JOÃO 4: 43-54

A Cura do Filho do Nobre
Nestes versículos, temos:
I – A ida de Cristo para a Galileia, v. 43. Embora Ele fosse bem-vindo entre os samaritanos tanto quanto seria em qualquer lugar, e fosse bem-sucedido, ainda assim, após dois dias, Ele os deixou, não tanto porque eles fossem samaritanos, e o Senhor não confirmaria os preconceitos daqueles que lhe disseram: “És samaritano” (cap. 8.48), mas porque Ele tinha que pregar a outras cidades, Lucas 4.43. Ele foi para a Galileia, pois lá Ele passaria a maior parte do seu tempo. E agora, veja aqui:
1. Para onde Cristo foi: para a Galileia, para a região da Galileia, mas não para Nazaré, que era, a rigor, sua própria província. Ele viajou entre as aldeias, mas recusou-se a ir a Nazaré, a cidade mais importante, por um motivo apresentado aqui, testificado pelo próprio Jesus, que conhecia o temperamento de seus compatriotas, os corações de todos os homens, e as experiências de todos os profetas, e que é este: “Não há profeta sem honra, a não ser na sua pátria”. Observe que:
(1) Os profetas de vem ser honrados, porque Deus colocou uma honra sobre eles, e nós somos beneficiados por eles.
(2) A honra devida aos profetas do Senhor lhes foi muitas vezes negada, e eles foram tratados com desprezo.
(3) Esta honra devida lhes é mais frequentemente negada em sua própria pátria. Veja Lucas 4.24; Mateus 13.57. Não que isso seja universalmente verdadeiro (toda regra tem suas exceções), mas é válido na maioria dos casos. Quando José começou a profetizar, foi muito odiado por seus irmãos; Davi foi desprezado por seu irmão (1 Samuel 17.28); Jeremias foi caluniado pelos homens de Anatote (Jeremias 11.21 ); Paulo, por seus conterrâneos judeus; e os parentes de Cristo falavam dele com muito desprezo, cap. 7.5. O orgulho e a inveja dos homens fazem com que eles rejeitem a orientação daqueles que já foram seus colegas de escola e companheiros de brincadeiras. O apetite por novidade, e por aquilo que é irreal e de alto preço, e parece lhes cair do céu, fazem os depreciar aquelas pessoas e coisas a que estão há muito tempo habituados e das quais conhecem a origem.
(4) É um grande desânimo para um ministro caminhar entre pessoas que não dão valor a ele ou às suas obras. Cristo não foi a Nazaré porque sabia o pouco respeito com que o tratariam ali.
(5) É justo que Deus negue seu Evangelho àqueles que desprezam seus ministros. Aqueles que ridicularizam os mensageiros de Deus, perdem o benefício da mensagem. Mateus 21.35,41.
2. A hospitalidade que Ele encontrou entre os galileus na região (v. 45): “Os galileus o receberam”, deram-lhe boas-vindas e com alegria ouviram sua doutrina. Cristo e seu Evangelho não foram enviados em vão. Se eles não são honrados por alguns, outros os honrarão. E havia um motivo para que esses galileus estivessem tão dispostos a receber a Cristo: “Porque viram todas as coisas que fizera em Jerusalém no dia da festa”, v. 45. Observe:
(1) Eles subiram à Jerusalém no dia da festa, a Festa da Páscoa judaica. Os galileus habitavam muito longe de Jerusalém, e seu caminho para lá passava pela região dos samaritanos, que era problemática para um judeu atravessar, pior do que o antigo vale do Baca. Mesmo assim, em obediência ao mandamento de Deus, eles subiram para a festa, e lá conheceram Cristo. Observe que aqueles que são diligentes e constantes quando se trata de participar de cultos públicos, a qual quer hora recebem mais benefícios espirituais do que esperam.
(2) Eles viram os milagres que Cristo havia realizado em Jerusalém, e isto tornava tanto o Senhor quanto sua doutrina muito atraentes para a fé e afeição deles. Os milagres foram realizados em benefício daqueles que viviam em Jerusalém. Toda via, os galileus que acidentalmente lá estavam beneficiaram-se mais dos milagres do que aqueles para quem eles foram especialmente planejados. Dessa maneira, a palavra pregada a uma mistura de gente talvez possa instruir ouvintes ocasionais mais do que ao público frequente.
