JOÃO 8: 31-37

As palavras de Cristo aos fariseus
Nestes versículos, temos:
I – Uma confortável doutrina a respeito da liberdade espiritual dos discípulos de Cristo, apresentada com o propósito de incentivar aqueles “judeus que criam nele”. Sabendo que sua doutrina começava a operar em alguns dos seus ouvintes, e percebendo que virtude tinha sido emanada dele, Cristo desviou seu discurso dos orgulhosos fariseus, e dirigiu-se àqueles fracos crentes. Quando Ele tinha denunciado a ira contra aqueles que estavam insensíveis na incredulidade, Ele dirigiu palavras de consolo àqueles poucos e débeis “judeus que criam nele”. Veja aqui:
1. Com que graça o Senhor Jesus olha para aqueles que “tremem diante da sua palavra”, e estão dispostos a recebê-la. Ele tem algo a dizer àqueles que têm ouvidos para ouvir, e não passará por aqueles que se colocam em seu caminho, sem falar com eles.
2. Com que cuidado Ele aprecia os princípios da graça, e encontra aqueles que estão vindo em sua direção. Estes judeus que criam eram, ainda, muito fracos, mas Cristo não os afasta por isto, pois “entre os braços, recolherá os cordeirinhos”. Quando a fé está no seu início, Ele tem condições para guiá-la, seios para que ela se alimente, para que não venha a morrer em um estágio inicial. Nas palavras que Ele lhes disse, nós encontramos duas coisas, que Ele disse a todos os que, em alguma ocasião, cressem:
(1). O caráter de um verdadeiro discípulo de Cristo: “Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente, sereis meus discípulos”. Aqueles que criam nele, como sendo o grande profeta, entregavam-se para serem seus discípulos. Agora, ao serem admitidos em sua escola, Ele estabelece uma regra: Ele não reconheceria como seu discípulo a ninguém, exceto aqueles que permanecessem na sua palavra.
[1] Isto indica que há muitos que se professam discípulos de Cristo que não são verdadeiramente seus discípulos, mas somente em aparência e nome.
[2] Isto tem uma grande aplicação no caso daqueles que não são fortes na fé, para que procurem ser sãos na fé. Embora não sejam discípulos na forma mais forte possível, eles ainda são verdadeiros discípulos.
[3] Aqueles que parecem desejosos de ser discípulos de Cristo devem saber que podem, igualmente, nunca vir até Ele, a menos que venham decididos, pela sua graça, a obedecê-lo. Que aqueles que estão dispostos a estabelecer uma aliança com Cristo não pensem em ter reservado algum poder para revogá-la. As crianças são enviadas à escola, e se tornam aprendizes, somente por alguns poucos anos, mas só serão de Cristo aqueles que estiverem dispostos a permanecer unidos a Ele durante a vida toda.
[4] Somente aqueles que permanecem na palavra de Cristo serão aceitos como seus verdadeiros discípulos, aqueles que aderem à sua palavra em cada situação, sem parcialidade, e que obedecem a ela até o fim, sem apostasia. O termo utilizado é permanecer na palavra de Cristo, como um homem permanece em sua casa, que é seu centro, e seu repouso, e seu refúgio. Nosso relacionamento com a palavra e nossa conformidade a ela devem ser constantes. Se permanecermos como discípulos fiéis até o fim, então, e somente então, seremos aprovados como verdadeiros discípulos.
(2). O privilégio de um verdadeiro discípulo de Cristo. Aqui estão duas preciosas promessas feitas àqueles que, desta maneira, são aprovados como verdadeiros discípulos, v. 32.
[1] “Conhecereis a verdade”, conhecereis toda aquela verdade que é necessário e benéfico que conheçam, sereis mais confirmados na fé dela, e conhecereis sua certeza”. Observe que, em primeiro lugar, mesmo aqueles que são verdadeiros crentes, e verdadeiros discípulos, ainda podem estar, e estão, no escuro a respeito de muitas coisas que deveriam conhecer. Os filhos de Deus são apenas filhos, e compreendem e falam como filhos. Se não precisássemos ser ensinados, nós não precisaríamos ser discípulos. Em segundo lugar, é um grande privilégio conhecer a verdade, conhecer as verdades em particular nas quais devemos crer, nas suas mútuas dependências e conexões, e as bases e razões da nossa fé – para saber o que é verdade e o que prova ser verdade. Em terceiro lugar, é uma promessa graciosa de Cristo, a todos os que permanecem na sua palavra, de que conhecerão a verdade à medida que for necessária e benéfica para eles. Os alunos de Cristo têm certeza de que são bem ensinados.
