JOÃO 5: 1-16 – PARTE I
A Cura no Tanque de Betesda
Essa cura milagrosa não é registrada por nenhum outro dos evangelistas, que se restringem principalmente aos milagres realizados na Galileia, mas João relata aqueles realizados em Jerusalém. Com relação a isso. observe:
I – A época em que essa cura foi realizada: foi em “uma festa dos judeus”, isto é, a da Páscoa, pois era a festa mais celebrada. Cristo, embora residindo na Galileia, subiu a Jerusalém para a festa, v 1.
1. Porque esta era uma ordenança de Deus, a qual. como um súdito, Ele cumpriria, pois fora imposta sob a lei. Embora, como Filho, Ele pudesse ter pleiteado uma isenção. Desse modo, o Senhor Jesus nos ensinaria a participar das reuniões religiosas, dos cultos ao Senhor, Hebreus 10.25. 2. Porque esta era uma oportunidade de fazer o bem, pois:
(1 ) Havia grande s multidões reunidas em Jerusalém naquele momento. Era um encontro geral, ao menos de t odos os pensadores sérios de todas as partes do país, além de prosélitos de outras nações. E a Sabedoria deve clamar nos lugares de grande afluência de pessoas, Provérbios 1.21.
(2) Seria de se esperar que elas estivessem em um bom estado de espírito, pois tinham vindo para juntas adorar a Deus e passar o tempo em práticas religiosas. Sendo assim, uma mente propensa à devoção, e isolando-se com vistas aos exercícios de piedade, permanece muito aberta às futuras descobertas da luz e amor divinos, e para ela Cristo será agradável.
II – O lugar onde essa cura foi realizada: no tanque de Betesda, que tinha em si uma milagrosa virtude de cura, e que aqui é detalhadamente descrita, vv. 2-4.
1. Onde ele estava situado: “Em Jerusalém … próximo à Porta das Ovelhas”. Poderia muito bem ser traduzido como o estábulo das ovelhas, onde o rebanho era mantido, ou a Porta do Gado, sobre a qual lemos em Neemias 3.1, através da qual os rebanhos eram trazidos, como o mercado das ovelhas, onde estas eram vendidas. Alguns acham que este se situava próximo ao Templo, e, se é assim, este foi um espetáculo melancólico, porém produtivo, para aqueles que subiram ao Templo para orar.
2. Como ele era chamado: era um “tanque” (um reservatório ou banho), “chamado em hebreu Betesda” casa de misericórdia. Porque nele aconteciam muitas das misericórdias de Deus para com os doentes e enfermos. Em um mundo de tanta miséria como este nosso, é bom que existam alguns Betesdas – casas de misericórdia (remédios contra esses males), para que o cenário não seja totalmente de melancolia. O lugar era um abrigo para pobres, segundo o Dr. Hammond. O Dr. Lightfoot acredita que esse era o viveiro superior (Isaias 7.3), o viveiro velho, Isaías 22.11, que tinha sido usado para a lavagem de contaminações cerimoniais, cujos alpendres foram construídos a fim de que as pessoas se vestissem e se despissem dentro deles, e que mais tarde se tornara um local de curas.
3. Como ele foi adaptado: havia cinco alpendres, claustros, varandas ou calçadas cobertas, onde jaziam os doentes. Desse modo, a caridade dos homens cooperava com a misericórdia de Deus para o alívio dos enfermos. A natureza fornece os remédios, mas os homens devem fornecer os hospitais.
4. Como ele era frequentado por doentes e paralíticos (v. 3): “Nestes jazia grande multidão de enfermos”. Quantas são as angústias dos aflitos neste mundo! Como são repletos de queixas todos os lugares, e quantas multidões de pessoas estão incapacitadas! Pode nos fazer bem visitar os hospitais algumas vezes, para que possamos nos valer da oportunidade, a partir das adversidades dos outros, de agradecer a Deus pelo nosso bem-estar. O evangelista especifica três tipos de pessoas enfermas que jazem aqui: cegos, coxos e paralíticos ou de pouca força, em uma parte em particular, como o homem com a mão mirrada, ou completamente paralíticos. Esses são mencionados porque, sendo menos capazes de se locomoverem para dentro da água, permaneciam por mais tempo esperando nos alpendres. Aqueles que estavam enfermos ou acometidos dessas doenças corporais esforçavam-se para vir de longe e tinha paciência para esperar muito tempo por uma cura. Qualquer um de nós teria feito o mesmo, e assim nós devemos fazer. Mas, Oh! Se os homens fossem tão sábios com suas almas, e tão ansiosos para ter suas doenças espirituais cura das! Somos todos, por natureza, impotentes nas coisas espirituais, cegos, coxos e paralíticos, mas uma provisão eficaz é feita para nossa cura, se simplesmente seguirmos as ordens que recebemos do Senhor.
