JOÃO 9: 1-7

A Visão é concedida a um cego de nascença
Aqui temos a visão concedida a um pobre mendigo que era cego de nascença. Observe:
I – Como nosso Senhor Jesus notou o caso digno de piedade deste pobre cego (v. 1): “Passando Jesus, viu um homem cego de nascença”. As primeiras palavras parecem referir-se ao final do capítulo anterior, e estimulam a opinião daqueles que, na harmonização, colocam esta história imediatamente depois daquela. Ali estava escrito Ele passou por eles, e aqui, mesmo sem repetir seu nome (embora nossos tradutores o incluam) e enquanto Ele passava por eles.
1. Embora os judeus o tivessem maltratado de maneira tão vil, tanto em palavras como em obras lhe tivessem feito as maiores provocações imagináveis, Ele não per dia nenhuma oportunidade de fazer o bem entre eles, nem tomou a decisão, como, com razão, poderia ter feito, de nunca favorecê-los com qualquer obra boa. A cura deste cego foi uma bondade para o público, capacitando a trabalhar para ganhar a vida alguém que antes era uma carga e um peso para a vizinhança. É nobre, e gene roso, e cristão ter vontade de servir ao público, mesmo quando somos desprezados e incomodados por eles, ou assim julgamos. Embora Jesus estivesse fugindo de um perigo ameaçador, e fugindo para salvar sua vida, de boa vontade Ele parou e permaneceu durante algum tempo para mostrar misericórdia a este pobre homem. Nós acabamos sendo mais precipitados do que bem-sucedidos quando não percebemos as oportunidades de fazer o bem.
2. Quando os fariseus expulsaram Cristo do seu meio, Ele foi até este pobre mendigo cego. Alguns dos antigos fazem disto um modelo da transmissão do Evangelho aos gentios, que estavam nas trevas, quando os judeus o tinham rejeitado e o tinham afastado deles.
3. Cristo tomou este pobre cego que estava no seu caminho e o curou ao passar por ali. Nós também devemos aproveitar as oportunidades de fazer o bem, mesmo ao passarmos, onde quer que estejamos.
Veja:
(1) A condição deste pobre homem era muito triste. Ele era cego, e o tinha sido desde seu nascimento. Se a luz é doce, como deve ser melancólico para um homem, todos os seus dias, comer na escuridão! Aquele que é cego não sente prazer na luz, mas aquele que é cego de nascença não tem ideia do que é a luz. Eu penso que alguém cego daria uma grande fortuna para ter sua curiosidade satisfeita com apenas um dia de visão de luz e cores, formas e figuras, ainda que nunca mais as pudesse ver novamente. “Por que se dá luz [da vida] ao miserável”, que está privado da luz do sol, “cujo caminho é oculto, e a quem Deus o encobriu?” Jó 3.20-23. Bendigamos a Deus por não ser este nosso caso. O olho é uma das partes mais curiosas do corpo, sua estrutura é extremamente fina e preciosa. Na formação de animais, diz-se que é a primeira parte que aparece discernível. Que misericórdia é o fato de que não houve nenhum malogro quando nossos olhos foram feitos! Cristo curou a muitos que eram cegos por motivo de doença ou acidente, mas aqui Ele curou a uma pessoa que era cega de nascença.
[1] Para que pudesse dar um exemplo do seu poder para auxiliar nos casos mais desesperado res, e aliviar, quando ninguém mais pode fazê-lo.
[2] Para que pudesse dar uma amostra da obra da sua graça nas almas dos pecadores, a graça que dá a visão aos que são cegos por natureza.
