A apneia do sono não aparece em um atestado de óbito”, avalia Patrick J. Strollo Jr., especialista do sono do Centro Médico da Universidade de Pittsburgh. “Apesar de poder contribuir para a morte, não é realmente uma causa direta e o tratamento costuma ser visto como pouco urgente.”

Aproximadamente metade das pessoas que roncam alto têm apneia do sono, segundo a Fundação Nacional do Sono, nos Estados Unidos – mas nem todos sabem que sofrem desse quadro. Pierce só descobriu que tinha apneia porque sua mulher, Gail, solicitou ao médico uma receita de pílulas para dormir. Ele perguntou o motivo, e ela explicou que o ronco do marido não a deixava descansar. O médico lhe disse que, se as coisas eram assim tão sérias, o marido deveria fazer uma polissonografia. Durante o exame, feito à noite, enquanto o paciente dorme, vários sensores são ligados a ele. A observação revelou que Pierce tinha até 30 episódios de apneia por hora – ou seja, a cada dois minutos apresentava dificuldade para respirar.  Apesar de anos de cansaço contínuo, ele ficou atordoado ao saber do problema médio. “Pensei que era assim que todos viviam; não sabia de nada diferente”, recorda.

A apneia obstrutiva do sono costuma se desenvolver quando as pessoas envelhecem ou engordam, o que causa o estreitamento do tubo das vias aéreas, assim como a perda do tônus dos músculos da boca e da garganta. Quando os músculos relaxam durante o sono, as vias aéreas sofrem constrição e bloqueiam o fluxo de ar para os pulmões.

Algumas pessoas com apneia grave param de respirar completamente, por até um minuto ou dois, até 600 vezes por noite. Essa privação de oxigênio força o coração a trabalhar mais e cria ondas de adrenalina, que por sua vez provocam picos de pressão arterial.

Além disso, os níveis de oxigênio oscilantes podem provocar danos em células e tecidos nos pulmões e em outros órgãos.

Grandes intervenções, como a cirurgia reconstrutiva da garganta, têm sido ineficazes. Médicos frequentemente recomendam alterações no estilo de vida como perda de peso e às vezes até mesmo tocar instrumentos de sopro para fortalecer e tonificar os músculos da língua. Dilatadores nasais e bocais genéricos, fáceis de adquirir em farmácias, visam o ronco, o sintoma, em vez da apneia subjacente. O problema é que o que ajuda um paciente pode ser completamente inútil para outro. Além disso, qualquer objeto projetado para ficar na boca ou na garganta durante o sono, e manter as vias aéreas abertas, pode incomodar o paciente e realmente atrapalhar o sono. Qualquer tratamento precisa ser confortável, fácil de usar e confiável.

É o caso da máscara de oxigênio, chamada CPAP, que pressiona as vias aéreas: cobrindo o nariz (ou o nariz e a boca), sendo mantida por tiras que envolvem a cabeça. Uma pequena bomba de cabeceira proporciona um fluxo constante de ar pressurizado para a máscara através de tubo plástico. A terapia, disponível desde o início da década de 80, alivia os sintomas de apneia obstrutiva do sono, e pesquisas indicam índices mais baixos de doenças cardiovasculares e mortalidade entre pacientes que a adotam.

Porém, metade das pessoas que tentaram usar a máscara desistiram. Pierce é um deles. Como tantos outros, ele não conseguia dormir facilmente enquanto usava algo sobre o rosto, e ele não gostava do modo como a tubulação restringia seus movimentos na cama.

Strollo é um forte defensor da CPAP, mas há muito reconheceu a necessidade de alternativa. A estimulação eletrônica de vias aéreas superiores pode ser essa opção, segundo ele. O pesquisador conduziu um amplo estudo sobre o novo tratamento, um ensaio de um ano sobre sua segurança e eficácia, envolvendo 126 pessoas com apneia obstrutiva de moderada a grave. Todos os participantes tinham índice de massa corporal (IMC) de 32 ou menos (um homem com 1,77 m de altura e 101 kg de peso tem IMC de 32), tinham tentado CPAP inicialmente e não apresentavam histórico de doença cardiovascular. Em um estudo de janeiro passado no New England Journal of Medicine, Strollo e seus colegas relataram que a terapia, com um dispositivo feito pela Inspire Medical Systems, reduziu eventos de apneia do sono dos participantes em 68%, de uma média de 29,3 eventos por hora para nove por hora, basicamente transformando a apneia grave em um caso leve. (O CPAP, após ajuste, pode ter resultado ainda melhor, reduzindo a quantidade de eventos de apneia grave a menos de cinco por hora, em média, mas apenas em pacientes que o usarem continuamente.)

O cientista Alan R. Schwartz, especialista do sono na Universidade Johns Hopkins e responsável por grande parte do trabalho inicial de estimulação no nervo – ele mostrou, em animais, que dar choque no nervo controlador da língua abriria as vias aéreas -, diz estar satisfeito, mas cauteloso. “Ainda temos muito a aprender”, observa ele, ressaltando que pessoas com sobrepeso e obesas, grupo que representa porcentagem significativa da população com apneia obstrutiva, não são consideradas boas candidatas para o procedimento devido ao excesso de tecido em vias aéreas.

Além disso, a estimulação envolve um procedimento invasivo. A cirurgia para implante do dispositivo leva cerca de duas horas. Um cirurgião de cabeça e pescoço, operando através de uma incisão na lateral do pescoço, sob o queixo do paciente, coloca um eletrodo sobre o nervo hipoglosso, que controla os músculos da língua. Ele também implanta um conjunto de bateria e um sensor no peito e os conecta ao eletrodo com um fio condutor. Geralmente, o paciente tem alta no dia seguinte; o dispositivo é ligado e ajustado após um mês.

Pesquisadores investigam alternativas, como medicação. Em um estudo de seis semanas envolvendo 120 pacientes, David W. Carley, médico da Universidade de Illinois, em Chicago, está testando um fármaco denominado dronabinol, versão sintética de um composto ativo da maconha. Ele está comparando pessoas que recebem o medicamento com as que não o recebem. O dronabinol pode prevenir ou reduzir episódios de apneia do sono, estimulando certa atividade dos neurotransmissores no cérebro. Outros pesquisadores examinam o papel exercido pela leptina, hormônio que suprime o apetite e pode melhorar a função respiratória. Um pequeno estudo de 26 obesos com IMC superior a 45 sugere que determinados níveis de leptina podem minimizar o colapso das vias aéreas superiores.

Schwartz também quer modificar a técnica de estimulação, testando um dispositivo que elimina o sensor. Em vez disso, ele envia uma carga repetida ao nervo da língua para manter as vias aéreas abertas. Esse refinamento deve simplificar a cirurgia e reduzir peças que poderiam falhar, segundo Schwartz. Pierce, no entanto, está muito feliz com seu sistema. Seja acordado ou dormindo tranquilamente, ele nem percebe a presença do dispositivo.

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OUTROS OLHARES

PEÇA RARA

A extinção do filho do meio na família moderna.

Peça rara

Negligenciado, esquecido, sem papel definido. Não bastasse o sentimento de abandono que usualmente o acompanha, o filho do meio parece estar com os dias contados, pelo menos nos países ocidentais. Os riscos a sua existência decorrem, claro, da decisão dos casais de terem, no máximo, dois filhos.

Há vários indicadores de que famílias pequenas são o novo padrão. A taxa de fecundidade atingiu 1,76 nos Estados Unidos no ano passado, o menor índice em 30 anos. Na Europa, 47% das famílias têm um único filho, 40% chegaram aos dois rebentos e apenas 13% possuem três ou mais, ao menos nos 65 milhões de famílias pesquisadas pela Eurostat, o órgão que abastece a Comunidade Europeia com dados sobre populações. No Brasil, o índice de fecundidade foi de 1,72 em 2015.

Os especialistas concordam em relação aos motivos principais para o fim da família numerosa. O conflito entre a carreira da mulher e a maternidade e a delonga para ter o primeiro filho são alguns deles. O psicanalista Christian Dunker, autor de Reinvenção da intimidade: políticas do sofrimento cotidiano, também aponta expectativas de desempenho idealizadas, que fazem os pais apostar mais em menos fichas. “Quando para ser pai ou mãe não basta ser pai ou mãe, mas envolve a comparação constante com os melhores pais, a tarefa é pesada demais”, afirmou. “Narcisicamente pesada demais.”

A psicóloga americana Catherine Salmon agrega às justificativas para uma prole menor o alto custo com educação e a necessidade dos pais de reservar tempo para si mesmos. Em parceria com a jornalista Katrin Schumann, ela escreveu The secret power of middle children (O poder secreto dos filhos do meio), ainda sem edição em português. “O principal motivo por trás do livro é derrubar mitos em torno desse indivíduo”, afirmou a psicóloga. “O número de filhos do meio está visivelmente decrescendo nos Estados Unidos e no Canadá, por exemplo, mas queremos ajudar os milhões que vieram – e ainda vêm – ao mundo nessa posição a se entenderem melhor, já que foram largamente ignorados pelos pesquisadores.”

Salmon lembra que o principal estigma a rondar os filhos do meio é o do tímido amargurado, aquela flor de estufa para a qual ninguém dá bola. “É uma visão negativa que não corresponde a todo o seu desempenho diplomático”, declarou. A psicóloga explicou que, não raro, o filho do meio apara arestas de relacionamento entre o mais velho e o caçula.

Ana Cláudia Bastos de Pinho Pessoa, de 27 anos, resume sua função: “Considero que minha ponte entre eles é importante, sim. Quando um não entende o outro, sempre tento acalmar as coisas”, disse. Nascida em Fortaleza, a revisora de livros didáticos vive em Hyêres, no sudeste da França, onde trabalha como missionária em uma comunidade religiosa. Ali, a garota introspectiva da infância toca percussão, dança, dá palestras e trabalha como vendedora no santuário onde vive. “Acho que outra característica dos filhos do meio é saber executar tarefas direcionadas a eles e, ao mesmo tempo, exercer papel de liderança em outros momentos”, afirmou Pessoa. Sua irmã mais velha, de quem se disse “de alguma maneira submissa” quando criança, hoje tem 29 anos. O caçula, de quem cuidou de perto, fez 24.

Lutar pela diferenciação seria outra marca registrada do filho do meio. Em meio às novidades trazidas tanto pelo mais velho quanto pelo mais novo, ele precisa fazer malabarismos para alcançar uma identidade própria. Esse comportamento por vezes é associado à rebeldia, mas não passaria da necessidade do filho do meio de ganhar cor em meio a uma posição bege.

“Existe no imaginário social este ‘não ficou nem lá nem cá’, uma situação intermediária em que até a nomeação ‘do meio’ parece carecer de sentido”, disse a psicanalista Carmen Àvila, de São Paulo. Por isso os que integram essa categoria invariavelmente apelam para a criatividade, ” por uma questão de sobrevivência”. Nos sites em que filhos do meio mostram estratégias para driblar a invisibilidade, as fotos retratam crianças fazendo caretas para a câmera, vestindo um saco amarelo na cabeça ou invadindo a cena de um jeito inusitado. Às vezes escapa um olhar atravessado para o caçula. “O do meio já foi o bebê da família, mas perde esse lugar com a chegada do terceiro”, lembrou Ávila.

Dependendo do intervalo de tempo para que isso aconteça, o ciúme pode vir a cavalo. “Quando minha mãe ficou grávida de meu irmão mais novo, eu tinha 12 anos e vivi uma crise profunda de ciúme”, afirmou Fábio Henrique Novais de Mesquita, de 38 anos, professor de língua portuguesa no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão. “Pensei que minha mãe implicava com tudo que eu fazia só porque estava grávida. Cheguei a dizer que ela tinha ‘enjoado’ de mim”, recordou, rindo. Mas era séria sua premência de aparecer depois que o irmão adentrou a casa. “Eu gostava de ajudar nas tarefas domésticas para ser elogiado, gostava de ser necessário. Não apenas útil, mas necessário.”

Mesquita tem um irmão, e não uma irmã, mais velho que ele. Para os estudiosos do tema, faz diferença os três filhos serem ou não do mesmo sexo. “Todos meninos ou todas meninas significa uma competição direta maior”, afirmou a americana Salmon. No caso de três homens, disse Dunker, haveria um conflito agudo para o filho do meio, que ou se volta muito para os pais ou se volta pouquíssimo, o que estimularia sua independência. Mesquita sempre foi mais família. “Mesmo com a vida financeira estável, permaneci em casa cuidando de meus pais, enquanto meus irmãos casaram e foram fazer a vida fora”, disse ele, que mora em São Luís, no Maranhão. Quando o trio é feminino, Dunker aponta a forte pressão para a do meio se destacar e a necessidade de os pais não furarem preferências. Nas combinações mistas, as tensões têm nuances diferentes.

Há casos em que as famílias são surpreendidas pela vinda de gêmeos quando pensavam em acrescentar apenas mais um lugar à mesa. A chegada de Beatriz e Helena surpreendeu Renata Campos Pagano, de 47 anos, que mora em Rio Claro, São Paulo. Ela já tinha João, então com 1 ano e 10 meses, quando se soube grávida das pequenas. A diferença de dois minutos entre uma e outra, embora ínfima, estabeleceu os papéis. Beatriz, hoje com 19 anos, é a do meio e assim se sente. “Eu cuido de minha irmã, sou mais proativa, mas não acho que sofro com isso, não preciso de atenção”, afirmou, resoluta. Ao que os irmãos respondem, em coro: “Mais ou menos”. Da última vez em que a mãe e a irmã foram comer hambúrguer e não a chamaram, bateu certo sentimento de indignada rejeição, outro sintoma típico do filho intermediário.

Já a portuguesa Betina Natel não sente essa diferença nos gêmeos Alina e Dominic, que chegaram três anos depois de Marc. A menina despontou três minutos antes do irmão, mas a mãe disse não sentir que Alina seja preterida – nem preferida. “Os gêmeos estão com 9 anos e alternam as fases; quando um está num período mais difícil, o outro espera”, afirmou. O pai das crianças é suíço, e a família vive no cantão de Zurique.

Com cerca de 8 milhões de habitantes, a Suíça está engatinhando em direção às famílias mais numerosas. De acordo com reportagem do jornal Blick, em 2016 nasceram 10 mil terceiros filhos, 2 mil a mais que em 2006. Seriam, a priori, 10 mil filhos do meio reclamando atenção ou saindo à luta. Uma instituição cristã suíça chamada IG Familie 3plus oferece apoio a casais com três filhos ou mais, como o próprio nome revela, providenciando roupas, brinquedos, férias com desconto, cadastro para ajuda financeira e respiro para mães exaustas. “Encorajamento mútuo é nosso objetivo”, anuncia o bordão da IG.

A realidade brasileira caminha para outro cenário, o das famílias menores. “Penso que, hoje, os casamentos tendem a durar, no máximo, dois filhos”, disse Dunker. Proliferaram os recasamentos, com meios-irmãos exibindo grande diferença de idade e propostas de criação. Isso talvez altere o conceito de filho do meio, ponderou o psicanalista. Fica mais forte a variável “filho desta relação” ou “filho da relação anterior”. Não que isso seja menos desafiador. “A orquestração dos modos de amor e de respeito nessas migrações, associada à prática maciça de abandono tácito, em que cada pai deixa para o outro as decisões mais difíceis, traz efeitos de longo prazo com os quais estamos nos deparando agora”, afirmou.

Na opinião da psicóloga Salmon, que não desgruda o olhar do filho do meio, tudo depende de quando essas famílias se rearranjam: “Muito da personalidade da pessoa é soldada nos primeiros dez anos de vida, portanto os efeitos vão depender da idade da criança quando a nova configuração se formar”. Deduz-se que o filho do meio pode continuar se sentindo assim, como veio ao mundo no núcleo original, ainda que seja o quarto ou sexto no layout familiar recente. “No fundo, a forma como esse indivíduo responde à ordem de chegada depende do entrelaçamento entre a estrutura psíquica dos pais, da estrutura psíquica da criança e do contexto sociocultural em que navega essa família”, acrescentou a psicanalista Ávila.

O que talvez anime o filho intermediário é saber que personalidades como Martin Luther King Jr., Abraham Lincoln, John F. Kennedy, Madonna, princesa Diana, David Letterman, Ayrton Senna e Bill Gates foram o que foram apesar de ser miolo de sanduíche – ou por causa disso. E que o calendário americano reserva um dia para as middle children. É o 12 de agosto, criado ainda nos anos 1980 para valorizar quem se sente ofuscado em casa, mas que justamente por esse motivo pode ganhar o universo.

GESTÃO E CARREIRA

A ILUSÃO DO CEO BADALADO

Aceitar salário menor para trabalhar com um astro pode ser mau negócio.

A ilusão do CEO badalado

Embora o senso comum indique que a oferta de melhor remuneração é a justificativa decisiva para optar por um emprego, pesquisadores do Massachusetts Institute of Technology (MIT) e da Universidade de Nova York descobriram que não é bem assim. Avaliando cerca de 700 propostas de trabalho a candidatos que cursaram MBAs de elite, seu estudo, publicado no jornal Sociological Science, descobriu que muitos graduados escolhem certos empregos não pelo maior salário, mais sim aqueles resultantes de networking que oferecem perspectivas futuras mais promissoras para desenvolver a carreira, mesmo que isso cobre um custo financeiro inicial. Em vez de utilizar canais formais, como o recrutamento a partir das universidades, esses candidatos utilizam sua rede de contatos sociais para tentar ingressar em empresas comandadas por famosos CEOs. Acreditam que assim podem absorver o conhecimento dos “ídolos”, além de tornar o emprego mais charmoso entre colegas no mercado de trabalho.

OK, mas isso funciona mesmo? Estudo feito por pesquisadores da Universidade de Notre Dame, por exemplo, alerta para as limitações dessa estratégia de carreira. Sua conclusão básica: ter um superstar como mentor ou protetor não significa necessariamente que a pessoa disponha das habilidades essenciais para o aprendizado, e isso pode gerar estresses na relação. Embora sua pesquisa tenha se concentrado em dados da National Football League (NFL) americana, os autores argumentam que suas constatações são úteis a qualquer profissão. Tomando como base resultados de carreiras de cerca de 1,3 mil técnicos e dirigentes da NFL entre 1980 e 2010, incluindo número de vitórias e campeonatos conquistados, a pesquisa avaliou o desempenho dos jogadores que tinham maior prestígio inicial junto a seus líderes, descobrindo que muitos não corresponderam a essas expectativas e acabaram se desgastando, indo para o banco de reservas ou sendo dispensados.

É a consequência do chamado “efeito halo” (de auréola), quando a avaliação do desempenho de alguém é distorcida por algum tipo de viés que acaba gerando conclusões equivocadas. Elaborado em 1920 por Edward Lee Thorndike, professor da Universidade de Columbia e um pioneiro da psicologia educacional, esse conceito permanece válido até hoje. Em empresas ocorre o mesmo fenômeno: ser protegido e promovido por um CEO badalado não é garantia de sucesso, pois seu desempenho depende essencialmente de sua qualificação para o cargo e, ao não corresponder às expectativas, sua carreira tende a estagnar em vez de avançar.

ALIMENTO DIÁRIO

JOÃO 15: 26-27

Alimento diário

O Anúncio do Consolador

Tendo falado sobre a grande oposição que seu Evangelho provavelmente iria encontrar no mundo, e as dificuldades que seriam impostas aos que o pregassem, para que ninguém temesse que eles e o Evangelho fossem destruídos por esta violenta torrente, aqui Ele sugere a todos aqueles que desejavam o bem da sua causa e dos seus interesses a provisão efetiva que foi feita para apoiá-los, tanto pelo testemunho principal do Espírito (v. 26) quanto pelo testemunho secundário dos apóstolos (v. 27), e os testemunhos são os apoios adequados da verdade.

 

I – Aqui está a promessa de que o bendito Espírito irá manter a causa de Cristo no mundo, apesar de toda a oposição que ela encontrar. Cristo, quando foi ofendido, entregou sua causa ofendida ao seu Pai, e não perdeu pelo seu silêncio, pois o Consolador veio, defendeu-a vigorosamente e prosseguiu com ela triunfantemente. “Quando vier o Consolador”, ou Advogado, ‘que procede do Pai’, e ‘que eu da parte do Pai vos hei de enviar’, para suprir a falta da minha presença física, Ele ‘testificará de mim’ contra aqueles que me odeiam sem causa”. Neste versículo, nós temos mais informações a respeito do Espírito Santo do que em qualquer outro versículo na Bíblia. E, sendo batizados no seu nome, nós devemos nos interessar em conhecê-lo, tanto quanto Ele é revelado.

1. Aqui está uma explicação do Espírito na sua essência, ou mais exatamente, na sua subsistência. Ele é o “Espírito da verdade, que procede do Pai”. Aqui:

(1) Ele é mencionado como uma pessoa distinta, não uma qualidade ou propriedade, mas uma pessoa, sob o nome próprio de “Espírito”, e sob o título adequado de “Espírito da verdade”, um título apropriado para Ele, uma vez que Ele testifica.

(2) Como uma pessoa divina, “que procede do Pai”, que se manifestou desde a antiguidade, desde a eternidade. O espírito ou fôlego do homem, chamado de sopro da vida, procede do homem, e, interagindo com ele, expressa seu pensamento. Por ele estimulado, às vezes o homem exerce sua força para apagar o que ele deseje extinguir, e lutar por aquilo que ele deseje incentivar. Desta maneira, o bendito Espírito é a emanação da luz divina, e a energia do poder divino. Os raios do sol, pelos quais ele transmite e difunde sua luz, seu calor e sua influência, procedem do sol e são um só com ele. O Credo Niceno diz: O Espírito procede do Pai e do Filho, pois é chamado de Espírito do Filho, Gálatas 4.6. E aqui está escrito que o Filho o envia. A igreja grega preferiu dizer: do Pai, por intermédio do Filho.

2. Na sua missão.

(1) Ele virá em um profuso derramamento de seus dons, graças e poderes, mais abundante do que jamais houvera. Cristo tinha sido, por muito tempo, aquele que viria. Agora o bendito Espírito o é.

(2) “Eu da parte do Pai vos hei de enviar”. Ele tinha dito (cap. 14.16): “Eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador”, o que indica que o Espírito é o fruto da intercessão que Cristo faz, no interior do véu. Aqui Ele diz: “Vos hei de enviar”, o que indica que Ele é o fruto do seu domínio, no interior do véu. O Espírito foi enviado:

[1] Por Cristo, como Mediador, agora elevado às alturas, para dar dons aos homens, e todo o poder seria dado a Ele.

[2] Pelo Pai: “Não somente do céu, da casa de meu Pai” (o Espírito foi dado em meio a um som vindo do céu, Atos 2.2), “mas de acordo com a vontade e a indicação de meu Pai, e, em conformidade com elas, com seu poder e autoridade”.

[3] Aos apóstolos, para instruí-los na sua pregação, capacitá-los para o trabalho, e sustentá-los nos seus sofrimentos. Ele foi dado a eles e aos seus sucessores, tanto no cristianismo quanto no ministério. A eles, à sua posteridade, e à posteridade da sua posteridade, de acordo com a promessa, Isaías 59.21.

3. Na sua função e na sua operação, que são duas:

(1) Uma estava implícita no título dado a Ele. Ele é “o Consolador”, ou Advogado. Um advogado por Cristo, para manter sua causa contra a infidelidade do mundo, um consolador para os santos, contra o ódio do mundo.

(2) Outra, expressa: “Ele testificará de mim”. Ele não é somente um advogado, mas também uma testemunha a favor de Jesus Cr isto. Ele é um dos três que testificam no céu, e o primeiro dos três que testificam na terra, 1 João 5.7,8. Ele instruiu os apóstolos, e os capacitou para que realizassem milagres. Ele inspirou todo o processo de escrita das Escrituras, que são as testemunhas permanentes que testificam a respeito de Cristo, cap. 5.39. O poder do ministério deriva do Espírito, pois Ele qualifica ministros, e o poder do cristianismo, também, pois Ele santifica os cristãos, e nas duas atividades, Ele testifica de Cristo.

 

II – Aqui está a promessa de que os apóstolos também, com a ajuda do Espírito, teriam a honra de ser testemunhas de Cristo (v. 27): “E vós também testificareis” de mim, sendo testemunhas competentes, “pois estivestes comigo desde o princípio” do meu ministério. Observe aqui:

1. Que os apóstolos foram nomeados para serem testemunhas de Cristo no mundo. Quando Ele disse: O Espírito testificará, depois acrescentou: E vós também testificareis. Observe que a obra do Espírito não deve substituir, mas despertar e incentivar a nossa. Embora o Espírito testifique, os ministros também devem dar seu testemunho, e as pessoas devem aceitá-lo, pois o Espírito da graça testemunha e opera através dos meios da graça. Os apóstolos foram as primeiras testemunhas que foram chamadas no famoso julgamento entre Cristo e o príncipe deste mundo, que resultou na expulsão do invasor. Isto evidencia:

(1) A obra destinada a eles. Eles deviam atestar a verdade, toda a verdade, e nada mais que a verdade a respeito de Cristo, para a recuperação do seu justo direito e a manutenção da sua coroa e dignidade. Embora os discípulos de Cristo tivessem fugido quando deviam ter testificado dele, no seu julgamento perante o sumo sacerdote e Pilatos, depois que o Espírito foi derramado sobre eles, eles apareceram corajosos, defendendo a causa de Cristo contra as acusações que lhe eram feitas. A verdade da religião cristã devia ser provada, em grande medida, pela evidência dos fatos, especialmente a ressurreição de Cristo, da qual os apóstolos foram, de uma maneira especial, testemunhas escolhidas (Atos 10.41), e deram seu testemunho de modo adequado, Atos 3.15; 5.32. Os ministros de Cristo são suas testemunhas.

(2) A honra que lhes foi conferida com isto – que eles seriam cooperadores de Deus. “O Espírito testificará de mim, e também vocês, sob a administração do Espírito, e de acordo com o Espírito (que irá impedir que vocês se enganem no que irão relatar, com base no seu próprio conhecimento, e lhes irá informar o que vocês não poderiam saber, exceto por revelações), testificarão. E o fato de que Cristo os tinha honrado e os reconheceria poderia encorajá-los contra o ódio e o desprezo do mundo.

2. Que eles eram qualificados para testificar: “Estivestes comigo desde o princípio”. Eles não somente ouviram seus sermões públicos, mas também tinham um diálogo privado e constante com Ele. Ele andava fazendo o bem, e, enquanto os outros viam somente as maravilhosas e misericordiosas obras que Ele realizava nas suas próprias cidades e regiões, aqueles que viajavam com Ele eram testemunhas de todas elas. Da mesma maneira, eles tinham oportunidade de observar a pureza sem mácula da sua conduta, e podiam testemunhar que nunca viram nele, nem ouviram dele, nada que tivesse a menor semelhança a uma fraqueza humana. Observe que:

(1) Nós temos grandes motivos para receber o registro que os apóstolos deram de Cristo, pois eles não falavam baseados em rumores, mas falavam daquilo sobre o que tinham a maior certeza imaginável, 2 Pedro 1.16; 1 João 1.1,3.

(2) Os mais capacitados para dar testemunho de Cristo são aqueles que estiveram com Ele, pela fé, esperança e amor, e vivendo uma vida de comunhão com Deus nele. Os ministros devem, primeiro, aprender a respeito de Cristo, e depois, pregá-lo. Falam melhor sobre as coisas de Deus aqueles que falam com base em experiências. É particularmente uma grande vantagem o fato de conhecer a Cristo desde o início, e poder compreender todas as coisas de forma detalhada (Lucas 1.3). Ter estado com Ele desde o início dos nossos dias. Conhecer o Senhor o mais cedo possível na vida e viver constantemente no Evangelho de Cristo farão de um homem um bom despenseiro.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

SENSAÇÃO DE NÃO TER ESCOLHA AUMENTA O ESTRESSE

Mesmo em situações de pressão extrema, causada pela vivência do horror, da violência, ou pela morte de alguém querido, há a possibilidade de não se furtar a tomar decisões.

Sensação de não ter escolha aumenta o estresse.

Não há como fugir dele. O estresse já se incorporou ao cotidiano da maioria das pessoas, em especial nas grandes cidades. E embora tenha se tornado nos últimos anos sinônimo de irritação, frustração e problemas a serem resolvidos, não é, por si só, necessariamente ruim. Pelo contrário: se hoje estamos aqui é porque, em momentos e grande risco à preservação da própria vida (como encontrar um predador pela frente), em frações de segundo cérebro de nossos antepassados deu ordem para que fosse descarregada na corrente sanguínea uma considerável carga de hormônios. Esse processo orgânico, indissociável das consequências emocionais, os preparou para duas reações possíveis: lutar ou fugir. Obviamente havia outra possibilidade: ficar e ser inexoravelmente devorado pela fera – mas, claro, os que fizeram essa escolha não viveram para perpetuar seus genes e se tornar nossos ancestrais. O problema dessa história são os resquícios que carregamos desse funcionamento.

Não por acaso, quase todo mundo vive estressado na maior parte do tempo. Os números são impactantes. Segundo dados da International Stress Management Association (lsma), no Brasil 70% dos adultos economicamente ativos sofrem de estresse e quase metade desse contingente sente-se sobrecarregada em razão do trabalho. Brasileiros, aliás, ocupam o segundo lugar nesse ranking pouco atraente dos mais estressados do mundo – perdendo apenas para os japoneses. O quadro tem consequências graves: estudos científicos indicam que o nível de estresse e o estilo de vida da pessoa determinam em torno de 60% das doenças que ela pode vir a desenvolver. Especialistas americanos estimam que cerca da metade das internações diárias nos Estados Unidos hoje é causada por distúrbios direta ou indiretamente decorrentes da sobrecarga, principalmente emocional: são mais de 230 milhões por ano. Ainda assim, por estranho que possa parecer para alguns, o estresse tem seu lado positivo: pode ser benéfico, desde que ocorra em doses pequenas. Quem vive experiências instigantes e descortina horizontes inteiramente novos está sujeito a uma excitação estimulante. Ou seja: evitar o estresse a qualquer custo, além de impossível, seria, portanto, indesejável.

“Quem vive de modo excessivamente pacato também sofre com estresse causado pelo tédio e pela monotonia”, afirma o endocrinologista Sepp Porta, chefe do Instituto para Pesquisas Aplicadas do Estresse, em Graz, na Áustria. Estudos confirmam suas palavras: a calma duradoura é tão estressante quanto uma vida demasiadamente agitada.

A diferença mais marcante entre as pessoas muito e as pouco estressadas foi encontrada por pesquisadores ingleses do Centro Internacional de Saúde e Sociedade, por meio do famoso estudo Whitehall II. Durante vários anos, foram analisadas a saúde e as condições de trabalho e de vida de 10 mil funcionários públicos de meia-idade. Os resultados mostraram que a diferença fundamental na suscetibilidade ao estresse não reside nem nos fatores genéticos nem na estrutura psíquica dos indivíduos, mas em um fator psicossocial: quanto mais autônoma e dona de seu destino é uma pessoa, tanto menos está sujeita a tensões e ao estresse. É por esse motivo que, de acordo com os resultados coincidentes dos estudos americanos, suecos e ingleses, funcionários em posição de comando não apresentam a maior incidência de problemas decorrentes de tensão nervosa.  Apesar de terem agendas superlotadas e carga excessiva de trabalho, pessoas em posição de comando costumam ser mais relaxadas que seus subalternos. Estes últimos, embora só precisem trabalhar oito horas por dia, têm de cumprir tarefas que lhes são impostas e obedecer a prazos. E, muitas vezes, se frustram por não se sentirem reconhecidos como gostariam. Podemos pensar que essa situação se agrava quando, inconscientemente, nutrimos em relação a nossos chefes a expectativa da aceitação incondicional que outrora desejamos ter de papai e mamãe. É claro que essa dependência da aprovação de figuras de autoridade pode ser vista (e possivelmente transformada) na psicoterapia – mas, enquanto persiste, é inegavelmente estressante e tem efeitos no corpo.

Vários estudos recentes mostram a alta proporção de vítimas de infarto que sofreram rebaixamento profissional e, com isso, perderam liberdade de decisão. Algumas delas talvez apresentassem propensão genética ao estresse, outras talvez carregassem traumas de infância, e em vários casos o infarto estava relacionado às suas características de personalidade. Mas não há dúvidas de que, na maioria dos pacientes, o fator psicossocial exerceu papel determinante no desencadeamento da doença. Em última instância, porém, o fator psicossocial é o único que decorre em sua totalidade da ação humana, o que abre possibilidade de ser modificado. Não há como influenciar a herança genética de um indivíduo; do mesmo modo, sua estrutura de personalidade dificilmente é modificada. Mas os fatores psicossociais talvez possam ser alterados com resultados positivos.

Apesar das boas perspectivas, as receitas correntes de combate ao estresse, banhos quentes, exercícios físicos, relaxamento muscular -, não obstante seu efeito inegavelmente benéfico, não alteram estruturalmente as fontes de estresse. Nos últimos anos, cada vez mais especialistas têm concordado que, tão importante quanto mudar as coisas em si, concretamente, é imprescindível alterar a relação que temos com as situações da própria vida.

Sensação de não ter escolha aumenta o estresse.2

ÓCIO CRIATIVO

Há alguns anos, a psicóloga Shansky, pesquisadora da Universidade Northeastern, em Boston, descobriu, em estudos com animais, que o estresse prolongado afeta as conexões entre os neurônios córtex pré-frontal. Nos seres humanos, esta região regula funções cognitivas superiores como a concentração e a organização.  Alterações estruturais podem levar a deficiências nessas funções. Há pessoas que se sentem especialmente estimuladas quando são desafiadas com

OUTROS OLHARES

A GERAÇÃO TOUCH SCREEN

Os dispositivos móveis prejudicam o desenvolvimento das crianças? Os estudos ainda são recentes, mas a ciência já mostra que de fato existem riscos – mas também benefícios que não podem ser desprezados.

A geração touch screen

Você já deve ter ouvido alguém dizer algo como “essas engenhocas ultra- modernas destroem nosso cérebro e arruínam o desenvolvimento das crianças”. A preocupação é compreensível, e não apenas porque todas as gerações anteriores tendem a desaprovar os comportamentos das seguintes. Sob vários aspectos os aparelhos digitais estão (pelo menos aparentemente) minando nossa juventude, da mesma forma como o rock “prejudicou” os jovens da década de 60, a televisão “comprometeu” a formação de nossos avós e os carros colocaram em risco nossos bisavós. Segundo essa lógica, estamos sendo arruinados há gerações. Mas o que a ciência diz sobre os efeitos nocivos da mais recente tecnologia?

Parte da resposta depende de sua definição de “arruinar”. É verdade que as coisas são diferentes agora. Muitas crianças moradoras das grandes cidades não “saem para brincar”, pelo menos não desacompanhadas. Mas também não precisam mais decorar nomes de presidentes e a tabela periódica, pois estão a apenas uma tecla de distância do Google. Estamos perdendo velhas destrezas, é verdade. Poucos sabem agora como usar um papel-carbono ou cuidar de cavalos; escrever à mão e dirigir podem ser as próximas habilidades a desaparecer.

Porém, diferente não é sinônimo de pior. E, por mais que psicólogos, educadores e pais se preocupem, ainda é surpreendentemente difícil encontrar estudos ligando aparelhos modernos à ruína da juventude. A pesquisa leva tempo e a era das telas sensíveis é muito recente. O iPad, por exemplo, surgiu em 2010.

Mas as pesquisas já começaram – e lançam alguma luz sobre como esses repentinamente onipresentes dispositivos podem afetar as crianças. Em 2009, um estudo na Universidade Stanford relacionou hábitos de adolescentes modernos de executar multitarefas no computador (que parecem ter se estendido a telefones e tablets) à perda da capacidade de concentração – um resultado um pouco preocupante.

Um estudo publicado na revista Pediatrics revelou que crianças que têm aparelhos de tela pequena em seus quartos dormem em média 21 mi nutos a menos que as que não têm. Quanto à razão, os cientistas supõem que as crianças ficam acordadas até tarde para usar seus dispositivos ou, talvez, que a luz das telas produza atrasos no ritmo circadiano.

E quanto às habilidades sociais? No ano passado, em um estudo da Universidade da Califórnia em Los Angeles, foram acompanhados dois grupos de alunos do sexto ano (com idade média de 11 a 12 anos). O primeiro, formado por 51 jovens, passou cinco dias em um acampamento na natureza sem eletrônicos; o segundo grupo, de controle, com 54 participantes, não acampou. Depois disso, foram realizados testes e foi constatado que aqueles que haviam passado a temporada no campo se saíam significativamente melhor na leitura de emoções humanas em fotografias.

E o que há de concreto sobre câncer cerebral e celulares? Bem, em primeiro lugar, não é preciso um estudo para dizer que raramente os jovens estão com o telefone na orelha; eles mais digitam mensagens do que fazem ligações. De qualquer forma, os estudos não comprovaram nenhuma relação entre o uso de celular e câncer. Pelo menos não ainda.

É hora de começar a reclamar? Não necessariamente; nem todos os estudos chegaram a conclusões alarmantes. Em 2012 o grupo sem fins lucrativos de estudos sobre mídias e tecnologia Common Sense Media descobriu que mais da metade dos adolescentes dos Estados Unidos acreditam que as mídias sociais – agora acessíveis em qualquer lugar graças às telas sensíveis ao toque – ajudaram em suas amizades (apenas 4% acham que prejudicaram). Em 2014 pesquisadores do National Literacy Trust, do Reino Unido, descobriram que crianças pobres com aparelhos de tela sensível ao toque têm o dobro de probabilidade de ler todos os dias. Um estudo publicado na Computers in Human Behavior revelou que enviar mensagens é benéfico para o bem-estar emocional dos adolescentes – especialmente os introvertidos.

Precisamos claramente de estudos mais amplos e de mais longo prazo antes de começar uma nova rodada de reclamações. E eles estão a caminho; por exemplo, os resultados de uma grande pesquisa britânica com 2.500 crianças chamada Estudo de Cognição, Adolescentes e Telefones Móveis (Scamp, na sigla em inglês), do Reino Unido, com 2.500 crianças, sairão em 2019.

Enquanto isso, os sinais de alerta das pesquisas iniciais não são altos o suficiente para tirarmos aparelhos de nossas crianças e mudarmos para território amish. Por outro lado, o bom senso sugere que não é o caso de deixar a tecnologia ocupar todo o tempo dos jovens. Os achados até agora são suficientes para sugerir a prática de uma muito sábia e antiga precaução: a moderação. O excesso de qualquer coisa é ruim para as crianças, sejam eletrônicos modernos, televisão ou esporte.

GESTÃO E CARREIRA

“UBERIZAR” OU ACABAR

A revolução cognitiva da internet extinguirá quem não se adaptar.

Uberizar ou acabar

O fenômeno da rede mundial de computadores só pode ser comparado, por seu potencial disruptivo, à chegada da oralidade nas relações humanas, há 70 mil anos – o que dá a dimensão das mudanças que estamos presenciando. A tese é do professor e consultor Carlos Nepomuceno, que, em seu novo livro, Administração 3.0: por que e como “uberizar” uma organização tradicional, prevê o fim da relação patrão-empregado, dos gerentes, dos políticos e do modelo atual de gestão de empresas e instituições, a partir desta “revolução cognitiva” descentralizadora deflagrada pela internet. Para o autor, a rede mundial proporciona novas possibilidades tecnológicas, que deverão afetar qualquer tipo de organização humana e permitir maior participação das pessoas nas decisões, sejam elas políticas ou econômicas.

Em parte, essa revolução se motivou pela explosão populacional do planeta, que nos últimos 200 anos saltou de 1 bilhão para 7 bilhões de habitantes. E, quanto mais complexo o mundo, menos possível que um centro decisório e controlador seja capaz de tomar as decisões adequadas, defende Carlos Nepomuceno, criando uma imagem para identificar a era pós-internet que justifica o título do livro: “O mundo 3.0 terá uma cara muito parecida com a do Uber”, afirma.

Considerando que a disrupção digital deverá fechar 40% das empresas do planeta nos próximos anos, o livro defende a tese de que só um novo modelo de gestão, com a troca direta entre fornecedor e consumidor, mediada por plataformas digitais, garantirá a sobrevivência dos negócios.

ALIMENTO DIÁRIO

JOÃO 15: 18-25

Alimento diário

A Previsão de ódio e perseguição

Aqui Cristo fala sobre o ódio, que é o caráter e o talento do reino do Diabo, assim como o amor é a característica marcante do reino de Cristo. Observe aqui:

I – Quem são aqueles em que se encontra este ódio – o mundo, os filhos deste mundo, diferentes dos filhos de Deus. Aqueles que são os interesses do deus deste mundo, cuja imagem eles estampam e a cujo poder estão sujeitos. Todos aqueles, sejam judeus ou gentios, que não desejam vir à igreja de Cristo, que Ele convocou audivelmente, e que se separa visivelmente deste mundo mau. Chamar a estas pessoas de mundo indica:

1. Seu número. Havia um mundo de pessoas que se opunham a Cristo e ao cristianismo. Senhor, como cresce o número dos que perseguem o Filho de Davi! Eu receio que, se fizéssemos uma eleição entre Cristo e Satanás, Satanás iria nos superar em muito.

2. Sua união e combinação. Estes numerosos exércitos se conluiaram, e são como um só, Salmos 83.5. Os judeus e os gentios, que não concordavam em nada, uniram-se para perseguir o ministério de Cristo.

3. Seu espírito e disposição. Eles são homens do mundo (SALMOS 16.13,14), completamente devotados a este mundo e às coisas deste mundo, e nunca pensam no outro mundo. O povo de Deus, embora tenha sido ensinado a odiar os pecados dos pecadores, foi ensinado a não odiar as pessoas, mas amar e fazer o bem a todos os homens. Um espírito malicioso, rancoroso e invejoso não é o espírito de Cristo, mas do mundo.

 

II – Quem são aqueles contra os quais este ódio é dirigido – os discípulos de Cristo, o próprio Cristo e o Pai.

1. O mundo odeia os discípulos de Cristo: “O mundo vos aborrece” (v. 19), e Ele fala sobre isto como algo que eles deveriam esperar e levar em conta, v. 18, como em 1 João 3.13.

(1) Observe como isto é apresentado aqui.

[1] Cristo tinha expressado a grande bondade que tinha por eles, como amigos. Mas, para que eles não se inchem de orgulho com isto, foi-lhes dado, como foi dado a Paulo, um espinho na carne, isto é, injúrias e perseguições por causa de Cristo, como está explicado em 2 Coríntios 12.7,10.

[2] Ele lhes tinha indicado seu trabalho, mas lhes diz com quais dificuldades eles iriam se deparar, para que isto não fosse uma surpresa para eles, e para que pudessem se preparar de maneira adequada.

[3] Ele lhes tinha dito que amassem uns aos outros, e eles tinham necessidade suficiente de amar-se uns aos outros, pois o mundo os odiaria; que fossem bons uns com os outros, pois sofreriam muita crueldade e má vontade por parte daqueles que não pertenciam ao seu meio. “Mantenham a paz entre vocês, e isto os fortalecerá nas batalhas que o mundo fará contra vocês”. Aqueles que estão em meio aos inimigos se preocupam em ficar unidos.

(2) Observe o que está incluído aqui.

[1] A inimizade do mundo contra os seguidores de Cristo: ele os “aborrece”. Observe que aqueles a quem Cristo abençoa, o mundo amaldiçoa. Os favoritos e herdeiros do céu nunca foram os preferidos deste mundo, uma vez que foi instalada a velha inimizade entre a semente da mulher e a da serpente. Por que Caim odiou a Abel, senão porque suas obras eram justas? Esaú odiou a Jacó por causa da bênção. Os irmãos de José o odiaram porque seu pai o amava. Saul odiou a Davi porque o Senhor estava com ele. Acabe odiou a Micaías por causa das suas profecias. Assim são as causas infundadas do ódio do mundo.

[2] Os frutos desta inimizade, dos quais aqui temos dois, v. 20. Em primeiro lugar, eles os perseguirão, porque os odeiam, pois o ódio é uma paixão incansável. É o destino comum daqueles que desejam viver devotamente em Cristo Jesus, sofrer perseguições, 2 Timóteo 3.12. Cristo previu o tratamento cruel que seus embaixadores iriam encontrar no mundo, e, ainda assim, por causa daqueles poucos que, pelo seu ministério, deveriam ser eliminados do mundo, Ele os enviou, “como ovelhas ao meio de lobos”. Em segundo lugar, outro fruto da sua inimizade está indicado, o qual consiste no fato de que eles iriam rejeitar sua doutrina. Quando Cristo diz: “Se guardarem a minha palavra, também guardarão a vossa”, Ele quer dizer: Eles não guardarão a vossa, e não a considerarão, não mais do que consideraram e guardaram a minha. Observe que os pregadores do Evangelho não podem deixar de considerar o desprezo à sua mensagem como a maior injúria que pode ser feita a eles mesmos. Como foi uma grande afronta a Jeremias, quando disseram: “Não escutemos nenhuma das suas palavras”, Jeremias 18.18.

[3] Os motivos desta inimizade. O mundo os odiará:

Em primeiro lugar, porque eles não pertencem a ele (v. 19): “Se vós fôsseis do mundo”, do seu espírito e dos seus interesses, se vós fôsseis carnais e mundanos, ‘o mundo amaria o que era seu’. Mas, porque sois chamados para fora do mundo, o mundo vos aborrece, e sempre irá fazê-lo”. Observe que:

1. Nós não devemos nos espantar se aqueles que são devotados ao mundo são apreciados por ele, como seus amigos. A maioria dos homens bendiz ao avarento, Salmos 10.3; 49.18.

2. Tampouco devemos nos espantar se aqueles que são libertados do mundo são difamados por ele, como seus inimigos. Quando Israel é libertado do Egito, os egípcios os perseguem. Observe que a razão pela qual os discípulos de Cristo não são do mundo não é porque tenham, pela sua própria sabedoria e virtude, se separado do mundo, mas porque Cristo os escolheu do mundo, para consagrá-los para si mesmo, e esta é a razão pela qual o mundo os odeia, pois:

(1) A glória à qual, por virtude desta escolha, eles são designados, os coloca acima do mundo, e, desta forma, os faz objetos da inveja do mundo. Os santos julgarão o mundo, e os justos terão o do­ mínio, e por isto são odiados.

(2) A graça de que, por virtude desta escolha, eles são dotados, os coloca contra o mundo. Eles nadam contra a corrente do mundo, e não se conformam a ele. Eles dão testemunhos contra ele, e não se conformam a ele. O fato de que eram odiados os sus­ tentaria sob todas as calamidades que o ódio do mundo traria sobre eles, porque eram a escolha e os escolhidos do Senhor Jesus, e não eram do mundo. Veja:

[1] Esta não era uma causa justa para que o mundo os odiasse. Se fizermos qualquer coisa para nos tornarmos odiosos, nós temos razão para lamentar. Porém, se os homens nos odiarem pelos motivos pelos quais deveriam nos amar e valorizar, nós temos razão para sentir pena deles, mas não para nos sentirmos perplexos. Na verdade:

[2] Esta era uma causa justa para sua própria alegria. Aquele que é odiado por ser rico e próspero não se preocupa com quem se irrita com isto, desde que ele esteja satisfeito.

Em segundo lugar: “Uma outra causa pela qual o mundo vos odeia é porque vocês pertencem a Cristo (v. 21): ‘Por causa do meu nome”‘. Aqui está o âmago da controvérsia. Não importa o que se finja, esta é a base da disputa, eles odeiam os discípulos de Cristo porque eles levam seu nome, e conservam seu nome no mundo. Observe:

1. Faz parte do caráter dos discípulos de Cristo o fato de defenderem seu nome. O nome no qual eles foram batizados é aquele pelo qual eles irão viver e morrer.

2. A sorte daqueles que se posicionam a favor do nome de Cristo tem sido, normalmente, o sofrimento por fazerem isto. Estes sofrem muito, sofrem duramente, todo tipo de adversidades. É uma questão de consolo para os maiores sofredores se eles sofrerem pelo nome de Cristo. “Se, pelo nome de Cristo, sois vituperados, bem-aventurados sois” (1 Pedro 4.14), realmente bem-aventurados, não considerando somente a honra que se estampa sobre aqueles sofrimentos (Atos 5.41), mas o consolo que lhes é infundido, e especialmente a coroa da glória à qual estes sofrimentos conduzem. Se sofrermos com Cristo, e por Cristo, com Ele reinaremos.

Em terceiro lugar, afinal, a ignorância do mundo é a verdadeira causa da sua inimizade com os discípulos de Cristo (v. 21): “Porque não conhecem aquele que me enviou”.

1. Eles não conhecem a Deus. Se os homens tivessem somente o conhecimento devido dos primeiros princípios da religião natural, e somente conhecessem a Deus, ainda que não aderissem ao cristianismo, não o teriam odiado e perseguido. Não têm conhecimento aqueles que comem o povo de Deus, Salmos 14.4. 2. Eles não reconhecem a Deus como aquele que enviou nosso Senhor Jesus, e o autorizou a ser o grande Mediador da paz. Nós não conheceremos a Deus corretamente, se não o conhecermos em Cristo, e aqueles que perseguem àqueles que Ele envia, demonstram que não reconhecem que Ele foi enviado de Deus. Veja 1 Coríntios 2.8.

2. O mundo odeia o próprio Cristo. E isto é dito aqui, com duas finalidades:

(1) Para mitigar a perturbação dos seus seguidores, despertada pelo ódio do mundo, e torná-la menos estranha e menos lamentável (v. 18): “Sabei que, primeiro do que a vós, me aborreceu a mim”. Nós lemos isto como indicando uma anterioridade temporal. Jesus começou com o cálice amargo do sofrimento, e depois nos deixou como seus fiadores. Mas isto pode ser interpretado como expressando sua superioridade sobre eles: “Vocês sabem que ele me odiou, a mim, seu primeiro, seu principal e capitão, seu líder e comandante”.

[1] Se Cristo, que era excelente em bondade, e perfeitamente inocente e universalmente beneficente, era odiado, poderemos nós esperar que qualquer virtude ou mérito nosso nos proteja da maldade?

[2] Se nosso Mestre, o fundador da nossa fé, encontrou tanta oposição para plantá-la, seus servos e seguidores não podem esperar outra coisa, por propagá-la e professá-la. Por isto, Ele os lembra (v. 20) das suas próprias palavras, em sua admissão ao discipulado: “Lembrai-vos da palavra que vos disse”. Uma grande ajuda para compreender as últimas palavras de Cristo está em compará-las com as suas primeiras. Nada contribui mais para nos facilitar a compreensão do que a lembrança das palavras de Cristo, que irão esclarecer suas providências. Nesta palavra, temos, em primeiro lugar, uma verdade clara: “Não é o servo maior do que o seu senhor”. Isto Ele lhes tinha dito, Mateus 10.24. Cristo é nosso Senhor, e por isto nós devemos, diligentemente, acompanhar todos os seus movimentos, e pacientemente aquiescer em todas as suas disposições, pois o servo é inferior ao seu Senhor. As verdades mais claras, às vezes, são os argumentos mais fortes a favor das mais difíceis tarefas. Eliú responde a inúmeras queixas de Jó com uma única verdade óbvia: “Maior é Deus do que o homem”, Jó 33.12. Aqui temos, em segundo lugar, uma dedução apropriada que se obtém de tudo isto: “Se a mim me perseguiram”, como foi visto, e provavelmente ainda será, ‘também vos perseguirão a vós’. Vós podeis esperar e contar com isto, pois:

1. “Vocês farão a mesma coisa que Eu fiz, para provocá-los. Vocês os censurarão pelos seus pecados, e os chamarão ao arrependimento, e lhes darão regras rígidas para viver de maneira santa que eles não poderão suportar”.

2. “Vocês não podem fazer nada além do que Eu fiz, para agradá-los. Depois de um exemplo tão grande, que ninguém se espante se eles permitirem o mal a quem faz o bem”. Ele acrescenta: “Se guardarem a minha palavra, também guardarão a vossa”. Assim como houve alguns, e somente alguns, que foram transformados pela minha pregação, também haverá, transformados por vocês, alguns, e somente alguns”. Alguns dão outro sentido a isto, substituindo “Se eles ficavam à espreita, esperando minhas palavras, com o desígnio de me atrair a uma armadilha, de igual maneira ficarão esperando para confundir vocês nas suas palavras”.

(2) Para agravar a maldade deste mundo descrente, e para revelar sua natureza excessivamente pecaminosa. Odiar e perseguir os apóstolos já era suficientemente ruim, mas odiar e perseguir ao próprio Cristo era muito pior. O mundo, em geral, tem uma má fama nas Escrituras, e nada pode dar-lhe uma fama pior do que esta, que ele odiava a Jesus Cristo. Existe um mundo de pessoas que odeiam a Cristo. Ele insiste em duas coisas, para agravar a maldade daqueles que o odiavam:

[1] Que havia a maior razão imaginável para que eles o amassem. As boas palavras e as boas obras dos homens normalmente os recomendam, e, quanto a Cristo: Em primeiro lugar, suas palavras eram tais que mereciam o amor deles (v. 22): “Se eu não viera, nem lhes houvera falado, não teriam pecado”, sua oposição não teria resultado em um ódio por mim, seu pecado teria sido, comparativamente, como nenhum pecado. Mas agora que Eu lhes disse tantas coisas, para recomendar-me aos seus melhores afetos, não têm desculpa do seu pecado”. Observe aqui:

1. A vantagem que têm aqueles que apreciam o Evangelho. Cristo, nele, vem e fala a eles. Ele falou, pessoalmente, aos homens daquela geração, e ainda fala a nós, por meio da sua Palavra, a Bíblia, e dos nossos ministros, e como alguém que tem a mais inquestionável autoridade sobre nós, e afeto por nós. Cada uma de suas palavras é pura, e traz consigo uma majestade dominante, e ainda assim uma ternura condescendente, capaz, poderíamos pensar de encantar até mesmo a víbora mais surda.

2. A desculpa que têm aqueles que não apreciam o Evangelho: “Se eu não… lhes houvera falado”, se nunca tivessem ouvido falar de Cristo e da salvação por seu intermédio, “não teriam pecado”.

(1) Não este tipo de pecado. Eles não teriam sido passíveis de condenação por desprezar a Cristo se Ele não tivesse vindo e feito uma oferta da sua graça a eles. Assim como o pecado não é imputado onde não há lei, também a descrença não é imputada onde não existe Evangelho. E, onde ele for imputado, será, até então, o único pecado condenador, pois, sendo um pecado contra o remédio, outro pecado não condenaria, se a culpa deles não estivesse ligada a este.

(2) Não um pecado de tal magnitude. Se não tivessem tido o Evangelho entre eles, seus outros pecados não teriam sido tão graves, pois Deus não leva em conta os tempos da ignorância, Lucas 12.47,48; Atos 17.30.

3. A culpa agravada que têm aqueles a quem Cristo veio e falou em vão, a quem Ele chamou e convidou em vão, com quem Ele argumentou e implorou em vão.

“Não têm desculpa do seu pecado”. Eles são completamente imperdoáveis, e no dia do juízo estarão sem palavras, e não terão uma palavra sequer para dizer em sua defesa. Observe que, quanto mais claras e completas são as revelações da graça e da verdade de Jesus Cristo que nos são feitas, mais nos é dito que é convincente eterno, e maior é nosso pecado se não o amarmos e se não crermos nele. A palavra de Cristo despe o pecado do seu manto, para que possa parecer pecado.

Em segundo lugar, suas obras eram tais, que mereciam o amor deles, tanto quanto suas palavras (v. 24): “Se eu, entre eles, não fizesse tais obras’, na terra deles, e diante de seus olhos, obras tais como nenhum outro homem jamais fez, não teriam pecado. Sua descrença e inimizade teriam sido desculpáveis, e eles poderiam ter tido alguma justificativa para dizer que minha palavra não merecia crédito, se não fosse confirmada de outra maneira”. Mas Ele produzia provas satisfatórias da sua missão divina, obras que nenhum outro homem fazia. Observe que:

1. Assim como o Criador demonstra seu poder e sua divindade pelas suas obras (Romanos 1.20), também faz o Redentor. Seus milagres, suas misericórdias, obras maravilhosas e obras de graça, provaram que Ele era o enviado de Deus, aquele que foi enviado em uma missão de bondade.

2. As obras de Cristo eram do tipo que nenhum homem jamais havia feito. Nenhuma pessoa comum, que não tivesse comissão do céu, e Deus consigo, podia realizar milagres, cap. 3.2. E nenhum profeta jamais realizou tais milagres, tantos e tão famosos. Moisés e Elias realizavam milagres como servos, por um poder derivado, mas Cristo, como um Filho, pelo seu próprio poder. O que maravilhava o povo era o fato de que, com autoridade, Ele ordenasse as enfermidades e os demônios (Marcos 1.27). Eles reconheciam que nunca tinham visto ninguém semelhante, Marcos 2.12. Eram todas obras boas, obras de misericórdia, e este parece ser o principal objetivo aqui, pois Ele os está censurando através destas palavras, porque o odiavam. Alguém que fosse tão universalmente amado, e ainda assim Ele é odiado.