3. A cidade para a qual Ele foi. Ele escolheu ir para Caná da Galileia, “onde da água fizera vinho” (v. 46). Ele foi para lá a fim de ver se havia alguns bons frutos remanescentes daquele milagre, e, se houvesse, para confirmar a fé do povo dali, e regar aquilo que Ele havia plantado. O evangelista menciona este milagre aqui para nos ensinar a manter na memória as obras de Cristo que presenciamos.
II – A cura do filho do régulo, que estava doente com uma febre. Esta história não é relatada por nenhum outro evangelista. Ela está inclusa na citação de Mateus 4.23.
Observe:
1. Quem eram o requerente e o paciente: o requerente era um nobre; o paciente era seu filho: “Havia ali um oficial do rei”. Regulus (assim é em latim), um pequeno rei. Assim chamado, ou pela grandeza de suas propriedades, ou pela extensão de seu poder, ou pelos direitos pertencentes à sua casa. Alguns entendem isso como indicando seu cargo honorífico – ele era um cortesão em algum escritório próximo ao rei. Outros, como denotando sua facção – ele era um herodiano, um monarquista, um homem com privilégios, alguém que apoiava os interesses dos Herodes, pai e filho. Talvez fosse “Cuza, procurador de Herodes” (Lucas 8.3), ou “Manaém, que fora criado com Herodes”, Atos 13.1. Havia santos na casa de César. O pai era um nobre, e, apesar disso, o filho estava doente, pois a nobreza e os títulos de honra não dão às pessoas e familiares segurança contra as investidas da doença e da morte. Cafarnaum, onde morava esse nobre, estava a quinze milhas de Caná, onde Cristo estava agora, mas este sofrimento em sua família o levou a ir tão longe, em busca do Senhor Jesus Cristo.
2. Como o requerente fez seu pedido ao médico. Ouvindo que “Jesus vinha da” Judéia para a Galileia, e considerando que Ele não vinha em direção a Cafarnaum, mas desviara-se em direção ao outro lado da região, ele mesmo “foi ter com ele e rogou-lhe que descesse e curas se o seu filho”, v. 47. Veja aqui:
(1) Quão compassivo era seu amor por seu filho: assim que ele ficou doente, ele não poupou esforços para ajudá-lo.
(2) Seu grande respeito por nosso Senhor Jesus, a ponto de ele mesmo ir buscá-lo, quando poderia ter enviado um servo, e de ter-lhe rogado, quando, como um homem de autoridade, pensariam alguns, ele poderia ter ordenado a presença dele. Os maiores homens, quando vão a Deus, devem se tornar como pedintes, e suplicar como indigentes. Quanto à missão que o trouxera, podemos observar uma mistura em sua fé.
[1] Havia sinceridade nela. Ele realmente acreditava que Cristo podia curar seu filho, embora sua doença fosse grave. É provável que houvesse médicos cuidando dele, e talvez o tivessem abandonado, mas ele acreditava que Cristo podia curá-lo, mesmo quando a situação parecia deplorável.
[2] Todavia, havia fragilidade em sua fé. Ele acreditava que Cristo podia curar seu filho, mas, como pode parecer, ele pensava que não podia curá-lo à distância, e por isso rogou que Ele descesse e o curasse, aguardando, como fez Naamã, que Ele fosse e colocasse sua mão sobre o paciente, como se não pudesse curá-lo senão por contato físico. Dessa maneira, nós nos inclinamos a limitar o Santo de Israel, e a restringi-lo aos nossos padrões. O centurião, um gentio, um soldado, fora tão forte em sua fé a ponto de dizer: “Senhor, não sou digno de que entres debaixo do meu telhado”, Mateus 8.8. Este nobre, um judeu, suplicou que Cristo descesse, embora, para tanto, fosse necessário um longo dia de viagem. Ele perderia a esperança de uma cura, a menos que o Senhor descesse. Talvez aquele homem, sem perceber, pensasse que tivesse que ensinar a Cristo como trabalhar. Somos incentivados a orar, mas não nos é permitido ordenar: “Senhor, cura-me por tua bondade, mas que o Senhor o faça com uma palavra ou com um toque. Seja feita, em tudo, tua vontade”.
