JOÃO 1: 43-51

O Chamado de Filipe e Natanael
Aqui temos o chamado de Filipe e Natanael.
I – Filipe foi chamado imediatamente pelo próprio Cristo, não como André, que foi dirigido a Cristo por João, ou como Pedro, que foi convidado por seu irmão. Deus tem vários métodos de trazer seus escolhidos até Ele. Mas, quaisquer que sejam os meios que Ele usa, Ele não se limita a nenhum deles.
1. Filipe foi chamado de uma maneira antecipada: Jesus “achou a Filipe”. Cristo nos procurou, e nos encontrou, antes que fizéssemos quaisquer buscas por Ele. O nome Filipe é de origem grega, e muito usado entre os gentios, o que alguns interpretam como um exemplo da degeneração da igreja judaica nesta época, e sua conformidade com as nações. Mas, ainda assim, Cristo não mudou seu nome.
2. Ele foi chamado “no dia seguinte”. Veja de que maneira cuidadosa Cristo se dedica ao seu trabalho. Quando existe trabalho a ser feito para Deus, nós não devemos perder um dia sequer. Contudo, observe que Cristo agora chamava um ou dois por dia, mas depois que o Espírito foi derramado, houve milhares efetivamente chamados em um dia, quando João 14.12 se cumpriu.
3. Jesus quis ir à Galileia para chamá-lo. Cristo irá encontrar aqueles que lhe são dados, onde quer que estejam, e nenhum deles se perderá.
4. Filipe foi trazido para ser um discípulo pela virtude de Cristo, juntamente com as palavras: “Segue-me”. Veja a natureza do verdadeiro cristianismo. Ele consiste em seguir a Cristo, dedicar-se às suas palavras e à sua conduta, acompanhar seus movimentos, e seguir seus passos. Enxergar a eficácia da graça em tudo isto é a base da nossa força.
5. Nós lemos que Filipe era de Betsaida, e André e Pedro também eram, v. 44. Estes eminentes discípulos não receberam honra do lugar onde nasceram, mas refletiram honra sobre este lugar. Betsaida quer dizer “casa de redes”, porque era habitada, na sua maioria, por pescadores. Dali, Cristo escolheu discípulos, que seriam dotados com dons extraordinários, e por isto não precisavam das vantagens normais do estudo. Betsaida era um lugar iníquo (Mateus 11.21), no entanto ali havia um remanescente, de acordo com a eleição da graça.
II – Natanael foi convidado a ir a Cristo através de Filipe, e muito é dito a respeito dele. E aqui podemos observar:
1. O que aconteceu entre Filipe e Natanael, um episódio em que vemos uma notável mescla de zelo piedoso com fraqueza, como normalmente se encontra em iniciantes, que estão perguntando qual é o caminho para Sião. Aqui temos:
(1) As boas novas que Filipe trouxe a Natanael, v. 45. Como André anteriormente, também Filipe aqui, tendo algum conhecimento de Cristo, não descansa até que manifesta o sentimento de tal conhecimento. Filipe, em bora trazido recentemente ao relacionamento com Cristo, corre para procurar Natanael. Observe que quando temos a melhor oportunidade de fazer o bem às nossas próprias almas, ainda assim devemos sempre procurar oportunidades de fazer o bem às almas de outros, lembrando das palavras de Cristo: “Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber”, Atos 20.35. Diz Filipe: “Havemos achado aquele de quem Moisés escreveu na Lei e de quem escreveram os Profetas”. Observe aqui:
[1] O arrebatamento de alegria em que se encontrava Filipe, depois de conhecer a Cristo: “Nós achamos aquele de quem tanto falamos, a quem tanto esperamos, e que tanto desejamos. Por fim, Ele está aqui, Ele veio, e nós o achamos!”