3. As obras de Cristo intensificam a culpa da infidelidade e da inimizade dos pecadores por Ele, até o último estágio de maldade e de absurdo. Se eles tivessem somente ouvido suas palavras, e não tivessem visto suas obras – se tivéssemos somente seus sermões registrados, e não seus milagres, a descrença poderia ser justificada pela falta de provas. Mas agora não havia desculpa. Não, a rejeição a Cristo, tanto por eles quanto por nós, tem em si o pecado, não somente da descrença obstinada, mas da vil ingratidão. Eles viram Cristo sendo extremamente afável e esforçando-se para fazer-lhes algum ato de bondade. Ainda assim, odiaram-no, e procuraram fazer-lhe danos. E nós vemos na sua palavra aquele grande amor com o qual Ele nos amou, e ainda assim não somos transformados por ele.

[2] Que não havia nenhuma razão pela qual devessem odiá-lo. Alguns que, em certa ocasião, dizem e fazem aquilo que é recomendável, em outra dizem e fazem aquilo que é provocador e descortês. Mas nosso Senhor Jesus não somente fez muito para merecer a estima e a boa vontade dos homens, como nunca fez nada especificamente para incorrer no seu desprazer. Isto Ele alega, citando uma passagem das Escrituras (v. 25): “Isto acontece, este ódio irracional a mim, e aos meus discípulos, por minha causa, ‘para que se cumpra a palavra que está escrita na sua lei’ (isto é, no Antigo Testamento, que é uma lei, e que era aceita por eles como uma lei): “Aborreceram-me sem causa”. Davi fala isso a seu respeito como um tipo de Cristo, Salmos 35.19; 69.4. Observe, em primeiro lugar, que aqueles que odeiam a Cristo, o odeiam sem nenhuma justa causa. A inimizade a Cristo é uma inimizade irracional. Nós pensamos que merecem ser odiados aqueles que são arrogantes e insubordina­ dos, mas Cristo é manso e humilde, compassivo e terno. Também aqueles que, sob o pretexto da complacência, são maldosos, invejosos e vingativos, mas Cristo se dedicou a servir aqueles que o usavam, ou melhor, aqueles que abusavam dele. Ele trabalhou para a comodidade dos outros, e se empobreceu para nos enriquecer. Nós julgamos odiosos aqueles que são rebeldes e danosos aos reis e às províncias, e perturbam a paz pública, mas Cristo, ao contrário, era a maior bênção imaginável à sua nação, e ainda assim era odiado. Ele testemunhava, na verdade, que as obras do povo eram más, e testemunhava com um desígnio de fazer-lhes bem, mas odiá-lo por isto era odiá-lo sem causa. Em segundo lugar, com isto se cumpriram as Escrituras, e o antítipo correspondeu ao tipo. Saul e seus cortesãos odiaram a Davi sem causa, pois ele lhe tinha sido útil com sua harpa e com sua espada. Absalão e seu grupo o odiaram, embora, para ele, Davi tivesse sido um pai indulgente, e para o grupo, um grande benfeitor. Assim também foi odiado o Filho de Davi, e perseguido da forma mais injusta. Aqueles que odiavam a Cristo não tinham o desígnio de cumprir as Escrituras, mas Deus, ao permitir isto, tinha este objetivo. E o fato de que até mesmo isto tinha sido predito a respeito de Cristo, e que, como tinha sido predito cumpriu-se nele, confirma a fé que temos nele como o Messias. E não devemos julgar estranho ou árduo se houve um cumprimento adicional em nós. Nós somos capazes de justificar nossas queixas das injúrias feitas a nós dizendo que são sem causa, ao passo que, quanto mais sem causa são, mais semelhantes são aos sofrimentos de Cristo, e podem ser mais facilmente suportadas.

4. Em Cristo, o mundo odeia ao próprio Deus. Isto é dito aqui duas vezes (v. 23): “Aquele que me aborrece”, embora pense que seu ódio não vai mais além, de fato “aborrece também a meu Pai”. E novamente no versículo 24: ”Aborreceram a mim e a meu Pai”. Observe que:

(1) Existem aqueles que odeiam a Deus, apesar da beleza da sua natureza e da generosidade da sua providência. Eles se enfurecem com sua justiça, como os demônios, que creem e estremecem, se irritam com seu domínio, e alegremente romperiam seus elos. Aqueles que não conseguem negar que existe um Deus, e ainda assim desejam que não houvesse nenhum, estes o veem e o odeiam.

 (2) O ódio a Cristo será interpretado e considerado como ódio a Deus, pois Ele é, na sua pessoa, a imagem expressa de seu Pai, e na sua função, seu grande agente e embaixador: Deus deseja que todos os homens honrem ao Filho como honram ao Pai, e, portanto, qualquer recepção que tenha o Filho, o Pai também a tem. Com isto, é fácil concluir que aqueles que são inimigos da religião cristã, por mais que aleguem ter a religião natural, são, na verdade, inimigos de todas as religiões. Os deístas, na verdade, são ateus, e aqueles que ridicularizam a luz do Evangelho desejariam, se pudessem, extinguir toda a luz natural, e se libertar de todas as obrigações de consciência e do temor a Deus. Que o mundo descrente e maligno saiba que sua inimizade ao Evangelho de Cristo será considerada, no grande dia, como uma inimizade ao próprio Deus bendito. E que todos os que sofrem por causa da justiça, de acordo com a vontade de Deus, se consolem com isto. Se o próprio Deus for odiado neles, e atingido, por intermédio deles, eles não devem nem se envergonhar da sua causa, nem temer o resultado.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

QUASE TODOS DO MESMO LADO

A pressão social em prol da homogeneidade pode explicar por que há seis vezes mais pessoas destras que canhotas; cientistas especulam as vantagens evolutivas de usar uma mão ou outra e como a lateralidade aparece em outra espécie.

Quase todos do mesmo lado

Com que mão você escreve? A probabilidade maior é que seja com a direita. Ao questionarmos por que a maior parte das pessoas é destra, a resposta pode cair na mesma linha que a da pergunta “por que os peixes andam em cardumes?”. Os neurocientistas Giorgio Vallortigara, da Universidade de Trieste, na Itália, e Lesley Rogers, da Universidade da Nova Inglaterra, na Austrália, sugerem que as pressões sociais levam tanto pessoas quanto animais a coordenar seus comportamentos de maneira que todos no grupo ganhem uma vantagem evolutiva.

O fato é que mais de 80% da população prefere usar a mão direita, que é controlada pelo hemisfério esquerdo do cérebro. Um benefício – pelo menos teórico, mas não necessariamente prático – de colocar uma função particular em um hemisfério é que isso libera o outro para lidar com outras tarefas. Mas essa hipótese não explica por que há tendências para utilizarmos mais uma mão ou outra. Pesquisadores da Universidade da Califórnia, que acompanham gêmeos para estudar a hereditariedade, acreditam que o cérebro de destros e canhotos tenha algumas pequenas diferenças. Eles suspeitam que isso ocorra porque os genes que formam o cérebro dos destros têm estruturas com lados ligeiramente desiguais e os canhotos parecem ter perdido aqueles genes. A diferença resulta em um cérebro um pouco mais simétrico nos canhotos, com os dois lados mais iguais, segundo o neurogeneticista Daniel Geschwind, que conduziu a equipe de pesquisa. O que isso representa, exatamente, ainda é objeto de investigação.

Há alguns anos, cientistas acreditavam que a escolha por um dos lados fosse subproduto da especialização do cérebro na área da linguagem – o que tornaria apenas os humanos canhotos ou destros, mas uma série de estudos revelou a lateralização cerebral em várias espécies, de peixes a primatas. Cientistas descobriram, por exemplo, que os chimpanzés mostram preferência por uma das mãos, em condições selvagens.

Vallortigara e Rogers defendem que a presença da lateralização em vários segmentos do reino animal sugere a existência de alguma vantagem nessa característica. Os dois cientistas publicaram um artigo no periódico científico Behavioral and Brain Science, em que apresentaram evidências de que as pressões sociais forçam os indivíduos para o mesmo tipo de assimetria (prevalência de um dos lados). Eles perceberam, por exemplo, que pintinhos atacam mais prontamente quando uma ameaça aparece em seu lado esquerdo. Rogers descobriu que, curiosamente, esses filhotes com cérebros mais assimétricos formam grupos sociais especialmente estáveis.

A lateralização parece conferir benefício para alguns peixes também. Em certas espécies, a maioria tende a nadar para a esquerda quando um predador ataca, enquanto que outras espécies vão para a direita. As vantagens potenciais de padrões como esses podem não aparecer de maneira intuitiva: um predador poderia aprender que atacar um peixe de um lado específico funciona melhor. Mas a ideia de Vallortigara e Rogers combina com a explica o convencional da razão pela qual os peixes andam em cardumes. Quando ameaçados, o fato de todos virarem na mesma direção garante a eles maior chance de sobrevivência do que se eles se espalharem para se tornar um confuso conjunto de peixes fugitivos. E os que sobrevivem repassam seus genes a seus descendentes – que têm possibilidade ampliada de manter o comportamento.

Ainda assim, dados sobre peixes e pássaros não explicam a assimetria humana. “Talvez essa característica venha de muito antes do surgimento dos mamíferos, especula Robin Dunbar, psicólogo evolucionista da Universidade de Liverpool. “Se fosse assim, mamíferos teriam a preferência lateral simplesmente porque seus ancestrais tinham, o que retorna às origens dos peixes. “Elizabeth V. Lonsdorf, do Zoológico do lincoln Park de Chicago, e William D. Hopkins, do Centro Nacional Yerkes de Pesquisa de Primatas, de Atlanta, publicaram um estudo sobre macacos que reforçou essa ideia. Seus dados mostram que chimpanzés selvagens mostram preferências hereditárias de mãos para realização de certas tarefas com ferramentas – por exemplo, dois terços dos chimpanzés selvagens observados preferiam usar a mão esquerda para retirar cupins de um buraco, cutucando-o com um galho. Antes disso, os primatas já tinham mostrado preferências por uma mão ou outra em cativeiro, mas não em ambiente selvagem. Isso fazia os cientistas especularem que os macacos se lateralizavam por meio da interação com humanos.

As descobertas com os chimpanzés preenchem o que era considerado um misterioso “elo perdido” entre vertebrados inferiores e humanos. “Escapar do argumento de fuga da singularidade humana foi bom, fez pessoas repensarem de verdade algumas de suas teses”, diz Hopkins. Outras explicações para a lateralização existem – por exemplo, a de que foi transmitida como parte de um pacote genético maior. Um grupo de genes poderia dar vantagens a seu possuidor, mas de maneira não relacionada à preferência lateral. “Eu rejeitaria a ideia de que há uma explicação definitiva, porque é um problema muito complexo para ter uma única explicação, parece mais ser resultante de um conjunto de fatores”, acredita o neurocientista Jeffrey Hutsler, da Universidade de Michigan em Ann Arbor.

Dadas possíveis razões evolutivas para explicar a norma, o que dizer sobre os canhotos? A segurança dos predadores aumenta com o tamanho do grupo, mas a competição também cresce, o que torna benéfico o comportamento diferenciado. Estudos sobre o fato de ser canhoto em alguns esportes individuais, como o boxe, sugerem o mesmo.

OUTROS OLHARES

DESAFIOS DE IR E VIR

Nas grandes cidades brasileiras as pessoas costumam levar de uma a quatro horas para se deslocar até o trabalho. Pelo caminho, carros, motos, caminhões e pedestres disputam espaço. Resultado: tensão, problemas afetivos e de saúde.

Desafios de ir e vir

Amanhece chovendo. Para quem mora em grandes cidades, esta simples constatação é sinônimo de tensão logo nas primeiras horas do dia. Trânsito lento, quilômetros de congestionamento e pontos alagados dificultam uma tarefa crítica que consome um tempo considerável na vida de muitas pessoas: o deslocamento entre a casa e o trabalho e vice-versa – um importante fator de estresse na vida de milhões de pessoas no mundo todo, sobretudo em regiões metropolitanas.

As horas gastas dentro de carros, ônibus ou trens, de segunda a sexta, para ir e voltar, acabam desgastando o vigor físico e psíquico de qualquer um. É um tempo morto, que poderia ser mais bem empregado na academia de ginástica ou no convívio com a família ou com os amigos. Para piorar, sempre paira sobre essas pessoas a terrível – e imprevisível – ameaça das condições do tempo e do trânsito. Em cidades como São Paulo há um agravante: a disputa constante (e violenta) entre carros, caminhões, ônibus e motos. Tudo isso deixa marcas no corpo, na mente e nas relações sociais. “Percorrer longas distâncias diariamente requer um esforço corporal e psíquico não apenas do indivíduo, mas também das pessoas que vivem com ele”, diz o sociólogo Norbert Schneider, diretor do Instituto Federal de Pesquisa Populacional, em Wiesbaden, Alemanha. Ele concluiu nos anos 2000 a pesquisa Deslocamento para o trabalho e modo de vida, encomendada pelo governo alemão. Estudo semelhante já foi realizado também pela prefeitura de São Paulo.

CARGA PSICOSSOMÁTICA

Os resultados obtidos por Schneider mostram que a angústia das pessoas que enfrentam longos trajetos diariamente está relacionada ao medo de se atrasar ou sofrer acidentes. Como não poderia deixar de ser, a prevalência de doenças de origem psicossomática nessa população é bem maior do que naqueles que moram perto do emprego. Os problemas mais comuns foram dores nas costas, distúrbios gastrintestinais e de sono, hipertensão, fadiga crônica e dificuldade de concentração.

Uma ideia mais precisa desses efeitos foi fornecida por um levantamento feito pelo Centro de Pesquisas em Psicoterapia de Stuttgart e pela Faculdade de Medicina de Ulm. Os pesquisadores entrevistaram 407 passageiros de trem que viajavam diariamente entre Stuttgart e Ulm por motivos de trabalho. As perguntas se referiam à quantidade de baldeações, duração da viagem, motivos para o deslocamento e experiências subjetivas. Além disso, os participantes responderam a um questionário sobre qualidade de vida e queixas de saúde física e mental.

Os resultados mostraram que 90% dos entrevistados levavam mais de 45 minutos para chegar ao trabalho e o mesmo tempo para retornar. O que mais despertou o interesse dos pesquisadores, porém, foram os dados de longo prazo: 50% dos viajantes percorriam o mesmo trajeto havia mais de cinco anos e 20%, havia mais de uma década. “As condições psicossomáticas dessas pessoas eram assustadoras”, conta o psicólogo Steffen Háfner, coordenador do estudo alemão. Os dados indicaram ainda que o número de entrevistados que se queixaram de dores, tontura, fadiga e privação de sono era duas vezes no grupo que percorria longas distâncias do que no grupo dos que trabalhavam perto de casa. Segundo o psicólogo, 31% dos homens e 37% das mulheres dependiam de medicamentos.

Além dos distúrbios claramente resultantes do estresse crônico, quem viaja todos os dias também está mais exposto a doenças físicas, como infecções (quem depende de transporte público) e artrose (quem fica horas ao volante). Estudo feito na França mostrou que mulheres grávidas que utilizaram o metrô por mais de 90 minutos diários deram à luz bebês abaixo do peso, em comparação a gestantes que não passaram pela mesma situação. Os pesquisadores suspeitam do cansaço físico gerado principalmente pela vibração dos trens e pelas baldeações, que não são poucas em Paris.

SAÚDE BUCAL

Outra pesquisa, feita por cientistas noruegueses, encontrou evidências de que os chamados trabalhadores itinerantes têm mais problemas odontológicos. Mas o que as longas distâncias diárias podem ter a ver com a saúde bucal? Provavelmente essas pessoas chegam tão cansadas que não são capazes de fazer uma boa higienização, não têm uma preocupação preventiva e ficam satisfeitas com medidas reparadoras de curto prazo, argumentam os autores. Na origem do problema, porém, a falta de tempo livre para o cuidado de si parece ser um fator importante na deterioração da saúde dessa população.

O estudo de Schneider já havia detectado a escassez de tempo como questão crítica também para a manutenção de uma vida social saudável. De 65 pessoas que responderam a um questionário sobre qualidade de vida, 60 % reclamaram não sobrar tempo para si mesmas: vida noturna ou reunião com amigos não faziam parte de seu cotidiano. Quando finalmente chegam em casa, as poucas horas que restam do dia são compartilhadas com o cônjuge e os filhos. Ainda assim, boa parte das vezes, nem isso é suficiente: um terço dos participantes se queixou de não poder dar atenção suficiente à família. Brincar com as crianças ou ter momentos de lazer com o parceiro são atividades restritas aos fins de semana ou às férias. Outra reclamação frequente é a experiência angustiante de não pertencimento a um grupo social e de muitas vezes se sentir um estranho na própria casa. Obviamente, a vida conjugal sofre alguns arranhões. Falta de intimidade, companheirismo com hora marcada e discussões recorrentes sobre divisão das tarefas podem deixar cicatrizes no relacionamento do casal. A pesquisa de Schneider mostrou que dois terços dos parceiros sentiam-se mais incomodados com a situação do que os próprios trabalhadores. E um terço deles afirmou estar frustrado com a relação por ter de dar conta de praticamente todas as tarefas relacionadas à casa e aos filhos. Segundo o psicólogo, isso quase sempre ocorre quando a própria carreira ou outros interesses profissionais são preteridos. Em geral, o sentimento de sobrecarga não tarda a aparecer. Para um terço dos parceiros dos trabalhadores itinerantes, esse estilo de vida não tinha sequer um aspecto positivo. A pergunta que não quer calar é: por que essas pessoas fazem isso consigo mesmas e com a própria família? Os motivos são muitos, mas podem ser resumidos a apenas três.

Em primeiro lugar, o indivíduo que gasta horas para ir trabalhar tem um salário que, na visão dele, faz o esforço valer a pena. Além disso, a justificativa para morar longe do trabalho quase sempre tem a ver com melhor qualidade de vida longe dos grandes centros urbanos. Por fim, as crianças geralmente frequentam a escola do bairro e o cônjuge trabalha perto de casa, não parecendo oportuno mudar de endereço a curto prazo.

Infelizmente, todas as expectativas positivas relacionadas a essa situação não se sustentam a longo prazo. Pior, as desvantagens as superam. Essa foi a conclusão do estudo coordenado pelos economistas Bruno Frey e AIois Stutzer, do Instituto de Pesquisa Econômica da Universidade de Zurique. Eles analisaram os dados de questionários respondidos, ao longo de anos, por mais de mil famílias alemãs. A análise das séries históricas revelou que parâmetros como renda, tempo de deslocamento, condições de moradia e grau de satisfação com a vida mudam no decorrer dos anos. É importante destacar algumas premissas que os pesquisadores consideraram antes da avaliação dos dados. Presumiu-se que os trabalhadores agem de forma racional e consideram a possibilidade de trabalhar longe de casa em virtude de características objetivas do mercado de trabalho e imobiliário. Os economistas calculam a satisfação total de um indivíduo como a soma dos lucros menos a soma dos desgastes. Assim, cada minuto a mais que a pessoa gasta no deslocamento aumenta sua insatisfação com a vida. Em tese, o estresse do vaivém diário deveria ser compensado pelo bem-estar que seria consequência de melhores condições de trabalho e de uma contrapartida financeira que lhe permitisse melhorar o padrão de vida.

Os pesquisadores suíços quantificaram todos esses efeitos baseando-se nas séries históricas que continham dados referentes ao bem-estar geral (escala de zero a dez). O valor médio das sete séries analisadas foi de 7,14. As análises mostraram também que um itinerário de uma hora por trecho (ida ou volta) reduz esse valor em O,16. O mais impressionante, porém, é que, para o salário compensar essa queda, seria necessário um aumento líquido de 40%.

Pode até ser que essas estimativas estejam um pouco distantes da realidade, mas o que não se pode negar é que o trabalhador itinerante, quando aceita uma proposta para trabalhar longe de sua residência, está pensando em algum tipo de compensação profissional ou material que ele não teria em outra oportunidade. O que geralmente escapa à sua compreensão nesse momento é o impacto real dos desgastes físico, psíquico, familiar e social, quase sempre subestimados, de acordo com os especialistas suíços. Além disso, eles ressaltam que as pessoas rapidamente se acostumam a salários mais altos e a mais conforto material, ao passo que o incômodo de ser obrigado a percorrer longos caminhos pouco a pouco se intensifica e pode se tornar intolerável. Frey e Stutzer reconhecem, entretanto, que suas análises tendem a igualar os indivíduos e apagar diferenças importantes na forma como toleram a situação. Schneider lembra que é decisivo saber se esse longo percurso está associado ou não a pressões profissionais ou objetivos pessoais. “Quem toma a decisão de mudar para o campo e assim realizar um sonho de vida, por exemplo, tende a se adaptar melhor a esse tipo de desgaste do que aqueles que acabam se sujeitando a trabalhar longe porque passaram muito tempo desempregados”, explica. Segundo o psicólogo, há pelo menos dois tipos de trabalhadores itinerantes: os que optaram por isso e os que não tiveram escolha.

Mas por que as pessoas que sofrem com esses longos percursos simplesmente não tentam modificar sua vida? Segundo Steffen Hafner, o vaivém diário se transforma facilmente em solução indesejada e duradoura, graças a boas doses de resignação. No início muitos pensam: “Faço isso por um ou dois anos, e depois vejo como fica”. Quase sempre essa ideia se revela ilusória. A força do hábito, a escassez crônica de tempo, o cansaço e a falta de motivação impedem o indivíduo de procurar uma alternativa melhor. Outras vezes aversão ao risco e comodidade acabam falando mais alto. “Trabalhadores itinerantes não conseguem imaginar uma alternativa para o statu quo. Mudar de emprego ou de residência simplesmente não passa pela cabeça deles, independentemente do quanto sofrem percorrendo longas distâncias”, diz Schneider. Segundo ele, viver perto do local de trabalho é sempre a melhor solução e traz consequências positivas para a profissão, a vida familiar e a saúde, além de ser mais barato.

Para quem mesmo assim não arreda pé de suas escolhas e prefere continuar com as longas jornadas, o conselho dos especialistas é tentar tornar a rotina um pouco mais leve. Dar carona, por exemplo, além de ser mais econômico, pode tornar a viagem de carro mais divertida. Para quem vai de ônibus ou de trem, ler ou ouvir música pode ajudar a cultivar um excelente hábito que, além do mais, ajuda a combater o estresse.

Desafios de ir e vir.2

LONGE DE CASA

Quase um terço dos brasileiros leva de uma a quatro horas para se deslocar de casa até o trabalho e vice-versa. O dado faz parte do levantamento Os custos do deslocamento do trabalho no Brasil, realizado pela prefeitura de São Paulo em 2014 com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), feita pelo IBGE.

O estudo revela também que o tempo de deslocamento dos brasileiros para ir ao trabalho e voltar, especialmente os que vivem nas regiões metropolitanas, vem aumentando nos últimos anos, embora tenha havido tendência de queda no início dos anos 90. O Distrito Federal, São Paulo e Rio de Janeiro foram as cidades com maior proporção de cidadãos que gastam mais de uma hora no vai e vem diário: 42%, 50% e 57%, respectivamente.

O levantamento aponta ainda para a relação entre tempo de deslocamento e rendimento médio do trabalhador. De forma geral, quanto maior a renda, mais tempo ele gasta para ir e voltar, embora haja exceções regionais. Em São Paulo e no Rio, por exemplo, quem tem renda maior pode levar até duas horas no trajeto, enquanto os que ganham menos levam ainda mais tempo. Em algumas capitais como Belém, Recife e Salvador, por outro lado, os profissionais mais bem pagos trabalham a mais de quatro horas da residência.

O foco da pesquisa, porém, foi o custo monetário do tempo despendido entre o domicílio e o trabalho. Levando-se em conta as horas gastas nesse deslocamento, o rendimento médio auferido por hora trabalhada e a massa de horas não trabalhadas estritamente por esse motivo, há uma perda potencial de quase R$ 93 bilhões ao ano. Se o tempo em circulação fosse trabalhado e remunerado, as pessoas teriam 15% a 20% de aumento na sua renda.

Desafios de ir e vir.3 

MENOS FILHOS

As pessoas que trabalham longe de casa costumam ser bem qualificadas e bem pagas e têm 30 a 50 anos. Elas costumam ter menos filhos que a média da população, sobretudo se forem mulheres, segundo o sociólogo Norbert Schneider, diretor do Instituto Federal de Pesquisa Populacional, em Wiesbaden, Alemanha. Um de seus estudos mostrou que boa parte dos homens que adotou esse estilo de vida vive casamentos tradicionais, em que as mulheres se dedicam exclusivamente aos cuidados da casa e das crianças.

 Desafios de ir e vir.4

COCHILO NO ÔNIBUS

Pessoas matutinas, isto é, que têm facilidade de acordar cedo, são as que mais sofrem com as longas distâncias até o trabalho. Apesar de despertarem bem-dispostas, não é raro que se sintam esgotadas no fim do dia, já os tipos vespertinos, que gostam das madrugadas e dificilmente se adaptam ao despertador, estão mais bem-dispostos no fim da tarde e começo da noite e tendem a compensar a privação de sono com cochilos no ônibus ou no metrô.

GESTÃO E CARREIRA

NANA SMARTPHONE, QUE A CUCA VEM PEGAR

Ponha o celular para dormir antes de você. A saúde agradece.

Nana smartphone, que a cuca vem pegar

Você checa redes sociais ou noticiários online antes de dormir, para não ficar desatualizado? Pois então, cuidado: estudo da School of Mass Communication Research, da Bélgica, revela que usar o smartphone pouco antes de dormir (um vício já comum em qualquer rincão do planeta) impede seu cérebro de liberar o hormônio da melatonina, essencial para alertar seu corpo que é hora de desligar a cabeça e, consequentemente, cair no sono.

Segundo os autores, expor seus olhos à luminosidade das telas dos aparelhos acaba enviando ao cérebro uma ordem de que não é hora de dormir e sim de funcionar. Esse hábito pode gerar insônia, sono leve e sintomas de fadiga, que prejudicarão o desempenho profissional ou escolar no dia seguinte.

O estudo chegou a essa conclusão testando 844 participantes belgas, entre 18 e 94 anos de idade, cuja maioria apresentou esses sintomas por causa do smartphone. O que pode gerar grandes prejuízos considerando que, por exemplo, 71% dos americanos dormem ao lado de seus smartphones.

Não por acaso, Arianna Huffington defende em seu novo livro, Thrive, o banimento de qualquer equipamento eletrônico de seu quarto, substituindo-o pela leitura de um livro de papel antes de cair no sono.

ALIMENTO DIÁRIO

JOÃO 15: 9-17

Alimento diário

O Amor de Cristo pelos seus discípulos

Cristo, que é o amor em pessoa, aqui está falando a respeito do amor, um amor quadruplicado.

 

I – A respeito do amor do Pai por Ele. E a esse respeito, aqui Ele nos diz:

1. Que o Pai realmente o amou (v.9): “Como o Pai me amou”. Ele o amou como um Mediador: “Este é o meu Filho amado”. Ele era o Filho do seu amor. Ele o amou, e todas as coisas entregou nas suas mãos, e ainda assim Ele amou tanto o mundo, a ponto de entregar seu Filho por todos nós. Quando Cristo estava iniciando seus sofrimentos, Ele se consolava com o pensamento de que seu Pai o amou. Aqueles a quem Deus ama como um Pai podem desprezar o ódio de todo o mundo.

2. Que Ele permanecia no amor do seu Pai, v. 10. Ele amava continuamente ao seu Pai, e era amado por Ele. Mesmo quando Ele se fez pecado e uma maldição por nós, e ao Senhor agradou feri-lo, ainda assim Ele permaneceu no amor do seu Pai. Veja Salmos 89.33. Por continuar a amar seu Pai, Ele prosseguiu alegremente pelos seus sofrimentos, e por isto seu Pai continuou a amá-lo.

3. Que Ele permanecia no amor do seu Pai porque obedecia à lei do seu Pai: “Eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai”, como Mediador, “e permaneço no seu amor”. Com isto, Ele mostrava que continuava a amar seu Pai, que Ele prosseguia com sua missão, e a realizava, e por isto o Pai continuava a amá-lo. A alma do Pai se comprazia nele, porque Ele não faltará, nem será quebrantado, Isaías 42.1-4. Tendo infringido a lei da criação, nós nos excluímos do amor de Deus. Cristo fez a compensação por nós, obedecendo à lei da redenção, e, desta maneira, Ele permaneceu no amor do Pai, e nos restaurou a ele.

 

II – A respeito do seu próprio amor pelos seus discípulos. Embora Ele os deixe, Ele os ama. Observe aqui:

1. O padrão deste amor: “Como o Pai me amou, também eu vos amei a vós”. Uma estranha expressão da graça condescendente de Cr isto! Assim como o Pai amou a Ele, que era o mais digno, Ele amou a eles, que eram os mais indignos. O Pai o amou como seu Filho, e Ele os ama como seus filhos. O Pai entregou todas as coisas nas mãos do Senhor Jesus Cristo, e assim Ele nos dá livremente todas as coisas. O Pai o amou como Mediador, como cabeça da igreja, e como o grande consignatário da graça e do favor divino, que Ele tinha não somente para si, mas para o benefício daqueles por quem Ele foi comissionado. E diz Ele: “Eu tenho sido um consignatário fiel. Assim como o Pai me confiou seu amor, também eu o transmito a vocês”. Por isto, o Pai se comprazia nele, para que Ele pudesse se comprazer em nós, através do próprio Senhor Jesus. E por isto o amou, para que, nele, como amado, Ele pudesse nos fazer agradáveis, Efésios 1.6.

2. As provas e produtos deste amor, que são quatro:

(1) Cristo amou seus discípulos, pois deu sua vida por eles (v. 13): “Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a sua vida pelos seus amigos”. E este é o amor com o qual Cristo nos amou, Ele é nosso fiador, corpo por corpo, vida por vida, embora Ele conhecesse nossa insolvência, e previsse o quanto este compromisso lhe custaria. Observe aqui:

[1] A extensão do amor dos filhos dos homens, uns pelos outros. A maior prova de amor é dar a vida por um amigo, para salvar a vida dele, e talvez houvesse alguns feitos de amor heroicos como este, que poderiam ser considerados como mais do que arrancar os próprios olhos, Gálatas 4.15. Considerando que um homem estará disposto a dar tudo o que tiver pela sua vida, aquele que der tudo o que tiver por seu amigo estará literalmente dando tudo, e não poderá dar mais do que possui. Este, às vezes, pode ser nosso dever, 1 João 3.16. Paulo desejava ter uma honra como esta (Filipenses 2.17), e por um homem justo, alguns ousarão morrer, Romanos 5.7. Este é o amor no nível mais elevado, um amor que é tão forte quanto a morte.

[2] A excelência do amor de Cristo, acima de todos os outros amores. Ele não somente igualou, mas superou, os mais ilustres amigos. Outros deram suas vidas, satisfeitos com o fato de que elas lhes fossem tiradas. Porém, Cristo entregou a sua, não foi simplesmente passivo, mas fez disto seu próprio documento legal. A vida que os outros haviam dado tinha somente um valor igual à vida pela qual era dada, e talvez fosse até menos valiosa. Mas Cristo tem um valor infinitamente maior do que dez mil de nós. Outros deram suas vidas por seus amigos, mas Cristo entregou a sua por nós, quando éramos inimigos, Romanos 5.8,10. “Devem ser mais duros que o ferro ou a pedra aqueles corações que não se abrandam pela incomparável doçura do amor divino”. – Calvino.

(2) Cristo amou seus discípulos, pois Ele os levou a uma aliança de amizade consigo mesmo, vv. 14,15. “Se vocês, pela obediência, provarem ser verdadeiramente meus discípulos, vocês serão meus amigos, e serão tratados como amigos”. Observe que os seguidores de Cristo são os amigos de Cristo, e Ele se compraz graciosamente em chamá-los e considerá-los assim. Aqueles que cumprem o dever de seus servos são aceitos e promovidos à dignidade de seus amigos. Davi tinha um servo na sua corte, e Salomão tinha um na sua, que eram, de uma maneira particular, amigos do rei (2 Samuel 15.37; 1 Reis 4.5). Mas esta honra têm todos os servos de Cristo. Nós podemos, em alguma ocasião particular, ter amizade com um estranho, mas nós adotamos para nós todos os interesses de um amigo, e nos preocupamos com todas as suas preocupações. Assim, Cristo leva os crentes a serem seus amigos. Ele os visita e convive com eles, como seus amigos, é paciente com eles e aproveita deles o máximo que pode, aflige-se com suas aflições, e alegra-se com sua prosperidade. Ele intercede por eles no céu, e cuida de todos os seus interesses ali. Tendo amigos, será que todos se tornam somente uma alma? Aquele “que se ajunta com o Senhor é um mesmo espírito”, 1 Coríntios 6.17. Embora eles frequentemente se mostrem de uma maneira inamistosa, aquele que é amigo ama em todas as ocasiões. Observe a maneira carinhosa como isto é expresso aqui.

[1) Ele não os chamará de servos, embora eles o chamem de Mestre e Senhor. Aqueles que desejam ser como Cristo, em humildade, não devem se orgulhar de insistir em todas as ocasiões, na sua autoridade e superioridade, mas se lembrar de que seus servos são seus companheiros servos. Mas:

[2] Ele os chamará de seus amigos. Ele não somente os amará, mas fará com que saibam disto, pois a lei da beneficência está na sua língua. Depois da sua ressurreição, Ele parece falar com uma ternura mais afetuosa dos seus discípulos, e com eles, do que antes: “Vai para meus irmãos”, cap. 20.17. “Filhos, tendes alguma coisa de comer?”, cap. 21.5. Mas observe que, embora Cristo os chame de seus amigos, eles se chamam de seus servos: “Pedro, apóstolo [ou servo] de Jesus Cristo” (1 Pedro 1.1), e também Tiago, Tiago 1.1. Quanto mais honra Cristo nos confere, mais honra nós devemos nos empenhar para prestar a Ele. Quanto mais elevados aos seus olhos, mais humildes ao nossos.

(3) Cristo amou seus discípulos, pois Ele era muito livre na comunicação da sua vontade e do seu pensamento a eles (v. 15): “De agora em diante, não sereis mantidos às escuras, como tendes estado, como servos que somente conhecem seu trabalho atual. Mas, quando o Espírito for derramado, conhecereis os desígnios do vosso Mestre, como amigos. “Tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer”. Quanto à vontade secreta de Deus, há muitas coisas que nós devemos ficar satisfeitos em não saber, mas, quanto à vontade revelada de Deus, Jesus Cristo fielmente nos transmitiu o que Ele recebeu do Pai, cap. 1.18; Mateus 11.27. Cristo declarou aos seus discípulos as grandes coisas relativas à redenção do homem, para que eles pudessem declará-las a outros. Eles eram os homens do seu conselho, Mateus 13.11.

(4) Cristo amou seus discípulos, pois Ele os escolheu e ordenou para que fossem os mais importantes instrumentos da sua glória e honra no mundo (v. 16): “Eu vos escolhi a vós, e vos nomeei”. Seu amor por eles ficou aparente:

[1] Na sua escolha, a escolha para seu apostolado (cap. 6.70): “Escolhi a vós os doze”. A atitude inicial não se deu do lado deles: “Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós”. Por que eles eram admitidos a tal intimidade com Ele, empregados em tal missão por Ele, e dotados de tal poder do alto? Não era divido à sua sabedoria e benevolência, ao escolhê-lo para seu Mestre, mas sim ao seu favor e à sua graça, ao escolhê-los para seus discípulos. É apropriado que Cristo tivesse a escolha dos seus próprios ministros. Ele ainda a faz, pela sua providência e pelo seu Espírito. Embora os ministros façam deste santo chamado sua própria escolha, a escolha de Cristo é anterior à deles, e a orienta e deter­ mina. De todos os que são escolhidos para a graça e a glória, pode ser dito que eles não escolheram a Cristo, mas que Ele os escolheu, Deuteronômio 7.7,8.

[2] Na sua ordenação: “Vos nomeei”, “Eu vos coloquei no ministério (1 Timóteo 1.12), Eu vos comissionei”. Com isto, parece que Ele os tomou como seus amigos quando coroou seus corações com tal honra, e encheu suas mãos com tal confiança. Foi uma confiança poderosa que Ele depositou nos discípulos, ao fazer deles seus embaixadores, para negociar as questões do seu reino neste mundo inferior, e os primeiros ministros de estado, na administração dele. O tesouro do Evangelho foi confiado a eles, em primeiro lugar, para que pudesse ser propagado: Para que vades, “para que vades como sob um jugo ou uma carga, pois o ministério é um trabalho, e vós, que vos ocupais dele, deveis estar determinados a sofrer muito. Para que vades de lugar a lugar por todo o mundo, e deis fruto”. Eles foram ordenados, não para ficarem quietos, mas para se ocuparem, para serem diligentes no seu trabalho e para se dedicarem incansavelmente a fazer o bem. Eles foram ordenados, não para não fazerem nada, mas para serem úteis à mão de Deus, para trazerem as nações à obediência a Cristo, Romanos 1.13. Observe que aqueles a quem Cristo ordena devem produzir frutos, e o farão, devem trabalhar, e não trabalharão em vão. Em segundo lugar, para que pudesse ser perpetuado. Para que o fruto possa permanecer, para que o bom resultado dos seus esforços possa continuar no mundo, de geração em geração, até o fim dos tempos. A igreja de Cristo não devia ter vida curta, como muitas das seitas dos filósofos, que eram algo maravilhoso, porém passageiro. Ela não surgiu em uma noite, nem deveria perecer em uma noite, mas ser como os dias do céu. Os sermões e escritos dos apóstolos nos são transmitidos, e nós, até hoje, somos edificados sobre aquela fundação, desde que a igreja cristã foi fundada pelo ministério dos apóstolos e dos setenta discípulos. Assim como uma geração de ministros e cristãos morreu, outra veio. Em virtude daquela magna carta (Mateus 28.19), Cristo tem uma igreja no mundo que, como se referem nossos advogados a algo corporativo, não morre, mas vive em uma sucessão. E assim, seu fruto permanece até hoje, e assim será, enquanto a terra permanecer.

[3] Seu amor por eles se evidenciava no interesse que o trono da graça tinha neles: “A fim de que tudo quanto em meu nome pedirdes ao Pai ele vos conceda”. Provavelmente, isto se refere, primeiro, ao poder de realizar milagres com o qual os apóstolos foram revestidos, que devia ser obtido pela oração. “Quaisquer dons que lhes sejam necessários para o desempenho dos seus trabalhos, qualquer que seja a ajuda do céu que vocês puderem utilizar, em qualquer ocasião, basta pedir e terão”. Três coisas aqui nos são sugeridas para nosso incentivo na oração, e são muito encorajadoras. Em primeiro lugar, que nós temos um Deus ao qual recorrer que é um Pai. Cristo aqui o chama de Pai, tanto seu como nosso, e o Espírito, na palavra e no coração, nos ensina a clamar: “Aba, Pai”. Em segundo lugar, que nós nos apresentamos a Deus, o Pai, em um bom nome. Qualquer que seja a missão que nos leve ao trono da graça, de acordo com a vontade de Deus, nós podemos, com uma humilde ousadia, mencionar o nome de Cristo nela, e alegar que temos um relacionamento com Ele, e que Ele se preocupa conosco. Em terceiro lugar, que uma resposta de paz nos é prometida. O que vocês vierem pedir, lhes será dado. Esta grande promessa feita àquela grande missão preserva uma confortável e vantajosa relação entre o céu e a terra.

 

III – A respeito do amor dos discípulos por Cristo, ordenado em consideração ao grande amor com que Ele os tinha amado. Ele os exorta a três coisas:

1. A permanecerem no seu amor, v. 9. “Permaneçam no seu amor por mim, e no meu por vocês”. Ambos podem ser entendidos aqui. Nós devemos colocar nossa felicidade na continuidade do amor de Cristo por nós, e ocupar-nos de dar contínuas provas do nosso amor por Cristo, de modo que nada possa nos tentar a afastar-nos dele, ou provocá-lo a afastar-se de nós. Observe que todos os que amam a Cristo devem permanecer no seu amor por Ele, isto é, estar sempre amando-o, e aproveitando todas as oportunidades para demonstrar isto, e amá-lo até o fim. Os discípulos deviam sair em uma missão por Cristo, na qual eles se deparariam com muitos problemas. Mas diz Cristo: “Permaneçam no meu amor. Conservem seu amor por mim, e então todos os problemas com que se depararem serão fáceis. O amor tornou fáceis os sete anos de trabalho árduo para Jacó. Que as dificuldades que vocês encontrarem por causa de Cristo não apaguem seu amor por Ele, mas que o despertem”.

2. A fazerem com que sua alegria permaneça neles, e os encha, v. 11. Isto, Ele planejou naqueles preceitos e promessas que foram dados a eles.

(1) Que sua alegria possa permanecer neles. As palavras estão colocadas de tal maneira, no original, que podem ser interpretadas, ou:

[1] Que minha alegria em vós possa permanecer. Se eles produzirem muitos frutos, e permanecerem no seu amor, Ele continuará a comprazer-se neles, como tinha feito antes. Observe que os discípulos fiéis e produtivos são a alegria do nosso Senhor Jesus. Ele se deleita no seu amor por eles, Sofonias 3.17. Assim como há um arrebatamento de alegria no céu, na conversão dos pecadores, também há uma alegria remanescente na perseverança dos santos. Ou:

[2] Que minha alegria, isto é, vossa alegria em mim, possa permanecer. Ê a vontade de Cristo que seus discípulos possam constantemente e continuamente alegrar-se nele, Filipenses 4.4. A alegria do hipócrita dura somente um momento, mas a alegria daqueles que permanecem no amor de Cristo é uma festa constante. A palavra do Senhor dura para sempre, e as alegrias que fluem dela, e que se fundamentam nela, também duram.

(2) Que “vossa alegria seja completa”. Não somente que possais estar cheios de alegria, mas que vossa alegria em mim e no meu amor possa subir cada vez mais alto, até alcançar a perfeição, quando entrareis no gozo do vosso Senhor. Observe que:

[1] Aqueles, e somente aqueles, que têm a alegria de Cristo permanentemente em si, têm sua alegria completa. As alegrias terrenas são vazias. Elas logo saciam, mas nunca satisfazem. É somente a alegria da sabedoria que completa a alma, Salmos 36.8.

[2] O desígnio de Cristo no seu mundo é o de completar a alegria do seu povo. Veja 1 João 1.4. As duas coisas Ele disse, para que nossa alegria possa ser cada vez mais completa, e, por fim, perfeita.

3. A evidenciarem o amor que tinham por Ele, pela observância dos seus mandamentos: “‘Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor’, v. 10. Esta será uma evidência da fidelidade e constância do vosso amor por mim, e então podereis ter certeza da continuidade do meu amor por vós”. Observe aqui:

(1) A promessa: “Permanecereis no meu amor”, como em uma morada, no lar com o amor de Cristo; como em um lugar de descanso, em tranquilidade no amor de Cristo; como em uma fortaleza, seguros no amor de Cristo. Permanecereis no meu amor, tereis graça e força para perseverar no amor por mim”. Se a mesma mão que derramou pela primeira vez o amor de Cristo nos nossos corações não nos conservasse naquele amor, nós não permaneceríamos nele, mas, por meio do amor do mundo, deixaríamos o amor do próprio Cristo.

(2) A condição da promessa: “Se guardardes os meus mandamentos”. Os discípulos deviam observar os mandamentos de Cristo, não somente para estar, eles mesmos, em constante conformidade com os mandamentos, mas para que pudessem fazer uma fiel apresentação dos mandamentos a outros. Eles deveriam guardá-los como fiduciários, em cujas mãos foi colocado este grande depósito, pois eles deviam ensinar todas as coisas que Cristo tinha mandado, Mateus 28.20. Este mandamento, eles devem guardar sem mácula (1 Timóteo 6.14), e, desta maneira, devem mostrar que permanecem no amor de Cristo.

Para convencê-los a guardar seus mandamentos, Jesus apresenta:

[1] Seu próprio exemplo: “Do mesmo modo que eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai e permaneço no seu amor”. Cristo submeteu-se à lei da mediação, e, desta maneira, preservou a honra e o consolo desta lei, para nos ensinar a nos submetermos às leis do Mediador, pois, de outra maneira, não conseguiremos preservar a honra e o consolo do nosso relacionamento com Ele.

[2] A necessidade disto no relacionamento deles com Ele (v. 14): “Vós sereis meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando”, e não de outra maneira”. Observe, em primeiro lugar, que somente serão considerados amigos fiéis de Cristo aqueles que provarem ser seus servos obedientes, pois aqueles que não permitirem que Ele reine sobre eles serão tratados como seus inimigos. A amizade envolve uma comunhão de aversões e de simpatias. Em segundo lugar, que a obediência universal a Cristo é a única obediência aceitável. Obedecer a Ele em tudo o que Ele nos ordenar, sem excetuar nenhum mandamento, e muito menos sem isentar-se de nenhum deles.

 

IV – A respeito do amor dos discípulos uns pelos outros, ordenado como uma evidência do seu amor por Cristo, e uma grata retribuição ao seu amor por eles. Nós devemos guardar seus mandamentos, e este é seu mandamento, que nos amemos uns aos outros, v. 12, e novamente, v. 17. Nenhuma obrigação da religião é mais frequentemente enfatizada, nem mais pateticamente recomendada, a nós, pelo nosso Senhor Jesus, do que esta do amor mútuo, e por uma boa razão.

1. É recomendada pelo padrão de Cristo (v. 12): “Assim como eu vos amei”. O amor de Cristo por nós deve orientar e motivar nosso amor uns pelos outros. Desta maneira, e por este motivo, nós devemos nos amar uns aos outros, e porque Cristo nos amou. Aqui Ele especifica algumas das expressões do seu amor por eles. Ele os chamou de amigos, transmitiu seus pensamentos a eles, estava pronto para dar a eles o que lhe pedissem. “Vão e façam da mesma maneira”.

2. É exigida pelo se u preceito. Ele interpõe sua autoridade, e faz dela uma das leis estatutárias do seu reino. Observe com que diferença isto se expressa nestes dois versículos, e de forma muito enfática em ambos.

(1) “O meu mandamento é este” (v. 12), como se este fosse o mais necessário de todos os mandamentos. Assim como, sob a lei, a proibição da idolatria era o mandamento mais enfatizado, acima do que qualquer outro, prevendo como as pessoas estavam viciadas a este pecado, também Cristo, prevendo o vício da igreja cristã à falta de caridade, colocou a maior ênfase neste preceito.

(2) “Isto vos mando”, v. 17. Ele fala como se estivesse prestes a dar-lhes várias incumbências, mas cita somente esta: “Que vos ameis uns aos outros”, não somente porque esta inclua muitas obrigações, mas porque ela terá uma boa influência sobre todas as demais.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

GRUPOS DESCOBREM MENTIRAS MAIS RÁPIDO DO QUE UMA PESSOA SOZINHA

Durante estudo, equipes detectaram a falsidade até 62% mais rápido do que voluntários que desempenhavam a tarefa sozinhos.

Grupos descobrem mentiras melhor que uma pessoa sozinha

Nem sempre somos suficientemente habilidosos para identificar quando alguém conta uma lorota. A menos que estejamos a par de informações que contradizem diretamente uma falsa história, pesquisas já mostraram que, em média, percebemos apenas metade das mentiras que nos contam. Mas em equipe podemos ser mais perspicazes para descobrir se alguém está tentando esconder a verdade. Pelo menos é o que mostra um estudo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, USA. Cientistas constataram, porém, que isso só ocorre quando os membros do grupo se consultam entre si antes de chegar a uma conclusão.

O psicólogo Nicholas Epley, pesquisador da área de negócios, e o doutorando Nadav Klein, ambos da Universidade de Chicago, realizaram quatro experimentos para comparar a percepção da mentira de pessoas sozinhas ou acompanhadas. Em cada cenário, centenas de voluntários foram distribuídos em grupos de três para assistir a uma série de dez clipes de vídeo que apresentavam alguns oradores que diziam a verdade e outros que tentavam enganá-los.

Então, os participantes ponderaram sobre quais acreditavam estar simulando – alguns julgaram individualmente e de imediato, enquanto outros optaram por discutir o caso com os membros da    equipe antes de tudo. Em todos os cenários, os grupos tiveram vantagem e detectaram mentiras em até 62% do tempo em comparação com os que agiram de forma independente.

Os pesquisadores acreditam que os resultados não se resumem ao chamado efeito da “sabedoria popular” porque julgamentos não ajudaram a aumenta a habilidade para detectar engodos – isso só acontece quando houve discussão e várias opiniões foram consideradas. Os cientistas suspeitam que haja elementos sinérgicos envolvidos e pretendem aprofundar os estudos para compreender as condições e características grupais que favorecem esse fenômeno.

“As conclusões não significam, necessariamente, que avaliações grupais sejam mais eficientes do que individuais”, pondera Epley. Mas enfatiza que os resultados sugerem a importância de discussões em equipe em locais onde somos convidados a apurar mentiras – de deliberações em um júri a investigações de fraudes de seguro.

Grupos descobrem mentiras melhor que uma pessoa sozinha..2

OUTROS OLHARES

ANGÚSTIA DESNECESSÁRIA

O futuro dos filhos não depende tanto assim das escolas

Angústia desnecessária

Dezembro nem chegou e muitas famílias já estão às voltas com o ano escolar de 2019. Não é pequeno o número de pais que estão naquela maratona de visitas, de dúvidas e de angústias a respeito de qual escola escolher para seus filhos frequentarem. Confirmar ou não a matrícula na escola atual? Qual será a melhor metodologia utilizada pelas instituições para desenvolver o interesse e o gosto dos filhos pelos estudos? O ranking do Enem deve servir como norteador ou não? Quanto devo espremer o orçamento familiar para nele caber a alta mensalidade de uma escola muito conceituada? A arquitetura escolar é decisiva para o aprendizado dos alunos ou o equipamento escolar não tem tanta importância assim no estimulo aos estudos? Trocar de escola pode atrapalhar a vida de meu filho?

Perguntas como essas – e outras bem diferentes – surgem para os pais, que logo partem em busca de auxílio para definir que aspectos priorizar nessa decisão. Na internet por exemplo, ao colocar o tema para busca, de imediato surgem centenas de resultados – alguns recentes e outros nem tanto-, com títulos muito sedutores. Por exemplo: “Como escolher a melhor escola para seu filho em oito passos”‘ ou As dez dicas que você precisa para escolher a escola para seu filho”. Após lerem três ou quatro desses textos – poupe seu precioso tempo, leitor! -, alguns pais saem à procura de ajuda mais sofisticada, como bibliografia. Afinal, como escolher entre métodos tradicionais, construtivistas, montessorianos etc., se não os conhecem? Outros pais, depois de cuidadosa leitura, se veem no mesmo lugar onde já estavam antes.

Mas e aí? O que os pais devem levar em conta na hora de escolher a escola para os filhos já que, segundo dizem, disso dependerá o futuro deles? Para começar, é bom saber que todas as perguntas aqui exemplificadas – e as que não foram citadas também – não têm resposta certa, embora as escolas insistam em querer uma resposta correta para cada pergunta, não é mesmo?

Vale também saber que, entre escolher a melhor escola para seu filho e fazer a melhor escolha possível neste momento, a segunda alternativa é a realista. E a melhor escolha possível precisa ser banhada de realidade. Nenhuma criança ou adolescente merece ficar mais de uma hora no trânsito paira ir para a escola porque a família acha que a escola mais distante é a melhor. E nenhuma família deve se endividar por causa da mensalidade escolar, se há possibilidades mais condizentes com a disponibilidade financeira do momento.

É fundamental saber que, em toda escolha, podemos cometer equívocos que só vão emergir depois de iniciada a jornada. Faz parte da vida errar e revisar as escolhas feitas. Sem arrependimentos. O futuro dos filhos não depende tanto assim das escolas que frequentam. Pois eles irão – deverão, até! – superar esse período, por melhor ou pior que ele tenha sido.

Por isso, opte pela escola que mais lhe agradou e inspirou confiança, que é acessível à família pelo orçamento disponível, mais próxima do que distante da casa onde moram ou por outros motivos que considerar importantes. Você poderá errar nessa escolha? Certamente. Mas, em matéria de filhos, é fundamental saber previamente que erraremos de qualquer maneira, sempre.

GESTÃO E CARREIRA

O PARADOXO DA TOMADA DE DECISÃO

Queremos ter sempre várias opções à mão. Mas esse excesso limita nossas escolhas.

Business person choosing between two options separated by a yell

Na hora de tomar muitas decisões profissionais, um conselho recorrente que se ouve é: não feche portas, não queime pontes. Afinal, quem não quer ter um “plano B”? A ideia é que não há custo nenhum em manter algumas opções sempre abertas. Mas será mesmo?

De um modo geral, seja para lidar com finanças ou com nossas vidas pessoais, temos dificuldades para tomar decisões quando estamos diante de muitas alternativas. De certa maneira, é um paradoxo interessante: queremos ter a liberdade de muitas possibilidades, mas é justamente o excesso de opções que acaba nos limitando.

O dilema acontece até mesmo em situações corriqueiras. Se você estiver interessado em comprar um carro novo, por exemplo, a variedade de marcas no mercado vai ajudar a colocar uma gama extensa de possibilidades dentro da faixa de valores que você esteja disposto a gastar. Ainda que você seja um grande negociador e consiga fechar uma boa compra, se o seu vizinho aparecer com um carro novo também, certamente você ficará se questionando sobre quem fez o melhor negócio.

Em tempos de crise, o dilema das diversas possibilidades deixa investidores ainda mais ansiosos. O mercado está cheio de opções para investir, mas como decidir qual delas é a mais segura? Em quais delas eu me arrisco menos? Será que o retorno por arriscar menos vai valer a pena no futuro? Devo ter o sangue frio de me expor a um risco maior agora visando lucros em longo prazo? Com todo o clima de incerteza que paira no ar, o investidor dorme com as dúvidas fervendo-lhe a cabeça e o dinheiro embaixo do colchão. O problema é que a crise econômica não vai arrefecer de uma hora para a outra somente para facilitar sua decisão. Ainda que você tenha medo, dinheiro parado representa prejuízo e ele espera que você tome uma atitude.

A situação pode ser comparada a um trecho interessante do livro A Redoma de Vidro, da escritora norte-americana Sylvia Plath. Ela fala sobre um personagem que está embaixo de uma figueira cheia de frutos bem maduros. Em cada um deles, havia a possibilidade de um futuro diferente. Em um figo tinha um casamento feliz, filhos. No outro, uma carreira brilhante. Em outro figo, ela enxergava viagens para diferentes países. Diante de tantas possibilidades e sem conseguir decidir, morria de fome e via os figos murcharem, um por um.

De nada adianta ter uma infinidade de opções se você não puder escolher uma delas. Cada decisão tomada traz vantagens e riscos. Quando as opções são parecidas, optar entre uma LCI e um CDB, por exemplo, pode parecer uma tarefa dura. Inevitável se questionar: será que eu fiz a escolha certa? No entanto, esta situação vira um problema quando você, paralisado pelo excesso de opções, acaba não escolhendo nada e deixa o dinheiro esquecido na poupança. Oportunidades não surgem a todo instante – é preciso ter a sabedoria para aproveitá-las. Não deixe que a possibilidade de crescimento financeiro seja um figo murcho em sua vida.

Pondere suas decisões, esteja ciente dos riscos que ela oferece e não gaste energia pensando se deveria ter agido de modo diferente. O fato de ter muitas opções não significa que podemos ter tudo ao mesmo tempo. Isso é uma ilusão.

  

SAMY DANA é economista, doutor em administração e Ph.D. em Negócios. Professor na Eaesp/FGV, autor de livros e consultor, é também comentarista dos programas Conta Corrente, da Globo News, e Hora 1, na Globo. É colunista da Rádio Globo e do G1.

 

ALIMENTO DIÁRIO

JOÃO 15: 1-8

Alimento diário

Cristo, a Videira Verdadeira

Aqui Cristo fala a respeito dos frutos, dos frutos do Espírito, que seus discípulos deveriam produzir, de forma semelhante a uma videira. Observe aqui:

 

I – A doutrina desta comparação. Que noção que devemos ter dela.

1. Que Jesus Cristo é a videira, a videira verdadeira. O fato de Cristo se alegrar de falar de si mesmo com tais comparações inferiores e humildes é um exemplo da sua humildade. Ele, que é o Sol da Justiça, e a resplandecente Estrela de manhã, se compara com uma videira. A igreja, que é o corpo místico de Cristo, é uma videira (Salmos 80.8), e Cristo, que é a semente da igreja, também é uma videira. Cristo e a igreja são apresentados desta maneira.

(1) Ele é a videira, plantada na vinha, e não um produto espontâneo; plantada na terra, pois Ele é o Verbo feito carne. A videira não tem uma aparência externa tão bela e promissora, e Cristo não tem parecer nem formosura, Isaías 53.2. A videira é uma planta que se propaga, e Cristo será conhecido como a salvação até os confins da terra. O fruto da videira honra a Deus e alegra os homens (Juízes 9.13), e também o fruto da mediação de Cristo. É melhor do que o ouro, Provérbios 8.19.

(2) Ele é a videira verdadeira, assim como a verdade se opõe ao fingimento e à falsidade. Ele é realmente uma planta frutífera, uma planta de excelente reputação. Ele não é como aquela parra brava, que enganava àqueles que colhiam dela (2 Reis 4.39), mas uma videira verdadeira. Diz-se que as árvores infrutíferas mentem (Habacuque 3.17, marg.), mas Cristo é uma videira que não irá enganar. Qualquer que seja a excelência que exista em qualquer criatura útil ao homem, isto é apenas uma sombra daquela graça que há em Cristo, pelo bem do seu povo. Ele é aquela videira verdadeira, tipificada pela videira de Judá, que o lavou com o sangue das uvas (Genesis 49.11), pela videira de José, cujos ramos correm sobre o muro (Genesis 49.22), e pela videira de Israel, sob a qual ele habitava seguro, 1 Reis 4.25.