(2) A compaixão do nosso Senhor Jesus pelo homem foi muito terna. Ele o viu, isto é, Ele tomou conhecimento do seu caso, e olhou para ele com interesse. Quando Deus está prestes a realizar uma libertação, diz-se que Ele vê a aflição. Assim, Cristo viu este pobre homem. Outros o viam, mas não como Ele. Este pobre homem não podia ver a Cristo, mas Cristo o viu, e antecipou tanto suas orações quanto suas expectativas com uma cura surpreendente. Cristo é frequentemente encontrado por aqueles que não o buscam, nem o veem, Isaías 65.1. E, se nós conhecemos ou apreendemos alguma coisa sobre Cristo, é porque antes fomos conhecidos dele (Gálatas 4.9) e presos por Ele, Filipenses 3.12.
II – A conversa entre Cristo e seus discípulos a respeito deste homem. Quando Ele deixou o Templo, eles o acompanharam, pois estes eram os que permaneceram com Ele nas suas tentações, e o seguiam onde quer que Ele fosse, e não perdiam nada com seu apego a Ele, mas ganhavam abundante experiência. Observe:
1. A pergunta que os discípulos propõem ao seu Mestre sobre o caso deste cego, v. 2. Quando Cristo olhou para o pobre homem, eles também o observaram.
A compaixão de Cristo deveria despertar a nossa. É provável que Cristo lhes tivesse dito que este pobre homem era cego de nascença, ou eles sabiam disto porque era de conhecimento público, mas eles não comoveram a Cristo para curá-lo. Em vez disto, eles fizeram uma pergunta muito estranha a respeito do homem: “Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?” Esta pergunta era:
(1) Reprovadora e sem caridade. Eles pressupõem que esta calamidade extraordinária era a punição de alguma maldade incomum, e que este homem fosse um pecador, mais do que todos os homens que habitavam em Jerusalém, Lucas 13.4. Que os bárbaros concluíssem: “Certamente este homem é homicida”, não seria tão estranho, mas é imperdoável que os discípulos, que conheciam as Escrituras, que tinham lido que todas as coisas sucedem a todos da mesma maneira, e que conheciam aquilo que foi observado no caso de Jó, pensem que os maiores sofredores devam, por isto, ser considerados os maiores pecadores. A graça do arrependimento chama nossas próprias aflições de punições, mas a graça da caridade chama as aflições dos outros de provações, a menos que o contrário seja muito evidente.
(2) Apresentava uma curiosidade desnecessária. Concluindo que esta calamidade era causada por algum crime muito hediondo, eles perguntam: “Quem cometeu o crime, este homem ou seus pais?” E o que eles tinham a ver com isto? Ou que bem lhes traria saber isto? Nós podemos ser mais curiosos a respeito dos pecados de outras pessoas do que a respeito dos nossos próprios pecados, embora devamos nos preocupar mais em saber por que Deus luta conosco do que saber por que Ele luta com os outros, pois julgar os outros costuma ser nosso pecado. Eles querem saber:
[1] Se este homem estava sendo punido desta maneira por algum pecado seu, cometido ou previsto antes do seu nascimento. Alguns pensam que os discípulos estavam influenciados pela noção pitagórica da pré-existência das almas, e sua transmigração de um corpo a outro. A alma deste homem estaria condenada à masmorra deste corpo cego, para puni-la por algum grande pecado, cometido em outro corpo que ela teria animado anteriormente? Os fariseus parecem ter tido a mesma opinião sobre o caso do homem, quando disseram: “Tu és nascido todo em peca dos” (v. 34), como se todos aqueles a quem a natureza tinha estigmatizado, e somente aqueles, fossem nascidos em pecado. Ou:
[2] Se ele tinha sido punido pelos pecados dos seus pais, que alguns pensam que Deus, às vezes, faz recair sobre os filhos. Aqueles que creem deste modo consideram que esta seja uma boa razão pela qual os pais devam prestar atenção ao pecado, para que os filhos não sofram por ele, depois que os pais tiverem morrido. Não sejamos cruéis com nossos parentes, como o avestruz no deserto. Talvez os discípulos perguntassem isto, não como crendo que esta fosse a punição de algum pecado real, dele mesmo ou dos seus pais, mas por Cristo ter dado a entender, a outro paciente, que seu pecado era a causa da sua paralisia (cap. 5.14). “Mestre”, dizem eles, “de quem é o pecado que é a causa desta deficiência?” Sem saber como interpretar esta providência, eles desejam ser informados. A justiça das dispensações de Deus é sempre certa, pois sua justiça “é como as grandes montanhas”, mas nem sempre se explica, pois os “seus juízos são um grande abismo” (Salmos 36.6).