[2] ”A verdade vos libertará”. Isto é, em primeiro lugar, a verdade que Cristo ensina tende a libertar os homens, Isaías 61.1. A justificação nos liberta da culpa do pecado, pela qual nós estávamos sujeitos ao julgamento de Deus, e sujeitos a temores assombrosos. A santificação nos liberta da escravidão da corrupção, pela qual nós estávamos proibidos daquele serviço que é uma liberdade perfeita, e forçados àquele que é uma escravidão perfeita. A verdade do Evangelho nos liberta do jugo da lei cerimonial, e das cargas mais dolorosas das tradições dos anciãos. Ela nos liberta dos nossos inimigos espirituais, e assim nos tornamos livres no serviço a Deus, livres para os privilégios de filhos, e livres para a Jerusalém que é de cima, que é livre. Em segundo lugar, o conhecimento, a aceitação e a fé nesta verdade realmente nos libertam, nos deixam livres dos preconceitos, enganos e falsos conceitos, e nada mais escraviza e confunde a alma, que estará livre do domínio dos desejos e das paixões. Estas virtudes restauram a alma ao controle de si mesma, reduzindo-a à obediência ao seu Criador. A mente, ao admitir a verdade de Cristo na luz e no poder, é muito engrandecida, e recebe uma abrangência mais ampla. Ela passa a ser altamente elevada sobre as coisas relacionadas aos sentidos, e nunca atua com uma liberdade tão verdadeira como quando atua sob um mandamento divino, 2 Coríntios 3.17. Os inimigos do cristianismo fingem ter liberdade de pensamento, ao passo que os raciocínios mais livres, na verdade, são aqueles guiados pela fé, e são homens de livre pensa mento aqueles cujos pensamentos são cativados e trazidos à obediência a Cristo.
II – A ofensa que os judeus carnais sentiram com esta doutrina, e suas objeções contra ela. Embora ela fosse uma doutrina que trazia boas novas de libertação aos cativos, ainda assim eles a criticaram, v. 33. Os fariseus se irritaram com estas palavras de consolo àqueles que criam, os espectadores, que não tinham parte nem sorte nesta questão. Eles se julgaram censurados e afrontados pela carta graciosa de liberdade concedida aos que criam, e por isto, com uma grande dose de orgulho e inveja, eles lhe responderam: “Somos descendência de Abraão”, e, portanto, nascemos livres, e não perdemos nosso direito de liberdade desde o nascimento. Nós “nunca servimos a ninguém; como dizes tu: Sereis livres?” Veja aqui:
1. Por que eles reclamaram: havia uma insinuação nestas palavras: “Sereis livres”, como se a igreja e a nação judaicas estivessem em algum tipo de escravidão, o que se refletia sobre os judeus, em geral, e como se todos aqueles que não cressem em Cristo continuassem naquela escravidão, o que se refletia sobre os fariseus, em particular. Observe que os privilégios dos crentes causam a inveja e a irritação dos incrédulos, Salmos 112.10.