2. Que os crentes são os ramos desta videira, o que indica que Cristo é a raiz da videira. A raiz não pode ser vista, e nossa vida está escondida com Cristo. A raiz sus­ tenta a árvore (Romanos 9.18), distribui seiva a ela, e contribui integralmente para seu florescer e frutificar, e em Cristo estão todos os sustentas e nutrientes. Os ramos da videira são muitos, alguns de um lado da casa ou muro, outros do outro lado, mas, como se encontram na raiz, formam todos uma única videira. Assim, todos os bons cristãos, embora distantes uns dos outros, em lugares e opiniões, ainda assim se encontram em Cristo, o centro da sua unidade. Os crentes, como os ramos da videira, são fracos, e não conseguem se sustentar, mas como os ramos, são sustentados. Veja Ezequiel 15.2.

3. Que o Pai é o lavrador, o agricultor. Embora a terra seja do Senhor, ela não lhe produz frutos, a menos que Ele trabalhe nela. Deus tem não somente a propriedade da videira e de todos os ramos, mas também o cuidado deles. Ele plantou, e regou, e fez crescer, pois nós somos cooperadores de Deus, 1 Coríntios 3.9. Veja Isaías 5.1,2; 27.2,3. Ele cuidou de Cristo, a raiz, e o sustentou, e o fez florescer em uma terra seca. Ele cuida de todos os ramos, e os poda, e os vigia, para que nada os danifique. Nunca houve um lavrador tão prudente, tão vigilante, com sua videira, como Deus é com sua igreja, que, desta maneira, deve necessariamente prosperar.

 

II – O dever que nos é ensinado com esta comparação, que é produzir frutos, e, para isto, permanecer em Cristo.

1. Nós devemos produzir frutos. De uma videira, nós esperamos uvas (Isaias 5.2), e de um cristão, nós esperamos cristianismo. Este é o fruto, um temperamento e uma disposição cristãos, uma vida e costumes cristãos, devoções cristãs e desígnios cristãos. Nós devemos honrar a Deus, e fazer o bem, e exemplificar a pureza e o poder da religião que professamos. E isto é produzir frutos. Os discípulos aqui devem ser frutíferos, como cristãos, em todos os frutos da justiça, e como apóstolos, difundindo o cheiro do conhecimento de Cristo. Para persuadi-los a isto, Ele explica:

(1) O destino dos infrutíferos (v. 2): são tirados.

[1] Aqui está indicado que há muitos que se passam por ramos em Cristo que não dão frutos. Se realmente estivessem unidos a Cristo, pela fé, dariam frutos. Mas, estando ligados a Ele somente por uma profissão externa, embora pareçam ser ramos, logo se verá que são ramos secos. Os adeptos infrutíferos são adeptos infiéis. São somente adeptos, e nada mais. Podemos interpretar da seguinte maneira: Toda vara que não dá fruto em mim, e que dá fruto para si mesma. Pois aquelas que não dão frutos em Cristo, e no seu Espírito e na sua graça, são como se não dessem frutos, Oséias 10.1.

[2] Aqui está a ameaça de que eles serão tirados, como justiça para eles e como bondade para o restante dos ramos. Pois daquele que não tem uma união real com Cristo, e frutos produzidos por meio disso, até o que parece ter lhe será tirado, Lucas 8.18. Alguns pensam que isto se refere, originalmente, a Judas.

(2) A promessa feita aos frutíferos: Ele os limpa, par a que deem mais frutos. Observe que:

[1] Uma maior produtividade é a recompensa abençoada da produtividade entusiasmada. A primeira bênção foi: Frutificai. E ainda é uma grande bênção.

[2] Até mesmo os ramos frutíferos, para continuar sendo frutíferos, têm necessidade de serem limpos ou podados, Ele remove aquilo que é supérfluo e exuberante, que atrapalha seu crescimento e sua produtividade. Até mesmo os melhores podem ter em si aquilo que é prejudicial, algo que deve ser removido, algumas noções, paixões ou sentimentos que precisam ser eliminados, o que Cristo prometeu fazer pela sua palavra, pelo seu Espírito e pela sua providência. E estes problemas serão removidos gradualmente, nas ocasiões apropriadas.

[3] A poda dos ramos frutíferos, para sua maior produtividade, é a preocupação e o trabalho do grande lavrador, para sua própria glória.

(3) Os benefícios que os crentes têm com a doutrina de Cristo, cujo poder eles devem se empenhar para exemplificar em uma vida frutífera: “Vós já estais limpos”, v. 3.

[1] O grupo deles estava limpo, agora que Judas tinha sido expulso por aquela frase de Cristo: “O que fazes, faze-o depressa”. Pois, até que tivessem se livrado dele, eles não estariam completamente limpos. A palavra de Cristo é uma palavra diferenciadora, e separa o precioso do vil. Ela irá purificar a igreja dos primogênitos no grande dia da separação.

[2] Cada um deles estava limpo, isto é, santificado, pela verdade de Cristo (cap. 17.17). A fé pela qual eles receberam a palavra de Cristo purificou seus corações, Atos 15.9. O Espírito da graça, pela palavra, os purificou da sujeira do mundo e da carne, e eliminou deles o fermento dos escribas e fariseus, do qual, quando viram a ira e inimizade deles contra seu Mestre, agora estavam completamente limpos. Aplique isto a todos os crentes. A palavra de Cristo é transmitida a eles. Existe uma virtude purificadora na sua palavra, enquanto ela opera graça e elimina a corrupção. Ela purifica, como o fogo purifica o ouro dos seus dejetos, e como um médico purifica o corpo da sua enfermidade. Nós, então, evidenciamos que estamos purificados pela palavra quando produzimos frutos em santidade. Talvez aqui haja uma alusão à lei a respeito das videiras em Canaã. Seu fruto era impuro, e incircunciso, nos primeiros três anos depois que ela tivesse sido plantada, e no quarto ano ele se destinava à santidade, para dar louvores ao Senhor. E então ele seria puro, Levíticos 19.23,24. Os discípulos tinham já estado durante três anos sob as instruções de Cristo, e agora estavam limpos: “Vós já estais limpos”.

(4) A glória que resultará a Deus pela nossa produtividade, com o consolo e a honra que nos sobrevirão, v. 8. Se nós produzirmos muitos frutos:

[1] Nisto nosso Pai será glorificado. A produtividade dos apóstolos, no cumprimento diligente do seu trabalho, seria para a glória de Deus na conversão das almas, e na oferta delas a Ele, Romanos 15.9,16. A produtividade de todos os cristãos, em uma esfera inferior ou pequena, é para a glória de Deus. Com as obras eminentemente boas dos cristãos, muitos são levados a glorificar o nosso Pai que está no céu.

[2] Assim, nós realmente seremos discípulos de Cristo, aceitos como tal e demonstrando que somos real­ mente aquilo que dizemos ser. Assim, evidenciaremos nosso discipulado e o embelezaremos, para sermos do nosso Mestre “por nome, e por louvor, e por glória”, isto é, verdadeiros discípulos, Jeremias 13.11. Assim, nós se­ remos reconhecidos pelo nosso Mestre no grande dia, e teremos a recompensa dos discípulos, uma participação no gozo do nosso Senhor. E, quanto mais frutos produzirmos, mais abundantes formos naquilo que é bom, mais Ele será glorificado.

2. Para nossa produtividade, nós devemos permanecer em Cristo, devemos conservar nossa união com Ele, pela fé, e fazer tudo o que pudermos pelo Evangelho, em virtude desta união. Aqui temos:

(1) O dever imposto (v. 4): “Estai em mim, e eu, em vós”. Observe que o grande e constante interesse de todos os discípulos de Cristo consiste em conservar uma dependência de Cristo e a comunhão com Ele, unir-se a Ele habitualmente, e efetivamente obter nutrientes dele. Aqueles que vêm a Cristo devem permanecer nele: “Estejam em mim, pela fé, e Eu, em vocês, pelo meu Espírito. Permaneçam em mim, e não temam, pois Eu estarei em vocês”. A comunhão entre Cr isto e os crentes nunca falha, por parte dele. Nós devemos permanecer na palavra de Cristo por uma consideração por ela, e ela, em nós, como uma luz para nossos pés. Nós devemos permanecer nos méritos de Cristo como nossa justiça e defesa, e Ele, em nós, como nosso sustento e consolo. O galho está ligado na videira, e a seiva da videira está no galho, e, desta maneira, existe uma comunicação constante entre eles.

(2) A necessidade da nossa permanência em Cristo, para sermos produtivos (vv. 4,5): “Vós não podeis dar frutos, a menos que estejais em mim. Mas, se estiverdes em mim, dareis muitos frutos, pois, em resumo, ‘sem mim’, ou separados de mim, ‘nada podereis fazer”. Tão necessário é, para nosso consolo e para nossa felicidade, que produzamos frutos, que o melhor argumento para nos convencer a permanecer em Cristo é o fato de que, se não for assim, não poderemos dar frutos.

[1] É necessário estarmos em Cristo para que possamos fazer o bem, em grande quantidade. Aquele que é constante no exercício de fé em Cristo e no amor por Ele, que vive segundo suas promessas e é conduzido pelo seu Espírito, produz muito fruto, é muito útil para a glória de Deus, e para sua própria prestação de contas no grande dia. Observe que a união com Cristo é um princípio nobre, produtivo de todo o bem. Uma vida de fé no Filho de Deus é incomparavelmente a vida mais excelente que alguém pode viver neste mundo. É uma vida regular e uniforme, pura e celestial. É útil e confortável, e tudo o que corresponde ao fim da vida.

[2] É necessário estarmos em Cristo para que possamos fazer qualquer bem. Não é somente um meio de cultivar e aumentar o bem que já existe em nós, mas é a raiz e a fonte de todo o bem: “‘Sem mim nada podereis fazer’. Não somente não poderão fazer nada grandioso, curar os enfermos ou ressuscitar os mortos, mas realmente nada”. Observe que nós temos uma dependência necessária e constante da graça do Mediador, para todas as ações da vida espiritual e divina, assim como temos da providência do Criador, para todas as ações da vida natural, pois, quanto a ambas, é o poder divino que faz com que possamos viver, e nos mover, e existir. Fora dos méritos de Cristo, não poderemos fazer nada para nossa justificação, e sem o Espírito de Cristo, nada poderemos fazer para nossa santificação. Sem Cristo, não poderemos fazer nada corretamente, nada que seja um fruto agradável a Deus ou proveitoso para nós mesmos, 2 Coríntios 3.5. Nós dependemos de Cristo, não somente como uma videira depende do muro, para ter seu suporte, mas como o ramo depende da raiz, para ter a seiva que lhe dá alimento e vida.

(3) As consequências fatais de abandonar a Cristo (v. 6): “Se alguém não estiver em mim, será lançado fora, como a vara, e secará”. Esta é uma descrição do terrível estado dos hipócritas, que não estão em Cristo, e dos apóstatas, que não permanecem em Cristo.

 

[1] Eles são lançados fora, como ramos secos e murchos, que são arrancados porque sobrecarregam a árvore. É justo que não se beneficiem de Cristo aqueles que pensam que não precisam dele, e que aqueles que o rejeitam sejam rejeitados por Ele. Aqueles que não estão em Cristo serão abandonados por Ele. Eles são deixados à sua própria sorte, para caírem em pecados escandalosos, e então são, com razão, arrancados da comunhão dos crentes fiéis.

[2] Eles secarão, como um ramo arrancado da árvore. Aqueles que não permanecem em Cristo, embora possam florescer durante algum tempo, em uma profissão plausível, ou, pelo menos, aceitável, ainda assim, dentro de pouco tempo, murcham e se reduzem a nada. Suas porções e seus dons murcham. Seu zelo e sua devoção murcham. Sua credibilidade e reputação murcham. Suas esperanças e consolações murcham, Jó 8.11-13. Observe que aqueles que não produzem frutos, dentro de pouco tempo já não terão folhas. Como secou imediatamente a figueira que Cristo amaldiçoou!

[3] Os homens “os colhem”. Os agentes e emissários de Satanás os colhem e fazem deles sua presa fácil. Aqueles que se afastam de Cristo, logo se aproximam dos pecadores, e o Diabo está pronto para capturar para si mesmo a ovelha que se afasta do rebanho de Cristo. Quando o Espírito do Senhor se afastou de Saul, um espírito imundo se apossou dele.

[4] Eles os “lançam ao fogo”, isto é, eles são lançados ao fogo. E aqueles que os seduzem e os atraem são os que, na verdade, os lançam ali, pois eles os tornam filhos do inferno. O fogo é o lugar mais adequado para os ramos murchos, pois eles não ser vem para nada além disto, Ezequiel 15.2-4.

[5] Eles “ardem”. Esta é a consequência natural, mas aqui está acrescentada de modo muito enfático, e torna a ameaça terrível. Eles não serão consumidos em um momento, como espinhos debaixo de uma panela (Eclesiastes 7.6), mas, eles arderão para sempre em um fogo, que não somente não poderá ser apagado, mas que nunca se extinguirá. Este é o resultado de abandonar a Cristo, este é o fim das árvores estéreis. Os apóstatas são duas vezes mortos (Judas. 12), e quando se diz: “São lançados ao fogo e ardem”, isto significa que são condenados duas vezes. Alguns interpretam a imagem dos homens colhendo estes ramos (v. 6) como sendo o ministério dos anjos no grande dia, quando coletarão do reino de Cristo todas as coisas que o ofendem, e colherão o joio e o lançarão no fogo.

(4) O bendito privilégio daqueles que permanecem em Cristo (v. 7): Se “as minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes” ao meu Pai, em meu nome, “e vos será feito”. Veja aqui:

[1] Como nossa união com Cristo é mantida – pela Palavra: “Se vós estiverdes em mim”. Ele tinha dito antes: “E eu, em vós”. Aqui Ele se explica: “E as minhas palavras estiverem em vós”. Pois é na palavra que Cristo se apresenta diante de nós, e é oferecido a nós, Romanos 10.6-8. É através da palavra que nós o recebemos e aceitamos, e, onde a palavra de Cristo reside abundantemente, ali reside Cristo. Se a palavra for nosso guia e monitor constante, se ela estiver em nós como se estivesse em casa, então nós estaremos em Cristo, e Ele, em nós.

[2] Como nossa comunhão com Cristo é mantida – pela oração: “Pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito”. E o que podemos querer mais, do que ter o que pedimos? Observe que aqueles que estão em Cristo, que o têm como o deleite dos seus corações, terão, por intermédio de Cristo, aquilo que seus corações desejam. Se nós tivermos Cristo, não nos faltará nada que seja bom para nós. Duas coisas estão implícitas nesta promessa. Em primeiro lugar, que, se estivermos em Cristo, e sua palavra, em nós, não pediremos nada além do que seja apropriado para ser feito por nós. As promessas que estão habitando em nós estão prontas para se transformar em orações, e as orações que estão de acordo com esta situação, são, sem dúvida, respondidas. Em segundo lugar, que, se estivermos em Cristo e na sua palavra, nós teremos tal interesse no favor de Deus e na mediação de Cristo, que teremos uma resposta de paz para todas as nossas orações.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

O QUE SEPARA VOCÊ DE SEUS OBJETIVOS?

Do ponto de vista psicológico, é possível falar de quatro tipos de lacunas – sociais, temporais, espaciais e experienciais. Felizmente, essa distância desconfortável pode ser reduzida quando entendemos a linha entre elas e aprendemos a ajustar nossos interesses às condições disponíveis.

O que separa você de seus objetivos

Não é difícil perceber que as decisões que tomamos e aquilo que fazemos nem sempre condizem com a meta que estabelecemos.

Considere as seguintes situações: 1) Você trabalha em uma empresa e está negociando um contrato com um cliente importante, mas seu chefe faz pressão para aumentar as margens de lucro. Como você conduz a situação? 2) Várias semanas atrás, você assumiu a responsabilidade de apresentar um seminário no curso no qual está matriculado(a), mas agora está muito ocupado(a) no trabalho e lamenta aquela decisão. 3) Você e seu (sua) namorado(a) querem viajar nas férias no fim do ano, mas ele(a), insiste que você resolva para onde irão e a data do passeio. Qual sua atitude? 4) Você recebe uma proposta para dividir sociedade num negócio atraente, aparentemente com boas possibilidades de se tornar lucrativo, mas que envolve algum risco e a necessidade de abrir mão de uma colocação profissional atual estável. Que caminho resolve seguir?

Surpreendentemente, um dos principais desafios no centro de todas essas situações aparentemente tão diversas é o mesmo: o que você quer de fato? Afinal, até onde vai o seu desejo e onde começa o do outro? É possível pensar nessas questões de várias maneiras e, como tudo está associado a uma escolha, optamos aqui por uma abordagem que leva em conta não apenas o desejo e a direção que seguimos, mas também como podemos usar a dificuldade a nosso favor. É possível considerar que se sair bem de uma situação cotidiana – pessoal ou profissional – depende, em grande parte, de reduzir o que alguns psicólogos chamam de distância psicológica. Ou seja, diminuir quatro tipos de lacunas: entre você e outras pessoas (distância social), entre o presente e o futuro (distância temporal), entre sua localização física e lugares longínquos (distância espacial) e entre imaginar alguma coisa e de fato vivenciá-la (distância experiencial).

Cada vez que surgem impasses, é preciso considerar não só os próprios interesses, mas também os das outras partes (o que reduz a distância social). A forma eficiente de lidar com o tempo significa prever com precisão quais compromissos serão mais prementes no futuro (distância temporal). É preciso levar em conta não só os objetivos das pessoas com quem nos relacionamos em variados níveis, mas também prever como as situações mudarão ao longo do tempo (distância social e temporal). Complicado?

De fato, não é fácil. Em mais de uma década de pesquisa acadêmica e em seu trabalho com estudantes e executivos, a especialista em psicologia e comportamento Rebecca Hamilton, doutora pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), descobriu que pessoas que reconhecem e compreendem os efeitos da distância psicológica e depois usam estratégias específicas para reduzi-la (ou, às vezes, aumentá-la) costumam ser mais bem-sucedidas, tanto na vida pessoal quanto na profissional.

DO ABSTRATO AO CONCRETO

Quando a distância psicológica é grande, tendemos a pensar em termos mais abstratos, focando o quadro geral; enfatizamos opções que nos agradam e os motivos pelos quais optamos por elas. Em contraste, quando a distância psicológica é pequena, nosso pensamento é mais concreto: tendemos a nos concentrar nos detalhes, na viabilidade das opções e em como vamos usá-las. Exemplo, podemos pensar em uma ação – fazer uma viagem desejada – tanto de forma concreta, como “comprar a passagem”, quanto abstrata, como “fazer um painel com as fotos que pretendo tirar”.

Os exemplos introdutórios destacam alguns dos “riscos” de uma grande distância psicológica. No cenário de negociação, a distância social entre você e seu cliente (comparada com aquela entre você e seu chefe) torna difícil atender aos interesses das duas partes. Quando pedem que você confirme presença em um evento com semanas de antecedência, a distância temporal faz o desejo de incrementar seu perfil profissional ficar maior, e a viabilidade de preparar e apresentar o seminário perde importância. No cenário de liderança em relação à viagem com o namorado, a distância social e temporal faz com que seja mais difícil você passar de uma decisão abstrata para uma definição concreta de objetivo. E a distância experiencial durante o processo de montagem de um negócio profissional pode intimidar.

Claro que nada é tão simples. Sempre estão envolvidas marcas de experiências anteriores, emoções, além de processos inconscientes – mesmo quando, racionalmente, sabemos que a distância psicológica nos induziu ao erro antes.

Em um experimento realizado por Rebecca Hamilton com colegas, os participantes que tinham acabado de apresentar dificuldades para usar um reprodutor de vídeo digital repleto de recursos reconheceram que, da próxima vez, iriam preferir um aparelho mais simples. “Mas, momentos depois, quando lhes pedimos que escolhessem um reprodutor de áudio digital, eles preferiram novamente o modelo com mais penduricalhos”, conta a pesquisadora, atualmente professora de administração e marketing da Universidade Georgetown. Da mesma forma, decisões de poupança para a aposentadoria indicam que, embora as pessoas saibam que devem poupar mais para o futuro, elas continuam economizando muito pouco.

Por outro lado, a distância psicológica pode ser uma vantagem em determinados cenários. Uma pesquisa coordenada pela doutora em psicologia Cheryl Wakslak, professora do Departamento de Administração e Organização da Universidade do Sul da Califórnia, mostra que ocupar cargos de liderança se associa à distância psicológica. Isso explica, pelo menos em parte, por que gestores recém-promovidos geralmente têm dificuldades para se equilibrar entre manter a amizade com ex-colegas e supervisioná-los. A distância temporal permite que a pessoa estabeleça metas mais desafiadoras. Quando alguém sai de casa para ir trabalhar, cria a separação que lhe permite deixar de lado as preocupações domésticas e se concentrar nas profissionais. E a distância experiencial pode levar a um pensamento mais amplo – esse é um dos motivos pelos quais as supervisões de atendi­ mentos clínicos podem ser transformadoras no caso de alguns atendimentos.

Esses exemplos deixam claro que não há um grau específico de distância psicológica que seja sempre mais adequado. Na vida prática, o ideal é procurar estreitar ou ampliar as lacunas conforme for necessário para alcançar a distância psicológica ideal. E, segundo essa linha de raciocínio, podemos conseguir isso de duas formas: ajustando a distância ou substituindo um tipo de distância por outro.

O que separa você de seus objetivos.2

AJUSTANDO A DISTÂNCIA

Muitas técnicas psicológicas voltadas para a “gestão pessoal” enquadram-se nessa categoria. A teoria da distância psicológica nos ajuda a entender quando e por que elas são eficazes. Vamos examinar os quatro tipos separadamente.

SOCIAL – Psicólogos especializados em negociação e liderança defendem há muito tempo a visão em perspectiva – ou seja, buscando entender pensamentos, sentimentos e motivos de seu interlocutor. O resultado é a redução da distância social. A capacidade empática de se colocar no lugar de outra pessoa surge mais naturalmente para alguns indivíduos do que para outros, mas os estudos revelam que até mesmo uma instrução simples, como “tente se concentrar nas intenções e nos interesses do seu interlocutor”, pode melhorar os resultados. Uma pesquisa em larga escala mostrou que as pessoas sentem maior satisfação no trabalho quando os líderes de equipes oferecem uma comunicação abstrata, visionária (embora elas ainda queiram que seus supervisores diretos lhes deem retornos concretos).

TEMPORAL – Prazos auto impostos são uma forma fácil de reduzir a distância temporal, melhorando assim o foco e até seu desempenho em qualquer área da vida. Os pesquisadores Dan Ariely, doutor em psicologia cognitiva e hoje professor da Universidade Duke, e Klaus Wertenbroch, doutor em psicologia e ciência comportamental, permitiram que seus alunos estabelecessem os próprios prazos – de cumprimento obrigatório – para uma série de tarefas, com a condição de que todas fossem concluídas até o fim do curso. Os estudantes que fixaram prazos menores tiveram um desempenho melhor que os demais. Outra estratégia para gerir a distância temporal é visualizar o futuro. Por exemplo: se, ao receber aquele convite para apresentar o seminário no curso, você fica preocupado, temendo que seja um compromisso muito exigente, imagine que tenha de fazer a apresentação dois dias depois. Você ainda está interessado? Concentrar-se nos resultados desejados – talvez autorrealização, aprendizagem, boa nota e maior prestígio entre os colegas – pode ajudá-lo a identificar temas e pontos que o conduzam a eles. É possível fazer ajustes semelhantes quando estamos tentando definir metas desafiadoras para nós mesmos em relação a mudanças de hábitos alimentares ou exercícios físicos. O aumento da distância temporal faz com que as razões para estabelecer metas fiquem mais proeminentes do que os passos necessários para alcançá-las.

ESPACIAL – Em geral, temos maior controle sobre esse tipo de distância – e seu manejo pode render benefícios surpreendentes. Se temos um assunto delicado a tratar, é quase sempre melhor fazê-lo pessoalmente: conversas cara a cara e visitas à casa de uma pessoa são formas óbvias de reduzir a distância espacial (e social), levando a pensar de forma mais concreta. No processo psicoterápico, por exemplo, a intenção de um paciente encerrar o tratamento muitas vezes é revertida quando a pessoa comparece àquela que seria sua “última” sessão. Já no caso de um relacionamento afetivo difícil que reconhecemos como destrutivo, pode ser mais fácil terminar de longe que ao vivo. Isso ocorre porque mesmo uma ação simples como ficar de frente para um objeto nos faz percebê-lo como se estivesse mais próximo. Na prática, quando você quiser aumentar a distância espacial a fim de estimular o pensamento abstrato, tente ir para um lugar diferente. As pesquisadoras Joan Meyers-Levy e Juliet Zhu, da Universidade de Minnesota, mostraram que mudanças sutis em espaços de escritório e de varejo, tais como tetos mais altos, encorajam as pessoas a pensar de forma mais criativa e a estabelecer mais conexões entre conceitos nesses ambientes.

EXPERIENCIAL – Gerentes de produto interessados em reduzir a distância experiencial devem considerar a opção de deixar de lado questões hipotéticas e usar técnicas como pedir que os clientes escolham e usem protótipos. Por exemplo: empresas de bens de consumo embalados costumam pedir aos participantes de estudos que “façam compras” em prateleiras abastecidas, o que incentiva as pessoas a pensar mais concretamente no preço e na marca. Não por acaso, quando empresas de alimentos lançam novos produtos, geralmente os levam a mercados de teste antes de investir em sua implantação plena. Nos anos 90, em vez de realizar testes exaustivos em poucos mercados, como era sua prática habitual, os executivos do McDonald’s se deixaram influenciar por pesquisas indicando que quase nove entre dez consumidores estavam dispostos a experimentar carne com baixo teor de gordura. Em pesquisas como essa, os consumidores tendem a se concentrar mais no desejo (melhorar sua dieta) do que na realidade (hambúrgueres menos saborosos e preço mais alto, além de demorarem mais para ser preparados). Na vida pessoal, podemos pensar na pessoa sedentária que paga um ano inteiro de academia, sem levar em conta eventuais dificuldades. A intenção é ótima: fazer exercício físico, emagrecer, sentir-se mais saudável e bem-disposto. E, no impulso, não raro, as dificuldades reais de incluir atividade física no cotidiano ficam em segundo plano – embora sejam elas que, ao serem negligenciadas, ganham força e sabotam as melhores intenções.

No entanto, em alguns casos em que você pretende incorporar um novo hábito (seu ou de outras pessoas), a maior distância experiencial pode ser benéfica. Uma apresentação gráfica com tópicos destacando os recursos de um novo produto pode ser mais convincente do que uma demonstração ao vivo. Por exemplo: quando a BMW lançou o iDrive, uma nova e poderosa interface de usuário para seus veículos, os especialistas em automóveis ficaram confusos durante seus primeiros test-drives, o que provocou opiniões contraditórias. Se clientes ou especialistas têm oportunidade de testar um novo produto ou serviço complicado apenas uma vez, essa experiência pode prejudicar as vendas. No exemplo da academia: pagar o ano todo, sem possibilidade de devolução do dinheiro, pode funcionar para muitas pessoas como um forte incentivo para vencer a preguiça.

 O que separa você de seus objetivos.4

UM TIPO PELO OUTRO

Como toda distância psicológica envolve os mesmos processos subjacentes de pensamento, substituir um tipo por outro pode estimular um pensamento mais abstrato ou mais concreto. O “truque” funciona tão bem que pesquisadores acadêmicos o usam para determinar se o que eles estão manejando é realmente a distância psicológica: se for, então qualquer tipo – social, temporal, espacial ou experiencial – deve produzir o mesmo efeito.

SOCIAL – Ao procurar uma base comum durante uma negociação, você pode tirar proveito da distância temporal imaginando que proposta apresentaria se um acordo tivesse de ser alcançado em duas horas. Você não está fazendo nada para mudar a distância social em relação a seu interlocutor – você não se sente mais próximo dele-, mas a urgência imposta pela distância temporal reduzida pode mudar seu modo de pensar e de propor um acordo. Se a pessoa está em uma situação na qual precisa impor respeito entre seus colegas (ou seja, aumentar a distância social), a distância espacial pode ser um substituto. Nesse caso, mude-se para um novo escritório no fim do corredor e ocupe um pouco mais de espaço na mesa de reuniões, em vez de se espremer entre seus colegas. Também é possível recorrer à distância temporal: visualize o legado que gostaria de criar em seu local de trabalho e use isso como incentivo para pensar e se comunicar de forma mais abstrata.

TEMPORAL – Imagine alguém com dificuldades com uma grande distância temporal – adiando um projeto de conclusão de um curso de especialização, por exemplo, ou fazendo planos para a aposentadoria – e tente jogar com a distância social. Marque uma reunião com o professor a quem você terá de entregar o trabalho concluído. Ou visualize a si mesmo no futuro: pesquisas feitas na Universidade Yale demonstraram que, quando são exibidas a voluntários fotos dos próprios rostos envelhecidos, eles se identificam mais estreitamente com a versão mais idosa de si mesmos e, como resultado, aumentam acentuadamente a quantia que pretendem investir na aposentadoria.

Mas se você está se sentindo estressado com um prazo prestes a terminar, o aumento da distância espacial pode ajudar. Simplesmente afaste um pouco a cabeça da tela de seu computador. Pode parecer pouco, mas tem efeitos práticos. Um estudo conduzido recentemente pelos professores Manoj Thomas, da Universidade de Cornell, e Claire Tsai, da Universidade de Toronto, com pessoas ansiosas mostra que aquelas que fizeram isso consideraram as tarefas que haviam recebido muito menos difíceis e angustiantes, em comparação com as que cumpriram as mesmas tarefas inclinadas em direção à tela.

ESPACIAL – Talvez a distância substituta mais óbvia para a espacial seja a social. Se uma pessoa está fisicamente separada daqueles que gostaria de influenciar, pode reduzir essa distância não só visitando-as, mas também enfatizando suas características e interesses em comum. Pontos comuns – conhecer os mesmos lugares ou ter vivências similares – tendem a aproximar as pessoas. Não por acaso algumas empresas investem no sentimento de familiaridade para vender sua imagem – e seus produtos – com slogans do gênero “da nossa família para a sua” ou “fazemos nossos produtos como você mesmo faria”. A empresa americana Zappos encontrou uma forma curiosa de enfatizar a conexão com clientes geograficamente distantes: passou a compartilhar em seu site de vendas fotos das equipes que trabalham para entregar as encomendas.

EXPERIENCIAL – Uma forma de combater a tentação (tanto a própria quanto a dos outros) de escolher produtos tecnológicos com uma série de recursos – ou aqueles que substituem a forma pela função -, em vez de versões mais amigáveis para o usuário, é reduzir a distância temporal. Se for necessário começar a usar a maior parte dos recursos imediatamente após a aquisição de um aparelho de celular e não “quando houver tempo para aprender” (o que em muitos casos nunca acontece), ainda parece um bom investimento comprar o aparelho? Também podemos reduzir a distância experiencial recorrendo à distância social. Em uma pesquisa global recente, 70% dos participantes disseram que o conteúdo on-line fornecido por outros consumidores os ajudou a decidir se comprariam um produto, e o boca a boca na internet é particularmente influente quando a distância social é pequena. Da mesma forma, a validação social é uma forma poderosa de convencer os outros: determinadas práticas parecem seguras porque pessoas conhecidas as aprovaram antes.

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PARA CHEGAR PERTO

Quaisquer que sejam as circunstâncias que nos afastam daquilo que queremos – seja completar um trabalho num curto espaço de tempo; fazer uma viagem a médio prazo, ou mudar o estilo de vida, ao longo dos anos, por exemplo-, é importante levar em conta alguns aspectos. Um deles é o fato de que, na hora de vencer os quatro tipos de distância e as dificuldades que vêm junto com os desafios, o amadurecimento psicológico e os traços de personalidade podem funcionar tanto como vilões como importantes aliados. Atitudes práticas como estabelecer os próprios prazos e empregar algum tempo para se planejar antes de iniciar uma tarefa, por exemplo ajuda a evitar a armadilha da procrastinação.

Uma característica que faz grande diferença no desempenho em momentos críticos é a resiliência, definida como “processo de boa adaptação em face de adversidades, traumas, tragédias, ameaças ou motivos significativos de estresse”, pela Associação Americana de Psicologia (APA, na sigla em inglês). Pessoas resilientes não negam dificuldades ou sofrimentos, mas não se apegam exageradamente a eles.

Estudos têm mostrado que algumas atitudes ajudam a acessar essa capacidade – e a incrementá-la. Uma delas é ter em mente que qualquer desconforto, por maior que seja, é transitório. Parece óbvio, mas nem sempre é fácil nos lembrarmos disso quando estamos irritados, tensos, ansiosos ou sobrecarregados. Segundo: para se aproximar do que quer, permita-se afastar-se. Os efeitos benéficos de pausas para “descansar o cérebro” já haviam sido mostrados, com grande impacto científico, há alguns anos pelo neurocientista austríaco Eric Kandel, ganhador do Nobel de Medicina. Mais recentemente, várias outras pesquisas – entre elas uma recente, realizada em conjunto por cientistas das Universidades de Bolonha e Amsterdã – confirmaram que interromper uma atividade mental que exija concentração por várias horas para se dedicar a uma tarefa alternativa não é só prazeroso ou gratificante, também é produtivo, pois aumenta a eficiência no trabalho ou nos estudos, por exemplo. Outra forma de “encurtar distâncias” – talvez a mais simples e fundamental – é conectar-se consigo mesmo. E o melhor jeito de fazer isso é prestar atenção à própria respiração, perceber o movimento de inspiração e expiração e, lentamente, levar o ar para o abdômen. O ciclo de respirações profundas ajuda a diminuir a quantidade de cortisol (o hormônio do estresse) na corrente sanguínea, aumenta a oxigenação cerebral e “avisa” o cérebro que está “tudo bem”, que é possível lidar com a situação, qualquer que seja ela – algo muito útil para encurtar distâncias que às vezes parecem intransponíveis e aproximar a pessoa de si mesma.

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Pelo menos três brasileiras são assassinadas por dia pelo simples fato de serem mulheres. O feminicídio é uma vergonha para o País e seu combate exige transformações sociais e culturais profundas. Elas já começaram.

Como impedir o massacre das mulheres

Três mulheres terão morrido covardemente no Brasil até o dia terminar. Amanhã, mais três. E mais três, mais três e mais três por dia, assim, sucessivamente, até o fim do ano. Mulheres como Adriele Freitas de Sena, golpeada dez vezes com uma faca pelo ex-namorado Valdelício Donizete. Ou Edilma Barbosa, morta a facada pelo marido, Edvan Oliveira. As duas morreram na terça-feira 28. Adriele em Guaíra, no interior de São Paulo, e Edilma em Cubatão, no litoral paulista. Elas foram vítimas de feminicídio, definido legalmente como o assassinato de mulheres por motivos de desigualdade de gênero. Ou seja, mortas pelo simples fato de serem mulheres. Em 2016, foram 929 homicídios enquadrados na classificação. Em 2017, 1.133. Os números consolidam o Brasil como um dos países que mais mata suas mulheres. É uma condição da qual qualquer nação civilizada deve se envergonhar. Figurar entre os campeões de feminicídio nos coloca mais próximos da barbárie do que da modernidade e da igualdade de tratamento e proteção que dela advém. Doído de se enxergar, o retrato coloca à sociedade brasileira o desafio de se mover para que um novo cenário seja criado.

Fácil não é, assim como não é fácil mudar toda realidade amalgamada na cultura de um país. E, aqui, matar e agredir física e emocionalmente mulheres fez parte da construção da identidade nacional, reflexo de uma concepção histórica do papel feminino nas sociedades que preponderou durante séculos e que ainda reverbera. Para muita gente, mulheres incluídas, a mulher é um objeto, uma propriedade do homem, destituída de individualidade e de poder sobre si mesma. Inclusive responsável pelas agressões das quais é vítima, uma vez que seu corpo seria fonte pecaminosa de atração. “Ao longo da história, firmou-se uma concepção de que as tentações do corpo provêm da mulher. O Direito absorveu muito destes conceitos”, afirma a cientista social Ana Figueiredo, de São Paulo. Este caldeirão de princípios equivocados justifica agressões e influencia o atendimento em delegacias, hospitais e outras instituições onde elas procuram ajuda e recebem, em troca, críticas ao próprio comportamento. A brutalidade permeia, ainda, as relações dentro de casas País adentro.

Destruir alicerces tão profundos é o caminho para impedir que o massacre das brasileiras prossiga. É triste que isso não ocorra com a velocidade que o problema exige, mas mudanças começam a acontecer. O próprio estabelecimento da lei do feminicídio é exemplo disto. Instituída em 2015 como uma evolução da Lei Maria da Penha, sancionada em 2006, a legislação tipifica o homicídio das mulheres por questão de gênero como crime hediondo. Significa dizer que é inafiançável e punido com penas mais rigorosas. Persiste, porém, muita confusão na sua caracterização e catalogação. Misturam-se mortes por outros tipos de violência – assaltos, por exemplo – com as resultantes da condição de gênero. Por isso, saber exatamente quantas são as vítimas de feminicídio é uma dificuldade. Os números disponíveis são resultado de levantamentos em instâncias diferentes, como secretarias estaduais de segurança pública e centros de estudo de violência, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública entre eles. Se há um consenso em relação às estatísticas é o de que os casos estão subnotificados.

De qualquer forma, dar um nome à questão assegura tratamento jurídico diferenciado e maior visibilidade a ela. Isso faz parte da mudança e aparece simbólica e concretamente em uma iniciativa que acaba de ser lançada pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. A exemplo de outras instâncias judiciárias do País, a corte gaúcha já dispunha de serviços específicos para atendimento a vítimas de violência doméstica. Elas contam, por exemplo, com ajuda psicológica e apoio para encontrar trabalho, auxílios fundamentais para que recomecem a vida. No entanto, aquelas que tinham passado por tentativas de assassinato não dispunham da assistência porque os processos correm nas varas criminais, e não nas designadas para violência doméstica, onde o serviço era oferecido.

Há duas semanas, o mesmo atendimento começou a ser garantido a elas. Além disso, o feminicídio ganhou seu espaço e identificação própria nas varas criminais. Os processos, cobertos por capas cor de rosa marcadas por um laço lilás, agora ficam em escaninhos separados. “É uma forma de dar visibilidade aos casos e também de ajudar a identificar as mulheres que podem ser beneficiadas pelo programa de apoio”, explica a juíza Madgéli Machado, titular do Primeiro Juizado da Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher da Comarca de Porto Alegre.

A experiência trouxe bons resultados. A presença de psicólogos na antessala das audiências, por exemplo, acalma as vítimas e assegura maior segurança na hora do depoimento. Diálogos semanais em grupo amenizam a dor ao compartilhá-la e sessões de arteterapia ajudam a exteriorizar sentimentos difíceis de serem verbalizados.

O modelo do judiciário gaúcho é parecido com projetos semelhantes existentes em outros estados. Todos possuem mecanismos para auxiliar as mulheres a encontrar trabalho e quebrar a dependência financeira, uma das amarras que mantém as vítimas presas aos agressores. Sem qualificações e muitas vezes sem experiência profissional, a mulher enfrenta dificuldade para sustentar a si e aos filhos. De acordo com dados do Ministério Público de São Paulo, responsável por programas de apoio no estado, 60% das mulheres não conseguem sair da violência porque não trabalham. Para atacar o problema pontualmente, a instituição firmou parceria com empresas privadas. As vítimas serão encaminhadas para concorrer a vagas para as quais o processo seletivo irá considerar a vulnerabilidade das candidatas.

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TRATAMENTO PARA ELES

Está claro que o combate ao flagelo das mulheres passa pelo atendimento a eles, os agressores. Por essa razão, começam a se espalhar pelo País grupos que reúnem os homens envolvidos com casos de feminicídio e outros tipos de agressões. O “Tempo de Despertar”, por exemplo, trabalho social e educativo direcionado a eles, funciona em todos os estados, à exceção de Roraima. “A lei Maria da Penha prevê a ressocialização. Participar pode diminuir a pena. Mas os homens que frequentam as discussões querem melhorar”, afuma o sociólogo Sérgio Barbosa, criador do projeto.

Nos primeiros encontros, as conversas entre os participantes são duras. É difícil fazê-los enxergar seus atos como agressão. “Eles dizem que são vítimas, injustiçados, que não cometeram crimes”, conta o psicólogo Flávio Urra, coordenador do programa “E agora, José?”, em São Paulo. Encorajados a falarem eles próprios das situações, muitos finalmente identificam seus erros. “Eles saem reproduzindo os princípios de respeito e observância da lei”, diz Urra.

A história de Bruno Cabral, 34 anos, de São Paulo, corrobora o que diz o psicólogo. Na verdade, ela é exemplar em todos os sentidos. Embute os elementos clássicos que levam ao feminicídio e de que forma é possível transformá-los. Há três anos, o histórico de violência contra a ex-mulher, Paloma da Silva, 31anos, chegou ao ápice quando ele tentou matá-la com uma faca. Antes, episódios de ameaças, espancamentos, manifestações de ciúme excessivo, se sucediam. Paloma, como muitas mulheres na mesma situação, assentia. Quando foi à delegacia denunciá-lo, ouviu do delegado que precisava refletir se queria mesmo que o marido fosse preso. Quis, mas por pouco tempo. “Voltei à delegada sem contar para ninguém. Disse que o lugar dele era na clínica, não na prisão”. Bruno foi solto. Depois da tentativa de assassinato, acabou condenado, passou trinta dias preso e foi obrigado a participar dos grupos de agressores. “Nos primeiros encontros não aceitava estar ali. Quando passamos a falar sobre o machismo, quebrei minha armadura”, conta. “Entendi que a gente agride física e psicologicamente. Eu bancava a casa. Então, se chegasse final de semana e eu quisesse ficar deitado no sofá e não ajudar em mais nada, eu poderia. As discussões eram muito em tomo dessa falta de apoio”, lembra. Há um ano ele se casou nova­ mente e vive uma relação sem registro de violência.

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PEQUENOS CIDADÃOS

Nenhuma transformação será consistente, porém, se não alcançar toda a sociedade. Nesse aspecto, há movimentos coletivos inspiradores, como as dezenas de organizações femininas que se mobilizam em defesa das mulheres, e as iniciativas que colocam os homens como aliados na mesma luta. Criado há quatro anos pela ONU, o movimento ElesPorElas (HeForShe, em inglês) envolve homens do mundo todo com o objetivo de quebrar barreiras sociais e culturais que ameaçam a população feminina. Hoje, são milhares de participantes, incluindo chefes de Estado, empresários e atores – no Brasil, Bruno Gagliasso e Mateus Solano entre eles. Uma das últimas ações do braço brasileiro do movimento foi o lançamento recente, em Porto Alegre, de uma campanha de repúdio ao assédio à mulher no transporte público. Os cartazes, ilustrados com a foto de um homem, alertam os usuários de ônibus, trens e metrô da capital gaúcha sobre o problema – grave em todo o País – e estimulam a denúncia de casos.

Dentro de casa já são observadas também modificações estruturais importantes. Aparecem com maior frequência exemplos de pais que estão ajudando a criar cidadãos para os quais a igualdade de gênero deve estar na base das relações e integra o conjunto de características que torna uma nação civilizada. O tema é um dos assuntos das conversas do empresário Facundo Guerra, 44 anos, com a filha Pina, 6 anos. “Falo com ela que os gêneros são diferentes, que cada um tem o seu, mas os direitos são iguais para todos”, diz Facundo, que já levou a menina a uma manifestação em defesa do direito das mulheres. A endocrinologista Cristina Formiga Bueno, 38 anos, é mãe de Arthur, 4 anos. Junto com o pai, o cardiologista Bruno Bueno, passa ao menino os mesmos princípios de equidade. “Ensinamos que não deve existir preconceito e nem superioridade de gênero”, diz. “Dizemos a ele que meninos podem se abraçar, ele veste rosa quando quer e o deixamos brincar com o que deseja. Tentamos não valorizar estereótipos. Se agirmos com igualdade de gênero com as crianças desde pequenas, tratando todos com o mesmo respeito, podemos diminuir a violência no futuro.” Esse é o caminho.

GESTÃO E CARREIRA

OS PERIGOS DO “VÍCIO DA RACIONALIDADE”

Nem sempre a decisão racional é a melhor escolha.

Os perigos do vício da racionalidade

Você sofre do chamado “vício da racionalidade”? Seus sintomas, segundo o autor e professor Raj  Raghunathan, da Universidade do Texas, se manifestam pela tendência a ignorar ou subestimar a  importância de instintos e emoções naturais, sempre preferindo adotar as soluções “racionais”. Mas isso pode ser uma fonte de infelicidade. O professor cita como exemplo um conhecido experimento feito pela Universidade de Chicago, no qual os participantes deveriam escolher entre chocolates em forma de coração, que valiam US$ 0,50 cada, ou em forma de barata, valendo US$ 2 cada. Pois 68% deles optaram pela barata, apenas porque valia mais que o coração. Prevaleceu a decisão “racional” de obter mais vantagens, ainda que a forma da guloseima fosse repugnante e seu gosto duvidoso (apenas 46% deles achavam previamente que gostariam do seu sabor).

Na carreira profissional, alerta o professor, esse vício da racionalidade pode gerar escolhas erradas, como aceitar um emprego mais bem remunerado, mas em um ambiente hostil de trabalho. Em longo prazo, trabalhar em um clima de cooperação e camaradagem, ainda que com remuneração menor, pode gerar resultados mais positivos. Raghunathan, no entanto, ressalva: o segredo da tomada de decisões é saber sempre ponderar qual consequência esta ou aquela resolução poderá ter em sua vida. Decisões que envolvam finalidades concretas, como a compra de um imóvel, por exemplo, devem vir essencialmente de um processo racional. O truque é não se viciar nele.

ALIMENTO DIÁRIO

JOÃO 14: 28-31

Alimento diário

O Sermão Consolador de Cristo

Aqui Cristo dá aos seus discípulos outro motivo pelo qual seus corações não deviam se perturbar com sua partida, porque seu coração não estava perturbado. E aqui Ele lhes diz o que o capacitava a suportar a cruz e desprezar a afronta, para que eles pudessem olhar para Ele e ter paciência. Ele se consolava:

 

I – Com o fato de que, embora estivesse partindo, Ele viria outra vez: “‘Ouvistes o que eu vos disse’, e agora digo outra vez, ‘vou e venho para vós”‘. Observe que o que nós ouvimos da doutrina de Cristo, especialmente a respeito da sua segunda vinda, nós temos necessidade de ouvir repetidas vezes. Quando estamos sob o poder de algum arrebatamento de paixão, tristeza ou temor, ou preocupação, nós nos esquecemos de que Cristo virá outra vez. Veja Filipenses 4.5. Nos seus sofrimentos e na sua morte, Cristo se consolava com o fato de que Ele vi­ ria outra vez, e a mesma coisa nos deve consolar, quando partirmos, na morte. Nós vamos, mas viveremos. A despedida que fazemos aos nossos amigos, nesta ocasião, é somente uma despedida de “boa noite” ou “até breve”, e não um adeus definitivo. Veja 1 Tessalonicenses 4.13,14.

 

II – Com o fato de que Ele ia para seu Pai: “‘Se me amásseis’, como, pela vossa tristeza, dizeis que amais, vós vos alegraríeis em vez de lamentar, porque, embora Eu vos deixe, Eu disse: ‘Vou para o Pai’, que não é somente meu, mas também é vosso Pai, o que será um benefício para mim e um progresso para vós, pois “o Pai é maior do que eu”. Observe aqui:

1. O fato de que Ele vai par a o Pai, para tomar posse pelos órfãos, e para interceder pelos transgressores, é um motivo de alegria para os discípulos de Cristo. Sua partida tem um lado positivo, além de um negativo. Por isto Ele enviou esta mensagem consoladora depois da sua ressurreição (cap. 20.17): “Eu subo para meu Pai e vosso Pai”.

2. O motivo para isto é: “Porque o Pai é maior do que eu”, o que, se for uma prova apropriada daquilo que ela justifica (como sem dúvida o é), deve ser compreendida como indicando que seu estado com seu Pai seria muito mais excelente e glorioso do que seu estado atual. Seu retorno ao seu Pai (segundo o Dr. Hammond) seria, para Ele, estar em uma condição muito mais elevada do que aquela em que Ele se encontrava agora. Ou sua ida ao Pai, pessoalmente, e levando todos os seus seguidores para si mesmo ali, era o fim definitivo da sua missão, e, portanto, maior do que os meios. Assim, Cristo eleva os pensamentos e as expectativas dos seus discípulos a algo maior do que aquilo de que eles julgavam que toda sua felicidade dependia. O reino do Pai, onde Ele estará no final, será maior do que o reino da mediação.

3. Os discípulos de Cristo devem mostrar que o amam, alegrando-se com as glórias da sua exaltação, em vez de lamentar a tristeza da sua humilhação, e alegrando-se com o fato de que Ele foi para seu Pai, onde desejava estar, e onde nós estaremos com Ele, em breve. Muitos que amam a Cristo deixam que seu amor percorra um caminho errado. Eles pensam que, se o amam, devem estar continuamente em sofrimento por causa dele. Ao passo que aqueles que o amam devem permanecer tranquilamente nele, alegrando-se em Cristo Jesus.

III – Com o fato de que sua ida, em comparação com as profecias que houve em relação a este assunto, seria um meio de confirmar a fé dos seus discípulos (v. 29): “Eu vo-lo disse, agora, antes que aconteça”, que Eu devo morrer e ressuscitar, e subir para o Pai, e enviar o Consolador, “para que, quando acontecer, vós acrediteis”. Veja esta razão, cap. 13.19; 16.4. Cristo contou aos seus discípulos sobre sua morte, embora Ele soubesse que isto iria confundi-los e entristecê-los, porque isto, posterior­ mente, resultaria na confirmação da sua fé, em dois aspectos:

1. Que aquele que tinha predito estas coisas tinha uma presciência divina, e sabia, de antemão, qual o dia em que isto iria acontecer. Quando o apóstolo Paulo estava indo para Jerusalém, ele não sabia o que o esperava ali, mas Cristo sabia.

2. Que as coisas preditas estavam de acordo com o propósito e o desígnio divinos. Não eram de­ terminações repentinas, mas as contrapartidas de um conselho eterno. Portanto, eles não deveriam se perturbar com aquilo que aconteceria para a confirmação da sua fé, resultando, assim, em seu real benefício. Pois a prova da nossa fé é muito preciosa, embora nos cause uma tristeza atual, por várias tentações, 1 Pedro 1.6.

 

IV – Com o fato de que Ele estava certo de uma vitória sobre Satanás, com quem Ele sabia que devia ter uma batalha na sua partida (v. 30): “Já não falarei muito convosco, não tendo muito a dizer, exceto o que pode ser adiado até o derramamento do Espírito”. Ele teve muitas conversas boas com eles depois disto (caps. 15 e 16), mas, em comparação com o que Ele já tinha dito, estas palavras eram resumidas. Seu tempo era curto, e, por essa razão, Ele falava demoradamente com eles agora, porque a oportunidade, em breve, estaria terminada. Observe que nós sempre devemos nos esforçar para ser objetivos ao falar, porque talvez não tenhamos tempo de falar muito. Nós não sabemos quando nosso fôlego irá terminar, e por isto devemos sempre respirar aquilo que é bom. Quando ficarmos doentes e morrermos, talvez nós não sejamos capazes de falar muito com quem estiver à nossa volta, e, portanto, qualquer que seja o bom conselho que tivermos para dar, é melhor darmos enquanto temos saúde. Uma razão pela qual Ele não desejava falar muito com eles era por que Ele tinha outro trabalho ao qual dedicar-se agora: “Se aproxima o príncipe deste mundo”. Ele chamava o Diabo de príncipe deste mundo, cap. 12.31. Os discípulos sonhavam com seu Mestre sendo o príncipe deste mundo, e que eles seriam príncipes terrenos, subordinados a Ele. Mas Cristo lhes diz que o príncipe deste mundo era seu inimigo, e assim eram os príncipes deste mundo que atuavam e eram regidos pelo Diabo, 1 Coríntios 2.8. Mas ele “nada tem em mim”. Observe aqui:

1. A perspectiva que Cristo tinha de um conflito próximo, não somente com os homens, mas com os poderes das trevas. O Diabo o tinha atacado com suas tentações (Mateus 4), tinha lhe oferecido os reinos do mundo, se Ele os considerasse subordinados a ele, e por isto Cristo o chama, com desdém, de príncipe deste mundo. Então, o Diabo “ausentou-se dele por algum tempo”. “Mas agora”, diz Cristo, “Eu o vejo atacando novamente, preparando-se para um ataque furioso, e desejando obter com terrores o que ele não conseguiu obter com seduções”. Assustá-lo e afastá-lo da sua mis­ são, quando Ele não podia ser afastado dela. Observe que a previsão de uma tentação nos dá grande vantagem na nossa resistência a ela, pois, estando avisados antecipadamente, nós podemos estar armados antecipadamente. Enquanto estamos aqui, podemos ver Satanás continuamente vindo nos atacar, e por isto devemos sempre estar em guarda.

2. A certeza que Ele tinha do bom resultado do conflito: Ele “nada tem em mim”, ele não tem absolutamente nada.

(1) Não havia culpa em Cristo, para dar autoridade ao príncipe deste mundo, em seus terrores. Está escrito que o Diabo tem o império da morte (Hebreus 2.14). Os judeus o chamavam de anjo da morte, como um executor. Agora, como Cristo não tinha feito nenhum mal, Satanás não tinha nenhum poder legal contra Ele, e, portanto, embora conseguisse crucificá-lo, não conseguiria aterrorizá-lo. Embora ele o apressasse à morte, não o apressaria ao desespero. Quando Satanás vem para nos inquietar, ele tem alguma coisa em nós com que nos confundir, por­ que todos nós pecamos. Mas, quando ele desejou per­ turbar a Cristo, não encontrou oportunidade para fazê-lo.

(2) Não havia corrupção em Cristo, para dar alguma vantagem ao príncipe deste mundo, nas suas tentações. Ele não podia esmagar sua missão, atraindo-o ao pecado, porque não havia nada pecaminoso nele, nada irregular em que suas tentações se apegassem, nenhuma substância inflamável onde ele pudesse atear fogo. A imaculada pureza da natureza de Cristo era tal, que Ele estava acima da possibilidade de pecar. Quanto mais o interesse de Satanás em nós é esmagado e deteriorado, mais confortavelmente nós podemos esperar os sofrimentos e a morte.

 

V – Que sua separação deles estava de acordo com os planos de Deus, o Pai, e era um ato de obediência a Ele. Satanás não poderia tirar sua vida, mas ainda assim Ele iria morrer: “É para que o mundo saiba que eu amo o Pai”, v. 31. Nós podemos interpretar isto:

1. Como confirmando o que Ele tinha dito sempre, que sua missão, como Mediador; era uma demonstração ao mundo:

(1) Da sua submissão ao seu Pai. Com isto, ficava evidente que o Senhor Jesus amava o Pai. Assim como era uma evidência do seu amor pelos homens, o fato de que Ele morresse pela salvação deles, também era uma evidência do seu amor por Deus, o Pai, o fato de que Ele morresse pela sua glória e para cumprir seus propósitos. Que o mundo saiba que, entre o Pai e o Filho, não há nenhuma perda, pois eles são regidos pelo amor. Assim como o Pai amou ao Filho, e tinha depositado nas suas mãos todas as coisas, também o Filho amou ao Pai, e entregou seu Espírito nas suas mãos.

(2) Da sua obediência ao seu Pai: “Eu fiz ‘como o Pai me mandou’ – fiz o que me foi ordenado, na maneira como me foi ordenado”. Observe que a melhor evidência do nosso amor pelo Pai está em fazermos aquilo que Ele nos ordenou. Assim como Cristo amou ao Pai, e obedeceu a Ele, inclusive até a morte, também nós devemos amar a Cristo e obedecer a Ele. A obediência de Cristo ao manda­ mento do Pai, obrigando-o a sofrer e a morrer, o sustentou com alegria, e o levou a superar as relutâncias da natureza. O fato de que o que Ele fez foi por ordem do seu Pai removeu o escândalo da cruz. O comando de Deus é suficiente para nos sustentar naquilo que é mais discutido por outros, e, portanto, deve ser suficiente para nos sustentar naquilo que é mais difícil para nós: “Esta é a vontade daquele que me criou, que me enviou”.