3. A branda repreensão que ele recebeu (v. 48): Jesus lhe disse: “Eu vejo como é. ‘Se não virdes sinais e milagres, não crereis’, como fizeram os samaritanos, embora eles não vissem sinais ou milagres, e por essa razão Eu devo realizar milagres entre vós”. Embora ele fosse um nobre, e estivesse agora aflito por seu filho, e tivesse demonstrado grande respeito por Cristo ao vir de tão longe até Ele, ainda assim, Cristo o repreende. A distinção dos homens no mundo não os isentará das repreensões da palavra ou da providência, pois Cristo não “repreenderá segundo o ouvir dos seus ouvidos; mas julgará com justiça”, Isaías 11.3,4. Observe que Cristo mostra os pecados e fraquezas daquele homem para prepará-lo para o perdão, e então concede-lhe o pedido. Aqueles a quem Cristo pretende honrar com sua generosidade, Ele primeiro humilha com seus olhares de repreensão. O Consolador deve primeiro convencer. Herodes esperava ver algum milagre (Lucas 23.8), e este cortesão tinha a mesma mentalidade, bem como o povo em geral. Agora, vejamos o que é censurado:
(1) Que, considerando que haviam escutado, através de relato confiável e incontestável, acerca dos milagres que Jesus havia realizado em outros lugares, eles não acreditariam, a menos que os vissem com seus próprios olhos, Lucas 4.23. Eles devem ser favorecidos, e devem ser bajulados, ou não serão convencidos. Sua região deve ser agraciada, e sua curiosidade, satisfeita, com sinais e milagres, ou então, embora a doutrina de Cristo esteja suficientemente provada pelos milagres realizados em outro lugar, eles não crerão. Como Tomé, eles não se renderão a qualquer método de convencimento que não seja o que eles determinarem.
(2) Que, considerando que eles tinham visto diversos milagres, cuja evidência não conseguiam negar, mas que provavam de maneira competente que Cristo era um mestre vindo de Deus, e que deveriam agora solicitar a Ele uma orientação sobre sua doutrina, a qual por sua superioridade natural os teria levado, suavemente, a acreditar em um aperfeiçoamento espiritual, ao invés disso, eles não se aprofundariam na fé, e seriam como aqueles que eram guiados por sinais e milagres. O poder espiritual da Palavra não os comovia, nem os atraía, mas somente o poder concreto dos milagres. Os milagres são, para os incrédulos, uma necessidade tão grande quanto a profecia o é para os fiéis, 1 Coríntios 14.22. Aqueles que prezam apenas os milagres, e desprezam a profecia, juntam-se aos infiéis.
4. Sua irritante persistência em sua petição (v. 49): “Senhor, desce, antes que meu filho morra”. Nesta réplica dele, temos:
(1) Algo que era louvável: ele aceitou a repreensão pacientemente; ele conversou respeitosamente com Cristo. Embora ele fosse um daqueles que se trajavam ricamente, ainda assim ele tolerou a repreensão. Não é privilégio da nobreza estar acima das repreensões da Palavra de Cristo. É, porém, um sinal de bom temperamento e caráter nos homens, especialmente nos homens importantes, quando eles conseguem ouvir a respeito de suas culpas e não se enfurecem. E, como ele não tomou a repreensão como uma afronta, da mesma forma não a considerou como uma recusa, mas persistiu ainda mais em seu pedido, e continuou se esforçando até que fosse bem-sucedido. Talvez ele tenha argumentado desta maneira: “Se Cristo cura minha alma, com certeza ele curará meu filho. Se Ele cura minha incredulidade, Ele curará a febre de meu filho”. Est e é o modo que Cristo adota, primeiro para operar em nós, e depois para operar por nós, e haverá esperança se observarmos o Senhor agindo desta forma.