2. O que eles alegaram contra a doutrina: embora Cristo desse a entender que eles precisavam ser libertados, eles insistiram:
(1) “Nós somos a semente de Abraão, e Abraão foi um príncipe e um grande homem. Embora vivamos em Canaã, nós não descendemos de Canaã, nem nascemos sob sua maldição, “servo dos servos seja”. Nós temos almas livres, e não um contrato de servidão”. É comum que uma família decadente se vanglorie da glória e dignidade de seus ancestrais, e empreste honras daquele nome ao qual devolvem desgraças. Isto faziam estes judeus. Mas isto não era tudo. Abraão estava em concerto com Deus, e também seus filhos, por seu direito, Romanos 11.28. Este concerto, sem dúvida, era uma carta de liberdade, e os investia em privilégios inconsistentes com uma condição de escravidão, Romanos 9.4. Portanto, eles não eram capazes de atribuir à liberdade em Cristo o verdadeiro valor que ela possui, pois pensavam que eram nascidos livres. Observe que é uma falta e uma tolice comum daqueles que têm educação e linhagem piedosa confiar nos seus privilégios e se vangloriarem deles, como se isto pudesse compensar a falta de uma verdadeira santidade. Eles eram a semente de Abraão, mas de que isto lhes serviria, já que é possível encontrar no inferno alguém que poderia chamar Abraão de pai? Os benefícios da salvação não são, como os privilégios comuns, transmitidos por herança, e o acesso ao céu não pode ser conseguido através da hereditariedade. Também não podemos reivindicar ser herdeiros pela lei, fingindo ter um pedigree. Nosso título é obtido exclusivamente pela compra, não nossa, mas do nosso Redentor, por nós, sob certas condições e limitações, que, se não observarmos, não nos ajudarão a ser a semente de Abraão. Desta maneira, muitos, quando pressionados pela necessidade de regeneração, tentam afastá-la através deste argumento frágil: “Nós somos os filhos da igreja”. Mas nem todos em Israel são verdadeiramente israelitas.
(2) “Nunca servimos a ninguém”. Observe:
[1] Como era falsa esta alegação. Eu me pergunto como eles podiam ter a segurança de dizer, diante de uma congregação, uma coisa que era tão notoriamente falsa. A semente de Abraão não tinha estado escravizada no Egito? Eles não tinham estado frequentemente escravizados às nações vizinhas, nos tempos dos juízes? Eles não tinham sido cativos durante setenta anos na Babilônia? Na verdade, eles não eram, nesta época, pagadores de impostos aos romanos, e, embora não sob uma escravidão pessoal, sob uma escravidão nacional a eles, e gemendo pela liberdade? Mas, para confrontar a Cristo, eles têm o descaramento de dizer: “Nunca servimos a ninguém”. Desta maneira, eles tentavam expor Cristo à má vontade, tanto dos judeus, que eram muito zelosos da honra da sua liberdade, quanto dos romanos, que não desejavam ser considerados como escravizadores das nações que conquistavam.
[2] Como era tola esta alegação. Cristo tinha falado de uma liberdade que era trazida pela verdade, o que devia ser entendido como uma liberdade espiritual, pois a verdade, assim como enriquece, também liberta a mente, e a engrandece além do cativeiro do erro e do preconceito. Mas eles alegavam, contra a oferta da liberdade espiritual, que nunca tinham estado em um cativeiro corporal, como se, por nunca terem servido a ninguém, nunca tivessem sido servos de qualquer desejo ou cobiça. Observe que os corações carnais não são sensíveis a nenhum sofrimento, exceto àqueles que perturbam o corpo e prejudicam suas questões seculares. Fale com eles sobre invasões à sua liberdade e propriedade civil, conte-lhes sobre a devastação cometida sobre suas terras, ou os danos feitos às suas casas, e eles irão compreender muito bem, e poderão dar-lhe uma resposta sensata. Isto os toca e os afeta. Mas fale com eles sobre a escravidão do pecado, o cativeiro a Satanás, e a liberdade por Cristo, conte-lhes do mal feito às suas preciosas almas, e o perigo do seu bem-estar eterno, e certam ente trará coisas estranhas aos seus ouvidos. E dirão (como fizeram aqueles, Ezequiel 20.49): “Não é este um dizedor de parábolas?” Isto era muito parecido com o erro grosseiro que Nicodemos cometeu sobre o conceito do novo nascimento.