2. Como concluindo o que Ele tinha dito agora. Tendo chegado até est e ponto, aqui Ele conclui: “Para que o mundo saiba que eu amo o Pai”. Vós vereis com que alegria Eu posso encontrar a cruz que me é indicada: “‘Levantai-vos, vamo-nos daqui’ para o jardim”. Assim interpretam alguns. Ou para “Jerusalém”. Quando falamos dos problemas, à distância, é fácil dizer: “Senhor, seguir-te-ei para onde quer que fores”. Mas quando chega o aperto, quando uma cruz inevitável está no caminho do dever, então, dizer: “Levantai-vos, vamos encontrá-la”, em vez de desviar nosso caminho para não encontrá-la, mostra ao mundo que nós amamos o Pai. Se este sermão aconteceu no final da ceia de Páscoa, poderia parecer que, com estas palavras, Ele tenha se levantado da mesa e se retirado para a sala de visitas, onde poderia, com mais liberdade, continuar o sermão com seus discípulos nos capítulos seguintes, e orar com eles. O Dr. Goodwin observa que Cristo mencionou o grande motivo dos seus sofrimentos, o mandamento de seu Pai, com toda a pressa, para que pudesse ir adiante, sofrer e morrer, sem per­ der o momento do encontro com Judas. “Levantai-vos”, diz Ele, “vamo-nos daqui”, mas podemos imaginar que Ele olha pela janela, vê que ainda não é o momento, e por isto se senta outra vez, e faz outro sermão. Veja:

(1) Nestas palavras, Ele dá aos seus discípulos um incentivo para segui-lo. Ele não diz: Eu devo ir; mas: Vamos. Ele não os chama para nenhuma dificuldade, exceto a que Ele mesmo vai enfrentar, diante deles, como seu líder. Eles tinham prometido que não iriam abandoná-lo. “Vamos”, diz Ele, “vamo-nos então. Vejamos como vocês vão cumprir suas palavras”.

(2) Ele lhes dá um exemplo, ensinando-os em todas as ocasiões, especialmente em ocasiões de sofrimento, a serem indiferentes a todas as coisas daqui, e a pensar e falar frequentemente em deixá-las. Embora estejamos confortáveis em meio aos prazeres de uma vida agradável, não devemos pensar em estar sempre aqui. “Levantai-vos, vamo-nos daqui”. Se tudo isto aconteceu no encerramento da ceia pascal, que passou a ser a Ceia do Senhor; então a lição a aprender é que as solenidades da nossa comunhão com Deus não serão sempre constantes neste mundo. Nós nos sentamos à sombra de Cristo, com prazer, e dizemos: “É bom estarmos aqui”. Mas ainda as­ sim devemos pensar em nos levantar e partir dali. Em algum momento será necessário descer do monte.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

VIVENDO NO LIMITE

A busca por esportes ou situações de risco parece não ter explicação racional, mas o prazer pelo perigo está inscrito em nosso patrimônio genético: supostamente, nossos ancestrais mais ousados deixaram mais descendentes que acanhados e medrosos.

Vivendo no limite

Eles batem as portas com violência. Os motores rugem. A partir de agora, uma única coisa conta: acelerar. O despenhadeiro se aproxima a uma velocidade alucinante. Quem saltar primeiro do carro perde. No último instante, Jim abre a porta e se joga sobre o asfalto. Buzz não tem a mesma sorte. Juventude transviada, protagonizado por James Dean, retrata os Estados Unidos dos anos 50, o de uma geração rebelde que sai em busca de sua identidade. Jovens levando as provas de coragem às últimas consequências, sem hesitar arriscar a vida.

O fascínio pelo perigo atravessa os tempos e estende-se a todas as faixas etárias e classes sociais: ultrapassagens ousadas fazem parte do cotidiano de nossas estradas, atletas brincam com a vida em esportes radicais, alpinistas escalam montanhas e beiram o abismo.

 Poucas pessoas resistem à tentação do perigo. No final dos anos 90, com o boom das bolsas de valores, mesmo pais de família conservadores, que até então aplicavam suas economias em sólidas cadernetas de poupança, passaram a arriscar investimentos no mercado especulativo de ações de empresas de internet ou de alta tecnologia. Esses mesmos senhores são capazes de atravessar os Estados Unidos durante as férias para alcançar os paraísos do jogo em Las Vegas ou Reno. Aparentemente, esse hábito é comum a todas as culturas. Até mesmo na África e na América do Sul, integrantes das mais variadas etnias colocam todos os seus bens em jogo com cartas e dados.

Mas por que encontramos tanto prazer em situações perigosas – mesmo quando nos custam tão caro e, na pior das hipóteses, terminam em morte? Terry Burham, da Harvard Business School em Boston, e Jay Phelan, da Universidade da Califórnia em Los Angeles, estão convencidos de que a resposta pode ser encontrada na história evolutiva humana. Em um exercício mental, os dois regrediram aos primórdios da humanidade e ali imaginaram dois tipos de comportamento: o nidícola e o conquistador.

Os seres humanos de comportamento nidícola (daquele que nasce indefeso e tem de ficar no ninho por um longo período) aconchegavam-se na caverna, alimentavam-se de ervas e pequenos animais das proximidades, agindo com imensa cautela. Já os conquistadores andavam em bando e se arriscavam a desbravar novas regiões. A pergunta é: qual dos dois grupos foi capaz de se impor a longo prazo?

Segundo Burnham e Phelan, muitos dos conquistadores encontravam a morte prematura em seus perigosos empreendimentos, porém descobriam vegetais mais saborosos e campos de caça inexplorados. Além disso, angariavam valiosa experiência, tornando-se mais aptos a se defender contra os imprevistos da natureza. Ou seja: seus genes prevaleceram e acabaram por se alastrar pelo planeta. Nosso gosto pelo perigo seria, então, herança biológica. Também na esfera individual o comportamento de risco pode trazer benefícios. Os machos mais ousados em geral são preferidos por potenciais parceiras. Os mais atrevidos proveem a família com mais alimento e oferecem proteção mais confiável, porque em situações de conflito são mais agressivos. Esse fato verifica-se em culturas que desde tempos imemoriais quase não sofreram modificações em seu modo de vida. O antropólogo cultural Napoleon A. Chagnon, da Universidade da Califórnia em Santa Barbara, estudou, nos anos 60 e 70, os índios ianomâmi da fronteira do Brasil com a Venezuela. Descobriu ali que uma parte dos homens vivia com bem mais mulheres: os guerreiros mais audazes e agressivos. Supostamente, eles põem no mundo um maior número de descendentes que seus conterrâneos acanhados e medrosos. Chagnon concluiu que desse modo os genes daqueles que se arriscam com ousadia se impõem a longo prazo.

A inclinação ao comportamento afoito reflete-se no cérebro com o aumento da produção de dopamina, neurotransmissor que contribui para alterações da consciência e da percepção. Assim, em situações de risco, tornamo-nos capazes de executar tarefas com eficiência acima da média e somos compelidos a procurar novos desafios.

Evidentemente, a propensão pelo perigo manifesta-se de maneira muito diferenciada em cada indivíduo. Enquanto para alguns, poucas rodadas de pôquer com aposta mínima acabam com os nervos, outros adoram elevar seus níveis sanguíneos de dopamina às alturas saltando de paraquedas.

Os psicólogos comportamentais denominam “caça de sensações” esta necessidade por impressões sensoriais intensas e variadas. Através dela, os estados de enfado com carga negativa dão lugar a estados de alerta e tensão que são avaliados positivamente. As pessoas com essa tendência enveredam com mais facilidade por situações de risco sociais, financeiros e de saúde.

Os pesquisadores relacionam tal afinidade com o perigo com dois diferenciais genéticos. O psicólogo Marvin Zuckerman, da Universidade de Delaware em Newark, reconheceu a relação existente entre o comportamento de risco e a monoamina-oxidas e, enzima corresponsável pela quebra da dopamina. Quanto menos monoamina-oxidas e uma pessoa produz, tanto mais ela se aventura e sai em busca de situações arrojadas: seus níveis de dopamina encontram-se sempre elevados. Inversamente, pessoas com altos níveis de monoamina-oxidas e sentem-se muito menos impelidas ao comportamento de risco.

Na década de 90, um grupo de trabalho americano e outro israelense descobriram que um gene denominado novelty-seeking, o “gene da busca pela novidade”, codificador de certo receptor para a dopamina, parece ser responsável pela atenuação da noção de perigo. As pessoas que possuem tal receptor para a dopamina vão às últimas consequências em busca da emoção. Situações que para muitos são excitantes desencadeiam nelas somente tédio.

Em alguns grupos humanos esse gene aparece com maior frequência. Enquanto apenas um em cada quatro africanos ou europeus carrega consigo a propensão à ousadia, ela é colocada no berço de dois terços dos sul­ americanos. A explicação reside no fato de que seus ancestrais eram integrantes dos grupos humanos que por milênios migraram pela África e Europa em direção à América do Sul. Como vencedores da corrida pela ocupação do continente, transferiram seus genes e com eles a disposição ao comportamento aventureiro.

O espírito de aventura levou o ser humano a grandes realizações. Todavia, o coquetel biológico também esconde perigos, entre eles uma boa dose de super confiança. Levantamentos psicológicos mostram que grande parte das pessoas se considera mais sadia que a média ou acredita ter um senso infalível para investimentos financeiros. Aparentemente, nosso sistema de recompensa baseado na dopamina nos leva a encarar riscos dos quais fugiríamos não fosse a ação de uma droga endógena. O nome dado a isso pelos psicólogos é “sofisma otimista”. Surge quando o perigo não é ignorado, mas o risco de sua incidência mal avaliado.

Assim, um fumante inveterado tende a avaliar o risco de ter câncer como igual ao do fumante moderado do mesmo sexo e idade – erro típico de avaliação otimista, pois evidentemente quem fuma demais corre maior risco de adquirir um tumor e adoecer.

O mecanismo reprime a sensação de medo: acreditamos estar a salvo e subestimamos a própria suscetibilidade. Ao mesmo tempo, a disponibilidade para a prevenção é muito baixa. Matthew Kreuter, da Escola de Saúde Pública em Saint Louis, e Victor Strecher, da Universidade de Michigan, em Ann Arbor, verificaram que, apesar do perigo, as pessoas muitas vezes insistem em comportamentos insalubres e arriscados. Segundo seus estudos, 50% de todos os infartados avaliam seu risco de saúde de modo excessivamente positivo, apesar de o infarto ter lhes ensinado o contrário.

De maneira geral, as pessoas julgam mal os riscos – somos, por assim dizer, cegos às probabilidades. Um exemplo: quando a roleta cai cinco vezes consecutivas no vermelho, a maior parte das pessoas crê, equivocadamente, que no próximo lance as chances do preto serão maiores. Os frequentadores dos cassinos incorrem constantemente nesse erro.

Do mesmo modo, temos mais medo de sofrer um desastre aéreo que um acidente automobilístico, embora muito mais pessoas morram vítimas de acidentes de trânsito. Tememos ameaças de morte espetaculares tais como assassinatos, incidência de raios ou picadas de cobras venenosas. Donos de bingos, vendedores de loteria ou representantes de seguradoras não têm pudor em aproveitar­ se dessa nossa superavaliação de chances pequenas, vendendo-nos rifas ou seguros contra eventos de probabilidade reduzida. Mas por que razão a mente humana, de resto capaz de compreender teorias matemáticas complexas, acaba incorrendo repetidamente nesse erro primário?

Também aqui a resposta reside na história evolutiva humana. Na época em que nosso cérebro se desenvolvia, as picadas de cobra e os ataques mortais de opositores e predadores representavam ameaças reais à integridade física e à vida do ser humano. Ainda hoje as tribos com modo de vida dito primitivo sofrem destes males, como os índios aché do leste paraguaio, por exemplo. Os antropólogos Kim Hill e Madalena Hurtado, da Universidade do Estado do Arizona, verificaram que 14% das mortes dos homens aché ocorriam por causa do ataque de cobras peçonhentas, 8% em virtude do ataque de animais selvagens e 6% por conflitos com opositores.

Nossos medos são então perfeitamente compreensíveis – porém, estão datados, não se alinham com nosso tempo. No entanto, o cérebro não é capaz de se acostumar ao cálculo “moderno” e abstrato de probabilidades. As cifras astronômicas com as quais temos de operar hoje em dia eram inteiramente desconhecidas de nossos ancestrais. Naquele tempo, a terra era habitada por pouquíssimas pessoas. Foi necessário que transcorressem milhares de gerações para que se desenvolvesse a capacidade de lidar com números e proporções simples. Porém, não se desenvolveu a capacidade de operar com problemas complicados que demandam abstração e capacidade de raciocínio lógico.

Relutamos, pois, em lidar com cálculos estatísticos complexos necessários à análise de risco. Em vez disso, nos aferramos a regras simples que se demonstraram válidas no passado. “Quanto mais impressionante um acontecimento, tanto mais cedo ele ocorre”, prega uma destas heurísticas descobertas pelos psicólogos Daniel Kahneman e Amos Tversky durante pesquisa sobre as falsas conclusões estatísticas. De fato, tal afirmação pode encontrar confirmação na prática – mas isso não ocorre nem de longe continuamente.

EVITANDO AS SEREIAS

Do mesmo modo, os matemáticos calcularam que, a longo prazo, um jogador sempre perde nos jogos de azar e nas loterias. Estatisticamente, a cada investimento de 100 a roleta devolve apenas 95. Trocando em miúdos: o ingresso ao cassino custa 5% do que é gasto lá dentro. Os especialistas chamam a participação em tais jogos como “taxa de estupidez”. Nas situações de risco, a nossa falta de senso para as probabilidades entra em um acordo perigoso com o frenesi provocado pela dopamina. Para sairmos ilesos das situações mais arriscadas, não deveríamos deixar a decisão por conta de nosso cérebro desenvolvido na idade da pedra. Deveríamos antes medir o perigo sem interferência da emoção, o que é mais fácil na teoria que na prática. Na maioria das pessoas, a razão é simplesmente desativada. Elas têm de se precaver para evitar o encanto pelo perigo.

Uma das estratégias mais eficientes é o que os psicólogos chamam de “auto amarras”. Os afetados limitam a si mesmos em seu campo de ação a fim de se proteger contra o comportamento leviano. Dependentes de jogo, por exemplo, se previnem levando somente uma pequena quantia de dinheiro ao cassino. Já Ulisses escapou da morte certa se deixando atar ao mastro do navio para não ceder ao canto sedutor das sereias, ordenando também à tripulação de heróis que tapasse os ouvidos com cera.

Mas não precisamos abdicar de todo do prazer fornecido pelo transe da dopamina, já que ele pode ser criado artificialmente, sem que precisemos arriscar a vida. A sociedade moderna oferece inúmeras e múltiplas ameaças falsas. Uma montanha-russa é capaz de nos colocar à beira de um ataque de nervos – e leva o sistema de recompensa da dopamina a níveis estratosféricos. O mesmo acontece quando assistimos a filmes de horror ou jogamos videogame ou jogos que simulam a bolsa. Nosso cérebro não sabe distinguir se o estímulo é falso ou real – e não colocamos em risco nem a saúde nem o dinheiro.

Vivendo no limite.2

A TRILHA SONORA DA AVENTURA

A “caça de emoções” está relacionada também às preferências musicais. O psicólogo Marvin Zuckerman, pesquisador da Universidade de Delaware, Estados Unidos descobriu há alguns anos que pessoas ávidas por sensações preferem, em geral, ouvir rock e composições clássicas.

Os estilos que mais rejeitam são trilhas sonoras de filmes e cânticos religiosos, por serem considerados monótonos. Logo, aquele que consegue relaxar melhor com as batidas de Marilyn Manson ou com free jazz revela ter, além do gosto peculiar, uma considerável sede de estímulos.

Dessa forma, a play list com as músicas preferidas de uma pessoa pode dizer muito a seu respeito, mesmo para um desconhecido. Em um estudo feito em conjunto, o psicólogo americano Sam Gosling, da Universidade do Texas, e seu colega inglês Peter Rentfrow, da Universidade de Cambridge, constataram que essa primeira impressão intuitiva frequentemente está correta. Os participantes de sua pesquisa ouviram as dez músicas preferidas de pessoas que não conheciam e tiraram, a partir dai, conclusões sobre elas. Os julgamentos relativos à forma de encarar experiências e novidades foram os mais acertados. A extroversão foi corretamente identificada também pelos ouvintes que participaram do teste.

Psicólogos também constaram que pessoas com sede de aventura tendem a apreciar arte abstrata, pop arte surrealismo e a rejeitar pinturas representativas. Essa preferência seria explicada pela excitação mental que esse tipo de arte costuma causar mesmo em uma segunda observação.

OUTROS OLHARES

O LADO ESCURO DA LEI

As mães que perderam a guarda dos filhos após acusarem os pais de abuso sexual.

O lado escuro da lei

A primeira lembrança que Mayara* tem daquele sábado, 20 de agosto de 2016 – o último dia em que viu o filho -, é de um estrondo. Um golpe potente que escancarou a porta do sobrado onde ela e a família moravam, em um condomínio em São Paulo. A segunda é a de policiais aglomerados em sua sala de estar, com os quais deparou logo que correu escada abaixo. A terceira é aquela que, passados dois anos, mais lhe dói. É a memória de uma frase: “A senhora é a Mayara? Viemos buscar o menor João Paulo”. Foi o momento em que ela desabou.

Mayara é uma psicóloga de 48 anos, cabelos lisos e voz firme. Por mais de três décadas, ocupou cargos altos na diretoria de grandes empresas. Nas redes sociais, depoimentos de antigos colegas descrevem-na como uma gestora habilidosa e decidida. Ao longo dos 12 dias que antecederam aquele sábado fatídico, no entanto, Mayara conta que vacilou repetidas vezes. Seu primeiro vacilo, embora breve, ela disse que aconteceu quando o filho João Paulo, poucos dias depois de passar duas semanas de férias na casa do pai – de quem Mayara se separara em 2014 -, lhe fez um apelo: “Ele se sentou, sério, no balcão da minha cozinha”, lembrou Mayara. “E disse: ‘Mamãe, me ajuda’.” Segundo ele, então com 5 anos, o pai o machucava constantemente. Às vezes sozinho, às vezes na companhia de um amigo, introduzia o dedo no ânus de João Paulo. “Eu pensei: ‘Meu Deus, o que eu faço com essa criança?”, disse Mayara, sem conseguir conter o choro.

Aquela não era a primeira história de abuso que Mayara ouvia, embora fosse a mais grave. Desde que tinha pouco mais de 2 anos, a criança relatava, a sua maneira, as estranhas brincadeiras em que o pai a envolvia. “A gente brinca de p… com p… Não é legal isso?”, João lhe perguntou certa vez, durante uma ida ao supermercado. O relato foi gravado por ela. No áudio, ouve-se um João Paulo que, na época, mal sabia falar: “Eu já fiz isso com meu pai e vou fazer de novo, ué”, dizia, entremeando as palavras com interjeições infantis. A suspeita de abuso foi notificada por Mayara à Justiça e levou ao divórcio do casal.

Naquele agosto de 2016, após a conversa no balcão da cozinha, Mayara saiu com o filho a tiracolo e correu a uma unidade do Conselho Tutelar do bairro em que viviam, pronta a relatar o ocorrido. De lá, os dois foram encaminhados a uma delegacia. João Paulo foi ouvido sozinho. No relato descrito no inquérito, contou como o pai o penetrava com o dedo repetidas vezes ao dia, com o auxílio de uma pomada retirada de uma bisnaga branca e azul: “Meu pai fica enfiando o dedo com força no meu bumbum. Já pedi, chorando, para ele parar. Mas ele não para”. João Paulo ainda disse que presenciava jogos sexuais entre o pai e outro homem: “Ele mostrou o pipi para o meu pai. Eu peguei uma faixa ninja e coloquei no meu olho, que eu não queria ver nada”, relatava o menino. “A delegada não teve dúvidas: me orientou a interromper as visitas do pai de imediato”, disse Mayara. “Seu filho é uma criança abusada, mãe. Ele, agora, é um problema do Estado”, teria dito a policial, segundo Mayara.

Mayara voltou para casa com a certeza de que a situação se resolveria. Foi uma convicção efêmera. No 12º dia de paz, um oficial de justiça e dois policiais irromperam em sua sala de estar. Sem conseguir contato com o filho, o pai fora à Vara de Família. Alegou que Mayara inventara o abuso para afastá-lo da criança – a mesma estratégia que, segundo ele, ela teria tentado durante a disputa de 2014. Mayara praticava “alienação parental”. Mayara perdeu a guarda da criança – e, considerada uma ameaça à saúde do filho, foi impedida de ter contato com ele.

A decisão da Justiça se ampara na lei da alienação parental, de 2010, criada para, em teoria, impedir que durante um processo de divórcio um dos pais afaste os filhos do convívio do outro. Segundo seus defensores, a legislação pode auxiliar juízes a resolver disputas familiares; segundo mães, advogados e juristas, é mal utilizada e se tornou parte da estratégia de defesa de homens suspeitos de abuso. A aplicação da lei é investigada em uma CPI, e um grupo com mais de 100 mães – Mayara entre elas – organiza-se para cobrar sua revogação.

A lei de alienação parental é uma jabuticaba jurídica. Apesar de o conceito aparecer em decisões tomadas em diversos países, somente no Brasil há um texto específico sobre o tema. A teoria que lhe serve de base é questionada por psicólogos e juristas há mais de 30 anos. O conceito de alienação parental foi criado pelo psicólogo forense americano Richard Gardner e apresentado em um artigo publicado em 1985 numa das revistas da Academia Americana de Psicanálise. Gardner, que se suicidou em 2003, trabalhava como perito em tribunais. Apesar de admitir que o fenômeno pode ser levado a cabo por qualquer um dos pais, Gardner lista uma sequência de artimanhas potencialmente utilizadas por mães “abandonadas”: “A mãe pode se queixar de maneira tão amarga de suas restrições financeiras a ponto de levar o filho a crer que vai morrer de fome”, escreveu.

O ponto mais polêmico diz respeito à existência de uma Síndrome de Alienação Parental (SAP), um conjunto de sintomas manifestados pela criança que vivenciou o processo de “vilanização” do pai. Nos casos mais graves, dizia o psicólogo, a criança pode mesmo relatar casos de abuso sexual que nunca ocorreram. As ideias de Gardner não têm boa aceitação por seus pares. Uma tentativa de seus adeptos de incorporar a SAP ao Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM, na sigla em inglês) – a bíblia da psiquiatria mundial, que lista os transtornos reconhecidos pela comunidade científica – terminou em frustração. Em 2015, um grupo de pesquisadores da Universidade de Roma concluiu que a síndrome não existe.

Apesar da controvérsia, a lei brasileira foi comemorada por especialistas em Direito de Família. “Ela veio responder a uma situação que já acontecia nos tribunais, embora não tivesse nome próprio”, disse a ex­ desembargadora Maria Berenice Dias. Aos 70 anos, Dias tomou decisões que contribuíram para ampliar o entendimento do Judiciário acerca do conceito de “família”. Foi ela quem cunhou o termo “homoafetividade”, ao defender a existência de famílias formadas por casais do mesmo sexo. “Fui a primeira pessoa do Brasil a julgar um caso segundo o conceito da alienação parental”, disse ela, que se aposentou em 2008, antes de a lei entrar em vigor. Hoje, ela tem um escritório de advocacia em Porto Alegre.

A lei lista um conjunto de situações em que ocorre a alienação parental. Comete a falta o genitor que tenta dificultar o contato do ex-parceiro com a criança; que fala mal do ex-parceiro diante do filho ou que – no limite – denuncia o ex-parceiro por um crime que não cometeu. As sanções vão de simples advertência até a reversão da guarda. “Como quando a mãe faz uma falsa acusação de abuso sexual – algo que não é assim tão incomum”, afirmou Dias. Acostumada a acompanhar divórcios conflituosos, ela contou que algumas mães – e também alguns pais, embora mais raramente – acusam o antigo parceiro como forma de pressionar por acordos vantajosos. “Às   vezes, a mãe interpreta mal algo que o filho disse”, afirmou Dias. “E, aí, seu primeiro impulso é fazer de tudo para protegê-lo”.

De autoria do ex-deputado federal Régis de Oliveira, a lei foi empurrada pela pressão diligente de Analdino Paulino Neto, um senhor de 65 anos, calva acentuada, olhos muito azuis e certo apreço por palavras de baixo calão. Em finais dos anos 90, Paulino Neto e um amigo criaram a Associação de Pais Separados (Apase). A organização dá orientação jurídica a pais que temem perder a guarda dos filhos em processos de divórcio turbulentos. “Viajo o Brasil inteiro prestando consultoria”, disse Paulino durante uma conversa em um café em São Paulo, enquanto mastigava uma quiche de queijo acompanhada por água de coco.

Seu interesse pela questão surgiu por causa de reveses pessoais. “Minha mulher, quando ficou grávida, passou a se sentir muito poderosa”, disse, agitando-se na poltrona. No divórcio, após o nascimento da filha, Paulino contou que foi agredido pela ex-mulher e afastado do convívio com a menina. “A mulher, quando tem um filho, parece que trepou com ela mesma”, teorizou, erguendo a voz e atraindo a atenção das pessoas nas mesas próximas. “Ela se esquece de que precisou de sêmen para engravidar.”

A Apase decidiu que deveria pressionar por mudanças na legislação porque as leis brasileiras, em sua visão, demoravam a acompanhar mudanças na sociedade. “A maioria dos pais, hoje, quer participar da vida dos filhos”, disse. “O problema é que o Judiciário não entendia isso, e as mães se viam capazes de enredar os filhos, para separá-los dos pais. São ‘mães medeias’. “Nas palavras dele, o Brasil vive “uma guerrilha urbana entre casais separados”. Nessa guerra, as mulheres se valem de duas armas importantes: a Lei Maria da Penha (“Um número muito grande de denúncias de agressão é falso”, disse) e as falsas denúncias de abuso sexual contra menores. “O que essas mães querem é privar os homens do direito de ser pais”, disse. Nesse instante, uma senhora veio à mesa acompanhada pelo filho. “Quanta sabedoria, hein, meu senhor? Meu ex-marido desapareceu e me deixou sozinha com um filho para criar.” Paulino mordeu a quiche, sem se abalar. Mayara peregrina pelo Judiciário há quatro anos, tentando provar que seu filho falava a verdade sobre os abusos do pai. Sempre ouve: “Você sabe que é muito difícil provar abuso, mãe. Vamos esquecer essa história”.

Logo que soube que pai e filho brincavam de “p… com p…”, Mayara decidiu que “precisava agir para confirmar ou refutar a história” contada pela criança. “Quando meu filho me contou aquela história (sobre a brincadeira de “p… com p…” do pai durante o banho), fiquei incrédula”, disse Mayara. Até ali, seu casamento fora marcado por alguns conflitos. Segundo ela, Antônio”, um administrador de empresas também na casa dos 40 anos, descontrolava-se sempre que bebia; nessas ocasiões, rasgava as próprias roupas e arranhava o rosto em surtos que, por um período, chegaram a ser diários. Mas sempre fora um pai cuidadoso: “Ter um filho era seu maior desejo”, contou Mayara. “Quando João Paulo nasceu, ele ficou exultante.”

A história da tal brincadeira deixou Mayara tão preocupada quanto surpresa. “Numa tarde, cheguei (em casa) no horário do banho, sem avisar.” Pai e filho tomavam banho. Ambos, segundo ela conta, tinham pênis eretos: “O que está acontecendo aqui?”, lembrou-se de ter gritado. A resposta veio na forma de socos e pontapés. Mayara entrou na Justiça com um pedido de Medida Cautelar, expulsou o marido de casa e tentou restringir seu acesso ao filho. Relatou no tribunal a cena presenciada. A juíza decidiu que Antônio deveria ser afastado da criança enquanto a história era apurada. “Mas me advertiu de que, se não fosse verdade, eu poderia sofrer sanções.” Na ocasião, lembrou Mayara, a advogada do pai disparou que “virou moda mãe acusar pai de abuso”.

Para apurar se a história de abuso tinha componentes de verdade, o ex-casal e o filho deviam passar pela avaliação de uma psicóloga forense. A pedido da defesa do pai, a tarefa ficou a cargo de uma perita privada, escolhida por eles. Nas palavras de Mayara, a passagem pela perita apontada pela defesa do ex-marido foi “um desastre”. O laudo disse que a relação de João Paulo com o pai era harmoniosa; e que a insistência da mãe no episódio do abuso refletia uma “personalidade persecutória”. Citando um texto de Richard Gardner, a perita concluiu que o comportamento “paranoico” de Mayara era comum em casos do gênero e que João Paulo não dava sinais de ter sido molestado. Segundo a avaliação, Mayara sofria de transtorno de personalidade esquizotípica, que a tornava propensa à paranoia. Mesmo assim,

quando questionada pela juíza que cuidava do caso, a psiquiatra confirmou que Mayara não representava risco para a criança.

Dois anos depois, quando ela notificou ao Conselho Tutelar o crime de Antônio, a criança passou por uma bateria de exames. No Instituto Médico-Legal do hospital Pérola Byington, um médico-legista examinou suas lesões, para tentar determinar se eram resultado de violência sexual. “A médica me alertou de que eram grandes as chances de o laudo dar negativo”, recordou Mayara. Foi o que aconteceu. O documento apontava a presença de lesões, que poderiam ou não ter sido causadas pelo pai. Não havia vestígios conclusivos de violência nem de sêmen. Sem provas contundentes, e com dois laudos apontando possíveis desequilíbrios psiquiátricos, a Justiça decidiu que Mayara oferecia riscos ao filho. A guarda foi entregue ao pai. O abuso, Mayara já se convencera, era difícil de provar.

Apesar de incômoda, a afirmação é verdadeira. “Na maioria das vezes, o máximo que conseguimos fazer é avaliar a probabilidade de a violência ter acontecido ou não”, disse o juiz Humberto Maion, do Tribunal de Justiça (TJ) de São Paulo, numa manhã de fins de julho. Maion despacha de uma sala comprida, com assoalho de madeira escura, no quarto andar do Fórum João Mendes Júnior – um imenso labirinto de corredores com vista para a Catedral da Sé. Sempre que lhe cai em mãos um caso de abuso sexual intrafamiliar – ocorrido no interior de uma família -, sua conduta se repete: rapidamente, a criança é afastada do suposto agressor.

A seguir, num processo sem prazo definido para ser concluído, tenta-se apurar a veracidade da acusação. “É raro, mas já vi casos em que a acusação era mentira”, disse Maion.

A apuração lida com uma série de complicadores. Raramente há testemunhas do abuso e nem sempre a violência deixa marcas físicas distintivas. Nos casos em que é feito exame de corpo de delito, é comum que o laudo produzido não chegue a conclusões claras, pois 72 horas após o abuso as chances de o perito encontrar material genético do agressor no corpo da criança são quase nulas. “O que o laudo médico faz é apontar as muitas possíveis causas das lesões”, disse Ivan Miziara, superintendente da Polícia Técnico-Científica de São Paulo. “Quando o laudo é inconclusivo, nós também ficamos angustiados. E isso acontece com mais frequência do que gostaríamos.” O juiz da Vara de Família, a quem cabe decidir nos casos de suspeita de abuso, pode levar em conta perícias psicológicas e psiquiátricas. Mas, na maioria dos casos, elas tampouco trazem respostas incontestáveis. “Nosso trabalho consiste em montar um complexo quebra-cabeça”, disse Cátula Pelisoli, psicóloga do TJ do Rio Grande do Sul.

“Olha só, elas não param de me mandar coisas.” A paulistana Lúcia estava sentada à mesa da cozinha de casa com os olhos grudados no celular. Há dois anos, ela criou um grupo no aplicativo WhatsApp que reúne mulheres com histórias semelhantes à sua. Em 2014, depois de denunciar o ex-marido por abusar do filho, ela perdeu a guarda da criança. Lúcia se casou com um homem quase 20 anos mais velho. “Gentil e encantador”, segundo ela. O filho do casal tinha cerca de 1 ano quando ela soube que era traída. Seguiu-se um divórcio amigável e um acordo informal segundo o qual o filho dividiria o tempo igualmente entre as casas dos pais. Lúcia disse que tudo corria bem, até o dia em que o garoto voltou para a casa da mãe chorando e vomitando. A situação se repetiu algumas vezes. Na última delas, Lúcia foi dar banho na criança e percebeu lesões na região anal. “O papai mexe no seu bumbum?”, perguntou. “Sim. E dói muito.”

Em desespero, procurou ajuda no hospital Pérola Byington, referência em casos de violência sexual. Foi avisada de que, antes de tudo, ela deveria fazer um boletim de ocorrência. Recuou. “Anos antes, meu ex-marido me contara que tinha sofrido abuso na infância”, disse ela. “Eu o via como uma vítima também. Não queria resolver a questão na esfera criminal.” Não registrou a ocorrência; preferiu confrontar o ex-cônjuge. Ele recorreu à Justiça, alegou ser vítima de alienação parental. Quando Lúcia registrou o boletim, seu filho passou por exame de corpo de delito, mas, àquela altura, não restavam mais sinais da violência. Ao fim do processo na Vara de Família, Lúcia foi considerada alienadora. O menino foi morar com o pai. Diante do fato, decidiu pesquisar casos semelhantes. Conheceu Mayara, e juntas reuniram outras mães em situação semelhante num grupo de WhatsApp que, hoje, gerencia. Descrentes do Judiciário, decidiram se amparar umas nas outras.

Naquela tarde de julho, Lúcia ainda sentia os abalos de uma história que acompanhara semanas antes. Uma das mães do grupo, temendo perder o filho, matara a criança com um tiro na cabeça e se suicidara. Em fevereiro de 2017, Dolores Mileide de Souza assistia a uma propaganda de cerveja na TV quando o filho, então com 3 anos, interrompeu-a: “O papai gosta, não é, mamãe?”, contou a psicóloga Izamara Holak, que acompanhou o caso do menino. Dolores confirmou.

Ela e o marido haviam se separado meses antes, e ele gostava mesmo de beber. “O papai joga aqui e põe a boca”, disse a criança, apontando para o próprio corpo, de acordo com o relato de Holak.

Dolores era investigadora de polícia em Apucarana, interior do Paraná. Morava no município vizinho, Cambé, em uma casa simples, com o filho e a mãe. A história da criança a transtornou. Ela relatou o episódio a colegas, que recomendaram que ela procurasse Holak – psicóloga voluntária na delegacia. “Depois de algumas consultas com o menino, eu estava convencida de que ele sofrera abuso”, disse Holak. O pai negou o crime e alegou que sofria alienação parental. Para apurar se o abuso ocorrera ou não, o juiz do caso pediu que a interação da criança com os pais fosse avaliada por psicólogos. “Estávamos na fase de produção de provas periciais”, contou Sandro Bernardo da Silva, advogado de Dolores. “Mas tudo indicava que ela manteria a guarda da criança.”

Dolores não estava segura. “Ela achava que o menino voltaria a conviver com o pai, voltaria a sofrer abusos”, lembrou Holak. Num áudio enviado a amigos, Dolores contou se sentir sozinha e desesperada. “É um pesadelo”, diz na gravação, enviada por WhatsApp. “E, quando eu vejo o relato de tantas mães… Não sei se vou suportar.” No começo de julho, Dolores enviou uma mensagem para Lúcia. Disse que deixaria o grupo de mães no WhatsApp. Na noite do dia 4, telefonou para a psicóloga Holak. Contou que temia os resultados das visitas monitoradas. Naquela mesma noite, escreveu uma carta de despedida: “Meu filho é um anjo (…) Não vai ser estuprado”. Atirou na criança e em si mesma.

Hoje, as mães coordenadas por Mayara e Lúcia pedem a revogação da lei da alienação parental; ou, ao menos, sua reformulação, de modo a proteger quem porventura denuncie abusos sexuais. Em maio deste ano, o grupo foi a Brasília participar de uma sessão da CPI dos Maus-Tratos. Presidida pelo senador Magno Malta (PR-ES) e criada para apurar situações que ponham em risco menores de idade, a CPI já foi palco de episódios controversos. Em novembro passado, Malta foi criticado por expor um homem preso por pedofilia ao escrutínio dos parlamentares. Pouco antes, propusera a condução coercitiva de Gaudêncio Fidélis, curador da exposição Queermuseu, para prestar depoimento. “É um homem polêmico, mas foi quem nos deu ouvidos”, disse Mayara. À agência de notícias do Senado, Malta disse estar convencido de que a lei da alienação parental é usada em defesa de abusadores. “Temos hoje um turbilhão de mães vivendo seu desespero. Infelizmente, gente do mal tem em todo lugar, inclusive no Judiciário”, disse o senador.

Mesmo com relatos como os de Mayara, Lúcia e Dolores, é difícil avaliar a boa ou má execução da lei, pois faltam números oficiais sobre o assunto. É impossível dizer com que frequência a alegação de alienação parental é usada nos processos em que existe urna suspeita de abuso sexual. “O Brasil é o país do achismo jurídico”, disseram, por e-mail, o juiz Romano Enzweliler e a advogada Cláudia Galiberme. Em 2014, eles publicaram o artigo “Alienação parental, uma iníqua falácia”, no qual questionam o embasamento teórico da lei e reúnem casos em que o texto foi usado em decisões controversas. Na falta de dados representativos, os dois recorreram a decisões disponíveis no site do STJ. Encontraram ao menos 11 casos – de 28 – em que acusados de abuso alegam ser vítimas de “falsas memórias” implantadas por mães mal-intencionadas. “Em alguns casos, a lei é usada como escudo para acobertar pedófilos”, disseram os juristas.

Segundo eles, o mais grave é que, apesar das muitas dúvidas quanto a seus possíveis malefícios, a lei tenha sido rapidamente adotada pelos tribunais. “No país dos modismos jurídicos, a alienação parental virou uma febre”, escreveram. De fato, dados do TJ de São Paulo dão conta de que a popularidade do conceito cresceu de maneira surpreendente. Se em 2013 o tribunal julgou 150 casos de alienação parental, em 2017 foram mais de 3 mil. No Reino Unido, uma recente tendência do Judiciário a tratar conflitos no divórcio como casos de alienação parental foi combatida por acadêmicos. “O diagnóstico errôneo da alienação parental pode culminar na separação da criança de uma mãe que somente tenta protegê-la”, escreveu a professora Jane Fortin, da Universidade de Sussex, no jornal The Guardian.

Em mais de uma ocasião, tentou-se conversar com os pais citados. Manteve-se conversas por WhatsApp com Antônio, ex-marido de Mayara. Ele concordou em dar uma entrevista pessoalmente. Mas, dizendo-se atribulado com compromissos de trabalho, desmarcou a conversa três vezes. Após duas semanas, um assessor de imprensa entrou em contato em seu nome e acusando de estar “intimidando” seu cliente. “Vocês foram influenciados pela ex­ mulher do meu cliente, uma mulher condenada pela Justiça”, afirmou, por telefone, aos gritos, o assessor. O marido de Lúcia não respondeu às tentativas de contato.

Enquanto cobra a revogação da lei, Mayara luta para voltar a ver seu filho. Nos últimos dois anos, procurou provar à Justiça que é sã: submeteu-se à análise de psiquiatras, na tentativa de colocar por terra o diagnóstico de transtorno de personalidade esquizotípica que recebeu. Um laudo, produzido pelo professor Jorge Adelino Rodrigues da Silva, professor do Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), contestou os anteriores e atestou sua normalidade psíquica. “A situação é enlouquecedora, mas eu não tenho o direito de enlouquecer. Porque meu filho pediu ajuda, e a Justiça não ouviu. Preciso estar sã, para brigar por ele.”

O lado escuro da lei.2

*Os nomes foram trocados para preservar a intimidade dos citados nesta reportagem.

GESTÃO E CARREIRA

COMUNICAÇÃO: TÃO CRISTALINA QUANTO A ÁGUA

Funcionários pedem mais informações, mas até que ponto a transparência sem limites pode ser prejudicial à uma empresa?

Comunicação - tão cristalina como a agua

Vivemos a era da transparência. Quase tudo o que um indivíduo faz, fala ou escreve acaba indo parar nas redes sociais. De um lado, essas mídias funcionam corno importante meio de informação, de outro se mostram uma julgadora implacável tanto das decisões da vida pessoal quanto das estratégias de uma empresa. Uma campanha publicitária ruim, uma resposta fora de tom ao consumidor, uma injustiça contra um funcionário. Tudo vira motivo de debate, hashtag e textão na internet. O falatório segue o ritmo dentro dos muros corporativos. “A organização não consegue evitar que as pessoas se comuniquem entre elas, por isso tem a obrigação de ser o mais transparente possível”, afirma Marcos Facó, diretor de comunicação e marketing da Fundação Getúlio Vargas.

Isso obriga as empresas a repensar seu posicionamento e a discutir internamente como lidar com esse bombardeiro de perguntas. Seria a comunicação cristalina a melhor estratégia? Ou o caminho é fingir que nada aconteceu?

O filósofo sul-coreano Byung­ Chul Han aponta para esse dilema em seu livro A Sociedade da Transparência (Vozes, 21 reais).

Para ele, a atual obsessão da população por esse tema ocorre porque a confiança deixou de existir. “Quando a confiança desaparece, a sociedade aposta na vigilância e no controle”, diz um trecho da obra.

Logo, em tempos de ceticismo, tratar abertamente dos assuntos pode ser um diferencial competitivo. Estudos recentes indicam que 94% dos clientes se mostram fiéis às marcas transparentes, enquanto as companhias mais comunicativas conseguem melhor engajamento de   seus empregados. Dados da pesquisa “As 150 Melhores Empresas para Trabalhar”, em parceria com a escola de negócios FIA) apontam que as dez melhores colocadas no ranking de 2017 alcançaram a nota 93,6 quando seus funcionários foram questionados se recebiam todas as informações necessárias para fazer bem seu trabalho. A média geral das 150 Melhores foi de 89,1 e as que não entraram na lista atingiram o índice de 81,6.

Mesmo a informação das más notícias apresenta efeito mais positivo do que negativo, como descobriu a farmacêutica Pfizer. Em 2017, a subsidiária brasileira viu despencar o faturamento da unidade de Produtos Essenciais, que vende medicamentos para governo e usuários finais. Com a crise, o setor público segurou o dinheiro e as compras diminuíram mês a mês. Era dezembro, a companhia percebeu que precisaria cortar 100 funcionários, do total de 1.600 no Brasil. Em vez de bater o martelo e desligar as pessoas sumariamente, chamou o pessoal para conversar e entender suas necessidades e vontades. Cientes das demissões, alguns, de fato, preferiram sair, enquanto outros expressaram o desejo de continuar.

Nos dois meses seguintes, o time de RH começou a mapear os talentos que poderiam ser alocados em outra área; descobriu que o departamento de inovação estava em franca expansão – e contratando. Cerca de 50 pessoas que seriam demitidas ficaram na Pfizer em novas funções. “Não podemos dizer que não houve ansiedade dos funcionários neste processo, mas o acolhimento e a conversa franca entre as partes criou uma sensação positiva dentro da companhia”, diz Sheila Ceglio, diretora de recursos humanos da Pfizer.

POR MAIS CONFIANÇA

Exemplos como o da Pfizer ajudam a amainar um fato recorrente nas empresas: um em cada cinco trabalhadores não confiam em seu empregador, segundo uma pesquisa da associação americana de psicologia. Ainda de acordo com o estudo, os insatisfeitos tendem a ser menos motivados com o trabalho, mais estressados, negativos e até cínicos com superiores e colegas. “Tudo isso pode afetar a produtividade de um grupo inteiro”.

Para evitar o “disse me disse”, a distribuidora de energia elétrica Elektro criou a sua própria rede social. Lançada há quatro anos, a Conecta integra as 3.500 pessoas da companhia e facilita a divulgação de trabalhos recentes e de fotos da rotina dos funcionários­ “Isso nos aproxima, uma vez que a Elektro é caracterizada por uma alta dispersão geográfica”, afirma o presidente Giancarlo Souza. Em 2016, a ferramenta ganhou outra funcionalidade para acabar com o falatório nos processos de recrutamento interno. Inspirado no aplicativo de relacionamento Tinder, o sistema, por meio de testes e questionários, faz contas para entender qual função melhor se encaixa aos anseios do empregado. Logo, gente que estava infeliz na antiga posição pode concorrer a outras vagas de maneira transparente e menos burocrática. Para Souza, a Conecta democratizou o desenvolvimento e a ascensão dos profissionais, que deixaram de depender da vontade de gestores para se movimentar na carreira.

O LADO OCULTO DA TRANSPARÊNCIA

Apesar dos benefícios, há um paradoxo no excesso de informação. Um artigo da consultoria de negócios Mc Kinsey mostra o caso de uma companhia que aumentou em 17 % a percepção dos funcionários em relação a transparência na política de bónus. Depois disso, a confiança caiu 7% e a sensação de justiça no reconhecimento do esforço, 8%.

Por isso, alguns cuidados precisam ser tomados. Holly Henderson Brower, professora da Wake Forest University, nos Estados Unidos, e outros autores indicam quatro passos para um processo cristalino dar resultado: rever políticas e procedimentos corporativos; abandonar o controle de maneira inteligente; dividir informações importantes e investir no desenvolvimento da mão de obra. Em alguns momentos, a transparência também pode assustar. Especialmente em tempos em que a incerteza reina nos corredores da empresa, como em um processo de fusão ou aquisição. É esse desafio que a Corteva (resultante dos braços de agronegócio das gigantes Dow e DuPont que se uniram em um negócio de 130 bilhões de dólares) vai enfrentar a partir do ano que vem. Isso porque ela ainda não existe: somente em 2019 ela se tornará independente. Nesse meio tempo, é praticamente impossível evitar as fofocas e as teorias de conspiração sobre o futuro. Para reduzir o impacto, o RH se mexeu. De maneira coordenada em todas as subsidiárias, houve uma intensa rotina de conversas para saber para qual das três companhias que surgirão da fusão cada funcionário irá. Ao mesmo tempo, a Du Pont passou a remodelar a gestão, diminuindo cargos de chefia para acelerar a tomada de decisão. Simone Bianche, diretora de RH da empresa, começou a organizar a área que daria origem ao braço de agricultura. Dos 6.500 empregados de Dow + Du pont, cerca de 2.000 receberão o crachá da Corteva a partir do ano que vem, incluindo Simone para reduzir ruídos e diminuir a ansiedade, canais de dúvidas também foram abertos. “A transparência é um comportamento que todos esperamos no nascimento da Corteva”, afirma ela. No último 1º de junho, o americano James Collins Jr., futuro CEO da nova organização, mandou uma mensagem lembrando a todos que, naquela mesma data, em 2019, todos seriam Corteva.

Comunicação - tão cristalina como a agua.2

DE PEITO ABERTO

Os quatro passos para ter uma empresa transparente

1 – FAÇA UM BALANÇO DE SUAS POLITICAS

Em muitos casos, as práticas e procedimentos da empresa não condizem mais com os tempos atuais e os funcionários das novas gerações. É necessário fazer um balanço do que é importante para o negócio neste momento.

2 – DESISTA D0 CONTROLE (DE MANEIRA INTELIGENTE)

Caso um executivo queira centralizar o comando e controle, dificilmente os funcionários serão mais abertos e transparentes. Provavelmente, falarão nas costas do chefe. É necessário dar mais responsabilidades para todos e, principalmente, ser tolerante quanto aos erros. Trate os equívocos como uma oportunidade para facilitar o aprendizado.

3 – DIVULGUE AS INFORMAÇÕES BOAS E RUINS

Relutamos em compartilhar informações negativas, mas elas são necessárias. Caso a sua empresa tenha perdido clientes e não consiga pagar bônus por conta disso, seja claro desde o primeiro momento – não espere a data do pagamento para falar dos problemas.

4 – INVISTA NO DESENVOLVIMENTO DOS TIMES

Funcionários que se sentem valorizados pela empresa são mais leais. Entenda as necessidades deles e as aspirações. Assim, será bem mais fácil conduzir a empresa de forma transparente.

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AS 7 PERGUNTAS DA CONFIANÇA

Um trio de professores americanos criou um questionário para executivos fazerem a si mesmos e melhorar a transparência da empresa.

1 – Eu mostro para os funcionários que confio em suas habilidades?

2 – Eu deixo claro as pessoas que me preocupo como bem-estar delas?

3 – Eu demonstro segurança na capacidade dos empregados em executar o trabalho deles?

4 – Eu dou responsabilidade para os colaboradores mudarem o que eles não acham correto?

5 – Eu deixo os profissionais tomarem decisões relacionadas ao trabalho deles?

6 – Eu encorajo os meus funcionários a assumirem riscos?

7 – As minhas palavras e ações transmitem que eu acredito nas equipes?

ALIMENTO DIÁRIO

JOÃO 14: 25-27

Alimento diário

O Sermão Consolador de Cristo

 

Aqui Cristo consola seus discípulos através de dois fatos:

I – Que eles estariam sob a orientação do seu Espírito, vv. 25,26, onde podemos observar:

1. A reflexão que Cristo desejava que eles fizessem sobre as instruções que Ele lhes tinha dado: “Tenho-vos dito isso” (referindo-se a todas as boas lições que Ele lhes tinha ensinado, desde que eles tinham iniciado na sua escola), “estando convosco”. Isto evidencia:

(1) Que o que Ele tinha dito, agora Ele não retirava nem cancelava, mas ratificava, ou seja, Ele permanecia firme nisto. O que Ele tinha dito, estava dito, e Ele iria cumprir.

(2) Que Ele tinha aproveitado, ao máximo, a oportunidade da sua presença física com eles: “Enquanto Eu estive presente com estas palavras, vocês sabem que Eu não perdi tempo”. Observe que quando nossos professores estão prestes a se afastarem de nós, devemos nos lembrar do que eles nos disseram, quando ainda estavam conosco.

2. O incentivo dado aos discípulos para que esperassem outro mestre, e de que Cristo iria encontrar uma maneira de falar com eles depois que se afastasse deles, v. 26. Ele lhes tinha dito anteriormente que o Pai lhes daria este outro Consolador (v. 16), e aqui Ele volta a falar disto novamente. Pois assim como a promessa do Messias tinha sido a consolação de Israel, agora a promessa do Espírito também seria um grande consolo. Duas coisas o Senhor ainda lhes diz a respeito do envio do Espírito Santo:

(1) Em nome de quem Ele seria enviado: “O Pai enviará em ‘meu nome’, isto é, por minha causa, por meu pedido e minha solicitação especiais, ou, como meu agente e representante”. Ele veio no nome do seu Pai, como seu embaixador. o Espírito vem no seu nome, como residente na sua ausência física, para prosseguir com sua missão, e para preparar as coisas para sua segunda vinda. Aqui Ele é chamado de Espírito de Cristo, pois Ele defende sua causa e realiza sua obra.

(2) Com que missão Ele seria enviado: Ele fará duas coisas:

[1] Ele “vos ensinará todas as coisas”. Como um Espírito de sabedoria e revelação, Cristo era um professor para seus discípulos. Se Ele os deixar, agora que eles têm tão pouca proficiência, o que acontecerá com eles? Ora, o Espírito os ensinará, será seu professor permanente. Ele lhes ensinará todas as coisas necessárias, para que eles mesmos aprendam, e para que ensinem a outros. Pois aqueles que desejam ensinar as coisas de Deus devem, antes, ser ensinados sobre Deus. Esta é a obra do Espírito. Veja Isaías 59.21.

[2] Ele “vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito”. Cristo lhes tinha ensinado muitas lições boas, de que eles tinham se esquecido, e que seriam procuradas quando precisas­ sem delas. Eles não guardavam a lembrança de muitas coisas porque não compreendiam corretamente seu significado. O Espírito não iria ensinar-lhes um novo Evangelho, mas fazê-los lembrar-se daquilo que já lhes tinha sido ensinado, levando-os ao entendimento destas coisas. Todos os apóstolos deviam pregar, e alguns deles, escrever, as coisas que Jesus fazia e ensinava, para transmiti-las a nações distantes e a gerações futuras. Se eles tivessem sido deixados à sua própria sorte a partir de então, algumas coisas necessárias poderiam ter sido esquecidas, outras, mal interpretadas, por causa da traição da sua lembrança. Por isto o Espírito é prometido, para capacitá-los verdadeiramente a encontrar a ligação e registrar o que Cristo lhes tinha dito. E o Espírito da graça é dado a todos os santos, para lhes lembrar todas as coisas, e nós, pela fé e pela oração, devemos nos comprometer com Ele a guardar aquilo que ouvimos e conhecemos.

 

II – Que eles estariam sob a influência da sua paz (v. 27): “Deixo-vos a paz”. Quando Cristo estava prestes a deixar o mundo, Ele fez seu testamento. Sua alma, Ele entregava ao seu Pai; seu corpo, Ele deixou a José de Arimatéia, para que fosse sepultado decentemente; suas roupas ficaram para os soldados; sua mãe, Ele deixou aos cuidados de João. Mas o que Ele deixaria aos seus pobres discípulos, que tinham deixado tudo por Ele? Ele não tinha ouro nem prata, mas lhes deixou algo que era infinitamente melhor, sua paz. “Eu os deixo, mas deixo minha paz com vocês. Eu não somente lhes dou o direito a ela, mas lhes dou a posse dela”. Ele não partiu com ira, mas com amor, pois esta foi sua despedida: “Deixo-vos a paz”, como um pai amortecido deixa porções da herança aos seus filhos, e esta é uma parte valiosa. Observe:

1. O legado que aqui é deixado como herança: “a paz, a minha paz”. A paz representa todo o bem, e Cristo nos deixou todo o bem necessário, tudo o que é realmente e verdadeiramente bom, como todo o bem comprado e prometido. A paz representa a reconciliação e o amor. A paz deixada como herança é a paz com Deus, a paz entre uns e outros. Nossa paz interior parece ser o objetivo especial, uma tranquilidade de espírito originada de um sentimento da nossa justificação perante Deus. É a contrapartida dos nossos perdões, e a tranquilidade dos nossos espíritos. É isto que Cristo chama de sua paz, pois Ele mesmo é nossa paz, Efésios 2.14. É a paz que Ele comprou para nós e pregou a nós, e com a qual os anjos saudaram os homens no seu nascimento, Lucas 2.14.

2. A quem é deixada esta herança: ”A vocês, meus discípulos e seguidores, que serão expostos a tribulações e terão necessidade de paz. A vocês, que são os filhos da paz e estão qualificados para recebê-la”. Este legado era deixado a eles, como representantes da igreja, a eles e aos seus sucessores, a eles e a todos os cristãos fiéis, em todas as épocas.

3. De que maneira ela é deixada: “Não vo-la dou como o mundo a dá”. Isto é:

(1) “Eu não estou saudando vocês, dizendo: Paz seja convosco. Não, isto não é uma mera formalidade, mas uma bênção verdadeira”.

(2) ”A paz que Eu dou é de tal natureza, que os sorrisos do mundo não podem dá-la, nem as censuras do mundo, removê-la”. Ou:

(3) “Os presentes que Eu lhes dou não são como os que o mundo dá aos seus filhos e adeptos, aos quais o mundo finge ser gentil”. Os presentes do mundo se referem somente ao corpo e ao tempo. Os presentes de Deus enriquecem a alma para a eternidade. O mundo nos dá vaidades mentirosas e aquilo que irá nos enganar. Cristo nos dá bênçãos substanciais, que nunca falharão conosco. O mundo dá e toma. Cristo dá uma boa parte que nunca será tomada.

(4) A paz que Cristo dá é infinitamente mais valiosa do que aquela que o mundo dá. A paz do mundo começa na ignorância, consiste de pecado e termina em incontáveis problemas. A paz de Cristo começa na graça, consiste de nenhum pecado, e termina, por fim, na paz duradoura. A diferença entre a paz de Cristo e a do mundo é como a diferença entre uma letargia mortal e um sono revigorante e reanimador.

4. O uso que eles deviam fazer dessa paz: “Não se turbe o vosso coração”, por qualquer mal, passado ou presente, “nem se atemorize”, por qualquer mal futuro. Observe que aqueles que se interessam no concerto da graça, e têm direito à paz que Cristo dá, não devem render-se a tristezas e temores esmagadores. Isto é apresentado aqui como a conclusão de todo o assunto. O Senhor tinha dito (v. 1): “Não se turbe o vosso coração”, e aqui Ele repete estas palavras, como algo para o que Ele tinha agora dado razões suficientes.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

VOVÓS TAMBÉM SE INTERESSAM POR SEXO

Falar sobre o tema pode ser tabu tanto para pessoas mais velhas, quanto para suas famílias e até profissionais de saúde; em busca de informação, idosos recorrem cada vez mais a internet.

Vovó também se interessa por sexo

Para muita gente, pensar que nossos pais, avós (ou até bisavós) sentem desejo, se masturba e mantém vida sexual ativa (ou pelo menos gostariam de fazê­-lo) causa certo incômodo. A verdade é que, apesar das transformações culturais, a vida sexual de pessoas idosas foi um tabu – tanto para elas mesmas quanto para os jovens com quem convivem e até para alguns profissionais da saúde. Apesar disso, estudos sugerem que um número crescente de pessoas com mais de 70 anos continua a ter vida sexualmente ativa, o que colabora com a manutenção da saúde física e mental. Embora boa parte hesite em discutir questões íntimas com o médico, uma nova pesquisa indica que muitos têm lançado mão de comunidades online para ter entre si as respostas e o apoio de que necessitam.

A atividade sexual entre adultos com mais idade é comum – mais da metade dos homens e um terço das mulheres na casa dos 70 anos, casados ou não, relataram fazer sexo pelo menos duas vezes por mês em um estudo de 2015 publicado na Archives of Sexual Behavior. Mas isso pode ser complicado. Problemas médicos que costumam surgir com a idade, como diabetes e doenças cardíacas, muitas vezes afetam o desejo sexual e o desempenho. Não raro, viúvos que começam a namorar novamente não sabem como se proteger de doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) ou mesmo abordar alguém por quem têm interesse. Para piorar, crenças e estereótipos relacionados com a idade – como a ideia de que o corpo é “feio” ou a pessoa está “muito velha para o sexo” – costumam dificultar que os interessados cheguem até as respostas.