[2] Que vantagem representava, para ele, o fato de que ele conhecesse tão bem as Escrituras do Antigo Testamento, que prepararam sua mente para receber a luz do Evangelho, e fizeram sua apresentação mais fácil: “Aquele de quem Moisés escreveu na Lei e de quem escreveram os Profetas”. Aquilo que estava escrito inteiramente, e desde a eternidade, no livro dos conselhos divinos, foi, em parte, em diferentes épocas e ele diversas maneiras, copiado no livro das revelações divinas. Coisas gloriosas foram escritas ali a respeito da Semente da mulher, da Semente de Abraão, de Siló, do Profeta semelhante a Moisés, do Filho de Davi, do Emanuel, do Filho do Homem, do Renovo, do Messias, do Príncipe. Filipe tinha estudado estas coisas, e as conhecia muito bem, o que o preparou para receber a Cristo.
[3] Os enganos e falhas que ele cultivava: ele chamou a Cristo de “Jesus de Nazaré”, quando Ele era de Belém; e de “filho de José”, quando Ele era somente seu suposto filho. Os jovens iniciantes na fé estão sujeitos a enganos, que o tempo e a graça de Deus irão retificar. Foi falha sua dizer: “Nós o achamos”, pois Cristo os achou antes que eles o achassem. Ele ainda não tinha compreendido como fora preso por Cristo Jesus, coisa que Paulo sabia, Filipenses 3.12.
(2) A objeção que Natanael fez contra isto: “Pode vir alguma coisa boa de Nazaré?” (v. 46). Aqui:
[1] Sua precaução era elogiável, pois ele não aceitava ligeiramente tudo o que era dito, mas examinava. Nossa regra deve ser: “Examinai tudo”. Mas:
[2] Sua objeção originou-se na ignorância. Se ele queria dizer que nada bom podia vir de Nazaré, isto se devia à sua ignorância sobre a graça divina, como se ela influenciasse menos um lugar do que outro, ou se prendes se às observações tolas e de más intenções dos homens. Se ele queria dizer que o Messias, esta grande bênção, não poderia vir de Nazaré, até aí, ele estava certo (Moisés, na Lei, disse que o Messias viria de Judá, e os profetas tinham apontado Belém como o lugar do seu nascimento). Mas então ele seria ignorante quanto à verdade de que este Jesus tinha nascido em Belém, de modo que o erro que Filipe cometeu, ao chamá-lo de Jesus de Nazaré, ocasionou esta objeção. Observe que os enganos dos pregadores frequentemente dão origem aos preconceitos elos ouvintes.
(3) A curta resposta que Filipe deu a esta objeção: “Vem e vê”.
[1] O fato de que Filipe não pudesse dar uma resposta satisfatória à objeção foi uma falha sua, mas este é o caso comum dos novos convertidos. Nós podemos saber o suficiente para satisfazer a nós mesmos, e ainda assim não conseguir dizer o suficiente para silenciar as críticas de um adversário sutil.
[2] Por não poder responder pessoalmente à objeção, ele o fez ir procurar aquele que poderia fazê-lo: “Vem e vê”. Não fiquemos discutindo aqui, e criando dificuldades que não conseguiremos superar. Vamos, e conversemos com o próprio Cristo, e estas dificuldades irã o desaparecer imediatamente. Observe que é tolice perder tempo em discussões duvidosas, quando este tempo poderia ser mais bem gasto, e com um objetivo muito melhor, no exercício de piedade e devoção. “Vem e vê”. Não: “Vá e veja”, mas: “Venha, e eu irei com você”, como Isaías 2.3; Jeremias 1.5. Neste diálogo entre Filipe e Natanael, podemos observar, em primeiro lugar, que muitas pessoas ficam afastadas dos caminhos do Senhor pelos preconceitos irracionais que criaram contra a religião, com base em alguma circunstância estranha que não vem, de forma nenhuma, ao caso. Em segundo lugar, que a melhor maneira de eliminar os preconceitos que criamos contra o Evangelho é prová-los, e colocá-los à prova. Não devemos responder sobre algum assunto antes de ouvir sobre ele.
