JOÃO 8: 21-30

As palavras de Cristo aos fariseus
Aqui Cristo faz uma justa advertência aos judeus incrédulos e descuidados, para que considerassem qual seria a consequência da sua infidelidade, para que pudessem evitá-la antes que fosse tarde demais, pois Ele falava palavras de terror além de palavras de graça. Observe aqui:
I – A ira ameaçada (v.21): Jesus lhes disse “outra vez” aquilo que provavelmente deveria ser para o bem deles. Ele continuava a ensinar, com benignidade, àqueles poucos que recebiam sua doutrina, embora houvesse muitos que resistiam a ela, o que é um exemplo para os ministros continuarem no seu trabalho, a despeito da oposição, porque alguns se salvarão. Aqui Cristo muda seu tom. Era como se Ele tivesse “tocado” para eles, nas ofertas da sua graça, e eles não tivessem “dançado”. Agora Ele lamenta por eles, nas condenações da sua ira, para ver se eles se lamentariam. Ele disse: “Eu retiro-me, e buscar-me-eis e morrereis no vosso pecado. Para onde eu vou não podeis vós ir”. Cada palavra é terrível, e traduz julgamentos espirituais, que são os piores julgamentos, piores do que a guerra, a peste e o cativeiro, que os profetas do Antigo Testamento denunciavam. Aqui os judeus são ameaçados em relação a quatro coisas:
1. A partida de Cristo do seu meio: “Eu retiro-me”, isto é: “Não tardará muito tempo até que Eu parta. Vocês não precisam se esforçar tanto para me expulsar do seu meio, Eu irei por mim mesmo”. Eles disseram ao Senhor Jesus: “Retira-te de nós; porque não desejamos ter conhecimento dos teus caminhos”, e Ele aceitou o que eles diziam. Mas ai daqueles de quem Cristo se afasta. Icabô, a glória se vai, nossa proteção se acaba, quando Cristo se vai. Cristo frequentemente os advertia da sua partida, antes de deixá-los. Ele se despediu deles, como alguém que estava relutando partir, e desejando ser convidado, e desejando tê-los despertado para que se apegassem a Ele.
2. Sua inimizade com o verdadeiro Messias, e suas infrutíferas buscas de outro Messias quando este já tivesse ido, que era tanto seu pecado quanto sua punição: “Buscar-me-eis”, o que evidencia, ou:
(1) Sua inimizade com o verdadeiro Cristo: “Vocês procurarão destruir meus interesses, perseguindo minha doutrina e meus seguidores com um infrutífero desígnio de extirpá-los”. Isto era uma contínua irritação e um tormento para eles, tornava sua natureza irremediavelmente má, e trazia a ira sobre eles (a de Deus e a deles mesmos) até o máximo. Ou:
(2) Suas buscas de falsos Cristas: “Vocês irão continuar com suas expectativas do Messias, e desconsertadamente procurarão um Cristo futuro, quando Ele já terá vindo”. Como os sodomitas, que, feridos de cegueira, se cansaram para achar a porta. Veja Romanos 9.31,32.
3. Sua impenitência final: “Morrereis nos vossos pecados” (versão inglesa KJV). Aqui há um erro em todas as nossas Bíblias inglesas, até mesmo na antiga tradução dos bispos, e na de Genebra (com uma única exceção, a de Rheims), pois todas as cópias em grego trazem o singular no vosso pecado, como também todas as versões em latim. E Calvino observou a diferença entre este versículo e o versículo 24, onde é plural, de modo que aqui a referência é especialmente ao pecado da incredulidade no vosso pecado. Observe que aqueles que vivem na incredulidade estarão destruídos para sempre, se morrerem na incredulidade. Ou isto pode ser interpretado de maneira geral: “Morrerão na sua iniquidade”, como em Ezequiel 3.19; 33.9. Muitos que viveram muito tempo em pecado são, por meio da graça, salvos de morrer em pecado através de um arrependimento bastante oportuno, mas para aqueles que passam deste mundo de provação para aquele de retribuição sob a culpa do pecado sem perdão, e sem romper o poder do pecado, não há mais alivio, nem mesmo a própria salvação será capaz de salvá-los, Jó 20.11; Ezequiel 32.27.