2. A resposta de Cristo a esta pergunta. Ele sempre está predisposto a ensinar, e a corrigir os enganos dos seus discípulos.
(1) Ele explica a razão da cegueira deste pobre homem: “Nem ele pecou, nem seus pais”, mas ele nasceu cego, e permaneceu assim até hoje, ‘para que se manifestem nele as obras de Deus”‘, v. 3. Aqui Cristo, que conhecia perfeitamente as origens secretas dos conselhos divinos, lhes diz duas coisas a respeito de tais calamidades incomuns:
[1) Que elas nem sempre são infligidas como punições aos pecados. A iniquidade de toda a raça humana realmente justifica a Deus em todas as desgraças da vida humana, para que aqueles que têm a menor parcela delas digam que Deus é bom, e aqueles que têm a maior parcela não digam que Ele é injusto. Mas muitos são feitos muito mais miseráveis do que outros nesta vida, e não são, de nenhuma maneira, mais pecadores do que os outros. Certam ente, este homem era um pecador, e seus pais também eram pecadores, mas Deus não tinha em mente uma culpa incomum ao permitir que ele sofresse aquela cegueira. Observe que nós devemos prestar atenção ao julgar quaisquer pessoas que possam ser grandes pecadores simplesmente porque são grandes sofredores, para que não nos encontremos, não somente perseguindo aquele a quem Deus feriu (Salmos 69.26), mas também acusando aqueles a quem Ele justificou, e condenando aqueles pelos quais Cristo morreu, o que é ousado e perigoso, Romanos 8.33,34.
[2] Que, às vezes, elas visam puramente a glória de Deus, e a manifestação das suas obras. Deus tem a soberania sobre todas as suas criaturas, e o direito exclusivo sobre elas, e pode torná-las úteis, para sua glória, da maneira que julgar adequada, em realizações ou sofrimentos. E se Deus for glorificado, seja por nós ou em nós, nós não teremos sido criados em vão. Este homem nasceu cego, e era adequado que ele assim fosse, e continuasse nas trevas por muito tempo, para que as obras de Deus pudessem se manifestar nele. Isto é, em primeiro lugar, para que os atributos de Deus pudessem se manifestar nele: sua justiça, ao fazer o homem pecador sujeito a tais calamidades dolorosas; seu poder e sua bondade extraordinários, ao assistir a um pobre homem sob tão dolorosa e odiosa aflição, especialmente para que seu poder e sua bondade extraordinários pudessem se manifestar na cura do homem. Observe que as dificuldades da providência, que seriam inexplicáveis de outra maneira, podem ser interpretadas como segue. Deus pretende, nelas, mostrar-se, declarar sua glória, fazer-se notar. Aqueles que não consideram a Deus no curso normal das coisas, às vezes, são alarmados por coisas extraordinárias. Com que satisfação, então, um homem bom pode perder seus confortos, quando tem a certeza de que desta forma Deus receberá, de uma maneira ou de outra, ainda mais glória! Em segundo lugar, para que os conselhos de Deus, a respeito do Redentor, pudessem ser manifestados nele. Ele nasceu cego para que nosso Senhor Jesus pudesse ter a honra de curá-lo, e pudesse, desta maneira, provar que
tinha sido enviado por Deus para ser a verdadeira luz ao mundo. Assim, a queda do homem tinha sido permitida, e a cegueira que a seguiu, para que as obras de Deus pudessem se manifestar ao abrir os olhos dos cegos. Fazia muito tempo que es te homem tinha nascido cego, e nunca se tinha sabido, até agora, por que ele era assim. Observe que as intenções da Providência normalmente não se apresentam, até muito tempo depois do evento, talvez muitos anos depois. As sentenças no livro da providência às vezes são longas, e é necessário ler muito antes de conseguir compreender seu sentido.
