MATEUS 28: 16-20

A Comissão Apostólica
Esse evangelista exclui várias outras aparições de Cristo relatadas por Lucas e João, e passa rapidamente a tratar daquilo que foi o evento mais solene, prometido e designado várias vezes antes de sua morte, e após a sua ressurreição. Considere:
I – Como os discípulos reagiram ao seu aparecimento, o que estava de acordo com a instrução que receberam (v. 16). Eles partiram para a Galileia, uma longa jornada a percorrer para uma única visão de Cristo, mas valeu a pena. Eles o haviam visto diversas vezes em Jerusalém, no entanto foram para a Galileia, para vê-lo ali.
1. Porque o Senhor os instruiu a fazer isso. Embora parecesse desnecessário ir para a Galileia – para ver o Senhor, a quem poderiam ver em Jerusalém, especialmente quando deveriam voltar tão cedo a Jerusalém, antes de sua ascensão-, eles tinham aprendido a obedecer às ordens de Cristo, e não se oporem a elas. Observe que aqueles que iriam manter uma comunhão com Cristo deveriam servi-lo no local que Ele designasse. Aqueles que o obedecem em uma ordenança, de vem obedecê-lo em outra; aqueles que o viram em Jerusalém, deveriam ir para a Galileia.
2. Porque essa deveria ser uma reunião pública e geral. Eles mesmos tinham visto o Senhor, e conversaram com Ele em particular. Mas isso não deveria servir como desculpa para que não comparecessem a uma reunião solene, onde muitos se reuniriam para vê-lo. Observe que a nossa comunhão com Deus, em nossa privacidade, não deve ultrapassar a nossa presença no culto público, conforme as oportunidades que tivermos; porque Deus ama as portas de Sião, e nós devemos fazer o mesmo. O lugar escolhido era uma montanha na Galileia, provavelmente a mesma montanha na qual o Senhor foi transfigurado. Ali eles se encontraram, em particular; o que talvez servisse para mostrar o estado exaltado no qual Ele entrou, e os seus avanços em direção ao mundo superior.
II – Como eles foram afetados pelo aparecimento de Cristo a eles (v. 17). Agora temos o momento em que Ele foi visto, uma vez, por mais de quinhentos irmãos (1 Coríntios 15.6). Alguns pensam que eles o viram, a princípio, de uma certa distância, acima, no ar; Ele foi visto acima, por quinhentos irmãos (assim muitos leem essa passagem), o que deu ocasião para que alguns duvidassem, até que Ele se aproximou (v. 18), e então ficaram satisfeitos. Somos informados:
1. Que eles o adoraram; muitos deles fizeram isso, e parece que todos o fizeram, dando-lhe urna honra divina, que foi sugerida por algumas expressões externas de adoração. Observe que todos aqueles que veem o Senhor Jesus com um olhar de fé sentem-se obrigados a adorá-lo.
2. Mas alguns duvidaram, alguns que estavam presentes naquela ocasião. Observe que mesmo entre aqueles que adoraram havia alguns que duvidaram. Até mesmo a fé daqueles que são sinceros pode ser ainda muito fraca e inconstante. Eles duvidaram, eles ficaram em suspense, como os pratos da balança, quando é difícil dizer qual prepondera. Essas dúvidas foram depois disso removidas, e a fé deles cresceu até alcançar a plena convicção, o que foi uma honra para Cristo. Pois, uma vez que os discípulos duvidaram antes de crer, eles não poderiam ser chamados de crédulos, e dispostos a receber quaisquer imposições; porque eles primeiro questionaram, e provaram todas as coisas, e então perseveraram no que era verdadeiro, e no que descobriram que era verdadeiro.
III – O que Jesus Cristo lhes disse (vv. 18-20): “E, chegando-se Jesus, falou-lhes”. Embora alguns tenham duvidado, Ele não os rejeitou; porque Ele não “trilhará a cana quebrada”. Ele não ficou de longe, mas se aproximou, e lhes deu provas convincentes de sua ressurreição quando estabilizou a balança oscilante, e fez com que a fé deles triunfasse sobre as suas dúvidas. E, chegando-se Jesus, falou-lhes familiarmente, como um amigo fala com o outro, para que eles ficassem totalmente satisfeitos com a incumbência que Ele estava prestes a lhes dar. Aquele que se aproximou de Deus para lhe falar a nosso favor, se aproxima de nós para nos falar a respeito de Deus. Cristo agora entregou aos seus apóstolos a grande carta-régia do seu Reino no mundo; estava enviando-os como os seus embaixadores, e aqui lhes dá as suas credenciais.