4. Sua separação eterna de Cristo e de toda a felicidade nele: “Para onde eu vou não podeis vós ir”. Quando Cristo deixou o mundo, Ele foi para um estado de felicidade perfeita. Ele foi para o paraíso. Para lá, Ele levou consigo o salteador penitente, que não morreu nos seus pecados. Mas não é que os impenitentes não irão até Ele por não quererem ir, eles não poderão ir. Isto é moralmente impossível, pois o céu não seria agradável para aqueles que morressem sem ser santificados e sem ser adequados para ele. O céu não seria um céu para estes. “Vocês não poderão vir, porque não terão o direito de entrar naquela Jerusalém”, Apocalipse 22.14. “Para onde eu vou, vocês não podem vir, para me buscar ali”. O Dr. Whitby está de acordo com este comentário, e este é o consolo de todos os bons cristãos, que, quando chegarem ao céu, eles estarão fora do alcance da maldade e da malícia dos seus inimigos.
II – A maneira como eles zombaram desta ameaça. Em vez de tremerem com estas palavras, eles as desafiaram e as ridicularizaram (v. 22): “Porventura, quererá matar-se a si mesmo”. Veja aqui:
1. Que menosprezo eles demonstraram pelas ameaças de Cristo. Eles podiam se divertir, como aqueles que zombavam dos mensageiros do Senhor, e transformavam o “peso da palavra do Senhor” em um provérbio, e “mandamento sobre mandamento, regra sobre regra”, em uma alegre canção, Isaías 28.13. Mas “não mais escarneçais, para que vossas ligaduras se não façam mais fortes” (Isaias 28.22). 2. Que maus pensamentos eles tinham sobre o que Cristo queria dizer, como se Ele tivesse um desígnio desumano para sua própria vida, para evitar as indignidades feitas a Ele, como Saul. “Isto é realmente”, dizem eles, “ir para onde não podemos segui-lo, pois nós nunca iremos nos matar”. Assim, eles o julgam não somente como alguém semelhante a eles mesmos, mas pior. Porém, nas calamidades trazidas pelos romanos sobre os judeus, muitos deles, descontentes e desesperados, vieram a se matar. Eles tinham atribuído um significado muito mais favorável a estas suas palavras (cap. 7.34,35): “Irá, porventura, para os dispersos entre os gregos?” Mas veja como a maldade tolerada cresce, cada vez mais perversa.
III – A confirmação do que Ele havia dito.
1. Ele tinha dito: “Para onde eu vou não podeis vós ir”, e aqui Ele dá a razão disto (v. 23): “Vós sois de baixo, eu sou de cima; vós sois deste mundo, eu não sou deste mundo”. Vocês são das coisas de baixo, observando, não tanto a subida deles desta condição inferior, quanto o afeto deles por estas coisas inferiores. “Vocês estão com estas coisas, como aqueles que pertencem a elas. Como vocês podem vir para onde eu vou, quando o espírito e a disposição de vocês são tão direta mente contrários aos meus?” Veja aqui:
(1) O que era o espírito do Senhor Jesus – não deste mundo, mas de cima. Ele estava completamente morto para a riqueza do mundo, o conforto do corpo e o elogio dos homens, e completamente tomado pelas coisas divinas e celestiais. E ninguém estará com Ele, exceto aqueles que nasceram de cima e têm sua comunhão com o céu.
(2) Como o espírito deles era contrário a isto: “Vós sois de baixo.. . vós sois deste mundo”. Os fariseus tinham um espírito mundano e carnal. E que comunhão Cristo poderia ter com eles?