III – A defesa que nosso Salvador faz da sua doutrina, contra estas objeções, e a explicação, vv. 34-37, onde Ele faz quatro coisas:
1. Ele mostra que, apesar das suas liberdades civis, e da sua filiação visível à igreja, ainda era possível que eles estivessem em um estado de escravidão (v. 34): “Todo aquele que comete pecado”, ainda que seja da semente de Abraão, e nunca tenha servido a ninguém, “é servo do pecado”. Observe que Cristo não os repreende pela falsidade da sua alegação, nem lhes mostra sua escravidão atual, mas explica melhor o que Ele tinha dito, para sua edificação. Assim devem os ministros, com mansidão, instruir aqueles que os combatem, para que possam recuperar-se, e não, com paixão, levá-los a confundir-se ainda mais. Aqui:
(1). O prefácio é muito solene: “Em verdade, em verdade vos digo”. Esta é uma afirmação tremenda, que nosso Salvador frequentemente usava, para exigir uma atenção reverente e uma pronta aceitação. O estilo dos profetas era: ”Assim diz o Senhor”, pois eles eram fiéis, como servos. Mas Cristo, sendo o Filho, fala no seu próprio nome: “Eu vos digo, Eu, o Amém, a testemunha fiel”. Ele empenha nisto sua sinceridade. “Eu digo a vocês, que se vangloriam da sua descendência de Abraão, como se isto pudesse salvá-los”.
(2). A verdade é de interesse universal, embora aqui transmitida em uma ocasião particular: “Todo aquele que comete pecado é servo do pecado”, e, tristemente, precisa ser libertado. Um estado de pecado é um estado de escravidão.
[1] Veja em quem é impressa esta marca naquele que comete pecado, todo aquele que comete pecado. Não há um homem justo sobre a terra, que viva e não peque, mas nem todo aquele que peca é um servo do pecado, pois então Deus não teria servos. Servo do pecado é aquele que comete pecado, que escolhe o pecado, prefere o caminho da maldade ao caminho da santidade (Jeremias 44.16,17), que que faz um concerto com o pecado, entra em aliança com ele, e se casa com ele, que faz artimanhas de pecado, faz provisões para a carne, e imagina iniquidades, e que tem o costume de pecar, que anda segundo a carne, e faz do pecado um negócio.
[2] Veja qual é a marca que Cristo estampa naqueles que cometem pecado. Ele os estigmatiza, confere lhes uma marca de servidão. Eles são servos do pecado, estão aprisionados sob a culpa do pecado, presos, dominados por ele, decididos sob o pecado, e estão sujeitos ao poder do pecado. Eles são servos do pecado, isto é, eles se fazem assim, e assim são considerados. Eles se venderam para realizar maldades. Seus desejos os dominam, eles estão à sua disposição e não são seus próprios senhores. Eles fazem a obra do pecado, dão suporte aos seus interesses, e aceitam seu salário, Romanos 6.16.
2. Ele lhes mostra que, estando em um estado de escravidão, o fato de que tenham um lugar na casa de Deus não lhes dá o direito à herança de filhos, pois (v. 35) “o servo”, embora esteja na casa durante algum tempo, sendo apenas um servo, “não fica para sempre em casa”. Os servos (dizemos nós) não são heranças, são apenas temporários, e não terão uma perpetuação, “mas o Filho fica para sempre”. Veja:
(1). Isto indica basicamente a rejeição da igreja e da nação judaicas. Israel tinha sido filho de Deus, seu primogênito, mas eles maldosamente degeneraram em uma disposição servil, escravizaram se ao mundo e à carne, e por isto, embora por virtude do seu direito de nascimento eles se julgassem seguros da sua filiação à igreja, Cristo lhes diz que tendo-se tornado escravos desta maneira, eles não ficariam na casa para sempre. Jerusalém, ao se opor ao Evangelho de Cristo, que proclamava liberdade, e ao aderir ao concerto do Sinai, que gerava servidão, expirado o prazo, entrou em escravidão com seus filhos (Gálatas 4.24,25), e por isto foi excomungada e privada de direitos. Sua carta foi apreendida e removida, e ela foi expulsa, como o filho da escrava, Gênesis 21.14. Crisóstomo dá a seguinte interpretação a esta passagem: “Não pensem em se tornar livres do pecado pelos ritos e cerimônias da lei de Moisés, pois Moisés era apenas um servo, e não tinha a autoridade perpétua na igreja, que o Filho tem. Mas, se o Filho lhes libertar tudo estará bem”, v. 36. Mas:
(2). Isto vai mais além, culminando com a rejeição de todos os que são servos do pecado, e não recebem a adoção de filhos de Deus. Embora estes servos inúteis possam estar na casa de Deus por algum tempo, como empregados da sua família, ainda assim chegará um dia quando os filhos da serva e os da mulher livre serão diferenciados. Somente os verdadeiros crentes, que são os filhos da promessa e do concerto, são considerados livres, e ficarão para sempre na casa, como Isaque. Eles terão estabilidade no seu santo lugar na terra (Esdras 9.8), e mansões, no santo lugar no céu, cap. 14.2.
