A PSICOLOGIA DO SUCESSO
Quem nunca se sentiu a última das criaturas sobre a face da terra após passar por uma grande frustração e pensou: “Só acontece comigo!”? Esse tipo de raciocínio costuma ser prejudicial, pois confirma crenças falsas sobre si memo. Cientistas já sabem que processamos de formas diversas as experiências que julgamos positivas e negativas, o que pode ajudar a evitar a montanha-russa emocional que aparentes derrotas e conquistas provocam.
O sucesso e o fracasso são processados de maneiras diferentes pelo cérebro. Pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts descobriram que pode haver muito mais por trás desse acontecimento além de apenas um bocado de mérito, recompensa pelos próprios esforços, acasos, coincidências ou até mesmo um tanto de sorte, como muita gente acredita.
Os resultados de um estudo oferecem indicações sobre como a mente aprende com situações positivas e negativas. Ao treinarem macacos para realizar tarefas visuais nas quais era possível escolher entre duas opções, os pesquisadores descobriram que o cérebro dos animais armazenava as experiências recentes tanto de sucesso quanto de fracasso. Porém, a resposta correta produzia um efeito impressionante: melhorava o processamento neural, aumentando o desempenho na prova seguinte. Caso um animal cometesse um erro em uma tentativa, mesmo após ter dominado a tarefa, seu desempenho na prova seguinte era governado pelo acaso – os erros eram descartados e ele não aprendia.
“O sucesso influencia muito mais o cérebro que o fracasso”, explica o neurocientista Earl Miller, que coordenou o estudo. Ele acredita que as descobertas se aplicam a muitos aspectos do cotidiano: o mau êxito, em geral, não recebe atenção, ao contrário do sucesso, que é recompensado com prêmios – como quando comemoramos um gol numa partida de futebol. O sentimento de prazer causado pela vitória é provocado por uma onda no neurotransmissor dopamina. Quando conseguimos acertar “em cheio” a bola nos pinos e fazer o desejado strike, a substância envia sinais ao cérebro para que a ação vitoriosa seja repetida.
JOGO DA PROBABILIDADE
Há alguns anos, o físico Richard A. J. Matthews estudou as chamadas leis de Murphy, máxima pessimista segundo a qual “se alguma coisa pode dar errado, dará”. Matthews investigou, em particular, por que uma fatia de pão com manteiga cai geralmente com o lado da manteiga para baixo. O fato foi confirmado por um estudo experimental, patrocinado por um fabricante de manteiga: o aparente azar deve-se simplesmente à relação física entre as dimensões da fatia e a altura em que estava colocada. São também explicáveis outros tipos de infortúnio, como o fato de que, quando retiramos duas meias da gaveta, geralmente não são do mesmo par – nesse caso, por meio da lógica das probabilidades.
Obviamente, ninguém está livre dos reveses da vida que sentimos como derrotas – seja a morte de uma pessoa querida, uma doença grave com a qual temos de lidar, a perda de uma promoção profissional para a qual tanto nos empenhamos, ou mesmo uma frustração banal como, após encontrar uma excelente oferta online daquele artigo que há tanto queríamos, não conseguir fechar a compra. Em todas essas situações há em comum um aspecto: a perda. A questão, porém, não é simplesmente o que acontece, mas a maneira como lidamos com os fatos – e as consequências físicas e mentais que enfrentamos. Algumas pesquisas têm mostrado que o pessimismo prolongado prejudica parte do cérebro que cuida do funcionamento cognitivo e, em alguns casos, nos torna fisicamente mais frágeis.
Quando se fala em acaso, é preciso considerar outro ponto: em geral, só damos atenção a certos fatos quando eles nos afetam diretamente (mesmo em situações banais, como o início da chuva assim que colocamos os pés na rua), o que contribui para reforçar nossos preconceitos e nos fazer ignorar as leis da probabilidade. “A diferença entre eventos ordinários e extraordinários é subjetiva”, observa o psicólogo Lorenzo Montali, pesquisador da Universidade de Milão-Bicocca. “Estar atrasado, por exemplo, é um fato comum, mas certamente será recordado por toda a vida como um golpe de sorte se graças a ele formos salvos de um acidente.” Ou seja, parece que aquela velha máxima de que “o valor está nos olhos de quem vê” faz sentido. Em grande parte, parece que escolher para onde queremos direcionar o olhar pode fazer muita diferença.
Republicou isso em Antonella Lallo.
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