2. O que aconteceu entre Natanael e nosso Senhor Jesus. Ele veio e viu, e isto não foi em vão.
(1) Nosso Senhor Jesus deu um testemunho muito honroso à integridade de Natanael: “Jesus viu Natanael” vir, e o recebeu com um incentivo favorável. Ele disse, sobre Natanael, àqueles que estavam ao seu lado, com o próprio Natanael entre os ouvintes: “Eis aqui um verdadeiro israelita”. Observe:
[1] Que Ele o elogiou. Não para adulá-lo, nem inflá-lo com um bom conceito de si mesmo, mas talvez porque soubesse que Natanael era um homem modesto, senão melancólico, alguém que tinha uma ideia severa e humilde a respeito de si mesmo, e estava pronto a duvidar da sua própria sinceridade. E Cristo, com este testemunho, deixa a questão fora de dúvida. Natanael tinha, mais do que qualquer dos candidatos, objetado contra Cristo. Mas Cristo, aqui, mostrou que Ele perdoava isto, e não era necessário apontar o que ele tinha dito indevidamente, porque Ele sabia que seu coração era justo. O Senhor não questionou Natanael, perguntado: “Pode vir alguma coisa boa de Caná (cap. 21.2), uma obscura cidade da Galileia?” Mas o Senhor, gentilmente, lhe aceita, para nos incentivar a ter esperanças quanto à sua aceitação, apesar das nossas falhas. O Senhor também nos ensina a falar de maneira honrosa daqueles que, sem motivo, falaram sobre nós com desprezo. Se estes merecerem algum tipo de elogio em alguma coisa, devemos lhes dar seu justo louvor.
[3] Que Ele o elogiou pela sua integridade. Em primeiro lugar: “Eis aqui um verdadeiro israelita”. É prerrogativa de Cristo conhecer como são os homens verdadeiramente. Nós podemos apenas esperar pelo melhor. Toda a nação era de israelitas, de nome, mas “nem todos os que são de Israel são israelitas” (Romanos 9.6). Aqui, no entanto, havia um verdadeiro israelita.
3. Um sincero seguidor do bom exemplo de Israel, cujo caráter era o de um homem sincero, em oposição ao caráter de Esaú, um homem astuto. Ele era um filho autêntico do honesto Jacó, não somente da sua semente, mas também do seu espírito.
4. Uma pessoa que professava sinceramente a fé de Israel. Ele era fiel à religião que professava, e estava à altura dela. Ele era realmente tão bom quanto parecia, e sua prática era da mesma espécie que sua profissão. Só é judeu aquele que o é interiormente (Romanos 2.29), e o mesmo é verdade em relação ao cristão. Em segundo lugar, ele é alguém em quem “não há dolo”. Este é o caráter de um verdadeiro israelita, um verdadeiro cristão: não há dolo para com os homens; um homem sem truques ou ardis; um homem em quem se pode confiar; não há dolo para com Deus, isto é, sincero no seu arrependimento pelo pecado; sincero no seu concerto com Deus; em cujo espírito “não há engano”, Salmos 32.2. Ele não diz sem culpa, mas sem dolo. Embora, em muitas coisas, ele seja tolo e negligente, ainda assim, em nada é falso, nem se afasta de Deus com más intenções; não existe nele nenhuma culpa, aprovada ou permitida; não se disfarça, embora tenha suas manchas: “Eis aqui um verdadeiro israelita”.
1. “Prestem atenção a ele, para que possam aprender seu jeito, e agir como ele”.
2. ”Admirem-no. Olhem para ele, e admirem-no”. A hipocrisia dos escribas e fariseus tinha influenciado tanto a igreja e a nação judaica, e sua religião estava tão degenerada em formalidades e políticas de estado, que um verdadeiro israelita era um homem admirado, um milagre da graça divina, como Jó (J ó 1.8).
