A VERDADEIRA AUTOESTIMA
Desde cedo, as pessoas formam crenças sobre si baseadas nas experiências, assim sua conduta é moldada pelas respostas do ambiente em que vivem.
O reconhecimento da importância da autoestima na formação da personalidade, do caráter e comportamento do ser humano impulsionou pesquisas sobre qual o melhor momento para começar a oferecer às crianças condições de desenvolverem plenamente esse ingrediente crucial para o bem-estar e a qualidade de vida.
Em alguns pontos, todos os estudiosos da área concordam: atenção dos pais ao desenvolvimento físico, mental e psicológico infantil, assim como o oferecimento de modelos claros e estáveis de identificação, ambiente familiar amoroso e equilibrado, estímulos cognitivos adequados na escola e participação social saudável etc., especialmente nos seis primeiros anos de vida, são determinantes para o incremento de uma boa autoestima.
A família constitui o primeiro local onde a criança compreende quem é, observa o que os outros fazem, pratica a todo instante seus novos aprendizados. A escola e o meio social também são importantes, mas o melhor alicerce da boa autoestima vem do contato, trocas afetivas e educação familiar.
A autoestima verdadeira nada tem de comportamento supérfluo, despretensioso ou de exibicionismo. Ao contrário, ela contempla uma crença positiva no próprio eu, junto à percepção da capacidade de realizar diversas coisas. Não é a criança para quem os pais vivem dando elogios sem fundamento, achando que a estão “colocando pra cima”, que desenvolverá uma autoestima verdadeira, mas sim terá esse sentimento aquela cujos pais estão atentos ao seu empenho, esforço, motivação e principalmente à sua crescente capacidade de vencer desafios e frustrações.
Resumindo, a criança com boa autoestima sente-se não apenas amada e valorizada, mas também capaz de realiza tarefas, de assumir gradativamente responsabilidades, de agir e reagir adequadamente, de lidar com os percalços da vida. Torna-se resiliente, aprende a superar frustrações e perdas, a optar, e ao mesmo tempo continua a perceber seu valor e sente-se merecedora de ser amada.
Desde cedo, as pessoas estão constantemente formando crenças sobre si próprias e tomando pequenas decisões, baseadas nas suas experiências de vida, incluindo nestas as circunstâncias que podem e não podem alterar ao seu prazer e os imputs positivos e negativos que recebem sobre seu comportamento, principalmente dos familiares. Assim, sua conduta vai sendo moldada pelas pequenas escolhas que fazem e pelas respostas de aprovação ou não. Se as elogiamos sem qualquer fundamento, elas se percebem como incapazes de terem atenção, orientação e confiança do adulto.
Existem influências de várias ordens que têm grande importância na autoestima em formação de uma criança. Não se deve, por exemplo, diminuir o impacto pessoal de sua história de vida, algo peculiar e marcante com que sempre terá que lidar, pois não é possível mudar. É o caso de um problema físico de nascença, uma adoção malsucedida, uma doença crônica, a perda de um dos pais etc.; muitas das escolhas que farão na sua vida com base nessas circunstâncias dificilmente podem ser modificadas por outras pessoas. Crianças têm seus próprios sentimentos e acabam formando opiniões pessoais sobre perdas desse porte, que são reveladas em geral pelo seu comportamento.
Entretanto, mais importante que tais influências e perdas é a orientação do valor e do sentido (positivo ou negativo) que darão às decisões que tomarem, e aí é que entra a importância da autoestima.
Sem dúvida, os exemplos (positivos e negativos) e interferências dos adultos são importantes. Como concreto sobre o ferro, formam a base de toda construção! Não bastam apenas diálogos, pois apesar das crianças compreenderem tudo que ouvem, elas também percebem que, muitas vezes, as estamos tentando encorajar e não sendo fiéis ao nosso próprio pensamento. Exemplo disso é quando a criança que comete muitos equívocos, ou tem dificuldades escolares, escuta da mãe frases como “isso não tem importância”, “eu era assim”, “gosto de você de qualquer jeito”… ela sente que a verdadeira mensagem é diferente, pois o meio lhe mostra isso e as palavras da mãe ou do pai que devem ser coerentes, soam não como um incentivo sincero, mas como um prêmio de consolação para o eterno último colocado, aquele que erra sempre. O filho precisa saber que é amado e respeitado por seus familiares, que ele é único, importante, insubstituível, amado, que tem qualidades pessoais (importante valorizar as que realmente tem), é divertido, carinhoso, responsável etc.
É preciso dizer à criança o quanto suas qualidades e atitudes são valorizadas. Mostrar o quanto é capaz de fazer coisas legais, ser responsável, criativa, empenhada, elogiando um trabalho bem-feito (“Gostei! Bom trabalho, parabéns”), ou a forma como cuida dos parentes mais velhos (“Ficamos orgulhosos de como você ajudou seu avô), dar atenção ao que diz ou pergunta (“Boa pergunta! O que você disse é interessante”). Isso conduz ao desenvolvimento da autoestima, da segurança pessoal.
A autoestima baseia-se na capacidade de aceitar tanto nossos limites quanto nossas necessidades. Reconhecer nossos limites nos protege de autoagressões, não nos expondo a situações que estão além de nossas condições, assim como reconhecer necessidades pessoais nos ajuda a identificar nossas prioridades e a viver melhor. Mas para que esse alicerce seja forte, a autoestima precisa ser construída sem fantasia e em cima das habilidades e atitudes reais das crianças. Elogios infundados não fortalecem a autoestima. Pelo contrário, a deixam frágil como uma criança que acredita ser incapaz de realizar qualquer coisa na vida.
MARIA IRENE MALUF – é especialista em Psicopedagogia, Educação EspeciaI e Neuroaprendizagem. Foi presidente nacional da Associação Brasileira de Psicopedagogia – ABPp (gestão 2005/07.) É autora de artigos e publicações nacionais e internacionais. Coordena curso de especialização em Neuroaprendizagem. irenemaluf@uol.com.br
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