(2) Jesus apresenta a razão da sua própria iniciativa e prontidão para ajudar e curar o cego, vv. 4,5. Não era por ostentação, mas para prosseguir com sua missão: “Convém que eu faça as obras daquele que me enviou”, e esta é uma destas obras, “enquanto é dia; a noite vem, quando ninguém pode trabalhar”. Isto não é apenas uma das razões pelas quais Cristo estava constantemente fazendo o bem aos corpos e almas dos homens, mas por que Ele realizou esta em particular, embora fosse sábado, quando as obras de necessidade podiam ser feitas, e Ele provou que esta era uma obra de necessidade.
[1] Era a vontade do seu Pai: “Convém que eu faça as obras daquele que me enviou”. Observe que, em primeiro lugar, o Pai, quando enviou seu Filho ao mundo, lhe deu trabalho para fazer. Ele não veio ao mundo para assumir uma posição de autoridade, mas para trabalhar. Aquele a quem Deus envia, Ele usa, pois Ele não envia ninguém para estar ocioso. Em segundo lugar, as obras que Cristo tinha que realizar eram as obras daquele que o tinha enviado, não somente indicadas por Ele, mas realizadas por Ele. Ele era um trabalhador, juntamente com Deus. Em terceiro lugar, Ele se alegrava de colocar-se sob as mais fortes obrigações para realizar a tarefa que tinha sido enviado para fazer: “Convém que eu faça”. Ele tinha se empenhado, no concerto da redenção, para aproximar-se de nós, e de Deus, como Mediador, Jeremias 30.21. Estaremos nós desejosos de ser soltos, quando Cristo estava desejoso de ser preso? Em quarto lugar, Cristo, tendo se colocado sob a obrigação de realizar sua obra, dedicou-se com o máximo vigor e empenho na sua obra. Ele realizava as obras que tinha que realizar – realmente se dedicou àquilo que era seu trabalho. Não é suficiente olhar para nosso trabalho, e falar sobre ele, mas devemos realizá-lo.
[2] Est a era sua oportunidade: “Convém que eu faça as obras… enquanto é dia”, enquanto ainda há o tempo indicado para trabalhar, e enquanto há a luz que é dada para o trabalho. O próprio Cristo tinha seu dia. Em primeiro lugar, todo o trabalho do reino de mediação devia ser realizado dentro dos limites do tempo, e neste mundo, pois, no fim do mundo, quando não houver mais tempo, o reino será entregue a Deus, ao Pai, e o mistério de Deus será concluído. Em segundo lugar, toda a obra que Ele devia fazer na sua própria pessoa aqui na terra devia ser feita antes da sua morte. O período da sua vida neste mundo é o dia de que se fala aqui. Observe que a duração da nossa vida é nosso dia, no qual nos compete realizar o trabalho do dia. O dia é o período adequado para o trabalho (Salmos 104.22,23). Durante o dia da vida, nós devemos estar ocupados, não perder as horas do dia, nem brincar à luz do dia. Haverá tempo suficiente para descansar quando nosso dia tiver acabado, pois é apenas um dia.