(2) Algo que era censurável, e que era sua fraqueza, pois:
[1] Ele parece não levar em conta a repreensão que Cristo lhe faz, nada diz a respeito dela, seja como uma confissão ou desculpa, pois ele está tão tomado pela preocupação com seu filho, que não consegue prestar atenção em mais nada. Observe que a tristeza do mundo é uma grande predisposição contrária aos benefícios que recebemos pela Palavra de Cristo. A preocupação e o cuidado exasperado são espinhos que sufocam a boa semente. Veja Êxodo 6.9.
[2] Ele ainda descobriu a fraqueza de sua fé no poder de Cristo. Em primeiro lugar, Ele teve a necessidade de fazer Cristo descer pensando que, de outra maneira, o Senhor não poderia conceder qualquer benefício ao seu filho. E difícil nos convencermos de que a distância e o tempo não são obstáculos para o entendimento e o poder de nosso Senhor Jesus. Mas assim é, Ele vê muito longe, pois sua palavra, a palavra de seu poder, corre velozmente. Em segundo lugar, Ele acreditava que Cristo podia curar uma criança doente, mas não que Ele pudesse ressuscitar uma criança morta, e por isso pede: “Senhor, desce, antes que meu filho morra”, como se então fosse muito tarde, apesar de Cristo ter, sobre a morte, o mesmo poder que tem sobre as doenças do corpo. Ele se esqueceu de que Elias e Eliseu haviam ressuscitado crianças mortas, e o poder de Cristo é inferior ao deles? Observe a pressa que ele tem: “Desce, antes que meu filho morra”, como se houvesse perigo de Cristo se atrasar. Aquele que crê não se apressa, mas se dirige a Cristo, dizendo: “Senhor, aconteça aquilo que te agradar mais, quando te agradar mais, e como te agradar mais”.
5. A resposta tranquilizadora que Cristo deu, por fim, ao pedido deste oficial (v. 50): “Vai, o teu filho vive”. Cristo nos dá aqui um exemplo:
(1) Do seu poder. Ele mostra que não apenas podia curar com tanta facilidade, mas podia curar sem o transtorno de uma visita. Aqui nada é dito, nada é feito, nada é mandado fazer, e mesmo assim a cura é realizada: “Teu filho vive”. Os raios de cura do Sol da Justiça distribuem influências benignas de um extremo do céu ao outro, e nada se furta ao seu calor. Embora Cristo esteja agora no céu, e sua igreja na terra, Ele pode controlar tudo lá de cima. Este nobre desejava que Cristo descesse e curasse seu filho. Cristo curará seu filho, e não descerá. E, dessa forma, a cura é operada mais cedo, o engano do nobre é corrigido, e sua fé é confirmada, de modo que as coisas foram realizadas da melhor maneira possível, ou seja, da maneira de Cristo. Quando o Senhor nega o que pedimos, Ele dá o que nos é muito mais benéfico. Pedimos por conforto, Ele dá paciência. Observe que seu poder foi exercido através da sua palavra. Ao dizer: “Teu filho vive”, o Senhor mostrou que tem vida em si mesmo, e poder para ressuscitar a quem desejar. Quando Cristo diz: “Tua alma vive”, sua palavra faz com que a alma se torne realmente viva.
(2) De sua misericórdia. Ele notou que o nobre estava sofrendo por seu filho, e seu amor natural se manifestava na sentença: ”Antes que meu filho”, meu querido filho, morra. E então Cristo pôs fim à crítica, e assegurou a ele a recuperação de seu filho, pois Ele sabe como um pai se compadece de seus filhos.
6. A crença do nobre na palavra de Cristo: ele creu e foi-se. Embora Cristo não fizesse a vontade do nobre, a ponto de descer com ele, ele fica satisfeito com o método que Cristo adotou, e considera que conseguiu o que queria. Com que rapidez e facilidade aquilo que está faltando em nossa fé é aperfeiçoado pela palavra e poder de Cristo. Ele não vê nenhum sinal ou milagre, e mesmo assim acredita que o milagre foi realizado.