3. Ele lhes mostra o caminho da libertação do estado de servidão “para a liberdade da glória dos filhos de Deus”, Romanos 8.21. O caso daqueles que são servos do pecado é triste, mas, graças a Deus, não é impossível, não é desesperador. Assim como é privilégio de todos os filhos da família, e sua dignidade acima da dos servos, o fato de que eles ficam em casa para sempre. Também aquele que é o Filho, o primogênito entre muitos irmãos, e o herdeiro de todas as coisas, tem poder tanto de libertação quanto de adoção (v. 36): “Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente, sereis livres”. Observe:
(1) No Evangelho, Jesus Cristo nos oferece nossa liberdade. Ele tem autoridade e poder para libertar.
[1] Libertar prisioneiros. Isto Ele faz na justificação, dando a satisfação necessária pela nossa culpa (onde se baseia a oferta do Evangelho, que é, para todos, um decreto de anistia, e para todos os verdadeiros crentes, com sua fé, uma carta absoluta de perdão) e pelas nossas dívidas, pelo que estávamos, pela lei, presos e sujeitos à execução. Cristo, como nossa garantia, ou melhor, como nosso fiador (pois Ele não estava originalmente preso conosco, mas, pela nossa insolvência, prendeu se por nós), compõe-se com o credor, responde às demandas da justiça ofendida com algo que ultrapassa em muito a equivalência, toma a obrigação e o julgamento nas suas próprias mãos e os cancela para todos aqueles que, pela fé e pelo arrependimento, lhe derem como retribuição (se é que posso dizer assim) uma segurança que deixe sua honra intocada e isenta de danos, e desta maneira, são libertados. E quanto à dívida e toda parte dela, eles estão, para sempre, isentos, exonerados e absolvidos. Além disto, uma libertação geral de todas as ações e reivindicações é selada. Mas, por outro lado, quanto àqueles que se recusam a aceitar estes termos, as garantias ainda se encontram nas mãos do Redentor, em plena força, e eles ainda precisam delas, caso contrário perecerão eternamente.
[2] Ele tem o poder de resgatar escravos, e isto Ele faz na santificação. Pelos poderosos argumentos do seu Evangelho, e as poderosas operações do seu Espírito, Ele rompe o poder da corrupção na alma, reúne as forças dispersas de razão e virtude, e fortalece o interesse de Deus contra o pecado e contra Satanás, e assim a alma é libertada.
[3] Ele tem o poder de naturalizar estrangeiros e forasteiros, e isto Ele faz na adoção. Este é um ato adicional da graça. Nós não somente somos perdoados e curados, mas preferidos. Existe uma carta de privilégios, assim como de perdão. E assim o Filho nos torna habitantes livres do reino de sacerdotes, a nação santa, a nova Jerusalém.
(2). Aqueles a quem Cristo liberta são realmente livres. Não é alethos, a palavra usada (v. 31) para os discípulos verdadeiros, mas ontos – verdadeiramente. Isto indica:
[1] A verdade e a certeza da promessa. A liberdade de que os judeus se vangloriavam era uma liberdade imaginária. Eles se vangloriavam de uma dádiva falsa, mas a liberdade que Cristo dá é uma coisa certa, é real, e tem efeitos reais. Os escravos do pecado prometem liberdade a si mesmos, e se imaginam livres, quando rompem a ligação com a religião, mas eles se enganam. Ninguém é verdadeiramente livre, exceto aqueles a quem Cristo liberta.
[2] Isto indica a excelência singular da liberdade prometida. É uma liberdade que merece o nome, e em comparação com ela, todas as outra s liberdades não são melhores do que a escravidão, pois ela se volta para a honra e o benefício daqueles que são libertados por ela. É uma liberdade gloriosa. É algo que é (ontos significa isto). É substância (Provérbios 8.21), ao passo que as coisas do mundo são sombras, coisas que não são.