Ao abrirmos essa grande carta-régia, podemos observar duas coisas:
1. A comissão que o nosso Senhor Jesus recebeu de Deus Pai. Estando prestes a autorizar os seus apóstolos, se alguém perguntasse com que autoridade Ele faz as suas maravilhas, e quem lhe deu esta autoridade, aqui o Senhor nos diz: “É me dado todo o poder no céu e na terra”; uma palavra muito expressiva, que ninguém além dele poderia pronunciar. Aqui Ele afirma o seu domínio universal como Mediador, que é o grande fundamento da religião cristã. Ele tem todo o poder. Observe:
(1) Qual é a origem desse poder. Ele não o assumiu, não o usurpou, mas lhe foi dado. Ele foi legalmente autorizado a utilizá-lo, e foi investido nele, por uma concessão daquele que é a Fonte de todo o ser, e, consequentemente, de todo o poder. Deus Pai estabeleceu o Senhor Jesus como o Rei (Salmos 2.6), fez com que Ele tomasse posse, e o entronizou (Lucas 1.32). Sendo Deus, igual ao Pai, todo o poder era original e essencialmente dele. Mas como Mediador, como Deus-homem, todo o poder lhe foi dado. Em parte, em recompensa pela sua obra (porque Ele se humilhou, portanto Deus assim o exaltou), e em parte como cumprimento de seu próprio desígnio. Ele teve esse poder que lhe foi dado sobre toda a carne, para que pudesse dar a vida eterna a todos quantos lhe foram dados (João 17.2), para a mais efetiva execução e aperfeiçoamento da nossa salvação. Era desse poder que Ele estava agora mais notoriamente investido; o poder da sua ressurreição (Atos 13.3). Sim, Ele tinha poder anteriormente, poder para perdoar pecados (cap. 9.6); mas agora todo o poder lhe foi dado. Ele agora receberá para si mesmo um reino (Lucas 19.12), para se sentar à mão direita de Deus (Salmos 110.1). Tendo-o comprado, nada lhe resta além de tomar posse; este Reino é dele para sempre.
(2) Onde é que Ele tem esse poder; no céu e na terra, compreendendo o universo. Cristo é o único Monarca universal, Ele é o Senhor de tudo e de todos (Atos 10.36). Ele tem todo o poder no céu. Ele tem o poder do domínio sobre os anjos, todos eles são seus humildes servos (Efésios 1.20,21). Ele tem o poder da intercessão junto ao seu amado Pai, em virtude de sua satisfação e expiação. Ele intercede, não como um suplicante, mas como um requerente: “Pai, quero”. Ele também tem todo o poder na terra; tendo atendido as exigências de Deus, através do sacrifício da expiação, Ele persuade aos homens, e lida com eles como aquele que tem autoridade, através do ministério da reconciliação. Ele é, na verdade, em todas as causas e sobre todas as pessoas, o Supremo Mediador e Governador. Por Ele, os reis reinam. Todas as almas são dele, e a Ele todo coração e joelho devem se dobrar, e toda língua deve confessar que Ele é o Senhor. Isto, o nosso Senhor lhes diz, não só para satisfazê-los quanto à autoridade que Ele tinha para comissiona- los, e para conduzi-los na execução de sua comissão, mas para tirar a ofensa da cruz; eles não tinham motivos para se envergonhar do Cristo crucificado, quando o viram assim glorificado.
2. A comissão que Ele dá àqueles a quem Ele envia: “Portanto, ide”. Essa comissão é dada:
(1) Primeiramente aos apóstolos, os principais ministros de estado no reino de Cristo, os arquitetos que colocaram o alicerce da igreja. Então aqueles que tinham seguido a Cristo na regeneração, assentaram sobre tronos (Lucas 22.30): “Ide”. Não se trata apenas de uma palavra de ordem, como aquela: Filho, vai trabalhar; mas uma palavra de ânimo: Ide, e não temais, não vos enviei? Ide, e fazei este trabalho. Eles não devem se fixar e convocar as nações a ouvi-los; mas devem ir, e levar o Evangelho às portas das nações: “Ide”. Eles demonstravam uma grande afeição pela presença física de Cristo, apoiavam-se nela, e nela edificavam toda s as suas alegrias e esperanças. Mas agora Cristo os desobriga de cuidarem de sua Pessoa, e os envia a outras terras para um outro trabalho. Como a águia desperta o seu ninho, move se sobre os seus filhos, para fazer-lhes voar (Deuteronômio 32.11), assim Cristo desperta os seus discípulos, para dispersá-los por todo o mundo.