(2) Natanael fica muito surpreendido com isto, levando Cristo a lhe dar uma nova prova da sua onisciência, e uma lembrança gentil da sua devoção anterior.
[1) Aqui está a humildade de Natanael, que ele deixa escapar face à observação gentil que Cristo tinha prazer em fazer dele: “De onde me conheces tu, a mim, que não mereço que me conheça? Quem sou eu, Senhor Jeová?” (2 Samuel 7.18). O fato dele não receber imediatamente o elogio feito pelo Senhor era uma evidência da sua sinceridade. Cristo nos conhece melhor do que nós mesmos nos conhecemos. Nós não sabemos o que há no coração de um homem, ao olharmos para seu rosto, mas todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos de Cristo, Hebreus 4.12,13. Cristo nos conhece? Claro que sim! Então, desejemos conhecê-lo.
[2] Aqui está a manifestação adicional de Cristo a Natanael: ”Antes que Filipe te chamasse, te vi eu”. Em primeiro lugar, Ele o faz compreender que o conhecia, e assim manifesta sua divindade. É prerrogativa de Deus conhecer infalivelmente todas as pessoas e todas as coisas. Desta maneira, Cristo provou ser Deus em várias ocasiões. Havia uma profecia a respeito do Messias, de que Ele teria o Espírito de conhecimento e de temor do Senhor, isto é, julgaria a sinceridade e o grau de temor a Deus das pessoas, e de que Ele não julgaria segundo aquilo que seus olhos vissem, Isaías 11.2,3. Aqui, Ele cumpre esta predição. Veja 2 Timóteo 2.19. Em segundo lugar, antes que Filipe o chamasse, Cristo o viu, debaixo da figueira. Isto manifesta uma gentileza particular para com ele.
1. O olhar do Senhor já se dirigia a Natanael antes mesmo que Filipe o chamasse, antes que Natanael estivesse com Cristo pela primeira vez. Cristo nos conhece completamente, antes mesmo que tenhamos qualquer conhecimento a respeito dele. Veja Isaías 45.4; Gálatas 4.9.
2. Os olhos do Senhor estavam sobre Natanael quando ele estava debaixo da figueira. Este foi um sinal pessoal e particular·, que ninguém compreendeu, exceto Natanael: “Quando você estava afastado, debaixo da figueira do seu jardim, e pensava que ninguém podia vê-lo, Eu, então, dirigi meus olhos a você, e vi algo que era muito aceitável”. É muito provável que Natanael, debaixo da figueira, estivesse como Isaque no campo, em meditação, e oração, e comunhão com Deus. Talvez ali, naquele momento, ele tivesse se unido solenemente ao Senhor, em um concerto inviolável. Cristo viu secretamente, e, pela sua observação pública deste fato, o recompensou parcialmente e abertamente. Estar debaixo da figueira indica tranquilidade e paz de espírito, o que combina muito bem com a comunhão com Deus. Veja Miquéias 4.4; Zacarias 3.10. Natanael, aqui, era um verdadeiro israelita, que, como Israel, lutava com Deus sozinho (Genesis 32.24), não orava como os hipócritas, nas esquinas das ruas, mas debaixo de uma figueira.
(3) Com isto, Natanael teve sua fé em Jesus Cristo completamente assegurada, e ela foi expressa nesta nobre declaração (v. 49): “Rabi, tu és o Filho de Deus, tu és o Rei de Israel”. Isto é, em resumo: “Tu és o verdadeiro Messias”. Observe aqui:
[1] Com que firmeza ele creu com o coração. Embora ele tivesse, recentemente, cultivado alguns preconceitos a respeito de Cristo, agora todos eles tinham sido dissipados. Observe que graça de Deus, ao operar na fé, destrói fantasias. Agora, ele já não pergunta: “Pode vir alguma coisa boa de Nazaré?” Pois ele crê que Jesus de Nazaré é o bem supremo, e o aceita adequadamente.