2. Ele tinha dito: “morrereis em vossos pecados”, e aqui Ele confirma isto: “Por isso, vos disse que morrereis em vossos pecados, porque sois de baixo”. E Ele lhes dá uma razão adicional para isto: “Se não crerdes que eu sou, morrereis em vossos pecados”, v. 24. Veja aqui:
(1) O que é exigido que creiamos: “Que eu sou” que é um dos nomes de Deus, Êxodo 3.14. Era o Filho de Deus que ali dizia Eu sou o que sou, pois a libertação de Israel era apenas um exemplo das boas coisas futuras, mas agora Ele diz: “Eu sou Ele, aquele que viria, aquele que vocês esperam que o Messias seja, que vocês desejam que Eu seja para vocês. Eu sou mais do que o simples nome do Messias. Eu não somente me chamo assim, mas eu sou Ele”. A fé verdadeira não diverte a alma com um som vazio de palavras, mas a influencia com a doutrina da mediação de Cristo, como uma coisa real que tem efeitos reais.
(2) Como é necessário que nós creiamos nisto. Se não tivermos esta fé, morreremos nos nossos pecados, pois a questão está tão definida, que, sem esta fé:
[1] Nós não poderemos ser salvos do poder do pecado enquanto vivermos, e, portanto, certamente continuaremos a lutar contra ele até o final. Nada, exceto a doutrina da graça de Cristo, será um argumento suficientemente poderoso, e ninguém, exceto o Espírito da graça de Cristo, será um agente suficientemente poderoso, para nos levar do pecado para Deus. E este Espírito é dado, e esta doutrina é dada, para terem efeito somente sobre aqueles que creem em Cristo, de modo que, se Satanás não estiver destituído pela fé, ele terá a autoridade sobre a alma, durante sua vida. Se Cristo não nos curar, nossa situação será desesperadora, e nós morreremos nos nossos pecados.
[2] Sem a fé, nós não poderemos ser salvos da punição do pecado quando morrermos, pois a ira de Deus permanece sobre aqueles que não creem, Marcos 16.16. A incredulidade é o pecado que condena, é um pecado contra a cura. Isto implica na grande promessa do Evangelho. Se nós crermos que Cristo é Ele, e o recebermos de modo adequado, nós não morreremos nos nossos pecados. A lei diz absolutamente a todos, como Cristo disse (v. 21): “Morrereis no vosso pecado”, pois todos nós somos culpados diante de Deus, mas o Evangelho é uma rescisão da obrigação mediante a condição da fé. A maldição da lei é cancelada e anulada a todos os que se submetem à graça do Evangelho. Os crentes morrem em Cristo, no seu amor, nos seus braços, e, desta maneira, são salvos de morrer nos seus pecados.
IV – Aqui estão algumas palavras adicionais a seu respeito, ocasionadas pelo fato de que Ele exije a fé nele como a condição para a salvação, vv. 25-29. Observe:
1. A pergunta que os judeus lhe fazem (v. 25): “Quem és tu?” Eles perguntaram isto de modo zombeteiro, e não com desejo de serem instruídos. Ele tinha dito: “Vocês devem crer que Eu sou”. Ao não dizer expressamente quem Ele era, Ele claramente indicou que, na sua pessoa, Ele era alguém que podia ser descrito por qualquer pessoa, e no seu oficio, alguém que era esperado por todos os que esperavam a redenção de Israel. Ainda assim, ele convertem esta terrível maneira de falai; que tinha tanto significado, em uma reprovação a Ele, como se Ele não soubesse o que dizer de si mesmo: “‘Quem és tu’, para que nós tenhamos, com uma fé implícita, que crer em ti? Teremos que crer que tu és algum poderoso ELE, que nós não sabemos quem ou o que é, nem somos dignos de saber?”
