JOÃO 11: 33-44 – PARTE I

Cristo na sepultura de Lázaro. A Ressurreição de Lázaro
Aqui temos:
I – A gentil compaixão de Cristo pelos seus amigos aflitos, e a participação que Ele assumia nos seus sofrimentos, o que era evidenciado de três maneiras:
1. Pela perturbação e pelos gemidos internos do seu Espírito (v. 33): Jesus viu Maria chorando pela perda de um irmão amado, e também chorando os judeus que com ela vinham, pela perda de um bom vizinho e amigo. Quando Ele viu que este era um lugar de enlutados em lágrimas, “moveu-se muito em espírito e perturbou-se”. Veja aqui:
(1) As tristezas dos filhos dos homens, representadas nas lágrimas de Maria e seus amigos. Que símbolo havia aqui deste mundo, este vale de lágrimas! A própria natureza nos ensina a chorar pelos nossos parentes e amigos queridos, quando são removidos pela morte. A Providência, consequentemente, convoca às lágrimas e ao pranto. É provável que as propriedades de Lázaro fossem transferidas para suas irmãs, e seriam, assim, um acréscimo considerável às suas fortunas. E em um caso como este, as pessoas dizem, atualmente, que, embora não possam desejar a morte de seus parentes (isto é, não dizem que desejam), ainda assim, se estiverem mortos, não desejam que vivam novamente. Mas estas irmãs, não importando o que recebessem com a morte do seu ir mão, sinceramente desejavam vê-lo vivo novamente. O Evangelho nos ensina, da mesma maneira, a chorar com aqueles que choram, como estes judeus choravam com Maria, considerando que nós estamos no mesmo corpo. Aqueles que amam verdadeiramente seus amigos irão compartilhar com eles suas alegrias e tristezas, pois o que é a amizade, senão uma comunicação de afetos? Jó 16.5.
(2) A graça do Filho de Deus e sua compaixão por aqueles que estão em sofrimento. “Em toda a angústia deles foi ele angustiado”, Isaías 63.9; Juízes 10.16. Quando Cristo viu a todos eles em lágrimas:
[1] Ele “moveu-se muito em espírito”. Ele permitiu ser tentado (como nós somos, quando perturbados por alguma grande aflição), mas sem pecado. Isto foi uma expressão, ou, em primeiro lugar, do seu desprazer com a tristeza desenfreada das pessoas que estavam ao seu redor, como em Marcos 5.39: “‘Por que vos alvoroçais e chorais?’ Que confusão há por aqui! Será isto conveniente àqueles que creem em Deus, no céu e no outro mundo?” Ou, em segundo lugar, da sua percepção da condição calamitosa em que se encontram os seres humanos, e do poder da morte, ao qual o homem caído está sujeito. Tendo agora que fazer um vigoroso ataque à morte e à sepultura, Ele se agitou para o encontro, “tomou vestes de vingança por vestidura”, e seu furor o susteve. E para poder, mais resolutamente, empreender a tarefa de reparar nossos erros, e curar nossas tristezas, Ele ficou feliz por se sensibilizar diante da importância da obra, e sob seu peso Ele agora “moveu-se muito em espírito”. Ou, em terceiro lugar, foi uma expressão da sua bondosa compaixão pelos seus amigos que sofriam. Aqui havia o ressoar das entranhas e das misericórdias que a igreja aflita tão fervorosamente solicita, Isaías 63.15. Cristo não somente parecia preocupado, mas “moveu-se em espírito”. Ele estava internamente e sinceramente afetado pelo caso. Os falsos amigos de Davi fingiram compaixão, para disfarçar sua inimizade (Salmos 41.6), mas nós devemos aprender com Cristo a ter amor e compaixão sem fingimentos. A comoção de Cristo era profunda e sincera.
[2] Ele “perturbou-se”. Ele se perturbou. É isto que a expressão quer dizer, de maneira muito significativa.
Ele tinha todas as paixões e afeições da natureza humana, pois “convinha que, em tudo, fosse semelhante aos irmãos”, mas Ele tinha um perfeito domínio sobre elas, de modo que elas nunca afloravam, exceto quando e como solicitadas. O Senhor nunca ficava nervoso ou perturbado, exceto quando Ele se perturbava, quando havia motivo para tal. Ele sempre se controlava em meio aos problemas, nunca se descompunha ou se descontrolava por eles. Ele era voluntário, tanto na sua paixão quanto na sua compaixão. Ele tinha poder para expressar sua tristeza, e poder para refreá-la.
2. A preocupação de Jesus por eles foi demonstrada pela sua gentil pergunta sobre os pobres restos do seu amigo falecido (v.34): “Onde o pusestes?” Ele sabia onde o amigo estava, e ainda assim perguntou, porque:
(1) Desta maneira, Ele se expressava como um homem, mesmo quando estava prestes a exercer seu poder, na qualidade de Deus. Estando na forma de homem, Ele se acomodava aos costumes dos filhos dos homens: Ele não é ignorante, mas age como os filhos dos homens.
(2) Ele perguntou onde estava a sepultura, pois, se tivesse ido até lá, com seu próprio conhecimento, os judeus descrentes teriam oportunidade para suspeitar de uma aliança entre Ele e Lázaro, e um truque na situação. Muitos intérpretes observam isto, com base em Crisóstomo.