[2] Com que liberdade ele confessou com a boca. Sua confissão é feita sob a forma de uma oração, dirigida ao próprio Senhor Jesus, o que é uma maneira adequada de confessar nossa fé. Em primeiro lugar, ele confessa a obra profética de Cristo, ao chamá-lo de rabi, um título que os judeus normalmente davam aos seus mestres. Cristo é o grande rabi, a cujos pés todos nós devemos ser criados. Em segundo lugar, Natanael confessa a natureza e missão divina de Jesus, ao chamá-lo de Filho de Deus (aquele Filho de Deus mencionado em Salmos 2.7). Embora Ele tivesse forma e aspecto humanos, ainda assim, por ter um conhecimento divino, o conhecimento do coração e de coisas distantes e secretas, Natanael, consequentemente, conclui que Ele é o Filho de Deus. Em terceiro lugar, ele confessa: “‘Tu és o Rei de Israel’, aquele Rei de Israel que esperamos por tanto tempo”. Se Ele é o Filho de Deus, Ele é o Rei do Israel de Deus. Quando tão prontamente reconhece e se submete ao Rei de Israel, Natanael prova ser um verdadeiro israelita.
(4) Aqui, Cristo aumenta as esperanças e expectativas que Natanael nutria, de que houvesse algo maior em tudo isto, vv. 50,51. Cristo é muito afetuoso com os novos convertidos, e encorajará os bons inícios, mesmo que frágeis, Mateus 12.20.
[1] Ele aqui anuncia sua aceitação, e (aparentemente) sua admiração pela fé disposta de Natanael: “Porque te disse: vi-te debaixo da figueira, crês?” Ele admira-se de que uma tão pequena indicação do conhecimento divino de Cristo tivesse tal efeito. Isto era um sinal de que o coração de Natanael estava preparado de antemão, caso contrário a obra não teria se realizado tão rapidamente. Observe que é uma honra tanto a Cristo corno à sua graça, quando o coração se rende a Ele na primeira convocação.
[2] Ele promete a Natanael auxílios muito maiores, para a confirmação e aumento da sua fé, do que ele tinha tido no início.
Em primeiro lugar, em geral: “Coisas maiores do que estas verás, maiores provas de que Eu sou o Messias”. Os milagres de Cristo e sua ressurreição. Observe:
1. A qualquer que tiver; e fizer bom uso do que tem, ser-lhe-á dado.
2. Aqueles que verdadeiramente creem no Evangelho, descobrirão que suas evidências crescem continuamente, e verão cada vez mais motivos para crer nele.
3. Quaisquer que sejam as revelações que Cristo se agrade de fazer a seu respeito ao seu povo, enquanto ainda está neste mundo, Ele tem ainda maiores coisas que estas para lhes dar a conhecei; uma glória ainda maior a ser revelada.
Em segundo lugar, em particular: “Não somente você, mas vocês, todos vocês, meus discípulos, para a confirmação de cuja fé isto se destina, verão o céu aberto”. Isto é mais do que dizer a Natanael que ele estava debaixo da figueira. Isto é introduzido com um solene prefácio: “Na verdade, na verdade vos digo”, que exige tanto uma atenção fixa ao que é dito, como sendo algo de muita importância, quanto uma completa aceitação disto, como sendo uma verdade indubitável: “Eu digo isto, e nestas palavras vocês podem confiar, amém, amém”. Ninguém usou estas palavras no início de uma frase, a não ser Cristo, embora os judeus frequentemente as usassem no final de uma oração, e, às vezes, as duplicassem. É uma declaração solene. Cristo é chamado o ”Amém” (Apocalipse 3.15), e alguns assim interpretam aqui: “Eu, o Amém, digo isto a vocês. Eu, a testemunha fiel”. Observe que as certezas que temos da glória a ser revelada são edificadas sobre a palavra de Cristo. Agora veja o que é que Cristo assegura a eles: “Daqui em diante”, ou dentro de pouco tempo, ou antes que passe muito tempo, ou de agora em diante, “vereis o céu aberto”.