Uma revisão de 2011 da literatura científica mostra que, além de os idosos raramente conversarem sobre sexo com os médicos, muitos desses profissionais se mostram hesitantes em apresentar o tema. “Os resultados, a literatura científica e a mídia atual mostram que boa parte dos prestadores de cuidados de saúde, das equipes de casas de repouso e das clínicas especializadas que atendem essa população costumam ignorar o desejo, a necessidade e os direitos sexuais de seus clientes e moradores”, afirma cientista social Liza Berdychevsky, da Universidade de Illinois, em Urbana-Champaign.

À luz dessa preocupante tendência, ela e sua colega Galit Nimrod, pesquisadora da área de comunicação, da Universidade Ben-Gurion, Negev, Israel, decidiram investigar se idosos conseguiam encontrar apoio sobre temas sexuais em fóruns online. Depois de analisar aproximadamente 700 mil mensagens postadas no espaço de um ano em diversas comunidades de vários países, elas encontraram cerca de 2.500 posts dedicados a discussões de questões relacionadas com a sexualidade. Menos de 0,4% do total de mensagens. Apesar disso, alguns desses tópicos eram muito populares, com milhares de visualizações, o que sugere que, embora não participassem dos debates, muitos membros da comunidade virtual acompanhavam as pautas.

Os pesquisadores também identificaram evidências que sugerem que esses lugares ajudavam a responder a perguntas dos usuários, deixando-os mais confortáveis sobre o amadurecimento da sexualidade, segundo um artigo publicado em junho no Journal of Leisure Research. “As comunidades virtuais oferecem aos participantes a garantia de que não estão sozinhos e de que tudo o que experimentam é enfrentado por muitos outros em sua faixa etária”, diz Liza.

Além disso, os fóruns online oferecem “um canal para compartilhar dificuldades, ganhar conhecimento em primeira mão e trocar conselhos”. Ela e outros pesquisadores enfatizam a importância de melhorar a comunicação face a face sobre sexo, principalmente em ambientes de cuidados de saúde. “Felizmente, enquanto isso não acontece, à medida que mais idosos em todo o mundo ganham acesso à internet, sua vida sexual tende a melhorar, assim como seu bem-estar geral” afirma a cientista social.

OUTROS OLHARES

EAD: DIPLOMA SEM SAIR DE CASA

Com custo menor que o de uma faculdade convencional, flexibilidade de horário e a possibilidade de acompanhar as aulas pela internet de qualquer lugar, os cursos de graduação à distância têm procura recorde.

Diploma sem sair de casa

Enquanto as matrículas na graduação presencial caem em média 5% ao ano, os cursos à distância aumentam a cifras bastante significativas. De acordo com projeção da CM Consultoria, especializada em Ensino Superior, entre 2013 e 2017 as novas matrículas na graduação à distância na rede privada cresceram 48%, de 999 mil para quase 1.5 milhão. Nos próximos anos a perspectiva é que esse número aumente ainda mais. Entre 2017 e 2026 o crescimento deve ser de 107%, para mais de 3 milhões de novas matrículas.

Menor custo e maior flexibilidade de horário são os principais atrativos dessa modalidade de ensino. Enquanto uma graduação presencial custa em média de R$1mil a R$ 2 mil por mês, a graduação EAD costuma sair em torno de R$ 400. Além da economia com as mensalidades, os alunos deixam de gastar com transporte e ganham o tempo de deslocamento. Esses fatores fazem com que os cursos online sejam atraentes principalmente para pessoas mais velhas. Estudo recente realizado pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES) mostrou que a maioria do público do EAD é mulher (62%), pessoas casadas (62%) ou que trabalham (83%). Foi a possibilidade de estudar e ao mesmo tempo cuidar de quatro filhos pequenos que fez com que Nathalie Romano optasse por cursar Pedagogia à distância. Quando o curso começou, ela morava em São Paulo, mas logo teve de se mudar para Itu. Mesmo estando longe, Nathalie não precisou interromper os estudos, já que precisava ir à faculdade apenas para fazer provas, uma vez a cada três meses. “O EAD me possibilitou fazer o meu horário. Eu cuidava do financeiro do escritório do meu marido, da casa, dos filhos, não teria disponibilidade de voltar a ter aulas todos os dias”, diz ela.

DESVANTAGENS

Os pontos positivos do EAD são muitos, mas há também algumas desvantagens e as mais comuns foram as enfrentadas por Nathalie. “Se não tiver disciplina e organização, o conteúdo acumula e fica muito puxado. Com o tempo eu fui conseguindo reservar horários específicos para estudar”, diz ela. Outro ponto negativo é que o ensino à distância diminui as possibilidades de os alunos fazerem networking e interagir melhor com professores e colegas. Em termos de empregabilidade, no entanto, a credibilidade é a mesma que no ensino presencial. Além de não fazer nenhuma diferença no diploma, que não recebe essa classificação, os empregadores admiram quem possui as virtudes necessárias para esse tipo de graduação, como disciplina e automotivação.

O ensino à distância cresce em meio a uma grande crise enfrentada pelas faculdades, impulsionada também pelos cortes do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). Em 2014, quando ocorreu o grande boom do Fies, o número de alunos subsidiados havia crescido para 732,6 mil. De lá para cá, porém, os novos subsídios do governo caíram 76% e em 2017 foram apenas 175,9 mil novos contratos. Sem ajuda para pagar as altas mensalidades da graduação, muitos alunos desistem. Foi o que aconteceu com Amanda Nunes, técnica em ressarcimento, que começou a cursar Administração, mas, após um semestre, teve de trancar. “Eu entrei com o intuito de fazer o Fies, porque realmente não tinha como pagar. Fiquei tentando fazer a inscrição por meses, mas nunca deu certo por falha do sistema”, diz ela. Agora Amanda pretende realizar o sonho da graduação por meio de um curso à distância, já que os valores são bem mais acessíveis.

“Estamos próximos a uma guerra de preços total. As instituições estão buscando alunos praticamente dentro dos concorrentes, tanto no curso presencial quanto à distância”, diz Carlos Monteiro, que trabalha com gestão e ensino superior há 40 anos e é CEO da CM Consultoria. O mercado está sofrendo com um excesso de oferta de cursos EAD, decorrente do Decreto 9.057, de maio de 2017, que flexibilizou as regras para a abertura de novas graduações. De acordo com a ABMES, antes do Decreto eram 6.172 polos com cursos de graduação EAD ativos. O último número disponível pelo Ministério de Educação mostrou que em 1°de agosto já eram 11.109 polos. Segundo Monteiro, com a oferta maior que a demanda, a tendência é que as instituições façam cada vez mais promoções, com isenção de matrícula e campanhas de alongamento dos prazos da mensalidade. Dessa forma, espera-se que mais pessoas consigam um diploma do ensino superior. “Uma mensalidade de R$ 250 é barata para quem é da classe média, mas não para quem possui uma renda familiar de R$ 1 mil. No Brasil são 60 milhões nessas condições”, diz ele. Diante da enorme crise financeira das instituições, um ensino superior à distância ainda mais acessível é uma boa notícia, já que um diploma de graduação traz, comprovadamente, empregos de maior qualificação e renda.

Diploma sem sair de casa.2

GESTÃO E CARREIRA

CARREIRAS QUENTES

Pesquisa da consultoria Robert Half, divulgada com exclusividade aponta as competências, os cargos e os salários que estarão em alta em 2019.

Carreiras quentes

Ainda que o número de desempregados no Brasil esteja na casa dos 13 milhões e a crise econômica não tenha passado de vez, alguns indícios (ainda tímidos) apontam para a retomada. O Banco Central estima que a economia brasileira crescerá 1.49% em 2018, porcentagem 50% maior que a verificada no ano anterior. Isso se reflete no mercado: nos sete primeiros meses deste ano, o número de vagas repassadas para a consultoria de recrutamento Robert Half de São Paulo, cresceu 40 % – algo expressivo e bastante superior ao último ano, em que as oportunidades criadas cresceram 17,7%. Segundo Fernando Mantovani, diretor-geral da Robert Half no Brasil, o aumento de volume está em posições estratégicas de empresas que já vislumbram uma melhora no próximo ano. “As vagas temporárias e as contratações por projetos, frutos da mudança da CLT, também entram nessa coleta”, explica.

O Guia Salarial da consultoria para 2019, divulgado com exclusividade por sinaliza estabilidade em termos de remuneração. “Com mão de obra disponível no mercado e a preocupação com os custos no radar, as companhias têm achatado ou mantido os benefícios, salvo em casos específicos, diz Fernando. Para ter uma ideia, de acordo com o levantamento da consultoria, 60% dos trabalhadores que perderam o emprego nos últimos três anos aceitaram ganhar menos do que no trabalho anterior ao se recolocar. Conheça onde estão as melhores oportunidades nos próximos tópicos.

 FINANÇAS E CONTABILIDADE – Hora da retomada

Nos últimos anos, os profissionais de finanças tiveram o papel de ajudar no ajuste das contas (demanda da crise financeira) e as empresas buscavam pessoas focadas na melhoria de processos e renegociação de dívidas. Agora, com o cenário menos nebuloso, as companhias voltam a atenção para funcionários capazes de gerar novos negócios. “A visão de olhar para dentro de casa é substituída por buscar oportunidades no mercado,” diz Danylo Hayakawa, gerente sénior de recrutamento da Robert Half. A demanda é por aqueles que vão além da área de suporte, – os departamentos de compliance e auditoria continuam em alta. “No passado houve uma juniorização nas cadeiras e agora há uma retomada da busca por mais experientes, diz Marcela Esteves, gerente de recrutamento da Robert Half. Encontrar empregados capacitados é um desafio para 77% dos gerentes de recursos humanos ouvidos pela consultoria. “Direcionar as oportunidades para as posições mais próximas da área comercial ainda é o desafio. Entre as competências estão a facilidade de comunicação e de traduzir números”, afirma Saulo Ferreira, gerente de recrutamento da consultoria.

 Carreiras quentes.2

MERCADO FINANCEIRO – Cada vez mais digital

Conhecido por ser um mercado técnico e tradicional, o setor financeiro passa por um momento de disrupção com o digital invadindo as instituições. São observadas duas tendências: o avanço das fintechs e o esforço dos grandes bancos em criar canais inovadores. Para ter uma ideia, em 2017 as startups do segmento financeiro movimentaram mais de 400 milhões de reais em investimentos, de acordo com um monitoramento feito pelo Conexão Fintech. Com a mudança no mercado, altera-se o tipo de profissional requerido. “Surgem novos cargos como corretores de criptomoedas e gerentes de experiência do usuário, por exemplo”, diz Ricardo Rochman, professor da FGVEAESP (Escola de Administração de Empresas de São Paulo). Para acompanhar as mudanças, os trabalhadores devem buscar aperfeiçoamento. “O domínio do inglês e habilidades comportamentais, como comunicação, visão de negócios, curiosidade e versatilidades essenciais”, diz Alexandre Artauah, gerente sênior de recrutamento da Robert Half.

Ainda que a área digital seja a responsável pelo maior número das contratações, os sinais de retomada da economia sugerem demanda por vagas mais tradicionais, como nas equipes de crédito, comercial e em posições regulatórias.

 Carreiras quentes.3

SEGUROS – Um novo mercado

Em seguros, o movimento é bastante parecido com o de mercado financeiro e a parte digital ganha destaque. A aprovação da Resolução nº 359 do Conselho Nacional de Seguros Privados, que permite a uma seguradora ser 100% digital, está revolucionando o segmento com a chegada das chamadas Insurtechs, startups especializadas em seguros, que prometem levar simplicidade, acessibilidade e personalização aos clientes. Com a abertura de mercado e a atuação das resseguradoras, que negociam diretamente com o consumidor final, surge a necessidade de profissionais com conhecimento técnico na área. “Para posições mais gerenciais, as empresas pedem um perfil empreendedor, capaz de oferecer ideias que acelerem o crescimento do negócio”, afirma Alexandre, da Robert Half. Além disso, como as equipes tendem a ser reduzidas, as insurtechs buscam uma pessoa multitarefas, proativa e que trabalhe de maneira independente.

Carreiras quentes.4 

JURÍDICO – Rumo à tecnologia

Náila Nucci, coordenadora pedagógica da Faculdade de Direito da Faap, descreve a área jurídica como binômia. “Seja em momento de crise ou de bonança, profissionais do setor sempre serão demandados. Ou para a dissolução de empresas ou para contratos de novos negócios”, diz. E agora o mercado se volta para o lado mais otimista. Com a melhora gradual da economia, corporações e escritórios buscam pessoas capazes de ajudar a gerar novos negócios, com um perfil mais comercial e senso de dono. “Além disso, temos o advento da tecnologia abraçando a sociedade e precisamos de gente capacitada para legislar acerca disso,” diz. As lawtechs, termo utilizado para denominar as startups jurídicas, deverão ganhar força no país no próximo ano.

Com a terceira maior população de advogados do mundo, é tempo de revisar o perfil. Maria Eduarda Silveira, gerente de recrutamento da Robert Half, afirma que é preciso se preparar tecnicamente para a mudança. “A tecnologia vem para colaborar com o departamento jurídico das empresas e dos escritórios, mas trará muitas alterações de processos”, diz.

Enquanto isso, as áreas de fusões e aquisições e governança corporativa seguem contratando mais.

 Carreiras quentes.5

TECNOLOGIA – Saindo de trás das maquinas

A tecnologia permeia quase todos, se não todos, os setores de uma companhia. Por isso, o profissional precisa ser cada vez mais dinâmico. “Se antes pensávamos neles como os mais ‘nerds’, que não saíam de trás do computador, agora devem ter competências comportamentais afloradas e colaborar diretamente com a estratégia de negócio da empresa”, diz Marcello Nitz, pró-reitor acadêmico do Instituto Mauá de Tecnologia. Para ajudar a desenvolver essas habilidades, universidades e empresas têm investido em capacitação e treinamentos para assegurar a formação do melhor time.

Entre as áreas de destaque aparecem a de proteção de dados, analistas de business inteligence (BI), com foco em análise de mercado e ETL (um processo de extração e leitura de dados), e desenvolvedores não só voltados para design, mas para toda a experiência do usuário. Muitas dessas contratações estão acontecendo por projetos.

 Carreiras quentes.6

VENDAS E MARKETING – Dados para decidir

A área de marketing sofreu uma grande mudança nos últimos anos. Antes, as agências de publicidade eram responsáveis por criar conceitos que ajudavam nas vendas. Hoje, segundo Marcos Bedendo, professor de pós-graduação da ESPM, as empresas criam sua identidade e as agências a divulgam. “Por isso, quem atua com marketing precisa cruzar dados para fazer a diferença nos negócios”, diz. E o digital surge com força para ajudar nessa tarefa. “Existe busca por habilidades voltadas para mídias sociais e ferramentas de marketing digital”, diz Carolina Cabral, gerente sênior de recrutamento da Robert Half. Como o momento é de cobrança por geração de receita, destacam-se as posições que trazem negócios, como as de key acccont e gerente de vendas.

 Carreiras quentes.7 

ENGENHARIA – Desengavetando projetos

Na engenharia, o cenário é de melhora gradual. “Há criação de vagas e contratações que estavam aguardando a retomada”, diz Maria Sartori, gerente sênior de recrutamento da Robert Half. A área de vendas é uma das que mais se destacam e a que demanda gente com alto nível de especialização e conhecimento do produto. Marcello Nitz, pró-reitor do Instituto Mauá de Tecnologia, destaca que isso é difícil de ser encontrado. “O engenheiro costuma ser contratado pela competência técnica e demitido pelas atitudes”, afirma. “Por isso, oferecemos algumas aulas, como de teatro e oratória, para que eles desenvolvam habilidades comportamentais.” Entre os setores mais promissores, o reitor destaca eletrônica, produção e indústria automotiva.

Carreiras quentes.8

 

 

Carreiras quentes.9.

ALIMENTO DIÁRIO

JOÃO 14: 18-24

Alimento diário

O Sermão Consolador de Cristo

Quando amigos se separam, é comum fazerem um pedido um ao outro: “Mande notícias sempre que puder”.

Cristo prometeu aos seus discípulos que, estando fora da sua vista, eles não estariam fora do seu pensamento.

 

I – Ele promete que continuaria a cuidar deles {v. 18): “Não vos deixarei órfãos’, pois, embora Eu os deixe, Eu lhes deixo este consolo: ‘Voltarei para vós”. Sua separação deles era o que os entristecia muito. Mas não era tão ruim como eles pensavam, pois não era nem total nem final.

1. Não era total. “Embora Eu os deixe sem minha presença corpórea, Eu não os deixo sem consolo”. Embora filhos, e deixados ainda pequenos, eles tinham recebido a adoção de filhos, e seu Pai seria o Pai deles, com quem aqueles que, em outras circunstâncias seriam órfãos, encontram misericórdia. Observe que o caso dos crentes fiéis, embora, às vezes, possa ser pesaroso, nunca é sem consolação, porque eles nunca estão órfãos, pois Deus é seu Pai, e Ele é um Pai eterno.

2. Não era final: “Voltarei para vós”, Eu voltarei, isto é:

(1) “Eu virei rapidamente para vocês na minha ressurreição, Eu não ficarei longe por muito tempo, mas estarei com vocês novamente dentro de pouco tempo”. Ele frequentemente dizia: “Depois de três dias, ressuscitarei”.

(2) “Eu estarei diariamente com vocês por meio do meu Espírito”. Ele ainda vem a cada um de nós através dos sinais do seu amor, e das visitas da sua graça.

(3) “Eu virei, certamente, no fim dos tempos. Com certeza, Eu virei rapidamente, para apresentá-los ao gozo do seu Senhor”. Observe que a consideração da vinda de Cristo a nós nos salva de estarmos sem consolação pelo seu afastamento de nós, pois, se Ele parte por algum tempo, é para que possamos recebê-lo para sempre. Que esta certeza modere nossa tristeza : “Perto está o Senhor”, Filipenses 4.5.

 

II – Ele promete que eles continuarão a ter um relacionamento com Ele, e que estarão nele (vv. 19,20): ”Ainda um pouco, e o mundo não me verá mais”, isto é: Agora não mais estarei no mundo. Depois da sua morte, o mundo não o viu mais, pois, embora Ele ressuscitasse, Ele nunca se apresentou a todo o povo, Atos 10.41. O mundo maligno pensou que já tinham visto dele o suficiente, e gritavam: Fora com Ele. Crucifica-o. E esta será sua maldição. Eles não mais o verão. Somente aqueles que veem a Cristo com os olhos da fé, é que o verão para sempre. O mundo não o verá mais até sua segunda vinda, mas seus discípulos têm comunhão com Ele, na sua ausência.

1. “Mas vós me vereis”, e continuareis a me ver, quando o mundo não mais me vir. Eles o viram com seus olhos corpóreos depois da sua ressurreição, pois Ele se manifestou a eles com muitas evidências infalíveis, Atos 1.8. E os discípulos ficaram felizes quando viram o Senhor. Eles o contemplaram com fé depois da sua ascensão, sentado à direita de Deus, como Senhor de tudo e de todos. Viram nele o que o mundo não viu.

2. “Porque eu vivo, e vós vivereis”. Aquilo que os entristecia era o fato de que seu Mestre estava prestes a morrer, e eles não esperavam nada além de morrer com Ele. Não, diz Cristo:

(1) “Eu vivo”. Nisto o grande Deus se glorifica, Eu vivo, diz o Senhor, e Cristo diz a mesma coisa. Não somente: Eu viverei, como Ele dizia a respeito deles, mas: Eu vivo, pois Ele tem vida em si mesmo, e vive para sempre. Nós não estamos sem consolo, pois sabemos que nosso Redentor vive.

(2) Por essa razão, “vós vivereis”. Observe que a vida dos cristãos está ligada à vida de Cristo. Tão certo como Ele vive, e pelo tempo que Ele viver, aqueles que, pela fé, estão unidos a Ele, viverão também. Eles viverão espiritualmente, uma vida divina em comunhão com Deus. Esta vida está escondida em Cristo. Se a cabeça e a raiz vivem, os membros e os galhos também vivem. Eles viverão eternamente. Seus corpos irão ressuscitar em virtude da ressurreição de Cristo. Estará tudo bem com eles no mundo porvir. E esta também será a bênção de todos aqueles que são seus, Isaías 26.19.

3. Vocês terão a certeza disto (v. 20): “Naquele dia”, quando Eu for glorificado, quando o Espírito for derramado, “conhecereis”, com mais clareza e certeza do que agora, “que estou em meu Pai, e vós, em mim, e eu, em vós”.

(1) Estes gloriosos mistérios serão plenamente conhecidos no céu. “Naquele dia”, em que Eu os levarei para mim mesmo, vocês conhecerão perfeitamente o que agora veem “por espelho em enigma”. Agora, “ainda não é manifesto o que havemos de ser”, mas naquele dia tudo será manifestado.

(2) Eles foram mais plenamente conhecidos depois do derramamento do Espírito sobre os apóstolos. Naquele dia, a luz divina brilharia, e seus olhos veriam com mais clareza, seu conhecimento se aprofundaria e cresceria, ficaria mais abrangente e mais distinto. Seria como o homem cego, no segundo toque da mão de Cristo. No primeiro, ele viu somente homens como árvores que andavam, mas, no segundo, viu completamente.

(3) Eles são conhecidos por todos os que recebem o Espírito da verdade, para sua abundante satisfação, pois no conhecimento disto se baseia sua comunhão com o Pai e seu Filho, Jesus Cristo. Eles sabem:

[1] Que Cristo está no Pai, é um só com o Pai, pela experiência daquilo que Ele operou por eles e neles. Eles descobrem a admirável harmonia e o notável consentimento que existem entre o cristianismo e a religiosidade natural. Eles serão enxertados na Videira Verdadeira, e assim saberão que Cristo está no Pai.

[2] Que Cristo está neles. Os cristãos experientes sabem, pelo Espírito, que Cristo habita neles, 1 João 3.24.

[3] Que eles estão em Cristo, pois a relação é mútua, e igualmente próxima em ambos os lados, Cristo neles, e eles em Cristo, o que traduz uma união íntima e inseparável. Em virtude dela, é que, porque Ele vive, eles também viverão. Observe que, em primeiro lugar, a união com Cristo é a vida dos crentes, e sua relação com Ele, e com Deus, por meio dele, é sua felicidade. Em segundo lugar, o conhecimento desta união é sua alegria e satisfação indescritíveis. Agora eles estão em Cristo, e Ele, neles. Mas Ele diz que o fato de saberem disto, e terem este consolo, é um ato adicional da graça. Estar em Cristo e ter a consciência de estar em Cristo são, às vezes, duas coisas distintas.

 

III – Ele promete que irá amá-los, e que se manifestará a eles, vv. 21-24. Observe aqui:

1. Quem são estes de quem Cristo irá cuidar, e aos quais irá aceitar, como seus amigos: ”Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda”. Com isto, Cristo mostra que as coisas gentis que Ele disse aqui aos seus discípulos não se destinavam somente àqueles que eram, então, seus seguidores, mas a todos os que cressem nele por meio da sua palavra. Aqui temos:

(1) O dever daqueles que reivindicam a dignidade de serem discípulos. Tendo os mandamentos de Cristo, nós devemos guardá-los. Como cristãos, em nome e profissão de fé, nós temos os mandamentos de Cristo, nós os temos soando em nossos ouvidos, escritos diante dos nossos olhos, nós temos conhecimento deles. Mas isto não é suficiente. Se realmente desejamos ser cristãos aprovados, nós devemos guardá-los. Tendo-os em nossas mentes, nós devemos guardá-los nos nossos corações e vidas.

(2) A dignidade daqueles que realizam o dever de discípulos. Eles são considerados por Cristo como aqueles que o amam. Não aqueles que têm a maior inteligência e sabem como falar por Ele, mas aqueles que guardam seus mandamentos. Observe que a evidência mais certa do nosso amor por Cristo é a obediência às leis de Cristo. Tal é o amor de um súdito pelo seu soberano, um amor dócil, respeitoso, obediente, uma conformidade com sua vontade e uma satisfação com sua sabedoria.

2. A retribuição que Ele lhes fará, pelo seu amor. Ricas retribuições. O amor que é dedicado a Cristo jamais é perdido.

(1) Eles terão o amor do Pai: ”Aquele que me ama será amado de meu Pai”. Nós não poderíamos amar a Deus, se antes Ele não tivesse, pela sua boa vontade para conosco, nos dado sua graça para amá-lo. Mas existe um amor complacente, prometido àqueles que realmente amam a Deus, Provérbios 8.17. Ele os ama, e os deixa saber que os ama, sorri para eles e os abraça. Deus ama tanto o Filho a ponto de amar a todos aqueles que o amam.

(2) Eles terão o amor de Cristo: “E eu o amarei”, como Deus-homem, como Mediador. Deus irá amá-lo como um Pai, e Eu o amarei como um irmão, um irmão mais velho. O Criador irá amá-lo, e será a felicidade da sua existência. O Redentor irá amá-lo, e será o protetor do seu bem-estar. Na natureza de Deus, nada resplandece mais brilhantemente do que o fato de que Deus é amor. E no entendimento de Cristo, nada parece mais glorioso do que o fato de que Ele nos amou. Estes dois amores são a coroa e o consolo, a graça e a glória, que ha­ verá para “todos os que amam a nosso Senhor Jesus Cristo em sinceridade”. Cristo estava agora deixando seus discípulos, mas promete continuar com seu amor por eles, pois Ele não somente conserva uma bondade pelos crentes, embora ausente, mas está lhes fazendo o bem enquanto ausente, pois Ele os tem no seu coração, e sempre vive intercedendo por eles.

(3) Eles terão o consolo deste amor: Eu “me manifestarei a ele”. Alguns entendem que isto se refira à manifestação de Cristo vivo aos seus discípulos depois da sua ressurreição.  Mas, sendo prometido a todos os que o amam e guardam seus mandamentos, isto deve ser interpretado como se estendendo a eles também. Existe uma manifestação espiritual de Cristo e do seu amor feita a todos os crentes. Quando Ele esclarece seus entendimentos para que conheçam seu amor e suas dimensões (Efésios 3.18,19), vivifica suas graças e os leva à prática, e, desta maneira, amplia suas consolações em si mesmo, quando Ele esclarece as evidências do fato deles estarem nele, e lhes dá sinais do seu amor, experiências da sua ternura, e anseios pelo seu reino e pela sua glória, então Ele se manifesta a eles. E Cristo só se manifesta àqueles a quem Ele decide se manifestar.

3. O que ocorreu depois de Cristo ter feito esta promessa:

(1) Um dos discípulos expressa seu espanto e sua surpresa, v. 22. Observe:

[1] Quem disse isto – “Judas (não o Iscariotes)”.  Judas, ou Judá, era um nome famoso. A mais famosa tribo de Israel foi a de Judá. Dois dos discípulos de Cristo tinham este nome: um deles era o traidor, e o outro era o irmão de Tiago (Lucas 6.16), um dos irmãos de Cristo, Mateus 13.55. Ele é chamado de Lebeu e Tadeu, foi o autor da última das epístolas, que na nossa tradução, por causa da distinção, nós chamamos de Epístola de Judas. Foi ele que falou aqui. Observe que, em primeiro lugar havia um homem muito bom e um homem muito mau, ambos com o mesmo nome, pois os nomes não nos recomendam a Deus, nem fazem os homens piores. Judas, o apóstolo, nunca foi o pior, nem Judas, o apóstata, sempre o melhor, pelo fato de terem o mesmo nome. Mas, em segundo lugar, o evangelista faz cuidadosamente a distinção entre eles. Quando fala deste Judas piedoso, ele acrescenta: “não o Iscariotes”. Não se enganem. Não confundamos o precioso com o vil.

[2] O que ele disse – “Senhor, de onde vem…?”, o que evidencia, ou, em primeiro lugar, a debilidade do seu entendimento. Assim alguns interpretam esta frase. Ele esperava o reino temporal do Messias, esperava que ele aparecesse em pompa e poder externos, de modo que todo o mundo se assombrasse. “Como, então”, pensa ele, “pode ser isto limitado a nós?”. “Qual é o problema, que faz com que o Senhor não queira se manifestar abertamente como se espera, para que os gentios possam vir à sua luz, e os reis para o resplandecer da sua manifestação?” Observe que nós criamos dificuldades para nós mesmos, confundindo a natureza do reino de Cristo, como se ele fosse deste mundo. Ou, em segundo lugar, como expressando a força do seu afeto, e o sentimento humilde e agradecido que ele tinha com os favores diferenciados de Cristo a eles: Senhor, como é isto? Ele está maravilhado com a condescendência da graça divina, como Davi, 2 Samuel 7.18. O que há em nós para merecermos tão grande favor? Observe que:

1. A manifestação de Cristo aos seus discípulos é feita de uma maneira diferenciada, para eles, e não para o mundo que está nas trevas; para os humildes, e não para os poderosos e nobres; para as criancinhas, e não para os sábios e prudentes. Os favores diferenciados são muito gentis. Consideram quem é deixado de lado, e quem é escolhido.

2. É simplesmente maravilhoso aos nossos olhos, pois é inexplicável, e deve ser atribuído à graça livre e soberana. “Sim, ó Pai, porque assim te aprouve”.

(2) Cristo, respondendo a isto, explica e confirma o que tinha dito, vv. 23,24. Ele ignora qualquer debilidade que houvesse naquilo que Judas tinha dito, e prossegue com suas consolações.

[1] Ele explica ainda mais a condição da promessa, que era amá-lo e guardar seus mandamentos. E, quanto a isto, Ele mostra a inseparável conexão que existe entre amor e obediência. O amor é a raiz, a obediência é o fruto. Em primeiro lugar, onde houver um amor sincero a Cristo no coração, haverá obediência: “Se alguém me ama, este amor será um princípio tão imperioso para ele, que, sem dúvida, ele guardará minhas palavras”. Onde houver um verdadeiro amor por Cristo, haverá uma valorização do seu favor, uma veneração da sua autoridade e uma submissão completa de todo o homem à sua orientação e soberania. Onde houver amor, o dever seguirá naturalmente, será fácil e natural, e fluirá partindo de um princípio de gratidão. Em segundo lugar, por outro lado, onde não houver um verdadeiro amor por Cristo, não haverá preocupação em obedecer a Ele: “Quem não me ama não guarda as minhas palavras”, v. 24. Isto é inserido aqui como uma revelação daqueles que não amam a Cristo. Não importa o que finjam, certamente não o amam aqueles que não creem nas suas verdades, e não obedecem às suas leis, para os quais as palavras de Cristo são apena s histórias sem propósito, às quais eles não prestam atenção, ou palavras duras, das quais eles não gostam. Também há uma razão pela qual Cristo não se manifestará ao mundo que não o ama, porque eles lhe fazem esta afronta de não guardar suas palavras. Por que Cristo deveria ser familiar àqueles que desejam ser estranhos a Ele?

[2] Ele explica melhor a promessa (v. 23): “Se alguém me ama, Eu me manifestarei a ele”. Em primeiro lugar: “Meu Pai o amará”. Ele já tinha dito isto antes (v. 21), e aqui repete, para a confirmação da nossa fé. Porque é difícil imaginar que o grande Deus tornasse objetos do seu amor àqueles que tinham se tornado vasos da sua ira. Judas perguntava se Cristo se manifestaria a eles, mas isto responde à sua dúvida: “Se meu Pai lhe ama, por que Eu não lhe amaria?” Em segundo lugar: “Viremos para ele e faremos nele morada”. Isto explica o significado da manifestação de Cristo a ele, e enaltece o favor.

1. Não somente: Eu virei, mas: Nós viremos, Eu e o Pai, pois somos um. Veja o versículo 9. A luz e o amor de Deus são transmitidos ao homem na luz e no amor do Redentor, de modo que onde quer que Cristo se forme, a imagem de Deus se estampará.

2. Não somente: “Eu me manifestarei a ele, à distância”, mas tais são as poderosas influências das graças e das consolações divinas sobre as almas daqueles que amam a Cr isto com sinceridade, que: “Nós viremos para ele, para estar perto dele, para estar com ele”.

3. Não somente: “E u lhe darei uma visão transitória de mim, ou lhe farei uma curta e rápida visita”, mas: “Faremos nele morada”, o que indica complacência com ele, e constância com ele. Deus não irá somente amar os crentes obedientes, mas irá se alegrar em amá-los, calar-se-á por seu amor por eles, Sofonias 3.17. Ele estará com eles, como na sua casa.

[3] Ele dá uma boa razão, tanto para nos levar a observar a condição quanto para nos incentivar a confiar na promessa. ”A palavra que ouvistes não é minha, mas do Pai que me enviou”, v. 24. Ele tinha falado frequentemente sobre isto (cap. 7.16; 8.28; 12.44), e aqui isto surge de modo muito pertinente. Em primeiro lugar, a ênfase do dever é colocada sobre o preceito de Cristo como nossa regra, e com razão, pois a palavra de Cristo que nós devemos guardar é a palavra do Pai, e sua vontade é a vontade do Pai. Em segundo lugar, a ênfase da nossa consolação é colocada na promessa de Cristo. Tendo em vista que, confiando naquela promessa, nós devemos renunciar a nós mesmos, e tomar nossa cruz, e abandonar tudo, nos interessa investigar se a segurança será suficiente para que nisto arrisquemos tudo o que temos. E nos satisfaz o fato de que a promessa é uma Palavra de Cristo e do Pai que o enviou. E sempre podemos confiar na Palavra do Senhor.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

A PSICOLOGIA DO TERROR

Estudos têm revelado uma realidade perturbadora: em determinadas circunstâncias, praticamente qualquer um pode ser levado a cometer ações de extrema violência, ainda que não raiva ou mágoa de suas vítimas. Afinal, qual funcionamento psíquico motiva os atos cruéis cometidos por terroristas? Para especialistas, a dinâmica dos grupos é fundamental para entender esse processo.

A psicologia do terror

A ascensão abrupta e violenta do terrorismo está entre as tendências atuais mais perturbadoras. Embora o Brasil não esteja na “rota do terror”, é impossível não nos perguntarmos sobre o risco de atentados em nosso país. Segundo o Index Global de Terrorismo de 2017, mortes relacionadas a atentados terroristas aumentaram quase dez vezes desde o começo do século 21, subindo de 3.329 em 2000 para 13.885 em 2017. Apenas entre 2013 e 2014, cresceram 80%. Para psicólogos e psicanalistas, essa intensificação suscita perguntas urgentes. final, como os grupos extremistas são capazes de tratar outros seres humanos com tamanha crueldade? Por que seus atos atraem jovens do mundo todo? Quem são seus recrutas e no que eles pensam quando tiram vidas inocentes?

Muitos acreditam que apenas psicopatas ou sádicos – indivíduos “totalmente diferentes de nós” – seriam capazes de vestir coletes suicidas ou brandir a espada da execução. Mas, infelizmente, esse pensamento está equivocado. Graças a estudos realizados nos anos 60 e 70, sabemos que até mesmo pessoas estáveis poderiam machucar gravemente outros seres humanos dos quais não tenham nenhuma mágoa. A clássica pesquisa de “obediência à autoridade”, de Stanley Milgram, mostrou que voluntários de um estudo estavam dispostos a aplicar o que eles acreditavam serem choques elétricos fatais em outras pessoas quando o pedido era feito pelo pesquisador do laboratório. Já o “experimento da prisão de Stanford”, conduzido pelo psicólogo Philip Zimbardo, revelou que universitários voluntários que interpretavam o papel de guardas de uma cadeia fictícia abusavam do lugar de poder, agredindo e humilhando outros estudantes que faziam o papel de prisioneiros.

Esses estudos chegaram a uma conclusão perturbadora: praticamente qualquer um, em determinadas circunstâncias, pode ser levado a perpetrar ações de extrema violência. E assim é com terroristas. Da perspectiva psicológica, a maioria dos partidários de grupos radicais não são monstros – como gostaríamos de acreditar-, pelo menos não mais do que qualquer um dos americanos “normais” que participaram das investigações de Milgram ou Zimbardo. “Eles são pessoas comuns, e isso é o mais assustador”, diz o antropólogo Scott Atran, autor do livro Talking to the enemy (Editora Harper Collins, não lançado no Brasil). Segundo ele, o que torna alguém um fanático “não é um defeito inato de personalidade, mas sim a dinâmica do grupo” ao qual pertence.

Para Milgram e Zimbardo, essa dinâmica nos grupos estava relacionada ao conformismo – obedecer a um líder ou compartilhar o ponto de vista da maioria. Durante a última metade do século passado, no entanto, nossa compreensão de como as pessoas se comportam dentro dos grupos avançou. Descobertas recentes desafiam a noção de que indivíduos se tornem zumbis em grupos ou de que um fanático carismático possa facilmente fazer uma lavagem cerebral nessas pessoas.

Esse novo entendimento oferece uma visão mais atual sobre a psicologia dos aspirantes a terroristas e as experiências que podem levá-los ao radicalismo. Mais especificamente, estamos aprendendo que radicalismo não acontece num vácuo, mas sim, em parte, por causa de brechas entre grupos que extremistas procuram criar, explorar exacerbar. Se é possível provocar um número enorme de não muçulmanos a tratar todos os muçulmanos com medo e hostilidade, então aqueles muçulmanos que anteriormente evitavam conflito podem começar a se sentir marginalizados e prestar atenção nas vozes mais radicais entre eles. Da mesma maneira, se podemos provocar muçulmanos o suficiente a ser hostis com ocidentais, a maioria no Ocidente pode também começar a endossar uma liderança mais combativa. Embora pensemos frequentemente que extremistas islâmicos e islamofóbicos são diametralmente opostos, eles estão inextricavelmente interligados. E essa percepção significa que soluções para a praga do terror estarão tanto “conosco” quanto com “eles”.

SEGUINDO O LÍDER

Os achados de Milgram e Zimbardo mostraram que quase qualquer um poderia se tornar abusivo. Se você olhar atentamente os resultados deles, no entanto, a maior parte dos participantes não o fez. Então o que distinguiu aqueles que fizeram? Nos anos 80, o trabalho pioneiro dos psicólogos sociais Henri Tajfel e John Turner, apesar de não relacionado, sugeriu parte da resposta. Eles argumentaram que o comportamento de um grupo e a influência de seus líderes dependiam criticamente de dois fatores inter-relacionados: identificação e desidentificação. Especificamente, para alguém seguir um grupo – possivelmente até o ponto da violência -, é necessário identificar­ se com seus membros e, ao mesmo tempo, desapegar-se de pessoas de fora do grupo, deixando de vê-las com preocupação.

Confirmamos essa dinâmica em nosso próprio trabalho, que revisitou os paradigmas de Zimbardo e Milgram. Por meio de vários outros estudos, descobrimos que, assim como Tajfel e Turner propuseram, participantes estão dispostos a agir de maneira opressora apenas enquanto ainda se identificam com a causa para a qual estão trabalhando – e se desidentificam com aqueles que estão prejudicando. Quanto mais acreditam que a causa vale a pena, mais justificam suas ações como lamentáveis, porém necessárias.

Essa compreensão de que a identidade social, e não a pressão para obedecer, é que determina quão longe uma pessoa irá corroborar descobertas sobre o que realmente motiva terroristas. Em seu livro Understanding terror networks (Universidade da Pensilvânia, 2014, não publicado no Brasil), o psiquiatra forense Marc Sageman, antigo oficial de casos da CIA, enfatizou que terroristas são em geral verdadeiros crentes que sabem exatamente o que estão fazendo. “Os mujahedin eram assassinos entusiasmados, não robôs que simplesmente respondem a pressões sociais ou dinâmicas de grupo”, escreve. Sageman não descartou a importância de líderes convincentes – como Osama bin Laden e Abu Bakr al-Baghdadi, do Estado Islâmico no Iraque e na Síria (Isis) -, mas sugere que eles servem mais para proporcionar inspiração do que dirigir operações ou emitir comandos.

De fato, existe pouca evidência de que mentores orquestram atos de terror, apesar da linguagem que a mídia usa frequentemente quando reporta esses eventos. O que nos leva para uma segunda alteração na nossa maneira de pensar sobre dinâmica de grupos: nós observamos que quando pessoas se submetem à influência de autoridades, malevolentes ou não, elas não mostram obediência servil, mas encontram maneiras únicas e individuais de estender a agenda do grupo.

Depois que o experimento da prisão de Stanford foi concluído, por exemplo, um dos guardas mais zelosos perguntou a um dos prisioneiros de quem ele havia abusado o que ele teria feito em seu lugar. O prisioneiro respondeu: “Eu não acredito que teria sido tão criativo quanto você. Não acho que eu teria aplicado tanta imaginação ao que estava fazendo”. Terroristas individuais também tendem a ser, ao mesmo tempo, autônomos e criativos, e a falta de um comando hierárquico estrutural é parte do que torna o terrorismo difícil de combater.

“NOBRES” INICIATIVAS

Como líderes do terror atraem seguidores tão engajados e inovadores se não estão dando ordens diretas? Outras descobertas das últimas décadas (sintetizadas em nosso livro de 2011, em coautoria com Michael). Platow, The new psychology of leadership) destacam o papel que líderes têm em desenvolver um senso de identidade e propósito compartilhados por um grupo, ajudando membros a construir suas experiências. Eles empoderam seus seguidores estabelecendo uma causa comum e ganham poder dando formato a ela. De fato, os experimentos de Milgram e Zimbardo são aulas de como criar uma identidade compartilhada e então usá-la para mobilizar pessoas em prol de um fim destrutivo. Da mesma maneira como eles convenceram participantes de seus estudos a infligir dor em nome do processo científico, líderes bem-sucedidos precisam convencer o grupo de que suas iniciativas são honradas e nobres.

Tanto a AI Qaeda quanto o Isis utilizam essa estratégia. O que atrai seus simpatizantes é, em grande parte, o fato de que eles promovem o terror em nome de uma sociedade melhor – uma que relembre a comunidade pacífica que cercava o profeta Mohammed. No ano passado, a professora de jornalismo Shahira Fahmy, da Universidade do Arizona, fez uma análise sistemática da propaganda do Isis e descobriu que apenas 5% retratam o tipo de violência brutal que vemos frequentemente nas televisões ocidentais. A grande maioria traz visões de um “califado ideal”, que iria unir todos os muçulmanos de maneira harmoniosa. Aliás, um elemento significativo do sucesso do Isis – um que o torna mais ameaçador do que a AI Qaeda – está no fato de seus líderes clamarem a soberania do Estado. Na cabeça de seus acólitos pelo menos, eles têm os meios de tentar fazer esse califado utópico se tornar realidade.

Crucialmente, no entanto, a credibilidade e a influência dos líderes (especialmente aqueles que promovem conflito e violência) dependem não somente do que eles dizem e fazem, mas também do comportamento de seu oponente. Prova desse fato veio à tona depois de uma série de experimentos conduzidos por um de nós (Haslam) e llka Gleibs, na Faculdade de Economia de Londres, que observou como pessoas elegem líderes. Uma das descobertas centrais foi que indivíduos serão mais inclinados a escolher um líder belicoso se seu grupo estiver competindo com outro que esteja agindo de maneira beligerante. Nos Estados Unidos, o candidato republicano Donald Trump talvez tivesse sido sábio em ponderar isso antes de sugerir que todos os imigrantes muçulmanos são inimigos em potencial que devem ser barrados de entrar no seu país. Longe de enfraquecer os radicais, essa afirmação providencia o combustível que alimenta o motor da causa deles. De fato, depois que Trump deu essa declaração, um membro da AI Qaeda a reproduziu como parte da estratégia de propaganda.

A ZONA CINZENTA

Assim como o Isis se alimenta de políticos ocidentais imoderados, esses mesmos políticos também se alimentam do Isis para angariar apoio para si mesmos. Essa troca é parte daquilo que o estudioso de religião Douglas Pratt, da Universidade de Waikato, na Nova Zelândia, chama de corradicalização. E aqui habita o verdadeiro poder do terrorismo: ela pode ser usada para provocar grupos a tratar o grupo de outrem como perigoso – o que ajuda a consolidar seguidores ao redor daqueles mesmos líderes que pregam inimizades. Terrorismo não é tanto sobre disseminar o medo quanto é sobre plantar retaliação e novos conflitos. O pesquisador sênior Shiraz Maher, do Centro Internacional de Estudos de Radicalização e Políticas Violentas, na King’s College de Londres, mostrou como o Isis procura ativamente incitar países ocidentais a reagir de maneira que torne mais difícil para muçulmanos sentirem que pertencem a essas comunidades.

Em fevereiro de 2015, a Dabig, revista dirigida pelo Isis, trazia um editorial intitulado “A extinção da zona cinzenta”. Seus escritores lamentavam o fato de que tantos muçulmanos não enxergavam o Ocidente como seu inimigo e que muitos refugiados abandonando a Síria e o Afeganistão realmente viam países ocidentais como terras da oportunidade. Eles clamavam pelo fim da “zona cinzenta” de coexistência construtiva e a criação de um mundo claramente dividido entre muçulmanos e não muçulmanos, no qual todos ou apoiariam o Isis ou os kuffar (não crentes).

Também explicavam os ataques na redação da revista francesa Charlie Hebdo exatamente nestes termos: havia chegado “o tempo de outro evento – ampliado pela presença do Califado no cenário global – para trazer a divisão para o mundo”.

Em resumo, terrorismo está relacionado à polarização. Trata-se de reconfigurar relações intergrupais de modo que liderança extrema pareça ser a maneira mais sensata de lidar com um mundo extremo. Desse ponto de vista, terrorismo é o oposto de destruição não pensada. É uma estratégia consciente – e efetiva – para atrair seguidores para o âmbito de líderes que buscam confronto. Assim, quando se trata de entender por que líderes radicais continuam patrocinando o terrorismo, nós precisamos examinar suas ações e nossas reações. Como o editor David Roth kopf escreveu em Foreign Policy, depois dos massacres de Paris e Isis em novembro passado, “reações exageradas são precisamente a resposta errada para o terrorismo e é exatamente o que os terroristas querem; elas fazem o trabalho dos terroristas e para os terroristas”.

Em muitos países, os esforços antiterroristas atuais levam pouco em consideração como nossas respostas podem estar aumentando as apostas. Essas iniciativas focam apenas indivíduos e presumem que a radicalização começa quando algo enfraquece o senso de propósito e de si mesmo de uma pessoa: discriminação, perda dos pais, bullying, mudanças radicais ou qualquer outra coisa que deixe a pessoa confusa, incerta ou sozinha. O psicólogo Erik Erikson nota que jovens (ainda no processo de formação de uma identidade sólida) são mais vulneráveis a esse tipo de “descarrilamento”. “Nesse estado, eles se tornam uma presa fácil para os grupos radicais, que oferecem o que eles dizem ser uma sociedade acolhedora em busca de um objetivo nobre”, ressalta.

Não temos dúvida de que essa é uma parte importante no processo pelo qual pessoas são levadas a grupos terroristas. Muitas evidências apontam para a importância dos laços de pequenos grupos e, de acordo com Atran e Sageman, terroristas muçulmanos são caracteristicamente centrados em grupos de amigos e parentes. Mas essas lealdades por si só não são suficientes para explicar o que Sageman chama de “problema da especificidade”. Muitos grupos proporcionam laços de camaradagem envolta de uma causa compartilhada: grupos de esporte, cultura, meio ambiente. Até mesmo a maioria das facções religiosas – incluindo grupos muçulmanos – promove a comunidade e sem incentivar a violência. Então por que, especificamente, alguns são atraídos para os poucos grupos muçulmanos que pregam a violência e o confronto?

Argumentamos que esses grupos estão oferecendo mais do que consolo e apoio. Eles fornecem também narrativas que ressoam com seus recrutas e os ajudam a dar sentido às suas experiências. Nesse caso, nós precisamos examinar seriamente as ideias que militantes muçulmanos propagam – incluindo a noção de que o Ocidente é um velho inimigo que odeia todos os muçulmanos. Será que a “maioria” das reações do nosso grupo de alguma maneira dá crédito às vozes de grupos radicais minoritários na comunidade muçulmana? Será que policiais, professores e outras figuras proeminentes fazem jovens muçulmanos no Ocidente se sentirem excluídos ou rejeitados – a ponto de eles começarem a ver o Estado menos como um protetor e mais como um adversário? Se sim, como isso muda o comportamento deles? Para começar a descobrir, um de nós (Reicher), trabalhando com os psicólogos Leda Blackwood, agora na Universidade de Bath, na Inglaterra, e Nicholas Hopkings, da Universidade de Dundee, na Escócia, conduziu entrevistas individuais e em grupo em aeroportos escoceses, em 2013. Como barreiras nacionais, aeroportos mandam sinais claros sobre pertencimento e identidade. Nós descobrimos que a maioria dos escoceses – muçulmanos ou não – tinha uma sensação de “retornar a casa” depois de uma viagem para fora. Ainda assim, muitos escoceses muçulmanos já haviam se sentido ameaçados por causa de suspeitas vindas de seguranças do aeroporto. Por que eu fui puxado para o lado? Por que me perguntaram todas aquelas coisas? Por que minha bagagem foi revistada?

UMA OUTRA PRISÃO

Nós demos o nome de “reconhecimento falho” a essa experiência em que outros não notaram ou negaram uma identidade valiosa para uma pessoa. Isso gerou, sistematicamente, raiva ou cinismo para com autoridades. levou esses indivíduos a se distanciar de pessoas aparentemente britânicas. Depois dessas experiências, um muçulmano escocês disse que se sentiria ridículo se continuasse a incentivar confiança em agências que o tinham humilhado. Em outras palavras, o reconheci­ mento falho pode silenciar aqueles que, tendo uma vez se sentido alinhados com o Ocidente, talvez estivessem mais bem alocados para prevenir uma polarização maior. Para ficar claro, o reconhecimento falho não tornou pessoas moderadas em terroristas ou extremistas instantaneamente. Mas a balança do poder começou a pender menos para o lado de líderes que dizem “trabalhe com as autoridades: elas são suas amigas” e mais para o dos que insistem que “as autoridades são inimigas”.

Nós podemos levar essa análise do reconhecimento falho e suas consequências um passo além. Quando nós adaptamos o estudo da prisão de Zimbardo em nossa própria pesquisa, nós queríamos reexaminar o que acontece quando você mistura dois grupos com níveis de poder desiguais. Nós queríamos testar algumas das mais recentes teorias sobre como a identidade social afeta as dinâmicas de um grupo. Por exemplo, achamos que prisioneiros se identificariam com seu grupo somente se não tivessem perspectivas de deixá-lo. Então, informamos os voluntários que fariam o papel de prisioneiros de que poderiam ser promovidos a guardas se tivessem as qualidades certas. Então, depois de apenas uma rodada com essas promoções, dissemos que não haveria mais mudanças. Eles estavam presos àquelas posições.

Nós discutimos o efeito dessa manipulação em muitas publicações, mas existe uma descoberta sobre a qual não escrevemos em nenhum lugar antes – uma observação que é especialmente relevante para nossa discussão de extremismos. Desde o início do nosso estudo, um prisioneiro em particular tinha ambições muito claras de ser um futuro guarda. Ele via a si mesmo como capaz de unir os guardas e fazê-los trabalhar como uma equipe (coisa que eles estavam tendo dificuldade em fazer). Outros prisioneiros o provocavam; eles falavam de motim, o que ele ignorava. Então, durante o processo de promoção, os guardas não olharam para esse prisioneiro e promoveram alguém que ele enxergava como menos eficiente e mais fraco. Sua vontade de identificar-se como guarda foi publicamente rejeitada de maneira humilhante.

Quase imediatamente, seu comportamento mudou. Antes ele era um preso modelo que evitava seus companheiros, mas agora se identificava fortemente com eles. Ele havia desencorajado os prisioneiros de minar a autoridade dos guardas, mas agora se juntava a eles com grande entusiasmo. E, apesar de ter apoiado a ordem antiga e ajudado a manter a sua existência, ele começou a ser o principal instigador de uma série de atos subversivos que levaram à destruição do regime dos guardas.

Sua conversão dramática veio depois de uma série de passos psicológicos que ocorrem regularmente em comunidades hoje: vontade de pertencer, falha nesse reconhecimento, separação e falta de identificação. Fora de nossa prisão experimental, a história acontece mais ou menos assim: líderes de minorias radicais usam a violência e o ódio para provocar a autoridade das maiorias a instituir uma cultura de vigilância contra membros de grupos minoritários. Essa cultura causa falha no reconhecimento dessas pessoas como membros daquela maioria e sua comunidade, o que leva à não identificação e à separação da corrente principal. E esse distanciamento pode tornar os argumentos dos radicais difíceis de recusar. O ponto é que vozes da minoria radical não são suficientes para radicalizar alguém, nem as experiências individuais das pessoas. O que é potente, no entanto, é a junção das duas e a habilidade de uma reforçar e ampliar a outra.

A análise do terrorismo que apresentamos aqui é, claro, provisória, na medida em que continuamos a coletar evidência. Nós não negamos que alguns indivíduos terroristas tenham de fato personalidades patológicas. Mas o terrorismo junta muitas pessoas que normalmente não se sentiriam inclinadas a disparar o gatilho ou a plantar uma bomba. E, portanto, não pode haver dúvida de que o entendimento desse fator pede um exame em nível grupal – não apenas de radicais, mas da dinâmica grupal que impulsiona o comportamento deles. Esse é o contexto do qual todos nós fazemos parte, algo que todos nós ajudamos a moldar. Nós tratamos minorias com desconfiança? Aqueles que nos governam questionam suas reivindicações de cidadania? Nós reagimos ao terror com pedidos de contraterror? A boa notícia é que, do mesmo modo que nossa análise nos vê como parte do problema, também nos torna parte da solução.

A psicologia do terror.2

OUTROS OLHARES

DESAPARECIDOS S.A

Com quase 40 mil pessoas sumidas em 12 anos, o México é refém da indústria do sequestro, da extorsão e do tráfico de pessoas, negócio com o qual o crime organizado fatura mais de US$ 50 milhões por ano

Desaparecidos S.A

Passava pouco das 8 da manhã de 11 de julho quando batemos à porta da advogada Maria Guadalupe Rodríguez, de 59 anos. Ela mora em uma das ladeiras da Colônia San Mateo, na cidade de Chilpancingo, capital do estado de Guerrero, no sudoeste do México. A temperatura estava amena, já que a geografia de uma cidade erguida entre vales não permitia que o sol se distribuísse igualmente desde as primeiras horas do dia. Chilpancingo fica a somente três horas da Cidade do México e, mesmo sede do governo local, nem sequer consegue maquiar as dificuldades com que subsiste sua gente. Em todo o estado de Guerrero, 64% da população vive em situação de pobreza e 23% em pobreza extrema. A miséria ali, como em tantos outros lugares, convive também com a violência, e era sobre isso que Lupita, como é chamada, queria falar.

Após dois lances de escada, ela nos conduziu a um cômodo no segundo andar com dois quartos pequenos, um em cada extremidade, unidos por uma sala-cozinha improvisada no meio. Ali, sentada num pequeno banco acolchoado junto à parede, ela mostrou o altar montado pelos netos para o pai, desaparecido desde 4 de junho de 2014. A ideia veio do caçula, Anderson Nazareth Rodriguez, que tinha pouco mais de 5 anos quando tudo aconteceu e costumava acordar aos prantos nas madrugadas. Como os cinco dormem juntos na mesma cama, todos despertaram. “Perguntava a ele: “Por que está chorando, minino?”, lembrou Lupita. E ouvia desconcertada: “Deus veio até mim, abuelita, e me trouxe meu papai, mas ele voltou a ir embora”, dizia o menino, soluçando.

Josué Carlos Rodríguez era estudante de Direito, tinha 30 anos. Saiu de casa no meio da tarde para deixar a mulher na faculdade e não voltou. Nas primeiras horas, a família achou que ele poderia ter sido sequestrado. “Pensei que eles me pediriam dinheiro porque nesses tempos também estavam sequestrando, mas passaram os dias e não pediram nada”, recordou ela, com a voz embargada.

Angustiada, Lupita bateu à porta do Ministério Público (MP) nas primeiras horas do dia seguinte para denunciar o desaparecimento. No México, esse é o procedimento-padrão. A promotoria é quem precisa acionar a polícia. Ela contou que o filho estava com seu carro, um Volkswagen Jetta preto) e também levava o celular quando saiu de casa. Pediu que o telefone e suas ligações fossem rastreados. A única coisa que ouviu foi para aguardar.

A falta de ação a consumiu, e não pôde esperar mais. Com ajuda de conhecidos, ficou sabendo de uma denúncia ao Centro de Controle e Comando do Exército, que auxilia a polícia local. Nunca esqueceu as palavras na gravação: ”Urgente, urgente, estão levando um jovem em um Volkswagen Jetta preto. Três homens com armas curtas o pegaram”. O denunciante dizia que o sequestro havia ocorrido perto da escola técnica de Chilpancingo.

Voltou ao MP e, novamente, foi orientada a ir para casa. Os casos eram muitos, a investigação tomaria tempo, entre outras escusas. Os dias se tornaram semanas, depois meses. Rodríguez não retornou. Lupita e o marido se encarregaram da criação dos três netos, pois a mãe dos meninos ainda não tinha emprego. E a vida da família se converteu em uma eterna busca.