[3] O período da sua oportunidade era chegado, e por isto Ele devia se ocupar: ”A noite vem, quando ninguém pode trabalhar”. Observe que a consideração da proximidade da nossa morte deveria nos motivar a aproveitar todas as oportunidades da vida, tanto para fazer o bem como para obtê-lo. ”A noite vem”, ela virá com certeza, ela pode vir de repente, ela se aproxima cada vez mais. Nós não podemos avaliar o quanto nosso sol está próximo, ele pode ser pôr ao meio-dia. Não podemos nos prometer um crepúsculo entre o dia da vida e a noite da morte. Quando a noite vem, não podemos trabalhar, porque a luz que nos permitia trabalhar se extinguiu. O sepulcro é um lugar de trevas, e nossa obra não pode se realizar no escuro. Além disto, o tempo que temos disponível para nosso trabalho terá expirado. Quando nosso Mestre nos prendeu ao trabalho, nos prendeu também ao tempo. Quando a noite vem, ela “chama os trabalhadores”. Nós devemos, então, apresentar nosso trabalho, e receber de acordo com o que fizemos. No mundo de retribuição, nós já não seremos mais aprendizes ou pessoas que estão sofrendo provações. Será tarde demais para fazer alguma proposta quando a candeia estiver apagada. Cristo usou este fato como o motivo pelo qual Ele mesmo deveria ser diligente, embora não tivesse nenhuma oposição interior contra a qual lutar. Nós temos muito mais necessidade de trabalhar, nos nossos corações, com estas e outras considerações semelhantes que nos motivem.
[4] Sua obra no mundo era iluminá-lo (v. 5): “Enquanto estou no mundo”, e não será por muito tempo, “sou a luz do mundo”. Ele tinha dito isto antes, cap. 8.12. Ele é o Sol da Justiça, que não somente tem luz nas suas asas para aqueles que podem ver, mas cura nas suas asas, ou raios, para aqueles que são cegos e não podem ver, excedendo, desta maneira, em virtude aquela grande luz que reina durante o dia. Cristo desejou curar este homem cego, o representante de um mundo cego, porque Ele veio para ser a luz do mundo, não somente para dar luz, mas para dar a visão. Isto nos dá, em primeiro lugar, um grande incentivo para vir até Ele, como uma luz que guia, estimula e revigora. A quem deveríamos procurar, se não a Ele? Para que lado deveríamos voltar nossos olhos, senão à luz? Nós compartilhamos da luz do sol, e também podemos compartilhar da graça de Cristo, sem dinheiro e sem preço. Em segundo lugar, um bom exemplo de utilidade no mundo. O que Cristo diz de si mesmo, Ele diz dos seus discípulos: “Vós sois a luz do mundo”, e, neste caso, “resplandeça a vossa luz”. Para que foram criadas as candeias, senão para queimar?
III – A forma da cura do cego, vv. 6,7. As circunstâncias do milagre são singulares, e sem dúvida, significativas. Depois de ter falado para instruir seus discípulos, e para abrir seu entendimento, Ele passou a abrir os olhos do cego. Ele não esperou até que pudesse fazê-lo mais privadamente, para sua maior segurança, ou mais publicamente, para sua maior honra, ou até que o sábado tivesse terminado, quando menos ofensa seria causada por esta cura. Devemos fazer depressa qual quer bem que tivermos oportunidade de fazer. Aquele que nunca irá realizar uma boa obra, até que não exista nada que possa ser objetado contra ela, deixará muitas boas obras por fazer, para sempre, Eclesiastes 11.4. Na cura, observe:
1. A preparação do colírio para os olhos. Cristo “cuspiu na terra, e, com a saliva, fez lodo”. Ele poderia tê-lo curado com uma palavra, como tinha feito com outras pessoas, mas decidiu fazer desta maneira, para mostrar que Ele não se prende a nenhum método. Ele fez lodo da sua própria saliva, porque não havia água nas proximidades. E Ele desejava nos ensinar a não sermos agradáveis ou curiosos, mas, sempre que tivermos oportunidade, estarmos dispostos a aproveitar o que estiver à mão, se servir ao objetivo. Por que devemos nos preocupar com aquilo que pode muito bem ser feito ele uma maneira mais fácil? Cristo, usando sua própria saliva, evidencia que existe uma virtude curativa em tudo o que pertence a Cristo. O lodo feito da saliva de Cristo era muito mais precioso do que o bálsamo de Gileade.