(2) Aos seus sucessores, os ministros do Evangelho, cuja missão é transmitir o Evangelho de geração em geração, até o fim do mundo, em termos cronológicos, assim como era a sua missão transmiti-lo de nação em nação, até o fim do mundo, em termos geográficos; e nenhuma dessas tarefas pode ser considerada menos necessária. A promessa do Antigo Testamento de um ministério do Evangelho é feita em termos de sucessão (Isaias 59.21); e isto deve ser assim entendido. Caso contrário, como Cristo poderia estar sempre com eles até à consumação do mundo? Cristo, em sua ascensão, não só “deu apóstolos e profetas, mas pastores e doutores” (Efésios 4.11). Então observe:
[1] Até que ponto a sua comissão é estendida: a todas as nações. “Ide, e ensinai todas as nações”. Não que eles devessem ir todos juntos a todo lugar, mas por consentimento deveriam se dispersar de modo a poderem melhor difundir a luz do Evangelho. Agora isso se mostra claramente como a vontade de Cristo. Em primeiro lugar, a aliança da peculiaridade, feita com os judeus, deveria agora ser cancelada e abolida. Essa palavra pôs abaixo o muro da divisão, que, por tanto tempo, havia excluído os gentios de uma igreja-estado visível; e, embora os apóstolos – quando foram enviados pela primeira vez – tenham sido proibidos de entrar no caminho dos gentios, agora eles foram enviados a todas as nações. Em segundo lugar, a salvação de Cristo deveria ser oferecida a todos, e ninguém seria excluído, a menos que alguém se excluísse por in credulidade e impenitência. A salvação que eles deveriam pregar é uma salvação comum; qualquer que quiser, venha, e aproveite o benefício da isenção; porque em Cristo Jesus não há nenhuma diferença entre judeus e gregos. Em terceiro lugar, o cristianismo deve estar entrelaçado com as constituições nacionais, de modo que os reinos do mundo se tornem reinos de Cristo.
[2] Qual é a principal intenção dessa comissão: ensinar todas as nações, fazei o máximo para fazer das nações, nações cristãs”; não: “Ide às nações, e proclamai o juízo de Deus contra elas, como Jonas a Nínive, e como os outros profetas do Antigo Testamento” (embora tivessem motivo suficiente para esperar por isso, devido à maldade demonstrada pelas nações), mas: “Ide, e ensinai-as”. Cristo, o Mediador, ao estabelecer um reino no mundo, traz os povos das nações para serem os seus súditos; estabelecendo uma escola, traz os povos das nações para serem os seus alunos; levantando um exército para a execução da guerra contra os poderes das trevas, alista as nações da terra sob a sua bandeira. A obra que os apóstolos tinham a fazer consistia em estabelecer a religião cristã em todos os lugares, e era um trabalho honrado; as conquistas dos heróis poderosos do mundo não eram nada quando comparadas a isso. Eles conquistaram as nações para si mesmos, e as tornaram infelizes; os apóstolos as conquistaram para Cristo, e as tornaram felizes.
[3] As instruções para executarem essa comissão. Em primeiro lugar, eles devem admitir discípulos pelo rito sagrado do batismo: “Entrem em todas as nações, preguem o Evangelho aos povos, operem milagres nelas, e persuadam-nas a fazer parte da igreja, trazendo consigo os seus filhos; e então admitam-nos na igreja, lavando-os com água”: seja mergulhando-os na água, derramando ou aspergindo água sobre eles. O mais apropriado parece ser o batismo por imersão, já que a palavra batismo significa imersão. O texto em Isaías 44.3 também é muito importante neste contexto: “Derramarei o meu Espírito sobre a tua posteridade”. O texto em Tito 3.5,6 também menciona o Espírito que o Senhor derramou abundantemente sobre nós. Ezequiel 36.25, fala da água pura que o Senhor derrama sobre nós. O texto em Isaías 52.15, parece ser uma profecia dessa comissão que consiste em alcançar as nações.