2. Sua resposta a esta pergunta, indicando-lhes três caminhos de informação:
(1) Ele os lembra daquilo que Ele tinha dito todo e tempo: “Vós perguntais quem Eu sou? ‘Isso mesmo que já desde o princípio vos disse”‘. O original aqui é um pouco intrincado, que alguns interpretam da seguinte maneira: “Eu sou o princípio, o que também já disse a vocês” Assim Austin interpreta. Cristo é chamado o princípio (Colossenses 1.18 Apocalipse 1.8; 21.6; 3.14), e isto está de acordo com o versículo 24: “Eu sou”. Compare Isaías 41.4: “E u, o Senhor, o primeiro”. Aqueles que objetam que esta é uma declinação acusativa, e por isto não responde adequadamente a tú, devem tentar interpretar pelas regras gramaticais i expressão paralela, Apocalipse 1.8. Mas a maioria dos intérpretes concorda com nossa versão: “Vocês perguntam quem Eu sou?”
[1] “Eu sou isso mesmo que disse a vocês já desde o princípio do tempo nas Escrituras do Antigo Testamento, o mesmo de quem desde o princípio se disse que era a Semente da mulher; que feriria a cabeça da serpente, o mesmo que em todas as épocas da igreja foi o Mediador do concerto, e a fé dos patriarcas”
[2] ‘”Desde o princípio’ do meu ministério público”. O Senhor resolveu ater-se ao relato que já tinha dado a respeito de si mesmo. Ele tinha declarado ser o Filho de Deus (cap. 5.17), o Cristo (cap. 4.26), e o Pão da Vida, e tinha se apresentado como o objeto daquela fé que é necessária para a salvação. E Ele os lembra disto como uma resposta à pergunta deles. Cristo é plenamente coerente. O que Ele tinha dito desde o princípio, Ele ainda diz. Seu Evangelho é eterno.
(2) Ele os lembra do julgamento do seu Pai, e das instruções que havia recebido dele (v. 26): “‘Muito tenho que dizer’, mais do que podeis imaginar, tanto para vos dizer como para vos julgar. Mas por que eu ainda deveria me preocupar convosco? Eu sei muito bem que aquele que me enviou é verdadeiro, e estará do meu lado, E me apoiará, pois Eu ‘falo ao mundo’ (ao qual Eu sou enviado como um embaixador) estas coisas, todas estas E somente estas, ‘que dele tenho ouvido”‘ Aqui:
[1] Ele suprime sua acusação contra eles. Ele tinha muitas coisas de que acusá-los, e muitas evidências para apresentar contra eles, mas, no momento, Ele já tinha dito o suficiente. Observe que, quaisquer que sejam m revelações de pecado feitas a nós, aquele que sonda o coração ainda tem muito mais a julgar de nós, 1 João 3.20. Por mais que Deus ajuste as contas com os pecadores neste mundo, ainda haverá outro ajuste de contas, Deuteronômio 32.34. Aprendamos, então, a não nos apressarmos a dizer tudo o que podemos dizer, mesmo contra os piores dos homens. Podemos ter muitas coisas a dizer sob a forma de censura, que ainda será melhor que não sejam ditas, pois o que isto terá a ver conosco?