4. Ele aplica isto a estes judeus descrentes e críticos, em resposta à sua ostentação do parentesco com Abraão (v. 37): “‘Bem sei que sois descendência de Abraão; contudo, procurais matar-me’, perdendo, desta maneira, a honra do parentesco com Abraão, “porque a minha palavra não entra em vós”. Observe aqui:
(1) A dignidade da sua origem é admitida: ‘”Eu sei que sois descendência de Abraão’, todo mundo sabe disto, e isto é vossa honra”. Ele lhes assegura o que era verdade, e naquilo que eles diziam que era falso (que nunca tinham servido a ninguém), Ele não os contradiz, pois Ele desejava beneficiá-los, e não provocá-los, e por isto disse o que iria agradá-los: “Bem sei que sois descendência de Abraão”. Eles se orgulhavam da descendência de Abraão, como algo que enaltecia seus nomes e os tornava sumamente honoráveis, ao passo que isto, na verdade, somente agravava seus crimes, e os tornava excessivamente pecadores. Ele julgará os hipócritas presunçosos a partir das palavras das suas próprias bocas. Est es se vangloriam do seu parentesco e educação: “Vocês são semente de Abraão? Por que, então, vocês não seguiram os passos da sua fé e obediência?”
(2). A inconsistência da sua prática com esta dignidade: “Contudo, procurais matar-me”. Eles tinham tentado matá-lo diversas vezes, e agora desejavam fazê-lo, o que fica rapidamente evidente (v. 59) quando “pegam em pedras para lhe atirarem”. Cristo conhece toda a maldade, não somente a que os homens fazem, mas a que eles procuram, e desejam, e se esforçam para fazer. Procurar matar um homem inocente é um crime suficientemente hediondo, mas planejar e imaginar a morte daquele que era o Rei dos reis era um crime cuja atrocidade nos faltam palavras para expressar.
(3). A razão desta incoerência. Por que aqueles que era m a semente de Abraão eram tão inveterados contra a semente prometida de Abraão, em quem eles e todas as famílias da terra seriam benditos? Aqui nosso Salvador lhes diz: “Porque a minha palavra não entra em vós”, ou. “Minha palavra não encanta vocês, vocês não têm inclinação para ela, não têm prazer nela, outras coisas lhes são mais atraentes, mais agradáveis”. Ou: “Ela não domina vocês, ela não tem poder sobre vocês, ela não os impressiona”. Alguns dos críticos entendem: “Minha palavra não penetra em vós”. Ela desceu como a chuva, mas sobre eles foi como a chuva sobre a rocha, que escorreu e não penetrou nos seus corações, como a chuva penetra no solo arado. A versão siríaca apresenta: “‘Porque vós não aquiesceis à minha palavra’. Não sois persuadidos pela verdade dela, nem agradados pela sua bondade”. Nossa tradução é muito significativa: ela “não entra em vós”. Eles procuravam matá-lo, e efetivamente silenciá-lo, não porque Ele lhes tivesse feito algum mal, mas porque eles não podiam suportar o poder convincente e autoritário da sua palavra. Observe:
[1] A palavra de Cristo deve ter um lugar em nós, o lugar mais interior e o mais alto, um lugar de permanência, como um homem em casa, e não como um estrangeiro ou viajante, um lugar de trabalho. Ela deve ter lugar para operar para eliminar o pecado de nós, e operar a graça em nós. Ela deve ter um lugar dominante, ela deve estar entronizada em nossos corações, e deve habitar em nós ricamente.
[2] Há muitos que fazem uma profissão de religião, mas neles a palavra de Cristo não tem lugar. Eles não lhe dão um lugar, pois não gostam dela. Satanás faz tudo o que pode para removê-la, e outras coisas tomam o lugar que ela deveria ter em nós.
[3] Onde a palavra de Deus não tem lugar, não se pode esperar nenhum bem, pois há lugar para toda a maldade. Se o espírito imundo encontra o coração vazio da palavra de Cristo, ele entra e habita ali.
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