Em segundo lugar, esse batismo deve ser administrado em nome do Pai, do Filho, e do Espírito Santo. Isto é:
1. Pela autoridade do céu, e não do homem; porque os seus ministros agem pela autoridade das três pessoas da Trindade. O Pai, o Filho, e o Espírito Santo concordam quanto à nossa criação, como também quanto à nossa redenção; eles têm a sua comissão sob o grande selo do céu, que coloca uma honra sobre a ordenança, embora ao olhar carnal não tenha forma nem beleza, como aquele que o instituiu.
2. Invocando o nome do Pai, do Filho, e do Espírito Santo. Todas as coisas são santificadas pela oração, e particularmente pelas águas do batismo. A oração da fé obtém a presença de Deus com a ordenança, que é o seu brilho e beleza, a sua vida e eficácia. Mas:
3. É no nome do Pai, do Filho, e do Espírito Santo. Este conceito foi estabelecido como a síntese dos primeiros princípios da religião cristã, e da nova aliança. E os credos antigos foram redigidos com base nesse conceito. Ao sermos batizados, professamos solenemente:
(1) A nossa concordância com a revelação das Escrituras com relação ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Confessamos a nossa crença de que há um Deus, de que existe apenas um Deus, que na Divindade há um Pai, um Filho, e um Espírito Santo. Nós somos batizados, não em nomes, mas em nome do Pai, do Filho, e do Espírito Santo, o que claramente sugere que estes três são um, e o nome deles é um só. A citação distinta das três pessoas da Trindade, tanto no batismo cristão mencionado aqui como na bênção cristã (2 Coríntios 13.13), é uma prova plena da doutrina da Trindade. Muito tem sido feito para preservar essa doutrina pura e sadia durante todas as eras da igreja; porque nada é maior e mais majestoso do que ela nas assembleias cristãs.
(2) O nosso consentimento com uma relação de aliança com Deus, o Pai, Filho, e o Espírito Santo. O batismo é uma ordenança, isto é, é um juramento. E um juramento de abjuração, pelo qual renunciamos ao mundo e à carne, declarando-os rivais de Deus que competem pelo trono em nossos corações; é um juramento de fidelidade, pelo qual abandonamos a nossa própria vontade e nos entregamos a Deus, para sermos seus. Isto significa que entregamos ao Senhor o nosso próprio ser, todo o nosso ser, corpo, alma e espírito, para sermos governados pela sua vontade, e sermos felizes desfrutando o seu favor. Assim nos tornamos homens e mulheres de Deus. É as sim que honramos ao Senhor. Portanto, o batismo é aplicado à pessoa, garantindo um título de posse que está relacionado às premissas, porque é a pessoa que é dedicada a Deus.
[1] O batismo é realizado em nome do Pai, pois cremos que Ele é o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo (por que esta é a principal intenção aqui), e o nosso Pai. Como o nosso Criador, Sustentador e Benfeitor, a quem, portanto, entregamos a nós mesmos, como o nosso dono e proprietário absoluto, para nos impulsionar, e dispor de nós; como o nosso reitor e governador, para nos governar como agentes livres, por sua lei; e como o nosso principal bem, e o nosso fim mais elevado.
[2] É em nome do Filho, o Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus, e correlato ao Pai. O batismo era, de uma maneira particular, administrado em nome do Senhor Jesus (Atos 8.16; 19.5). No batismo, concordamos, como fez Pedro: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (cap. 16.16), e consentimos, como fez Tomé: “Senhor meu, e Deus meu” (João 20.28). Aceitamos Cristo como o nosso Profeta, Sacerdote e Rei, e nos entregamos para sermos ensinados, salvos, e governados por Ele.
[3] É em nome do Espírito Santo. Crendo na Divindade do Espírito Santo, e em sua ação para executar a nossa redenção, nos entregamos à sua direção e operação, como o nosso santificador, mestre, guia e consolador.
Em terceiro lugar, aqueles que são assim batizados, e admitidos entre os discípulos de Cristo, devem ser ensinados (v. 20): “Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado”. Isso denota duas coisas:
1. O dever dos discípulos, de todos os cristãos batizados. Eles devem observar todas as coisas que Cristo ordenou, e, para esse fim, devem se sujeitar ao ensino daqueles que Ele envia. A nossa admissão na igreja visível tem um propósito maior. Quando Cristo nos ensinou, Ele não terminou o seu relacionamento conosco. Ele alista soldados que possam continuar a serem instruídos para o seu serviço.
Todos aqueles que são batizados são, portanto, obrigados:
(1) A fazer da ordem de Cristo a sua regra. Há uma lei de fé, e nos é dito que devemos estar debaixo da lei de Cristo; pelo batismo, somos ligados, e devemos obedecer.