(3) Desta maneira, Ele desejava desviar a tristeza dos seus amigos entristecidos, despertando suas expectativas de algo grandioso, como se Ele tivesse dito: “Eu não vim para cá para trazer condolências, para mesclar algumas lágrimas insignificantes e infrutíferas com as suas. Não. Eu tenho outro trabalho para fazer. Vamos, vamos até a sepultura fazer o que tenho que fazer ali”. Observe que uma dedicação séria ao nosso trabalho é o melhor remédio contra a tristeza desenfreada.
(4) Desta maneira, Ele nos evidencia o cuidado especial que tem com os corpos dos santos, enquanto estão nas sepulturas. Ele tem conhecimento de onde eles estão, e cuida deles. Não há somente um concerto com o pó, mas ele é guardado.
3. Isto ficou evidenciado pelas suas lágrimas. Aqueles que estavam junto dele não lhe disseram onde o corpo havia sido sepultado, mas desejaram que Ele viesse e visse, e o conduziram diretamente à sepultura, para que seus olhos pudessem afetar ainda mais seu coração com a calamidade.
(1) Enquanto ia para a sepultura, como se estivesse seguindo o cadáver até ali, “Jesus chorou”, v. 35. Um versículo muito curto, mas que contém muitas instruções úteis.
[1] Que Jesus Cristo era realmente e verdadeiramente homem, e compartilhava com os filhos, não somente a carne e o sangue, mas a alma humana, sendo suscetível às impressões de alegria, e tristeza, e outros sentimentos. Cristo deu esta prova da sua humanidade, nos dois sentidos da palavra. Como homem, Ele podia chorar, e como um homem misericordioso, choraria, antes que desse esta prova da sua divindade.
[2] Que Ele era um homem de dores, e familiarizado com as tristezas, como tinha sido predito, Isaías 53.3. Nunca lemos que Ele tivesse rido, porém mais de uma vez nós ovemos em lágrimas. Desta maneira, Ele mostra não somente que um estado desolado é coerente com o amor de Deus, mas que aqueles que semeiam no Espírito devem semear em lágrimas.
[3] Lágrimas de compaixão são bastante apropriadas aos cristãos, e os tornam mais parecidos com Cristo. Ê um alívio para aqueles que estão sofrendo, ter a compaixão dos seus amigos, especialmente a de um amigo como seu Senhor Jesus.
(2) Diferentes interpretações são atribuídas às lagrimas de Cristo.
[1] Alguns interpretam de uma maneira gentil e justa, e muito natural, (v. 36): “Disseram, pois, os judeus: Vede como o amava”. Eles parecem admirar-se que Ele tivesse uma afeição tão forte por alguém que não era seu parente, e com quem não tinha tido uma longa convivência, pois Cristo passava a maior parte do tempo na Galileia, muito distante de Betânia. É apropriado que nós, seguindo este exemplo de Cristo, mostremos nosso amor pelos nossos amigos, tanto vivos quanto mortos. Nós devemos lamentar pelos nossos ir mãos que dormem em Jesus como aqueles que estão cheios de amor, embora não estejamos sem esperança, como os varões piedosos que sepultaram Estêvão, Atos 8.2. Embora nossas lágrimas não tragam nenhum benefício para os mortos, elas conservam a lembrança deles. Estas lágrimas de Jesus eram sinais do seu amor particular por Lázaro, mas Ele deu provas de uma evidência nada menor do seu amor por todos os santos ao morrer por eles. Quando Ele derramou apenas algumas lágrimas por Lázaro, eles disseram: “Vede como o amava”. Muito mais razão temos nós para dizer isto daquele que deu sua vida por nós: Veja como Ele nos amou! Ninguém tem maior amor do que este.
[2] Outros fazem uma reflexão irritante e injusta sobre isto, como se estas lágrimas evidenciassem sua incapacidade de ajudar seu amigo (v. 37): “Não podia ele, que abriu os olhos ao cego, fazer também com que este não morresse?” Aqui há uma insinuação maliciosa, em primeiro lugar; de que uma vez que a morte de Lázaro era (como evidenciavam as lágrimas de Jesus) uma grande tristeza para Ele, se pudesse tê-la evitado, Ele o teria feito, e, portanto, como Ele não o fez, eles se inclinam a pensar que Ele não podia fazê-lo, da mesma maneira como, quando Ele estava morrendo, concluíram que Ele não podia se salvar, porque não o fez e não desceu da cruz. Eles não levaram em consideração que o poder divino é sempre orientado, nas suas operações, pela sabedoria divina, não meramente de acordo com sua vontade, mas de acordo com o conselho da sua vontade. A esta, convém nos sempre aquiescer. Se os amigos de Cristo, a quem Ele ama, morrem, se sua igreja, a quem Ele ama, é perseguida e afligida, nós não devemos atribuir isto a nenhuma falha no seu poder ou amor, mas concluir que isto se deve ao fato de Ele considerar que é o melhor. Em segundo lugar, que, portanto, poderia ser questionado, com razão, se Ele realmente tinha aberto os olhos do cego, isto é, se isto não tinha sido uma simulação. Eles julgaram que o fato de que Ele não realizasse este milagre era suficiente para invalidar o anterior. Pelo menos, dava a entender que Ele tinha um poder limitado, e, portanto, não divino. Ressuscitando Lázaro, o que era o maior milagre, Cristo logo convenceu estes murmuradores de que Ele poderia ter evitado sua morte, mas não o fez porque desejava ser ainda mais glorificado.
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