[2] Ele apresenta sua apelação contra eles ao sei Pai: ”Aquele que me enviou”. Aqui, duas coisas o conso1am. Em primeiro lugar, que Ele tinha sido fiel ao seu Pai, e à confiança nele depositada: “Falo ao mundo” (pois seu Evangelho devia ser pregado a todos) “o que dele tenho ouvido”. Sendo dado como testemunha ao povo (Isaias 55.4), Ele era “o Amém, a testemunha fiel e verdadeira”, Apocalipse 3.14. Ele não ocultou sua doutrina, mas a falou ao mundo (sendo de interesse comum, seria de percepção comum). Nem a modificou ou alterou, nem se desviou das instruções que tinha recebido daquele que o enviou. Em segundo lugar, que seu Pai seria fiel a Ele. Fiel à promessa de que faria sua boca como uma espada aguda (Isaias 49.2). Fiel ao seu propósito a respeito dele, que era um decreto (Salmos 12.7). Fiel às ameaças da sua ira contra aqueles que o rejeitassem. Embora Ele não os acusasse perante seu Pai, ainda assim o Pai, que o tinha enviado, sem dúvida ajustaria contas com eles, e seria fiel ao que tinha dito (Deuteronômio 18.19), que qualquer que não ouvisse as palavras daquele profeta que Deus apresentasse, teria que prestar contas. Cristo não os acusaria, “pois”, diz Ele, “aquele que me enviou é verdadeiro, e irá julgá-los, mesmo que Eu não exija o julgamento deles”. Desta forma, quando Ele abandona a acusação atual, Ele os prende ao dia do juízo, quando ser á tarde demais para discutir aquilo em que agora eles não podem ser persuadidos a crer. “Eu, como surdo, não ouvia… porque tu me ouvirás”, Salmos 38.13,15. Sobre esta parte das palavras do nosso Salvador, o evangelista tem uma observação melancólica (v. 27): eles “não entenderam que ele lhes falava do Pai”. Veja aqui:
1. O poder que Satanás tem de cegar as mentes daqueles que não creem. Embora Cristo falasse tão claramente de Deus como seu Pai celestial, ainda assim eles não entenderam a quem Ele se referia, mas pensaram que Ele estivesse falando do pai que tinha na Galileia. Assim, as coisas mais simples são enigmas e parábolas para aqueles que estão decididos a se apegar aos seus preconceitos. A noite e o dia são iguais para o cego.
2. A razão por que as ameaças da Palavra causam tão pouca impressão sobre as mentes dos pecadores. Porque eles não compreendem de quem é a ira que é revelada nelas. Quando Cristo lhes falou da verdade daquele que o tinha enviado, como um aviso para que se preparassem para seu julgamento, que é de acordo com a verdade, eles desprezaram o aviso, porque não entendiam de quem era o julgamento perante o qual eles se faziam tão odiosos.
(3) Ele fala das suas próprias convicções futuras, vv. 28,29. Ele enxerga que eles não o compreendem, e por isto adia o julgamento até que mais evidências tenham sido apresentadas. Aqueles que não veem, verão, Isaías Observe aqui:
[1] De que eles deveriam ter sido convencidos há muito tempo: “Vocês sabem que Eu sou, que Jesus é o verdadeiro Messias. Reconheçam ou não isto diante dos homens, vocês saberão disto nas suas próprias consciências, cujas convicções, embora vocês possam asfixiar, não podem frustrar: que Eu sou, não aquele que vocês dizem que Eu sou, mas aquele que Eu prego que sou, aquele que viria!” Eles deveriam se convencer de duas coisas. Em primeiro lugar, que Ele não fazia nada por si mesmo, não por si mesmo como homem, mas por si mesmo sozinho, por si mesmo sem o Pai, com quem Ele é um. Portanto, Ele não subestima seu próprio poder inerente, mas somente nega a acusação que lhe fazem, de falso profeta, pois dos falsos profetas está dito que eles profetizavam de seus próprios corações, e seguiam seus próprios espíritos. Em segundo lugar, que assim como seu Pai lhe ensinou, também Ele falava estas coisas, que Ele não era autodidata, mas ensinado por Deus. A doutrina que Ele pregava era formada pelos próprios conselhos de Deus, com os quais Ele estava intimamente familiarizado. Eu falo estas coisas, não somente o que Ele me ensinou, mas como Ele me ensinou, com o mesmo poder e autoridade divinos.