Três meses depois do desaparecimento de Rodríguez, um episódio ainda mais perturbador irrompeu subitamente o já violento cotidiano de Guerrero para marcar outra parte infeliz da história do México. No início da noite da sexta-feira 26 de setembro de 2014, um grupo de 100 estudantes da Escola Normal Rural Raúl Isidro Burgos, de um vilarejo chamado Ayotzinapa, foi atacado a tiros por policiais na cidade de Iguala, a uns 100 quilômetros de Chilpancingo.

Cercados por diversas patrulhas policiais quando deixavam a cidade, os estudantes enfrentaram horas de terror. Quando amanheceu o dia seguinte, o saldo era de três mortos e um baleado na cabeça – em coma. Outros 43 foram levados pela polícia, mas não apareceram em nenhuma delegacia da região naquele dia ou em qualquer outro desde 2014. As primeiras notícias do pandemônio saíram nas redes sociais e logo ganharam o país e o mundo. Daquela madrugada em diante, ninguém mais poderia ignorar a existência dos mais de 30 mil desaparecidos em todo o México desde 2006.

Palssados quatro anos do desaparecimento em massa, fomos a Ayotzinapa encontrar Ernesto Guerrero, de 15 anos, um sobrevivente daquela noite. De Chilpancingo até a comunidade não se leva muito mais do que 30 minutos. A estrada contorna os vales da região e em grande parte é asfaltada. Quem está nela observa a capital do estado do alto e também é facilmente monitorado, já que a maior parte do caminho possui pouca vegetação. Assim, ataques, sequestros e assassinatos eram rotina em estradas como aquela. Sobretudo contra os taxistas. Havia muito os moradores das cercanias não confiavam em nenhuma força de segurança do estado. Menos ainda depois de tudo que aconteceu. Agora, para se proteger, os moradores das comunidades rurais criaram brigadas campesinas de “autodefesa”.

No começo da tarde de 11 de julho de 2018, Ernesto Guerrero, o Marlboro, e os colegas de turma se preparavam para a formatura, dois dias depois. Como são internos, a graduação também é uma despedida da casa onde viveram nos últimos anos. Chegamos lá no momento em que ele e os outros retiravam suas roupas, livros e móveis dos quartos. A música em uma caixa de som contrastava com expressões carregadas de seriedade. Alegria e melancolia se misturavam nos corredores porque aquela era a turma de 35 dos 43 estudantes desaparecidos.

Depois do ataque, a exposição midiática do caso trouxe alguns recursos e melhorias para o local – construído em 1926 e que sofria com a falta de manutenção. Logo na entrada ainda está o prédio clássico de murais de pedra e vitrais arredondados. Nos fundos do terreno, porém, foram erguidos novos edifícios tanto para os quartos como para as salas de aula. Ali foram grafitados murais coloridos com imagens de estudantes e trabalhadores e frases de luta como “nem um minuto de silêncio” ou “abram escolas para fechar prisões” – mantendo a tradição das pichações na escola que possui em diferentes paredes desenhos de Che Guevara e Lucio Cabanas, guerrilheiro egresso da escola e morto em 1974, após combates com o Exército.

Sentado em uma carteira no pátio novo, Ernesto Guerrero se lembrou do ataque como se tivesse acontecido havia apenas poucas horas. Os estudantes tinham terminado de fazer um “boteo”, campanha para arrecadar dinheiro. Os normalistas, que estudam para ser professores, precisavam de verba para viajar até a Cidade do México. Eles pretendiam ir a um ato em memória do Massacre de Tlatelolco, que ocorreu em 2 de outubro de 1968 e deixou, à época, cerca de 300 estudantes mortos.

Para garantir a viagem, os normalistas também haviam confiscado cinco ónibus do terminal municipal de Iguala. A toma, que pode ser vista como rara por um desconhecido, é prática comum em diferentes estados no interior do país. Uma vez usados, os coletivos são devolvidos, e, para garantir a manutenção, as empresas chegam a orientar os motoristas a permanecer com os ônibus até a devolução. Naquela noite, não houve sequer conversa.

Os jovens deixaram o terminal em dois grupos. Dois ônibus saíram na direção sul e outros três rumo ao norte. Ernesto Guerrero viajava no último coletivo que tomou essa rota. Já próximo da saída da cidade, cinco ou seis patrulhas alcançaram o comboio na esquina das ruas Juan Álvarez e Periférico Norte. “Eu estava no terceiro ônibus quando os policiais começaram a disparar. Primeiro, eram tiros ao ar. Nós descemos para nos defender e vimos quando eles miraram os ônibus”, lembrou. A tentativa de dizer que não estavam armados de nada adiantou.

“Quando começaram os disparos contra os ônibus, eu tentei subir de novo, mas as portas estavam fechadas. Sai correndo e entrei no primeiro ônibus”, contou. O primeiro coletivo tentou arrancar, mas foi interceptado por outra patrulha que fechou a passagem. Eles desceram outra vez, mas os policiais já atiravam para matar. “‘Ali acertaram a cabeça do companheiro Aldo, que até hoje está hospitalizado”, denunciou.

Aos berros de “não disparem”, Ernesto diz que se arrastou até a parte de trás do primeiro ônibus. Ficou ali por 30 minutos com outros colegas, enquanto os policiais retiravam os estudantes que ainda estavam dentro dos ônibus, fazendo com que deitassem com o rosto virado para o chão. Pouco depois os obrigaram a subir na parte traseira de algumas caminhonetes. “‘Nós vimos claramente quando as patrulhas da cidade de Iguala os levaram”, recordou. Os policiais, então arrancaram com os carros e foram embora. Só então os estudantes puderam socorrer dois alunos feridos e, ainda sob adrenalina, passaram a chamar as famílias, professores e jornalistas para o local. Queriam denunciar o ocorrido. Pouco a pouco tomavam conhecimento de que os outros dois ônibus, que tinham ido em direção sul, também tinham sido atacados e lá outro grupo de estudantes havia sido levado pela polícia.

Justo no momento em que falavam com jornalistas algumas caminhonetes pararam perto do grupo e homens encapuzados dispararam contra o grupo. Com tiros nas costas e na cabeça, os alunos Júlio César Ramirez Nava e Daniel Solís Gallardo morreram na hora. Os demais correram para se proteger e se dispersaram pelas ruas da cidade. As 9h30 do domingo, o Exército comunicou ao MP o encontro de um cadáver perto da central de patrulhas de Iguala. Era Júlio César Mondragón. Ele estava sem os olhos e sem parte da pele do rosto. “tinha marcas de queimadura nos braços.

Até hoje, o episódio gera mais dúvidas do que respostas. O relatório final da investigação afirmou que a ordem do ataque teria vindo do então prefeito de Iguala, José Luís Abarca, e de sua mulher, Maria de los Ãngeles Pineda, irmã de traficantes do cartel Guerreros Unidos. Nas palavras do procurador Jesús Murillo Karam, “a verdade histórica” era que a primeira-dama temeu ser constrangida durante um discurso que proferia como presidente do Sistema Municipal de Desenvolvimento Integral da Família (DIF).

Foi o destino dos 43 desaparecidos contudo, que causou mais revolta. Os jovens teriam sido entregues a sicários desse cartel, e, depois de mortos a tiros, os corpos foram queimados em um lixão chamado Cocula.

Ao todo, 111 pessoas foram presas – 78 eram policiais ou autoridades municipais, entre os quais o   casal Abarca Pineda. Em 2015, a Comissão lnteramericana de Direitos Humanos fez uma investigação independente e achou diversas fraudes no trabalho da PGR, entre elas a impossibilidade da destruição completa dos corpos no lixão. As famílias aguardam, agora, a instauração de uma Comissão da Verdade sobre o caso.

O desaparecimento dos 43 estudantes deu um solavanco no governo mexicano. O governador do estado de Guerrero, Ángel Aguirre Rivero, renunciou ao cargo. Protestos derreteram ainda mais a popularidade da administração do presidente Enrique Pena Nieto e a crise se aprofundou, dois meses depois, quando o portal Aristegui Noticias revelou que o presidente e a primeira-dama viviam em uma mansão de quase US$ 7 milhões que estava no nome do Grupo Higa, uma empresa com contratos com o governo federal;

Nos primeiros 20 meses de gestão, Pena Nieto até tinha conseguido aprovar reformas trabalhista, judicial, energética, educacional e fiscal no pais. No cotidiano violento, porém, quase nada mudou. O México bate recordes nacionais de homicídios ano após ano e o Movimento pela Paz com Justiça e Dignidade, encabeçado pelo poeta Javier Sicilia, já identificara inúmeras denúncias de desaparecimentos ao percorrer as praças do país. No entanto, foi só com a grita dos pais e amigos dos normalistas que os desaparecimentos fincaram pé de uma vez na administração Pena Nieto. O pranto ecoou além das ruas de Iguala e Chilpancilgo.

Em abril de 2018, a última atualização do Registro Nacional de Dados de Pessoas Desaparecidas (RNPED) apontava um total de 37.455 desde 2006. O banco de informações, porém, é amplamente criticado, porque costumava apagar informações sobre possíveis “localizados”, impossibilitando a   produção de séries históricas. A crise fez com que o governo entendesse a complexidade do tema e a diferença entre tentar localizar pessoas ainda vivas e investigar ocultação de cadáveres. Como resultado foi aprovada no final do ano passado a Lei dos Desaparecidos – exigindo a criação de um sistema nacional de busca, com escritórios estaduais e um novo banco de dados, sobre o qual ainda não se tem clareza de como será feito. A missão será assumida pelo próximo presidente, Andrés Manuel Lópes Obrador, do recém-criado partido Morena, que toma posse em dezembro.

Encontrar respostas sobre como o país acumulou tantos desaparecidos não é simples, até porque os assassinatos também ultrapassam os 230 mil no mesmo período. Até integrantes do Estado admitem que foi a própria política de enfrentamento às drogas que elevou a violência. “No México, há um histórico de desaparecidos desde os anos 70″, afirmou Joaquín Torrez, coordenador de Direitos Humanos da Procuradoria-Geral da República do México. ” Só que não era um assunto do qual a opinião pública falava tanto. Mas, de 2006 a 2012, quando os combates contra os grupos do crime organizado recrudesceram, esse número disparou, admitiu Torrez, ao lembrar que seu escritório começou a receber frequentemente mães com denúncias a partir de 2013.

Na Biblioteca Americana de Ciências Sociais (Flacso), a advogada Volga de Pina também tenta o exercício. Depois de dois anos auxiliando buscas de famílias e até exumando covas clandestinas, ela agora coordena o Observatório de Desaparecimento e Impunidade da Flacso no México.

Para ela, o somatório de desaparecidos está de alguma maneira relacionado ao contexto violento a partir da “guerra ao narcotráfico”. “Os quase 38 mil que temos agora são todos consequência da violência” explicou. Nesse universo, ela aponta que nem todos os casos se demonstram desde o primeiro momento com um desaparecimento forçado. Também estão presentes os sequestros em que, por alguma razão desconhecida, a pessoa não retorna. Além disso, há o tráfico de pessoas, em especial o de mulheres.

E a lógica por trás das dinâmicas desses crimes está relacionada à transformação que os grupos de narcotraficantes sofreram desde a ascensão do temido Los Zelas, formado por desertores da tropa de elite do Exército mexicano, com treinamento em Israel e nos Estados Unidos. Quando foram recrutados, eles eram apenas a força militar do cartel do Golfo, mas, ao assumirem o poder e disputarem territórios principalmente com o cartel de Sinajoa, do igualmente assombroso Joaquín Guzmnán Loera “El Chapo”, os Zetas passaram a ter de administrar.” Então começaram a fazer sequestros, extorsões, tráfico de pessoas, roubo de combustível e gado. “Toda maneira de se financiar para controlar territórios, Isso teve reflexos em todos os grupos criminosos e nas Forças de Segurança, o que fez disparar a violência no país, apontou a advogada.

A crise não teria a mesma força sem certa cumplicidade de integrantes do Estado. A pesquisadora disse que começou a atuar em casos de desaparecimentos no estado de Veracruz, local de atuação dos Zetas. Até o fim de 2016, Javier Duarte, integrante do tradicional PRI, era o governador do estado e costumava se referir aos desaparecidos como “puros Zetas”. Respondia às queixas das mães por falta de investigações dizendo que não investiria em busca de delinquentes”.

Quando deixou o governo, ele aproveitou sua cidadania americana e fugiu do país, já temendo as investigações sobre o envolvimento do grupo de elite da polícia estadual com os narcotraficantes. Em abril de 2017, foi capturado em um hotel de luxo na Guatemala e extraditado para o México. onde está preso com seu ex-secretário de Segurança, respondendo por acusações de corrupção, mas também de desaparecimento forçado.

Há quatro anos acompanhando desaparecimentos, o repórter da Associated Press Eduardo Castillo apontou que, em Guerrero, o domínio até 2009 era do cartel dos irmãos Beltrán Leyva, quando morreu o líder Marcos Arturo Beltrán Leyva. “Quando o matam, começam as disputas, e um caos absoluto se instala”, disse Castillo. A cisão principal fica entre Los Rojos” e “Guerreiros Unidos”. E Guerrero é um estado-chave para os cartéis de droga. Estima­ se que 90% da papoula mexicana, planta-base para a cocaína, seja produzida no estado de Guerrero. Quem domina o estado domina a produção da droga. Lá a ligação entre o estado e os traficantes se tornou evidente justamente pelo desaparecimento dos 43 de Ayotzinapa.

Quando os pais dos estudantes tomaram as ruas, a advogada Maria Guadalupe Rodríguez se somou às marchas com as fotos do filho. Antes disso, só em seu caminhar, passou a ser ameaçada por ligações de números desconhecidos. Ao juntar-se aos demais, sentiu que não estava sozinha. Depois dos 43, houve o rompimento do medo”, disse. Eles foram os valentes que deram o primeiro grito de “já basta”

Com ela vieram a público de diferentes lados os parentes dos outros desaparecidos Maria Guadalupe então fundou o Coletivo de Desaparecidos e Assassinados em Chilpancingo, para ajudar outras famílias. Em um retiro espiritual, ela foi apresentada a Guadalupe Casarubias, de 58 anos. Além do mesmo nome, a mulher também dividia a mesma dor. O filho Pedro Leiva Casarubias tinha 28 anos quando saiu para trabalhar em 27 de outubro de 2012. Recordou-se dos planos dele de montar uma casa para a mulher e as duas filhas.

Casarubias era garçom e foi rendido dentro de seu trabalho – em pleno expediente e na frente dos colegas – por três homens armados pouco depois da uma hora da tarde. Ele trabalhava no restaurante Tecuân – que fica justamente na Carretera 95, que corta Chilpancingo e liga a Cidade do México a Acapulco, foi posto em cima de uma caminhonete e levado pela estrada.

Passaram-se apenas alguns minutos para que a família tomasse conhecimento do sequestro pois o próprio dono do restaurante telefonou para avisar. Atônitos tentaram eles próprios investigar e acharam nos arredores, câmeras de segurança com imagens nas quais se podiam identificar os sequestradores. Tudo foi denunciado à promotoria, que uma vez mais empilhou a denúncia sobre tantas outras.

As crianças evidenciam a face mais crua dos efeitos da violência. A dona de casa Nora Elsi, de 33 anos. mãe de quatro filhos, viu-se, da noite para o dia, sem saber do companheiro ou como sustentaria os filhos. Ela morava em uma casa no mesmo terreno dos sogros quando o marido, José Vasquei, de 32 anos, sumiu, em 5 de junho de 2013. Não podiam esbanjar, mas viviam bem com o salário que o marido ganhava como motorista da empresa coletora de lixo da cidade.

Ele saiu para trabalhar no fim da tarde e, pouco depois, já não respondia mais ao celular. Horas depois um colega de trabalho ligou para avisar que ele estava em seu carro quando foi abordado por dois homens armados que, em seguida, o renderam e o levaram. O pânico batia em mais uma porta. Nora saiu para procura-lo desde o primeiro instante. Distribuiu cartazes com suas fotos pela cidade. Os sogros, apesar da tristeza, não viam a atitude com bons olhos.

Cinco anos depois, ela mora com a mãe, a tia, três sobrinhos e os filhos em um barraco. Em um espaço com cerca de 15 metros quadrados os nove se acomodam entre um beliche e duas camas improvisadas. No canto esquerdo, logo na entrada foi instalado um fogão e forjada uma cozinha. Não há armários e as roupas ficam guardadas em sacos. Nas paredes de madeira bruta, Nora colocou fotos das crianças e da família.

“Fui desalojada. Meus sogros disseram que já não era bom a gente viver ali”, revelou, com as mãos cruzadas e o olhar fixo no chão. Eles disseram que eu coloquei a denúncia na promotoria e que estava metida em coletivos de busca, então agora os criminosos também viriam atrás da família”, lembrou ela.

No outro extremo de Chilpancingo, na Colônia Omilteni, uma mãe convive não apenas com o desaparecimento do filho, um adolescente de 15 anos, mas também com a cruel dúvida de que ele esteja sendo obrigado a trabalhar para traficantes.

A cozinheira Esther de Aquino Velasquez, de 54 anos, também vivia em situação difícil com o filho caçula, Luiz Giovani Velasquez.

No local estão duas camas de solteiro, um sofá e uma arara com as roupas. Na cômoda, logo na entrada, um altar com fotos de Luiz, a Bíblia e uma vela branca. Sentada em sua cama, ela mal conseguiu começar a contar que o filho era seu companheirinho e logo um misto de choro, desabafo e nervosismo a impediu de respirar.

Era 14 de junho de 2016, uma terça-feira, e Luiz foi chamado por alguns vizinhos para brincar. Ele estava terminando de comer. Comeu rápido, ouvindo sermões da mãe, e logo foi jogar conversa fora com os meninos na frente de casa. Enquanto os meninos brincavam, um Nissan Versa branco passou em baixa velocidade observando os garotos. Os meninos repararam, mas não deram grande atenção. Minutos depois decidiram ir jogar bola em um campinho, algumas quadras acima no morro, e foram os quatro pelas vielas da colônia. De longe, enquanto estavam na quadra, viram o mesmo carro. Ignoraram de novo.

Algum tempo depois, já cansados, decidiram voltar para casa. Quando desciam a rua, perceberam que o carro os seguia já acelerado. Assustaram-se e passaram a correr em fila. Luiz era o primeiro quando o automóvel os fechou, e um homem desceu do carro e agarrou o menino. Os outros três correram enquanto ele era colocado dentro do carro. Não o viram mais. Chegaram em casa esbaforidos e amedrontados, contando o que aconteceu.

Naquela tarde mesmo, Esther e os parentes iniciaram uma busca por ruas do bairro, hospitais e onde mais conseguiram. No outro dia, cedo foram à promotoria, que se recusou a registrar o caso, dizendo que eram necessárias 24 horas para aceitar a denúncia. Quando voltaram na manhã seguinte, ouviram insinuações de que o menino estava naquela situação porque seria um criminoso, o que revoltou a família. “Disse ao promotor: ‘Você acha que eu estaria aqui se fosse assim?”, relembrou.

O alerta “amber”, emitido em caso de menores, foi acionado, mas retirado no dia seguinte, quando servidores colheram o DNA de Esther para o banco genético de parentes de vítimas. A prática costuma irritar os pais, que querem que as autoridades procurem seus filhos vivos, não que fiquem à espera de exames com cadáveres.

Quase um ano se passou sem que Esther tivesse qualquer notícia de seu filho. Em abril deste ano, em meio a uma caravana de procura de desaparecidos, uma informação voltou a deixá-la inquieta. Como a sistematização de dados ainda é bastante falha, as famílias fazem buscas até dentro das prisões. A cozinheira entrou no corredor de celas com a foto do filho junto ao peito e, minutos depois, um preso passou a encará-la, o que foi notado pela comissão.

“Um dos comissionados me pegou pelo braço e disse ‘venha’. Quando cheguei à outra sala, o rapaz estava lá e disse: ‘Conheço seu filho, ele está em tal lugar e lá está trabalhando”, lembrou ela, ao dizer que o homem identificou a colônia e alertou que o jovem é vigiado por traficantes. Três meses depois a promotoria não fez nenhuma ação para tentar localizar Luiz. Na casa de Esther, a agonia tem lhe custado a fé. “Às vezes, tenho raiva de Deus”, desabafou. “Era só um menino quando tiraram sua liberdade.”

Casos semelhantes já foram noticiados pela imprensa mexicana tanto na Revista Proceso como no projeto Animal Político. Estima-se que os sequestros rendam até USS 50 milhões por ano para o crime organizado. Para a médica Patricia Retana, de 51 anos, a tentativa de salvar o filho lhe custou US$ 3 mil e, mesmo assim, não teve sucesso. Aos 17 anos, José Ismael Martin Retana trabalhava como DJ na boate malquerida em uma das praias da Baía de Acapulco.

Saiu de casa na noite de 13 de agosto de 2017, como tantas outras vezes. Patrícia reparou que o filho ainda não tinha chegado, mas saiu porque estava de plantão. Pouco antes de atender o primeiro paciente, um número desconhecido ligou para seu celular. Ela disse que quando atendeu ouviu a voz de José Ismael: “Mãe, tenho um problema. Estou com algumas pessoas que querem falar contigo”, contou ela, com voz embargada, dizendo que foi a última vez que o ouviu. “Ele passou o telefone e a pessoa disse: ‘Sabes quê? Queremos uma certa quantia de dinheiro para devolver seu filho”, recordou Patrícia.

Mal desligou o telefone, ela solicitou ajuda da promotoria antissequestro para monitorar as ligações. Resolveu fazer a entrega do resgate com apoio da polícia. “Fui sozinha deixar o dinheiro, mas havia gente da promotoria monitorando. Só que eles não prenderam ninguém. Disseram que os sequestradores escaparam.” Ela, porém, prestou muita atenção na padaria onde deixou a bolsa com o dinheiro e reparou ainda no homem que falava ao celular na esquina da rua.

Quando voltou para casa, passou a pesquisá-lo em notícias sobre presos. Acabou por encontrá-lo no Facebook, o que o levou à prisão.

Ele, porém, não admitiu o sequestro, e agora ela é quem convive com um ambiente de medo e ameaças. Patrícia integra o grupo Famílias de Acapulco em Busca de Seus Desaparecidos, com mais 100 pessoas na mesma situação.

Se há quem tenha esperança de encontrar parentes vivos, os pais também precisam conviver com o pesar de ter de identificar seus filhos mortos. Alguns, cansados de viver a agonia da ausência, passaram a subir morros e escavar o chão em busca de covas clandestinas. Até o fim de 2016, a Comissão Nacional de Direitos Humanos do México identificou 855 covas clandestinas.

No estado de Guerrero, isso significou a instalação de um cenário de completo caos no Serviço Médico Forense (Semefo), que passou a acumular corpos sem identificação desde 2011. Hoje, são 656 cadáveres, distribuídos em três unidades. O mau cheiro infestava até as ruas próximas da sede da Semefo. “O cheiro era tão forte que às vezes mal se podia estar aqui”, contou Ben Martinez Ychuda, diretor da Semefo.

O cenário de desolação estrutural só começou a mudar a partir de novembro de 2016, quando a Semefo passou a produzir arquivos básicos desses corpos antes que eles fossem enterrados, em um trabalho que tem até hoje consultoria do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV). Essas pastas possuem exames de DNA, autópsia, estudo antropológico, entre outros dados que permitem a identificação após o sepultamento em covas numeradas. Há dúvida sobre como serão pagos os 15 milhões de pesos – RS 3 milhões – necessários para produzir as pastas de arquivos básicos dos 656 corpos acumulados. O maior desafio é a implementação do sistema de busca e investigação criado pela Lei dos Desaparecidos, esperança para que outras famílias mexicanas não vivam mais em meio ao descaso. Uma responsabilidade que será assumida pelo novo presidente, Andrés Manuel López Obrador, a partir de 1º de dezembro.

Desaparecidos S.A.2

GESTÃO E CARREIRA

PRISÃO INTERIOR

Eles não querem estar na empresa, mas também não saem. Saiba identificar os profissionais entrincheirados, por que isso acontece e como lidar com a situação.

Prisão interior

Marlene Dias acorda todo dia às 6 horas para estar às 8 em ponto no setor de administração da empresa em que trabalha. Quando entrou na organização, em 2016, ela despertava pronta para os desafios profissionais do dia. Dois anos depois, Marlene levanta sem o entusiasmo de antes. “Não aguento mais fazer a mesma coisa, mas não posso deixar o emprego. Tenho dois filhos na faculdade e preciso dos benefícios. Além disso, o mercado está ruim. Se saio, talvez não consiga um cargo tão bom quanto o que tenho”, afirma. Marlene não sabe, mas é uma profissional entrincheirada. O conceito, proposto pelos pesquisadores americanos Kerry Carson, Paula Carson e Arthur Bedeian, refere-se ao funcionário que permanece no serviço, sobretudo por necessidade. Segundo os autores, o indivíduo entrincheirado leva em consideração três conjuntos de fatores para continuar no emprego.

O primeiro seria o investimento para estar em seu cargo. Aqui, entram treinamentos feitos para realizar atividades específicas, o tempo que levou para se adaptar a processos corporativos, o reconhecimento conquistado e o relacionamento com colegas. Se o trabalhador sente que perderá isso saindo da empresa, ele acaba ficando. O segundo conjunto refere-se à estabilidade financeira e aos benefícios em geral, como férias, 13° salário, bônus e participação nos lucros. Se a pessoa está implicada financeiramente e não pode abrir mão dessas regalias, ela também permanece na organização. No entanto, é o terceiro conjunto de fatores que define a amarra invisível: quando o empregado desconfia que não conseguirá outra posição caso deixe a companhia seja por enxergar lacunas em seu perfil profissional, seja por considerar que sua idade desfavorece sua reinserção no mercado de trabalho, entre outros.

IDENTIFIQUE OS APRISIONADOS

A tese de doutorado Trabalhador entrincheirado ou comprometido?, da professora Ana Carolina de Aguiar Rodrigues, doutora em psicologia social e do trabalho pela Universidade Federal da Bahia, corrobora a ideia de que a percepção do funcionário sobre falta de alternativa configura o entrincheiramento – e é um bom começo para o líder de RH. Com base nisso, pode se perguntar por que o empregado tem essa sensação? Quando, como e de que maneira as expectativas dele se desalinharam com as da corporação? Quando isso acontece, é o fim de um ciclo ou ainda há o que fazer?

Para Marcia Fernandes, diretora da Fundação Promon de Previdência Social e diretora de RH há 20 anos, o primeiro passo é identificar os “aprisionados” – tarefa nem sempre fácil. “Pesquisas de clima e avaliações periódicas ajudam. Apesar de o entrincheirado não ser um funcionário ruim, essa sensação acaba gerando alguma consequência em seu trabalho e no dos que estão à sua volta”, diz.

Algumas pistas ajudam a enxergar um empregado assim. Segundo Henrique Vailati, diretor de recursos Humanos da Roche Diagnóstica, os que se sentem presos perdem o interesse em se atualizar e inventam desculpas pela carência de resultados. “Além disso, tendem a colocar a responsabilidade de suas ações, ou a falta dela, nos outros”, afirma. Marcia percebeu ainda que a pessoa deixa de oferecer além do que é esperado para sua função. “Se a empresa implementa grupos, como os de estudo, e o funcionário nunca participa, isso pode ser um indicio de entrincheiramento.”

COMPARTILHE A RESPONSABILIDADE

Não basta, entretanto, focar apenas as falhas do indivíduo. A área de gestão de pessoas também tem sua cota de responsabilidade nessas situações. “Se a corporação não oferece treinamentos, desafios, não valoriza o profissional que merece ser promovido nem institui uma boa política de feedback, ela pode frustrar as expectativas do trabalhador, a ponto de ele ficar no emprego só por necessidade”, afirma Marcia.

A executiva destaca que as trincheiras podem surgir de situações circunstanciais. “Investimos num MBA no exterior para um empregado, com o intuito de que ele voltasse à companhia e assumisse mais responsabilidades”, diz Marcia. Mas houve uma mudança de cenário e, quando o profissional voltou, a Promon não tinha um cargo adequado às suas novas habilidades. Ele ficou um tempo conosco em seu cargo anterior, por necessidade. Como não tínhamos como suprir suas expectativas, preferimos desligá-lo e tê-lo no radar para outro momento da companhia.”

Francisco Cherny, diretor e especialista em liderança e gestão de pessoas na consultoria Axialent, afirma que o assunto é visto como tabu. “O funcionário teme falar que está na corporação por necessidade e ser demitido. A área de recursos humanos por sua vez, encara a demissão do entrincheirado como a única saída, o que é equivocado.” Apesar de não existir um manual aplicável a todos os “prisioneiros”, uma coisa deve ser feita em qualquer situação: conversar com empatia para entender porque a pessoa se sente presa, para, junto com ela, chegar a uma solução adequada para ambos os lados, ou se o profissional percebe que a companhia vai ajudá-lo, ele tende a falar com franqueza sobre assuntos importantes, como satisfação, motivação, engajamento e expectativas”, diz Cherny.

ENTENDA AS AMARRAS

Ana Carolina Rodrigues, que dá aulas na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, recomenda ao RH evitar uma visão rígida sobre motivação, satisfação e engajamento do entrincheirado – até porque nem sempre ele está completamente desmotivado, insatisfeito e desengajado. “Muitas vezes, vê-se a motivação como um conceito generalizado, mas ela está relacionada a uma atividade específica”, diz a professora. “O trabalhador pode se animar para realizar algumas atividades; outras, não. O que deve ser analisado são os estados de frequência motivacional”.  A satisfação tampouco, é única: o indivíduo pode estar satisfeito com a equipe, mas não com o líder, por exemplo. Dificilmente há contentamento em todos os aspectos do trabalho. Em relação ao engajamento, há duas variáveis: mobilização e aplicação de energia – e o significado das tarefas para o indivíduo.

Esses três conceitos (motivação, satisfação e engajamento) estão relacionados ao entrincheiramento e, por isso, devem ser pauta na conversa com os empregados. “A pessoa faz um balanço desses fatores para avaliar sua relação com a empresa. A organização, por sua vez, analisa resultados, motivação, satisfação e engajamento do funcionário para ver o que pode ou não ser melhorado. É esse alinhamento de expectativas que balizará a decisão a respeito da saída ou não de alguém” diz Vailati, da Roche. Ele reitera a importância de mostrar às pessoas que essa é uma percepção, não uma realidade. “Apesar de o profissional sentir que não tem saída, há sempre uma solução.”

Pequenas transformações também melhoram a percepção do indivíduo. “Às vezes, o empregado quer mudanças simples, como fazer home office uma vez por semana. Se a companhia oferece isso, ele pode se reengajar em suas atividades”, diz Cherny, da Axialent. Por isso, a importância de conversar abertamente.

ABRA AS CORRENTES

Além das pesquisas de clima e avaliação constante, outra forma de minimizar a sensação de prisão é abrir espaços para assuntos de interesse dos funcionários que estejam conectados à estratégia da organização. Na startup Social Miner, que implementa soluções de inteligência artificial em marketing, o RH criou o programa Missões, no qual o pessoal propõe e lidera projetos na companhia. Terena Sarpi, líder em gestão de pessoas, acredita que a iniciativa tem potencial para reconectar os profissionais. “Eles se sentem desafiados a fazer um cruzamento entre assuntos que os motivam e nossas áreas de atuação. Além disso, tem a oportunidade de exercitar habilidades que não necessariamente usam no dia a dia”, diz. Um exemplo é o da funcionária da área de atendimento ao cliente que montou um plano para conscientizar os colegas de trabalho sobre o impacto ambiental do lixo e elaborou uma proposta para a Social Miner descartar adequadamente os materiais.

O envolvimento da área de recursos humanos com os medos e os anseios dos trabalhadores é essencial para minimizar o entrincheiramento. A Roche Diagnóstica tirou o peso negativo que a palavra “avaliação” costuma ter: “Estabelecemos o check-in, uma maneira mais informal de o gestor dar feedback aos trabalhadores”, afirma Vailati. No lugar daquele processo com data marcada, os funcionários são incentivados a tomar um café com o chefe e a falar sobre expectativas e objetivos – inclusive ouvindo as aspirações do líder.

Com mais diálogo e sensibilidade, quem sabe as empresas conseguirão se reconectar ás Marlene que existem mundo afora.

 Prisão interior.2

QUEM É O ENTRINCHEIRADO

O perfil mais comum é o que apresenta satisfação, motivação e engajamento baixos de forma geral. Há também aquele que demonstra níveis considerados adequados para a empresa, mas que gostaria de estar mais satisfeito, motivado e engajado. É possível que esse funcionário cumpra as expectativas do chefe, entregando o que precisa, mas que esteja deixando de lado as próprias expectativas de carreira. Nos dois casos, quando há um desalinhamento entre perspectivas e o trabalhador não sai porque não vê outra possibilidade no mercado, há o entrincheiramento.

ALIMENTO DIÁRIO

JOÃO 14: 15-17

Alimento diário

O Sermão Consolador de Cristo

Cristo não apenas lhes propõe estas coisas como sendo a questão do seu consolo, mas aqui Ele lhes pro­ mete enviar o Espírito, cuja função seria a de ser seu Consolador, para gravar neles estas coisas.

 

I – Ele estabelece como premissa a isto a lembrança de um dever (v. 15): “Se me amardes, guardareis os meus mandamentos”. Guardar os mandamentos de Cristo é aqui colocado como a prática da bondade em geral, e como o desempenho fiel e diligente do seu trabalho como apóstolos, em particular. Observe:

1. Quando Cristo os está consolando, Ele lhes pede que guardem seus mandamentos, pois não devemos esperar consolo, exceto no caminho do dever. A mesma palavra significa tanto exortar quanto consolar.

2. No momento em que eles estavam preocupados quanto ao que deveriam fazer e o que aconteceria com eles, agora que seu Mestre os estava deixando, Ele lhes pede que guardem seus mandamentos, e então nada de errado acontecerá com eles. Em tempos difíceis, nossa preocupação com os eventos do dia deve ser sobrepujada pela preocupação com os deveres do dia.

3. No momento em que eles estavam mostrando seu amor por Ele, pela tristeza que sentiam ao pensar na sua partida, e pela tristeza que encheu seus corações devido a esta perspectiva, Ele lhes diz que, se desejavam mostrar seu amor por Ele, fizessem isto, não pelas paixões fracas e humanas, mas pela sua preocupação consciente em realizar o que lhes havia sido confiado, e por uma obediência universal aos seus mandamentos. Isto é melhor do que o sacrifício, é melhor do que as lágrimas. “Amas-me? Apascenta as minhas ovelhas”. 4. Depois de ter-lhes dado as preciosas promessas da resposta às suas orações e da vinda do Consolador; Ele estipula, como uma limitação às promessas, isto: “Desde que vocês guardem meus mandamentos, por um princípio de amor por mim”. Cristo não será advogado de ninguém, a não ser daqueles que desejarem ser governados e orientados por Ele como seu Conselheiro. Sigam a conduta do Espírito, e terão o consolo do Espírito.

 

II – Ele lhes promete esta grande e indescritível bênção, vv. 16,17.

1. Está prometido que eles terão outro consolador.

Esta é a grande promessa do Novo Testamento (Atos 1.4), assim como a promessa do Messias foi a grande promessa do Antigo Testamento. Uma promessa adaptada à atual angústia dos discípulos, que estavam tristes e precisavam de um consolador. Observe aqui:

(1) A bênção prometida: Esta expressão é usada somente aqui nestes sermões de Cristo, e em 1 João 2.1, onde é traduzida como Advogado. A versão de Rheims e o Dr. Hammond são favoráveis à preservação da palavra grega Paracleto. Nós lemos, em Atos 9.31, sobre a a consolação do Espírito Santo, incluindo todas as suas funções como um advogado.

[1] Vocês terão outro advogado. A função do Espírito era a de ser um advoga do da parte de Cristo para eles e para outros, defendendo sua causa e cuidando dos seus interesses na terra, ser o Vigário de Cristo, como um dos antigos o chama, e ser o advogado deles frente aos seus opositores. Quando Cristo estava com eles, Ele falava por eles quando havia oportunidade. Mas agora que Ele os está deixando, eles não serão enfraquecidos, pois o Espírito do Pai falará neles, Mateus 10.19,20. E a causa não pode malograr aquilo que é defendido por um advogado como Ele.

[2] Vocês terão outro mestre ou professor, outro exortador. Enquanto Cristo estava com eles, Ele os instigava e exortava para seu dever. Mas agora que Ele está partindo, Ele deixa com eles alguém que irá fazer isto com a mesma eficiência, embora silenciosamente. A palavra mais adequada é um “patrono”, alguém que irá, ao mesmo tempo, instruir e proteger.

[3] “Outro consolador”. Cristo era esperado como a consolação de Israel. Um dos nomes do Messias, entre os judeus, era Menahem o Consolador. Os Targuns chamam os dias do Messias de anos de consolação. Cristo consolava seus discípulos quando estava com eles, e agora que Ele os estava deixando em sua maior necessidade, Ele lhes promete outro Consolador.

(2) Quem dá esta bênção: o Pai dará o Consolador; “meu Pai” e “vosso Pai”. Assim, o Senhor Jesus inclui, nesta expressão, tanto a si mesmo como a seus seguidores. O mesmo que deu o Filho para ser nosso Salvador dará seu Espírito para ser nosso consolador, prosseguindo com o mesmo desígnio. Está escrito que o Filho enviará o Consolador (cap. 15.26), mas o Pai é o agente principal.

(3) Como esta bênção é obtida – pela intercessão do Senhor Jesus: “Eu rogarei ao Pai”. Ele disse (v. 14): “Eu o farei”. Aqui Ele diz: “E u rogarei”, para mostrar não somente que Ele é, ao mesmo tempo, Deus e homem, mas que Ele é, ao mesmo tempo, rei e sacerdote. Como sacerdote, Ele é ordenado para fazer intercessão pelos homens. Como rei, Ele está autorizado, pelo Pai, para realizar julgamento. Quando Cristo diz: “Eu rogarei ao Pai”, isto não pressupõe que o Pai não esteja disposto, ou deva ser importunado para fazer isto, mas somente que o dom do Espírito é um fruto da mediação de Cristo, comprado pelos seus méritos e obtido pela sua intercessão.

(4) A continuidade desta bênção: “Para que fique convosco para sempre”. Isto é:

[1] “Para que fique com vocês, enquanto vocês viverem. Vocês nunca sentirão a falta ele um consolador, nem lamentarão sua partida, como estão agora lamentando a minha”. Observe que o fato de que há consolações duradouras providenciadas para nós eleve nos sustentar na perda daquelas consolações que estavam designadas para nós, durante algum tempo. Não era recomendado que Cristo estivesse com eles para sempre, pois aqueles que são designados para o serviço público não elevem viver apenas uma viela ele aprendizado, mas precisam trabalhar para o Senhor. Eles elevem se dispersar, e por isto um consolador que estaria com todos eles, em todos os lugares, igualmente, por mais dispersos que fossem e por mais aflitos que estivessem, era o único adequado para estar com eles para sempre.

[2] “Com seus sucessores, quando vocês tiverem partido, até o final elos tempos. Seus sucessores no cristianismo, no ministério”.

[3] Se entendermos “para sempre” na sua duração máxima, a promessa será cumprida naquelas consolações ele Deus que serão a alegria eterna ele todos os santos, nos prazeres eternos.

2. Este consolador é o “Espírito ela verdade”, que vós conheceis, vv. 16,17. Eles poderiam pensar que era impossível ter um consolador equivalente àquele que é o Filho ele Deus. “Sim”, diz Cristo, “vocês terão o Espírito ele Deus, que é igual, em poder e glória, ao Filho”.

(1) O consolador prometido é o Espírito, alguém que faria seu trabalho ele uma maneira espiritual, interna­ mente e de modo invisível, trabalhando no espírito elos homens.

(2) Ele é “o Espírito da verdade”. Ele será fiel a vocês, e à sua missão por vocês, que Ele desempenhará completamente. Ele lhes ensinará a verdade, esclarecerá suas mentes com o conhecimento dela, fortalecerá e confirmará sua fé nela, e irá aumentar seu amor por ela. Os gentios, pelas suas idolatrias, e os judeus, pelas suas tradições, foram levados a graves erros e enganos. Porém, o Espírito da verdade não somente os conduzirá a toda a verdade, mas também conduzirá a outros, pelo seu ministério. Cristo é a verdade, e Ele é o Espírito de Cristo, o Espírito com o qual Ele foi ungido.

(3) Ele é aquele que “o mundo não pode receber”, mas “vós o conheceis, porque habita convosco”.

[1] Os discípulos de Cristo são aqui distinguidos do mundo, pois eles são escolhidos e separados do mundo que está na iniquidade. Eles são os filhos e herdeiros do outro mundo, não deste.

[2] A desgraça daqueles que são inquestionavelmente devotados ao mundo consiste no fato de que não podem receber o Espírito da verdade. O espírito do mundo e o de Deus são descritos como diretamente contrários um ao outro (1 Coríntios 2.12), pois onde o espírito do mundo tem influência, o Espírito de Deus é excluído. Mesmo os príncipes deste mundo, embora, sendo príncipes, tivessem as vantagens do conhecimento, ainda assim, sendo príncipes deste mundo, se empenhavam sob preconceitos indestrutíveis, ele modo que não conheciam “as coisas do Espírito de Deus”, 1 Coríntios 2.8,14.

[3] Os homens não podem receber o Espírito da verdade porque não o veem, nem o conhecem. Os consolos do Espírito lhes parecem loucura, assim como a cruz de Cristo, e as grandes coisas do Evangelho, como aquelas sobre a lei, são consideradas coisas estranhas. Estes são julgamentos muito além da sua compreensão. Fale aos filhos deste mundo sobre as operações do Espírito, e vocês serão como um bárbaro para eles.

[4] O melhor conhecimento do Espírito da verdade é aquele que é obtido pela experiência: “Vós o conheceis, porque habita convosco e estará em vós”. Cristo tinha habitado com eles, e, pelo relacionamento que tinham com Ele, não podiam deixar de conhecer o Espírito da verdade. Eles mesmos tinham sido dotados de uma certa porção do Espírito. O que os capacitou a deixar tudo para seguir a Cristo, e a continuar com Ele nas suas tentações? O que os capacitou a pregar o Evangelho, e a realizar milagres, senão o Espírito que habitava neles? As experiências elos santos são as explicações das promessas. O que, para outros, é paradoxo, para eles é axioma.

[5] Aqueles que têm um conhecimento experimental do Espírito têm uma garantia confortável da sua continuidade: Ele “habita convosco, e estará em vós”, pois o bendito Espírito não costuma mudar de residência. Aqueles que o conhecem, sabem como valorizá-lo, convidá-lo e acolhê-lo, e, portanto, Ele estará com eles, como a luz no ar, como a seiva na árvore, como a alma no corpo. Sua comunhão com Ele será íntima, e sua união com Ele será inseparável.

[6] O dom do Espírito Santo é um dom peculiar, concedido aos discípulos de Cristo de uma maneira distinta – a eles, e não ao mundo. Para eles, é o maná escondido e a pedra branca (Apocalipse 2.17). Nenhum consolo é comparável àquele que não se exibe, que não faz ruído. Este é o favor que Deus concede aos seus escolhidos. É a herança daqueles que temem seu nome.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

URSINHO DE PELÚCIA DESPERTA A ÉTICA EM ADULTOS

Proximidade com brinquedos e outros objetos associados a crianças pode ativar sentimentos de empatia e desejo, ainda que inconscientemente, de ser honesto.

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A ideia parece estranha, mas duas pesquisadoras garantem: adultos trapaceiam menos e apresentam comportamentos mais altruístas e voltados ao bem-estar comum quando estão diante de objetos diretamente associados a crianças, como bichinhos de pelúcia e giz de cera. O mecanismo que move o despertar do “bom comportamento” está embasado na constatação já feita de que homens e mulheres tendem a liberar oxitocina quando estão perto de crianças e essa substância está ligada a condutas que podem favorecer a socialização, a empatia e, consequentemente, a preocupação com o bem-estar do outro.

“ícones que remetem à infância podem ativar inconscientemente a noção de bondade, como se quiséssemos preservar algo de puro em nós, como a honestidade, honra e integridade”, afirma a psicóloga Sreedhari Desai, integrante do grupo de pesquisa Edmond J. Safra, no Centro de Ética da Universidade Harvard, e professora da Universidade do Norte da Califórnia, em Chapei Hill. Ela e a também psicóloga Francesca Gino, professora da Faculdade de Negócios da Universidade Harvard, submeteram voluntários a experimentos clássicos da psicologia. Num deles, uma pessoa controlava quanto dinheiro os outros ganhavam e podia ser beneficiada caso optasse por mentir. Metade dos participantes foi colocada numa sala com brinquedos e tomou parte em atividades próprias de crianças antes da atividade. Resultado? Esses voluntários trapacearam menos e foram mais generosos do que seus colegas que não tiveram contato com aqueles objetos nem brincaram antes do teste.

Em estudos feitos em laboratório, quando havia brinquedos por perto ou os voluntários assistiam a um desenho animado, o total de “trapaceiros” caía quase 20%. Várias vezes foi utilizado um jogo em que a pessoa tinha de completar as letras que faltavam para formar uma palavra. “Quem havia sido submetido antes a ‘coisas de criança’ era muito mais inclinado a formar palavras ligadas a virtudes e pureza; além do mais, se portava melhor perto de ícones do universo infantil, ainda que enfrentasse algum desafio ou não estivesse particularmente satisfeito”, diz a professora.

Ela conta que para saber como esse mecanismo funcionava na vida real, e não apenas dentro do laboratório, as pesquisadoras acessaram uma enorme quantidade de informações sobre empresas, levando em conta se os profissionais das instituições contribuíam com regularidade para instituições sociais, e as cruzaram com dados geográficos. Descobriram então um dado curioso: se houvesse cinco ou mais creches ou pré-escolas num raio de três quilômetros da sede da empresa, as doações feitas para causas filantrópicas aumentavam consideravelmente. Mas como estabelecer essa relação entre generosidade e proximidade com crianças? “Fizemos uma análise para controlar inúmeras variáveis e também a densidade demográfica, porque vários estudos já mostraram que as pessoas tendem a se portar de modo menos empático em lugares muito populosos”, explica Desai. Mesmo considerando todos esses fatores, quanto mais creches e escolas para pequenos houvesse por perto, mais as empresas se envolviam em atividades filantrópicas e projetos que beneficiassem a comunidade.

Embora para muita gente pareça improvável que a mera presença de um brinquedo ou uma caixa de giz de cera seja capaz de alterar o comportamento de uma pessoa, as pesquisadoras encontram apoio para sua tese em outras espécies. Os macacos de gibraltar machos, por exemplo, carregam os filhotes entre os integrantes do grupo, como forma de estimular a cooperação entre os membros e pacificar situações de conflito. Assim como os humanos, seus cérebros liberam oxitocina quando es­ tão perto de filhotes.

O estudo traz indicações de aplicações práticas com base nas conclusões: as autoras sugerem a instalação de creches próximas ao local de trabalho dos pais, argumentando que isso poderia levar a um clima de mais transparência e retidão moral nas instituições. E em tempos de crise ética tão exacerbada no Brasil, fica a dúvida: será que espalhar ursinhos de pelúcia traria mais honestidade a governantes e empresários? “Talvez, mas ainda precisamos pesquisar mais”, diz Sreedhari Desai.

OLHOS GRANDES CONTRA O PRECONCEITO

Numa nova etapa da pesquisa, a proposta das cientistas Sreedhari Desai e Francesca Gino é pesquisar outras áreas e situações em que associações mentais em relação à presença dos pequenos surtem efeito sobre adultos. A proximidade com crianças de variadas etnias colocaria estereótipos em xeque e, consequentemente, ajudaria a combater preconceitos? Outro rumo possível seria investigar se os traços físicos infantis despertam reações específicas. “Tendo em vista que crianças têm características em comum (como olhos grandes, testa ampla, queixo pequeno e corpo rechonchudo), me questiono se inconscientemente a maioria das pessoas teria a impressão de que empresas chefiadas por adultos com ‘cara de bebê’ seriam menos propensas a despejar produtos tóxicos em rios ou cometer crueldades contra animais”, cogita Desai.

OUTROS OLHARES

 A MENINA PASTORA

Com cantos religiosos, pregação incansável e profunda devoção, Vitória de Deus, de 10 anos, conquista o público das mídias sociais e das ruas de São Paulo.

A menina pastora

A pequena Vitória Santos de Deus, de 10 anos, é um talento precoce. Sua pureza infantil comove e sua voz em formação se destaca pela potência. Demonstrando profunda fé em Deus e devoção religiosa, ela controla seus gestos com total consciência e tem uma fala cheia de dramaticidade. É uma criança realmente cativante e poderosa. Vitória ganhou fama nos últimos três meses cantando gospel e pregando a palavra do Senhor em vários locais de São Paulo, especialmente no bairro do Brás e na avenida Paulista, onde se apresenta aos domingos, nas proximidades do Masp. Ela tem angariado uma multidão de seguidores no Instagram e no YouTube com sua exortação religiosa, graciosidade e também pela interação com astros e estrelas, como Anitta, com quem fez uma transmissão ao vivo, e Nego do Borel, para quem orou. Sua conta no Instagram foi de zero a 318 mil seguidores de maio para cá e seu canal no YouTube alcançou 26,5 mil seguidores no mesmo período. “Desde pequena eu tenho esse dom. Eu tinha três anos e já comecei a cantar”, lembra Vitória. “No começo meu pai não queria me levar para as ruas, mas eu nasci para pregar a palavra de Deus”.

Vitória nasceu em Petrolina, Pernambuco, e tem viajado pelo Brasil desde um ano de idade na companhia do pai, o funileiro Cícero Graciliano de Deus, de 51 anos, que também é cantor de gospel e seu grande incentivador. Assim que nasceu, a menina teve graves problemas respiratórios, mas conseguiu sobreviver.

Ia se chamar Ester, mas uma missionária da sua cidade natal sugeriu o nome de Vitória e disse que a menina tinha um dom divino. Aos cinco anos, começou a exibir seus dotes artísticos e seu ardor religioso em apresentações nas ruas. Antes de chegar a São Paulo, no começo do ano, morou nas cidades de Formosa e Campos Belos, em Goiás, e em Brasília, onde gravou seu primeiro CD, então com oito anos. Diz, porém, que em São Paulo encontrou o que buscava. “Aqui é o meu lugar, eu vim para cá pregar a palavra de Deus porque aqui há um grande fluxo de pessoas e muitos moradores de rua”, afirma. “Eu tenho um sonho de pregar para as multidões e também de montar um centro de recuperação para as pessoas desamparadas”.

FELICIDADE

Separado da mãe, que vive em Petrolina, Cícero cuida, em suas andanças pelo país, de Vitória e de outros quatro filhos pequenos, a maior de 13 e o menor de quatro anos. Todos dividem um quarto numa quitinete na periferia da cidade de Suzano, na Grande São Paulo. O pai diz que os cantos e orações da filha estão reservados para os fins de semana, quando a menina tem folgas na escola. Vitória cursa a quinta série no colégio Jacques Yves Cousteau, em Suzano. Ela gosta de estudar e no futuro quer ser pastora e juíza. “Para ser pastora tem que estudar bastante e ler sempre a Bíblia”, diz. “E quero ser juíza para poder julgar o certo e o errado”. Cícero trabalha consertando panelas e fogões, mas tem poucos clientes em São Paulo. É a pregação de Vitória que garante hoje o sustento da família e permitiu que Cícero comprasse um carro velho, um Renault Scenic 2004, que quebra toda hora, mas tem garantido o transporte da garota. Numa pregação de três horas na Paulista, Vitória consegue cerca de 150 reais. “Nós não viemos para cá por causa do dinheiro, a gente vem por causa da palavra. Se fosse por dinheiro eu estava ganhando meus 200, 300 reais todo dia em Brasília”, diz Cícero. “A minha casa é muito feliz, nós não temos quase nada dentro de casa, mas todas as crianças têm aquele jeito gostoso de ser, todas louvam a Deus e todas oram. Nós não temos dinheiro, mas a gente tem felicidade.”

Vitória é frequentadora da igreja pentecostal O Brasil para Cristo e prega tanto nas ruas quanto em vários templos da cidade, a convite dos pastores. Seu público é amplo e, recentemente, ela caiu nas graças dos chamados pocs, gíria para designar os gays efeminados de periferia. Depois de se enfrentar com o público LGBT por causa de alguns comentários considerados homofóbicos no ano passado – disse por exemplo que “a gente é filho de Adão e Eva, não de Adão e Ivo” -, Vitória conseguiu reverter a má impressão. Posteriormente ela gravou um vídeo – clipe com a cantora trans Laddy Chokey e declarou que amava os pocs e todas as pessoas LGBT.

“Minha mensagem para elas é uma só: Jesus Cristo ama cada uma delas e morreu na cruz para salvar as nossas vidas”, diz a menina pastora.

A menina pastora.2

GESTÃO E CARREIRA

A IMPORTÂNCIA DO LEGADO

Ter ciclos consistentes de carreira numa empresa vale mais do que pular de galho em galho sem realizar nada de expressivo.

A importância do legado

A oscilante economia do Brasil nos ensina a ser malabaristas na gestão de nossas vidas. Entre crises e períodos de crescimento, nós seguimos sobrevivendo. Olhando rapidamente para o passado, em poucos anos, alternamos tormentas de desemprego a períodos de exuberância financeira com intensa oferta de trabalho.

A habilidade de lidar com esses altos e baixos transformou o profissional brasileiro num guerreiro global. Fato é que várias empresas ao redor do mundo reconhecem nossa capacidade de adaptação e improviso. E não é à toa. Os muitos anos de experiencia lidando com o caos geraram musculatura e repertório para gerenciar mudanças. Por outro lado, o caldo de instabilidade gera alguns efeitos nocivos na condução da carreira. Nos períodos de recessão, a necessidade de recolocação faz com que muitos profissionais sejam obrigados a aceitar posições inferiores. A redução de salários gera desconforto e impacta na decisão de troca de trabalho assim que a economia melhora. Já os períodos de crescimento intenso revelam um déficit de pessoas qualificadas e obriga empresas a contratar com muita voracidade, gerando ofertas irresistíveis e movimentos de carreira impensados.

Isso aconteceu em 2012, quando a economia se recuperou da crise global entre 2008 e 2009 e causou expansão em oportunidades de trabalho jamais vistas. Chegamos a crescer 7,5% e isso gerou um exército de profissionais que ficavam especulando oportunidades e trocando de trabalho a cada seis meses.

Mas, nesse pêndulo dramático de crise-crescimento, não podemos deixar de lado a construção dos ciclos consistentes na carreira. Um profissional é avaliado pela história que constrói, em outras palavras: os resultados que ele deixa nas companhias pelas quais passou. O legado é o ativo de carreira que forma a marca daquela pessoa. As trocas frenéticas de emprego movidas pelas oportunidades que surgem podem transformar o currículo numa lista de trabalhos sem conclusão.

O mercado é cruel e não deixará de avaliar de forma negativa o currículo sem consistência. A regra dos ciclos consistentes vale para todos, do estagiário ao presidente. É necessário ter projetos com início e conclusão para formar uma carreira de valor. Se ficar sempre pensando no próximo posto se tornará um especialista em explicar por que trocou de trabalho em vez de mostrar suas realizações.

Antes de fazer escolhas é preciso refletir se o seu ciclo na organização realmente já se encerrou. Investigue a cultura e o novo projeto com profundidade. Boas explicações sobre trocas de emprego não sustentam uma carreira. O que faz a diferença é o legado.

 

RAFAEL SOUTO – é fundador e CEO da Consultoria Produtive, de São Paulo. Atua com planejamento e gestão de carreira, programas de demissão responsável e de aposentadoria.

ALIMENTO DIÁRIO

JOÃO 14: 12-14

Alimento diário

O Sermão Consolador de Cristo

Os discípulos, da mesma maneira como estavam cheios de tristeza por terem que separar-se do seu Mestre, também estavam cheios de preocupação com o que aconteceria com eles quando Ele tivesse partido. Enquanto Ele estava com eles, Ele lhes dava suporte, mantinha-os encorajados, mantinha-os estimulados. Mas, se Ele os deixasse, eles seriam como “como ovelhas que não têm pastor”, uma presa fácil para aqueles que procuram capturá-las. Agora, para silenciar estes temores, aqui Cristo lhes assegura que eles serão revestidos com poderes suficientes para suportá-los. Assim como Cristo tem todo o poder, eles, em seu nome, terão grande poder, tanto no céu quanto na terra.

 

I – Grande poder na terra (v. 12): ”Aquele que crê em mim”, como Eu sei que vocês creem, “também fará as obras que eu faço”. Isto não enfraquece o argumento que Cristo tinha extraído das suas palavras, para provar que era um só com o Pai (o fato de que outras pessoas poderiam realizar obras tão grandes quanto estas), mas, ao contrário, o fortalece, pois os milagres que os apóstolos realizaram foram realizados no seu nome, e pela fé nele. E o fato de que Ele não somente realizava milagres pessoalmente, mas dava poderes a outras pessoas para que realizassem também, enaltece seu poder acima de qualquer outra coisa.