(2) A guardar o que Cristo ordenou. A devida obediência aos mandamentos de Cristo requer uma observação diligente; corremos o risco de sofrer grandes prejuízos se não prestarmos uma boa atenção a eles. E em toda a nossa obediência, devemos guardar a ordem, e fazer aquilo que fazemos corno se estivéssemos fazendo algo para o Senhor.
(3) A guardar todas as coisas que o Senhor Jesus ordenou, sem exceção; todos os deveres morais, e todas as ordenanças instituídas. A nossa obediência às leis de Cristo não será sincera se ela não for universal; devemos fazer a sua vontade de uma forma completa.
(4) A se restringir aos mandamentos de Cristo, não diminuindo nem acrescentando nada a eles.
(5) A aprender quais são os seus deveres – de acordo com a lei de Cristo – com aqueles a quem Ele designou para serem mestres em sua escola, pois foi para isso que entramos em sua escola.
2. O dever dos apóstolos de Cristo, e seus ministros; ou seja, falar dos mandamentos de Cristo, expô-los aos seus discípulos, expressar-lhes a necessidade de obediência, e auxiliá-los a aplicar os mandamentos gerais de Cristo a casos específicos. Eles devem ensinar os mandamentos, não as suas próprias invenções, mas aquilo que foi instituído por Cristo. Eles devem aderir religiosamente aos mandamentos, e os cristãos devem ser instruídos no conhecimento deles. Um ministério firme é aqui estabelecido na igreja, para a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à condição de varão perfeito (Efésios 4.11-13). Os herdeiros do céu devem estar sob os cuidados de tutores e governadores, até que cheguem à maioridade.
3. Aqui está a segurança que o Senhor concede de sua presença espiritual com eles, na execução dessa comissão: “E eis que eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos”. Esta promessa grandiosa e preciosa é apresentada com o termo “eis” para fortalecer a fé deles, e fazer com que a observem. “Observem isto: Vocês podem estar seguros dessa promessa, e agir com base nela”. Considere:
(1) O favor que lhes foi prometido: “Eu estou convosco”. Não: Eu estarei convosco, mas: “Eu estou”. Assim como Deus enviou a Moisés, Cristo enviou os seus apóstolos, neste nome: “Eu sou”; pelo fato de Jesus Cristo ser Deus, para Ele o passado, o presente e o futuro são a mesma coisa. Veja Apocalipse 1.8. Ele então estava prestes a deixá-los. A sua presença física agora seria tirada deles, e isto os entristeceu; mas Ele lhes assegura da sua presença espiritual, que seria mais útil a eles do que a sua presença física poderia ser. “Eu estou convosco”, isto é, “o meu Espírito está convosco, o Consolador permanecerá convosco (João 16.7). Eu estou convosco, e não contra vós; convosco para vos ajudar, para estar ao vosso lado, e vos defender, como foi dito que Miguel, o nosso príncipe, faz (Daniel 10.21). Eu estou convosco, e não ausente de vós, não de longe; Eu sou o socorro bem presente” (Salmos 46.1). Cristo agora estava enviando-os para estabelecer o seu reino no mundo, o que seria uma grande tarefa. E então, no momento oportuno, Ele lhes promete a sua presença com eles:
[1] Para ajudá-los nas dificuldades que eles provavelmente enfrentariam. “Eu estou convosco, para vos sustentar, para pleitear a vossa causa; convosco em todos os vossos serviços, em todos os vossos sofrimentos, para salvar-vos com conforto e honra. Quando passardes pelo fogo ou pela água, Eu estarei convosco. No púlpito, na prisão, ‘eis que Eu estou convosco”‘.
[2] Para que sejam bem-sucedidos nessa grande tarefa: “‘Eis que eu estou convosco’, para tornar o vosso ministério eficaz no ensino das nações, para a destruição do domínio e das fortalezas de Satanás, e para que possais estabelecer um domínio mais forte para o Senhor Jesus”. Seria improvável que eles, por vontade própria, modificassem as constituições nacionais da religião, mudando os procedimentos que haviam sido adotados há tanto tempo; que eles estabelecessem uma doutrina tão diretamente contrária àquilo que era aceito na época, e persuadissem as pessoas a se tornarem os discípulos de um Jesus crucificado. Mas: “Eis que Eu estou convosco”, e, portanto, cumprireis vossa missão.
(2) A continuidade do favor, sempre, até a consumação dos séculos.