[2] Quando eles seriam convencidos disto: “Quando levantardes o Filho do Homem”, quando o levantassem na cruz, como a serpente de metal sobre a haste (cap. 3.14), como os sacrifícios sob a lei (pois Cristo é o grande sacrifício), que, quando eram oferecidos, dizia-se que eram levantados. Por isto, as ofertas de holocaustos, as mais antigas e honrosas de todas, eram chamadas de elevações e em muitas outras ofertas eles usavam a cerimônia significativa de levantar o sacrifício e apresentá-lo diante do Senhor. Assim, Cristo foi levantado. Esta expressão também pode indicar que sua morte foi sua exaltação. Aqueles que o levaram à morte pensaram que, com isto, tivessem destruído para sempre tanto a Ele como seus interesses, mas sua morte foi, na realidade, a promoção de ambos, cap. 12.24. Quando o Filho do Homem foi crucificado, o Filho do Homem foi glorificado. Cristo tinha chamado sua morte de sua partida. Aqui Ele a chama de sua elevação. Assim, a morte dos santos, da mesma forma que é sua partida deste mundo, também é sua promoção para um mundo melhor. Observe que Ele se refere àqueles com quem está falando agora como instrumentos da sua morte: “Quando levantardes o Filho do Homem”. Não que eles fossem os sacerdotes que o ofereceriam (não, isto foi seu próprio ato, Ele se ofereceu), mas eles seriam seus traidores e assassinos. Veja Atos 2.23. Eles o levantaram na cruz, mas então Ele se elevou ao seu Pai. Observe com que ternura e suavidade Cristo aqui fala àqueles que Ele certamente sabia que o levariam à morte, para nos ensinar a não odiar a ninguém, nem procurar ferir a ninguém, ainda que possamos ter razão para pensar que eles nos odeiam e procuram nos ferir. Cristo aqui fala da sua morte como aquilo que seria uma convicção poderosa da infidelidade dos judeus. “Quando levantardes o Filho do Homem, então, conhecereis” isto. E por que então? Em primeiro lugar, porque as pessoas descuidadas e desatentas frequentemente aprendem o valor das misericórdias pela necessidade delas, Lucas 17.22. Em segundo lugar, a culpa do pecado daqueles homens, ao levarem Cristo à morte, despertaria suas consciências de tal modo, que eles seriam levados a procurar seriamente um Salvador, e então saberiam que Jesus era aquele único que poderia salvá-los. E isto foi provado, quando, ouvindo que com mãos perversas eles tinham crucificado e assassinado o Filho de Deus, eles gritaram: “Que faremos?” E lhes foi dado a conhecer indubitavelmente que este Jesus era o Senhor e Cristo, Atos 2.36. Em terceiro lugar, haveria tais sinais e maravilhas na ocasião da sua morte, e o fato de o Senhor se levantar da morte na sua ressurreição daria uma prova mais forte de que Ele era o Messias do que qualquer que já tinha sido dada. E muitos, com isto, foram levados a crer que Jesus era o Cristo, muitos que anteriormente o haviam contradito e combatido. Em quarto lugar, pela morte de Cristo, foi comprado o derramamento do Espírito, que convenceria o mundo de que Jesus é o Senhor e o Salvador, cap. 16.7,8. Em quinto lugar, os julgamentos que os judeus trouxeram sobre si mesmos, ao levarem Cristo à morte, e que enchiam a medida da iniquidade daqueles homens, eram uma convicção perceptível aos mais insensíveis entre eles de que Jesus era o Senhor e o Salvador. Cristo sempre tinha predito a desolação como a punição justa à incredulidade invencível que demonstravam, e quando isto viesse a acontecer (eis, chegou), eles não poderiam deixar de saber que o grande profeta tinha estado entre eles, Ezequiel 33.33.
[3] O que sustentava nosso Senhor Jesus neste interim (v. 29): ‘”Aquele que me enviou está comigo’, na minha missão, pois o Pai (a fonte e o manancial desta questão, de quem, como sua grande Causa e seu grande Autor, ela deriva), não tem me deixado só, para lidar com isto sozinho, não desertou a missão ou a mim na sua execução, pois faço sempre o que lhe agrada”. Aqui temos: Em primeiro lugar, a certeza que Cristo tinha da presença do seu Pai consigo, o que inclui tanto um poder divino que o acompanhava, para capacitá-lo para seu trabalho, quanto uma graça divina que lhe foi manifesta da, para incentivá-lo na sua missão. Aquele que me enviou está comigo, Isaías 42.1; Salmos 89.21. Isto incentiva enormemente nossa fé em Cristo e nossa confiança na sua palavra, de que Ele tinha, e sabia que tinha, seu Pai consigo, para confirmar a Palavra do seu Servo, Isaías 44.26. O Rei dos reis acompanhava seu próprio embaixador, para confirmar sua missão e auxiliar sua administração, e nunca o deixou sozinho, sentindo-se solitário ou fraco. Isto também agravava a iniquidade daqueles que o combatiam, e era uma indicação da traição em que eles incorriam por resistirem a Ele, pois seriam considerados como estando combatendo contra o próprio Deus. Com que facilidade eles podiam pensar em esmagá-lo e destruí-lo, mesmo sabendo que Ele era apoiado por aquele que ninguém jamais seria capaz de combater. Tentar combater o Deus Criador é a maior loucura possível.