2. A aplicação dele no local: Ele “untou com o lodo os olhos do cego”. Ou, como diz a anotação na margem do texto no idioma original, Ele espalhou, Ele emplastou o lodo sobre os olhos do cego, como um médico gentil. Ele mesmo fez isto, com sua própria mão, embora o paciente fosse um mendigo. Veja que Cristo fez isto:
(1) Para enaltecer seu poder, ao fazer um cego ver por um método que alguém poderia pensar que mais provavelmente faria cego um homem que tivesse visão. Emplastar lodo sobre os olhos os fecharia, mas nunca os abriria. Observe que o poder de Deus frequentemente age de maneira contrária ao esperado, e Ele faz os homens sentir em sua própria cegueira, antes de lhes dar a visão.
(2) Para evidenciar que era sua mão poderosa, a mesma que criou o homem do pó, pois, por Ele, Deus criou os mundos, tanto o grande mundo como o homem, que pode ser considerado como um pequeno mundo. O homem foi feito do lodo, e modelado como o barro, e aqui Cristo usou os mesmos materiais para dar visão ao corpo, os quais, no início, Ele usou para dar-lhe a existência.
(3) Para representar e exemplificar a cura e a abertura dos olhos da mente por meio da graça de Jesus Cristo. O desígnio do Evangelho é abrir os olhos dos homens, Atos 26.18. O remédio que realiza o milagre é preparado por Cristo. É feito, não como este colírio, da sua saliva, mas do seu sangue, o sangue e a água que saíram do seu lado perfurado. Nós devemos ir a Cristo para obter o colírio, Apocalipse 3.18. Somente Ele é capaz de salvar, e somente Ele é indicado para fazê-lo, Lucas 4.18. Os meios usados nesta obra são muito fracos e improváveis, e se fazem efetivos somente pelo poder de Cristo. Quando um mundo escuro devia ser iluminado, e as nações de almas cegas deviam ter seus olhos abertos, Deus escolheu as coisas loucas, e fracas, e desprezadas para fazer isto. E o método que Cristo adota é, em primeiro lugar, fazer os homens se sentirem cegos, como aconteceu com este pobre homem, cujos olhos foram cobertos com o lodo, e então dar-lhes a visão. Na sua conversão, Paulo sofreu de cegueira por três dias, e depois as escamas caíram dos seus olhos. O método prescrito para obter sabedoria espiritual é fazer-se “louco para ser sábio”, 1 Coríntios 3.18. Devemos nos sentir desconfortáveis devido à nossa cegueira, como este homem, e depois disto seremos curados.
3. Ai, orientações que Ele deu ao paciente, v. 7. Seu médico disse a ele: “Vai, lava-te no tanque de Siloé”. Não que lavar os olhos fosse necessário para efetivar a cura, mas:
(1) Com isto, Cristo testaria a obediência do homem, e veria se, com uma fé implícita, ele obedeceria às ordens de alguém que lhe era um estranho.
(2) Da mesma maneira, Ele testou como ele seria influenciado pelas tradições dos anciãos, que ensinavam, e talvez lhe tivessem ensinado (pois há muitos que são cegos e que têm muito conhecimento), que não era lícito lavar os olhos, nem de forma medicinal, com saliva, no sábado, muito menos ir a um tanque de água para lavá-los.