(1) Cristo disse: “Teu filho vive”, e o homem acreditou nele. Não apenas acreditou na onisciência de Cristo, de modo que ele tinha certeza de que seu filho havia sido curado, mas na onipotência de Cristo, e que a cura fora efetuada pela sua palavra. O pai havia deixado seu filho à beira da morte. Ainda assim, quando Cristo disse: “Ele vive”, como o pai de todos aqueles que creem, ele, “em esperança, creu contra a esperança”, e “não duvidou por incredulidade”.
(2) Cristo disse: “Vai”, e como uma evidência da sinceridade da sua fé, ele se foi sem mais perturbar a Cristo ou a si mesmo. Ele não pressionou a Cristo para que descesse, não disse: “Mesmo que ele se recupere, ainda assim uma visita será bem-vinda”, não, ele não mais parece ansioso, mas, como Ana, ele segue seu caminho, e seu semblante já não era triste. Como alguém completamente satisfeito, ele não teve pressa em ir para casa, não correu para casa naquela noite, mas retornou vagarosamente, como alguém que estava com seu espírito perfeitamente tranquilo.
7. A confirmação adicional de sua fé, ao trocar ideias com seus servos em seu retorno para casa.
(1) Seus servos encontraram-se com ele trazendo a boa notícia da recuperação do filho, v. 51. Eles, provavelmente, encontraram-no não muito longe de sua própria casa, e, sabendo quais eram as preocupações de seu senhor desejavam tranquilizá-lo o mais rápido possível. Os servos de Davi estavam relutantes em contar a ele que seu filho havia morrido. Cristo disse: “Teu filho vive”, e nesse momento, os servos dizem o mesmo. Boas notícias receberão aqueles que esperam na Palavra de Deus.
(2) Ele “perguntou-lhes… a que hora se achara melhor” (v. 52). Não como se duvidasse da influência da palavra de Cristo sobre a cura do filho, mas ele estava desejoso de ter sua fé confirmada, para que pudesse ser capaz de convencer a qualquer um a quem ele mencionasse o milagre, pois este era um detalhe essencial. Observe que:
[1] É útil nos abastecermos com todas as provas e evidências que possam existir, que corroboram para fortalecer nossa fé na palavra de Cristo, a fim de que ela possa desenvolver-se até atingir a completa certeza. “Mostra-me um sinal para bem”.
[2] A comparação diligente das obras de Cristo com sua palavra será de grande utilidade para confirmarmos nossa fé. Este foi o rumo tomado pelo nobre: ele perguntou aos servos a que hora aquele que estava enfermo começou a melhorar, e eles lhe disseram: “Ontem, às sete horas [alguns entendem que seria a sétima hora, e, portanto, à uma da tarde. Outros pensam que este evangelista se refere às sete horas da noite], a febre o deixou”. Ele não apenas começou a melhorar, mas ficou perfeitamente bem, de repente. Dessa maneira, “entendeu, pois, o pai que era aquela hora a mesma em que Jesus lhe disse: O teu filho vive”. Assim como a Palavra de Deus, bem estudada, nos ajudará a entender suas providências, também a providência de Deus, bem guardada, nos ajudará a entender sua Palavra, pois Deus está a cada dia cumprindo as Escrituras. Duas coisas ajudaram a confirmar a fé deste oficial. Em primeiro lugar, que a recuperação do filho foi imediata, e não gradual. Eles apontam uma hora com precisão: “Ontem”, não por volta, mas às sete horas, “a febre o deixou”. Ela não se reduziu ou começou a ceder, mas ela deixou o enfermo em um instante. A palavra de Cristo não opera como medicamento, que precisa de tempo para atuar e produzir efeito, e talvez cure somente pela espera. Não, com Cristo é: Ele fala e as coisas se realizam. Ele falou, e a cura começou a ser feita. Em segundo lugar, que foi exatamente na mesma hora em que Cristo lhe falou: “Era aquela hora a mesma”. Os sincronismos e as coincidências dos acontecimentos acrescentam muito à beleza e à harmonia da Providência. Perceba a hora, e o fato em si será mais extraordinário, pois cada coisa é bela em seu tempo. Observe a hora exata para a qual foi prometida a libertação de Israel (Êxodo 12.41); a hora exata em que se orou pela libertação de Pedro, Atos 12.12. Nas obras dos homens, a distância física é a razão do prolongamento do tempo e da demora no trabalho, mas não é dessa forma nas obras de Cristo. O perdão, e a paz, e o consolo, e a cura espiritual, que Ele afirma no céu, são, se Ele desejar, realizados e operados na mesma hora nas almas dos crentes, e, quando esses dois fatos forem comparados no grande dia, Cristo será glorificado nos seus santos, e admirado na vida de todos os que creem.