1. Ele lhes assegura duas coisas:

(1) Que eles seriam capacitados para fazer obras como as que Ele tinha feito, e que eles teriam um poder mais amplo para realizá-las do que tinham tido quando Ele os enviou pela primeira vez, Mateus 10.8. Cristo curou os doentes, purificou os leprosos, ressuscitou os mortos? Eles também fariam isto. Ele convenceu e converteu pecadores, e atraiu multidões para junto de si? Eles também fariam isto. Embora Ele fosse partir, a obra não seria interrompida, nem seria destruída, mas teria continuidade, de forma tão vigorosa e bem-sucedida como sempre. E ainda é assim.

(2) Que eles fariam obras “maiores do que estas”.

[1] No reino da natureza, eles realizariam milagres maiores. Nenhum milagre é pequeno, mas algumas das nossas apreensões parecem maiores do que outras. Cristo tinha curado com a orla da sua veste, mas Pedro curaria com sua sombra (Atos 5.15), e Paulo, com os lenços que o tinham tocado, Atos 19.12. Cristo realizou milagres durante dois ou três anos, em uma região, mas seus seguidores iriam realizar milagres, no seu nome, por muitos séculos, em diversos países. “Vocês realizarão obras maiores, se houver oportunidade, para a glória de Deus”. A oração de fé, se em alguma vez fosse necessária, teria movido montanhas.

[2] No reino da graça. Eles obteriam vitórias maiores pelo Evangelho do que as que tinham sido obtidas enquanto Cristo estava na terra. A verdade é que a atração de uma parte tão grande do mundo a Cristo, sob tais desvantagens externas, era o maior milagre de todos. Eu penso que isto se refere especialmente ao dom de línguas. Este foi o resultado imediato do derramamento do Espírito, que foi um milagre constante sobre a mente e o espírito, em que as palavras são formadas, e que foi feito para servir a uma intenção tão gloriosa como a de transmitir o Evangelho a todas as nações, nas suas próprias línguas. Este foi um sinal maior para aqueles que não criam (1 Co 14.22), e mais poderoso, para sua convicção, do que qualquer outro milagre.

2. A razão que Cristo apresenta para isto é: “Porque eu vou para meu Pai”.

(1) “Porque eu vou, será necessário que vocês tenham um poder como este, para que a obra não fique prejudicada devido à minha ausência”.

(2) “Porque eu vou para meu Pai, eu terei a capacidade de dotá-los com este poder, pois eu vou para o Pai, para enviar o Consolador, de quem vocês irão receber o poder”, Atos 1.8. As obras maravilhosas que eles realizaram no nome de Cristo eram parte das glórias do seu estado exaltado, quando Ele subiu ao alto, Efésios 4.8.

 

II – Grande poder no céu: “Tudo quanto pedirdes em meu nome, eu o farei” (vv. 13,14), como Israel, que era um príncipe com Deus. “Vocês poderão realizar obras tão poderosas, porque vocês têm este interesse em mim, e Eu, no meu Pai”. Observe:

1. De que maneira eles deveriam manter a comunhão com Ele, e obter o poder dele, depois que Ele tivesse ido para o Pai – por meio da oração. Quando amigos queridos estão prestes a se afastar uns dos outros, eles cuidam do estabelecimento de uma correspondência. Desta maneira, quando Cristo estava indo para seu Pai, Ele diz aos seus discípulos como eles poderiam escrever para Ele em qualquer ocasião, e enviar suas epístolas por um modo de transmissão seguro e imediato, sem risco de extraviar-se ou perder-se pelo caminho: “Mandem-me notícias suas pela oração, a oração da fé, e vocês terão notícias minhas pelo Espírito”. Esta era a maneira antiga de relacionamento com o Céu, desde que o homem “começou a invocar o nome do Senhor”, mas Cristo, pela sua morte, a abriu mais, e ela ainda está aberta para nós. Aqui temos:

(1) A humilda­ de recomendada: “Pedirdes”. Embora eles tivessem abandonado tudo por amor a Cristo, eles não podiam exigir nada dele, como dívida, mas deveriam ser humil­ des suplicantes, como aqueles que imploram para não passar fome, ou como aqueles que imploram para não perecer. (2) A liberdade concedida: “‘Pedirdes alguma coisa’, alguma coisa que é boa e adequada para vós. Alguma coisa, desde que saibais o que pedir, podeis pe­ dir. Podeis pedir ajuda para vosso trabalho, uma boca e sabedoria, proteção das mãos dos vossos inimigos, po­ der de realizar milagres, quando houver oportunidade, o sucesso do ministério na conversão das almas, pedir para serdes informados, orientados, justificados”. As ocasiões variam, mas os pedidos serão bem-vindos ao trono da graça em qualquer ocasião.

2. Em nome de quem eles deviam apresentar seus pedidos: “Em meu nome”. Pedir em nome de Cristo é:

(1) Suplicar seu mérito e sua intercessão, e confiar nesta súplica. Os santos do Antigo Testamento tinham isto em mente quando oravam “por amor do Senhor” (Daniel 9.17), e pelo Ungido (Salmos 84.9), mas a mediação de Cristo veio sob uma luz mais clara pelo Evangelho, e, desta maneira, nós somos habilitados a pedir, mais expressamente, no seu nome. Quando Cristo proferiu a oração do Senhor, este tema não foi inserido, porque eles não compreendiam este assunto, naquela época, tão completamente como compreenderam posteriormente, quando o Espírito foi derramado. Se pedirmos no nosso próprio nome, nós não podemos esperar ser bem-sucedidos, pois, sendo estranhos, não temos nome no céu. Sendo pecadores, temos uma má reputação ali. Mas o nome de Cristo é um bom nome, ele é um nome honrado, conhecido no céu e muito precioso.

(2) Desejar sua glória, e procurar alcançá-la como nosso objetivo mais elevado em todas as nossas orações.

3. O sucesso que eles teriam nas suas orações: “Tudo quanto pedirdes em meu nome, eu o farei”, v. 13. E outra vez (v.14): “Eu o farei”. Podem ter certeza de que o farei. Não somente será feito, Eu cuidarei para que seja feito, ou darei ordens para que seja feito, mas Eu o farei”. Pois Ele não somente tem o interesse de um intercessor, mas o poder de um príncipe soberano, que está à direita de Deus, do lado da ação, e faz tudo no reino de Deus. Pela fé no seu nome, nós podemos ter o que quisermos, pedindo.

4. Por qual motivo suas orações seriam tão bem-sucedidas: “Para que o Pai seja glorificado no Filho”. Isto é:

(1) Isto é o que eles deviam desejai e ter em mente, ao pedir. Nisto, todos os nossos desejos e orações devem se encontrar, como seu centro. A isto, todos devem dirigir-se, para que Deus, em Cristo, possa ser honrado pelos nossos serviços, e na nossa salvação. “Santificado seja o teu nome” é uma oração já atendida, e esta expressão é colocada em primeiro lugar, porque, se o coração for sincero nisto, ela consagra, de certa forma, todas as outras petições.

(2) Este é o objetivo de Cristo ao conceder suas bênçãos, e por isto Ele fará o que eles pedirem, para que, desta maneira, a glória do Pai no Filho possa se manifestar. A sabedoria, o poder e a bondade de Deus eram enaltecidos no Redentor quando, por um poder derivado dele, e exercido no seu nome e pelo seu serviço, seus apóstolos e ministros foram capacitados a fazer coisas tão grandes, tanto nas provas da sua doutrina quanto nos sucessos dela.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

QUER AJUDA? PEÇA A QUEM TE REJEITOU

0fato de uma pessoa ter dito não uma vez não significa que o fará novamente – pelo contrário, garantem cientistas. O problema é que o medo de sermos repudiados pode nos fazer desistir de uma segunda tentativa – justamente na que talvez tenhamos melhor chance de obter a resposta afirmativa.

Quer ajuda peça a quem te rejeitou

À primeira vista, a possibilidade de conseguir auxílio de alguém que lhe disse não num primeiro momento pode parecer pouco provável. O pesquisador Daniel A. Newark, doutor em estudos organizacionais, e seus colegas pesquisadores da Universidade Stanford constataram, porém, que não é bem assim: são essas pessoas que mais estariam inclinadas a dizer sim num segundo momento. Os cientistas desenvolveram um experimento para o qual recrutaram 19 estudantes e lhes deram uma tarefa: solicitar a 15 estranhos no campus dois favores. O primeiro: “Você pode preencher um pequeno formulário de pesquisa?”. E o segundo: “Você pode levar uma carta ao posto do correio para mim?”. Os estudantes que pediam ajuda tinham previsto que, em geral, as pessoas que recusassem o pedido inicial também se esquivariam do segundo. Mas na verdade uma proporção significativa dos que não responderam ao questionário concordou em levar a carta. Ou seja: pessoas que já disseram não a uma solicitação parecem mais propensas a dizer sim para outro pedido.

Newark encontrou uma significativa desconexão entre as expectativas de quem procura ajuda e o comportamento dos estranhos; os alunos que pediam favores acreditavam que apenas 18% dos que disseram não à pesquisa acatariam o segundo pedido. No entanto, 43% deles concordaram em enviar a correspondência, e há resultados semelhantes em outros experimentos com centenas de participantes. “As pessoas constantemente subestimam as chances de aceitação depois da rejeição inicial, pois presumem que alguém que disse não uma vez provavelmente o fará novamente”, afirma Newark. Ele observa que os resultados refletem uma tendência média. “Há, claro, algumas pessoas profundamente insensíveis, mas não tantas como se imagina”, diz.

Segundo ele, essa linha de raciocínio pode ser explicada pelo fato de que tendemos a ignorar o desconforto e a culpa que os outros sentem quando nos rejeitam. Quando alguém se nega a nos fazer um favor, supomos (em geral de forma automática e inconsciente) que é por causa de um traço arraigado da personalidade do interlocutor – que seria egoísta ou pouco prestativo. Mas muitas vezes é devido a fatores situacionais – talvez a pessoa quisesse ajudar, mas nem sempre isso seria possível da forma e no momento em que lhe foi solicitado. Na realidade, é frequente que os indivíduos se sintam mal em rejeitar um pedido e que se tornem mais dispostos a ajudar caso a oportunidade surja novamente. Mas, se essa pessoa já foi eliminada como possibilidade, será a última a ser considerada para uma potencial ajuda. Resultado: uma oportunidade real é perdida.

Na vida cotidiana, fazemos isso com amigos e colegas, da mesma forma como fazemos com estranhos. No caso do estudo do campus de Stanford, os participantes estavam basicamente lidando com estranhos, mas todos eram membros da mesma comunidade acadêmica.

Em experimentos relacionados que Newark realizou com os pesquisadores Francis J. Flynn e Vanessa K. Bohns, os voluntários eram orientados a imaginar as reações que teriam ao pedir favores a todo tipo de gente, de estranhos a parentes. E, em estudos posteriores, foi pedido às pessoas que se visualizassem pedindo feedback a colegas sobre slides para uma apresentação ou solicitando conselhos de viagem ou ajuda para um trabalho a conhecidos ou amigos. Independentemente de qual o relacionamento com potenciais ajudantes, os voluntários subestimaram a vontade do outro de fazer um segundo favor depois de recusar o inicial.

É preciso considerar, no entanto, que, quando se trata de favores pequenos, a taxa geral de pessoas dizendo sim pode ser maior. Contudo, o padrão de subestimar a aceitação depois da primeira rejeição é o mesmo. As investigações tendem a se concentrar em vá­ rios pedidos de dificuldade similar: participar de uma pesquisa, em seguida levar uma carta ao correio; passar um dia ajudando numa mudança e deixar o participante dormir na sua casa no fim de semana. Esse foi um ponto de diferenciação, pois a maioria dos trabalhos anteriores se concentrou em como as solicitações de maior ou menor magnitude afetam a vontade de ajudar.

Os comportamentos, entretanto, dependem de variáveis, e as conclusões dos estudos não são unânimes. Em relação aos padrões de concessões de favores, algumas divergências sobre a tática de persuasão conhecida como técnica foot-in-the-door (pé na porta, numa tradução literal) mostram que, se você começar com um pedido pequeno e tiver aceitação inicial, o seu interlocutor tenderá a continuar a dizer sim a coisas maiores, porque não quer quebrar o padrão de ajuda. Ao mesmo tempo, estudos sobre a técnica conhecida como door­in-the face (porta na cara) sugerem que, se você começar com um pedido grande e receber um não inicial, e depois voltar com um pedido menor, seu alvo será mais propenso a dizer sim, porque vai parecer que fez uma concessão.

BOAS RECOMENDAÇÕES

A qualidade da assistência oferecida também poderia ser muito maior do que seria de esperar. Newark constatou que os ajudantes estariam dispostos a dedicar muito mais tempo e esforço a tarefas do que previam as pessoas que fizeram os pedidos. Em outro estudo, o cientista descobriu que as pessoas que foram convidadas a completar o máximo que quisessem de uma pesquisa de até 75 perguntas responderam a 45 questões em seis minutos e 28 segundos, em média, com uma taxa de precisão de 90%. Mas aqueles que apresentavam o questionário haviam previsto apenas 26 perguntas respondidas em 4 minutos e 22 segundos, com uma taxa de precisão de 80%. Em outro trabalho nessa mesma linha, realizado em laboratório, voluntários foram convidados a escrever cartas de recomendação para os colegas participantes da pesquisa. O curioso é que incluíram declarações quase 50% mais positivas e cometeram muito menos erros ortográficos e gramaticais do que seus parceiros tinham antecipado. “Fizemos dois estudos adicionais com cenários hipotéticos envolvendo colegas, conhecidos e amigos e descobrimos a mesma desconexão”, conta Newark. Novamente, os que pediam ajuda falharam em reconhecer o quanto as pessoas se sentiam desconfortáveis em fornecer ajuda de má qualidade.

Mas, certamente, algumas pessoas fingem ou rejeitam pedidos de ajuda repetidamente sem nenhum remorso. E os resultados das pesquisas refletem uma tendência média. “Existem pessoas profundamente insensíveis, mas não tantas como se poderia pensar. Por isso, minha conclusão geral é: não presuma o pior, seja mais lento em julgar, perceba que as pessoas estão ocupadas e que um ‘eu não posso ajudá-lo neste momento’ geralmente não significa “não quero ajudá-lo nunca”, ressalta Newark. E salienta: “Se você esquecer isso, corre o risco de se afastar daquelas pessoas com maior propensão a lhe dar assistência válida”.

Numa próxima fase das investigações o pesquisador pretende entender melhor o que os solicitantes esperam quando pedem o mesmo favor a pessoas diferentes. Se o voluntário é inicialmente rejeitado, acha que há algo de errado com o pedido ou consigo mesmo? Ou tende a atribuir o problema à pessoa a quem fez o pedido? A equipe coordenada por Newark está empenhada também em descobrir como a desconexão entre a busca de auxílio e o ato de ajudar ocorre em organizações. Nas empresas, é comum ver como a resposta positiva ou negativa de um executivo em dado momento pode levar esse profissional a ser sobrecarregado com pedidos ou quase nunca voltar a ser procurado, por exemplo.

O que Newark e seus colaboradores parecem ter constatado até este momento é que não importa como vemos uma situação, sempre vale a pena ser persistente. “Especialmente em lugares que têm culturas individualistas, como os países ocidentais, muitas vezes relutamos em admitir que precisamos de ajuda e ficamos ansiosos com a ideia de pedir auxílio, como se isso nos expusesse de alguma forma.” O cientista observa que em geral “tememos a rejeição mais do que deveríamos”. E argumenta: “A maioria das pessoas, mesmo aquelas que o rejeitaram antes, estará mais disposta a lhe dar uma ajuda do que você pensa.” Correr o risco e fazer uma nova tentativa, portanto, pode ser uma boa ideia. Pelo menos na teoria.

OUTROS OLHARES

 O QUE JESUS VESTIA?

Especialista explica por que túnica surrada até os joelhos e uso de alpargatas são imagens mais realistas do que longos cabelos, pele clara e olhos azuis.

O que Jesus vestia

Durante as últimas décadas, surgiu vez ou outra a pergunta: qual era a aparência de Jesus? Falou-se muito sobre uma reconstrução digital de um homem da Judeia criada para Son of God, documentário da BBC de 2001. A imagem foi feita com base num crânio antigo e, usando tecnologias avançadas para a época, mostra a cabeça de um homem baixo e gordo, com uma expressão ligeiramente preocupada.

É correto afirmar que o tom de pele é bronzeado e o cabelo e a barba são pretos e curtos, mas o nariz, os lábios, o pescoço, os olhos, as pálpebras, as sobrancelhas, a camada de gordura e a expressão são apenas conjecturas. Fazer um homem de carne e osso somente a partir de crânios antigos não é uma ciência exata, porque o tecido mole e a cartilagem são desconhecidos.

Para mim, como historiadora, tentar visualizar Jesus com precisão é uma forma de tentar compreendê-lo com mais precisão também.

O Jesus que herdamos após séculos de arte cristã não é o correto, mas é uma marca poderosa. Sua aparência como um homem de cabelo longo, partido ao meio, com uma barba grande – em geral de pele clara, cabelos castanho-claros e olhos azuis – tornou-se a mais aceita. Imaginamos Jesus usando mantos compridos de mangas largas, da forma como é representado na maioria das obras de arte ao longo dos séculos. Em filmes contemporâneos – de Jesus de Nazaré (1977), de Zeffirelli, em diante – esse estilo predomina, mesmo quando suas roupas são consideradas malfeitas.

Há muitas razões por trás dessa representação aceita como o padrão mundial, e nenhuma delas tem a ver com a preservação da precisão histórica. Eu as exploro em meu novo livro, What did Jesus look like?, mas no fim das contas procuro por pistas do Jesus de verdade em textos antigos e na arqueologia.

Para mim, sua aparência não é só sua carne e osso. Afinal, nossos corpos não são apenas corpos. Como argumenta o sociólogo Chris Shilling, eles são “tanto recursos pessoais como símbolos sociais que ‘emitem’ mensagens sobre identidade”. Podemos ser velhos, novos, altos, baixos, gordos, magros, ter pele clara, pele escura, cabelos crespos, cabelos lisos e assim por diante, mas nossa aparência não começa e termina em nosso corpo físico. Numa multidão, podemos encontrar um amigo por causa de seu cachecol em vez de seu cabelo ou nariz. O que cria uma aparência é o que fazemos com nosso corpo.

Então a aparência de Jesus teria tudo a ver com aquilo que ele vestia. Assim que determinarmos sua paleta de cores correta, levando em conta que ele era um homem judeu do Oriente Médio, como o vestiremos? Como ele parecia para as pessoas de seu tempo?

Não existe uma descrição física nítida de Jesus nos Evangelhos ou na literatura cristã antiga. Existem, sim, detalhes incidentais. Por causa da Bíblia (por exemplo, Marcos 6:56), você consegue descobrir que ele usava um manto – um xale longo (em inglês, himation, palavra de origem grega) – que tinha borlas, descritas como “bordas”; é nitidamente uma versão mais antiga do talit judeu. Normalmente feito de lã, o manto poderia ser grande ou pequeno, grosso ou fino, colorido ou na cor natural, mas os homens preferiam o modelo não tingido.

Ele usava alpargatas, como sugerido por múltiplas passagens da Bíblia (ver Mateus 3:11; Marcos 1:7, 6:9; João 1:27), e sabemos agora como eram as sandálias antigas usadas na Judeia, pois foram preservadas, em cavernas secas, pelo Mar Morto.

Usava uma túnica, quiton, que para os homens ficava um pouco abaixo do joelho, e não no tornozelo. Apenas os mais ricos usavam as compridas. Inclusive, Jesus identifica que especificamente esses homens de túnicas longas (Marcos 12:38) não merecem as honras que recebem de pessoas que se impressionam com seus trajes finos, pois, na verdade, eles devoram injustamente as casas das viúvas.

A túnica de Jesus também foi feita a partir de apenas um pedaço de tecido (João 19:23-24). Isso é estranho, porque a maioria delas era feita de dois tecidos costurados no ombro e nas laterais. Normalmente, mantos de apenas um pedaço, no primeiro século na Judeia, eram roupas de baixo finas ou roupa infantil. Não devemos pensar nas roupas íntimas contemporâneas, mas usar um artigo de peça única, e só ele, provavelmente não era bem-visto. Era extremamente básico.

É possível que não surpreenda, então, o fato de Jesus ser lembrado como alguém que parecia desleixado por um erudito chamado Celso, em seu tratado contra os cristãos escrito na metade do segundo século. Celso fez seu dever de casa. Entrevistou pessoas e – como nós – estava interessado na aparência de Jesus. De judeus e outros que questionou, ouviu dizer que Jesus “circulava pelos lugares de forma vergonhosa à vista de todos”. Ele “obteve seu sustento de maneira infame e inoportuna” – pedindo esmola ou recebendo doações.

Da perspectiva de pessoas respeitáveis, podemos supor que Jesus aparentava ser relativamente bruto. Quando o escritor cristão Orígenes discutiu com Celso, ele rejeitou muitas de suas declarações, mas não questionou esse fato.

Então, embora Jesus usasse roupas similares, em vários aspectos, às de outros homens judeus, seu “visual” era surrado. Eu duvido que seu cabelo fosse especialmente longo, como era retratado na maioria das obras de arte, devido às normas masculinas da época, mas certamente não era bem cuidado. Usar uma túnica básica que outras pessoas usavam como roupa de baixo combina com a indiferença de Jesus quanto a coisas materiais (Mateus 6:19-21, 28-29; Lucas 6:34-35, 12:22-28) e com sua preocupação com os pobres (Lucas 6:20-23).

Isso, para mim, é o começo de uma maneira diferente de ver Jesus – muito relevante para nossa época de enorme desigualdade entre ricos e pobres, assim como era no Império Romano. Ele ficou do lado dos pobres, e isso teria sido óbvio por seu aspecto. A aparência de Jesus é importante porque reflete a essência de sua mensagem. Independentemente de como é retratado em filmes e obras de arte hoje em dia, ele precisa ser mostrado como alguém que não tinha nada. Seus ensinamentos só podem ser verdadeiramente compreendidos a partir dessa perspectiva.

O que Jesus vestia.2

GESTÃO E CARREIRA

QUANTO MAIS CEDO, MELHOR

Com a economia cada vez mais complexa, os adultos precisam redobrar a educação financeira das crianças. Saiba qual é a melhor maneira de ensiná-las.

Quanto mais cedo, melhor

Leandro Guerra, empresário carioca, fez inúmeras dividas ao longo da vida. A dificuldade em administrar as próprias contas, segundo ele, é resultado da falta de educação financeira. Quando criança – e, depois, adolescente -, Leandro nunca teve orientações a respeito de dinheiro. Seu pai, hoje serralheiro, só cursou até a 3ª série; a mãe era dona de casa. Leandro sempre viu a família gastar tudo aquilo que ganhava. Para ajudar em casa, começou a trabalhar cedo, com 14 anos já era jovem aprendiz na Light. Apesar de ter um salário, não fazia ideia de como administrá-lo. “Sempre trabalhei em busca de dinheiro, mas sem propósito algum em torno disso. Já fiz muita besteira por não saber cuidar do meu orçamento”.

Foi só depois de passar dois anos na Europa tocando violão nas ruas que mudou de postura. “Lá, entendi o valor do dinheiro”, diz. Ao voltar para o Brasil, em 2012, montou uma produtora de audiovisual e começou a fazer uma gestão mais eficiente dos rendimentos. Hoje, aos 35 anos, não pretende repetir o erro com o filho, Theo, de 4 anos. Mesmo com a pouca idade, o menino já está sendo educado para lidar bem com o dinheiro. Leandro está certo. Segundo especialistas, quanto antes os familiares começarem a falar a respeito com os pequenos, melhor, sobretudo num contexto econômico cada vez mais complexo.

Três décadas atrás, por exemplo, poupança era sinônimo de cédulas embaixo do colchão. E investimentos se traduziam, basicamente, na compra de imóveis. Hoje, o cenário é outro. Da proliferação de corretoras independentes ao surgimento das criptomoedas, como o Bitcoin, o que não faltam são opções para quem souber fazer a renda engordar.

E é na infância que o indivíduo desenvolve habilidades financeiras. “Falar de dinheiro com crianças e adolescentes é ensiná-los sobre equilíbrio, para usufruir bens de forma balanceada; limites, para não gastar mais do que ganha; e sustentabilidade, para que haja bem-estar no presente e no futuro”, diz Vera Rita de Mello Ferreira, especialista em psicologia econômica e educação financeira e membro do Núcleo de Estudos Comportamentais da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Mas, no Brasil, essa não é a realidade. Estudo da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) comparou o nível de conhecimento financeiro de 30 países. O nosso país ficou na 26ª posição. Não é à toa, há cerca de 63,29 milhões de inadimplentes por aqui. Falta ao brasileiro o hábito de poupar e duplicar a grana que recebe.

Isso acontece por falta de conhecimento. Além de não haver investimento público em programas de educação financeira, há razões histórica para nossa falta de tato com os rendimentos. “Não passamos por guerra. Países que sofreram privação de bens e produtos criaram um senso de frugalidade maior que o nosso, diz Vera. Veja, a seguir, dicas de como educar as crianças para que elas se tornem adultos aptos a tomar decisões financeiras mais inteligentes.

1 – DEFINA UMA RENDA PARA ELES

A partir dos 7 anos, os pais já podem dar dinheiro para os próprios filhos administrar. “É importante explicar à criança por que isso está sendo feito, reforçando que ela precisa aprender a ser responsável e a utilizar esse valor para necessidades e desejos”, diz Reinaldo Domingos, especialista em educação financeira do canal Dinheiro à Vista e autor de livros, como O Menino, o Dinheiro e os Três Cofrinhos (Editora DSOP). Há duas formas de fazer isto: mesada ou semanada. Cássia D’Aquino, especialista em educação financeira e autora do livro Dinheiro compra tudo? (Moderna), afirma que a semanada é mais indicada para crianças de até 11 anos, que ainda não lidam de maneira clara com o tempo. Depois disso, vale definir uma renda mensal. Foi o que fez Josefa Oronelas, pedagoga e mãe de dois meninos: Victor, de 16 anos, e Vinícius, de 11. Ela começou o esquema quando o filho mais velho tinha 6 anos. “Ele sempre pedia que eu comprasse figurinhas na saída da escola. Ao ouvir a dica de um economista, adotei a prática da semanada e o orientei sobre e como deveria usá-la”, diz. O mais novo teve o mesmo tratamento. Para estipular o valor ideal, especialistas recomendam levar em consideração, além da condição da família, os hábitos da criança e total de custos que ela terá com passeios e lanches na escola. É importante deixar claro, também, quais gastos devem ser feitos com o valor recebido e pontuar que se gastarem tudo com um único brinquedo, faltará grana para o resto. Por fim, uma vez definido o modo semanada ou mesada, nada de dar dinheiro extra –   isso colocará todo o esforço de ensinar sobre finanças em xeque.

2 – DEIXE-OS ERRAR (E BATER CABEÇA)

Se pensarmos na trajetória de executivos de sucesso, os deslizes foram inevitáveis, mas essenciais para seu desenvolvimento de carreira. Com educação financeira não é diferente. “Errar faz parte. Se a criança gastou demais e ficou sem dinheiro num mês, certamente tomará mais cuidado no próximo·, diz Cássia. Um dos deslizes mais comuns nessa fase da vida é decorrente do consumo em grupo: a criança quer ter o mesmo padrão da turma, e acaba trocando os pés pelas mãos. “Os pais devem sempre reforçar qual é a condição financeira da família e dar orientações claras sobre os gastos”, conclui a especialista.

Vinícius, o filho mais novo de Josefa, é “gastão”. “Certa vez, ele quis tanto uma camiseta de futebol da França que passou oito meses sem receber mesada para quitar a dívida”, conta. É nesse tipo de situação que os pais devem falar sobre as consequências de se gastar mais do que tem – e sobre juros, empréstimos etc. “Eles podem até optar por dar o dinheiro extra, mas devem desconta-lo no mês seguinte”, diz Carlos Heitor Campani, consultor de finanças pessoais e professor de finanças do Coppead, Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro. “Isso, quando feito com o propósito de ensinar, desenvolve um senso interessante de economia”, afirma. O contrário também é bacana. ”Se ao final do ano, a criança conseguir guardar algum dinheiro, calcule os juros como bonificação, o que cria a cultura da poupança desde cedo”, diz Carlos Heitor.

3 – INCENTIVE – OS A POUPAR NO DIA A DIA

Quanto mais o espírito poupador for estimulado, há mais chances de o pequeno se tornar um investidor em potencial no futuro. Afinal, apenas com a prática de economizar, será possível crescer com valores bem definidos em relação ao dinheiro.

Mas esse ensinamento deve ser feito aos poucos e com exemplos pertinentes à idade. “Uma criança de 6 anos não se motivará a poupar para a faculdade, por exemplo, mas entenderá o conceito se for para comprar um novo jogo de videogame”, afirma Cássia. Criar junto com o filho planos para guardar dinheiro é o melhor jeito de desenvolver o prazer em economizar. Reinaldo aconselha estipular planos de curto (até três meses), médio (até seis meses) e longo (mais de seis meses) prazos. A poupança pode começar com coelhinhos e, por volta dos 14 anos, com a abertura de uma conta-poupança. Um pouco mais para a frente, por volta dos 16, os pais podem iniciar assuntos mais complexos sobre investimentos.

4- ENSINE DE UM JEITO DIVERTIDO

“Quanto mais simples e divertido for o ensinamento, mais fácil será para a criança absorver”, diz Vera Rita, da CVM. O importante é ter uma metodologia e identificar o perfil do pequeno. Há desde livros e filmes até a possibilidade de usar atividades com pintura, brincadeiras de faz de conta e jogos. Uma forma lúdica de iniciar esse processo é dizer que no cofrinho não se guarda apenas dinheiro e, sim, sonhos. Leandro Guerra, pai de Theo, usa esse tipo de estratégia. “Temos um porquinho e toda semana o incentivo a enchê-lo com as moedas que dou, sempre explicando que precisa juntar algumas para comprar o que deseja”, diz. Leandro também usa livros e jogos para ensinar Theo. De acordo como empresário, que tem também duas enteadas, a ideia é mostrar a importância do valor de cada produto. “Sempre que posso levo-o ao supermercado comigo. Acho que é um ótimo laboratório.” Aplicativos como o Trato, criado pelo Banco do Brasil; o canal Turma da Bolsa, da Bovespa; o jogo online Racha a Cuca; e a série especial sobre educação financeira da Turma da Mônica, feita em parceria com o Sicredi, instituição financeira, também podem ajudar a ensinar crianças menores sem ser maçante.

5 – NÃO ATRELE DINHEIRO A OBRIGAÇÃO

Relacionar rendimentos a tarefas domésticas está longe de ser educativo. O filho lavou a louça e arrumou a cama? Então, vai receber uma recompensa financeira por isso. “O dinheiro não deve ser premiação nem punição”, afirma Reinaldo. Segundo ele, isso faz com que os filhos atrelem obrigações e gentilezas ao dinheiro, o que contribui para a formação de um adulto mesquinho e com valores distorcidos.

Lembre-se: a educação financeira tem a ver com ética e responsabilidade, não com troca de favores. “A criança pode começar a colocar preço em tudo e a achar que se compra qualquer coisa, até afeto,” diz o educador. Na casa de Josefa, a mesada é para realizar metas e desejos. Victor; o filho mais velho, de 16 anos, economizou desde os 8 para fazer um intercâmbio. Aos 12, já tinha conta no banco para guardar o pé de meia. A passagem e a hospedagem para o Canadá, país em que estará por dois anos, ficaram a cargo dos pais, mas as despesas diárias são dele. “Fizemos juntos o cálculo de quanto gastaria com comida e demais atividades para ele saber quanto deveria guardar por mês da mesada”, diz Josefa. Hoje, o filho recebe 400 dólares canadenses todo mês e administra, de lá, o dinheiro que ele mesmo economizou.

 Quanto mais cedo, melhor.2 

CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA

Descubra qual é a melhor maneira de falar sobre dinheiro com as crianças nas diferentes fases da vida.

DE 2 A 4 ANOS

Fazem birra e têm dificuldade em ouvir não. Ainda são bastante voltados para si, pensando primeiro nas próprias necessidades. É comum que queiram tudo o que veem pela frente.

COMO FALAR SOBRE DINHEIRO:

  • Converse sobre desejos e explique que cada um deles tem um valor. Mostre que gastar todo o dinheiro com balas inviabilizará o parquinho.
  • Adote três cofrinhos de tamanhos diferentes. Peça à criança que coloque em cada um deles desejos (em forma de desenho) e distribua moedas em cada um deles. Dessa forma, ele verá que o cofrinho menor encherá mais rápido e entenderá que coisas maiores demoram mais a ser conquistadas.

 

DE 5 A 8 ANOS

Gostam de brincadeiras de faz de conta; obedecem às ordens por temer as consequências. Mesmo

assim, sua noção de certo e errado é relativa. Enxergam os pais como modelos a ser seguidos.

COMO FALAR SOBRE DIHHEIRO:

  • Simule em brincadeiras compras em supermercados ou lojas com o uso de moedas e cédulas que imitam as reais. O faz de conta ajuda na elaboração do que é dinheiro.
  • A partir dos 7 anos, já pode ser implantada a mesada financeira semanal.
  • Inclua personagens animados nas explicações. O tio Patinhas, da Disney pode ser usado como um exemplo a não ser seguido pois só pensa em guardar e não realiza sonhos. Já o Marcelinho, da Turma da Mônica, é um modelo inteligente de como ser econômico – até na hora de usar água.

 

DE 9 A 12 ANOS

Nessa fase, eles têm vergonha da exposição, sofrem forte influência dos amigos e já compreendem bem as regras sociais.

COMO FALAR SOBRE DINHEIRO:

  • Como possuem noção de certo e errado, é interessante demonstrar com histórias reais, o que acontece quando o consumo não é consciente e ultrapassa o poder de compras da família.
  • É o momento de começar a poupar e a aprender sobre juros. Deixe-os participar ativamente das compras, analisando os preços.

 

DE 13 A 16 ANOS

Na pré-adolescência, eles já se preocupam com marcas e estilo de roupa e acessórios. São impulsivos e supercríticos em relação a si mesmos e aos outros. Por outro lado, costumam ser generosos e altruístas nesse momento da vida.

COMO FALAR SOBRE DINHEIRO:

Busque jogos que incentivem cooperação (e não competição). Banco imobiliário e jogo da vida não são recomendados para trabalhar a educação financeira.

  • Converse com o jovem para mapear objetivos e ajude-o a estipular uma poupança para realizar alguns deles, como a compra do carro aos 18 anos.
  • Vá a uma instituição com ele e abra uma conta. Assim, o adolescente começará a ganhar autonomia e a compreender a dinâmica do banco.

Quanto mais cedo, melhor.3

ALIMENTO DIÁRIO

JOÃO 14: 4-11

Alimento diário

O Sermão Consolador de Cristo

 

Tendo disposto a felicidade do céu diante deles, como o fim, Cristo aqui mostra a si mesmo como sendo o caminho para se chegar a ela, e lhes diz que eles estavam mais familiarizados, tanto com o fim que deveriam ter em mente, como com o caminho que deviam percorrer, do que pensavam estar: “Vós sabeis”, isto é:

1. “Vocês podem saber. Não é uma daquelas coisas secretas que não pertencem a vocês, mas uma das coisas reveladas. Vocês não precisam subir ao céu, nem descer às profundezas, pois a palavra está junto de vocês (Romanos 10.6-8), no mesmo nível que vocês”.

2. “Vocês realmente sabem. Vocês sabem qual é a casa e qual é o caminho, embora talvez não os conheçam como a casa e o caminho. Eu lhes ensinei, e vocês não podem deixar de saber. Basta que vocês estejam dispostos a se lembrar e a considerar isto”. Observe que Jesus Cristo está desejoso de aproveitar ao máximo o conhecimento do seu povo, embora ele seja fraco e defeituoso. Ele conhece o bem que há neles, melhor do que eles mesmos, e tem certeza de que eles têm aquele conhecimento, e fé, e amor, dos quais eles mesmos não se dão conta, nem têm certeza.

Esta mensagem de Cristo deu oportunidade para que dois dos seus discípulos se dirigissem a Ele, e Ele responde aos dois.

I – Tomé perguntou sobre o caminho (v. 5), sem nenhum pedido de desculpas por contradizer ao seu Mestre.

1. Ele disse: “Senhor, nós não sabemos para onde vais”, para que lugar ou condição, e como podemos saber o caminho’, em que devemos te seguir? Nós não podemos nem imaginar onde é, nem perguntar, mas ainda estaremos perdidos”. O testemunho de Cristo a respeito do conhecimento deles os deixou mais conscientes da sua ignorância e mais inquisitivos em busca de esclarecimento adicional. Tomé aqui mostra uma modéstia maior do que a de Pedro, que pensava que poderia seguir a Cristo agora. Pedro era o mais preocupado em saber para onde Cristo ia. Aqui Tomé, embora se queixe de não saber isto, parece mais preocupado em saber o caminho. Veja:

(1) A confissão da sua ignorância foi suficientemente recomendável. Se os homens bons estão às escuras, e conhecem somente parte das coisas, ainda assim estão dispostos a reconhecer seus defeitos. Mas

(2) A causa da sua ignorância era passível de culpa. Eles não sabiam para onde Cristo ia, porque sonhavam com um reino temporal, em pompa e poder externos, e se iludiam com isto, apesar do fato de que Ele contradizia isto repetidas vezes. Consequentemente, quando Cristo falou de ir embora e dos discípulos seguindo-o, eles imaginaram que Ele iria a alguma cidade extraordinária, Belém, Nazaré, Cafarnaum, ou algumas das cidades dos gentios, como Davi foi a Hebrom, para ser ungido rei e para restaurar o reino de Israel. E qual era o caminho para este lugar, onde deveriam ser construídos castelos no ar, se era para o leste, oeste, norte, ou sul, eles não sabiam, e, portanto, não sabiam o caminho. Desta maneira, nós consideramos que ainda estamos mais às escuras do que precisamos estar, a respeito do estado futuro da igreja, porque esperamos sua prosperidade terrena, ao passo que é para seu progresso espiritual que a promessa aponta. Se Tomé tivesse compreendido, como poderia ter sido capaz de compreender, que Cristo estava indo para o mundo invisível, o mundo dos espíritos, ao qual as coisas espirituais estão relacionadas, ele não teria dito: “Senhor, nós não sabemos… o caminho”.

 

II – A esta queixa da sua ignorância, que incluía um desejo de ser ensinado, Cristo dá uma resposta completa, vv. 6,7. Tomé tinha perguntado tanto para onde Ele ia como também qual era o caminho, e Cristo responde estas duas perguntas, e explica o que tinha dito, que eles não teriam necessidade de nenhuma res­ posta, se tivessem compreendido corretamente, pois eles o conheciam, e Ele era o caminho. Eles conheciam o Pai, e chegar à presença dele era o maior objetivo. “Portanto, ‘vós sabeis para onde vou e conheceis o caminho’. Crede em Deus como o destino da caminhada, e em mim, como o caminho (v. 1), e fazei tudo o que deveis fazer”.

1. Ele fala de si mesmo como sendo o caminho, v. 6. “Vocês não sabem o caminho? ‘Eu sou o caminho’, e Eu somente, pois ‘ninguém vem ao Pai senão por mim”‘. Grandes coisas Cristo diz aqui a seu respeito, mostrando-nos:

(1) A natureza da sua mediação: Ele é “o caminho, e a verdade, e a vida”.

Em primeiro lugar, consideremos estas coisas distintamente.

1. Cristo é o “caminho”, o caminho predito, Isaías 35.8. Cristo foi seu próprio caminho, pois pelo seu próprio sangue, entrou uma vez no santuário (Hebreus 9.12), e Ele é nosso caminho, pois nós entramos por seu intermédio. Com sua doutrina e seu exemplo, Ele nos ensina nosso dever, com seu mérito e sua intercessão, Ele busca nossa felicidade, e, desta maneira, Ele é o caminho. Nele, Deus e homem se encontram e se reúnem. Nós não conseguimos chegar à árvore da vida pelo caminho da inocência, mas Cristo é outro caminho para se chegar até ela. Por intermédio de Cristo, sendo o caminho, um relacionamento se estabelece e se mantém entre o céu e a terra. Os anjos de Deus sobem e descem. Nossas orações vão até Deus, e suas bênçãos vêm até nós, por intermédio de Cristo. Este é o caminho que leva ao descanso, o bom e antigo caminho. Os discípulos o seguiam, e Cristo lhes diz que eles seguiam o caminho e, enquanto continuassem seguindo-o, nunca sairiam do caminho.

2. Ele é “a verdade”.

(1) Assim como a verdade se opõe a figuras e sombras. Cristo é a essência de todos os tipos do Antigo Testamento, que, portanto, são considerados figuras do verdadeiro, Hebreus 9.24. Cristo é o verdadeiro maná (cap. 6.32), o verdadeiro Tabernáculo, Hebreus 8.2.

(2) Assim com o a verdade se opõe à falsidade e ao erro. A doutrina de Cristo é uma doutrina verdadeira. Quando procuramos a verdade, nós não precisamos aprender nada além da verdade que existe em Jesus.

(3) Assim como a verdade se opõe à falácia e à fraude. Ele é verdadeiro a todos os que confiam nele, tão verdade iro como a verdade propriamente dita, 2 Coríntios 1.20.

3. Ele é “a vida”, pois nós estamos vivos para Deus, e em Cristo Jesus, Romanos 6.11. O Cristo formado em nós é, para nossas almas, aquilo que nossas almas são para nossos corpos. Cristo é “a ressurreição e a vida”.

Em segundo lugar, consideremos estas coisas conjuntamente, e referindo-se umas às outras. Cristo é “o caminho, e a verdade, e a vida”, isto é:

1. Ele é o princípio, o meio e o fim. Nele nós devemos iniciar, prosseguir e terminar. Como a verdade, Ele é o guia do nosso caminho. Como a vida, Ele é o fim dele.

2. Ele é o caminho vivo e verdadeiro (Hebreus 10.20). Existe verdade e existe vida no caminho, assim como no seu final.

3. Ele é o verdadeiro caminho para a vida, o único caminho verdadeiro. Outros caminhos podem parecer corretos, mas o fim deles é o caminho da morte.

(2) A necessidade da sua mediação: “Ninguém vem ao Pai senão por mim”. O homem caído deve ir até Deus como a um Juiz, mas não pode ir até Ele como a um Pai, senão por intermédio de Cristo, como Mediador. Nós não podemos cumprir o dever de ir até Deus, pelo arrependimento e pelos atos de adoração, sem o Espírito e a graça de Cristo, nem obter a felicidade de ir até Deus, como nosso Pai, sem seu mérito e sua justiça. Ele é “sumo sacerdote da nossa confissão”, nosso advogado.

1. Ele fala de seu Pai como o fim (v. 7): ‘”Se vós me conhecêsseis a mim, também conheceríeis a meu Pai’, e, daqui por diante, pela glória que vistes em mim, e pela doutrina que ouvistes de mim, ‘já desde agora o conheceis e o tendes visto”‘. Aqui temos:

(1) Uma tácita repreensão aos discípulos, pela tolice e pela desatenção que estavam demonstrando, não se familiarizando com Jesus Cristo, embora tivessem sido seus constantes seguidores e colaboradores: “Se vós me conhecêsseis a mim”. Eles o conheciam, e ainda assim não o conheciam tão bem como poderiam e como deveriam tê-lo conhecido. Eles sabiam que Ele era o Cristo, mas não prosseguiram para conhecer a Deus através dele. Cristo tinha dito aos judeus (cap. 8.19): “Se vós me conhecêsseis a mim, também conheceríeis a meu Pai”. E aqui a mesma coisa Ele diz aos seus discípulos. Pois é difícil dizer o que é mais estranho, se a deliberada ignorância daqueles que são inimigos da luz, ou se os defeitos e enganos dos filhos da luz, que tiveram tais oportunidades de conhecimento. Se eles tivessem conhecido adequadamente a Cristo, teriam sabido que seu reino é espiritual, e não é deste mundo, que Ele desceu do céu, e, portanto, deveria retornar ao céu. E então eles teriam também conhecido ao seu Pai, teriam sabido para onde Ele deveria ir, quando disse: “Vou para o Pai”, para uma glória no outro mundo, e não neste. Se conhecêssemos melhor o cristianismo, nós conheceríamos melhor a religião natural.

(2) Uma indicação favorável de que Ele estava muito satisfeito a respeito da sinceridade deles, apesar da fraqueza do seu entendimento: “E já desde agora”, depois que lhes dei esta pista, que lhes servirá como chave para todas as instruções que Eu lhes dei até aqui, deixem-me dizer a vocês, ‘o conheceis e o tendes visto’, tanto quanto me conhecem e me têm visto”. Pois no rosto de Cristo nós vemos a glória de Deus, assim como vemos um pai no seu filho, pelo fato do filho se parecer com seu pai. Cristo diz aos seus discípulos que eles não eram tão ignorantes quanto pareciam ser, pois, embora fossem criancinhas, ainda assim conheciam o Pai, 1 João 2.13. Observe que muitos dos discípulos de Cristo têm mais conhecimento e mais graça do que pensam ter, e Cristo percebe isto, e fica satisfeito com este bem que eles possuem e que não se dão conta de possuí-lo, pois aqueles que conhecem a Deus não sabem, imediatamente, que o conhecem, 1 João 2.3.

 

III – Filipe perguntou sobre o Pai (v. 8), e Cristo lhe respondeu, vv. 9-11. Observe:

1. O pedido de Filipe por alguma revelação extraordinária do Pai. Ele não era tão disposto a falar como outros, entre eles, eram, e ainda assim, com um fervoroso desejo de mais luz, ele clama: “Mostra-nos o Pai”. Filipe ouviu tudo o que Cristo disse a Tomé, e se deteve nas últimas palavras: “O tendes visto”. “Não”, diz Filipe, “isto é o que nós queremos, é o que desejamos: “Mostra-nos o Pai, o que nos basta”.

(1) Isto pressupõe um fervoroso desejo de conhecer a Deus como Pai. O pedido é: “‘Mostra-nos o Pai’. Deixe-nos conhecê-lo neste relacionamento”. E isto ele implora, não somente para si mesmo, mas para o resto dos discípulos. A alegação é: “Nos basta”. Ele não somente professa isto por si mesmo, mas fala também pelos seus co-discípulos. Conceda-nos somente uma visão do Pai, e teremos o suficiente. “Embora Filipe não quisesse dizer isto, ainda assim o Espírito Santo, pela sua boca, desejava aqui nos ensinar que a satisfação e a felicidade de uma alma consiste em ver a Deus, e desfrutar sua gloriosa presença”, Salmos 16.11; 17.15. No conhecimento de Deus, baseia-se todo o entendimento, e ele está no topo do nosso anelo. No conhecimento de Deus, como nosso Pai, a alma se satisfaz. Uma visão do Pai é um céu sobre a terra, e nos enche de uma alegria indescritível.

(2) A maneira como Filipe fala aqui indica que ele não estava satisfeito com esta revelação do Pai que Cristo julgava adequado fazer-lhes. Ele deseja argumentar com o Senhor e pressioná-lo, pedindo algo além, e nada menos que alguma aparição visível da glória de Deus, como aquela que fora dada a Moisés (Êxodo 33.22), e aos anciãos de Israel, Êxodo 24.9-11. “Deixa-nos ver o Pai com nossos olhos físicos, como vemos a ti, e isto nos basta. Nós não te perturbaremos com mais perguntas do tipo: Para onde vais?” Isto manifesta não somente a debilidade da sua fé, mas sua ignorância sobre a maneira como o Evangelho manifesta o Pai, que é espiritual e imperceptível. Uma visão de Deus como esta, pensa Filipe, lhes bastaria, e ainda assim, àqueles que o viram desta maneira não bastou, mas eles logo se corromperam e fizeram urna imagem de escultura. As instituições de Cristo proveram melhor para a confirmação da nossa fé do que nossas próprias invenções poderiam fazê-lo.

2. A resposta de Cristo, lembrando-o das revelações já feitas sobre o Pai, vv. 9-11.

(1) O Senhor o lembra do que ele tinha visto, v. 9. Ele o censura pela sua ignorância e desatenção: “Estou há tanto tempo convosco”, mais de três anos relacionando-me intimamente convosco, ‘e não me tendes conhecido, Filipe? Quem me vê a mim vê o Pai; e como dizes tu: Mostra-nos o Pai?’ Tu desejas pedir aquilo que já tens?” Aqui:

[1] O Senhor o censura por dois motivos. Em primeiro lugar, por não aprimorar seu conhecimento de Cristo, como poderia ter feito, a um conhecimento claro e distinto dele: “Você não me conhece, Filipe, a mim, a quem você seguiu por tanto tempo, e com quem conviveu tanto?” Filipe, no primeiro dia em que veio a Cristo, declarou que sabia que Ele era o Messias (cap. 1.45), e até esta ocasião não sabia que o Pai estava nele. Muitos que têm bom conhecimento das Escrituras e das coisas divinas não conseguem realizar o que se espera deles, por não combinar as ideias que têm e prosseguir rumo à perfeição. Muitos conhecem a Cristo, e ainda assim não sabem dele o que poderiam saber, nem veem nele o que deveriam ver. O que agravava a tolice de Filipe era o fato de que ele tinha tido uma oportunidade de aprimoramento durante muito tempo: “Estou há tanto tempo convosco”. Observe que quanto maior o tempo em que desfrutarmos dos meios do conhecimento e da graça, mais imperdoáveis seremos, se estivermos imperfeitos em termos de graça e conhecimento. Cristo espera que nossa proficiência seja, de alguma maneira, correspondente à nossa condição, para que não sejamos sempre crianças. Vamos refletir sobre isto: “Eu tenho sido um ouvinte de sermões, um estudioso das Escrituras, um aluno da escola de Cristo, por tanto tempo, e ainda assim estou tão fraco no conhecimento de Cristo, e tão inexperiente na palavra da justiça?” Em segundo lugar, Ele o censura pela sua fraqueza no pedido que faz: “Mostra-nos o Pai”. Observe que aqui fica evidente uma grande fraqueza dos discípulos de Cristo, que eles não sabiam o que deviam pedir nas orações, como lhes convinha (Romanos 8.26), e frequentemente pediam mal (Tiago 4.3), aquilo que não era prometido ou que já tinha sido concedido no sentido de promessa, corno aqui.

[2] O Senhor o instrui, e lhe dá uma máxima, que não somente enaltece ao próprio Senhor Jesus Cristo, de maneira geral, e nos conduz ao conhecimento de Deus nele, mas justifica aquilo que o Senhor já tinha dito (v. 7): Vós “o conheceis e o tendes visto”, e responde ao que Filipe tinha lhe pedido: “Mostra-nos o Pai”. “Ora”, diz Cristo, “o problema logo estará resolvido, pois quem me vê a mim vê o Pai”. Em primeiro lugar, todos os que viam a Cristo na carne podiam ter visto o Pai nele, se Satanás não tivesse cegado seus entendimentos, e não os tivesse mantido afastados de uma visão de Cristo como imagem de Deus, 2 Coríntios 4.4. Em segundo lugar, todos os que viam a Cristo, pela fé, viam nele o Pai, embora não percebessem imediatamente que isto acontecia. À luz da doutrina de Cristo, eles viam a Deus como o “Pai das luzes”. Nos milagres, eles viam a Deus como o Deus de poder, o dedo de Deus. A santidade de Deus resplandecia na imaculada pureza da vida de Cristo, e sua graça, em todos os atos de graça que Ele realizou.

(2) O Senhor o lembra daquilo em que ele tinha motivos para crer (vv. 10,11): “‘Não crês tu que eu estou no Pai e que o Pai está em mim”, e que, portanto, ao ver-me a mim, tu vês o Pai? Tu não crês nisto? Se não crês, aceita minha palavra e creia agora”.

[1] Veja aqui em que devemos crer: “Que eu estou no Pai e que o Pai está em mim”, isto é, como Ele tinha dito (cap.10.30), “Eu e o Pai somos um”. Ele fala do Pai e de si mesmo como duas pessoas, e ainda assim são “um só”, como jamais quaisquer duas outras pessoas poderão ser. Ao conhecer a Cristo como Deus de Deus, luz da luz, verdadeiro Deus de verdadeiro Deus, gerado, não feito, e sendo de uma substância com o Pai, por quem todas as coisas foram feitas, nós conhecemos o Pai. E ao vê-lo desta maneira, nós vemos o Pai. Em Cristo, nós contemplamos mais da glória de Deus do que Moisés contemplou no monte Horebe.

[2] Veja aqui que motivos nós temos para crer nisto, e são dois. Nós devemos crer nisto, em primeiro lugar, pela sua palavra: ”As palavras que eu vos digo, não as digo de mim mesmo”. Veja cap. 7.16: ”A minha doutrina não é minha”. O que Ele dizia lhes parecia negligente como a palavra do homem, como se falasse seu próprio pensamento, de acordo com sua vontade. Mas, na realidade, era a sabedoria de Deus que compunha tais palavras, e a vontade de Deus que as impunha. Ele não falava somente de si mesmo, mas da mente de Deus, de acordo com os conselhos eternos. Em segundo lugar, pelas suas obras: “O Pai, que está em mim, é quem faz as obras”, e, portanto, creiam em mim por causa delas. Observe:

1. Está escrito que o Pai está nele, Ele habita em mim, pela união inseparável da natureza divina e humana. Deus nunca teve um templo como este para habitar na terra, como o corpo do Senhor Jesus, cap. 2.21. Aqui estava a verdadeira Shekinah, da qual aquela que estava no Tabernáculo era apenas um tipo. “Nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade”, Colossenses 2.9. O Pai habita tanto em Cristo, que nele pode ser encontrado, como um homem pode ser encontrado onde mora. Buscai ao Senhor, buscai-o em Cristo, e o encontrarão, pois nele Ele habita.

2. Ele “é quem faz as obras”. O Senhor Jesus Cristo proferiu muitas palavras poderosas, e realizou muitas obras de misericórdia, e o Pai as realizou através dele. E a obra de redenção, de maneira geral, é a própria obra de Deus.

3. Nós devemos crer nisto “por causa das mesmas obras”. Assim como nós devemos crer na existência e nas perfeições de Deus, por causa das obras da criação, que declaram sua glória, também devemos crer na revelação de Deus ao homem em Jesus Cristo, por causa das obras do Redentor, aquelas poderosas obras que, exibidas (Mateus 14.2), o exibem, e nele, a Deus. Observe que os milagres de Cristo são provas da sua missão divina, não somente para a condenação dos infiéis, mas para a confirmação da fé dos seus próprios discípulos, cap. 2.11; 5.36; 10.37.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

POSSIBILIDADES TERAPÊUTICAS DA MACONHA

Estudos recentes indicam que compostos da maconha podem proteger o cérebro dos efeitos do trauma, aliviar espasmos da esclerose múltipla e reduzir crises epilépticas. Trabalho preliminar mostra que as substâncias têm potencial para retardar o crescimento de tumores e reduzir a lesão cerebral em casos de Alzheimer.

Possibilidades terapêuticas da maconha

A polêmica a respeito da Cannabis sativa, a maconha, é antiga, mas vem se tornando cada vez mais atual, à medida que surgem novos estudos a respeito dos efeitos da substância nas funções cerebrais (como atenção, motivação, memória), bem como dos riscos da utilização e de seu potencial terapêutico. Inúmeras pesquisas publicadas nos últimos anos – muitas delas feitas em tubos de ensaio e animais, mas algumas executadas em humanos – sugerem que os canabinoides, ingredientes ativos da maconha, podem ter usos medicinais, até além dos reconhecidos e aprovados legalmente em alguns países.

A questão, porém, não se restringe à compreensão dos efeitos neurológicos que o consumo provoca. É preciso antes entender alguns pontos importantes. O composto químico da maconha que induz além das alucinações, o delta-g-tetraidrocanabinol (THC), foi isolado em 1964. Vários outros componentes foram descritos desde então, inclusive o canabidiol (composto que não provoca euforia), usado por pacientes com epilepsia.

No final da década de 1980 e início dos anos 1990, cientistas passaram a identificar e a mapear dois grupos de moléculas, conhecidos como receptores, no sistema nervoso central e no sistema imune, que ajudam canabinoides a se ligarem às células. Essa interação parece desempenhar um papel crítico sobre diversos efeitos da maconha. O cérebro dispõe de pequenas quantidades de seus próprios canabinoides, os endocanabinoides, que também se ligam a esses receptores.

CB1, o mais comum dos dois receptores principais, se distribui amplamente pelo cérebro, com concentrações elevadas no córtex e no hipocampo (uma região importante para formar novas memórias e mais recentemente reconhecido pela neurociência como uma área importante para conferir o tom emocional associado a recordações). Receptores de CB1 ocorrem também em partes do cérebro envolvidas na percepção da dor. Há níveis baixos de CB1 no tronco cerebral, onde as funções cardíacas e respiratórias são reguladas: sua relativa escassez nessa região pode explicar por que, ao contrário de opioides, mesmo doses pesadas de canabinoides não representam ameaças graves ao coração ou à capacidade respiratória.

CB2. o outro receptor principal de canabinoide, é encontrado principalmente no sistema imune. A sua presença lá interessa a cientistas, pois o sistema imune desencadeia a inflamação, e estudos mostram que a maconha pode ter efeito anti­inflamatório.