1. O título que Cristo aplica a si mesmo aqui é humilde: “O Filho do homem”. Um título frequentemente aplicado a Ele nos Evangelhos, mas sempre por si mesmo. Natanael o tinha chamado de Filho de Deus e Rei de Israel. Ele se chama de Filho do homem:
(a) Para expressar sua humildade em meio às honras que lhe são prestadas.
(b) Para ensinar sua humanidade, em que devemos crer tanto quanto na sua divindade.
(c) Para indicar seu atual estado de humilhação, para que Natanael não esperasse que este Rei de Israel aparecesse em pompa exterior:
2. Ele prediz grandes coisas aqui: “Vereis o céu aberto e os anjos de Deus subirem e descerem sobre o Filho do Homem”.
(a) Alguns interpretam estas palavras literalmente, como indicando algum evento em particular. Ou:
[a] Houve alguma visão da glória de Cristo, na qual isto se cumpriu com exatidão, do que Natanael foi uma testemunha ocular, como Pedro, e Tiago, e João foram da sua transfiguração. Houve muitas coisas que Cristo fez, e em presença dos seus discípulos, que não foram escritas (cap. 20.30), e por que não esta? Ou:
[b] Isto se cumpriu nas muitas assistências dos anjos ao nosso Senhor Jesus, especialmente na sua ascensão, quando o céu se abriu para recebê-lo, e os anjos subiram e desceram, para auxiliá-lo e honrá-lo, e isto, à vista dos discípulos. A ascensão de Cristo foi a maior prova da sua missão, e confirmou enormemente a fé dos discípulos, cap. 6.62. Ou:
[c] Pode se referir à segunda vinda de Cristo, para julgar o mundo, quando o céu se abrirá, e todo olho o verá, e os anjos de Deus subirão e descerão ao seu redor, servindo-o. Todos estarão ocupados, e este será um dia trabalhoso. Veja 2 Tessalonicenses 1.10.
(b) Outros interpretam isto de modo figurado, como falando de uma condição, ou de uma série de coisas que teriam início daqui por diante. E assim podemos interpretar que se refira, ou:
[a] Aos milagres de Cristo. Natanael creu, porque Cristo, como os profetas da Antiguidade, pôde dizer-lhe coisas secretas. Mas o que é isto? Cristo agora está dando início a uma dispensação de milagres, muito mais grandiosa e maravilhosa do que esta, como se o céu estivesse aberto, e tal poder será exercido pelo Filho do homem, como se os anjos, que excedem em virtude, estivessem continuamente obedecendo suas ordens. Imediatamente depois disto, Cristo começou a realizar milagres, cap. 2.11. Ou:
[b] À sua mediação, e àquela bendita relação que Ele estabeleceu entre o céu e a terra, em cujo mistério seus discípulos seriam admitidos gradualmente. Em primeiro lugar, por intermédio de Cristo, como Mediador, eles verão o céu aberto. Todos nós agora podemos entrar no santuário pelo seu sangue (Hebreus 10.19,20). O céu está aberto, para que, pela fé, possamos olhar para seu interior; e, por fim, possamos entrar; para que possamos, agora, contemplar a glória do Senhor, e, daqui por diante, possamos entrar no gozo do nosso Senhor: E, em segundo lugar, eles verão anjos subindo e descendo sobre o Filho do homem. Por intermédio de Cristo, nós temos comunhão com os santos anjos, e nos beneficiamos deste fato. E assim, as coisas no céu e na terra são reconciliadas e reunidas. Cristo é, para nós, como a escada de Jacó (Genesis 28.12), pois é por Ele que os anjos continuamente sobem e descem para o bem dos santos.
Você precisa fazer login para comentar.