(3) Com isto, Ele desejava apresentar o método da cura espiritual, no qual, embora o efeito seja devido puramente ao seu poder e à sua graça, existe uma obrigação que deve ser feita por nós. Vá, leia as Escrituras, compareça aos cultos, converse com os sábios. Isto equivale a lavar-se no tanque de Siloé. Ai, graças prometidas devem ser esperadas no caminho das ordenanças instituídas. Ai, águas do batismo eram, para aqueles que tinham sido instruídos nas trevas, como o tanque de Siloé, onde eles podiam não somente se lavar e se purificar, mas se lavar e ter seus olhos abertos. Consequentemente, aqueles que eram batizados eram chamados esclarecidos, e os antigos chamavam o batismo de iluminação. A respeito do tanque de Siloé, observe:
[1] Que ele era abastecido com água do monte Sião, de modo que estas eram as águas do santuário (Salmos 46.4), águas vivas, que curavam, Ezequiel 47.9.
[2] Que as águas de Siloé tinham, antigamente, significado o trono e o reino da casa de Davi, apontando para o Messias (Isaias 8.6), e os judeus que recusavam as águas de Siloé, a doutrina e a lei de Cristo, e adotavam a tradição dos anciãos. Cristo iria testar este homem, se ele iria aderir às águas de Siloé ou não.
[3] O evangelista observa o significado do nome, que significa “o enviado”. Cristo é frequentemente chamado de Enviado de Deus, o anjo do concerto (Malaquias 3.1), de modo que quando Cristo o enviou ao tanque de Siloé, na verdade, Ele o enviou a si mesmo, pois Cristo é tudo para a cura das almas. Cristo, como um profeta, nos dirige a si mesmo, como um sacerdote. Vá, lave-se na fonte aberta, uma fonte de vida, não um tanque.
4. A obediência do paciente a esta ordem: ele “foi”, portanto, provavelmente levado por um ou outro amigo. Ou talvez ele conhecesse Jerusalém tão bem, que podia encontrar sozinho o caminho. A natureza frequentemente supre a falta de visão com uma sagacidade incomum, e ele lavou seus olhos. Provavelmente, os discípulos, ou algum espectador, informou-o de que aquele que lhe dizia para fazer isto era aquele Jesus de quem ele tinha ouvido falar tanto, caso contrário ele não teria ido, obedecendo à sua ordem, naquilo que parecia muito como uma tarefa de louco. Confiando no poder de Cristo, assim como em obediência à sua ordem, ele foi, e lavou-se.
5. A cura realizada: ele “voltou vendo”. Há mais glória nesta narrativa concisa: Ele “foi… e lavou-se, e voltou vendo”, do que na frase de César: Veni, vidi, vici – Vim, vi, venci. Quando o lodo foi lavado dos seus olhos, todas as outras limitações foram removidas com ele, de modo que as dores e os sofrimentos do novo nascimento se acabaram, e as dores e terrores passaram, as ligações com o pecado se foram com ele, e uma luz e uma liberdade gloriosas aconteceram. Veja aqui um exemplo:
(1) Do poder de Cristo. O que não poderá fazer aquele que, não somente podia fazer isto, mas podia fazer isto desta maneira? Com um torrão de terra colocado sobre cada olho, e lavado novamente, Ele removeu imediatamente aquelas cataratas que o mais habilidoso oculista, com os melhores instrumentos e a mão mais precisa, não poderia remover. Sem dúvida, este é aquele que havia de vir, pois, por meio dele, os cegos recebem sua visão.
(2) É um exemplo da virtude da fé e da obediência. Este homem deixou Cristo fazer o que quisesse, e fez o que Ele lhe mandou fazer, e assim foi curado. Aqueles que desejam ser curados por Cristo de vem ser governados por Ele. Ele voltou do tanque para junto dos seus vizinhos e conhecidos, maravilhando aos outros e maravilhado. Ele “voltou vendo”. Isto representa o benefício que as almas graciosas encontram ao participar das ordenanças instituídas, de acordo com a indicação de Cristo. Eles foram ao tanque de Siloé enfraquecidos, e retornaram fortalecidos; foram duvidosos, e voltaram satisfeitos; foram chorando, e voltaram jubilosos; foram tremendo, e voltaram triunfando; foram cegos, e voltaram vendo e cantando, Isaías 52.8.
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