No cérebro, quando o componente psicoativo THC se liga ao CB1, ele interfere na ação de neurotransmissores que são moléculas sinalizadoras liberadas pelos neurônios. O resultado é a euforia pela qual a maconha é famosa, muitas vezes acompanhada do prejuízo temporário da memória de curto prazo. Dois outros efeitos bem conhecidos da ligação THC- CB1 são o estímulo do apetite, um benefício para pacientes com aids e outros que precisam manter o peso corporal, e a supressão de náuseas, excelente para alguns pacientes com câncer submetidos à quimioterapia. Foi demonstrado que o THC interrompe a transmissão dos sinais de dor.

Várias pesquisas recentes sugerem que o THC também pode proteger os neurônios do trauma. Os primeiros estudos em tubos de ensaio apontaram para esse efeito, bem como um estudo clínico publicado em outubro passado. Nele, o cirurgião de trauma David Plurad e seus colegas fizeram uma revisão retrospectiva de 446 traumatismos crânio-encefálicos (TCE), casos tratados no Harbor-UCLA Medical Center, de janeiro de 2010 a dezembro de 2012. Segundo estudo publicado na revista American Surgeon, foi descoberto que 82 desses pacientes tiveram teste positivo para THC, e dois deles morreram, o que representa 2.4% da amostra. O índice de mortalidade entre os 364 pacientes que não tinham THC em seu sistema foi de 11.5%, quase cinco vezes superior.

Levando em conta outros fatores como idade, gravidade da lesão e nível de álcool no sangue, pesquisadores concluíram que a relação entre o THC e uma menor taxa de mortalidade nesses pacientes era evidente. Embora os mecanismos não sejam plenamente compreendidos, a investigação anterior sugere que o THC e canabidiol podem aumentar o fluxo sanguíneo no cérebro, trazendo o oxigênio necessário, bem como nutrientes para os neurônios em risco. Como eles inibem o glutamato, podem evitar também efeitos tóxicos que ocorrem após trauma encefálico quando os neurónios podem ser superestimulados pelo neurotransmissor.

Há comprovações de que a maconha prejudica a percepção e o tempo de reação, por isso pode ter contribuído para os acidentes que Plurad estudou – e, ao mesmo tempo, talvez tenha ajudado algumas pessoas a sobreviver a eles. A ironia não passou despercebida pelo cirurgião. “Nunca haverá uma única resposta para questões sobre maconha”, acredita Plurad. “É bom para você: é ruim para você. Nunca será um ou o outro. Ela sempre estará em algum lugar no meio.”

Possibilidades terapêuticas da maconha.3

Possibilidades terapêuticas da maconha.2

OUTROS OLHARES

O PRODUTO É VOCÊ

Gigantes da tecnologia ganham bilhões de dólares ao capturar dados de usuários. Um estudo exclusivo revela como Facebook, Google, Uber, entre outras, estão criando uma nova indústria digital explorando a sua privacidade.

O produto é você

Se você quer manter algum segredo, precisa escondê-lo de si mesmo. A frase do escritor inglês George Orwell foi publicada no clássico 1984. Escrita em 1948, a obra retratava uma sociedade em que os anseios e desejos mais profundos eram usados como uma forma de controle por quem detinha os recursos tecnológicos para capturar essas informações. Setenta anos depois, as palavras de Orwell nunca foram tão atuais. Não seria exagero dizer que as grandes empresas de tecnologia conhecem melhor cada um dos usuários de seus serviços do que eles mesmos. O Google sabe o que você pesquisa e a sua localização. O Facebook é capaz de descrever detalhadamente seus principais interesses e de sua rede de amigos. 0 Tinder conhece suas preferências sexuais e, até as pessoas que poderiam ser o seu par ideal. O Uber, por sua vez, sabe os trajetos que você costuma percorrer e os locais que frequenta habitualmente. Como um novo petróleo, hoje, toda e qualquer pegada digital é um combustível para que essas empresas desenvolvam e entreguem produtos, serviços e anúncios precisamente personalizados. “Essas plataformas já conhecem os hábitos de saúde, de alimentação e as mais diversas preferências dos seus usuários”, diz Marcelo Crespo, sócio do Patrícia Peck Pinheiro Advogados. O escritório deste produziu um estudo exclusivo que revela como essas gigantes que figuram entre as empresas mais valiosas do planeta estão coletando os seus dados para gerar receitas bilionárias. Detalhe: com o seu consentimento.

O estudo analisou os termos de uso dos serviços das empresas Facebook, Instagram, WhatsApp, Google, YouTube, Microsoft, LinkedIn, Uber, Twitter, Spotify e Tinder. A partir desse levantamento, foi possível identificar quais são as informações dos usuários Capturadas por cada uma dessas companhias, bem como os pontos que podem ser considerados abusivos em suas políticas de privacidade. O assunto nunca esteve tão em destaque. Na semana passada, o presidente Michel Temer sancionou a primeira lei específica que trata da coleta, do armazenamento e da utilização de dados pessoais. As normas seguem o padrão europeu, que entrou em vigor em maio e possibilitam, por exemplo, que qualquer brasileiro solicite consulta e exclusão de informações armazenadas em bancos de dados de qualquer empresa com operações no País. “A economia de dados é o futuro. Ter uma regulamentação é essencial para assegurar que essa atividade flua de forma plena”, diz o deputado federal Orlando Silva (PCdoB), relator da lei brasileira. “E ao mesmo tempo, é preciso garantir o direito à privacidade do usuário, que é um direito básico da sociedade.”

Essas leis impactam diretamente na forma como as gigantes do mercado de bits e bytes ganham dinheiro. Nesse ramo, a empresa que talvez mais se destaque seja o Google. A companhia americana, que foi parte da holding Alphabet, avaliada em USS845 bilhões, coleta mais dados dos usuários do que apenas as pesquisas feitas por eles no famoso buscador. Essas informações, concedidas voluntariamente por quem aceita os termos de uso das plataformas da empresa, incluem nomes, data de nascimento, gêneros, dispositivos usados na conexão, sites visitados, números de telefones, endereços de IP, e-mails enviados e recebidos pelo G mail e até os anúncios com os quais os internautas interagem. Tudo isso é explicado didaticamente nas políticas de privacidade da gigante de buscas. O que não está explicado é o que a Google efetivamente faz com esse verdadeiro dossiê. Os termos de uso limitam-se a informar que os dados podem ser utilizados para fins de publicidade, análises e o aprimoramento dos serviços ofertados, além de poderem ser compartilhados com terceiros, sem especificar quem seriam esses parceiros. A companhia também se reserva o direito de permanecer com as informações capturadas, mesmo que o usuário em questão não utilize mais os seus serviços.

O produto é você.2

A ALMA DO NEGÓCIO

Isso explica, por exemplo, como o Google consegue direcionar tão cirurgicamente seus anúncios. Que atire a primeira pedra quem nunca se deparou com uma propaganda on-line – exibida em qualquer site – que guarde alguma relação com um termo pesquisado no buscador. Se você pesquisar, por exemplo, “como é morar em Copacabana”, é provável que seja bombardeado por anúncios relacionados com a venda de imóveis no bairro carioca. “A análise de dados é importante porque ajuda a entender como o usuário se comporta, diz André Miceli, professor e Coordenador do MBA em marketing digital da Fundação Getúlio Vargas. “Dessa forma, os anúncios ganham uma segmentação e uma precisão maior e, por consequência, geram mais valor para os anunciantes dessas plataformas”. Se eticamente a prática é questionável, nos números, ela é uma verdadeira mina de ouro. Dos USS110,8 bilhões faturados pela gigante de buscas em 2017, uma fatia de US$95,3 bilhões foi obtida em publicidade.

Com uma coleta extensa de informações, o Facebook é outra companhia que vê seu negócio cada vez mais fundamentado nos dados de seus usuários. A empresa, avaliada em US$503bilhões, só incorporou a publicidade a partir de 2012. Mas, ao que tudo indica, já nasceu sabendo do poder que as informações capturadas por sua plataforma poderiam gerar. Uma troca de mensagens de Mark Zuckerberg com um colega de Universidade, em 2004, veio à tona seis anos depois, em uma reportagem publicada no site americano Silicon Valley Insider. O diálogo revela que o fundador do Facebook, plataforma usada atualmente por 2 bilhões de pessoas no mundo, tinha em seu banco de dados mais de 4 mil e-mails, fotos e endereços de estudantes de Harvard a partir dos cadastros feitos por esses universitários na então jovem rede social criada por ele em um dormitório estudantil. Questionado pelo amigo sobre o assunto, Zuckerberg zomba “A pessoas simplesmente os enviam para mim, eu não sei porque. Eles ‘confiam em mim’. Bando de idiotas.” Para Daniel Domeneghetti, CEO da E-Consulting, os usuários têm, de fato, sua parcela de responsabilidade nessa relação. “As pessoas não leem os termos”, afirma. Vale ressaltar que, na maioria dos casos, os termos são calhamaços de documentos em linguagem jurídica, que desencorajam a leitura. “O elo de confiança para dar o consentimento a essas plataformas é o irmão, o amigo que já está ali, e não a empresa em si”.

Zuckerberg, é verdade, se desculpou pelo posicionamento que considerou imaturo e irresponsável. Isso não significa, contudo, que abdicou das informações que simplesmente chegavam gratuitamente em suas mãos. De acordo com o estudo, a rede social se reserva o direito, por exemplo, de transferir a licença da guarda dos dados para terceiros. Essa licença, aliás, é considerada pelo escritório de advocacia Patrícia Peck Pinheiro como “muito ampla”, pois vai além do que a empresa realmente precisaria para operar o serviço. De qualquer forma, o modelo fez com que a empresa – dona ainda do mensageiro instantâneo WhatsApp e do álbum de fotos virtual Instagram – ganhasse USS 39 bilhões com publicidade em 2017. O montante representa quase que a totalidade do faturamento anual da companhia de Menlo Park no ano passado, de USS 40,6 bilhões.

A indústria de big data, termo usado para se referir a captura e a análise de uma grande quantidade de dados, deve movimentar USS 168,7 bilhões no mundo neste ano, conforme um estudo realizado pela consultoria americana Frost & Sulivan. Mas, ao mesmo tempo em que gigantes da tecnologia ganham fortunas com informações dos usuários, elas também correm o risco de pagarem um preço alto. Em 2016, a Uber teve 57 milhões de dados roubados de sua plataforma por hackers. Em março deste ano, outro escândalo. A consultoria britânica Cambridge Analytica usou indevidamente dados de 87 milhões de usuários do Facebook na tentativa de manipular as eleições americanas e o referendo do Brexit. O caso chegou a fazer com que a rede social perdesse mais de USS 90 bilhões em valor de mercado e colocou em xeque os limites morais, éticos e legais da prática. A falta de transparência é outro ponto que precisa ser levado mais a sério por esses barões digitais. Em abril, um grupo formado por 23 entidades de defesa das crianças registrou uma denúncia na Comissão Federal de Comércio dos Estados Unidos acusando o Google de coletar dados de crianças, sem o consentimento e o aviso direto aos pais. A suposta captura ocorreria por meio do YouTube, a plataforma de vídeos da companhia americana, e teria como finalidade o envio de anúncios específicos a esse público. Em sua defesa a empresa negou que o serviço é voltado a usuários maiores de 13 anos.

Os termos, nebulosos e os riscos à privacidade não estão restritos ao Facebook, Google e aos demais negócios dessas gigantes, como o WhatsApp, o Instagram e o YouTube. E vão além das práticas relacionadas diretamente à publicidade. É o caso do LinkedIn, rede social de propriedade da Microsoft, que gera boa parte de suas receitas a partir das assinaturas de profissionais e empresas. Uma das cláusulas consideradas abusivas refere-se ao encerramento da conta na plataforma. Ela estabelece que as informações compartilhadas até então pelos usuários seguirão visíveis mesmo após o perfil ser deletado, o que abre a possibilidade, inclusive, de serem exibidas nos serviços de terceiros. A Uber, avaliada em US$ 72 bilhões, e com uma receita de USS 37 bilhões em 2017, gerado, majoritariamente pelas taxas cobradas por cada corrida, também tem políticas que suscitam questionamentos. Uma delas estabelece que, ao aceitar os termos propostos, o usuário concede uma licença global, perpétua, irrevogável, intransferível e isenta de royalties para que o aplicativo possa explorar das mais variadas formas os conteúdos produzidos por aquela pessoa nas interações com a empresa. “É um direito do usuário revogar seu consentimento a qualquer tempo”, diz Crespo.

O estudo destaca outros componentes críticos. O Twitter, o YouTube e a Microsoft, por exemplo, podem modificar os termos de consentimento a qualquer momento, sem que precisem avisar previamente os usuários. O Spotify utiliza serviços de terceiros e compartilha os dados dos usuários com parceiros comerciais. O WhatsApp, por sua vez, não garante que as informações fornecidas nessas regras sejam “exatas, estejam completas, ou sejam úteis”.  A Microsoft também informa que os dados coletados podem ser armazenados em qualquer lugar do mundo. Assim como o Tínder e o Instagram. “Essas informações podem ser enviadas a países nos quais as leis de proteção de dados sejam mais brandas”, afirma Crespo. “A combinação de tantos dados e fontes traz riscos que estamos apenas começando a abordar”, diz Tarun Wadhwa, CEO da consultoria americana Day One Insight e professor convidado da Carnegie Mellon University. “Os usuários não têm consciência das barganhas que estão fazendo para utilizar esses serviços.”

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ENTRE A CRUZ E A ESPADA

Encontrar um equilíbrio nessa relação não é uma missão fácil. O grande desafio de uma política de privacidade é dar clareza para o titular dos dados sem escancarar o seu modelo de negócios para a concorrência, diz Crespo. A opinião é compartilhada por outro especialista. “É como perguntar a fórmula da Coca-Cola. Entra no campo do segredo industrial”. E os mercados entendem que é melhor correr esse risco do que sufocar a competição e o crescimento da economia”, afirma Domeneghetti.

A parte dos segredos de cada empresa, algumas aplicações baseadas nos dados coletados já são mais conhecidas. A mais comum é o desenvolvimento ou melhoria de produtos e serviços. Além de recomendar artistas similares àqueles ouvidos habilmente pelo usuário, o Spotify, por exemplo, está testando um algoritmo para sugerir músicas de gêneros que, a princípio, dificilmente figurariam nas playlists daquela pessoa. A conexão é feita por trechos específicos dessas canções, que possuem paralelos como gosto musical do usuário. No geral, abordagens semelhantes são adotadas por várias dessas plataformas. “Essas informações são valiosas para que essas empresas sigam dominando o mercado”, diz Regina Cantele, coordenadora acadêmica dos Curso de MBA em Engenharia de Dados da FIAP.

Na trilha aberta pelo big data, o potencial de desenvolvimento de produtos e serviços é imenso. E, para os especialistas consultados, o pacote à disposição não traz, necessariamente, apenas ofertas com consequências negativas para os usuários. Um exemplo citado é o caso de seguradoras que, a partir de dados coletados por um aplicativo de GPS, como o Waze, podem oferecer uma apólice mais adequada – e, em alguns casos, mais barata – ao perfil do motorista em questão. Ainda no campo dos aplicativos de transportes, outra possibilidade é a sugestão de um trajeto que inclua uma determinada loja que atenda precisamente aos hábitos de compra do condutor. A área da saúde é mais uma frente. Já existem pesquisas sendo realizadas com o auxílio da inteligência artificial e que reúnem prontuários de milhares de pacientes em todo o mundo, sob o consentimento. A ideia é reunir uma massa crítica de casos para avançar no diagnóstico e tratamento de doenças, como o câncer. A americana IBM, com a plataforma Watson, é uma das que estão investindo nessa frente.

Seja qual for a aplicação, os especialistas alertam que a questão central é o usuário conhecer claramente as regras do jogo e ter em mãos elementos suficientes para decidir se está disposto a trocar suas informações por aquilo que enxerga ser um benefício. Afinal a princípio, essa escolha é dele. Mas, em uma sociedade no qual a tecnologia se torna cada vez mais onipresente na vida das pessoas, até mesmo a opção por exercer esse poder tende a ser um desafio. “Estamos caminhando para um cenário de cidades inteligentes, onde tudo estará conectado e monitorado”, diz Regina. “Você pode até não estar em nenhuma rede social ou plataforma, mas existirão outros dispositivos que seguirão a sua jornada”. Daniel Domeneghetti também enxerga pouco espaço para a existência de eremitas totalmente isolados dessa avalanche digital.  “Hoje, é quase impossível preservar totalmente a sua privacidade. Mesmo que você não se exponha nas redes, alguém fará isso por você.

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O QUE DIZEM AS EMPRESAS

Procurada, a assessoria do Uber afirmou que teve sua política de privacidade atualizada globalmente em maio para adequá-la às normas europeias, e disse que segue as leis de cada país onde opera. Também por meio de nota, a assessoria do Twitter informou que mantém informações detalhadas em sua política de privacidade e que a empresa “acredita que os usuários devem saber quais tipos de informações compartilham com a companhia e como ela os utiliza”. O departamento Jurídico da Microsoft afirmou que “a privacidade é um direito humano fundamental” e que “os dados são sempre do cliente e, por isso, sempre damos a ele total controle para decidir a forma como eles serão utilizados.” As assessorias das empresas Facebook e WhatsApp não responderam a questionamentos enviados por e-mail. Os representantes das empresas Tinder e Spotify não se manifestaram sobre o assunto. Já as assessorias do Google, do YouTube e do Instagram, não responderam aos contatos.

GESTÃO E CARREIRA

NÃO ENTENDI, SORRY

Adotar expressões – e siglas – em inglês virou moda no mundo corporativo. Mas especialistas advertem: use com moderação.

Não entendi, sorry

Na reunião, o gerente diz que é preciso preparar um report para ossiakehojders. O coordenador responde que vai startar o job assim que fizer o call de briefing. No e-mail, as pessoas enviam mensagens com siglas como POV, Asap e fYI. Isso sem falar na febre do “C”, que se espalhou pelos escritórios do país. Hoje, cada empresa tem, além do CEO, o CFO, o CHRO, o COO, o CMO e o CTO, que nada mais são do que diretores de finanças, RH, operações, marketing e tecnologia, respectivamente.

Num mundo cada vez mais globalizado – e conectado -, os estrangeirismos se tornaram onipresentes no ambiente corporativo. “Na verdade, ao importar palavras, importamos conceitos. E no ambiente de trabalho, os americanos introduzem novidades”, afirma leda Maria Alves, professora titular do Curso de Letras da Universidade da São Paulo.

Um exemplo do que a professora fala são expressões como coaching e coworking, termos que carregam ideias e não possuem correspondentes exatos no Brasil. Portanto, a invasão dos estrangeirismos não é aleatória. Boa parte deles surge dentro de multinacionais e startups de fora, que costumam estar à frente das novidades em gestão de pessoas e de negócios, e acabam se espalhando pelos mercados locais. Isso faz mais sentido em segmentos como o turismo. Não há como negar que expressões como check-in e overbooking universalizam e facilitam a comunicação. Mas, na maioria dos casos, subscritos no idioma nativo poderiam ser usados sem que houvesse prejuízo à mensagem.

Por isso, não faz sentido abusar delas, correndo o risco de comprometer o recado que quer passar aos empregados. É por isso que muitos executivos já vêm mudando a forma de falar. Eduardo Marchiori, CEO da consultoria americana Mercer no Brasil tomou consciência disso após fazer uma reunião sobre números do negócio para toda a empresa.

Dias depois da apresentação, tomando café com os funcionários, ele descobriu que algumas das 300 pessoas que estavam ali não entenderam parte do que foi dito devido ao excesso de inglês. “Percebi, conversando com eles, que alguns não compreenderam expressões importantes como grotech markets (mercados com potencial de crescimento”, relembra.

Desde então, Eduardo toma o cuidado de traduzir – ou explicar, quando não há uma boa tradução correspondente no português – o vocabulário que usa nos encontros de resultado, que faz a cada três meses. Além disso, ele convocou um comitê, formado por profissionais dos times de marketing, RH e jurídico, entre outros, para elaborar uma cartilha em que conste um glossário de termos e expressões. Nela, há palavras como onboarding, que quer dizer recepção de novos funcionários, e MCG, de Multinacional, Client Group, ou grupo de clientes formado por multinacionais.

Se por um lado é importante maneirar nos estrangeirismos para evitar ruídos no discurso, por outro vale investir naquilo que já caiu na boca do povo. Isso ocorre, em geral, com expressões do inglês cujo peso semântico é maior que seus equivalentes. “A palavra gestor, por exemplo, tem conotação ampla. Então, quando você diz CEO, está falando “do” gestor, exemplifica Tatiana Farias, coordenadora de pós-graduações em letras, linguística, literaturas e artes da Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro. Marco Tulio Zaniru, professor e pesquisador de comportamento organizacional da Fundação Getúlio Vargas, vai além.

Segundo ele, algumas palavras em inglês trazem dinamismo e funcionalidade para a comunicação corporativa. “Call significa telefonema, mas, no ambiente de trabalho, é uma maneira formal de marcar um alinhamento sobre um determinado assunto. E todo mundo entende.

Porém, numa companhia grande, com diferentes níveis hierárquicos departamentos, vale refletir o uso excessivo de expressões em outro idioma. No topo da pirâmide corporativa o chamado Top Management, já que estamos no território dos estrangeirismos, saber inglês é mandatório. Na base, a história é outra.

Na Atlas Schindler, multinacional de elevadores com cerca de 5.500 empregados no Brasil, palavras estrangeiras foram praticamente limadas no dia a dia. O cuidado foi tomado para que as equipes operacionais não se perdessem em meio à enxurrada de termos em inglês (e alemão) que vinham da matriz, na Suíça. Procuramos traduzir os conceitos para que todos, do executivo ao técnico, entendam e fiquem na mesma página”, diz Carlos Augusto Junior, diretor de pessoas e comunicação no Brasil. A companhia também se vale de um glossário, entregue aos novos funcionários, com a tradução de siglas e expressões que, por alguma razão, ainda precisam ser usadas, como KW; como são chamadas as fábricas da empresa no exterior, e EI, instalações existentes. São feitas ainda reuniões para discutir a adaptação ao contexto brasileiro de todo material enviado à subsidiária.

PERGUNTAR NÃO OFENDE

Diante do mar de expressões e termos estrangeiros, não é raro um profissional se encontrar à deriva. Se os termos aparecerem num e­ mail, é simples: basta “dar um Google”. Mas a coisa complica quando eles surgem no meio de uma reunião importante ou na entrevista de emprego. Como admitir que não entendeu o que foi dito?

De acordo com Rannison Silva, gerente de negócios da consultoria de recrutamento Robert Half, o indivíduo não é obrigado a conhecer todos os jargões corporativos e não há razão para se sentir pormenorizado caso os desconheça. O melhor é perguntar.  “Isso demonstra que você tem interesse pelo assunto e pode enviar sinais positivos, como os de humildade, disposição para aprender e até autoconfiança, diz. Rannison sugere que o questionamento seja feito de forma direta, dizendo algo na linha: “Não estou familiarizado com o termo, o que quer dizer exatamente?”.

Foi justamente para evitar esse tipo de constrangimento que a área responsável pelos treinamentos da Claro, operadora de celular do grupo mexicano América Móvil, decidiu limitar os termos em inglês nos materiais de ensino. “Um dos poucos que me chamaram a atenção eram as palavras americanizadas e as siglas, que o aluno não entendia e tinha vergonha de perguntar”, afirma Ronaldo Domingues, gerente de treinamento comercial da empresa. Na capacitação do time comercial da Claro, expressões como decoder e DTH foram traduzidas como “receptor de sinal” e “‘direto para casa, respectivamente.

A Spin Design, consultoria com foco em treinamentos, retirou siglas e palavras em inglês de materiais que desenvolve a pedido de seus clientes “O funcionário demora mais para entender a informação, e a curva de desempenho dele fica lenta”, afirma Renato Gangoni, CEO da empresa. De fato, a comunicação só é efetivada quando o outro compreende plenamente a mensagem. Basta uma palavra estranha para comprometer o discurso. “Por isso, é essencial avaliar com quem está falando”, diz Bruno Carramenha, diretor da 4CO, consultoria de comunicação corporativa e cultura organizacional. Para ele, os estrangeirismos só são eficazes quando geram aproximação entre as partes. Esse é o caso das startups, cujo inglês serve como uma espécie de elo entre empreendedores e investidores que compõem o ecossistema. “Esse tipo de linguagem faz parte da cultura dessas empresas. Se tentarem mudar isso pode ser que os fundadores não consigam se expressar da forma devida, afirma Renan Brito, diretor de operações da Ozonean, aceleradora de São Paulo.

Segundo especialistas, no fundo, há certo encantamento nacional por aquilo que é de fora – a tal síndrome de vira-latas – bem como uma crença equivocada de que utilizar expressões de outro idioma confere certo status, a profissional acha que falar inglês o coloca em outro patamar. O que não é verdade. “Se o indivíduo domina a língua nativa, não é necessário usar palavras estrangeiras para mostrar que é bom”, diz Lígia Velozo Crispino, sócia da Companhia de Idiomas.

Foi o que percebeu a administradora de empresas Cecília Viriato, de 35 anos. Vinda do mercado financeiro, onde tinha muito contato com investidores estrangeiros, ela migrou em 2012 para grandes companhias nacionais, como o Grupo Iguatemi e o Pão de Açúcar, onde liderava projetos com pessoas não bilingues. “E acontecia de eu falar duas, três palavras em inglês numa única frase, o que virava motivo de piada. Foi aí que eu percebi que havia mudado de ambiente”, diz ela, que hoje é gerente de planejamento estratégico no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, local em que segue controlando o maneirismo. “Antes, eu falava: “vamos fazer um wrap up rapidinho, pessoal”. Agora, digo: “Vamos elencar os principais pontos, pessoal”. Nada como o bom e velho português.

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SUGLAS DA MODA

Veja as mais usadas e o que elas significam

ASAP (As Soon As Possible): O Mais Breve Possível.

BSC (Balanced Score Card): Indicadores Balanceados de Desempenho.

BTW (By The Way): Por Falar Nisso.

CRM (Customer Relationship Management): Gestão do Relacionamento com o Cliente. Sigla utilizada em times responsáveis por interações diretas com consumidores.

FYI&A (For Your Information and Action): Para Sua Informação e Ação.

KPI (Key Performance Indicator), Indicador-Chave de Desempenho, usado para medir a eficácia de uma ação no cumprimento de seus objetivos propostos.

POV (Point Of View): Ponto de Vista.

ROI (Return Over Investiment): Retorno sobre Investimento; esse indicador aponta quanto uma empresa está ganhando ou perdendo em um projeto.

ALIMENTO DIÁRIO

JOÃO 14: 1-3

Alimento diário

O Sermão Consolador de Cristo

 

Nestes versículos, temos:

I – Uma advertência geral que Cristo faz aos seus discípulos, contra a perturbação no coração (v.1): “Não se turbe o vosso coração”. Agora eles começavam a se perturbar, eles estavam no início desta tentação. Aqui vemos:

1. Como Cristo percebeu isto. Talvez isto estivesse aparente na fisionomia dos discípulos. Está escrito que (cap. 13.22) “os discípulos olhavam uns para os outros”, com ansiedade e preocupação, e Cristo olhou para todos eles, e percebeu que eles começavam a se perturbar. Pelo menos, foi perceptível para o Senhor Jesus, que conhece todas as nossas tristezas secretas e não reveladas, a ferida que sangra internamente. Ele não somente sabe como somos afligidos, mas como ficamos influenciados sob nossas aflições, e como elas estão próximas dos nossos corações. Ele conhece todas as dificuldades a que seu povo, em qualquer ocasião, corre o risco de estar sujeito. Ele conhece nossas almas na adversidade. Muitas coisas contribuíam para perturbar os discípulos agora.

(1) Cristo tinha acabado de contar-lhes sobre a crueldade que Ele iria sofrer de alguns deles, e isto os perturbou a todos. Pedro, sem dúvida, parecia muito pesaroso com o que Cristo lhe tinha dito, e todos os demais estavam tristes, por Ele e por si mesmos também, sem saber quem seria o próximo de quem se diria que iria fazer alguma coisa ruim. Quanto a isto, Cristo os consola. Embora um zelo saudável sobre nós mesmos seja muito útil para nos conservar humildes e vigilantes, ainda as­ sim não deve predominar a ponto de inquietar nosso espírito e desalentar nossa santa alegria.

(2) Ele tinha acabado de lhes contar sobre sua separação deles, que não somente Ele iria embora, mas iria embora em uma nuvem de sofrimentos. Logo eles o veriam sobrecarregado de acusações, e estas seriam como uma espada nos seus ossos. Eles o veriam barbaramente maltratado e levado à morte, e isto também seria uma espada perfurando suas próprias almas, pois eles o tinham amado, e aceitado, e tinham deixado tudo para segui-lo. Quando olhamos o Cristo perfurado, não podemos deixar de lamentar e sentir amargura, embora vejamos o resultado e os frutos gloriosos deste seu sofrimento. Muito mais pesarosa deve ter sido esta visão para eles, que não podiam, então, ver nada à frente. Se Cristo os deixasse:

[1] Eles se sentiriam vergonhosamente desapontados, pois eles pensavam que este seria aquele que deveria libertar Israel, e deveria ter estabelecido seu reino, em poder e glória seculares, e, na expectativa disto, tinham deixado tudo para segui-lo. Agora, se o Senhor deixasse o mundo nas mesmas circunstâncias de miséria e pobreza em que o mundo estava quando Ele tinha vivido, e piores, eles se sentiriam derrotados.

[2] Eles se considerariam tristemente abandonados e desamparados. Eles sabiam, por experiência, a pouca presença de espírito que tinham em situações difíceis, e sabiam que não podiam ter certeza de nada, exceto de serem destruídos, caso se separassem do seu Mestre. Agora, com referência a tudo isto: “Não se turbe o vosso coração”. Aqui estão três palavras, e a ênfase pode ser colocada sobre qualquer uma delas de maneira significativa. Em primeiro lugar, sobre a expressão “se turbe”. Não se perturbem a ponto de ficarem confusos e agitados, como o mar agitado quando não pode repousar. Ele não diz: “Que seus corações não sejam sensíveis às tristezas, ou não se entristeçam por causa delas”, mas: “Não se confundam nem se descomponham, não se abatam nem se perturbem”, Salmos 42.5. Em segundo lugar sobre a palavra “coração”: “Embora a nação e a cidade se perturbem, embora sua pequena família e seu pequeno rebanho se perturbem, ainda assim não se turbe vosso coração. Mantenham o controle das suas próprias almas, mesmo quando não puderem manter o controle de mais nada”. O coração é a fortaleza principal. Façam o que fizerem, protejam-no dos problemas, protejam-no com toda diligência. O espírito deve suportar a debilidade, portanto cuidem para que ele não seja ferido. Em terceiro lugar, sobre a palavra “vosso”. “Vocês que são meus discípulos e seguidores, meus redimidos, eleitos, santificados, ainda que os outros estejam angustiados com as dificuldades desta época, não fiquem assim vocês também, pois vocês não são tolos. Que os pecadores de Sião tremam, mas “regozijem-se os filhos de Sião no seu Rei”. Com isto, os discípulos de Cristo devem fazer mais que os outros, devem conservar tranquilas suas mentes, quando todo o resto estiver inquieto.

2. O remédio que Jesus prescreve contra esta perturbação de espírito, que Ele via que estava prestes a dominá-los. De maneira geral, crer.

(1) Alguns entendem as duas sentenças de forma imperativa: “Crede em Deus, e nas suas perfeições e providência, e crede também em mim, e na minha mediação. Edifiquem com confiança sobre os grandes princípios reconhecidos da religião natural, que existe um Deus, que Ele é santíssimo, sábio, poderoso e bom, que Ele é o governador do mundo, e tem à disposição soberana sobre todos os eventos. E consolem-se, da mesma maneira, com as doutrinas peculiares daquela santa religião que Eu lhes ensinei”. Mas

(2) Nós entendemos a primeira parte como um reconhecimento de que eles realmente criam em Deus, pelo que Ele os elogia: “Mas, se vocês desejarem realmente prover para um dia de chuva, creiam também em mim”. Por intermédio de Cristo, nós somos levados a um concerto com Deus, e nos tornamos interessados na sua graça e promessa, nas quais, de outra maneira, sendo pecadores, nós perderíamos a esperança, e a lembrança de Deus teria sido uma perturbação para nós. Mas, crendo em Cristo, como o Mediador entre Deus e o homem, nossa fé em Deus se torna confortável. E esta é a vontade de Deus, que todos os homens honrem ao Filho assim como honram ao Pai, crendo no Filho assim como creem no Pai. Aqueles que creem apropriadamente em Deus, crerão em Jesus Cristo, a quem o Pai tornou conhecido a eles. E crer em Deus, por intermédio de Jesus Cristo, é um meio excelente de manter os problemas longe do coração. A alegria da fé é o melhor remédio contra as tristezas dos sentidos. E um remédio que tem uma promessa anexa a si. “O justo viverá da fé”. Um remédio com um anexo a si. “Pereceria sem dúvida, se não cresse”.

 

II – Aqui está uma instrução especial para crer na promessa da vida eterna, vv. 2,3. Jesus os tinha orientado a confiar em Deus, e a confiar nele. Mas para que deveriam eles confiar em Deus e em Cristo? Confiar neles para uma felicidade futura, quando este corpo e este mundo não mais existirem, e para uma felicidade que durará tanto quanto a alma imortal e o mundo eterno durarão. Isto é proposto como um estímulo àqueles que estão sob todas as dificuldades desta época atual, às quais a felicidade do céu é, de maneira admirável, adaptada e adequada. Nas suas mais difíceis situações, os santos se encorajaram com o fato de que o céu compensará a todos. Vejamos como isto é sugerido aqui.

1. Crer e considerar que realmente existe uma felicidade como esta: “Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito”, v. 2.

(1) Veja sob que conceito a felicidade do céu é aqui representada: como moradas, muitas moradas na casa do Pai de nosso Senhor Jesus Cristo.

[1] O céu é uma morada, não é uma tenda nem um tabernáculo. É uma casa não feita por mãos, eterna, nos céus (2 Coríntios 5.1).

[2] É a casa de um Pai: a “casa de meu Pai”. E seu Pai é nosso Pai, ao qual agora Ele iria ascender, de modo que através do direito de seu irmão mais velho, todos os verdadeiros crentes serão bem-vindos a esta felicidade, como à sua casa. É a casa daquele que é Rei dos reis e Senhor dos senhores, que reside na luz e habita na eternidade.

[3] Ali há moradas, isto é, em primeiro lugar, moradas distintas, uma morada para cada pessoa. Talvez aqui haja uma alusão aos aposentos dos sacerdotes que havia no Templo. No céu, há acomodações para santos particulares. Embora todos sejamos unidos a Deus, ainda assim nossa individualidade não se perderá ali. Cada israelita tinha sua parte em Canaã, e cada ancião, um trono, Apocalipse 4.4. Em segundo lugar, moradas duradouras, moradas permanentes. A própria morada é duradoura. Nossa propriedade nela não é por um período limitado, por um período de alguns anos, mas por toda a eternidade. Aqui nós vivemos como se estivéssemos em uma hospedaria. No céu, nós seremos estabelecidos. Os discípulos tinham abandonado suas casas para acompanhar a Cristo, que não tinha onde reclinar a cabeça, mas as moradas no céu irão lhes compensar isto.

[4] Há muitas moradas, pois há muitos filhos para serem levados à glória, e Cristo conhece com exatidão seu número, e eles não serão confinados pela chegada de um grupo maior do que Ele espera. Ele tinha dito a Pedro que ele o seguiria (cap. 13.36), mas que os demais não se sintam desencorajados, no céu há moradas para todos. “Reobote”, Gênesis 26.22.

(2) Veja a segurança que temos da realidade da felicidade propriamente dita, e a sinceridade da sua oferta a nós: “‘Se não fosse assim, eu vo-lo teria dito’. Se vos tivésseis enganado quando deixastes suas profissões e arriscastes suas vidas por mim, com a perspectiva de uma felicidade futura e invisível, eu logo lhes teria apontado o engano”. A segurança é construída:

[1] Sobre a veracidade da sua palavra. Está implícito: “Se não houvesse tal felicidade, valiosa e atingível, eu não lhes teria dito que havia”.

[2] Sobre a sinceridade do seu afeto por eles. Assim como Ele é verdadeiro, e não desejava se aproveitar deles, também é bondoso, e não toleraria que eles fossem enganados. Se não existissem estas moradas, ou ninguém que tivesse abandonado tudo para segui-lo estivesse designado para elas, Ele lhes teria dado um aviso oportuno do engano, para que pudessem fazer uma retirada honrosa de volta para o mundo, e conseguir nele o melhor que pudessem. Observe que a boa vontade de Cristo para conosco é um grande incentivo para nossa esperança nele. Ele nos ama demais, e quer muito nosso bem, para desapontar as expectativas que Ele mesmo desperta, ou permitir que aqueles que mais tinham sido obedientes a Ele fossem os mais infelizes.

2. Crer e considerar que o desígnio da partida de Cristo era o de preparar um lugar no céu para seus discípulos. “Vocês estão tristes por pensar que Eu estou indo embora, mas Eu vou em uma missão por vocês, como precursor. Eu devo iniciá-la, por vocês”. Ele foi para preparar um lugar para nós, isto é:

(1) Para tomar posse por nós, como nosso advogado ou procurador, e assegurar, desta maneira, nosso título como irrevogável. Cristo tem o senhorio, e este beneficia todos aqueles que nele crerem.

(2) Para fazer provisões para nós, como nosso amigo e pai. A felicidade do céu, embora preparada antes da fundação do mundo, ainda deve ser tornada mais adequada para o homem no seu estado caído. Consistindo muito da presença de Cristo ali, era, portanto, necessário que Ele fosse antes, para entrar naquela glória que seus discípulos deveriam compartilhar. O céu seria um lugar despreparado para um cristão, se Cristo não estivesse ali. Ele foi para preparar-lhes uma mesa, para preparar tronos para eles, Lucas 22.30. Desta maneira, Cristo declara a adequação da felicidade do céu para os santos, para quem ela está preparada.

3. Crer e considerar que, portanto, Ele certamente viria outra vez, na ocasião devida, para levá-los àquele bendito lugar do qual Ele agora estava indo tomar posse, para si mesmo, e preparar para eles (v.3): ‘”Se eu for e vos preparar lugar’, se esta for a missão da minha jornada, podeis ter certeza, quando tudo estiver pronto, ‘virei outra vez e vos levarei para mim mesmo’, de modo que deveis seguir-me daqui por diante, “para que, onde eu estiver, estejais vós também”. Estas são palavras verdadeiramente consoladoras.

(1) Que Jesus Cristo virá outra vez – Eu venho, sugerindo a certeza de que Ele virá, e de que Ele está vindo diariamente. Nós dizemos que “estamos indo”, quando estamos ocupados, preparando-nos para nos mover. O mesmo pode ser dito pelo Senhor. Tudo o que Ele faz tem uma referência à sua segunda vinda, e aponta para esta. Observe que a crença na segunda vinda de Cristo, da qual Ele nos dá plena certeza, é uma excelente proteção contra as perturbações do coração, Filipenses 4.5; Tiago 5.8.

(2) Que Ele virá outra vez, para levar todos os seus fiéis seguidores para si mesmo. Ele os chama individualmente na morte, e os reúne, um por um. Mas eles devem fazer sua entrada pública no estado solene, todos juntos, no último dia, e então o próprio Cristo virá para recebê-los, para conduzi-los à abundância da sua graça, e para acolhê-los na abundância do seu amor. Com isto, Ele irá testemunhar o máximo respeito e carinho que se possa imaginar. A vinda de Cristo tem a finalidade de nos unir a Ele, para todo o sempre, 2 Tessalonicenses 2.1.

(3) Que onde Ele estiver, eles também estarão. Isto evidencia aquilo que muitas outras passagens das Escrituras declaram, que a quintessência da felicidade do céu é estar ali com Cristo, cap. 17.24; Filipenses 1.23; 1 Tessalonicenses 4.17. Cristo fala da sua estada ali como presente agora: “Onde eu estiver”. Onde Eu estarei dentro de pouco tempo, onde Eu estarei eternamente, ali vocês estarão dentro de pouco tempo, ali vocês estarão eternamente”. Não somente ali, no mesmo lugar, mas aqui, na mesma condição. Não somente espectadores da sua glória, como os três discípulos no monte, mas compartilhando dela.

(4) Que isto pode ser deduzido do fato de que Ele está indo para preparar um lugar para nós, pois seus preparativos não serão em vão. Ele não irá construir e fornecer moradas, e deixá-las vazias. Ele irá concluir aquilo de que Ele é o autor. Se Ele preparou o lugar para nós, Ele irá nos preparar para este lugar, e, no devido tempo, nos dará a posse dele. Assim como a ressurreição de Cristo é a garantia da nossa ressurreição, também sua ascensão, vitória e glória são a garantia da nossa.

PSICOLOGIA ANALÍTICA

ASPECTOS PSICOLÓGICOS DETERMINAM SUA SORTE

A crença em fatos aparentemente inexplicáveis e sem relação com as causas reais que os provocam revelam desejo de conferir significados ao que acontece ao nosso redor. Para alguns especialistas, trata-se de uma ilusão cognitiva. O mais curioso, porém, é que, ao contrário do que muita gente imagina, os sortudos têm a seu favor funcionamentos mentais bastante específicos que podem ser construídos e fortalecidos.

Aspectos psicológicos determinam sua sorte

Você perdeu o horário do embarque, mas – por uma dessas alegrias pequenas da vida – ao chegar ao aeroporto descobriu que seu voo também estava atrasado e conseguiu viajar tranquilamente. Ou algo um pouco diferente: saiu cedo de casa, mas por causa do mau tempo precisou aguardar várias horas antes da viagem, mal acomodado numa cadeira desconfortável, pensando que se tivesse marcado a passagem para um dia antes não teria de passar por essa situação. Sorte no primeiro caso, azar no segundo? O fato é que confiar no acaso está na base de nossa visão de mundo. Ao cruzarmos os dedos na esperança de que o gesto nos favoreça ou optar por determinada roupa para atrair bons resultados, estamos, mesmo sem perceber, levando em conta motivos sobrenaturais, que não podemos controlar ou atribuindo relação de causa e efeito a situações que não têm relação direta entre si.

“Muitos psicólogos não gostam de enfrentar temas ligados à superstição, mas a tendência a dar ordem e significado ao que acontece a nossa volta, criando rapidamente relações entre eventos simultâneos ou sucessivos – como o trovão e a tempestade ou a ingestão de comida estragada e o mal-estar-, é indispensável para a sobrevivência”, diz o psicólogo inglês Richard Wiseman. Professor da Universidade de Hertfordshire, na Inglaterra, ele trabalhou como ilusionista na época da graduação e, mais tarde, conduziu um complexo estudo sobre os mecanismos possivelmente relacionados à sorte. O projeto, financiado por várias instituições, entre as quais a Associação Britânica para o Avanço da Ciência, resultou num livro, O fator sorte, já traduzido em mais de 20 idiomas.

O pesquisador faz uma provocação: “Você tem sorte ou não? Por que algumas pessoas parecem estar sempre no lugar certo na hora certa, ao passo que outras atraem o infortúnio? Podemos mudar essa situação?” Decidido a responder a essas perguntas, ele recorreu a um método inusitado para conseguir voluntários para seus estudos: foi a um programa de TV que tinha milhões de telespectadores e pediu para aqueles que se considerassem muito sortudos ou muito azarados que entrassem em contato com o pesquisador. Um milhão de pessoas respondeu, e as mil primeiras receberam um formulário que permitiria classificá-las como sortudas ou azaradas. Nesse formulário, os voluntários também deviam fazer uma aposta na loteria. A pergunta de Wiseman: os sortudos teriam mais chance de se sair melhor? Do total de participantes, pouco mais de 700, somente 36 acertaram algum número, sendo metade deles sortudos e outra parte azarados. Duas pessoas acertaram quatro números e ganharam 58 libras. Uma se considerava sortuda e a outra azarada. Resultado: empate. Conclusão de Wiseman: as pessoas têm a mesma chance de ter sorte, mas a forma como nos comportamos tende a atrair melhores oportunidades para aqueles que se consideravam privilegiados pelo acaso.

Ou seja, a sensação de sermos azarados ou sortudos está mais associada à forma como vivemos os acontecimentos que aos fatos em si. É o que psicólogos chamam de “profecia auto-realizante”: se acreditamos piamente em algo, tendemos a agir – ainda que inconscientemente – para justificar essa crença e alicerçar nossa compreensão dos fenômenos naquilo que cremos. Em linhas gerais, podemos pensar que uma pessoa azarada “se comporta” de maneira azarada e o mesmo ocorre com quem se considera com sorte. Ou seja: alguém é sortudo, basicamente, porque funciona mentalmente de maneira sortuda.

“Chamo os mais inclinados a essa atitude de perseguidores de significado”, afirma a psicóloga Paola Bressan, professora da Universidade de Pádua. Ela acompanhou voluntários que acreditavam em eventos “logicamente inexplicáveis”, e constatou que certos acontecimentos parecem extraordinários simplesmente porque não levamos em conta a probabilidade de que ocorram. Segundo a psicóloga, essas pessoas tendem a subestimar as leis da probabilidade e a encontrar um maior número de “coincidências”, que atribuem à sorte ou a experiências paranormais.

A pesquisadora ressalta que, sob essa perspectiva, as ilusões cognitivas costumam nos ajudar a viver melhor. Ou a evitar a responsabilização, já que imputar os acontecimentos à sorte (ou à falta dela) permite que a pessoa seja mais indulgente consigo mesma. Segundo a teoria da atribuição, proposta em 1958 pelo psicólogo alemão Fritz Heider, quando analisamos a causa de um fato, podemos nos basear em fatores internos ou externos em relação a nós mesmos e estáveis ou instáveis quanto ao tempo. Um exemplo: é possível creditar o mau desempenho em uma prova ao nosso despreparo (fator interno) ou à má vontade do professor (externo) ou à constante antipatia deste em relação a nós (estável no tempo) ou ainda ao próprio hábito de negligenciar os estudos (instável no tempo). Essas atribuições têm a ver com nossas experiências, crenças e, consequente, comportamentos.

“SÓ ACONTECE COMIGO!”

O sucesso e o fracasso são processados de maneiras diferentes pelo cérebro. Pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts descobriram que pode haver muito mais por trás desse acontecimento além de apenas um bocado de sorte. Os resultados de um estudo oferecem indicações sobre como a mente aprende com situações positivas e negativas. Ao treinar macacos para realizar tarefas visuais nas quais era possível escolher duas opções, os pesquisadores descobriram que o cérebro dos animais armazenava as experiências recentes tanto de sucesso quanto de fracasso. Porém, a resposta correta produzia um efeito impressionante: melhorava o processamento neural, aumentando o desempenho na prova seguinte. Caso um animal cometesse um erro em uma tentativa, mesmo após ter dominado a tarefa, seu desempenho na prova seguinte era governado pelo acaso – os erros eram descartados, e ele não aprendia. “O sucesso influencia muito mais o cérebro que o fracasso”, explica o neurocientista Earl Miller, que coordenou o estudo. Ele acredita que as descobertas se aplicam a muitos aspectos do cotidiano: o mau êxito, em geral, não recebe atenção, ao contrário do sucesso, que é recompensado com prêmios – como quando comemoramos os strikes na pista de boliche. O sentimento de prazer da vitória é provocado por uma onda no neurotransmissor dopamina. Quando conseguimos acertar “em cheio” a bola nos pinos e fazer o desejado strike, a substância envia sinais ao cérebro para que a ação vitoriosa seja repetida.

Há alguns anos, o físico Richard A.J. Matthews estudou as chamadas leis de Murphy, máxima pessimista, segundo a qual, “se alguma coisa pode dar errado, dará”. Matthews investigou, em particular, por que uma fatia de pão com manteiga cai geralmente com o lado da manteiga para baixo. O fato foi confirmado por um estudo experimental, patrocinado por um fabricante de manteiga: o aparente azar deve-se simplesmente à relação física entre as dimensões da fatia e a altura em que estava colocada. São também explicáveis outros tipos de infortúnio, como o fato de que quando retiramos duas meias da gaveta geralmente elas não são do mesmo par – nesse caso, por meio da lógica das probabilidades.

Obviamente ninguém está livre dos reveses da vida – seja a perda de uma pessoa querida, uma doença grave, problemas profissionais ou a simples alegria de encontrar numa excelente oferta online aquele artigo que há tanto queríamos e, na hora de fechar a compra, perdermos a conexão e a promoção. A questão não é simplesmente o que acontece, mas a maneira como lidamos com os fatos. Algumas pesquisas têm mostrado que o pessimismo prolongado prejudica parte do cérebro que cuida do funcionamento cognitivo e, em alguns casos, nos torna fisicamente mais frágeis. Um estudo desenvolvido por cientistas da Universidade Stanford levantou uma informação curiosa: a reclamação repetitiva não direcionada a quem de fato poderia resolver o problema, além de ser improdutiva, infla o sentimento de impotência diante da situação desagradável e aumenta os níveis de cortisol (hormônio do estresse) na corrente sanguínea. Os pesquisadores de Stanford descobriram que 95% dos consumidores que tinham um produto problemático em mãos e não o reportavam para a companhia falavam dele para oito a 16 pessoas. Resultado: tanto a irritação quanto o problema persistiam. Podemos pensar que, nessas condições, é fácil se sentir cada vez mais azarado.

Quando se fala em acaso, é preciso considerar outro ponto: em geral, só damos atenção a certos fatos quando eles ocorrem (como o início da chuva assim que você coloca os pés na rua), o que contribui para reforçar nossos preconceitos e nos fazer ignorar as leis da probabilidade. “A diferença entre eventos ordinários e extraordinários é subjetiva”, observa o psicólogo Lorenzo Montali, pesquisador da Universidade de Milão-Bicocca. “Estar atrasado, por exemplo, é um fato comum, mas certamente será recordado por toda a vida como um golpe de sorte se graças a ele formos salvos de um acidente.”

BONS AMULETOS

O genial inventor da lâmpada elétrica, Thomas Alva Edison, morto em 1931- com quase 2 mil patentes registradas em seu nome -, teria dito certa vez: “Boa sorte é o que acontece quando a oportunidade encontra o planejamento”. Outra ideia sua sobre esse assunto que terminou por ficar famosa é que os bons resultados são consequência de “99% de transpiração e 1% de inspiração”. Ou seja, a casualidade seria resultante de uma combinação de fatores, entre os quais o empenho tem papel fundamental.

Para a psicanálise não existe acaso – pelo menos não da maneira como estamos acostumados a considerar essa ideia. Freud postula que somos conduzidos por nossos desejos inconscientes sem nos darmos conta desses movimentos e, não raro, nos sentimos completamente à mercê das situações, imersos em certo grau de alienação. Porém, por meio da análise ou do próprio processo de amadurecimento, tendemos a nos apropriar de nossa história, nos tornando mais autônomos tanto para fazer escolhas e arcar com os resultados delas, quanto para aceitar, sem grande sofrimento, que não é possível ter tudo sob nosso controle. A capacidade de receber de bom grado os benefícios que a vida oferece – sem desvalorizar “a medalha de bronze porque não é de ouro ” – perpetua a sensação de satisfação. Nesse sentido, uma das maneiras mais eficientes de atrair a sorte está no nível racional, na opinião de Wiseman.  Segundo ele, desenvolver conscientemente o hábito de nos atermos àquilo que nos faz bem, sem nos apegarmos excessivamente ao que provoca dor. Para o especialista, o desejo de ser feliz e a confiança de que merecemos essa oportunidade são os melhores amuletos.

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PEQUENO MANUAL MAIS ÚTIL QUE TREVO DE QUATRO FOLHAS

No budismo tibetano, existe um recurso milenar, muito usado, que se resume no que pode ser denominado “trazer o resultado para o caminho”. Trata-se de nos fazer sentir, ainda que momentaneamente, as qualidades que queremos alcançar ao longo da evolução espiritual como se já estivessem amplamente desenvolvidas. Por exemplo, se a pessoa deseja desenvolver a generosidade, por alguns instantes sente-se plena de generosidade, em perfeita harmonia consigo, reconhecendo essa característica em si mesma, se identificando profundamente com essa sensação de plenitude. A técnica, usada ao longo dos séculos, encontra respaldo da ciência: exames de neuroimagem revelam que visualizar (que equivale a imaginar uma situação ou estado mental com o máximo possível de detalhes) deflagra no cérebro reações idênticas às que são desencadeadas quando de fato vivemos a situação. Pois bem: quer ter sorte? Aja como se de fato a tivesse, afirmam os cientistas.

Em suas pesquisas, Wiseman constatou que quase todas as pessoas que passaram a adotar “atitudes de vencedores” tiveram mudanças perceptíveis em suas vidas, incluindo um melhor grau de bons acontecimentos e surpresas. O maior ganho, porém, foi em relação à autoconfiança e à autoestima. É compreensível: quando se sente mais segura, a pessoa tende a se arriscar mais, sorri mais, se permite viver experiências e amplia seu círculo de contato, o que aumenta a probabilidade de que surjam boas oportunidades. “É difícil saber se a origem exata desse círculo virtuoso está no comportamento ou na valorização dos bons resultados, mas o fato é que ele parece funcionar”, afirma Wiseman. Ele avaliou os resultados de seus estudos e sistematizou alguns princípios psicológicos e atitudes que “atraem” a boa sorte:

1. APOSTE NA INTUIÇÃO

Do ponto de vista da psicologia, ela não tem nada de sobrenatural. Trata-se, na verdade, de uma forma de inteligência, uma maneira menos óbvia de selecionarmos e organizarmos informações, tanto recentes quanto mais antigas, que nos escapam à consciência imediata e nos guiamos por ela. Entre os entrevistados de Wiseman, que se diziam sortudos, 80% afirmaram que sua capacidade intuitiva tinha papel fundamental em suas escolhas práticas, especialmente profissionais, enquanto 90% disseram confiar nela para se orientar em suas relações pessoais e decisões que envolviam emoções.

2. MUDE O FOCO

Pesquisadores das universidades de Amsterdã e Bolonha já demonstraram que mergulhar em uma atividade completamente diversa daquela à qual estamos acostumados pode ajudar a resolver um problema ou ter uma ideia criativa. Ao nos afastarmos um pouco da questão, conseguimos ampliar o campo de visão e as respostas tendem a emergir. Sorte? A neurociência ensina que esse “desfocamento” ativa o córtex cingulado anterior, região do cérebro que controla, entre outras funções, a concentração e o processamento de informações que podem resultar em ideias originais.

3. FAÇA DIFERENTE

Sortudos gostam de novidades, mesmo aquelas que parecem fúteis. Fazer pequenas mudanças no cotidiano, como mudar o caminho que faz diariamente para chegar todos os dias ao trabalho, usar um novo meio de transporte, começar um curso para aprender algo que nunca pensou em estudar, pode ser uma maneira divertida de entrar em contato com lugares, pessoas e experiências diferentes. Wiseman salienta, porém, que esse processo deve ser lento, cuidadoso e, sobretudo, fonte de prazer, e não uma autoimposição que seja vista como motivo de desconforto.

4. CORRA RISCOS

Quem tem a convicção de ter a proteção de todos os anjos sobre si, certamente não titubeará em aceitar quando lhe for oferecida uma rifa, por exemplo. Afinal, sua lógica psíquica o leva a crer que tem enormes chances de ganhar. Da mesma maneira irá confiante para uma entrevista de emprego ou para a apresentação de um trabalho. Se algo sair errado, é porque aquela era só uma possibilidade e certamente virão outras – e não a comprovação de que o mundo conspira contra a pessoa. Correr algum risco, portanto, seja de participar de um sorteio ou de se dar mal numa empreitada, se torna menos ameaçador. E se tudo correr bem, melhor – sinal de bons agouros.

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O “AZAR” DE ADOECER

Ao longo dos anos, o acaso tem desafiado a ciência. Recentemente, pesquisadores da Universidade Johns Hopkins e da Escola de Saúde Pública Bloomberg, nos Estados Unidos, fizeram uma afirmação polêmica.

Segundo eles, a ocorrência da maior parte dos tipos de câncer pode ser atribuída, em grande parte, à “má sorte”. Em um artigo publicado no periódico científico Science, afirmaram acreditar que a explicação para esse fator aleatório está na maneira como os tecidos do corpo se regeneram. A pesquisa revela que dois terços de todos os tipos de câncer analisados são originados por mutações genéticas e a explicação para essa alteração pode estar na maneira como os tecidos do corpo se regeneram. O estudo que levou a essa conclusão tem o objetivo de explicar a razão de alguns tecidos do corpo serem mais vulneráveis ao câncer do que outros.

Células mais antigas e desgastadas são constantemente substituídas por células-tronco, que se dividem para formar novas estruturas celulares. Mas em cada divisão há o risco de que ocorra uma mutação anômala, que aumenta o risco de a célula-tronco se tornar cancerígena. O ritmo dessa renovação varia de acordo com a região do corpo, sendo mais rápida no intestino e mais lenta no cérebro, por exemplo. Os pesquisadores compararam o número de vezes que essas células se dividem em 31 tecidos do corpo durante a vida média de uma pessoa com o índice de incidência de câncer nessas partes do corpo e concluíram que dois terços dos tipos de câncer seriam causados pelo “azar” de células-tronco em processo de divisão sofrerem mutações imprevisíveis. Apesar da observação, pesquisadores de todo o mundo ressaltam que um estilo de vida saudável aumenta muito as chances de uma pessoa não desenvolver a doença. Ou seja, favorece “a sorte” de se manter saudável.