Em segundo lugar, a base da garantia que o Senhor Jesus possuía: “Porque eu faço sempre o que lhe agrada”. Isto é:
1. Aquela grande missão na qual nosso Senhor Jesus estava continuamente engajado era uma missão que agradava muitíssimo ao Pai que o enviou. Sua missão como um todo é chamada de bom prazer do Senhor (Isaias 53.10), por causa dos pensamentos e conselhos da mente eterna a respeito dela, e por causa da auto realização da mente eterna em relação a ela.
2. Sua condução desta missão não desagradava ao Pai em nada. Na execução da sua comissão, Ele observava pontual mente todas as suas instruções, e não se desviava de nenhuma delas. Nenhum mero homem, desde a queda, podia dizer algo como isto (pois, em muitas coisas, nós ofendemos a muitos), mas nosso Senhor Jesus nunca ofendeu ao seu Pai em nada, porém, como lhe convinha, cumpriu toda a justiça. Isto era necessário para a validação e o valor do sacrifício que Ele deveria oferecer, pois, se Ele tivesse, em alguma coisa, desagradado ao próprio Pai, e tivesse, desta forma, algum pecado próprio pelo qual responder, o Pai não poderia estar satisfeito com Ele como a propiciação pelos nossos pecados. Mas tal sacerdote e tal sacrifício nos convêm porque eram perfeitamente puros e imaculados. Da mesma maneira, nós podemos aprender que os servos de Deus podem, então, esperar a presença de Deus consigo quando decidem fazei e realmente fazem, as coisas que o agradam, Isaías 66.4,5.
V – Aqui está o bom resultado que estas palavras de Cristo tiveram sobre alguns dos seus ouvintes (v. 30): “Dizendo Ele essas coisas, muitos creram nele” Observe:
1. Embora multidões pereçam na incredulidade, ainda há alguns, segundo a eleição da graça, que creem na salvação da alma. Mesmo que Israel, como um conjunto de pessoas, não se deixe ajuntar; ainda há aqueles entre elas em quem Cristo será glorioso, Isaías 49.5. Nisto, o apóstolo insiste, para reconciliar a rejeição dos judeus com as promessas feitas aos seus país. Ele fala de um remanescente, Romanos 11.5. 2. As palavras de Cristo, e particularmente suas palavras ameaçadoras, têm efeito, pela graça de Deus, para levar as pobres almas a crer nele. Quando Cristo lhes disse que se não cressem morreriam nos seus pecados, e nunca chegariam ao céu, eles pensaram que era o momento de olhar à sua volta, Romanos 1.16,18. 3. Às vezes, existe uma porta grande aberta, uma porta eficaz, mesmo onde existem muitos adversários. Cristo irá prosseguir com seu trabalho, apesar da fúria dos pagãos. Muitas vezes o Evangelho obtém grandes vitórias mesmo onde encontra grande oposição. Que isto incentive os ministros de Deus a pregarem o Evangelho, mesmo que com muitas lutas e dificuldades, pois eles não trabalharão em vão. Muitos podem ser secretamente levados a Cristo por aqueles esforços que são abertamente contraditados e criticados pelos homens de mentes corrompidas. Austin tem uma exclamação afetuosa na sua interpretação destas palavras: Eu desejo que, quando eu falar, muitos possam crer; não em mim, mas que creiam nele, juntamente comigo.
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