8. O efeito e consequência favoráveis deste fato. Levar a cura para a família trouxe a ela a salvação.
(1) O próprio nobre creu. Ele havia crido antes na palavra de Cristo, com respeito a esta situação em particular, mas agora ele cria em Cristo, como o Messias prometido, e se tornou um de seus discípulos. Deste modo, a experiência pessoal do poder e eficácia de uma palavra de Cristo pode ser um meio muito apropriado para apresentar e estabelecer a completa autoridade do controle de Cristo na alma. Cristo possui muitas maneiras de conquistar o coração, e através da concessão de uma graça temporal pode abrir o caminho para coisas melhores.
(2) “Toda a sua casa” creu da mesma forma.
[1] Por causa do benefício que todos obtiveram do milagre, que preservava o florescimento e as esperanças da família. Isso comoveu a todos, e tornou Cristo benquisto entre eles, e o recomendava aos seus melhores pensamentos.
[2] Por causa da influência que o pai da família tinha sobre todos eles. O pai de uma família não pode conceder a fé àqueles pelos quais é responsável, nem forçá-los a crer, mas pode ser fundamental para afastar predisposições externas que obstruam o efeito das evidências, e então mais da metade do trabalho estará feito. Abraão era famoso por isso (Genesis 18.19), e também Josué, Josué 24.15. Este era um nobre, e provavelmente tivesse “muita gente ao seu serviço”, mas quando ele vai à escola de Cristo, leva consigo todos eles. Que mudança abençoada houve nesta casa, ocasionada pela doença da criança! Isto deveria fazer com que nos resignássemos com as tribulações, pois nós não sabemos as boas coisas que podem resultar delas. É provável que a conversão deste nobre e da sua família em Cafarnaum possa ter favorecido a volta do Senhor Jesus Cristo, que, mais tarde, a estabeleceria como seu quartel-general na Galileia. Quando homens de posições elevadas aceitam o Evangelho, eles podem se tornar importantes instrumentos para levá-lo para os lugares onde vivem.
9. Aqui está o comentário do evangelista sobre esta cura (v. 54). ‘Jesus fez este segundo milagre”, referindo-se ao de João 2.11, onde a transformação de água em vinho é dita ser o primeiro, que foi logo após seu primeiro retorno da Judéia, e este, logo após o segundo. Na Judéia, Ele havia realizado muitos milagres, cap. 3.2; 4.45. Eles tiveram a primeira demonstração, mas sendo compelido a sair dali, Ele realizou milagres na Galileia. Em um ou outro lugar, Cristo será bem recebido. As pessoas podem, se desejarem, impedir a entrada do sol em suas próprias casas, mas não podem impedi-lo de adentrar o mundo. Este é apontado como o segundo milagre:
1. Para nos lembrar do primeiro, realizado no mesmo lugar alguns meses antes. Misericórdias recentes devem reavivar as lembranças de misericórdias anteriores, assim como misericórdias anteriores devem fortalecer nossas esperanças de futuras misericórdias. Cristo mantém o registro de seus favores, quer nós o mantenhamos ou não.
2. Para que saibamos que esta cura ocorreu antes das muitas curas que os outros evangelistas mencionam como tendo sido realizadas na Galileia, Mateus 4.23; Marcos 1.34; Lucas 4.40. Provavelmente, sendo o paciente o filho de uma pessoa de alto nível, a cura foi mais comentada e levou a Cristo multidões de pacientes. Quando este nobre recorreu a Cristo, multidões o seguiram. Que abundância de bem podem os homens importantes realizar, se forem homens bons!
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