[1] Eles terão a sua presença constante. Sempre, todos os dias, cada dia. “Eu estarei convosco aos sábados e nos dias da semana; nos dias bons e nos dias maus; nos dias de inverno e nos dias de verão”. Não há dia, nem hora do dia, em que o Senhor Jesus não esteja presente com a sua igreja e com os seus ministros; se houvesse esse dia, essa hora, os seus seguidores teriam um problema muito sério. Desde a sua ressurreição, Ele lhes havia aparecido de vez em quando, quem sabe uma vez por semana, e talvez apenas isso. Mas Ele lhes assegura de que eles terão a sua presença espiritual permanentemente consigo, sem qualquer interrupção. Onde quer que estejamos, a Palavra de Cristo estará perto de nós, em nossos lábios, e o Espírito de Cristo perto de nós, em nossos próprios corações. O Deus de Israel, o Salvador, é, às vezes, um Deus que se oculta (Isaias 45.15), mas nunca um Deus que se ausenta; às vezes, não podemos enxergá-lo, mas Ele nunca está longe de nós.
[2] Eles terão a sua presença perpétua, até “a consumação dos séculos”. Há um mundo diante de nós, que jamais terá fim, e o seu início está chegando apressadamente; e até lá, a religião cristã, em uma ou outra parte do mundo, será preservada, e a presença de Cristo será contínua com os seus ministros. Eu estou convosco “até à consumação dos séculos”; não apenas com a pessoa de cada um de vós, porque o ser humano morre rapidamente; mas, em primeiro lugar, convosco e com os vossos escritos. Há um poder divino acompanhando as Escrituras do Novo Testamento, não só preservando a sua existência, mas produzindo efeitos maravilhosos por meio deles, que continuarão até o fim dos tempos. Em segundo lugar, convosco e com os vossos sucessores; convosco e com todos os ministros do Evangelho nas várias épocas da igreja; com todos aqueles a quem essa comissão se estende; com todos os que, sendo devidamente chamados e enviados, as sim batizam e assim ensinam. Quando a consumação dos séculos chegar, e o reino for entregue a Deus, o Pai, não haverá então nenhuma outra necessidade de ministros e da sua ministração; mas até lá eles continuarão, e as boas intenções da instituição serão respondidas. Essa é uma palavra animadora para todos os ministros fiéis de Cristo, de que o que foi dito aos apóstolos, foi dito a todos eles: “Nunca te deixarei, nem te desampararei”.
Encontramos duas despedidas solenes que o nosso Senhor Jesus fez à sua igreja, e a sua palavra final em ambas é muito animadora. Uma delas ocorreu aqui, quando Ele concluiu a sua conversa pessoal com eles, e então a sua palavra final foi: “‘Eis que eu estou convosco todos os dias’. Eu partirei, mas ainda estou convosco”. A outra despedida ocorreu quando Ele encerrou o cânon das Escrituras pela composição de seu discípulo amado, e então a sua palavra final foi: “‘Certamente, cedo venho’. Eu vos deixo por pouco tempo, mas em breve voltarei para vós” (Apocalipse 22.20). Com isso, fica claro que o Senhor não partiu irado, mas com amor; e a sua vontade é que permaneçamos em nossa comunhão com Ele, mantendo a expectativa que temos em relação a Ele.
Resta ainda mais uma palavra que não deve ser ignorada, o ”Amém”. Ela não é uma escrita cifrada, com o único propósito de ser uma palavra de encerramento, como “fim” no término de um livro, mas ela tem o seu significado e a sua importância.
1. Ela revela a confirmação de Cristo em relação à sua promessa: “Eis que eu estou convosco”. É o seu Amém, em quem todas as promessas são Sim e Amém. Verdadeiramente, “Eu estou”, e estarei convosco. Eu, o Amém, a Testemunha fiel, vos asseguro disso. Ou:
2. Ela revela a concordância da igreja em seu desejo, oração e expectativa. É o Amém do evangelista – Assim seja, Senhor bendito. O nosso Amém, para as promessas de Cristo as transformam em orações. Cristo prometeu estar presente com os ministros, presente em sua palavra, presente nas reuniões do seu povo, mesmo que apenas dois ou três estejam reunidos em seu nome, e isso todos os dias, até à consumação dos séculos. Digamos Amém com muito entusiasmo; creiamos que será as sim, e oremos para que possa ser assim. Senhor, lembra-te desta palavra dada aos teus servos, na qual nos fizeste esperar.
Você precisa fazer login para comentar.