5. Que virtude tinha este tanque para curar essas pessoas incapazes (v. 4). “Um anjo descia”, e “agitava a água”, e “o primeiro que ali descia… sarava de qualquer enfermidade que tivesse”. Que essa estranha virtude no tanque era natural, ou, mais exatamente, artificial, e que era o efeito da lavagem dos sacrifícios que impregnava a água com alguma virtude curativa, mesmo para as pessoas cegas, e que o anjo era apenas um mensageiro, uma pessoa comum, enviada para revolver a água, é completamente infundado. No Templo, havia um recinto exclusivo para a lavagem dos sacrifícios. Os comentaristas concordam, geralmente, que a virtude que esse tanque tinha era sobrenatural. É verdade que nenhum dos autores judeus, que não são econômicos ao relatar as glórias de Jerusalém, faz qualquer menção a este tanque de cura, e talvez a razão do silêncio a seu respeito se deva ao fato de que as curas ali realizadas eram interpretadas como um presságio de que a chegada do Messias estava próxima. E, por essa razão, aqueles que negaram que Ele estava para chegar, habilmente ocultavam tal presságio de sua vinda. Portanto, isso é tudo o que temos a esse respeito. Observe:
(1) A preparação do remédio por um anjo, que descia ao tanque e agitava a água. Anjos são servos de Deus, e amigos da humanidade. E talvez sejam mais efetivos na eliminação de doenças (como os anjos maus em infligi-las) do que temos ciência. Rafael, o suposto nome de um anjo, significa medicina Dei – remédio de Deus, ou, mais exatamente, médico. Veja a que funções inferiores os santos anjos se submetem para o bem dos homens. Se fizermos a vontade de Deus, como fazem os anjos, devemos considerar que somente o pecado está abaixo de nós. A agitação da água era o sinal dado da descida do anjo, como a marcha pelas copas das amoreiras fora para Davi, e então eles deviam se apressar. As águas do santuário são então curativas quando postas em movimento. Os ministros de vem despertar o dom que há em si mesmos. Quando eles são indiferentes e tediosos em seus ministérios, as águas se acalmam, e não são capazes de curar. O anjo descia, para agitar a água, não diariamente, talvez não frequentemente, mas em um certo tempo. Alguns acreditam que o anjo descia por ocasião das três festas solenes, para abrilhantar aquelas cerimônias. Ou, de vez em quando, como a Sabedoria Infinita considerava adequado. Deus é independente ao conceder seus favores.
(2) A ação do remédio: fosse quem fosse o primeiro que ali entrasse, era curado. Eis aqui:
[1] A milagrosa amplitude da virtude quanto às doenças curadas. Qualquer que fosse a doença, essa água a curava. Banhos naturais e artificiais são tão prejudiciais em alguns casos quanto proveitosos em outros, mas este era um remédio para todas as enfermidades, até mesmo para aquelas que eram incuráveis. O poder dos milagres tem sucesso onde o da natureza sucumbe.
[2] Uma milagrosa limitação da virtude quanto às pessoas curadas: aquele que entrasse primeiro tinha a recompensa, isto é, aquele ou aqueles que entrassem imediatamente eram curados, não aqueles que demoravam e entravam depois. Isso nos ensina a observar e a aproveitar nossas oportunidades, e a estarmos atentos, para que não deixemos escapar um momento que pode nunca mais voltar. O anjo agitava as águas, mas os doentes tinham que entrar por sua própria conta. Deus introduziu virtude nas Escrituras e nas ordenanças, pois Ele deseja nos curar, mas, se não fizermos o uso devido destas, não seremos curados, por nossa própria culpa.
E esta é toda descrição que temos desse milagre permanente. É indeterminado quando ele começou e quando cessou. Alguns presumem que ele começou quando Eliasibe, o sumo sacerdote, iniciou a construção do muro em volta de Jerusalém, e o santificou com uma oração, e que Deus afirmou sua aceitação ao conceder essa virtude ao tanque adjacente. Alguns pensam que ele começou naqueles dias, por ocasião do nascimento de Cristo. Enquanto outros entendem que este início ocorreu em seu batismo. O Dr. Lightfoot, ao encontrar em Josefo, Antiq., liv. 15, cap. 7, menção de um grande terremoto no sétimo ano de Herodes, trinta anos antes do nascimento de Cristo, supôs, visto que ali costumavam acontecer terremotos durante a descida dos anjos, que esta foi a ocasião em que o primeiro anjo desceu para agitar essa água. Alguns pensam que cessou com esse milagre, outros, com a morte de Cristo. Contudo, é certo que teve um significado piedoso. Em primeiro lugar, era um símbolo da boa vontade de Deus para com aquelas pessoas, e um indício de que, embora eles estivessem há muito sem profetas e milagres, ainda assim Deus não os havia rejeitado. Embora eles fossem agora pessoas oprimidas e desprezadas, e muitas estivessem prontas para dizer: “O que é feito de todas as suas maravilhas que nossos pais nos contaram?”, Deus, através disso, os fez saber que Ele ainda tinha um benefício para a cidade das solenidades deles. Nós podemos, através disso, aproveitar a ocasião para reconhecer com gratidão o poder e a bondade de Deus nas águas minerais, que tanto contribuem para a saúde da humanidade, pois Deus fez as fontes das águas, Apocalipse 14.7. Em segundo lugar, era uma figura do Messias, que é a fonte acessível, e destinava-se a aumentar as expectativas das pessoas sobre aquele que é o Sol da Justiça, que surge com a cura sob suas asas. Essas águas haviam sido usadas antigamente para purificar agora para curar, para significar tanto a purificação quanto a virtude curativa do sangue de Cristo, aquele banho incomparável, que cura todas as nossas doenças. As águas de Siloé, que enchiam esse tanque, representavam o reino de Davi e de Cristo, o Filho de Davi (Isaias 8.6). De maneira adequada, então, eles têm agora essa virtude soberana introduzida em si mesmos. A lavagem da regeneração é para nós como o tanque de Betesda, curando nossas doenças espirituais, não em certas épocas, mas sempre. Quem quiser, venha.
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